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ARTIGO DE REVISÃO
reflete taquicardia sinusal decorrente de dor, ansiedade, hi- condução retrógrada; 3) a redução da velocidade do impulso
povolemia, anemia, efeito de fármacos ou estimulação do em uma das vias, para dar tempo a que o tecido de uma das
sistema nervoso simpático. Em pacientes submetidos a cirur- vias possa se despolarizar. A reentrada é o mecanismo de
gias não cardíacas, uma etiologia primária raramente é a cau- várias disritmias supraventriculares e ventriculares e implica
sa da taquicardia. Em adultos, a FA pode acometer até 60% a existência de um movimento patológico de círculo dos im-
dos pacientes submetidos à revascularização do miocárdio e pulsos elétricos em torno de um loop funcional ou anatômi-
costuma ter o pico de ocorrência no terceiro dia PO, quando co, que ocorre, por exemplo, na síndrome de síndrome de
a resposta inflamatória é maior 4. Wolff-Parkinson-White (WPW). Isquemia também predispõe
O desenvolvimento de taquicardia supraventricular (TSV) à taquicardia por reentrada. Fármacos que terminam a reen-
ou taquicardia ventricular (TV) não sustentada pode ser de- trada o fazem por meio de dois mecanismos: supressão da
corrente de hipoxemia, hipercarbia, acidose, hipotensão ar- corrente responsável pela fase zero no potencial de ação que
terial, distúrbios eletrolíticos, irritação mecânica, cateter de prolonga ou bloqueia a condução na via da reentrada e inter-
artéria pulmonar, dreno torácico, hipotermia, micro ou macro- rompe a disritmia. Fármacos que prolongam o potencial de
choques, estimulação adrenérgica (por exemplo, anestesia ação (com propriedade de bloquear canais de K+) prolongam
superficial), uso de fármacos disritmogênicos e isquemia mio- o período refratário nas células e o circuito de reentrada, blo-
cárdica. As disritmias no perioperatório são geralmente re- queando a propagação dos impulsos pelo circuito. Reentrada
é responsável por 90% das TSVs em crianças. O principal
versíveis e, antes de serem tratadas, devem ter suas causas
mecanismo da TV monomórfica também é a formação da via
mais frequentes excluídas.
de reentrada ao redor do tecido miocárdico infartado.
AV. Ao contrário, taquicardias autônomas são mais raras e frequência superior a 100 batimentos por minuto (bpm), com
podem ser definidas como uma taquicardia iniciada e susten- duração de 30 segundos ou menos, sem comprometimento
tada por um foco ectópico. TAA é um tipo de taquicardia au- hemodinâmico. Essas disritmias são rotineiramente vistas na
tomática que envolve primariamente o tecido atrial. A forma ausência de doença cardíaca e podem não requerer terapia
incessante é usualmente sintomática e, em geral, resulta de medicamentosa no período perioperatório. TVNS acontece
cardiomiopatia dilatada; a forma repetitiva é frequentemente em aproximadamente 50% dos pacientes durante ou após
interrompida por períodos de ritmo sinusal, é menos grave e cirurgias cardíacas ou vasculares de grande porte, não tendo
só se torna sintomática em períodos de frequência cardíaca influência na mortalidade tardia em pacientes sem disfunção
(FC) muito rápida. ventricular.
Há a tendência em se distinguirem as taquicardias como
ventriculares e supraventriculares em relação à sua origem.
Pacientes com alterações eletrocardiográficas compatíveis Medicamentos que prolongam o intervalo QT
com taquicardia regular de QRS largo são um desafio no diag-
nóstico e tratamento. História clínica, fatores como história de O iQT mede até 450 mseg. Cerca de 60 medicamentos au-
IAM, exame físico e achados no eletrocardiograma (ECG), mentam o iQT e podem gerar TdP. Antidisrítmicos tipo Ia
como dissociação AV, são úteis para distinguir a origem da (por exemplo, quinidina) e tipo III causam TdP. Antidisrítmi-
taquicardia, embora nenhum desses fatores seja sensível e cos tipo Ib e Ic raramente causam TdP 19-25. Amiodarona, a
específico. Adenosina é útil para classificar a TSV, pois as despeito de sua habilidade em prolongar o intervalo QT, cau-
taquicardias causadas por reentrada no tecido atrial, como sa TdP em apenas 1% dos pacientes em comparação com
FA ou flutter, apresentam resposta transitória de diminuição outros fármacos do tipo III que podem causar TdP em 2%
da frequência após adenosina, mas não terminam a disritmia; a 4% dos pacientes. Fármacos que precipitam TdP atrasam
por outro lado, a TSV decorrente de reentrada no nó AV ces- a repolarização, permitindo a formação de vários locais de
sa após uso de adenosina. As disritmias ventriculares não reentrada (Tabela I). São fatores de risco para indução de
apresentam resposta à adenosina porque essas disritmias TdP: bradicardia, conversão recente de FA, falência cardía-
têm origem em tecidos distais da via de condução do nó AV. ca, hipomagnesemia, hipocalemia, digoxina, infusão rápida
Isso também nos permite utilizar a adenosina para distinguir de fármacos que aumentam o iQT, iQT longo, sexo feminino,
entre TSV com complexo largo e TV, pois a adenosina causa LQTS e polimorfismo de canais iônicos 26,27. Para profilaxia
rápido bloqueio AV, com meia-vida de 9 segundos, e termina de Tdp em pacientes que recebem fármacos que prolongam
com a maioria das TSV, devido à reentrada; por outro lado,
causa bloqueio AV transitório e é incapaz de terminar com a
maioria das TV, mas, como a adenosina tem efeito fugaz, se
for TV, não acarreta maiores problemas. Tabela I – Fármacos que afetam a Repolarização, prolongam o iQT
Entretanto, a segurança da adenosina foi questionada e, e têm Casos Documentados de Torsades de Pointes
de acordo com guidelines da American Heart Association de
Tipo de fármaco Exemplo
2005 17, a adenosina não deveria ser usada para diagnóstico
diferencial entre TSV de complexo alargado e TV, devido a Antidisrítmico da classe Ia Quinidina, disopiramida,
suas propriedades vasodilatadoras, broncoespasmo, aumen- procainamida
to paradoxal da condução por trato acessório, bradicardia Antidisrítmico da classe Ic Flecainide
persistente ou assistolia e degeneração para fibrilação ven-
tricular (FV). Em contraste, estudo feito por Marril e col. 18 em Antidisrítmico classe III Sotalol, amiodarona
que pacientes consecutivos foram tratados com adenosina Antipsicóticos Droperidol, haloperidol,
entre 1991 e 2006 constatou que a adenosina é útil e segura fenotiazida
na distinção entre TV e TSV em pacientes com taquicardia
Antipsicóticos Thioridazinea
estável e regular. Além disto, postulou-se que adenosina se-
ria útil nesses casos para prevenir eventual tratamento da TV Antipsicóticos “Atípicos” Pimozideb, quetiopina,
com bloqueador nodal AV de longa duração, o que seria te- risperidona, zotepine
merário por induzir vasodilatação e diminuição da pré-carga Inibidores da captação da Fluoxetina, paroxetina, sertralina
de maior duração. serotonina
As disritmias ventriculares não sustentadas podem ser di-
vididas de acordo com a morfologia (monomórfica ou polimór- Antibióticos macrolídeos Eritromicina, claritromicina,
azitromicina
fica) e a duração (sustentada ou não sustentada). O principal
mecanismo para TV monomórfica é a formação de via reen- Agonistas 5-HT1 Zolmitriptan, naratriptan
trante ao redor de uma cicatriz tecidual de infarto miocárdico.
Agentes antimaláricos Halofantrinea
Na monomórfica, a amplitude do complexo QRS é constante,
enquanto na polimórfica a morfologia do QRS muda continu- Antihistamínicos Terfenadrina
amente. TV não sustentada (TVNS) é definida como três ou
Agentes pró-cinéticos Cisaprida
mais contrações ventriculares prematuras que ocorrem em
o iQT, indica-se monitoração do iQT 26,27. Para corrigir o iQT, Isoflurano causa disritmia ventricular em 2,5% dos pacientes
que é influenciado por FC e sexo, e encontrar o QT corrigido e desflurano aumenta a FC. Sevoflurano, halotano e isoflura-
(QTc), utilizam-se as fórmulas de Fridericia (QTc = QT/3RR) no podem retardar a repolarização ventricular e prolongar o
ou Bazett (QTc = QT/RR). A correção de Bazett é a mais usa- iQT. Propofol não altera a FC, tem pouco efeito na condução
da, mas pode gerar hipercorreção nos intervalos RR curtos e cardíaca e, se há um efeito cronotrópico negativo, este se
hipercorreção nos intervalos RR longos 28. deve à redução do tono simpático e ao aumento na sensitivi-
dade parassimpática. Cetamina causa disritmia nodal e dimi-
nui contratilidade, mas a FC pode aumentar.
Prodisritmia Opioides, com exceção da meperidina, diminuem a FC
através de um mecanismo central que reduz o tônus simpáti-
Termo usado para descrever disritmias induzidas por fárma- co e aumenta o tono vagal 31. Fentanil tem efeito direto no nó
cos antidisrítimicos 29. A classificação de Vaughan Williams 30 SA. Midazolam tem efeito bifásico na FC, pois afeta o sistema
divide os agentes antidisrítimicos em quatro classes, de acor- nervoso simpático e o parassimpático, e seu efeito nas disrit-
do com seus efeitos nos canais iônicos. Singh 25 fez revisão mias não é claro. Broncodilatadores estimulam os receptores
dos fármacos utilizados para tratar disrritmias e os fármacos adrenérgicos, aumentando o risco de eventos cardiovascula-
da classe Ia estão em declínio; fármacos da classe Ib, como res; em pacientes com taquicardia de base esses fármacos
lidocaína, ainda são amplamente utilizados no período perio- têm o potencial de exacerbar a disritmia. Embora o levalbute-
peratorio; enquanto os da classe Ic não devem ser usados rol tenha sido desenvolvido para evitar os efeitos cardiovas-
em pacientes com miocardiopatias estruturais devido ao alto culares do albuterol, taquidisritmias ainda ocorrem em 2,7%
risco de prodisritmias. Em pacientes após infarto miocárdico a dos pacientes. Fármacos que induzem bradidisritmias: beta-
condução lenta devido aos antidisrítmicos classe Ic leva a au- bloqueadores, bloqueadores do canal de cálcio, amiodarona,
mento da reentrada, possibilitando o desenvolvimento de TV, clonidina e dexmedetomidina. Bradicardia ocorre em 5% dos
portanto os fármacos da classe Ic não devem ser usados em pacientes com dexmedetomidina e esse agente deve ser evi-
pacientes isquêmicos. Drogas da classe Ia também podem tado em pacientes com bloqueio cardíaco.
lentificar a condução e prolongar a repolarização, podendo O droperidol foi associado a disritmias ventriculares 32 e,
gerar TdP. A procainamida, o sotalol e o bipiridil podem cau- em 2001, foi colocado na lista negra do Food and Drug Ad-
sar TdP. Alguns antidisrítimicos como verapamil e amiodarona
ministration (FDA). Verificou-se associação entre droperidol,
podem, eventualmente, causar TdP, embora seja interessante
iQT prolongado e disritmias malignas como TdP. O risco rela-
notar que a amiodarona prolonga o intervalo QT por mais de
tivo de disritmia do droperidol, comparado com outros antie-
500 ms e, ainda assim, é rara a ocorrência de TdP.
méticos ou placebo, não foi claramente elucidado, portanto a
Os fármacos da classe Ib (lidocaina e mexilitina) são mais
recomendação para o uso do droperidol requer ECG nas 12
seletivos aos miócitos anormais ou danificados, não estando
derivações antes da administração do fármaco e monitoração
associados à prodisritmia. Agentes da classe III (amiodarona,
contínua do ECG por 2 a 3 horas após administração. Se o
sotalol e dofetilide) bloqueiam canais de potássio, prolongan-
iQT corrigido for prolongado no ECG de base, a administra-
do a repolarização, e têm o potencial de induzir TdP. Embora
isso seja observado com sotalol e dofetilide raramente ocorre ção do droperidol não é recomendada. Extrema cautela é re-
com amiodarona, sendo esta considerada segura ou neutra comendada quando droperidol é utilizado em pacientes com
em pacientes após infarto miocárdico. A amiodarona também fatores de risco para desenvolver iQT longo, como falência
tem propriedades da classe II (bloqueando receptores adre- cardíaca congestiva, bradicardia, uso de diuréticos, hipertro-
nérgicos) e da classe IV (bloqueadores de cálcio), podendo fia ventricular, hipocalemia, hipomagnesemia ou uso de fár-
causar bradicardia. Os beta-bloqueadores (classe II) podem macos que prolonguem o iQT. Droperidol deve ser iniciado
ser utilizados para TSV, assim como os bloqueadores de ca- em baixas doses e ajustado até se obterem os resultados
nal de cálcio (classe IV), e parecem não apresentar grande desejados.
risco de fenômenos prodisrítmicos. Fármacos da classe III, Inotrópicos como dobutamina e milrinona podem precipitar
como amiodarona e sotalol, prolongam o potencial de ação disritmia atrial e ventricular. Dobutamina é diretamente dis-
e, na atualidade, estão substituindo os fármacos da classe ritmogênica, gerando taquicardia dose-dependente; doses
I, devido ao grande risco inerente de esses medicamentos superiores a 5 µg.kg-1.min-1 são mais propensas a causar
gerarem disritmia. Na verdade, todos os antidisrítimicos têm disritmias e geram pouco benefício no transporte de oxigênio.
o potencial de gerar disritmias e devem ser usados com cau- Milrinona aumenta o inotropismo sem ativar os receptores
tela, especialmente em pacientes com anormalidades cardía- adrenérgicos, mas também tem o potencial de gerar disrit-
cas e alterações eletrolíticas 31,32. mias. Digoxina resulta em aumento do cálcio intracelular nos
miócitos cardíacos, lentifica a condução pelo nó AV e pode
gerar aumento da automaticidade, precipitando qualquer tipo
Fármacos no perioperatório relacionados a disritmias de disritmia, sendo as mais comuns: contração ventricular
prematura, bloqueio de qualquer grau (embora raramente
Propofol, óxido nitroso (N2O) e sevoflurano têm pouco poten- Mobitz tipo II), taquicardia atrial paroxística com bloqueio, rit-
cial arritmogênico e apresentam poucos efeitos colaterais 31. mo juncional acelerado e TV bidirecional. São fatores de risco
Halotano não é uma boa escolha na presença de disritmias. para intoxicação por digoxina disfunção renal alterações ele-
Agonistas beta-adrenérgicos Anti-inflamatórios não esteroides Diuréticos tiazídicos Laxativos que contêm magnésio
Anfotericina B Manitol
Mineralocorticóide Metotrexate
Um estudo prospectivo randomizado comparou a eficácia predizer disritmias ventriculares malignas. A principal estraté-
do diltiazem versus amiodarona no controle da FC em pa- gia para TVNS seria a prevenção de seu desencadeamento,
cientes com taquicardias atriais e FC > 120 bpm. Diltiazem agindo prontamente quando do aparecimento de possíveis
mostrou melhor controle da FC que a amiodarona, porém fatores de risco 41. Trabalho realizado em pacientes submeti-
esteve mais relacionado à ocorrência de hipotensão 37. Nos dos à cirurgia cardíaca demonstrou que a correção do mag-
pacientes com história de TSV devido à presença de feixe nésio após a CEC reduziu a incidência de TV não sustenta-
anômalo (WPW), o uso de fármacos bloqueadores do nó AV da 12.
é contraindicado devido ao aumento do risco de desenvolvi-
mento de disritmias ventriculares malignas. Esses fármacos
acentuam o período refratário de condução do feixe acessório. Taquicardia ventricular sustentada
Neste caso, é possível usar procainamida e amiodarona 7. A
cardioversão química dessas disritmias no contexto periope- Dividida entre as categorias monomórfica ou polimórfica. Os
ratório tem pouca importância, sendo reservada para casos fármacos utilizados para TV monomórfica são lidocaína, pro-
de falência de controle de frequência cardíaca ou ausência cainamida ou amiodarona 42. Já a taquicardia ventricular poli-
de reversão e instabilidade hemodinâmica com a cardiover- mórfica tem sua conduta baseada na existência prévia de um
são elétrica. A eficácia dos antiarrítmicos para cardioversão é intervalo QT longo e consequente ocorrência de TdP. Nesses
questionada em vários estudos, pois muitos pacientes apre- casos, o tratamento da disritmia consiste em reverter o pro-
sentam conversão do ritmo com o uso de placebo em estu- longamento do iQT e, principalmente, descontinuar eventuais
dos randomizados. Um ensaio clínico randomizado mostrou fármacos que possam causar aumento do intervalo.
60% de conversão com 24 horas no grupo placebo quando A abordagem da TdP pode incluir cardioversão, embora o
comparado com 68% no grupo amiodarona 38. magnésio seja o tratamento de escolha (2 g administrado IV
Mesmo sabendo que com o uso de altas doses de amio- lentamente). Como a TdP costuma ser recorrente, esforços
darona as taxas de conversão química são consideráveis, devem ser feitos no sentido de aumentar a FC, entre 105 e
o potencial de efeitos colaterais no perioperatório deve ser 120 bpm, através de marca-passo ou fármacos inotrópicos.
mais estudado para se estabelecer adequada relação risco- Uso de fármacos que prolongam o tempo de repolarização,
benefício. Medicamentos como procainamida e amiodarona como procainamida, é contraindicado durante TdP. Interrom-
podem ser úteis para tratar qualquer dessas disritmias, mas per medicações que prolonguem o iQT e corrigir as alterações
mostraram-se não efetivos em alguns casos, além de apre- eletrolíticas são procedimentos geralmente necessários. Em
sentarem efeitos colaterais, especialmente a procainamida pacientes refratários e de alto risco, deve-se considerar im-
usada atualmente em caráter de exceção. plante de marca-passo e desfibrilador. Na prática, nos casos
A FA é bem tolerada por jovens, mas pode ser deletéria em que há dúvida se a TV polimórfica se deve a um prolonga-
em pacientes idosos, devendo ser abortada sempre que mento do intervalo QT, recomenda-se usar fármaco bloque-
possível. Estatinas foram testadas no pré-operatório com o ador do canal de sódio e repor magnésio empiricamente 7.
intuito de reduzir a incidência de FA peri e pós-operatória e Dentre os medicamentos que prolongam o iQT, a incidência
podem representar importante terapia adjuvante na preven- de Tdp é menor com amiodarona, portanto amiodarona EV é
ção da FA 39. Amiodarona também pode mostrar-se efetiva uma boa escolha como terapia alternativa para TV polimórfi-
após cirurgias cardíacas, embora um trabalho questione sua ca refratária de etiologia desconhecida.
eficácia profilática pós-toracotomia. Na ocorrência de FA, es-
tratégias para diminuir a FC devem ser adotadas nas primei-
ras 24 horas, pois mais de 85% dos episódios se resolverão TV instável, TV sem pulso, FV
nesse período. Antidisrítmicos das classes Ic ou III podem
ser usados. As principais manobras para o paciente que apresenta TV
Em relação à profilaxia de FA, cardiopatia bastante fre- instável, TV sem pulso ou FV no período perioperatório são
quente em perioperatório de cirurgias cardíacas, Beaulieu não farmacológicas: desfibrilação imediata, técnicas de reani-
e col. 40 realizaram trabalho prospectivo e aleatório com 120 mação cardiopulmonar (RCP) no caso de parada cardiorres-
pacientes recebendo amiodarona ou placebo para prevenção piratória e correção das causas reversíveis.
de FA nesse tipo de cirurgia e concluíram que a amiodarona
não se mostrou eficaz na profilaxia da FA.
CONCLUSÃO
e monitoração suficiente. Em pacientes de risco para QT lon- 11. Prielipp RC, Zaloga GP, Butterworth JF et al. – Magnesium inhibits
go, deve haver ECG de base recente. Eletrólitos devem ser the hypertensive but not the cardiotonic actions of low-dose epineph-
rine (see comments). Anesthesiology, 1991;74:973-979.
monitorados e corrigidos quando necessário. A verificação da
12. England MR, Gordon G, Salem M et al. – Magnesium administration
função renal e hepática é importante em pacientes que usam and dysrhythmias after cardiac surgery. JAMA, 1992;268:2395-2402.
medicações que podem gerar disritmias. Além disso, devem- 13. Wilkes NJ, Mallett SW, Peachey T et al. – Correction of Ionized Plas-
se ajustar as doses, quando necessário. O prolongamento do ma Magnesium During Cardiopulmonary Bypass Reduces the Risk of
iQT deve ser atentamente observado pelo anestesiologista Postoperative Cardiac Arrhythmia. Anesth Analg, 2002;95:828-834.
14. James MF, Beer RE, Esser JD – Intravenous magnesium sulfate
mediante a existência de vários fármacos que potencialmen-
inhibits catecholamine release associated with tracheal intubation.
te prolongam esse intervalo e a interação entre eles pode ser Anesth Analg, 1989;68:772-776.
catastrófica. A TSV responde ao tratamento com adenosina, 15. Mayer DB, Miletich DJ, Feld JM et al. – The effects of magnesium
enquanto a FA não, embora em ambos os casos a frequência salts on the duration of epinephrine-induced ventricular tachyarrhyth-
seja controlada por betabloqueadores ou bloqueadores do mias in anesthetized rats. Anesthesiology, 1989;71:923-928.
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canal de cálcio. O uso de fármacos de classe Ia está gradu-
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almente entrando em declínio devido à sua relação risco/be- 17. American Heart Association – 2005 American Heart Association
nefício desfavorável. Fármacos da classe Ib como lidocaína Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Car-
ainda são amplamente usados no centro cirúrgico para tratar diovascular Care. Circulation, 2005;112 (suppl IV):IV 72-84.
taquidisritmias ventriculares. Fármacos da classe Ic não de- 18. Marill KA, Wolfram S, Souza IS et al. – Adenosine for wide-complex
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ral, devido ao alto risco de proarritmia. Para as TSV, podem
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ser usados betabloqueadores ou bloqueadores do canal de 20. Booker PD – Long QT syndrome and anaesthesia.Br J Anaesth,
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e sotalol fazem parte da classe III, prolongam o potencial de 21. Drew BJ, Ackerman MJ, Funk M et al – Prevention of torsade de
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devem ser respeitadas. A conduta em disritmias perioperató-
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rias nem sempre inclui o uso de antidisrítmicos, embora estes miology of QT-interval prolonging drug administration in critically ill
não devam ser postergados quando houver indicação nesse patients. Pharmacoepidemiol Drug Saf, 2008;17:971-981.
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