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PRECESSÃO, NUTAÇÃO E

MOVIMENTO DO PÓLO

Prof. Dra. DANIELE BARROCA MARRA ALVES


INTRODUÇÃO

 No posicionamento por satélites os sistemas de


referência adotados são em geral globais e
geocêntricos
 Devido ao movimento dos satélites que ocorre ao redor
do centro de massa da Terra

 As estações terrestres são, em geral,


representadas em um sistema fixo à Terra e
rotacionam com ela – sistema terrestre
INTRODUÇÃO

 O movimento dos satélites é melhor descrito no


sistema celeste (sistema de coordenadas
equatoriais)

 Definidos e realizados os dois referenciais, é


necessário conhecer a relação entre eles para
poder modelar as observáveis de modo adequado

 No ajustamento dos dados provenientes do


posicionamento por satélite, é essencial que
posições de satélites e estações terrestres
sejam representados no mesmo sistema de
referência
INTRODUÇÃO

 A transformação do sistema celeste para o


terrestre é realizada empregando uma sequência
de rotações que levam em consideração:
 a precessão (P)
 a nutação (N)
 a rotação e orientação da Terra (S), incluindo o movimento do
pólo

T c
X  SNPX
T C
onde X e X representam vetores posicionais nos
sistemas terrestre e celeste
INTRODUÇÃO – Precessão,
Nutação e Movimento do Pólo
 O eixo de rotação da Terra e seu plano equatorial
não estão fixos no espaço, mas rotacionam em
relação a um sistema inercial
 Isso se deve a atração gravitacional da Lua, do
Sol e dos planetas sobre a protuberância da
Terra
 Componente principal: precessão
 Secundária: nutação

 Seu eixo de rotação ainda varia com respeito à


figura da Terra
 Movimento do pólo
OBJETIVOS

 Realizar uma revisão teórica sobre os


movimentos de precessão, nutação e movimento
do pólo terrestre

 Demonstrar matematicamente as causas desses


movimentos
TORQUES SOBRE A TERRA

 A interação gravitacional da Terra com os outros


corpos celestes do sistema solar, incluindo
principalmente a Lua e o Sol, mas também os
planetas, faz com que o movimento orbital da
Terra divirja do modelo Kepleriano de movimento
de dois pontos de massa no espaço
 Como a Terra não é uma esfera homogênea
perfeita, sua rotação também é afetada pela
ação gravitacional dos corpos do sistema solar
TORQUES SOBRE A TERRA

 Se não existissem outros planetas (somente o


sistema Terra/Lua) a órbita do sistema
Terra/Lua ao redor do Sol seria essencialmente
um plano fixo no espaço. Este plano define a
eclíptica
TORQUES SOBRE A TERRA

 A ação gravitacional dos planetas faz com que o


plano da eclíptica se comporte de uma forma
dinâmica, chamada precessão planetária

 Se a obliquidade da eclíptica fosse nula (ou se a


Terra não fosse achatada nos pólos), não
haveriam torques causados pelo Sol, Lua e
planetas agindo sobre a Terra
TORQUES SOBRE A TERRA

Como a obliqüidade da eclíptica não é nula e a Terra


é achatada nos pólos e bojuda no equador

o Sol, a Lua e os planetas causam uma precessão do


equador terrestre (e portanto do pólo)

precessão luni-solar e nutação, dependendo do


período de movimento
TORQUES SOBRE A TERRA
– EM RESUMO
 O fato do bojo equatorial (plano do equador
celeste) formar um ângulo de 23,5° com o plano
orbital do Sol e da Lua (plano da eclíptica), e da
Terra ser um corpo não uniforme, o que ocasiona
uma atração luni-solar, causa um torque
constante que produz a precessão luni-solar.
 A precessão planetária juntamente com a
precessão luni-solar é conhecida como precessão
geral.

Precessão planetária + Precessão luni-solar = Precessão Geral


TORQUES SOBRE A TERRA
– EM RESUMO
 Como a atração gravitacional não é constante,
pois a distância e a direção de atração dos corpos
muda devido à:
 Elipticidade das órbitas
 Divergência da órbita da Lua em relação a eclíptica

 Ocorre uma variação no torque, e,


consequentemente, na precessão, chamada
nutação, ou nutação forçada

 Como a precessão e a nutação estão associadas às


mesmas fontes de erros, elas se distinguem pela
duração do movimento.
TORQUES SOBRE A TERRA
– EM RESUMO
 O movimento suave e de longo período é a
precessão.

 Já o movimento de curto período é a nutação.


 Os períodos de nutação dependem principalmente do
movimento orbital da Lua relativo ao período orbital da
Terra.
 Os modelos mais recentes de nutação também contém
efeitos de curto período relativo aos movimentos dos
planetas (JEKELI, 2002).

 Movimento suave e de longo período : precessão


 Movimento de curto período: nutação
PRECESSÃO
A

PRECESSÃO

 Precessão planetária
Eclíptica média A
em t
M
A
0 A Eclíptica
0 média em t0

Equador médio
em t0

 As eclípticas e o equador são fictícios, pois é considerado


que eles são afetados pela precessão (não pela nutação)
  A é o ângulo entre as eclípticas médias em t0 e t
  A é a longitude eclíptica devido à precessão planetária
 A se refere ao ângulo “acumulado” entre uma época fixa t0
e outra época t
PRECESSÃO

 Os ângulos  A e  A podem ser expressos como


séries temporais cujos coeficientes são baseados
na dinâmica celeste dos planetas . Geralmente, as
séries são dadas por (JEKELI, 2002):
sen A sen A  s t  t 0   s1 t  t 0   s 2 t  t 0   
2 3

sen A cos  A  c t  t 0   c1 t  t 0   c 2 t  t 0   
2 3

 As seguintes fórmulas também podem ser usadas:


 A sen A  4,197  0,752T  0,0004T 2   0,194  0,0006T  2  0,0001 3  
 A cos  A   46,81  0,001T  0,0053T 2   0,05  0,003T  2  0,0003 3  
t F  t0 t  tF
onde: T 
36525 36525
0,5,5 
12

PRECESSÃO

 A precessão planetária resulta em uma lenta


rotação da eclíptica na direção ocidental
 Aproximadamente 0,5por ano, que corresponde a
um movimento do equinócio de 12,5 por século
 A precessão planetária também causa uma
mudança na obliqüidade da eclíptica, ela decresce
uma taxa de 47 por século
 Porém, a precessão é causada principalmente pela
atração gravitacional exercida pela Lua e pelo Sol
(precessão lunisolar)
PRECESSÃO

Precessão luni-solar
 Ocorre pois a Terra não é esférica
 É achatada nos pólos e bojuda no equador
 Seu diâmetro equatorial é cerca de 40 km maior
do que o diâmetro polar
 O plano do equador terrestre está inclinado
23° 26' 21,418" em relação ao plano da eclíptica
 O plano da eclíptica está inclinado 5° 8' em
relação ao plano da órbita da Lua
PRECESSÃO

 As forças diferenciais tendem não apenas a


achatá-la, mas também a "endireitar" o seu eixo,
alinhando-o com o eixo da eclíptica
 Como a Terra está girando, o eixo da Terra não
se alinha com o eixo da eclíptica, mas precessiona
em torno dele
PRECESSÃO
Centro de massa do
bojo equatorial Eixo de rotação

F2
C2 R2
Sol
Plano da eclíptica
R1 r
C1 F1

Bojo equatorial Equador celeste

 A atração nos bojos terrestres é expressa pelas forças F1 e F2


F1  k
mT m S > F2  k
mT m S
r2 r  r 2
 A força centrífuga existe devido ao movimento da Terra ao
redor do Sol
C1   2 r < C 2   2 r  r 
PRECESSÃO

 As forças resultantes
R1  F1  C1 e R2  F2  C 2
 As forças R1 e R2 aplicam um torque sobre a
Terra

Centro de massa do
bojo equatorial Eixo de rotação

F2
C2 R2
Sol
Plano da eclíptica
R1 r
C1 F1

Bojo equatorial Equador celeste


PRECESSÃO

 O torque aplicado em um corpo que rotaciona gera


uma precessão
 que é o movimento do eixo de rotação do corpo na
direção normal ao torque

 A precessão luni-solar move o eixo de rotação da


Terra vagarosamente ao longo de um cone cujo eixo
de simetria é perpendicular ao plano da eclíptica
PRECESSÃO

Cone
precessional

Eixo
precessional
Equador
celeste 

Eclíptica

PRECESSÃO

 A precessão lunisolar depende de parâmetros


geofísicos da Terra
 Não existem fórmulas analíticas disponíveis para este
fim, devido à complicada forma e constituição interna
da Terra
 Newcomb forneceu um parâmetro empírico, chamado
constante precessional de Newcomb
PN  P0  P1 t  t 0  com P1 = -0,00369 arcsec/século
 É baseado em valores observados da precessão
 Este parâmetro não é estritamente uma constante,
ele depende suavemente do tempo
PRECESSÃO

O parâmetro de Newcomb descreve o movimento do


equador médio ao longo da eclíptica da seguinte forma:
  PN cos  0  Pg
sendo  0  232621,448 na época t0 e Pg = 1,92 arcsec/século
um termo relativístico geral

P1, Pg e 0 se referem a época fundamental


t0 = J2000,0
O ângulo acumulado na precessão lunisolar do equador
ao longo da eclíptica é dado por  A
PRECESSÃO

 Ângulos acumulados da precessão planetária e


lunisolar, e também da precessão geral (em longitude)
Eclíptica
média em t0
A
A movimento do
0
A 0
equinócio vernal
P
Eclíptica
médio ao longo
A pA média em t do equador médio
  – precessão
Equador planetária
Equador terrestre em t0
terrestre em t

movimento do equinócio vernal médio ao longo


da eclíptica média – precessão lunisolar
precessão geral acumulada
PRECESSÃO

 É fácil formular relações entre os vários tipos de


precessão

 Basta considerar os limites dos ângulos acumulados


quando o tempo tende a zero, seja:

  lim  A   lim  A p  lim p A


t t 0 t t0
t t 0
PRECESSÃO

 Utilizando a geometria da figura e as igualdades

Eclíptica
média em t0
A
0 A
A 0
P
Eclíptica
A pA média em t
 
Equador
Equador terrestre em t0
terrestre em t

p A   A   A cos   p     cos  0
PRECESSÃO

 Aplicando a lei dos senos no triângulo esférico MP


Eclíptica média A
em t
M
0
A Eclíptica
0 média em t0
Eclíptica
média em t0
Equador médio A
em t0 0 A
A 0
P
Eclíptica
A pA média em t
 
Equador
Equador terrestre em t0
terrestre em t

sen A sen A
  sen A sen 180     sen A sen A
sen A sen 180   
PRECESSÃO

 Como o seno de um ângulo pequeno é o próprio ângulo


e sen 180     sen 
 A sen  sen A sen A

 A sen  s t  t 0   s1 t  t 0 2  s 2 t  t 0 3  
 Considerando apenas o termo de primeira ordem
s
 A sen  s   
sen 0
 Fazendo algumas substituições em p     cos  0 (fig.)
s
p  PN cos  0  Pg  cos  0  p  PN cos  0  Pg  s cot  0
sen  0
Newcomb Fórmula da
precessão geral
PRECESSÃO

 Existe uma outra forma de calcular a precessão geral,


sem utilizar a constante de Newcomb
 A precessão geral pode ser decomposta em ascensão
reta, m, e declinação, n
n A   A sen 0 m A   A cos  0   A

Eclíptica
média em t0
0
A 0
P
 0 nA Eclíptica
A  média em t
 0 pA
mA Equador
terrestre em t0
Equador
terrestre em t
PRECESSÃO

 Utilizando limites
n   sen  0 m   cos  0  

 A taxa de precessão geral em longitude é dada


por:
p  m cos  0  nsen  0
PRECESSÃO

 A precessão geral acumulada em declinação (n)


também é designada  A

 No lugar da ascensão reta, mA, são utilizados outros


dois elementos para facilitar a transformação
m  z

 Além disso, o pólo médio, Z0, na época t0, move-se


devido à precessão geral para a posição Z, na época t
PRECESSÃO

 Elementos de precessão
A Z0
Z

A

zA
Equador
médio em t0

 0 A

 Equador
médio em t

 A transformação da época t0 para época t é:


rm  R3  z A R 2  A R3   A r0  P r0
PRECESSÃO
 Para calcular a precessão os seguintes valores podem
ser usados:
 A  47,002  0,066T  0,0005T 2    0,033  0,0005T  2  0,00006 3
 A  174 º 52 34,9   3289,478T  0,606T 2   869,808  0,504T   0,035 2
 A  5038,778  0,492T  0,0001T 2    1,072  0,001T  2  0,001 3
 A  10,552  1,886T  0,00009T 2    2,380  0,0008T  2  0,001 3
 
p A  5029,096  2,222T  0,00004T 2   1,111  0,00004T  2  0,000006 3

 A  2306,218  1,396T  0,0001T 2   0,301  0,0003T  2  0,017 3


 
z A  2306,218  1,396T  0,0001T 2   1,094  0,00006T  2  0,018 3
A  2004,310  0,853T  0,0002T    0,426  0,0002T 
2 2
 0,041 3
 A  23º 2621,448  46,815T  0,0005T 2  0,001T 3 
 46,815  0,001T  0,005T    0,0005  0,005T 
2 2
 0,001 3 ,
PRECESSÃO

 O eixo de rotação da Terra completa um ciclo de


precessão em 25765 anos
 Que corresponde a um movimento do equinócio
de 50,3por ano na direção ocidental
 A contribuição do Sol no movimento precessional
anual do equinócio é de 20
 A contribuição da Lua é de 30
PRECESSÃO

 Os pólos celestes não ocupam uma posição fixa no


céu
 Cada pólo celeste se move lentamente em torno
do respectivo pólo da eclíptica, descrevendo uma
circunferência em torno dele
 Atualmente o Pólo Celeste Norte está nas
proximidades da estrela Polar, na constelação da
Ursa Menor
 Daqui a cerca de 13000 anos ele estará nas
proximidades da estrela Vega, na constelação de
Lira
PRECESSÃO
PRECESSÃO

 Apesar do movimento de precessão ser tão lento, ele


foi percebido já pelo astrônomo grego Hiparco, no ano
129 a.C.
 Timocharis (273 a. C.) tinha medido que a estrela
Spica estava a 8° do ponto vernal, mas Hiparco media
somente 6°
 Ele concluiu que o ponto vernal havia se movido
2 graus em 144 anos
 No entanto, a explicação do fenômeno de precessão
foi dada por Newton no séc. XVII
NUTAÇÃO
NUTAÇÃO

 O movimento precessional discutido é resultado de


um torque externo constante que age sobre a Terra
 Ocorrem pequenas variações de caráter periódico no
torque externo que perturbam o movimento
precessional
 Essas variações são causadas principalmente por:
 Elipticidade da órbita da Terra ao redor do Sol – o
torque varia com um período de 6 meses
 Elipticidade da órbita da Lua ao redor da Terra – o
torque varia com um período de  29 dias;
 Inclinação do plano orbital da Lua em relação ao plano
da eclíptica – aproximadamente 5°11’.
NUTAÇÃO

 Para a precessão, é determinado o movimento do


pólo médio e equinócio médio dentro de um
intervalo, de t0 a t. A transformação relacionada
a precessão ocorreu de um frame médio a um
outro frame médio.

 Mas, para a nutação, será determinada a


diferença entre a posição média e a posição
verdadeira para uma época particular t
(geralmente a época atual conhecida como época
da data) (JEKELI, 2002).
NUTAÇÃO

 A nutação descreve a dinâmica em curtos


períodos
 Será determinada a diferença entre a posição
média e a posição verdadeira para uma época t

T   Eclíptica
    média em t

Equador Equador
verdadeiro em t médio em t
NUTAÇÃO

 Esse movimento é realizado por dois ângulos,


 e  , que descrevem respectivamente:
 A mudança (do médio para o verdadeiro) na inclinação
do equador com respeito a eclíptica média (nutação em
obliquidade)
 A mudança ( do médio para o verdadeiro) do equinócio
ao longo da eclíptica média (nutação em longitude)

T   Eclíptica
    média em t

Equador Equador
verdadeiro em t médio em t
NUTAÇÃO

 A nutação em longitude ocorre principalmente


devido a elipticidade das órbitas da Terra e da
Lua, causando um efeito precessional luni-solar
não uniforme.

 A nutação em obliqüidade ocorre principalmente


devido a obliqüidade da órbita da Lua em relação
a eclíptica.

 O efeito combinado da nutação em longitude e da


nutação em obliqüidade é chamado nutação
forçada, ou simplesmente nutação
NUTAÇÃO

No estudo do movimento de nutação não é necessário


transformar da eclíptica média para a verdadeira
 o interesse está somente na dinâmica do equador
verdadeiro (e consequentemente do pólo verdadeiro)

Modelos para os
n
ângulos de nutação:
n
   C i cos Ai    C i senAi
i 1 i 1

sendo que o ângulo Ai  a i l  bi l   c i F  d i D  ei  representa


uma combinação linear de ângulos, ou coordenadas eclípticas,
do Sol e da Lua (e seus planos orbitais) na esfera celeste
Os valores utilizados para Ci podem ser vistos em
Jekeli (2002)
NUTAÇÃO

 Principais períodos de nutação


Período Amplitude Nome
(dias) Longitude Obliquidade
9,1 -0°0261 +0°0113 ------
13,7 -0°2037 +0°0884 Quinzenal
183 -1°2729 +0°5522 Semi-anual
365 +0°1261 0 Anual
6798 -17°2327 +9°2100 Nutação de Bradley
Período de nutação mais conhecido, de 18,6 anos, foi descoberto
por Bradley em 1727

Além dos períodos de nutação da tabela, CEU (2004) também cita um


período de nutação de 9,3 anos (período de rotação do perigeu lunar)
NUTAÇÃO

 A nutação move o eixo


de giro da Terra ao Movimento
longo de um cone de precessão

estreito
Movimento
 Sua origem coincide com de Nutação
a origem do cone de
precessão

 Seu eixo move-se ao
longo do cone de
precessão Terra
NUTAÇÃO
 A próxima figura descreve o movimento do pólo
terrestre devido ao efeito combinado da precessão
lunisolar e do termo de nutação de Bradley
 O movimento total do pólo na esfera celeste ocorre
devido a superposição da precessão geral e de todas
as nutações
Precessão

Movimento verdadeiro 18,6 anos


do pólo
Pólo eclíptico
médio
NUTAÇÃO

 A transformação realizada em relação ao


movimento de nutação é dada por:

r  R1     R3   R1  rm  Nrm

T   Eclíptica
    média em t

Equador Equador
verdadeiro em t médio em t
NUTAÇÃO

 O movimento combinado de precessão e nutação


é dado por:

r  NP r0
NUTAÇÃO

 Em 1980 a International Astronomical Union (IAU)


adotou uma teoria para nutação baseada no modelo de
elasticidade da Terra
  é calculado utilizando uma expansão em série com
106 coeficientes
  com 64 coeficientes
  17 ,1996 sen   1,3187 sen 2 F  2 D  2   0 ,2274 sen 2 F  2 
  9,2025 cos   0,5736 cos2 F  2 D  2   0,0977 cos n2 F  2 
  é a longitude eclíptica média do nodo ascendente lunar
 D é o alongamento médio da Lua para o Sol
 F   M   com  M sendo a longitude eclíptica média da Lua
IAU 2000

 No entanto, em 2000, a IAU decidiu na sua 24ª


General Assembly substituir:
 o Modelo de Precessão de 1976 (IAU 1976 Precession
Model)
 a teoria de nutação de 1980 (IAU 1980 Theory of
Nutation)

 Utilização do modelo de precessão e nutação de 2000


(Precession-Nutation Model IAU 2000), a partir de
1 de janeiro de 2003
IAU 2000

 O modelo IAU 2000A contém 678 termos lunisolares


e 687 termos planetários

 Provê direções do pólo celeste no Geocentric


Celestial Reference System (GCRS) com acurácia de
0,2 mas

 O modelo IAU 2000B inclui 80 termos lunisolares e


uma influência planetária

 A diferença entre os dois modelos não é maior que


1 mas depois de aproximadamente 50 anos
MOVIMENTO
DO POLO
MOVIMENTO DO PÓLO

Depois de eliminar, via transformação, as


influências externas à Terra

seu eixo de rotação ainda varia com respeito à


figura da Terra

principalmente pelas suas propriedades elásticas e


interação com a atmosfera
MOVIMENTO DO PÓLO

 Definição: O movimento do pólo é a rotação do


pólo celeste verdadeiro (eixo de rotação
instantâneo) em relação ao pólo de um sistema de
referência convencional fixo a Terra (CIO -
Conventional International Origin)
y CIO

xp

yp
Pólo instantâneo
no instante t

x
MOVIMENTO DO PÓLO

 Os parâmetros de orientação da Terra não podem ser


descritos por teoria
 determinados a partir de observações

 Por um longo período, observações astronômicas


foram utilizadas para esse fim
 inicialmente sob o auspício do International Latitude
Service (ILS)
 depois pelo International Polar Motion Service (IPMS),
juntamente com o BIH

 Em 1 de janeiro de 1988 essas duas agências foram


incorporadas ao IERS, que passou a realizar essas
funções
Atualmente, as tecnologias utilizadas são: o VLBI, SLR, GPS, LLR , etc
MOVIMENTO DO PÓLO
www.iers.org
MOVIMENTO DO PÓLO

 O movimento polar afeta as coordenadas de todos os


pontos terrestres
 Esse movimento é causado por variações na
distribuição de massa da Terra e de sua atmosfera
 Essas variações podem ocorrer devido a fenômenos
meteorológicos, geológicos e geofísicos, tais como:
 Movimento da atmosfera e dos oceanos
 Mudanças na distribuição de massa da superfície
(erosão)
 Mudanças na crosta e nos fluidos (erupções vulcânicas,
terremotos)
 Movimento entre a crosta terrestre e seu interior
MOVIMENTO DO PÓLO

 O fenômeno do movimento polar surge do fato de que


o eixo de giro da Terra não coincide com o eixo de
máximo momento de inércia (eixo de simetria)

 Euler investigou esse fenômeno em 1765 e chamou de


nutação livre

 O movimento polar foi conhecido como um conceito


teórico por mais de 100 anos, antes que pudesse ser
provado através de medidas
MOVIMENTO DO PÓLO

 Como foi descoberto???


Em 1884 Kuestner em Berlin detectou uma variação do
eixo de rotação da Terra com uma amplitude de
aproximadamente 0,2

Isto conduziu a uma campanha observacional em 1891,


onde uma série de observações astronômicas feitas
simultaneamente em Berlin e Hawai   180 foram
analisadas

Os resultados mostraram uma amplitude de 0,5 em 14


meses
MOVIMENTO DO PÓLO

 Nesse mesmo ano (1884), Chandler analisou algumas


observações antigas e chegou a conclusão de que o
movimento polar é resultante de duas componentes:
 uma com um período anual
 e outra com um período de 428 dias, posteriormente
chamado de período de Chandler

 Embora houvesse dúvidas no começo, estes


resultados foram logo confirmados pelo experimento
Berlin-Hawai
 Em 1892, Newcomb mostrou que a elasticidade da
Terra é responsável pelo movimento de Chandler
MOVIMENTO DO PÓLO

 A amplitude do período de Chandler é de 0,2 arcsec


 Já o movimento anual, que ocorre devido a
redistribuição de massas pelos processos geofísicos e
meteorológicos, tem amplitude de 0,05 – 0,1 arcsec
 Outros componentes do movimento polar incluem:
 a oscilação diurna (até agora não foi detectada,
somente predita)
 o chamado passeio polar, que é o movimento secular do
pólo
 Durante 1900-2000, o eixo de giro da Terra se moveu
aproximadamente 0,004 arcsec por ano na direção do
meridiano 80° O
MOVIMENTO DO PÓLO

 Movimento polar de Chandler de 1890 a 2000


MOVIMENTO DO PÓLO

http://hpiers.obspm.fr/
MOVIMENTO DO PÓLO

Equação da conservação do momento angular, que é


conveniente para descrever o movimento polar:
dH
L
Onde : dt
H é o momento angular de um corpo rígido expresso em um
sistema coordenado fixo ao corpo
L são os torques externos
Além disso: H  C  I XX I XY I XZ 
 
 é o vetor de velocidade angular C   I I YY I YZ 
YX
C é o tensor de inércia instantâneo , I 
 ZX I ZY I ZZ 
os termos da diagonal são chamados de momentos de inércia,
fora da diagonal são chamados de produtos de inércia
MOVIMENTO DO PÓLO

 I repersenta a distribuição de massa em relação a um


ponto
 Se o sistema coordenado fixo ao corpo é escolhido de
forma que os produtos de inércia sejam zero, os eixos
resultantes serão os eixos principais do corpo
 Depois de algumas manipulações matemáticas:
H
   H  L  C    H  L
com t
 A 0 0  1   A1 
    
C   0 B 0   2    B 2 
 0 0 C     C 
  3   3 
MOVIMENTO DO PÓLO

e
i j k
  H  1 2  3  C 2 3 i  A1 3 j  B1 2 k  A1 2 k  C1 3 j  B 2 3 i 
A1 B 2 C  3
 C  B  2 3 i   A  C 1 3 j  B  A1 2 k ,

 Portanto:
 A 1  C  B  2 3  L1

 B 2   A  C 1 3  L2
C  B  A   L
 3 1 2 3

 Assumindo que os torques externos já foram


tratados, pela precessão e nutação, tem-se:
L1 = L2 = L3 = 0
MOVIMENTO DO PÓLO

 Além disso, assumindo que o corpo tem simetria


equatorial : A = B
 Assim:
 A 1  C  A 2 3  0

 A 2  C  A1 3  0
C  0
 3
 As equações acima são EDOs lineares de primeira
ordem
 Resolvendo a terceira equação tem-se:
 3  const .
MOVIMENTO DO PÓLO
 Substituindo
CA
 3
A
nas duas primeiras equações:

 A  C  A
   2 3  0
 A 1  C  A 2 3  0  A 1 A  1   2  0
  
 A 2  C  A 31  0  A   C  A    0  2  1  0
 A 2 A
3 1

Para solucionar, basta substituir a 1ª equação na 2ª:

  1  1
Da 1ª equação:  2   1   2    2 
 
MOVIMENTO DO PÓLO

 Substituindo na segunda:
 1
 1  0  1   21  0

 Solucionando:

 r 2   2  0  r 2   2  r   i
 Portanto as soluções dessa EDO são: e  it e e   it
 A solução geral é dada por:
1  c1 cos  t  c 2 sen t
com c1 e c2 constantes
MOVIMENTO DO PÓLO

 Como c1 e c2 são constantes, pode-se assumir:


c1  a1 cos a 2 c 2   a1 sena 2
com a1 e a2 constantes
 Assim:
1  a1 cos  t cos a2  sen t sena 2   1  a1 cos(  t  a2 )
 Substituindo:  2  a1 sen  t  a 2 
 A solução é dada por:
1  a1 cos(  t  a2 ) frequência angular

2  a1sen t  a2  amplitude
fase
MOVIMENTO DO PÓLO

 As equações anteriores descrevem o movimento


circular do eixo de rotação da Terra
 Este movimento pode ser determinado através da
observação de latitudes astronômicas
 Como as observações da latitude se referem ao eixo
instantâneo de rotação, qualquer desvio entre esse
eixo e o eixo de simetria será detectado nas latitudes
astronômicas
 porque elas são fixadas a observatórios, e então a
crosta
MOVIMENTO DO PÓLO
 Observando a latitude astronômica continuamente, o
movimento polar pode ser detectado

t2 t1

2

1

Eixo de rotação Eixo de simetria


MOVIMENTO DO PÓLO

 Nas equações anteriores, foi discutida a parte física


do movimento do pólo
 Basta agora calcular, geometricamente, as
componentes desse movimento, como também
verificar qual é a matriz de rotação apropriada
 Seja  t ,  t e At a latitude astronômica, longitude e
azimute observados (instantâneos) na época t
 Seja  ,  e A os ângulos correspondentes com
respeito ao pólo terrestre convencional (CIO), de
forma que:      t      t A  A  At
representem as correções aos ângulos observados
MOVIMENTO DO PÓLO

 Observando a figura, as coordenadas polares foram


colocadas de forma que:

 Para a latitude, utilizando o triângulo F-CIO-PI


  d cos180   t    
CIO

d
xp  
Pólo yp Meridiano
Instantâneo (PI) astronômico
t 
F

90  
90   t

At alvo
 A
Meridiano médio A
Círculo vertical
de Greenwich
Observador (O)
MOVIMENTO DO PÓLO

 Depois de algumas manipulações matemáticas:


   d cos  t cos   d sen  t sen 

 Utilizando os valores de xp e yp:


   x p cos  t  y p sen  t
CIO

d
xp  
Pólo yp Meridiano
Instantâneo (PI) astronômico
t 
F

90  
90   t

At alvo
 A
Meridiano médio A
Círculo vertical
de Greenwich
Observador (O)
MOVIMENTO DO PÓLO

 Para o azimute, usando a lei dos senos no triângulo


esférico CIO-O-PI, tem-se:
sen  A sen 180   t   

sen d sen 90   
CIO

d
xp  
Pólo yp Meridiano
Instantâneo (PI) astronômico
t 
F

90  
90   t

At alvo
 A
Meridiano médio A
Círculo vertical
de Greenwich
Observador (O)
MOVIMENTO DO PÓLO

 Novamente depois de manipulações matemáticas,


tem-se:

A   x p sen  t  y p cos  t sec 


MOVIMENTO DO PÓLO

 Finalmente, para a longitude, basta aplicar a lei dos


senos, no triângulo QRM
sen  A sen90

sen    sen t
yp
xp CIO
Pólo
instantâneo
 A
Q

t


t

R M
MOVIMENTO DO PÓLO

 Manipulando matematicamente:
   x p sen  t  y p cos  t  tan 

 Com as últimas 3 fórmulas é possível determinar


as correções a latitude, longitude e azimute
astronômico
 No entanto, também é possível utilizar a matriz
de rotação para calcular a transformação entre
os dois sistemas
MOVIMENTO DO PÓLO

 Para realizar essa transformação, o interessado


precisa ter a sua disposição os valores de:
 xp, yp
 Greenwich apparent sideral time (GAST, ou
simplesmente GST)

 Para as coordenadas do pólo, os valores são


fornecidos no Boletim A, produzido pelo IERS,
disponível em http://maia.usno.navy.mil/bulletin-a.html
 O boletim B também fornece essas informações
 As expressões para obtenção do valor de GAST estão
descritas em Seeber (2003)
MOVIMENTO DO PÓLO

Situação geométrica para a transformação


A orientação do sistema convencional fixo a Terra é
representado por (X, Y, Z)CT
ZCT ZT

yP
A matriz que transforma o sistema
Meridiano xP
médio instantâneo para o sistema terrestre
Greenwich
convencional é dada por:
XT Equador
convencional
GAST
YCT
S  R 2 (  x p ) R1 (  y p ) R 3 (GAST )
Equador
verdadeiro

XCT
YT
MOVIMENTO DO PÓLO

 O eixo ZCT é direcionado ao pólo terrestre


convencional, e o eixo XCT ao meridiano médio de
Greenwich
 A posição do pólo instantâneo em relação pólo
convencional é geralmente descrita pelas coordenadas
do pólo xp e yp
 cosGAST  sen GAST  0 
 Além disso: R GAST     senGAST  cosGAST  0 
3  
 1 
 0 0
 E devido aos ângulos pequenos:
 1 0 x p  1 0 0   1 0 xp 
    
R2  x p R1  y p    0 1 0  0 1  yp    0 1  yp 
 x 0 1  0 yp 1    x p yp 1 
 p
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
 CEU – Centro de estudos do universo. Disponível em:
<http://www.centroastronomico.com.br/boletim/2003/05/index1.html>.
Acesso em: 15 jun. 2004.
 FILHO, K. S. O.; SARAIVA, M. F. O. Precessão do eixo da Terra. 2003.
Disponível em: <http://astro.if.ufrgs.br/fordif/node8.htm>. Acesso em: 15
jun. 2004.
 HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de Física I:
Mecânica. 6.ed. Livros Técnicos e Científicos Editora S. A., 2002. 277p.
 JEKELI, C. Geometric Reference Systems in Geodesy. Ohio State
University, 2002.
 SCHWARZ, K. P.; KRYNSKI, J. Fundamental of Geodesy. 1997. 189p.
IUGG Reports - The University of Calgary, Calgary.
 SEEBER, G. Satellite Geodesy: Foundations, Methods, and Applications.
Berlin, New York: Walter de Gruyter, 2003. 589p.
 SYMON, K. R. Mechanics. 3.ed. Addison-Wesley Publishing Company, 1971.
639p.
Questões

 1) O que é necessário corrigir para transformar de um


referencial celeste para o terrestre e vice-versa?
 2) De forma geral porque ocorre precessão, nutação e
movimento do pólo?
 3) Como a precessão pode ser dividida? Quais as causas?
 4) Que fenômeno é causado pelas variações no torque
sofrido pela Terra?
 5) Em relação a precessão e nutação, qual movimento é de
longo e curto período?
 6) Por que, além da precessão, ocorre a nutação?
 7) Que tipo de fenômeno pode ocasionar o movimento do
pólo?
 8) Dentre os três movimentos estudados, quais podem ser
modelados?
EXEMPLO PRÁTICO

 Objetivo: Representar graficamente o movimento


do pólo de 2004 a 2011.

>Terremoto Sumatra em 26/12/05 - 9,1


>Terremoto China em 12/05/08 - 7,9
>Terremoto Chile em 27/02/10 - 8,8
>Terremoto Japão em 11/03/11 - 9,0
Coordenadas do pólo de 2004
a 2011
TRABALHO

 Escolher um dos terremotos que ocorreram e


plotar as coordenadas do pólo para 1 ano antes e
1 ano depois do mês em que ocorreu o evento
(totalizando 2 anos)

 Ilustrar xp e yp em 2 gráficos: os próprios


valores e sua representação em coordenadas
polares

 Data da entrega: 08/08

 Podem fazer em Duplas ou Trios


TRABALHO

 Apresentar um breve relatório explicando o


procedimento utilizado
 Dados do IERS
 Fórmulas Matemáticas

 Concluir se houve algum movimento do pólo devido


ao terremoto ocorrido
 Mídia – falou-se que mudou a posição do pólo e o
comprimento do dia. Já viram isso na TV?
 NASA
 Será que com as medidas que temos (acurácia) é
possível ver alguma diferença?
http://www.nasa.gov/topics/earth/features/japanquake/earth20110314.html
COMO FAZER?

 Onde obter os dados de xp e yp?


www.iers.org
> Data /Products
> Earth orientation Data
> Monthly earth orientation data
 (mostar exemplo de arquivo)

 O boletim B apresenta os dados calculados e o


boletim A os dados preditos

 Qual usar?
 Boletim B – IAU 2000

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