Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CEJA >>
Unidades 1 e 2
CENTRO DE ESTUDOS
de JOVENS e ADULTOS
CIÊNCIAS
HUMANAS
e suas
TECNOLOGIAS >>
Módulo 1
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Governador Vice-Governador
Sergio Cabral Luiz Fernando de Souza Pezão
Secretário de Estado
Gustavo Reis Ferreira
Secretário de Estado
Wilson Risolia
FUNDAÇÃO CECIERJ
Presidente
Carlos Eduardo Bielschowsky
Produção Gráfica
Verônica Paranhos
Sumário
Unidade 1 | Memória e Experiência Social 5
Seja bem-vindo a uma nova etapa da sua formação. Estamos aqui para auxiliá-lo numa jornada rumo ao
aprendizado e conhecimento.
Você está recebendo o material didático impresso para acompanhamento de seus estudos, contendo as
informações necessárias para seu aprendizado e avaliação, exercício de desenvolvimento e fixação dos conteúdos.
Além dele, disponibilizamos também, na sala de disciplina do CEJA Virtual, outros materiais que podem
site da internet onde é possível encontrar diversos tipos de materiais como vídeos, animações, textos, listas de
exercício, exercícios interativos, simuladores, etc. Além disso, também existem algumas ferramentas de comunica-
Você também pode postar as suas dúvidas nos fóruns de dúvida. Lembre-se que o fórum não é uma ferra-
menta síncrona, ou seja, seu professor pode não estar online no momento em que você postar seu questionamen-
to, mas assim que possível irá retornar com uma resposta para você.
Para acessar o CEJA Virtual da sua unidade, basta digitar no seu navegador de internet o seguinte endereço:
http://cejarj.cecierj.edu.br/ava
Utilize o seu número de matrícula da carteirinha do sistema de controle acadêmico para entrar no ambiente.
Feito isso, clique no botão “Acesso”. Então, escolha a sala da disciplina que você está estudando. Atenção!
Para algumas disciplinas, você precisará verificar o número do fascículo que tem em mãos e acessar a sala corres-
pondente a ele.
Bons estudos!
Fascículo 1 • História • Unidade 1
Memória e
experiência
social
Para início de conversa...
de fevereiro, ele saiu do trabalho às 21 horas, mas não retornou à sua casa. Ficou
Ele não se lembrava de nenhum fato relacionado à sua vida. Não sabia
seu nome, nem reconhecia seus familiares. Nas entrevistas com a equipe mé-
dica, o paciente dizia não se lembrar de qualquer fato ocorrido antes do dia 6
ler ou escrever.
No hospital, o paciente mostrou-se preocupado com a perda de memória, tentando recordar-se de tudo o que
era informado. Aos poucos, começou a lembrar-se de alguns fatos, especialmente eventos isolados da infância.
Após um ano de acompanhamento, o paciente ainda apresentava apenas lembranças esparsas que não se arti-
culavam bem. Não conseguia contextualizar o que aprendia e, apesar de não exibir alterações do humor, mantinha-se
socialmente isolado.
Esse texto foi adaptado de um artigo científico, publicado na Revista de Psiquiatria Clínica,
da Universidade de São Paulo. Ele está disponível, na íntegra, no endereço eletrônico:
http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol35/n1/pdf/26.pdf )
No caso relatado, um trabalhador simplesmente perdeu a memória sem nenhum motivo aparente. Ele não se
lembrava mais quem era, não se recordava de sua família e havia esquecido quase tudo que aprendera durante sua
Imagine-se em uma situação semelhante: esquecer o próprio nome, não reconhecer os filhos, desaprender a
ler, escrever e perder todas as habilidades profissionais que dispunha. Como seria possível levar a vida dessa forma?
Dá para ter uma ideia de como seria difícil a situação de um indivíduo sem memória, incapaz de trabalhar e com di-
ficuldade de se relacionar socialmente? Percebemos, assim, como é importante a memória na construção da nossa
6
Nesta unidade, vamos entender o que é memória e como ela se relaciona com nossa identidade. Também
vamos discutir a ideia de memória social ou coletiva, aquela que nos identifica com um passado comum, e, portanto,
faz com que nos reconheçamos como brasileiros. Como será que essa memória se construiu? Como ela é preservada?
Quem cuida da memória do povo brasileiro? Além disso, vamos estudar como se formou a identidade de um povo em
Objetivos de aprendizagem
Perceber que a memória dá significado para nossas experiências pessoais e coletivas;
Analisar a importância das memórias coletivas e da memória nacional na formação da sociedade brasileira.
e voltamos a lembrar.
podia falar mal do governo”. Assim, ao utilizar a memória, fazemos comparações, trazemos informações extraídas da
televisão, livros, jornais, de coisas que ouvimos dizer, das nossas vivências e sensações, em suma: de nossas experi-
ências.
8
Meus oito anos
Do despontar da existência!
a. O poema fala sobre as boas lembranças que temos do passado. Indique quais
versos justificam essa imagem de um passado de felicidades.
más recordações.
10
Por outro lado, a memória tem uma função prática muito importante, pois, ela nos ajuda a evitar situações
ruins, vividas anteriormente. Uma criança que tenha se queimado com uma panela quente se esforça para não se
queimar novamente porque se recorda da dor experimentada. Daí o ditado popular: “gato escaldado tem medo de
água fria”.
Nós, seres humanos, somos profundamente culturais, isto é, aprendemos com a experiência. O que nos man-
tém vivos, como indivíduos e espécie, é a nossa capacidade de registrar, preservar e transmitir informações; tanto
as informações das nossas próprias experiências, quanto aquelas que nos chegam por nossos antepassados e pela
sociedade.
Por exemplo, um adulto pode alertar uma criança sobre os riscos de tocar a mão em uma panela quente, mas
pode ser que só a experiência ensine a ela esta lição de modo inesquecível. Por isso, na infância, gostamos tanto de
experimentar tudo. Afinal, nessa fase, dispomos de poucos saberes e ainda estamos construindo as bases dos nossos
Quando nos tornamos jovens ou adultos, continuamos a experimentar, mas, principalmente, utilizamos nos-
sos saberes anteriores para darmos respostas mais satisfatórias no tempo presente. Isso, porém, parece tão natural
que quase nunca pensamos no seu funcionamento, isto é, no trabalho elaborado pela memória.
Meu nome é Francisco Alves dos Reis, nasci no dia 4 de junho de 1924, em Catas
Meu pai é José Augusto Alves dos Reis e minha mãe, Francisca Firmina de Barros.
Eles nasceram em Catas Altas da Noruega, em Minas Gerais. Meu pai tinha uma pequena
fazenda, onde nós trabalhávamos com criação de gado e plantação. Dos sete aos 12 anos,
trabalhei direto na fazenda em todo tipo de serviço: plantava milho, arroz e feijão, capinava
e guiava boi para arar a terra. Aos sete anos, aprendi, trabalhando, quantas horas de luz
solar têm o mês de novembro. Eu guiava boi para arar a terra de sol a sol naquele mês; e
o mês de novembro, realmente, tem 14 horas por dia de luz solar. Eu acordava cedinho,
tos importantes para sua vida. Procure se lembrar também quem ensinou ou se
em nossa memória e são utilizados quando precisamos Figura 4: Se você comer um prato de feijoada e não se sentir
bem depois, é possível que, diante de um novo prato, a me-
tomar decisões ou pensar sobre alguma situação con-
mória desagradável desencoraje-o a comê-lo.
creta.
12
A memória produz significados para nossa história pessoal e auxilia-nos a nos relacionarmos com o mundo,
Mas, nesse trabalho da memória, há muito mais conflitos que soluções, pois a nossa recordação não é um
registro perfeito de um evento passado, como se fosse um robô dos filmes de ficção científica ou a memória de um
computador. A nossa memória transforma-se com a passagem do tempo, ela se modifica à medida em que as expe-
riências vividas exigem novas recordações que ajudem a explicar a vida e dar-lhe sentido.
Assim, é importante reforçar que a memória exige esforço e trabalho, pois ela constrói o modo como
sentimos e entendemos nossas experiências pessoais e, como veremos a seguir, nossas vivências co-
letivas.
A memória ajuda-nos a construir a relação que temos com o mundo e com os demais seres humanos. Cada
um de nós vive em um certo tempo e lugar, e definimo-nos a partir das experiências vividas e das ideias que temos
sobre as coisas.
Por exemplo, Ezequiel é cearense de nascimento, filho de D. Luzia e Seu Antonio, ambos trabalhadores rurais.
Ezequiel mora em Brasília há 32 anos, trabalha como motorista de ônibus, torce pelo Flamengo, é católico, casado há
Para cada uma dessas características, Ezequiel tem as mais diversas memórias e ele se coloca no mundo a partir
delas. Se perguntássemos a ele: “Ezequiel, quem é você?” O que será que ele diria? E se ele for parado na rua por uma
tais características.
também se reorganizam a partir das experiências, necessidades e desejos. E, principalmente, conforme as circuns-
tâncias. Imagine que Ezequiel foi visitar o Estádio do Maracanã pela primeira vez e, por engano, foi parar no meio da
torcida do Fluminense. Ele poderá se identificar como um motorista de ônibus, um cearense e pai de família, mas,
provavelmente, não irá se apresentar como flamenguista, porque sabe que provocaria muitas inimizades.
14
Percebemos assim que precisamos da memória para construir nosso lugar no tempo e no espaço. O
modo como caracterizamos nossa vida, na relação com os outros e com nossa história, forma nossa
identidade pessoal.
Não dá para separar a memória do indivíduo da memória dos grupos sociais dos quais ele faz parte. Quando
alguém se identifica como japonês ou mineiro ou agricultor ou jovem ou mulher, já está se incluindo em um grupo,
isto é, em uma coletividade, seja ela um país, uma profissão, um gênero, uma faixa de idade etc.
organizações sociais, como, por exemplo times de futebol, igrejas, sindicatos, clubes, gru-
c. Narre como foi o início dessa organização: sua fundação, os primeiros partici-
pantes etc.
identidades coletivas. Nessas coletividades, vivemos experiências diversas e relacionamo-nos, construindo uma me-
mória comum sobre essas experiências. Essa memória vai se transformando na própria história dos grupos sociais e, à
medida que nos identificamos com ela, também nos mantemos identificados com outros membros do mesmo grupo.
Assim, as identidades coletivas são resultado da experiência dos vários grupos e da sociedade. Desse modo,
um indivíduo pode se identificar, por exemplo, como morador de certo lugar, torcedor de um time de futebol, mem-
As memórias coletivas não são apenas resultado das nossas experiências pessoais, isto é, das situações vi-
vidas efetivamente por cada um de nós. Em uma sociedade complexa como a nossa, as memórias coletivas são
construídas de um modo imaginário, isto é, são difundidas como se todos tivessem compartilhado o mesmo passado
de experiências comuns.
Veja um exemplo. Todo cristão tem um passado comum de vivências religiosas, marcadas pela trajetória dos
cristãos, desde a vida do próprio Cristo. Para celebrar a sua fé, todos os cristãos realizam os mesmos rituais religiosos,
onde reproduzem os mesmos gestos, rezam as mesmas orações e utilizam os mesmos símbolos. Cada cristão, em
qualquer parte do mundo, sabe da existência da sua comunidade religiosa, mas não pode conhecer pessoalmente
todos os outros cristãos. Vivenciam sua comunidade de um modo imaginário, através dos rituais tradicionais.
16
Isso também é válido para outras comunidades: de trabalhadores do comércio, de corintianos, de paranaenses
ou de brasileiros. O problema, então, é o seguinte: por que acreditamos nessas comunidades imaginárias se não as
vivenciamos? Em outras palavras, o que nos faz crer que participamos de uma identidade coletiva se não vivemos
Seção 3
A Grécia Antiga e a identidade de um povo
Na Europa, os gregos foram os primeiros a produzir registros escritos sobre sua própria sua própria história, há
cerca de 4 mil anos. Eles também foram pioneiros ao refletir sobre a sua própria condição, isto é, sobre o fato de “ser
Se você observar um mapa com a divisão política da Europa, poderá perceber a posição geográfica da Grécia
atual: situada em uma península, isto é, em uma porção de terras cercada pelo mar por quase todos os lados, os gre-
gos desenvolveram, ao longo de sua história, uma intensa atividade comercial em torno do Mar Mediterrâneo. Essas
trocas comerciais eram também trocas culturais, pois não são apenas produtos que se deslocam de uma região para a
outra, mas também pessoas, atividades artísticas, idiomas, certos gostos e hábitos. Por isso, os gregos beneficiaram-se
dessas trocas, aprendendo e comunicando-se com muitos outros povos, como os sumérios, os assírios, os egípcios,
Estado grego como existe hoje, com um presidente eleito ou um rei e um território bem definido onde as decisões
desse Estado seriam soberanas, isto é, inquestionáveis. Com o passar dos séculos, surgiram várias cidades indepen-
dentes, com suas próprias leis, sua moeda, suas práticas culturais. As duas cidades mais conhecidas eram Esparta e
Atenas. A forma independente dessas cidades levou os historiadores a denominá-las de cidades-estado, pois, elas
tinham a dimensão territorial de uma cidade, mas a organização política semelhante à de um estado.
Os gregos habitavam essas cidades-estado e identificavam-se como seus cidadãos, pois eram responsáveis
pela condução das questões públicas, isto é, pela política da cidade. Assim, um cidadão de Atenas reconhecia-se
como ateniense, enquanto um morador de Esparta era visto e via-se como espartano e assim por diante.
Embora tivessem uma forte identidade local, os povos dessa região tinham algo importante em comum: a
mesma origem histórica e o mesmo idioma. Também compartilhavam fundamentos religiosos muito semelhantes,
inseridos em uma religião politeísta, isto é, que cultuavam vários deuses. Além disso, o desenvolvimento comercial
unificou os interesses de várias cidades e garantiu aos gregos o controle de rotas marítimas do Mar Mediterrâneo
18
Por volta do século VI a. C., o crescimento do comércio e da população grega havia impulsionado os gregos a
emigrarem para diversas regiões, fundando colônias. Essas colônias eram povoações gregas em territórios distantes
da península grega, por exemplo, na Ásia Menor. Desse modo, o contato com outros povos e impérios também se
A partir do século VII, a data do nascimento de Jesus Cristo começou a se difundir como o início da
nossa época, substituindo a data da fundação de Roma (o mais importante império da Europa antiga).
Então, quando dizemos que estamos no ano 2012, significa que se passaram 2.012 anos desde o nas-
cimento de Cristo. Já a marcação dos séculos é usada desde o tempo do Império Romano e manteve a
mesma forma que utiliza os numerais romanos, como mostra a tabela a seguir:
A partir dela, os outros números são constituídos, como mostra essa tabela:
Esta tabela mostra como a indicação dos séculos deve ser interpretada:
Século Significado
II d. C. “século 2 depois de Cristo”, entre o ano 101 e 200.
IX a. C. “Século 9 antes de Cristo”, isto é, entre o ano 801 e 900.
XX “Século 20”, isto é, entre o ano 1901 e 2000. Como não há “a. C.” nem “d. C.”, é para
supor que se trata de “depois de Cristo”.
Para indicar os anos anteriores ao nascimento de Cristo, utilizamos a sigla a. C. (antes de Cristo) e os
anos posteriores ao seu nascimento a sigla d. C. (depois de Cristo) que raramente é citada. O ano do
nascimento é denominada 1 d. C. , isto é, “ano um depois de Cristo”, e o ano anterior ao nascimento,
como 1 a. C., ou seja, “ano um antes de Cristo”.
Assim, quando pretendemos citar uma data anterior ao nascimento de Cristo, precisamos contar o
tempo “de trás para frente”. Por isso, um acontecimento ocorrido no século X a. C., por exemplo, no ano
1154 a. C. é anterior a um evento do século V, por exemplo, em 632 a. C.
A linha a seguir é uma demonstração desse calendário. Ela pode ajudá-lo a situar os acontecimentos
citados no texto sobre a formação do povo grego.
No século seguinte, V a. C., ocorreu um conflito de grandes proporções entre os gregos e o império persa.
Esse conflito ficou conhecido como Guerras Médicas, pois os persas também eram chamados de medo-persas.
Para se defender, as cidades-estado gregas unificaram-se na Liga de Delos, uma confederação militar, liderada por
Atenas. As Guerras Médicas duraram cerca de cinquenta anos, com períodos de tréguas e novas batalhas, até a
Essas guerras contribuíram decisivamente para fortalecer a identidade grega, pois a presença de um inimigo
comum e os diversos confrontos militares criaram condições favoráveis à preservação da cultura comum. No início
dos conflitos, algumas colônias gregas foram derrotadas e submetidas ao imperador persa, mas os cidadãos das
cidades-estado compreenderam que teriam o mesmo destino e que seriam destruídos porque eram gregos também.
20
Aos poucos, a reflexão sobre a identidade grega ganhou contornos mais nítidos, através dos textos dos histo-
riadores e dos poetas populares que faziam versos contando as façanhas militares dos gregos. Até hoje sobreviveram
diversas narrativas sobre as Guerras Médicas, adaptadas para o cinema e para a literatura ou incorporadas à nossa
cultura. Por exemplo, uma das mais famosas competições esportivas chamamos de “maratona”, trata-se de uma cor-
rida de 42 Km. O nome é uma homenagem à cidade de Maratona e a extensão refere-se à distância entre Maratona
e Atenas percorrida pelo soldado Filípides, durante a primeira Guerra Médica, em 490 a. C. O soldado foi mandado a
Atenas e depois a outras cidades, para pedir reforços para enfrentar o exército persa.
Outro exemplo de narrativa relacionada às Guerras Médicas foi adaptado para o cinema pelo filme “os 300 de
Esparta” que narra a batalha das Termópilas (nome do desfiladeiro onde ocorreram os confrontos). Nessa batalha, o
pequeno exército do rei espartano Leônidas enfrenta o poderoso exército persa, do rei Xerxes. O filme não é uma re-
constituição da batalha, mas uma criação livre, baseada na história em quadrinhos de Frank Miller. Mesmo assim, ele
narra um acontecimento importante para o destino dos gregos. O exército persa venceu a batalha, mas foi duramente
atingido. Além disso, a resistência do pequeno grupo de trezentos espartanos tornou-se uma lenda e motivou outras
cidades-estado a organizarem seus exércitos e juntarem-se à confederação que derrotou os persas anos depois.
A identidade grega foi, portanto, resultado de um longo processo histórico onde dois elementos foram muito
importantes. Em primeiro lugar, certa unidade cultural preservada por vários séculos, especialmente, a permanência
do mesmo idioma. Em segundo lugar, a presença de conflitos militares de longa duração contra impérios que viam
como “gregos” todos os que habitavam aquela região, e pretendiam submetê-los pela força das armas.
E a identidade brasileira depende de elementos? Como se forma essa noção e o sentimento de “ser brasilei-
ro”? Não se nasce com esse sentimento, mas bastam alguns anos para que se reconheça e se valorize a condição de
“brasileiro”. Seria apenas porque falamos a mesma língua? Mas, os portugueses também falam Português e nem por
isso se sentem brasileiros. Será então que somos assim porque nascemos no mesmo território? Mas os indígenas que
nasceram no território brasileiro nem sempre compartilham conosco a experiência de ser brasileiro.
te questão:
identidade?
Seção 4
A construção das memórias coletivas
Na seção anterior, dissemos que a memória precisa de ação individual e coletiva, um trabalho que realizamos
sobre o passado, recordando e recriando significados que nos ajudam a viver e a nos relacionarmos.
A memória coletiva de grandes comunidades (uma religião, uma categoria profissional, um time de futebol)
também é uma produção de ideias e atos que se realiza sobre o passado. Mas, nesse caso, não é apenas um indivíduo
ou grupo de pessoas conhecidas que interpreta o passado, mas instituições sociais que reconstroem a história e pro-
Tais instituições podem ser as igrejas, os sindicatos, as assembleias ou os clubes, por exemplo. Elas utilizam
várias estratégias para difundir significados sobre o passado e garantir que certa memória seja preservada. Por isso,
dizemos que as instituições produzem a memória e contribuem para que as pessoas participem destas identidades
coletivas.
Há várias formas de construir e difundir a memória coletiva, através de livros, filmes, imagens, depoimentos
pessoais, canções, hinos, símbolos, entre outros. Cada instituição encontra também cerimônias próprias para reforçar
esses vínculos. Por exemplo, um sindicato comemora o aniversário de fundação com uma grande festa, onde se recor-
dam as lutas dos primeiros trabalhadores. Nas igrejas, os rituais são marcados pela memória dos fundadores daquela
religião.
22
Em uma cidade, as praças e ruas principais possuem nomes de personagens conhecidos da sociedade e da po-
lítica local ou nacional. Também se constroem monumentos arquitetônicos que reforçam uma determinada memória.
Esses monumentos podem ser de vários tipos: uma estátua no meio da praça, uma escultura em forma abstrata, uma
pequena placa de metal com inscrições ou até mesmo um edifício público pode ser construído para lembrar uma
1. Registre o nome de uma rua ou praça que você conheça e que se refere a um persona-
gem (não precisa ser apenas políticos conhecidos ou personagens históricos quaisquer,
A partir dessa atividade, você pode ter uma ideia de como a memória coletiva é produzida. Alguns nomes
lembram acontecimentos e personagens conhecidos e glorificados pela História do país, como “15 de novembro”,
“D. Pedro II” etc., outros nomes valorizam os políticos locais, mas há ainda espaço para a memória do homem comum,
um trabalhador falecido de modo trágico, uma professora lembrada com carinho etc.
Seção 5
A construção da identidade nacional
“Brasileiro é assim, amigo de todo mundo, acolhedor, mas quer levar a vida sem esforço e não gosta de trabalho”.
“Este país não vai pra frente porque fomos colonizados pelos portugueses. Se a Inglaterra nos tivesse coloniza-
do, aí seria diferente, como nos Estados Unidos que é um país rico e poderoso”.
Essas afirmações ajudam-nos a explicar a imagem que temos de nós, quem somos e a entender como nos
formamos como povo e como compatriotas. A condição de brasileiro também nos ajuda a interpretar como vivem e
quem são os “não brasileiros”. Com efeito, ouvimos ou repetimos por aí:
Mas será que essas noções podem mesmo explicar nossa condição ou as condições de vida dos outros povos?
Será que só no Brasil os políticos corruptos não vão para a cadeia? Será que não gostamos de trabalho ou não gosta-
mos de salários baixos e exploração? Será que as misérias do país são fruto apenas da colonização portuguesa? Enfim,
será que cada povo ou nação pode ser identificado por características tão reduzidas assim?
Com certeza, os milhões de brasileiros, em meio à vastidão do nosso território e nossa diversidade cultural,
não poderiam ser definidos de forma tão simplificada. A própria ideia de que somos brasileiros e de que devemos nos
sentir unidos e solidários foi construída ao longo de várias décadas e é constantemente reforçada e transformada.
24
Na História do Brasil, quem teve maiores condições de definir essa identidade foram os grupos sociais mais
ricos e que tiveram sob seu controle o Estado e os meios de comunicação social. Ao longo da nossa história, os setores
da elite procuraram construir uma memória que parecesse comum a todos os brasileiros.
Há, portanto, uma diferença entre as memórias e identidades coletivas e a memória e identidade na-
cional. As memórias coletivas são múltiplas, diversas e convivem com a diversidade, enquanto a me-
mória nacional tende a ser uma só, unificada.
Isto ocorre porque os grupos e classes sociais que controlam o Estado procuram transformar as suas memórias
na memória do país, por exemplo, por meio da escola e, principalmente, do ensino de História. No entanto, outros
grupos e classes também lutam para garantir sua presença como parte da memória nacional. Assim, há uma tensão,
Vejamos como este tema pode ser observado pelos feriados nacionais. Eles são definidos pela legislação, apro-
vados no Congresso Nacional, pelos deputados e senadores. Por que e para que uma determinada data é transfor-
mada em feriado? No Brasil, temos feriados cívicos, isto é, ligados a acontecimentos públicos, de caráter político, e fe-
riados religiosos. Em cada feriado, além de aproveitarmos para descansar, sempre nos lembramos, de alguma forma,
do motivo que deu origem ao feriado. O dia 1º de maio sabemos que é dia do Trabalhador; o Natal, o nascimento de
podemos fazer uma análise da memória nacional. Assim, pode-se perceber de que modo a memória reflete sobre as
tensões que envolvem a construção dessa memória e os interesses dos vários grupos sociais.
A foto anterior é da Praça Tiradentes, localizada na região central da cidade do Rio de Janeiro. A praça tem o
nome de um personagem considerado um dos heróis da História do Brasil, Tiradentes, um dos líderes do fracassado
A praça tem em seu centro uma estátua de D. Pedro I, líder do movimento que levou a nossa independência
em 1822, nosso primeiro imperador. A princípio, associamos os dois personagens ao mesmo interesse pela nação bra-
sileira, afinal, Tiradentes lutou pela independência e D. Pedro I proclamou-a. No entanto, a história é um pouco mais
complicada. No final do século XVIII, Tiradentes foi preso, julgado e condenado à morte pelo crime de traição à Coroa
portuguesa. Junto com outros moradores da região das Minas Gerais, ele arquitetou uma rebelião que separaria o
território brasileiro do domínio português. Portanto, levou à frente a ideia de que havia uma identidade brasileira,
diferente da identidade portuguesa, com interesses próprios e, em certo sentido, opostos aos interesses portugueses.
26
Tiradentes foi condenado à forca e ao esquartejamento. A sua morte deveria representar uma memória da ver-
gonha pela traição cometida e deveria também servir de exemplo para que nunca mais outros súditos da Coroa Por-
tuguesa se aventurassem a tamanho disparate. O seu enforcamento foi no Rio de Janeiro, então, capital do vice-reino,
justamente na praça Tiradentes. O enforcamento foi encenado como um ato político, Tiradentes foi conduzido pelas
ruas, em um longo trecho do centro da cidade, pois deveria ser visto pelo maior número possível de pessoas.
Depois, os membros do corpo de Tiradentes foram espalhados pelos poucos caminhos que levavam à região
das Minas. Isso não foi feito por crueldade, nem para provocar repugnância e nojo nas pessoas que passassem pelo
caminho. Foi uma decisão do Estado, pois a Coroa portuguesa percebeu a importância em demonstrar a todos que
qualquer gesto de traição seria punido com vigor. Enquanto permanecessem os restos mortais de Tiradentes, as pes-
soas se lembrariam do crime. Portanto, ele não morreu como herói e não permaneceu na memória dos que viveram
A rainha que condenou Tiradentes chamava-se D. Maria I. Ela era avó de um jovem príncipe, D. Pedro I, que,
praticamente 40 anos depois da morte do inconfidente, proclamou a independência em 1822. Como veremos na uni-
dade seguinte, no início do século XIX, a situação do Brasil e de Portugal havia se transformado bastante. Além disso,
D. Pedro I separou politicamente os dois territórios, mas manteve a coroa na cabeça. Foi o primeiro imperador brasi-
leiro, depois tornou-se imperador em Portugal, entregando o governo do Brasil a seus fieis aliados e a seu pequeno
Portanto, Tiradentes e D. Pedro I defenderam posições políticas opostas e foram protagonistas de ações bas-
tante distintas. Mas, quando se decide colocá-los lado a lado, a memória que se pretende produzir sobre eles é uma
memória da conciliação nacional. A Praça Tiradentes com a estátua do imperador ao centro expressa uma ideia de
memória, marca personagens ou acontecimentos que se harmonizam na passagem do tempo, como se ambos tives-
Essa fusão entre personagens que lutaram em campos políticos opostos foi fabricada no início da República,
a partir de 1889. Segundo as pesquisas do historiador José Murilo de Carvalho, o mito de Tiradentes foi construído
no início do Estado republicano. O novo regime havia derrubado o imperador, D. Pedro II, e precisava construir sua
própria memória histórica, produzir narrativas, personagens e símbolos que se identificassem com a luta republicana.
Assim, Tiradentes foi “descoberto” e retirado da condição de traidor e passou para o papel de herói e mártir,
cuja vida foi consagrada a lutar pela liberdade e pela República. Pinturas e narrativas da sua vida foram produzidas na
época. Até hoje é comum encontrarmos, em livros didáticos e em documentários de televisão, uma imagem de Tira-
dentes que o assemelha às imagens de Jesus Cristo, com cabelos e barbas longos, a túnica branca como vestimenta,
ninguém produziu seu retrato, nem há descrições escritas de suas características físicas. Essa imagem foi, portanto,
As datas revelam um esforço de preservação e manutenção das memórias coletivas que disputam entre si
para ampliar sua influência sobre a sociedade. O Natal, por exemplo, é uma festividade importante no Brasil, porque
a maioria das pessoas que vivem aqui é de origem cristã. Nos países muçulmanos ou de tradição judaica, não existe
Podemos pensar ainda em uma situação mais evidente dessas disputas sobre a memória. Tradicionalmente, o
fim da escravidão, no Brasil, é lembrado pelo dia 13 de maio, data na qual a princesa Isabel assinou a famosa Lei Áu-
rea, em 1888, declarando livres todos os escravos. Mas os movimentos sociais de combate ao racismo e afirmação da
população negra defendem que a data fundamental é o dia 20 de novembro, dia em que Zumbi, líder do Quilombo
A disputa em torno das duas datas tem motivos muito sérios. Na primeira data, a memória que fica registrada
é a do ato da princesa que concedeu a liberdade aos escravos; na segunda data, permanece a memória do mais im-
portante e conhecido líder negro que combateu a escravidão. São leituras opostas sobre o passado que revelam as
Durante a maior parte do século XX, prevaleceu a memória do dia 13 de maio como marco da libertação dos
escravos. Na história ensinada nas escolas, o ato da princesa era narrado como um gesto de sabedoria e benevolência
da família real e, portanto, do Estado brasileiro. As narrativas em torno da abolição falavam que houve “dias de festejo”
e de comemorações em diversas cidades. A princesa foi batizada de “A Redentora” e sua imagem teria sido cultuada
No entanto, essa memória histórica foi colocada em xeque desde o surgimento do Movimento Negro Unifica-
do (MNU), em 1978, e do fortalecimento do debate em torno do racismo e da discriminação sofrida pela população
negra no Brasil. O MNU e outros movimentos atuaram em várias frentes: denunciaram a desigualdade no tratamento
dado a negros e brancos, fizeram pesquisas sobre a permanência de práticas racistas no Brasil atual e criticaram dura-
A data de 20 de novembro foi transformada no Dia da Consciência Negra e, desde o final da década de 1970,
passou a reunir atividades políticas e culturais em todo o país. Em 2003, uma lei federal incluiu a data no calendário
28
Assim, foi a atuação do movimento negro e de intelectuais ligados ao tema do racismo que fortaleceram a me-
mória coletiva que havia sido silenciada da memória nacional. Uma data não é capaz de mudar a história de um país,
mas sua presença simbólica transforma nossa reflexão sobre o que pensamos e sabemos da história.
Nesta unidade, refletimos sobre a memória como um permanente trabalho para dar significados às nossas
experiências cotidianas. Com base nessa reflexão, discutimos como a memória de cada um (a memória individual)
relaciona-se com as memórias da comunidade e as memórias da sociedade brasileira, e procuramos entender por que
Discutimos também como a memória coletiva é fruto de diversas contribuições e vimos como ela constrói
identidades coletivas. Finalmente, começamos a analisar de que modo são produzidas as memórias coletivas e a me-
mória nacional. Na unidade seguinte, vamos entender como a história da formação da sociedade brasileira tem sido
vés de uma lei assinada pela Princesa Isabel, durante uma viagem de Dom Pedro II ao
Rio de Janeiro, capital do Império. O movimento negro, então, resolveu abolir essa data e
6
comemorar a negritude no dia 20 de novembro, denominado Dia da Consciência Negra.
Razão mais que justa, pois, de fato o 13 de maio foi uma data que ocorreu de “cima para
baixo”, sem a participação dos principais interessados no tema, apesar de haver no Brasil
um movimento abolicionista bem forte naquele período, principalmente nas cidades mais
Fonte: http://sinaisdahistoria.blogspot.com/2010/05/abolicao-da-escravatura-13-de-
-maio.html (acesso em 20 de março de 2011)
a. Tendo em vista a leitura do texto, em sua opinião que data deveria ser comemo-
Resumo
- A memória, seja individual ou coletiva, tem relação direta com a identidade. Como vimos, um indivíduo que
perdesse toda sua memória, perderia também, por consequência, sua identidade.
- A memória possibilita-nos acumular informações que nos serão úteis, permitindo dar respostas mais satisfa-
- A memória coletiva transcende as vivências pessoais. Por exemplo: um cristão identifica-se com a trajetória
realizada por outros cristãos, isto é, com as vivências de outros indivíduos pertencentes a essa coletividade.
- As instituições sociais interpretam o seu passado com o intuito de dar sentido às experiências do presente.
- Nomear ruas e praças com personagens históricos é uma forma de lhes prestar homenagem, além de reforçar
- Os feriados expressam os interesses de determinados grupos sociais e, em função disso, são muitas vezes
alvos de disputa.
30
Veja ainda
Se você tem interesse em ampliar seus conhecimentos sobre memória e identidade, damos as seguintes su-
gestões:
Filme
Narradores de Javé
Brasil, 2003.
A pequena cidade de Javé será inundada pela construção de uma represa. A única chance dos moradores é
provar que a cidade possui um “patrimônio histórico” que impeça a inundação. O carteiro Antonio Biá é o único
que sabe escrever, por isto, é escolhido para recolher os relatos dos moradores e fazer um livro documentando
a importância do local. O filme é uma comédia sobre as dificuldades enfrentadas quando se pretende defender
um patrimônio histórico que tem importância local, mas não é relevante para o Estado.
Livro
O livro narra a infância do autor, o alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), de um modo ficcional, isto é, mis-
Site
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional é um órgão responsável pela definição dos lugares,
objetos e práticas culturais que serão preservados como “patrimônio”. No site, você pode acessar muitas infor-
mações sobre o patrimônio histórico brasileiro. Se você clicar em “coletânea virtual” no alto da página e acessar
“Dossiê do Patrimônio Imaterial” poderá conhecer as várias práticas populares que foram registradas como
www.iphan.gov.br
Livros
BOSI, Eclea. Memória e Sociedade. Lembrança de Velhos. São Paulo, T.A.Editor, 1979.
COOK, Michael. Uma breve história do mundo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar editor, 2005.
Imagens
• http://www.sxc.hu/photo/987763
• http://www.sxc.hu/photo/734189
• http://www.sxc.hu/photo/1152328
• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Feijoada_2008.JPG
• http://www.dominiopublico.gov.br/download/imagem/jn005231.jpg
• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Maracan%C3%A3_024.jpg
• http://www.flickr.com/photos/ecpelotas/2968902204/
• http://www.guiageo-grecia.com/mapas.htm
32
• http://www.google.com.br/imgres?q=mapa+da+cidades-Estado+grécia+antiga&hl=pt-BR&sa=X&biw=7
99&bih=946&tbm=isch&prmd=imvns&tbnid=GlzsgwJxjsN7bM:&imgrefurl=http://construindohistoriahoje.
blogspot.com/2012/02/o-governo-nas-cidades-estados-gregas.html&docid=CKRiD63hNkjwAM&imgurl=ht
tp://3.bp.blogspot.com/-1Y7PB-QOtCU/TzMTMbqUh3I/AAAAAAAAENs/-JPArN8YOgs/s1600/grecia-antiga10.
gif&w=342&h=292&ei=0x_6T4ODAoH89QSY4fjxBg&zoom=1
• http://4.bp.blogspot.com/-JMp3QM0bfs4/TXqMtvzhwJI/AAAAAAAAAz8/zqT22wdHmd4/s1600/
linha%2Bdo%2Btempo%255B1%255D.JPG http://www.google.com.br/imgres?q=linha+do+tempo+história+
nascimento+de+cristo&um=1&hl=pt-BR&tbm=isch&tbnid=yIQ0qwF1UuCuuM:&imgrefurl=http://blig.ig.com.
br/portalhistoria/2009/01/19/introducao-a-historia/&docid=2jNhSvDnNyZ9uM&imgurl=http://blig.ig.com.br/
portalhistoria/files/2009/02/nascimento-de-cristo.jpg&w=2304&h=1087&ei=yCn6T4DWDYb-8ATsjIHpBg&zoo
m=1&iact=hc&vpx=71&vpy=465&dur=1012&hovh=154&hovw=327&tx=173&ty=70&sig=1139351739382042
97203&page=1&tbnh=89&tbnw=188&start=0&ndsp=18&ved=1t:429,r:7,s:0,i:95&biw=799&bih=946
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:1%C2%BA_Maio_1980_Porto_by_Henrique_Matos.jpg
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:PracaTiradentesRJ.JPG
• http://www.sxc.hu/photo/517386
Esta atividade de certa forma foi uma “pegadinha”. O poema de Casimiro de Abreu,
de qual reproduzimos apenas uma parte, traz em sua totalidade lembranças positivas so-
bre o passado. Neste caso, qualquer trecho que você tenha escolhido está correto.
fato histórico nefasto foi o Holocausto, isto é, o assassinato de milhões de pessoas na Se-
Atividade 2
lia, numa pequena fazenda. Lá ele aprendeu a plantar, capinar e manejar os bois
b. Este item exige uma resposta bem pessoal. O importante é que você se recorde
sua vida. Você estava sozinho, quando assimilou tais conhecimentos? Caso con-
Atividade 3
organização que você escolheu, vamos apresentar aqui, como exemplo, a famosa banda
34
Como são muitos integrantes, certamente, há divergências entre uma ideia ou ou-
tra. O importante é que, enquanto uma banda, estão organizados de modo a compor e
Grande parte dos integrantes da banda conheceu-se ainda nos tempos de colégio.
Começaram fazendo shows em casas noturnas com o nome de “Titãs do lê-lê”. Era uma
banda inovadora. Sua formação inicial incluía nove integrantes, o que é bem peculiar,
tratando-se de uma banda de rock. Os fundadores da banda são Arnaldo Antunes, Branco
Mello, Marcelo Fromer, Nando Reis, Tony Belloto, Ciro Pessoa, André Jung, Paulo Miklos e
Sérgio Britto. Em 1984, eles fecharam um contrato com uma gravadora e lançaram o seu
Atividade 4
lhadas entre os seus integrantes. Além disso, é preciso que essas experiências possam ser
culturais. A memória coletiva produz uma atmosfera comum de histórias, valores e crenças,
onde cada indivíduo incorpora determinados elementos para formar sua identidade no
grupo ou na nação.
Atividade 5
Como você já deve ter percebido, as cidades são repletas de ruas e praças que ho-
gem que você escolheu; logo, neste caso, vamos dar um exemplo:
Vinicius de Moraes foi um poeta muito popular. Sua obra estende-se também à mú-
sica, literatura e teatro. Sua vida afetivo-amorosa foi muita intensa. Só para se ter uma ideia,
Vale notar que não foi por acaso que lhe prestaram homenagem, justamente em
de Moraes, fica o bar no qual ele compôs, juntamente com Tom Jobim, a música Garota
de Ipanema, que é uma das mais conhecidas e tocadas no mundo. Repare como o simples
fato de ter uma rua com o seu nome ajuda a resgatar memórias sobre ele e o seu tempo.
Atividade 6
a. O importante aqui, seja qual for a sua posição, é que você justifique a escolha por
uma data ou outra. Sendo assim, caso tenha optado pelo dia 13 de maio, você pro-
vavelmente alegou que a assinatura da Princesa Isabel foi o fato histórico mais re-
simbólico: afinal, foi a partir dele que a escravatura foi formalmente abolida.
mentou que o Dia da Consciência Negra deveria ser lembrado muito mais pela
nável. O Brasil era habitado pelos índios nativos quando os portugueses chega-
trica, isto é, do europeu, razão pela qual, segundo esse ponto de vista, essa data
Outros feriados também podem ser alvos de disputa. Por exemplo, o Na-
tal, que é um feriado cristão, pode ser questionado por quem não é religioso ou
por quem adota outra religião, até porque, vale lembrar, o Brasil é um país laico,
36
O que perguntam por aí?
É difícil encontrar um texto sobre a Proclamação da República no Brasil que não cite a afirmação de Aristides
Lobo, no Diário Popular de São Paulo, de que “o povo assistiu àquilo bestializado”. Essa versão foi relida pelos enal-
tecedores da Revolução de 1930, que não descuidaram da forma republicana, mas realçaram a exclusão social, o
militarismo e o estrangeirismo da fórmula implantada em 1989. Isto porque o Brasil brasileiro teria nascido em 1930.
Mello M. T. C. A república consentida: cultura democrática e científica no final do Império. Rio de Janeiro:
FGV, 2007 (adaptado)
O texto defende que a consolidação de uma determinada memória sobre a Proclamação da República no Brasil
teve, na Revolução de 1930, um dos seus momentos mais importantes. Os defensores da Revolução de 1930 procura-
ram construir uma visão negativa para os eventos de 1889, porque esta era uma maneira de
Questão 1
Observamos na letra da música a citação saudosa de nomes de avenidas importantes da cidade de São Paulo.
Nomes que fazem parte da memória coletiva de seus moradores. Porém, a relação do autor com essas avenidas tem
ligação com as suas próprias memórias. Analise, destacando trechos do texto, a diferença entre a memória do autor
e a memória coletiva.
a. o resultado de diversas experiências que envolvem os indivíduos, um fato influenciado pelo que a so-
b. uma experiência biológica, o que significa que ela não se relaciona com as identidades individuais e
c. uma lembrança, ou seja, ideia de uma coisa ou de determinada pessoa, que é conservada em nosso
cérebro, mas que tem importância individual.
d. uma faculdade psíquica através da qual se consegue reter e (re)lembrar ações que vão ao encontro das
necessidades presentes.
Questão 3
Diferentes civilizações elaboraram ao longo da História formas distintas de organizar o Tempo. Esse processo
de elaboração de tempos cronológicos é acompanhado da formação cultural e histórica de cada uma dessas civili-
zações, envolvendo também os jogos da Memória. No mundo ocidental, o nosso tempo cronológico é demarcado
a. pela Hégira, fuga do profeta Maomé de Meca para Medina, evento fundador do calendário Islâmico.
b. pela data de fundação de Roma, futura capital do Império onde pregaram os apóstolos, como Pedro.
c. pela instituição do Império Romano no Ocidente, marco da ruptura com o Império Romano do Oriente.
d. pela forte presença do Cristianismo, sendo o nascimento de Jesus o marco de nosso calendário, o ano 1.
40
Questão 4
a. judeu.
b. francês.
c. inglês.
d. italiano.
Pesquisa de Campo
Nas cidades, caro aluno, há numerosos espaços de Memória. Seus moradores ou governantes costumam trans-
pessoas serve para tornar presente, sempre e uma vez mais, um símbolo que irá representar a comunidade. As vontades
de memória podem partir de critérios os mais diversos. Veja este, que encontramos na cidade de Porto Seguro, na Bahia.
tou em 1500 na localidade que hoje damos o nome de Porto Seguro, sob o comando de ninguém menos do que
Perceba, portanto, que Porto Seguro é uma cidade que se apresenta como marco do “Descobrimento” do Bra-
sil. Sua gente decidiu monumentalizar esse evento e ser reconhecida por ele em todo o nosso país.
E a sua cidade, caro aluno: quais monumentos ela exibe como vontades de memória? Faça um passeio por
ruas e praças. Tome nota do que viu e do que observou de suas conversas. A partir dessas informações, escreva um
42
Gabarito
Questão 1
A memória produz significados para nossa história pessoal e nos ajuda na relação com o mundo, com
outras pessoas e com nossas experiências anteriores. Ela forma a nossa identidade pessoal e uma forma
de compreensão de mundo. Observamos isso na relação do autor com o passado, mais especificamen-
te com o momento em que Caetano visita algumas Avenidas de São Paulo, quando diz: “Alguma coisa
acontece no meu coração”. Já a memória coletiva é o conjunto de significações, construído por um grupo
social a partir de vivências comuns, isto é, a partir das experiências compartilhadas. Apesar da distinção
dos conceitos, o aluno deverá observar que a memória individual é fortemente influenciada pelas expe-
riências coletivas. E vice-versa. Ou seja, em uma resposta completa, deverá perceber que somos sujeitos
históricos, que afetam e são afetados pelos diversos movimentos do meio em que vivemos, dentre eles
a memória.
Questão 2
A B C D
Questão 3
A B C D
Questão 4
A B C D
Possibilidade de resposta: Livre. O aluno deverá reconhecer a importância da metodologia de pesquisa de cam-
po para a coleta de informações. Poderá escolher monumentos diversos, como estátuas, prédios, patrimônio
imaterial (danças, festejos locais). É importante que o aluno identifique os interesses políticos e sociais por trás
44