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ORGANIZAÇÃO:
MASATO KOBIYAMA
FERNANDO GRISON
ALINE DE ALMEIDA MOTA
_______________________________________________________________________________________
Kobiyama, Masato
Inclui bibliografia
Impresso no Brasil
2011
2
AUTORES
Aline de Almeida Mota (Mestranda, Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental
(PPGEA) - UFSC, aline.mota86@hotmail.com)
Antônio Augusto Alves Pereira (Professor, Departamento de Engenharia Rural (ENR) - UFSC,
aaap@cca.ufsc.br)
Cláudia Weber Corseuil (Professora, Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental - UFPEL,
cwcorseuil@hotmail.com)
Fernando Grison (Doutorando, Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental (PPGEA) -
UFSC, fernando@ens.ufsc.br)
Gabriela Pacheco Corrêa (Engenheira Sanitarista e Ambiental - UFSC,
gabrielapaco@yahoo.com.br)
Henrique Lucini Rocha (Mestrando, Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental
(PPGEA) - UFSC, henrique.lucini@gmail.com)
Joana "ery Giglio (Mestranda, Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental (PPGEA) -
UFSC, Joana_n_g@yahoo.com.br)
Masato Kobiyama (Professor, Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (ENS) - UFSC,
kobiyama@ens.ufsc.br)
"adine Lory Bortolotto (Acadêmica do Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental
- UFSC, nadi@ens.ufsc.br)
Patricia Kazue Uda (Mestranda, Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental (PPGEA) -
UFSC, pati_kz@yahoo.com.br)
Pedro Guilherme de Lara (Acadêmico do Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e
Ambiental - UFSC, pedroguilherme.lara@gmail.com)
Pedro Luiz Borges Chaffe (Doutorando, Urban and Environmental Engineering School, Disaster
Prevention Research Institute, Kyoto University, plbchaffe@yahoo.com.br)
Péricles Alves Medeiros (Professor, Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (ENS) -
UFSC, pericles@ens.ufsc.br)
3
CRO
OGRAMA
Encerramento
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SUMÁRIO
AUTORES ..................................................................................................................................... 3
SUMÁRIO ..................................................................................................................................... 5
PREFÁCIO ................................................................................................................................... 6
1. I
TRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7
2. CICLO HIDROLÓGICO E PROCESSOS HIDROLÓGICOS ......................................... 12
3. MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS ................................................................................ 15
4. PRECIPITAÇÃO ................................................................................................................. 25
5. I
TERCEPTAÇÃO ............................................................................................................. 46
6. I
FILTRAÇÃO ................................................................................................................... 57
7. PERCOLAÇÃO ................................................................................................................... 72
8. CO
CEITOS BÁSICOS DE HIDRÁULICA DE CA
AIS ............................................... 97
9. MEDIÇÃO E ESTIMATIVA DE VAZÃO ....................................................................... 119
10. EVAPOTRA
SPIRAÇÃO ................................................................................................ 134
11. SEDIME
TOS EM RIOS ................................................................................................. 159
12. GERAÇÃO DE VAZÃO EM RIOS .................................................................................. 174
13. I
STALAÇÃO E MA
UTE
ÇÃO DE ESTAÇÕES HIDROMETEOROLÓGICAS .. 200
14. GEOPROCESSAME
TO ................................................................................................. 212
15. CO
CLUSÕES .................................................................................................................. 242
5
PREFÁCIO
A presente apostila é uma versão modificada das apostilas que foram utilizadas como
material didático para a realização do “Curso de capacitação em hidrologia e hidrometria para
conservação de mananciais” no período de 09 a 13 de fevereiro de 2009, e do “II Curso de
capacitação em hidrologia e hidrometria para conservação de mananciais” no período de 29 de
junho a 03 de julho de 2009, no campus da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Essa
versão modificada será utilizada para “III Curso de capacitação em hidrologia e hidrometria para
conservação de mananciais” no período de 21 a 25 de fevereiro de 2011, no mesmo local. A
realização do primeiro e segundo curso fez parte do projeto cujo título é o mesmo do curso,
financiado pelo Edital MCT/CNPq/ CT-HIDRO – nº 037/2006 (Seleção Pública de Propostas no
Âmbito da Ação Vertical Capacitação em Hidrometria). O objetivo destes cursos é tornar técnicos
da área de recursos hídricos, capazes de monitorar, calcular e analisar os principais processos
hidrológicos que ocorrem em microbacias hidrográficas. A realização do III Curso é uma ação
voluntária do Laboratório de Hidrologia (LabHidro) e Laboratório de Hidráulica (LabHidra) do
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambeintal (ENS) da UFSC.
A maioria dos autores da apostila pertence ao Laboratório de Hidrologia (LabHidro) do
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – ENS da UFSC. Portanto, encontram-se
naturalmente nesta apostila vários resultados do trabalho desse laboratório. Os integrantes do
LabHidro estão abertos a críticas, e a quaisquer possíveis questionamentos. Para isso, as
informações para contato estão disponíveis abaixo e também no site do LabHidro
www.labhidro.ufsc.br. Nesse site pode-se encontrar mais os respectivos estudos.
Masato Kobiyama
Contato:
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1. I
TRODUÇÃO
Masato Kobiyama
Pedro Luiz Borges Chaffe
Aline de Almeida Mota
1.1 Hidrologia
A hidrologia é a ciência (logia) da água (hidro). Segundo UNESCO (1964), “Hydrology is
the science which deals with the waters of the earth, their occurrence, circulation and distribution on
the planet, their physical and chemical properties and their interactions with the physical and
biological environment, including their responses to human activity. Hydrology is a field which
covers the entire history of the cycle of water on the earth”. Então, internacionalmente a hidrologia
é definida como a ciência que lida com a água da Terra, sua ocorrência, circulação e distribuição no
planeta, suas propriedades físicas e químicas e sua interação com o ambiente físico e biológico,
incluindo suas respostas para a atividade humana. A hidrologia é o campo que cobre a inteira
história do ciclo da água na terra.
A hidrologia trata dos processos físicos relacionados à água que ocorrem no meio natural. O
ser humano, por sua vez, cria tecnologias de modo a adequar sua ocupação no ambiente, por isso a
quantificação da disponibilidade hídrica é utilizada para o planejamento e o gerenciamento dos
recursos hídricos. Aprimorando e possibilitando assim, atividades como, abastecimento de água,
agricultura irrigada e a dessedentação de animais, aqüicultura, navegação, geração de energia
elétrica, recreação e lazer e preservação da fauna e flora. Essas atividades tornaram-se vitais para a
humanidade e, portanto devem ser controladas de maneira sustentável.
O planejamento dos recursos hídricos é uma atividade que visa adequar o uso, controlar e
proteger a água às demandas sociais e/ou governamentais, fornecendo subsídios para o
gerenciamento dos mesmos (LANNA, 2004). A função da hidrologia nesse processo é auxiliar na
obtenção de informações básicas e fundamentais como na coleta e análise de dados hidrológicos. A
Figura 1.1 mostra essa função no contexto do gerenciamento dos recursos hídricos. Assim, nota-se
que a hidrologia é uma ciência fundamental no gerenciamento dos recursos hídricos.
Existem dois tipos de atividades na hidrologia: monitoramento e modelagem. A observação
ou medição contínua de processos chama-se monitoramento. A diferença entre o monitoramento e o
diagnóstico é que o primeiro possui a atividade contínua e o segundo normalmente não. Na
natureza, os experimentos são realizados em tempo real e em escala real, e o monitoramento neste
caso busca obter e interpretar dados. Tratando-se de processos de grande complexidade, como os
encontrados em bacias hidrográficas, podem existir sérias dificuldades em criar um modelo. Neste
caso, primeiro pode-se fazer o monitoramento, e os resultados obtidos possibilitarão ou auxiliarão
na modelagem.
Os fenômenos naturais são de grande complexidade e muitas vezes existe a impossibilidade
de medir e percorrer todas as suas partes e/ou etapas. Isso acaba dificultando os estudos para sua
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compreensão. Uma abordagem básica destes fenômenos, apenas para compreendê-los fisicamente e
de forma genérica, torna necessária a utilização de leis empíricas e de hipóteses, o que requer a
aplicação da modelagem. Portanto, para estudar os fenômenos, precisa-se ter modelos. O modelo é
uma apresentação do sistema (ou objeto) tanto estático quanto dinâmico. Existem dois tipos: (1)
modelo físico e (2) modelo matemático (analítico e/ou numérico). O primeiro usa umas formas
físicas, enquanto o segundo linguagens matemáticas.
Qualquer modelo é uma aproximação à realidade. Para ter melhor modelo, necessita-se
observação do sistema, ou seja, monitoramento. O modelo numérico possui várias vantagens, como:
facilidade de execução, baixo custo, rápida obtenção dos resultados, permitindo a simulação de
experimentos inviáveis na prática. Isso facilita a previsão dos fenômenos e processos naturais. O
uso deste tipo de modelo está sendo incrementado pelo desenvolvimento da técnica computacional,
permitindo sofisticações.
1.2 Hidrometria
A hidrometria é uma parte da hidrologia. Pode-se dizer que o monitoramento hidrológico é a
hidrometria feita de maneira contínua. Como a hidrometria é responsável pela coleta e fornecimento
de dados, ela pode ser considerada a base experimental da hidrologia, que é uma ciência natural e
empírica. Enquanto os modelos são uma representação da realidade, podemos considerar os dados
medidos como o mundo real. O hidrometrista deve então entender e optar por métodos apropriados
para a medição do fenômeno em questão, saber os custos e detalhamento adequados para cada
trabalho, cuidar da qualidade da medição e verificação dos dados.
Devido à hidrologia aplicada à engenharia ser dependente principalmente de dados de chuva
e vazão, foi nessa área onde houve uma maior padronização e consolidação dos métodos de
medição. Porém, sabemos que a água da chuva não cai diretamente no rio, e a circulação da mesma
no continente dá-se em diferentes processos e escalas (interceptação e escoamento subterrâneo, por
exemplo). Então o hidrometrista deve ter habilidades que envolvam não só a área de hidráulica de
canal, mas também topografia, física do solo e até mesmo agronomia. Com essas habilidades ele
pode medir processos hidrológicos que passam pelas escalas do plot e da encosta até chegar à escala
da bacia hidrográfica propriamente dita.
Um dos desafios da hidrometria é gerar dados consistentes onde a variabilidade espaço-
temporal dos processos é grande e tem-se um número limitado de aparelhos de medição. O principal
exemplo é como medir a chuva de maneira representativa em uma determinada bacia sendo que
existe uma variabilidade tridimensional do fenômeno. A medição de vazão é outra parte básica da
maioria dos estudos hidrológicos, porém o uso da curva-chave nas simulações de cheias é muito
discutível sabendo-se que a incerteza na curva-chave aumenta abruptamente na parte extrapolada.
Ainda existe muita dificuldade em verificar e confirmar dados extrapolados de curvas-chave, pois a
vazão é um fenômeno natural e que a medição em eventos extremos implica em risco de vida.
A hidrologia como ciência e como engenharia, depende dos dados e de modelos para poder
entender os processos e fazer previsões. Muitas vezes os modelos dão respostas aparentemente
coerentes mas pelos motivos errados. Portanto, a maneira mais produtiva de se trabalhar com
hidrologia é aquela em que as pessoas que trabalham com monitoramento e com modelagem
tenham um diálogo e usem suas habilidades como complemento do conhecimento do próximo. O
hidrometrista pode reconhecer e informar as mudanças e problemas ocorridos durante o
monitoramento, e.g., mudanças no local da estação, horários de medição, mudança de equipamentos
e mudanças de equipe. Esse tipo de informação é essencial para a pessoa que vai trabalhar os dados,
porém fica muitas vezes em um escritório.
9
de informações hidrológicas, além de sua natural vocação para o estudo do funcionamento dos
processos físicos, químicos e biológicos atuantes no ciclo hidrológico. Em função dessas
características, as pequenas bacias hidrográficas têm sido utilizadas com maior freqüência em
estudos de regionalização ou como bacias experimentais ou representativas (PAIVA, 2003).
O que se faz de hidrometria no Brasil hoje é relacionado a grandes rios e bacias
hidrográficas para produção de energia nas usinas hidroelétricas. Seus principais problemas são
decorrentes da qualidade de água (presença de sedimentos) que alteram a vida útil de uma barragem
e conseqüentemente da usina e da produção de energia.
Atualmente há uma carência no monitoramento de pequenas bacias hidrográficas. Essas
bacias são importantes, pois a captação de água para abastecimento público dos municípios
brasileiros é realizada nesses mananciais. A qualidade da água é um dos principais fatores para sua
possível captação nessas pequenas bacias pela verificação da carga de poluentes existente nos rios.
Outro problema que poderá ser amenizado com um maior controle hidrológico é a questão
da macrodrenagem. As pequenas bacias também são responsáveis pela macrodrenagem no
município. A preocupação se torna maior pelo fato de que a precipitação está variando cada vez
mais espacial e temporalmente, deixando os problemas mais localizados.
Uma das justificativas importantes para o monitoramento em pequenas bacias é a de que
elas podem servir como bacias-escola sendo utilizadas para educação ambiental de toda a
população. Através do monitoramento hidrológico bem detalhado nestas bacias-escola, a
conscientização da população, especialmente dos técnicos das companhias de saneamento
municipais e estaduais, serão aperfeiçoadas.
Em todo o território nacional, em nível estadual e municipal, programas para a avaliação da
qualidade da água, através de parâmetros físico-químicos e bacteriológicos já foram implantados e
muitos deles com sucesso. A Resolução 357/2005 – CONAMA, estabelece ainda, a necessidade de
avaliações toxicológicas para classificação de corpos d’água e controle de despejos de efluentes.
Este fato demonstra uma evolução na legislação brasileira a respeito do controle da qualidade de
água nos mananciais.
As avaliações qualitativas e quantitativas dos mananciais, na maioria das vezes, são
realizadas separadamente não havendo a integração de dados. Fica evidente que esta integração
daria mais subsídios para o gerenciamento adequado das bacias hidrográficas. Neste projeto
estamos propondo esta integração, formando técnicos com esta concepção.
Como a população brasileira concentra-se na região litorânea, muitos mananciais se
localizam em zonas estuarinas. As bacias hidrográficas com tais condições apresentam alguns
fenômenos peculiares no respeito de bacias localizadas longe da influencia direta do mar. No
balanço hídrico alem dos processos de evapotranspiração na bacia deve ser considerada
explicitamente a troca de água com o mar. As variações relativas entre os níveis do oceano e do
corpo lagunar promovem, alem de escoamento em um ou outro sentido, a mistura das águas de
drenagem com as do oceano.
A preocupação atual dos municípios brasileiros está voltada para a qualidade de água e seu
abastecimento público, a macrodrenagem e a educação ambiental através das bacias-escola. Estas
estão ligadas diretamente com as pequenas bacias hidrográficas municipais e, portanto é evidente
que necessitam de um monitoramento hidrológico adequado.
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1.4 Estrutura da apostila
Esta apostila é composta por 14 capítulos complementares entre si. A leitura deve ser feita
preferencialmente na ordem em que aparecem os assuntos, já que os conceitos básicos para
entendimento de hidrologia estão nos capítulos iniciais. No capítulo 2, é feita uma introdução sobre
o ciclo hidrológico e os processos hidrológicos que ocorrem nas bacias. Em seguida, no capítulo 3,
a bacia hidrográfica, que é a unidade básica para o estudo de hidrologia e conseqüentemente
hidrometria, é definida e suas características são explanadas Os processos hidrológicos como:
Precipitação, Interceptação, Infiltração, Percolação e Evapotranspiração são abordados mais
detalhadamente em separado nos capítulos 4, 5, 6, 7 e 10 respectivamente.
Para realizar hidrometria é necessário além de hidrologia, conhecimentos de hidráulica. Para
isso, o capítulo 8 trata dos aspectos teóricos na medição de vazão, bem como a formulação, o
modelo de distribuição de velocidade e outros. O assunto hidrometria é diretamente tratado nos
capítulos 9 e 13, em que obtém-se informações detalhadas sobre equipamentos e métodos de
medição dos principais parâmetros hidrológicos.
Existem atividades imprescindíveis para a sobrevivência humana, e boa parte delas está
relacionada à exploração dos mananciais. Para isso, é importante que eles estejam em boas
condições de preservação. Assim, é necessário que se entenda como funciona a produção e
transporte de sedimentos, bem como métodos para estimá-la. Estas informações são obtidas no
capítulo 11. Além disso, não se pode deixar de entender a zona ripária, ou como é mais conhecida
mata ciliar. Esta área de uma bacia tem enorme valor para preservação de mananciais. Estes
aspectos são tratados no capítulo 12. E no capítulo 14 é aborada a metodologia do
geoprocessamento, bem como suas ferramentas, que constitui de uma importante tecnologia que
pode auxiliar no planejamento ambiental.
As conclusões dessa apostila se encontram no último capítulo onde é discutido a importância
da hidrologia e dos cursos de capacitação para a preservação dos recursos hídricos.
Referências bibliográficas
KUIPER, E. Water Resources Project Economics. London: Butterworth, 1971. 447p.
LANNA, A.E. Gestão dos Recursos Hídricos. In: TUCCI, C. E. M. (Org.). Hidrologia: ciência e
aplicação. 3ª edição, Porto Alegre: Ed. da UFRGS/ ABRH/ EDUSP, 2004. p.727-768.
PAIVA, J.B.D.; PAIVA, E.M.C.D. (orgs.) Hidrologia aplicada à gestão de pequenas bacias
hidrográficas. Porto Alegre: ABRH, 2003. 628p.
UNESCO World Water Assessment Programme. 2008. Disponível em:
<http://www.unesco.org/water/iyfw2/water_use.shtml>. Acesso em: 28 de julho de 2008.
11
2. CICLO HIDROLÓGICO E PROCESSOS HIDROLÓGICOS
Masato Kobiyama
Aline de Almeida Mota
Nuvem
Precipitação
Evapotranspiração
Interceptação
Transpiração Evaporação
Infiltração
Percolação
Evaporação Evaporação
Esc. Subterrâneo
RIO Vazão total LAGO
12
A energia solar impulsiona as mudanças de estado físico da água, como a evaporação. Sendo
assim, ela é fundamental no ciclo hidrológico, principalmente nos processos de formação e
transporte de vapor na atmosfera. A gravidade e outras forças também são essenciais, exemplos
disso são a precipitação e os vários tipos de escoamento (HORNBERGER et al., 1998).
A distribuição desuniforme de energia solar na Terra, e outros fatores fazem com que o ciclo
hidrológico não ocorra de maneira uniforme em todo o globo terrestre, mas sim variável no espaço
e no tempo. Essa variabilidade temporal e espacial pode ocasionar, muitas vezes, desastres naturais
por excesso ou falta de água.
Segundo ANA (2005), o Brasil é um país privilegiado em termos de disponibilidade hídrica,
com 12% das reservas de água doce do mundo em seu território. Porém, a distribuição desuniforme
da água é notável, já que 75% da água doce concentram-se na região norte, onde vive apenas
aproximadamente 8% da população brasileira (IBGE, 2007). Apesar de os estudos comprovarem
que a quantidade de água no planeta não se alterou significativamente nos últimos anos, muitos
dizem que a água está acabando. O fato é que a água, mesmo sendo um recurso renovável e que,
portanto, não se esgota, pode se tornar imprópria para o consumo humano o que gera a
preocupação.
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Tabela 2.1. Quantidade de águas e seus tempos de circulação.
Volume Taxa Quantidade transportada Tempo de
(103 km³) (%) (103 km³/ano) circulação (ano)
Oceano 1.349.929,0 97,50 418 3229
Glacial 24.230,0 1,75 2,5 9692
Água subterrânea 10.100,0 0,73 12 841
Água do solo 25,0 0,0018 76 0,3
Lagos 219,0 0,016 38 5,7
Rios 1,2 0,00009 35 0,034 (= 13 dias)
Fauna e flora 1,2 0,00009 - -
Vapor na atmosfera 12,6 0,0009 483 0,026 (= 10 dias)
Total 1.384.518,0 100
(Fonte: KOBIYAMA et al., 2008)
Referências bibliográficas
ANA Cadernos de Recursos Hídricos: Disponibilidade e demandas de recursos hídricos no Brasil.
Brasília: ANA, 2005. 123p. CD-ROM
HORNBERGER, G.M.; RAFFENSPERGER, J.P.; WIBERG, P.L. ESHLEMAN, K.N. Elements of
Physical Hydrology. Baltimore: The Johns Hopkins Univ. Press, 1998. 302p.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Contagem da População 2007. Rio de Janeiro: 2007.
Disponível em http://www.ibge.gov.br. Acesso em 22 de janeiro de 2009.
KOBIYAMA, M.; MOTA, A.A.; CORSEUIL, C.W. Recursos hídricos e saneamento. Curitiba: Ed.
Organic Trading, 2008. 160p.
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3. MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS
Masato Kobiyama
Joana Nery Giglio
3.1 Conceitos
A bacia hidrográfica é definida como uma área na superfície terrestre, sobre a qual o
escoamento superficial em qualquer ponto converge para uma única saída, chamada exutório. A
bacia hidrográfica se estende até seu divisor, uma linha rígida imaginária que contorna a bacia. Essa
linha separa as precipitações que caem em bacias hidrográficas vizinhas, e que escoam para cada
um dos sistemas fluviais adjacentes. A Figura 3.1 indica o exutório em uma bacia hidrográfica.
611500 622000
7066500 7066500
7057100 7057100
611500 622000
Legenda
Projeção Universal Transversa de Mercator Curvas de nível
Meridiano Central: 51°WGr Fuso: 22 S Cursos de água
South American Datum 1969 Limite da bacia
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Divisor topográfico
Divisor freático Lençol freático
Rocha impermeável
Bacia A Bacia B
Figura 3.2 Corte transversal do limite entre duas bacias hidrográficas (Modificação de VILLELA e
MATTOS, 1975).
O divisor topográfico une os pontos de maior altitude que contornam a bacia e pode ser
desenhado a partir de sua rede hidrográfica e suas curvas de nível, em uma carta topográfica. O
ponto de partida é determinar o exutório da bacia escolhida, que pode ser qualquer ponto ao longo
do rio principal. A escolha do exutório deve estar de acordo com o objetivo do estudo. Para
mananciais, o exutório costuma ser o local de captação de água ou, quando existe, da barragem
construída para a captação. O limite da bacia é nada mais que uma linha contínua, que inicia e
termina no exutório, segue perpendicular às curvas de nível e não corta nenhum curso de água em
nenhum ponto além do exutório. Terminada, a linha deve englobar toda a área e os rios de interesse.
17
1 1 1 1
3 2 2 1 1 1
2 1 1 1 1 1
1 2 1 1 1 2 1 1
1 2 1 2 2
3 1 3 1
1 1 3
4 1
1 2 4 1 2 4
2 4 1 2
1 1 1 3 1 1 1 1
1 2 1 1 1 1
1 1 1 1 1 1
1 1 2
1 1 1 1
1 1
2 1 1 2 1 1
2 1
2 2 2 2
1 3 1 1 1 3 1 1
2 1
1 1 2 1 1 2
2 1 2 1
1 1
1 1
1 1
1 1
1 1
1 1
1 1
A B
Figura 3.3 Hierarquia fluvial da bacia do Rio do Bispo pelos métodos de Horton (A) e de Strahler (B)
Sabendo a ordem de uma bacia hidrográfica, pode-se estimar o número de rios que
compõem a mesma, pela lei do número de canais. A ordem de um canal aumenta de 1 quando entra
em confluência com outro de mesma ordem. A lei é válida para ambas as classificações, mas o
número total de canais é igual à soma dos canais das várias ordens de Horton e igual ao número
canais de primeira ordem de Strahler. A Tabela 3.1 quantifica os rios da Figura 3.3.
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Lω +1
Rl = (ω = 1, 2, ... , Ω - 1) (3.2)
Lω
onde: Lω é o comprimento médio dos segmentos de ordem ω; Ω é a máxima ordem; e Rl é
constante para uma bacia. Resultados empíricos de Smart (1972) mostraram uma variação da taxa
de comprimentos entre 1,5 e 3,5 para as bacias naturais.
A 3ª. Lei de Horton (Lei da declividade de canais) define a taxa de declividade de cada
segmento com a seguinte equação:
Sω
Rs = (ω = 1, 2, ... , Ω - 1) (3.3)
S ω +1
onde: S ω é a declividade média dos segmentos de ordem ω; Ω é a máxima ordem; e Rs é
constante para uma bacia.
A 4ª. Lei de Horton e Schumm (Lei da área de bacias) define a taxa de área de bacias com a
seguinte equação:
Aω +1
RA = (ω = 1, 2, ... , Ω - 1) (3.4)
Aω
onde: Aω é a área média das bacias de ordem ω; Ω é a máxima ordem; e Ra é constante
para uma bacia. Segundo Smart (1972), a taxa de área varia entre 3 e 6 para as bacias naturais.
A Figura 3.4 mostra a expressão gráfica da forma logarítmica das Leis de Horton.
∑
ω
'ω
Dr = =1
(3.10)
A
Ω
∑
ω
Lω
Dd = =1
(3.11)
A
onde: Dr é a densidade de rios em km-2; Dd é a densidade de drenagem em km-1; 'ω é o
número de segmentos de ordem ω; Lω é o comprimento dos segmentos de ordem ω; Aω é a área
das bacias de ordem ω; Ω é a máxima ordem.
A Figura 3.5 exemplifica a diferença entre densidade de drenagem e densidade de rios.
Melton (1958) propôs uma relação empírica entre essas duas densidades:
Dr = 0,694 ⋅ Dd (3.12)
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(a) (b)
Dr = Dr Dd = Dd
Dd > Dd Dr > Dr
Figura 3.5 Comparação entre densidade de drenagem e densidade de rios.
Figura 3.6 Geometria em encostas. Fonte: Ruhe (1975) modificado por Checchia (2005).
21
3.7 Análise de relevo
A declividade da bacia tem influência na drenagem e em outros processos hidrológicos que
ocorrem em seu interior. É um parâmetro necessário em muitos dos métodos para o cálculo do
tempo de concentração da bacia. Por outro lado, a altitude exerce influência em fatores
meteorológicos que atuam sobre a bacia, como precipitação e temperatura.
a) Declividade
Aqui se adota o método das quadrículas para o cálculo de declividades na bacia. O método
consiste em uma distribuição percentual das declividades normais às curvas de nível. No caso de
mapas com escala 1:50.000 ou 1:25.000, traça–se uma rede de quadrículas de dimensões 1 km x 1
km. Dentro de cada quadrícula, se calcula as altitudes mínima e máxima e a declividade média da
mesma. Então, é possível determinar a distribuição percentual de declividade do terreno.
A declividade média da bacia é calculada com a seguinte equação:
Dm = ∑ (d ⋅ a ) (3.13)
A
onde: Dm é a declividade média; d é a declividade média entre dois valores de declividade;
a é a área que possui d ; e A é a área total.
A declividade mediana (Dm*) é aquela que corresponde a 50% da área, e pode ser obtida a
partir da curva de distribuição de declividades
Cotas Ponto médio Área entre as curvas Área acumulada % % Acumulada Coluna 2 x Coluna 3
(m) (m) (km²) (km²)
480-520 500 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
520-560 540 0.58 0.58 2.18 2.18 310.92
560-600 580 0.95 1.52 3.57 5.75 548.18
600-640 620 0.82 2.34 3.08 8.83 506.20
640-680 660 1.01 3.35 3.82 12.65 666.78
680-720 700 1.33 4.68 5.04 17.68 933.09
720-760 740 2.85 7.53 10.76 28.44 2107.15
760-800 780 4.81 12.34 18.17 46.61 3752.20
800-840 820 5.71 18.04 21.56 68.17 4679.00
840-880 860 3.33 21.37 12.57 80.74 2861.97
880-920 900 3.57 24.95 13.50 94.24 3216.37
920-960 940 1.48 26.42 5.57 99.82 1386.74
960-1000 980 0.05 26.47 0.19 100.01 49.05
22
Figura 3.7 Curva hipsométrica da bacia do Rio do Bispo
Se a ordenada apresenta a taxa altura (h) sobre altura total (H), isto é h/H, e a abscissa
apresenta a taxa de área (a) sobre a área total (A), isto é a/A, então a curva se chama curva
hipsométrica em porcentagem (Figura 3.7). Essa curva é útil para comparar bacias de diferentes
tamanhos e altitudes.
As altitudes máxima e mínima são fáceis de determinar observando o mapa topográfico.
A altitude média da bacia é calculada com a seguinte equação:
Hm = ∑ (h ⋅ a ) (3.14)
A
onde: Hm é a altitude média; h é a altitude média entre duas curvas de nível; a é a área entre
as curvas de nível; e A é a área total. Para a bacia hidrográfica do Rio do Bispo, Hm = 794 m.
A altitude mediana (Hm*) é aquela que corresponde a 50% da área, e pode ser obtida a
partir da curva hipsométrica. Para a bacia do Rio do Bispo, Hm* = 800 m.
Referências bibliográficas
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hidrográficas e dá outras providências. 1987.
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23
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VILLELA, S.M.; MATTOS, A. Hidrologia Aplicada. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1975.
24
4. PRECIPITAÇÃO
Masato Kobiyama
Gabriela Corrêa Pacheco
Henrique Lucini Rocha
4.1 Introdução
A precipitação é a água proveniente do meio atmosférico que atinge a superfície terrestre
sob a forma de chuvisco, chuva, saraiva, granizo, orvalho, neve ou geada. Formas estas que se
diferenciam pelo estado físico em que a água se encontra. Nesse sentido, a atmosfera é considerada
como um vasto reservatório de sistema de transporte e distribuição do vapor de água. A chuva, em
especial, será o enfoque do presente capítulo.
A chuva é a queda da água no estado líquido na superfície terrestre, e por esse motivo é um
componente crítico para o ciclo hidrológico, pois possibilita a infiltração da água no solo de forma a
alimentar as nascentes e os lençóis freáticos, permitindo a sobrevivência dos ecossistemas
existentes. A quantidade de chuva é medida por aparelhos chamados pluviômetros e pluviógrafos.
Através de sua medição é possível avaliar o nível dos cursos de água, fornecer mapas de áreas de
riscos de inundações, avaliar a produtividade da agricultura, estimar e prever a ocorrência de chuvas
intensas, a fim de melhorar o planejamento da cidade, dentre outras atividades.
25
massas de ar quentes caminham em direção as regiões frias o resultado é a formação de nevoeiros e
chuviscos (Varejão-Silva, 2005). Na Tabela 4.1 são apresentadas as formas de precipitação e suas
características.
26
Em relação às chuvas, conforme Tucci (1993), elas podem ser classificadas de acordo com a
ascensão das massas de ar e divididas em três grupos:
4.3.2.1 Pluviômetro
Aparelho usado para saber a altura pluviométrica que caiu em uma determinada área.
Durante a instalação e manutenção devem ser tomados os seguintes cuidados (Santos et al., 2001):
• Pluviômetro Ordinário
É um simples receptáculo da água composto por um coletor com funil que conduz a água da
chuva para o recipiente armazenador. Vale apontar que o funil protege a água coletada da radiação
solar diminuindo sua perda por evaporação. Para a medição da água utiliza-se um aparelho
graduado (uma proveta pluviométrica ou uma régua pluviométrica) ou até mesmo uma balança.
Existem diversos tipos de pluviômetros e o mais difundido no Brasil é do tipo Ville de Paris (Figura
4.1)
28
realizar a coleta. Caso a chuva seja suficiente para encher o recipiente armazenador é necessário
retirar a quantidade relativa a esse recipiente nos momentos que o volume foi preenchido. Vale
ressaltar que a confiança dos registros é dependente do cuidado do operador.
• Pluviômetro Totalizador
Para evitar a interferência da evaporação esses recipientes são colocados enterrados e neles
certa quantidade de óleo é introduzida, formando uma película anti-evaporante. A retirada da água
armazenada se dá de forma mecânica através de um sifão e uma bóia, que esvazia o recipiente
quando cheio. Uma haste é conectada a bóia de forma a registrar o número de vezes que ocorreu o
esvaziamento (Varejão-Silva, 2005). Em áreas mais isoladas, a escolha por esse tipo de aparelho ou
por pluviógrafos, principalmente de registro por dataloggers, é mais comum.
4.3.2.2 Pluviógrafo
• Caso o registro dos dados seja através da pena registradora, deve-se realizar a troca do
papel utilizado. Nesse tipo de marcação a pena desenha no papel um gráfico que
relaciona a evolução da chuva ao longo do tempo em milímetros;
29
• Caso o pluviógrafo basculante tenha o registro dos dados através de dataloggers, deve-se
descarregá-los de tempos em tempos. Nesse tipo de registro, o datalogger não traça um
gráfico como acontece na pena registradora, mas armazena os dados em um conjunto de
degraus correspondentes à altura de chuva equivalente ao volume de água que cabe em
cada cuba basculante (Santos et al., 2001).
Existem três tipos mais comuns de pluviógrafos: flutuador; de balança; basculante (tipping
bucket).
Em geral, esse aparelho possui área de captação igual a 200 cm2 composta por um coletor
com funil e uma cisterna onde existe uma bóia acoplada ao sistema de pena registradora. Quando a
cisterna está cheia um sistema de sifão a esvazia, e a pena inicia o gráfico no ponto zero. Cada
“sifonada” corresponde a 10 mm de água, na maioria desses pluviógrafos (Santos et al., 2001). Vale
ressaltar que durante o tempo de esvaziamento não há registro da chuva, acarretando um erro
instrumental.
• Pluviógrafo de Balança
Em geral, esse aparelho possui área de captação igual a 200 cm2 composta por um coletor
com funil e um recipiente ligado a um sistema de balança auto-equilibrada acoplada a uma pena
registradora. O aumento do peso do recipiente transmite movimento à pena que registra os dados.
Quando esta atinge a marcação de 10 mm um sistema de sifão esvazia o recipiente e a pena inicia o
gráfico no ponto zero (Santos et al., 2001). Da mesma forma que o pluviógrafo flutuante, durante o
tempo de esvaziamento não há registro da chuva, acarretando um erro instrumental.
30
Figura 4.4. Pluviógrafo de Balança
Básculas
datalogger
31
4.4 Interferências na medição
A ação dos ventos e as características do coletor como o material utilizado, o diâmetro, a
profundidade, o nivelamento, a precisão das dimensões, o local de instalação e a perda por
evaporação, são fatores que interferem na correta medição dos aparelhos.
4.4.2 Diâmetro
A maioria dos coletores é de formato cilíndrico justamente para amenizar a ação dos ventos
(Strangeways, 2000). Diâmetros muito pequenos apresentam grandes erros de medição, pois são
mais sensíveis à interferência dos ventos, permitindo uma quantidade menor de água coletada.
Diâmetros muito grandes necessitam de grandes recipientes de armazenamento dificultando a
instalação. O tamanho mais utilizado no Brasil é de 20 cm (Santos et al., 2001).
4.4.3 Profundidade
Para coletores de baixa profundidade que não possuem funil é possível que a gota,
dependendo do seu tamanho, rebata na superfície da água contida no coletor e saia da área do
recipiente, de forma a armazenar uma quantidade incorreta. Coletores de grandes profundidades
sofrem mais com a ação dos ventos, facilitando a instabilidade do aparelho (Strangeways, 2000).
4.4.4 Altura
A altura ideal para a instalação do aparelho é próximo ao solo, pois nessa região a ação dos
ventos é menor, interferindo menos na queda natural da gota e, portanto, na captação da água. No
entanto, é necessário colocar um gradeamento ou um material que permita a melhor infiltração da
água no solo ao redor do aparelho, impedindo que o rebate da água que caiu no solo entre no coletor
(Strangeways, 2000). Em grandes alturas a ação dos ventos é maior, e, portanto, menor é a precisão
dos dados coletados.
Na Tabela 4.2 são apresentados valores da taxa de captação de chuva conforme a variação
da altura de instalação do aparelho.
Tabela 4.2. Taxa de captação (TC) da chuva em diferentes alturas (em polegadas) da superfície da
terra no Canadá.
Altura 2” 4” 6” 8” 12” 18” 30” 60” 240”
TC (%) 105 103 102 101 100 99,2 97,7 95,0 90,0
32
4.4.5 'ivelamento
O nivelamento correto do aparelho durante a instalação diminui a possibilidade de erro de
medição devido ao mau posicionamento. Um erro de mediçao de cerca de 1% ocorre para cada 1°
de inclinação do aparelho (Strangeways, 2000).
4.4.9 Evaporação
A temperatura local, a condutividade térmica do material do coletor, a profundidade do
mesmo, a presença de rugosidades que aprisionam as gotas de chuva e a forma de armazenamento
da água coletada (em recipientes enterrados ou não) são fatores que interferem na perda de água por
evaporação proporcionando erros na medição.
4.4.10 Vento
Os aparelhos de medição funcionam como um obstáculo na corrente de vento, causando um
aumento de velocidade na superfície do coletor e turbilhões na região do funil. Esse aumento da
velocidade altera o movimento de queda natural da gota da chuva, de forma que algumas passam
pelo coletor ao invés de cair dentro dele (Strangeways, 2000). Na Tabela 4.3 são apresentados
valores de redução da taxa de captação com o aumento da velocidade do vento.
Tabela 4.3. Redução da taxa (%) de captação com aumento da velocidade de vento no Canadá
Velocidade de vento Tipo de precipitação
(m/s) Chuva Neve
0 0 0
5 6 20
10 15 37
15 26 47
25 41 60
50 50 73
Obs.: Considerou-se que captação da chuva na superfície é o padrão.
33
Algumas formas de diminuir a ação dos ventos são apresentadas a seguir.
4.4.10.3 Gradeamento
Segundo Strangeways (2000), o gradeamento (Figura 4.8) é a melhor forma de se medir os
dados pluviométricos, pois diminui a ação dos ventos em aparelhos instalados próximos ao solo,
além de formar uma proteção contra possíveis entradas de água no coletor devido ao rebote da
34
precipitação no solo. Este sistema consiste na construção de uma grade no entorno do aparelho. É
necessário fazer a limpeza da grade de tempos em tempos para não acumular folhas, gramas e
outros objetos.
35
Erros São erros referentes às falhas humanas, como derramamento de água
grosseiros coletada, fechamento inadequado da torneira de pluviômetros do tipo
Ville de Paris, registro de coleta em dias inexistentes (exemplo, 30 de
fevereiro), correções aleatórias de dados pelo próprio observador,
transbordamento do coletor, bóia do pluviógrafo presa, escolha errada
das escalas, etc. Para se ter uma maior confiança aos dados coletados
é válida a comparação com o registro de estações vizinhas para
verificar se não apresentam grande variância.
Erros São erros associados às instalações em locais inadequados e ao
sistemáticos próprio aparelho, como a falta de nivelamento, surgimento de
defeitos, deformações devido à temperatura e violações, falta de
regulagem do relógio pluviométrico, etc. Geralmente os erros
sistemáticos têm como característica a repetição do mesmo valor de
erro nos dados coletados.
Erros São erros oriundos de causas diversas, incluindo particularidades do
acidentais próprio observador, como sua capacidade de visão para a leitura dos
dados, e a margem de precisão do próprio equipamento, como seu
nível de interferência devido à evaporação e ao vento.
As falhas consistem na falta de dados durante certo intervalo de tempo, devido a possíveis
descuidos do observador, danificações ou defeitos nos próprios aparelhos.
36
onde a precipitação na estação (Px) é proporcional às precipitações nas estações vizinhas a, b, e c
num mesmo período, representadas por Pa, Pb, e Pc. O coeficiente de proporcionalidade é a relação
entre a média Mx e as médias Ma, Mb e Mc no mesmo intervalo de tempo.
Através desse método é possível estimar as precipitações ocorridas para regiões que não
possuem estações pluviométricas.
37
(no eixo das ordenadas) com os valores médios acumulados da região (no eixo das abscissas), ou
seja,Acúmulo Médio da Região,para a Estação i.
Os valores médios acumulados da região são calculados através da acumulação das médias
aritméticas em cada mês (ou ano) em todas as estações. Qualquer mudança brusca na direção da
reta indica anormalidade.
As mudanças de declividade significam erros sistemáticos e para correção do dado é feita a
relação apresentada na equação (4.6) (Tucci, 1993):
M
Pa = a xP0 (4.6)
M0
onde Pa é a observação ajustada à condição atual; Po é o dado observado a ser corrigido; Ma é o
coeficiente angular da reta no período recente; Mo é o coeficiente angular da reta no período antigo.
O alinhamento dos pontos em retas paralelas significa que existem erros de transição ou a
existência de anos extremos nos dados plotados (Tucci, 1993).
A distribuição aleatória dos pontos significa que a comparação está equivocada, pois as
estações escolhidas não possuem características pluviométricas semelhantes (Tucci, 1993). Na
Figura 4.9 são apresentadas algumas peculiaridades do método de Dupla Massa.
Esse método admite que todas as estações possuam o mesmo peso de importância, portanto,
a média da precipitação no local (Xn) é calculada pela soma das precipitações médias das estações,
dividindo o resultado pelo número de estações. O resultado considera a distribuição temporal, ou
seja, é possível calcular a precipitação média para intervalos de dias, meses, anos, etc.
38
∑ in=1 X i
Xn = (4.7)
n
• Método de Thiessen
Figura 4.10. Esboço do Método de Thiessen, com P1, P1, P3, P4 e P5 estações pluviométricas.
São linhas, semelhantes às linhas de curva de nível, que unem locais com mesmo valor de
chuva. Para o cálculo da precipitação média utiliza-se a fórmula usada no método de Thiessen.
Onde Ai representa a área entre duas isoietas e Pi representa a média aritmética dos valores dessas
isoietas.
Vale ressaltar que o método das isoietas é o método mais preciso dentre os apresentados,
pois considera a distribuição espacial de intensidade de chuva devido as influências orográficas (a
influência do relevo e das massas de ar), além da distribuição temporal, ou seja, é possível desenhar
as isolinhas para determinado intervalo de tempo (meses, períodos chuvosos, períodos secos, etc.).
40
Os dados são organizados em ordem decrescente e a cada um é atribuído o seu número de
ordem m (m variando de 1 a n, sendo n o número de observações). A freqüência com que foi
igualado um evento de ordem m será:
m
- Pelo Método Califórnia: f = ;
n
m
- Pelo Método Kimball: f = ;
n +1
A diferença entre os métodos é relativa ao tempo de retorno (Tr), calculado pelo inverso da
1
freqüência Tr = . O método Kimball permite um tempo de retorno maior que o método Califórnia
f
para os mesmos dados.
41
(1) Primeiramente encontram-se os valores de Xn e σ e obtém Z em função de X;
(2) Encontra-se o valor de Z para cada total anual, de precipitação X;
(3) Encontram-se os valores de F(x) para cada valor de Z calculado, a partir da Tabela 4.5;
(4) Através do ajuste da lei de Gauss calcula-se os tempos de retornos (Tr) pela seguinte
relação:
1
Tr = , para F(x) ≤ 0,5 (4.15)
F (x )
1
Tr = , para F(x) > 0,5 (4.16)
1 − F (x )
A variação da intensidade com a freqüência pode ser analisada com o método de Gumbel,
que segue o seguinte procedimento:
• Escolhe-se a máxima intensidade de cada ano durante n anos, para cada duração t, usando
pluviograma da região;
• Obtém-se uma série anual, constituída por n máximos (Xi), para cada duração. A média (Xn)
e o desvio padrão amostral (σam) são:
∑ in=1 X i
Xn = (4.19)
n
∑ in=1 ( X i − X n )
2
σ am = (4.20)
n −1
• A probabilidade da máxima intensidade média de precipitação de dada duração ser maior ou
igual a X é calculada pela equação:
P = 1 − exp − e − b ( ) (4.21)
onde,
1
b= ( X − X n + 0,45σ am ) (4.22)
0,7797σ am
• Então, o período de retorno é:
42
1 1
T= = (4.23)
(
P 1 − exp − e −b )
• Linearizando a equação do desvio padrão amostral obtém-se:
X = X n + Kσ (4.24)
onde,
K = [(0,7797 b ) − 0,45] (4.25)
T − 1
b = − ln − ln (4.26)
T
A fórmula abaixo representa a relação entre intensidade-duração-freqüência (Pinto et al.,
1995):
aTrn
i= (4.28)
(t + b )m
onde a e b são parâmetros e n e m expoentes específicos a serem determinados para cada local; i é a
intensidade máxima para uma duração de tempo t; e Tr é o tempo de retorno do local. Exemplos:
99,154 ⋅ T 0, 217 3462,7 ⋅ T 0,172 1239 ⋅ T 0,15
Rio de Janeiro i = ; São Paulo i = ; Curitiba i = .
(t + 26)1,15 (t + 22)1,025 (t + 20)0,74
Tabela 4.6. Quantidade de estações pluviométricas por área de drenagem incremental – ANEEL
Área de Drenagem
úmero mínimo de estações
Incremental (km2) Pluviométricas
De 0 a 500 -
De 501 a 5.000 3
De 5 001 a 50.000 4
De 50 001 a 500.000 6
Acima de 500.000 7
43
Tabela 4.7. Modelo original para densidades mínimas das redes pluviométricas segundo WMO
(1984) citado por Salgueiro(2005).
Limite das
ormas para uma rede Limite das
ormas admissíveis em
mínima. circunstâncias especialmente
Características Fisiográficas (Superfície em km2 por estação) difíceis 1.
(Superfície em km2 por estação)
Regiões Planas de Zonas
Temperadas, Mediterrâneas e 600-900 900-3.000
Tropicais;
Regiões Montanhosas de zonas
Temperadas, Mediterrâneas e 100-250 250-1.000 4
Tropicais;
Pequenas Ilhas Montanhosas com -
Precipitação muito irregular e rede
hidrográfica muito densa; 25
Zonas áridas e Polares 2. 1.5000-10.000 3 -
1 Limite máximo e admissível em circunstâncias excepcionalmente difíceis;
2 Sem incluir os grandes desertos;
3 Segundo as possibilidades;
4 Em condições de grande dificuldade podem ampliar-se até 2.000km2.
Já em 1994 a própria WMO apresentou uma nova tabela na qual relaciona as unidades
fisiográficas com a densidade mínima por estação (Tabela 4.8).
Tabela 4.8. Modelo revisado para densidades mínimas das redes pluviométricas segundo WMO
(1994) citado por Salgueiro(2005).
Densidade Mínima por Estação
Unidades Fisiográficas (Área em km2 por estação)
Sem Registrador Com Registrador
Costeira 900 9.000
Montanhosa 250 2.500
Planas e Interiores 575 5.750
Montanhosas / Onduladas 575 5.750
Pequenas Ilhas 25 250
Áreas Urbanas - 10-20
Polares/ Áridas 10.000 100.000
44
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45
5. I
TERCEPTAÇÃO
5.1 Conceito
A interceptação é a retenção, acima da superfície do solo, de parte da precipitação. Esse é o
primeiro processo hidrológico pelo qual a água da chuva passa. Basicamente, a precipitação em
uma bacia florestal é interceptada pelos elementos que se encontram na superfície (folhas, galhos,
troncos e serrapilheira). Após a capacidade de armazenamento de água nesses elementos ser
atingida, a água fica então disponível ao solo. A água armazenada será evaporada de volta a
atmosfera e, portanto, pode ser encarada como uma perda. Em áreas de floresta a interceptação pode
chegar a 40 % do total precipitado, tendo um papel importante no balanço hídrico (Zinke, 1967).
Então, medir interceptação é uma das maneiras de avaliar o efeito do uso do solo no balanço
hídrico.
A parte da precipitação que cai diretamente sobre o solo ou que é interceptada e cai depois
na forma de gotas das folhas e ramos é chamada de chuva interna ou throughfall. A parte que é
desviada da copa e escoa através dos troncos até o solo é chamada de escoamento de tronco ou
stemflow. A soma da chuva interna com o escoamento de tronco é a chamada chuva líquida.
• Intensidade da chuva;
• Volume total precipitado;
• Chuva antecedente;
• Intensidade do vento;
• Umidade e temperatura do ar;
• Tipo e densidade da vegetação.
100
90
80
70
Interceptação (%)
60
50
40
30
20
10
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Figura 5.1. Relação entre interceptação e precipitação total (bacia Pinus 1).
5.3 Medição
O conhecimento que se tem sobre interceptação é baseado principalmente em investigações
empíricas e sua determinação é dada, geralmente, de maneira indireta. Considera-se um sistema
onde a entrada (chuva total) e as saídas (chuva interna e escoamento de tronco) podem ser medidas.
A diferença entre a entrada e a saída é aquilo que ficou retido ou interceptado pelo sistema. Pelo
balanço hídrico no sistema considerado (por exemplo, copa de árvores), temos:
I = P − Pt − Ps (5.1)
e
I = E + Sc + St (5.2)
47
Pela Equação 5.1, vê-se que ao medir três variáveis (chuva total, chuva interna e escoamento
de tronco) pode-se determinar a interceptação indiretamente. A medição de chuva total deve ser
feita com um pluviômetro (ou pluviógrafo) instalado em uma clareira ou acima da floresta para não
sofrer influência da vegetação. Aconselha-se que o ângulo formado entre o topo do pluviômetro e o
topo da árvore mais próxima e mais alta seja de no máximo 45° (Figura 5.2, detalhe (1)).
A medição de escoamento de tronco pode ser feita individualmente para cada árvore ou
fazendo-se uma média entre algumas árvores (Figura 5.2, detalhe (2)). A opção de medir
individualmente ou em grupo deve levar em conta a disponibilidade de equipamentos e a
heterogeneidade da floresta. A Figura 5.3 mostra o detalhe da instalação do colar para captação de
escoamento de tronco de uma árvore. O colar pode ser construído com chapa fina de metal ou com
uma mangueira cortada. Ele pode ser fixado na árvore com pregos e o uso de silicone nas bordas
evita vazamento.
Devido à heterogeneidade espacial e temporal da chuva interna, o uso de calhas com maior
área de captação geralmente é aconselhável. As calhas devem captar chuva interna e conduzi-la até
um pluviômetro (Figura 5.2, detalhe (3)). As calhas podem ser construídas com chapas de zinco ou
plástico e o tamanho varia conforme a necessidade. A água captada pela calha pode ser conduzida
para um pluviômetro através de mangueiras. O uso de apenas pluviômetros para medição de chuva
interna pode induzir a erros; caso ele se localize em uma parte aberta haverá superestimação da
chuva, caso fique embaixo de uma copa densa as medidas serão subestimadas. Nesse caso deve-se
ter um número elevado de equipamentos instalados para garantir uma maior representatividade dos
dados.
Figura 5.2. (1) Pluviógrafo medindo chuva externa. (2) Pluviógrafo medindo escoamento de
tronco. (3) Pluviógrafo medindo chuva líquida coletada pelas calhas.
48
Figura 5.3. Detalhe de colar no tronco e tubo condutor até pluviógrafo.
A Figura 5.4 mostra fotos de equipamentos para medição de chuva interna e escoamento de
tronco instalados em uma bacia experimental. A chuva interna é coletada com calhas de zinco
(Figura 5.4 a) e conduzidas até um pluviógrafo por mangueiras ligadas à saída da calha (Figura
5.4b). Em caso de árvores com casca espessa (Pinus, por exemplo) aconselha-se que seja feita uma
limpeza na área em que será feita a instalação do colar para captação de escoamento de tronco
(Figura 5.4c). Com essa limpeza obtém-se uma superfície mais homogênea e evita-se vazamentos.
A Figura 5.4d mostra a calha para medição de chuva interna e as mangueiras condutoras de
escoamento de tronco ligadas a pluviógrafos. Ambos pluviógrafos são ligados a dataloggers e
registram volume captado a cada 10 minutos.
49
(a) (b)
(c) (d)
Figura 5.4. (a) Instalação de calha para coleta de chuva interna. (b) Detalhe de mangueiras que
ligam a calha ao pluviógrafo do tipo báscula. (c) Limpeza da casca para instalação de mangueiras
de coleta de escoamento de tronco. (d) Área com medição instalada de chuva interna e escoamento
de tronco.
5.4 Análise
O primeiro passo para análise dos dados de chuva interna e escoamento de tronco é a
transformação dos volumes medidos para milímetros equivalentes. No caso do uso de calhas para
coleta de chuva líquida, deve-se dividir o volume total medido pela área de coleta da calha
projetada em planta (Figura 5.5(3)). A Figura 5.5(4) mostra em planta o colar de captação de
escoamento em quatro troncos e a condução até um pluviógrafo. O volume escoado pelo tronco
deve ser dividido pela área de influência aproximada das copas das árvores medidas (Figura 5.5(1)).
Um pluviógrafo para medição de chuva externa é mostrado na Figura 5.5(2).
50
Figura 5.5. Vista em planta de um plot com equipamentos de medição de interceptação instalados.
(1) Área para cálculo de escoamento de tronco. (2) Pluviógrafo medindo chuva externa. (3) Calha
para medição de chuva interna. (4) Colar para medição de escoamento de tronco.
Tabela 5.1. Parâmetros da equação de Horton para alguns tipos de cobertura vegetal.
Cobertura vegetal a b '
Pomar 0,04 0,018 1,00
Carvalho 0,05 0,18 1,00
Maple 0,04 0,18 1,00
Pinus 0,05 0,20 0,50
Arbustos 0,02 0,40 1,00
51
Normalmente, n = 1,00
Uma maneira para se determinar a capacidade de armazenamento de copa para uma floresta
é utilizando dados de precipitação interna e precipitação total (Leyton et al., 1967). Através de uma
dispersão desses dados (Figura 5.6) é possível perceber que existe um ponto de inflexão (≈ 5 mm)
que divide os eventos em dois grupos. O primeiro é caracterizado por eventos que não alcançaram a
capacidade máxima de armazenamento de copa. A inclinação da reta de regressão feita nessa
primeira parte dos dados é a proporção de precipitação que chega ao solo sem ser interceptada (p ≈
0,41).
O segundo grupo é aquele em que a saturação da copa foi atingida. Uma curva envoltória
deve ser traçada para esses dados passando-se apenas por pontos onde condições de evaporação
mínima são assumidas. A extrapolação dessa curva até o eixo de precipitação interna resulta em um
valor negativo, que representa a capacidade de armazenamento máximo de copa (Sc ≈ 2,71 mm).
Idealmente, cada evento de chuva deveria ser tratado em separado, porém, isso depende da
disponibilidade de medições automáticas.
Os parâmetros de armazenamento de tronco podem ser estimados de maneira similar aos da
copa. Faz-se uma dispersão do escoamento de tronco pela precipitação total (Figura 5.7). A
inclinação da curva de regressão dos dados informa o valor proporcional de água que é desviada
para o tronco (pt ≈ 0,13) e a interceptação da linha até com o eixo do escoamento de tronco
representa a capacidade máxima de armazenamento de tronco (St ≈ 1,06 mm).
80
70 Pt = 0,97 P - 2,71
R² = 0,9997
Precipitação Interna (mm)
60
50
Ponto de Inflexão
40 ≈ 5 mm
30
Pt = 0,41 P - 0,22
20 R² = 0,5944
10
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Figura 5.6. Relação entre precipitação interna e precipitação total. (bacia Pinus 1).
52
16
14
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Figura 5.7. Relação entre escoamento de tronco e precipitação total. (bacia Pinus 1).
O fator de cobertura de copa (c) pode ser estimado através de foto com a câmera apontando
para o céu (Figura 5.8) e depois calculando-se a área da foto que corresponde a copa das árvores e a
parte que corresponde a superfícies livre. O problema desse método está na distorção na imagem
devido à lente. Outra maneira que pode ser usada é com a medição de radiação externa e interna na
floresta. A razão entre as duas tem relação com o fator de cobertura.
5.5 Modelagem
Existem diversos modelos propostos para estimativa de perdas por interceptação (Rutter et
al., 1975; Suzuki et al, 1979; Gash, 1979; Valente et al., 1997). Dois dos mais usados são o modelo
de Rutter (Rutter et al, 1975) e o modelo de Gash (Gash, 1979), que na verdade é uma simplificação
do modelo Rutter juntamente com alguns conceitos de regressão linear. Aqui é apresentada uma
versão reformulada do modelo de Rutter proposta por Valente et al. (1997), chamado de modelo de
Rutter esparso ou Sparse Rutter Model. Esse modelo tem como entrada chuva total e evaporação
potencial e pode estimar chuva interna e escoamento de tronco a cada passo de tempo.
Basicamente a chuva total (R) é separada em chuva que cai em áreas abertas ou
descobertas ((1-c) *R) e que cai no sistema de copas ou área coberta (c*R) (Figura 5.9). A copa é
53
representada por um tanque com capacidade máxima de armazenamento Sc e água armazenada em
um determinado passo de tempo Cc. A evaporação de copa é dado por Ec. Quando Cc > Sc, Ec
corresponde a evaporação potencial, caso contrário é usado um fator de redução de evaporação.
Quando Cc ultrapassa o valor limite de Sc a água em excesso é escoada em parte para o tronco
através da proporção pd e a outra parte cai no solo (1-pd). O sistema de tronco funciona análogo ao
de copa. A proporção de água que evapora de copa e evapora de tronco é dada pelo coeficiente ee.
Perda por
Precipitação total interceptação
R E + Et
Evaporação Evaporação
de copa de tronco
Área descoberta Copa
E = c Ec E t = c E t,c
input input
R R
área área
descoberta coberta (1 - ee) E p C c , C c < S c
1-c c Sc
Ec =
(1 - ee) E p , Cc = Sc
Sc
Cc
Drenagem de copa
D c = d (C c - S c)/dt
Precipitação
livre
R
Tronco
input
P d Dc
ee E p C t,c , C t,c < S t,c
E t,c = S t,c
ee E p , C t,cc = S t,c
S t,c
C t,c
Drenagem de
Gotas tronco
Di,c = (1 - p d) D c D t,c = d (C t,c - S t,c)/dt
Precipitação Escoamento
interna de tronco
(1 - c) R + c Di,c c Dt,c
Figura 5.9. Fluxograma do modelo Sparse Rutter Model. (adaptado de Valente 1997)
A Figura 5.10 apresenta a simulação com o Sparse Rutter Model da chuva interna e do
escoamento de tronco para um evento de chuva. Foram usados dados de chuva externa, interna e
escoamento de tronco medidos a cada 10 minutos. A evaporação potencial diária, uma entrada do
modelo, foi calculada através do método de Penman (ver Capítulo 11). Os valores diários foram
transformados através de uma função para obtenção de evaporação potencial a cada 10 minutos.
54
0
Precipitação
(mm/10min)
2
6
0 50 100 150 200 250 300 350
6
(mm/10min)
Throughfall
Simulado
4
Medido
2
0
0 50 100 150 200 250 300 350
0.4
(mm/10min)
Stemflow
0.2
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Tempo (10min)
Figura 5.10. Simulação de chuva interna e escoamento de tronco com o modelo Sparse Rutter
Model. (Bacia Pinus 1)
5.6 Considerações
A parcela da chuva que não chega ao solo, perdida no processo de interceptação, pode
corresponder a parcelas elevadas do balanço hídrico (até ≈ 40% do total). Porém, sua quantificação
precisa e de maneira padronizada é difícil de ser feita devido a influência das características da
precipitação, condições meteorológicas e da heterogeneidade da vegetação. Devido a essa
dificuldade, muitas vezes esse tipo de medição não é feita e a justificativa acaba sendo que a
interceptação não é significativa.
A maioria dos modelos usados hoje de chuva-vazão para o estudo de balanço hídrico não
contam com rotinas de interceptação e são muitas vezes alimentados com dados de chuva externa
(ou total). Esses modelos já têm na sua estrutura toda uma incerteza devido as simplificações feitas
e a entrada de dados incorretos pode aumenta ainda mais a incerteza do estudo ou condicionar um
modelo a achar bons resultados mas por razões erradas. Os dados de interceptação são necessários
então para a redução de incerteza desses estudos e consequentemente aumentar o grau de
conhecimento sobre os processos hidrológicos. Se no final das contas queremos saber o que
acontece com a água da chuva quando chega à superfície, nada mais coerente do que medir o
primeiro processo pelo qual ela passa.
55
Referências bibliográficas
Gash, J.H.C., 1979. An analytical model of rainfall interception by forests. Q. J. R. Meteorol.
Soc., 105: 43-55.
Horton, R.E., 1919. Rainfall interception. Mon. Weath. Rev. 47, 603–623.
Leyton, L., Reynolds, E.R.C. and Thompson, F.B., 1967. Rainfall interception in forest and
moorland. In: W.E. Sopper and H.W. Lull (Editors), International Symposium on Forest
Hydrology. Pergamon, Oxford, pp. 163- 178.
Rutter, A.J., Kershaw, K.A., Robins, P.C., Morton, A.J., 1971. A predictive model of rainfall
interception in forests I. derivation of the model from observations in a stand of Corsican
pine. Agric. Meteorol. 9, 367±384.
Rutter, A.J., Morton, A.J. and Robins, P.C., 1975. A predictive model of rainfall interception in
forests. II. Generalization of the model and comparison with observations in some coniferous
and hardwood stands. J. Appl. Ecol., 12: 367-380.
SUZUKI, M., KATO, H., TANI, M., FUKUSHIMA, Y., , Throughfall, stemflow and rainfall
interception in Kiryu experimental catchment (1) Throughfall and stemflow’, J. Jap. For. Soc.,
v. 61, p. 202-210, 1979.
Valente, F., David, J.S., Gash, J.H.C., 1997. Modelling interception loss for two sparse eucalypt
and pine forests in central Portugal using reformulated Rutter and Gash analytical models. J.
Hydrol. 190, 141±162.
Zinke, P. J.1967.Forest interception studies in the United States, International Symposium on
Forest Hydrology, Eds. W. E. Sopper and H. W. Lull, Pergamon Press, Oxford, 137-161.
56
6. I
FILTRAÇÃO
6.1 Introdução
Infiltração é o nome dado ao processo de passagem da água que chega à superfície do solo
via precipitação, degelo ou irrigação, para seu interior, através dos poros. Então, entendemos que a
água que cai sobre um terreno permeável é succionada, isto é, infiltra. É importante conhecer esse
fenômeno porque a taxa em que se dá essa infiltração, em relação ao suprimento de água, determina
se haverá um volume excedente, que poderá escoar sobre a superfície. A infiltração é um processo
importante por influenciar o tempo que a água permanece na bacia: a água, após infiltrar, passa a
compor a umidade do solo e eventualmente pode formar um aqüífero (reservatório de água
subterrâneo) quando preenche os poros de camadas do subsolo. Por outro lado, a parcela que escoa
tende a sair rapidamente pela rede de drenagem, deixando de estar disponível para os processos
biológicos. A manutenção da umidade no solo propicia condições para o desenvolvimento das
plantas, da fauna e dos microorganismos. Já o escoamento superficial provoca erosão laminar no
horizonte superficial do solo reduzindo sua fertilidade e em zonas urbanizadas pode provocar
alagamento de áreas habitadas.
A dinâmica do processo de infiltração depende, entre outros fatores, da quantidade de água
presente e da permeabilidade da superfície, do tamanho e forma dos poros no interior do solo e da
quantidade de água já existente nesses poros. É fundamental conservar a capacidade natural de
infiltração dos solos, mas sabemos que a ação do homem contribui para piorar a condição original.
Nas cidades acontece impermeabilização devido às construções e à pavimentação das vias; no
campo, a exposição do solo sem cobertura vegetal ao impacto das gotas de chuva provoca o
selamento da superfície.
A dimensão dos poros por onde a água irá infiltrar é influenciada pelo tamanho, forma e
natureza mineral das partículas e pelo modo como estas partículas estão arranjadas (estrutura). Entre
os tipos de solos, aqueles com poros maiores, como os de textura arenosa ou os argilosos com
agregados estáveis e matéria orgânica, oferecem melhor condição para a infiltração da água, já que
a resistência à passagem através da superfície tende a ser pequena. Os poros grandes podem ser
decorrentes da existência de partículas grandes compondo o solo (fração areia) ou da estrutura, já
que partículas pequenas (fração silte a argila) podem ser aglutinadas em agregados maiores devido á
presença de substâncias cimentantes. A cobertura vegetal existente sobre a superfície, tanto viva
como morta (palha), ajuda bastante a infiltração da água, tanto por proteger a superfície do impacto
direto das gotas de chuva como também por reduzir a velocidade do escoamento superficial,
aumentando o tempo de oportunidade para que a água infiltre. Terrenos planos permitem uma
infiltração maior que terrenos declivosos também pelo maior tempo de permanência da água em
contato com a superfície. Pela mesma razão, uma ladeira lisa perde mais água por escoamento que
57
uma que apresenta irregularidades devido a variações microtopográficas, causadas por torrões,
pequenas depressões ou outros obstáculos na superfície.
O teor de água inicial de água no solo, a presença de rachaduras e as características da
precipitação (intensidade e duração) também interferem na taxa de infiltração. Alguns dos fatores
citados são fortemente influenciados pelo manejo adotado pelo homem em áreas de uso com
agricultura ou pecuária (forma como o solo é trabalhado, incluindo práticas de revolvimento e
número de animais que pisoteiam o solo por unidade de área).
Em geral, quanto maior for a intensidade da chuva, maior será a taxa de infiltração, até que
seja superada a capacidade que o solo tem de receber a água (Infiltrabilidade). O termo
Infiltrabilidade refere-se ao fluxo de água através da superfície que ocorre naturalmente quando
água sob pressão atmosférica (ou na forma de uma lâmina bem pequena) encontra-se livremente
disponível para penetrar no solo. A infiltrabilidade é, portanto, uma propriedade do solo, que
quando superada por uma chuva intensa, tem como decorrência o escoamento de água sobre a
superfície. A infiltração é condicionada por fatores do solo e do ambiente, que como vimos, podem
aumentar ou diminuir a intensidade do processo. Os fatores relacionados ao solo são usualmente
reunidos em um parâmetro denominado condutividade hídrica do solo, que pode ser quantificado
no campo ou em laboratório. A infiltrabilidade tem sido também usada como um parâmetro
indicador da compactação do solo.
A infiltração acontece espontaneamente, pois a água que entra em contato com a superfície
do solo possui energia potencial maior que a água que já está nos poros do solo. O potencial total da
água no solo tem como componentes principais o componente gravitacional e o mátrico (decorrente
do fenômeno da capilaridade nos poros do solo). A gravidade está sempre presente, mas o potencial
mátrico só atua em solos não saturados. Assim, como veremos nas determinações a campo, quando
um solo está com baixo teor de umidade, a taxa de infiltração pode ser muito grande, mas à medida
que este solo torna-se saturado, apenas o componente gravitacional permanece atuando como força
motriz da infiltração, reduzindo a taxa de entrada de água.
O processo de infiltração é influenciado pelo meio poroso como um todo, mesmo porque
solos agrícolas apresentam horizontes (camadas) com características distintas. Portanto não se deve
esperar o mesmo comportamento durante a infiltração em um solo com propriedades físicas
homogêneas em todo o perfil, quando comparado com a infiltração que acontece em um solo com
perfil estratificado (tamanho dos poros e tortuosidade diferentes em camadas distintas). Convém
lembrar que a movimentação da água no interior do perfil do solo pode limitar a taxa de infiltração
através da superfície.
Apesar de ser um processo cotidiano e de fácil observação, a infiltração é regida por
complexas leis físicas, e sua quantificação pode ser feita por meio de experimentos, leis empíricas e
solução de equações diferenciais que regem o movimento da água no solo (RIGHETTO, 1998).
58
6.2.1 Método dos cilindros concêntricos
Destinado a medir a infiltrabilidade vertical, consiste em observar a taxa de infiltração de
uma pequena lâmina de água represada dentro de dois cilindros metálicos cravados no solo (Figura
6.1). A altura da lâmina deve ser mantida aproximadamente constante pela reposição da água
infiltrada durante o teste. O uso de dois cilindros é necessário para que apenas a água do anel
externo movimente-se tanto na direção vertical como na horizontal, funcionando como bordadura.
Dessa forma garante-se que a água colocada no cilindro interno (onde serão feitas as medições)
infiltrará apenas na direção vertical, como ocorre com a infiltração decorrente de uma precipitação.
A observação deve prosseguir até que a taxa de infiltração com o tempo apresente valores muito
próximos durante leituras sucessivas.
Figura 6.1. Cilindros de aço usados para determinação da infiltrabilidade do solo. Podem ser
construídos artesanalmente ou adquiridos prontos.
Material necessário:
• Dois cilindros de aço com 30 e 60 cm de diâmetro interno e 30 e 20 cm de altura,
respectivamente;
• Régua de 30cm;
• Suporte para a régua - serve como referência para as leituras do nível da água no
cilindro interno e para manter a régua na vertical. (Pode ser feito com tubo de
p.v.c. ou de madeira, deixando-se um orifício para passagem da régua);
• Disco de isopor para ser preso à base da régua e permitir que ela flutue com a
oscilação do nível da água;
• Cronômetro;
• Dois baldes com capacidade de 10 litros aproximadamente;
• Marreta e caibro de madeira para cravar o anel;
• Nível de bolha;
• Pedaço de filme plástico de 60 cm x 60 cm;
• Proveta graduada ou becker de 500 ou 1000 ml;
• Quadro para registro dos dados;
• Tesoura para aparar a vegetação.
59
Seqüência de procedimentos:
Escolher no campo um local aproximadamente plano e com micro-relevo uniforme para
cravar os cilindros. A vegetação deve ser aparada rente com uma tesoura e não arrancada, para não
perturbar a estrutura da camada superficial do solo que não deve sofrer qualquer tipo de
revolvimento ou perturbação.
O cilindro de maior diâmetro deve ser cravado em primeiro lugar, até metade de sua altura.
Deve-se apoiar sobre o mesmo, o caibro de madeira (Figura 6.2). A seguir bate-se com a marreta no
centro do caibro para que o cilindro penetre verticalmente no solo. A posição do caibro deve ser
constantemente trocada (giros de 45°). O nível de bolha deve ser utilizado durante essa operação
para garantir que o cilindro não esteja se inclinando enquanto penetra o solo. A seguir deve ser
cravado o cilindro interno, seguindo o mesmo procedimento.
Figura 6.2. O uso do nível de bolha auxilia para que a cravação do cilindro aconteça na direção
vertical.
Recomenda-se, para fins de comparação com testes feitos em outros locais, retirar uma
amostra de solo com estrutura natural ao lado do local onde foram instalados os cilindros para
determinar a densidade do solo e sua umidade. Para dar início à determinação da infiltrabilidade,
coloca-se o filme plástico, o suporte e a régua no cilindro interno e acrescenta-se água suficiente
para formar uma lâmina com altura em torno de 5 cm, como está ilustrado na Figura 6.3. A seguir
coloca-se água no cilindro externo até que se forme em seu interior uma lâmina equivalente à que
existirá no cilindro interno. Retira-se rapidamente o filme plástico disparando o cronômetro nesse
instante, dando início ao teste. A altura inicial da lâmina de água deve ser lida e registrada.
60
Figura 6.3. Preparação para o início do teste: o volume de água deve ser calculado para que se
tenha a lâmina de água desejada.
Figura 6.4. Ilustração dos cilindros instalados para a realização da medição da taxa de infiltração.
Quando encerrar:
O teste deverá prosseguir até que taxa de infiltração, calculada através dos dados da Tabela
6.1, mostrar valores semelhantes durante duas ou três leituras consecutivas. Com base na
experiência, pode-se dizer que em solos de perfil uniforme e suficientemente profundo, a duração
do teste é de uma a duas horas em solos arenosos e de 3 a 4 horas em solos argilosos.
Tabela 6.1. Exemplo de dados obtidos durante a determinação da curva de infiltração pelo
método dos cilindros concêntricos.
TEMPO MEDIDAS INFILTRAÇÃO TAXA DE
Acumulado Acumulado Leitura Diferença ACUMULADA INFILTRAÇÃO
(min) (h) (cm) (cm) (cm) (cm/h)
(A) (B) (C) (D) (E) (F)
0 - 10,0 - 0 -
5 0,0833 10,9 0,9 0,9 10,8
10 0,1667 11,6 0,7 1,6 8,4
20 0,3333 12,4 0,8 2,4 4,8
40 0,6667 13,5 1,1 3,5 3,3
15,1
80 1,3333 1,6 5,1 2,4
(12,0)
120 2,0000 10,5 1,5 6,6 2,25
160 2,6667 9,2 1,3 7,9 1,95
200 3,3333 8,0 1,2 9,1 1,80
240 4,0000 6,8 1,2 10,3 1,80
f t = f c + ( f 0 − f c ).e − k .t (6.1)
ft: taxa de infiltração no tempo t;
t: tempo transcorrido desde o início do processo de infiltração;
f0: taxa de infiltração inicial (tempo t = 0);
fc: taxa de infiltração alcançada quando a umidade do solo está próxima da saturação;
k: taxa de decaimento constante da taxa de infiltração, específica para cada solo.
62
A taxa de decaimento k pode ser estimada por:
k = ( f 0 − f c ) / Fc (6.2)
Onde Fc é a área sob o gráfico da curva da taxa de infiltração. Para obter Fc é necessário
ajustar uma curva aos pontos da Figura 6.5 á mão e estimar a área sob a projeção da curva no eixo
x, porém esta opção não é muito prática. Uma maneira mais rápida de ajustar equação de Horton
aos pontos obtidos é pelo uso de programas de computador que utilizam o método dos quadrados
mínimos. No exemplo visto a seguir foi utilizado o programa Graph 4.3, que pode ser obtido
gratuitamente no site http://www.padowan.dk/graph/. É possível escolher a equação à qual se
deseja ajustar os dados, por meio das opções “inserir ajuste de curva” e depois “definida pelo
usuário”. Escolheu-se um ajuste para duas variáveis, f0 e k, já que fc pode ser determinado no campo
com bastante precisão (taxa de infiltração que determina o encerramento do teste).
A equação de Horton foi inserida no programa na forma 1.8+($a-1.8)*EXP(-$b*x), já que o
programa usa ponto e não vírgula para separar os valores decimais.
O valor fc = 1,8 foi aquele obtido para os dois últimos dados taxa de infiltração da Tabela
6.1;
$a representa a variável f0;
$b representa a variável k;
X representa o tempo t.
Esta equação, ajustada aos pontos da coluna F da Tabela 6.1, nos dá a curva apresentada na
Figura 6.5.
63
Taxa de Infiltração (cm/h)
14
13
12
11
10
1
Tempo (h)
0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
-1
Figura 6.5. Curva da taxa de infiltração em função do tempo, obtida a partir do ajuste da equação
de Horton aos dados da determinação a campo (Tabela 6.1).
A partir da integração da equação anterior em relação ao tempo, é possível estimar o volume
total de água infiltrado (Ft) desde o início do processo até o tempo t:
( f − fc )
Ft = f c .t + 0 .(1 − e −k .t ) (6.3)
k
Substituindo os valores ajustados, obtemos:
Ft = 1,8.t + 3,232.(1 − e −3,7971.t ) (6.4)
A Equação 6.4 que está ajustada aos pontos da coluna E da Tabela 6.1, apresentada na
Figura 6.6.
64
Infiltração acumulada (cm)
14
13
12
11
10
1
Tempo (h)
0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
-1
Figura 6.6. Curva da lâmina de infiltração acumulada em função do tempo, obtido a partir do ajuste
da equação de Horton integrada em relação ao tempo aos dados da coluna E da Tabela 6.1.
Exemplo de aplicação:
Por quanto tempo a água deverá ficar retida ou escoando sobre um ponto determinado para
que seja adicionada uma lâmina de água de 40 mm ao solo?
Ft = 1,8.t + 3,232.(1 − e −3,7971.t )
65
Figura 6.7. Material para realização do teste de infiltração pelo método do cilindro único.
Considerações:
O método do anel único, proposto por Roose et al. (1993), exige pouco material, pouca água
e pouco tempo de observação, permitindo uma série de repetições com maior confiabilidade. O
método é bastante sensível à condição estrutural do solo (rugosidade, atividade biológica, cobertura
vegetal, umidade, fissuração, porosidade e agregação). Se o solo estiver seco, permite examinar a
permeabilidade relativa dos horizontes subsuperficiais, a forma da frente de molhamento e os riscos
de drenagem lateral.
Material necessário:
• Cilindro de 10cm de diâmetro e 15cm de altura - tubo de PVC, acrílico ou metal -
com borda cortante (bisel) na parte inferior;
• Régua de no mínimo 15cm;
• Papel de filtro de vazão rápida ou plástico suficiente para evitar a abertura de buraco
no solo durante o enchimento do cilindro com água;
• Cronômetro;
• Duas vasilhas de 500 cm3;
• Ferramentas para escavação;
• Papel e caneta para anotações.
Procedimento:
Escolher área representativa da superfície do solo, se possível em um período seco, após, no
mínimo, cinco dias sem chuva ou irrigação;
Enterrar o cilindro de 2 a 3cm, perturbando o mínimo possível a superfície do solo. Resíduos
e raízes superficiais devem ser cortados com uma tesoura. A introdução do cilindro pode ser
facilitada umedecendo suas paredes para diminuir o atrito com o solo;
Vedar a parte externa do cilindro, em contato com o solo, com ajuda de terra fina,
umedecida e compactada, a fim de evitar vazamento da água que estará no interior do cilindro;
66
Ajustar o papel de filtro no fundo do cilindro para evitar que a água, ao ser colocada,
perturbe a superfície do solo. Também pode ser utilizado um plástico, que será retirado no inicio do
teste;
Afixar a régua à parede do cilindro, acima do papel de filtro ou, no caso de uso de plástico,
entre o plástico e a parece interna do cilindro;
Colocar a água com cuidado, evitando ao máximo erodir a superfície do solo ou destruir a
cobertura vegetal, até chegar a uma altura mínima de 5cm (pode ser um pouco mais para dar tempo
até a leitura inicial);
Se estiver sendo utilizando filme plástico, retirá-lo lentamente. Disparar o cronômetro e
fazer a leitura inicial (T0) quando a altura da água estiver a 5 do fundo do cilindro;
Anotar o tempo de passagem do nível da água a cada 0,5cm, até que toda a água tenha
infiltrado (realizar também leitura de tempo com nível de 0cm);
Repetir o teste logo em seguida caso esteja utilizando papel de filtro, ou colocar o plástico e
a água no cilindro e recomeçar;
Após realizar 5 repetições, retirar o cilindro;
Coletar rapidamente uma amostra de solo para determinação da umidade gravimétrica
máxima. Caso seja necessário determinar também a densidade do solo, usar cilindro de volume
conhecido para coletar amostra com estrutura natural (Figura 6.8);
Figura 6.8. Coleta de amostra com estrutura natural (não deformada) dos primeiros 5cm de solo.
Em área próxima, coletar outra amostra para determinação da umidade inicial do solo;
Abrir uma trincheira a partir da posição do cilindro, para exame da mancha formada pela
água infiltrada no solo. Cavar com uma pá de corte e completar com uma faca até que toda a
mancha esteja aparente (Figura 6.9);
67
Figura 6.9. Trincheira escavada para mostrar a mancha formada pela infiltração da água (frente de
molhamento) após aplicação de duas lâminas de água de 5cm.
Observar e desenhar a forma da mancha deixada pela água, anotando a profundidade (H) e a
largura (Largura/2 = raio R). A largura deve ser determinada a cada 5cm de profundidade para
cálculo do diâmetro médio da frente de molhamento;
Cobrir o solo acima da frente de molhamento com um plástico para impedir perdas por
evaporação ou acréscimo de água pela precipitação;
Retirar nova amostra após 24 horas do teste para determinar a umidade de capacidade de
campo;
A sensibilidade do teste é tal que bastam cinco repetições. Determinações em uma trincheira
em escada permitem a compreensão do comportamento hídrico de cada horizonte pedológico
descrito.
68
Figura 6.10. Formas da frente de umedecimento em função das características hidrodinâmicas dos
horizontes do solo: (a) Solo de características arenosas, permeável; (b) Solo argiloso com
porosidade fina; (c) Solo pouco permeável, compactado; (d) Horizonte permeável sobre um
horizonte sub-superficial pouco poroso com tendência à drenagem oblíqua.
69
15mm. Em nosso exemplo, o cálculo foi feito para a infiltração de duas lâminas de 50mm. Foi
utilizado o último valor observado sob a segunda lâmina, para os dois solos.
Constatando-se a existência de movimentação lateral da água, indicada pela forma da frente
de molhamento, a velocidade de infiltração final deverá ser dividida por um coeficiente de correção,
que varia de 2 a 8. Esta correção é necessária porque teoricamente, deveríamos ter uma frente de
molhamento com o mesmo diâmetro do cilindro, visto que estamos pesquisando como aconteceria a
infiltração de uma lâmina d’água que incidisse sobre todo o terreno (ou seja, um número infinito de
cilindros colocados lado a lado). Como a medida é feita com um só cilindro, temos que
desconsiderar a movimentação lateral, que faz com que o raio médio da frente de molhamento (R)
exceda o raio do cilindro (r). A correção é feita em função do quociente entre o volume da frente de
molhamento e o do cilindro, da seguinte forma:
Vol .FrenteMolh amento π .H .R 2 R 2 R 2
= = = (6.5)
Vol .Cilindro π .H .r 2 r 2 25
Exemplo de aplicação:
70
Tabela 6.3. Dados para resolução do exemplo.
PREPARO CO
VE
CIO
AL PLA
TIO DIRETO
Lâmina total 100 mm 100 mm
Tempo total para duas lâminas 15,47 min 4,27 min
Infiltração média 387,8 mm/h 1405,1 mm/h
Infiltração final 375 mm/h 1034,5 mm/h
Raio médio da frente de molhamento 8,25 cm 10,5 cm
Fator de correção 2,72 4,40
Infiltração final corrigida 137,9 mm/h 235,1 mm/h
Figura 6.11. Curvas da infiltração no solo sob Figura 6.12. Curvas da infiltração no solo sob
sistema convencional de preparo. sistema de plantio direto.
Referências bibliográficas
BERNARDO, S. Manual de irrigação. Viçosa, Editora da UFV, 1989.
CAUDURO, F.A. e DORFMAN, R. Manual de ensaios de laboratório e de campo para
Irrigação e Drenagem. Porto Alegre, PRONI: IPH-UFRGS, s.d.
GLIESSMANN, S.R. Agroecologia – Processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto
Alegre, Editora da UFRGS, 2000.
REICHARDT, K. A água em sistemas agrícolas. São Paulo, Manole, 1987.
RIGHETTO, A.M. Hidrologia e recursos hídricos/ Antônio Marozzi Righetto. São Carlos:
EESC/USP, 1998. 840p:il.
ROOSE, E.; BLANCANEAUX, Ph.; FREITAS, P.L.de. Un simple test de terrain pour évaluer la
capacité d'infiltration et le comportement hydrodynamique des horizons pédologiques
superficiels: méthode et exemples. Cahiers Orstom, Série Pédologie (Spécial érosion:
réhabilitation des sols), Paris, vol. XXVIII, n. 2, p 413-419, 1993.
71
7. PERCOLAÇÃO
Masato Kobiyama
Aline de Almeida Mota
7.1.1 Densidade
Há dois tipos de parâmetros que explicam a densidade dos solos. Um é a densidade das
partículas que pode ser chamada densidade real ou massa específica das partículas, sendo expressa
como:
m
ρp = s (7.1)
Vs
72
onde ρ p é a densidade das partículas em g/cm3 ou kg/m3; ms é a massa de sólidos; e Vs é o
volume dos sólidos. A densidade de quartzo é 2,65 g/cm3 (= 2.650 kg/m3), e este mineral é
componente freqüente no solo. Portanto, o valor típico para solo comum é também de 2,65 g/cm3.
O outro parâmetro é a densidade do solo, e também é chamado como densidade global,
densidade aparente ou massa específica do solo seco. Ela é:
m + mar ms
ρ ss = s ≈ (Q mar ≈ 0) (7.2)
Vt Vt
onde ρ ss é a densidade do solo em g/cm3 ou kg/m3; mar é a massa do ar; e Vt é o volume
total do solo. Os valores típicos para solo arenoso, argiloso e orgânico podem ser 1,3 a 1,8 g/cm3,
1,1 a 1,4 g/cm3, e 0,2 a 0,6 g/cm3, respectivamente.
7.1.3 Porosidade
A porosidade total é expressa como:
V + Var Vt − Vs V m V ρ
α t = ag = = 1 − s = 1 − s t = 1 − ss (7.6)
Vt Vt Vt ms Vs ρp
onde αt é a porosidade total em cm3/cm3 ou m3/m3; e Var é o volume do ar. Seus valores
típicos para solo arenoso, siltoso, argiloso, e orgânico são de 0,55 m3/m3, 0,6 m3/m3, 0,65 m3/m3, e
0,8 m3/m3, respectivamente. Assim, pode-se dizer que, em geral, o solo com a textura mais fina
possui o maior valor da porosidade total. Entendendo o fato de que as fases líquida e gasosa são
complementares, facilmente obtém-se a fórmula de porosidade de aeração, isto é:
α ar = α t − θ (7.7)
73
onde αar é a porosidade de aeração em cm3/cm3 ou m3/m3. Quando θ = α t , o solo está
saturado. E quando θ < α t , o solo está na condição não saturada. Normalmente a condição na qual
αar > 15% é desejável para obtenção do crescimento ideal das plantas em geral.
O sistema de poros do solo é complexo. Em geral, os poros podem ser classificados em dois
tipos: os macro e os microporos (BRADY, 1984). Segundo HILLEL (1980a), os macroporos são,
na sua maioria, cavidades de interagregados que atuam como os principais caminhos para
infiltração e drenagem da água, bem como para a aeração. Os microporos, por sua vez, são as
capilaridades dos interagregrados pela retenção de água e de solutos. A diferenciação prática entre
estes, porém, é algo muito difícil, sendo esta separação normalmente arbitrária.
KIEHL (1979) também classificou os macroporos como os maiores poros, geralmente
preenchidos pelo ar do solo. De maneira semelhante, os microporos são definidos como os menores
poros, capilares, principais responsáveis pelo armazenamento da água.
Há uma tendência, entre os pesquisadores, de primeiro definirem a macroporosidade. Isto
gerou, como conseqüência, uma tendência a determinar a microporosidade pela diferença entre a
porosidade total e a macroporosidade. REICHARDT (1987) definiu a macroporosidade como uma
porosidade livre de água, sendo assim constituída pelos poros maiores com diâmetro maior que 0,05
mm, o que corresponde a uma sucção de 60 cm de água.
A macroporosidade foi definida por NELSON e BAVER (1940) como a porosidade não-
capilar. Tais autores também indicaram como limite de separação entre esta e a microporosidade, o
diâmetro de 0,1 mm. Este diâmetro mínimo da macroporosidade foi definido por MARSHALL
(1959) como 0,03 mm. BOUMA et al. (1977) definiram o mesmo como 0,1 mm e GERMANN e
BEVEN (1981) como 3 mm. Este diâmetro pode, às vezes, possuir um valor maior, como quando
delimitado pelo diâmetro de galerias de minhocas (EHLERS, 1975), dos canais formados pelas
raízes (AUBERTIN, 1971), e rachaduras de contração do solo (LEWIS, 1977).
EDWARDS et al. (1979) usaram valores de 5 e 10 mm para os diâmetros de poro em um
estudo de modelagem numérica para avaliar os efeitos dos poros não-capilares sobre a infiltração.
Esta desuniformidade no uso dos termos macro e microporosidade pode conduzir à
ambigüidade, particularmente com o interesse renovado pelos fenômenos de canalização da água no
solo (THOMAS e PHILLIPS, 1979).
Ao introduzir o conceito de mesoporosidade, LUXMORE (1981) propôs uma classificação
dos poros do solo. Nesta classificação, os macroporos são definidos como os poros maiores que 1
mm, e geram o fluxo do canal quando ocorrem o alagamento superficial e o lençol freático pousado.
Os mesoporos são os poros com diâmetro compreendido entre 0,01 e 1 mm, responsáveis pela
drenagem sujeita a força gravitacional. Os poros com diâmetro inferior a 0,01 mm passam a ser
definidos como microporos, que influenciam a evapotranspiração.
RUSSELL (1973) sugeriu outra classificação, separando os poros em: poros grosseiros (>0,2
mm), poros médios (0,02 - 0,2 mm), poros finos (0,002 - 0,02 mm) e poros muito finos (<0,002
mm). Na classificação proposta por EHLERS (1973) a divisão foi feita em: poros grandes (>0,03
mm), poros médios (0,003 - 0,03 mm), poros pequenos (0,0002 - 0,003 mm) e poros muito
pequenos (<0,0002 mm). A proposta de BREWER (1964), separa os poros como macroporo
grosseiro (>5 mm), macroporo médio ( 2 -5 mm), macroporo fino ( 1 -2 mm), macroporo muito fino
(0,075 -1 mm), mesoporo (0,03 - 0,075 mm), microporo (0,005 - 0,03 mm), ultramicroporo (0,0001
- 0,005 mm) e criptoporo (<0,0001 mm).
74
Criticando todos estes tipos de classificações, que dividem os poros arbitrariamente, e
enfatizando a necessidade de considerar-se os processos que ocorrem continuadamente no solo,
SKOPP (1981) afirmou ser a simples definição do tamanho um indicador inadequado para uma
classificação. Propõe este autor uma classificação qualitativa, usando dois tipos: macroporosidade e
porosidade matriz. A macroporosidade sendo definida como a porosidade formada pelos poros que
fornecem o fluxo preferencial, e a porosidade matriz sendo definida como a porosidade que
transmite água e solutos com menor velocidade.
Uma divisão proposta por OKA (1986), em uma simulação numérica, também separa os
poros em macroporos e poros matrizes, usando o valor de 1 mm como limite para sua separação.
Uma revisão sobre a importância dos macroporos sobre o fluxo da água no solo foi feita por
BEVEN e GERMANN (1982). Estes autores detectaram implicações sobre o movimento rápido dos
solutos e poluentes através do solo.
Considerando o papel hidrológico da porosidade, TAKESHITA (1985) classificou os poros
como (Tabela 7.1):
[Exercício 1]
Você escavou o solo até 30 cm de profundidade utilizando um trado de 10 cm de diâmetro.
A massa úmida do solo removido apresenta 3,5 kg das quais 0,7 kg é de água. Se ρ p = 2.650 kg/m3
e ρ ag = 1.000 kg/m3, determine (a) ρss, (b) U, (c) θ, (d) αt, (e ) z até Z = 30 cm, e (f) αar.
76
mu − ms 3,5 − 2,8
b) Usando a Equação (7.3), U = = = 0,25 [kg/kg ] = 25%
ms 2,8
ρ ss
≈ 0,297 [m 3/m 3 ] = 29,7%
1189
c) Usando a Equação (7.4), θ = U ⋅ = 0,25 ⋅
ρ ag 1000
ρ ss
≈ 0,551 [m 3 /m 3 ] = 55,1%
1189
d) Usando a Equação (7.5), α t = 1 − =1−
ρp 2650
e) Usando a Equação (7.8), z = θ ⋅ Z = 0,297 ⋅ 30 = 8,91 [cm ]
[ ]
f) Usando a Equação (7.6), α ar = α t − θ = 0,551 − 0,297 = 0,254 m 3 /m 3 = 25,4% . Como
α ar = 25,4% > 15% (= valor mínimo para planta), pode-se dizer que o solo se encontra bem aerado.
[Exercício 2]
Os dados da tabela a seguir foram obtidos num perfil de solo utilizando-se cilindros de 50
mm de diâmetro e 40 cm altura. Se ρ p = 2.650 kg/m3 e ρ ag = 1.000 kg/m3, determine (a) ρss, U, e
θ, por camada; (b) o armazenamento de água até 1200 mm de profundidade; e (c) o volume de água
existente em 1,0 ha desse solo até a mesma profundidade.
77
Realizando o mesmo processo para as outras camadas, obtém-se a seguinte tabela.
^z ρss U θ
[mm] [kg/m3] [kg/kg] [m3/m3]
0-200 1191 0,1582 0,1884
200-400 1148 0,1700 0,1952
400-600 1151 0,1893 0,2179
600-800 1162 0,2124 0,2468
800-1000 1161 0,2323 0,2697
1000-1200 1176 0,2587 0,3042
média 1165 0,2035 0,2370
v2 p
Vamos ver novamente a equação de Bernoulli. h = +z+ (7.10)
2g ρ⋅g
78
No caso do fluxo no meio poroso saturado, v é permeabilidade e se chama condutividade
hidráulica saturada (Ks). Aqui, vamos supor que v (=Ks) = 1 m/dia = 1,157·10-5 m/s.
Neste caso,
v2
=
(
1,157 ⋅ 10−5)
2
7.2.2 Condição não saturada (Zona vadosa, θ < θs = αt, αar > 0)
Na não saturação, a Equação 7.11 pode ser utilizada para definir o estado de energia, mas
p
com uma diferença muito importante. Na não saturação, os valores de são negativos ou nulos.
ρ⋅g
Para medir esses valores, utiliza-se um aparelho que se chama tensiômetro (Figura 7.2).
79
Força no B = h ⋅ 13,6
Para o equilíbrio,
p
h ⋅ 13,6 = h + h1 + h2 −
ρ⋅g
p
= −13,6h + h + h1 + h2 = −12,6h + h1 + h2
ρ⋅g
Quanto mais seco, tanto mais alta a coluna do mercúrio.
[Exercício 3]
p
Quando h = 56,5 cm, h1 = 30 cm, h2 = 20 cm, determine o valor de .
ρ⋅g
p
= −12,6 ⋅ 56,5 + 30 + 20 = −662 cmH 2O
ρ⋅g
O tensiômetro funciona bem até a pressão de -102,7 (≈ -500 cmH2O) a -102,9 (≈ -800
cmH2O). Quando a pressão é menor do que este, ou seja, a tensão é maior do que este valor, a água
não possui resistência contra pressão e a coluna se rompe, entrando muitas bolinhas na mangueira.
80
[Exercício 4]
(a) Qual fluxo que passa pela amostra da figura?
p
h1 = z1 + 1 = 15 + 5 = 20 [cm]
ρ⋅g
p2
h2 = z2 + = 0 + 0 = 0 [cm]
ρ⋅g
dh h1 − h2 20 − 0
= = = 1,333 [cm/cm]
dz 15 15
Usando a equação de Darcy,
dh
q = KS = 1 ⋅ 1,333 = 1,333[cm / h] ≈ 3,7 ⋅ 10− 4 [cm / s ]
dz
(b) Qual a vazão que passa pelo solo, se a área interna do cilindro é de 100 cm2?
Q = q·A = 1,333·100 = 133,3 [cm3/h]
(c) Para se determinar Ks de um solo, foi montado um arranjo esperimental tal como o
esquematizado na figura acima. O volume de água coletado na proveta, após 20 min de coleta foi
300 cm3. Qual o valor de Ks?
V dh
A equação de Darcy é: = q = KS
A⋅t dz
V 300
Então, K S = = ≈ 0,113 [cm/min] ≈ 1,88·10-3 [cm/s]
dh 100 ⋅ 20 ⋅ 1,333
A⋅t ⋅
dz
[Exercício 5]
Sendo Ks = 10 cm/h e A = 0,01 m2, pergunta-se:
quanto tempo é necessário para se ter 200 mm da água passando através da coluna da figura.
p
h1 = z1 + 1 = 100 + 5 = 105 [cm]
ρ⋅g
p2
h2 = z2 + = 0 + 0 = 0 [cm]
ρ⋅g
dh h1 − h2 105 − 0
= = = 1,05 [cm/cm]
dz 100 100
V dh 20 [cm]
Como = q = KS , = 10 [cm/h] ⋅ 1,05
A⋅t dz t
Então, t = 20/(10·1,05) ≈ 1,9 [h] ≈ 114,3 [min]
81
Essa equação se chama equação de Buckingham-Darcy. A diferença entre as equações
(7.12) e (7.13) é que Ks é constante na Equação 7.12, e que K(θ) varia e é uma função da umidade
(θ) na Equação 7.13. Então, pode-se dizer que a Equação 7.12 é um caso particular da (7.13).
Há diversos métodos propostos para determinar K(θ) em laboratório e em campo. Um dos
métodos mais utilizados é o método de VAN GENHUCHTEN (1980). A fácil utilização desse
método foi verificada por PREVEDELLO et al. (1995).
1 − S
m
1
S
m
ψ (θ ) = ψ (S ) = (7.20)
α
Substituindo a Equação (7.20) na Equação (7.14):
2
1
1 S Sm
1
n
∫ dS
0 1
1 α
f (S )
2
1 − S m
1
K r (S ) = S 2 ⋅ = S2 ⋅ (7.21)
f (1)
1
1 1 Sm
1
n
∫ dS
α 0
1
1 − S m
1 1
m1 n m1 n
S x
onde: f (S ) = ∫ dS = ∫
S S
dx (7.22)
0 1 0 1
1 − S 1 − x
m m
S m m -1+ −
1
y n
m −1
1
f (S ) = ∫ d y = m ∫ y n ⋅ (1 − y ) n d y
Sm
my (7.23)
0 1− y
0
Segundo VAN GENUCHTEN (1980),
1
m =1− (7.24)
n
Então, a Equação (7.23) torna-se:
1
Sm
(1 − y )
1 m
m 1
f (S ) = m ∫ (1 - y )
Sm m -1
d y = m = − m
1 S −1 (7.25)
m 0
0
Portanto: f(1) = - 1 (7.26)
Substituindo as equações (7.25) e (7.26) na Equação (7.21), obtém-se
83
2
1 1 m
1
K r (S ) = S 1 − 1 − S na condição de m = 1 − e 0 < m < 1
2 m
(7.27)
n
Consultando as equações (7.14), (7.15) e (7.27), obtém-se
2
1
2 1 1 m
1
m
θ − θr 2 θ − θr
m
K (θ ) = K s ⋅ S 2 1 − 1 − S m = K s 1 − 1 −
(7.28)
θs − θr θs − θr
Substituindo a Equação (7.17) na (7.28), têm-se:
[ )]
2
1 − (α ψ )n −1 1 + (α ψ n −m
K (ψ ) = K s (7.29)
[ ]
m
1 + (α ψ ) 2
n
C (ψ ) = (7.30)
[1 + (α ψ ) ]n m +1
= ⋅S
-
m -
⋅ S −1
m (7.32)
dθ α ⋅ m ⋅ ( θs - θr )
Devido à condutividade hidráulica e a curva de retenção, pode-se derivar uma expressão de
difusividade definida por CHILDS e COLLIS-GEORGE (1950) como:
dψ
D (θ ) = K (θ ) ⋅ (7.33)
dθ
Substituindo as equações (7.28) e (7.32) na Equação (7.33), obtém-se:
D( θ) = D( S)
2
( 1 − m) 1 − m1
m 1 1 m
⋅ S − 1 ⋅ Ks ⋅ S ⋅ 1 − 1 − S
- -1
= ⋅S m 2 m
α ⋅ m ⋅ ( θs - θr )
m 2m
1
1
1 − 21 − S + 1 − S
m m
( 1 − m) ⋅ Ks 1 1
-
= ⋅S 2 m ⋅
α ⋅ m ⋅ ( θs - θr ) − 1
m
SS m
− 1
84
m 2m
1
1
1 − 21 − S + 1 − S
m m
( 1 − m) ⋅ Ks 1 1
-
= ⋅S 2 m ⋅
α ⋅ m ⋅ ( θ s - θr ) 1 m
1- S m
S
S
( 1 − m) ⋅ Ks 1 1
-m 1 m
1
m m
-
= ⋅S 2 m ⋅ 1− S + 1− S − 2 (7.34)
α ⋅ m ⋅ ( θs - θ r )
Em geral, as equações (7.18), (7.19), (7.28), (7.29), (7.30) e (7.34) são conhecidas como as
equações de VAN GENUCHTEN (1980).
[Exercício 6]
(a) Dados obtidos no Lab. de Física do Solo da UFPR: Ks = 0,95 cm/min
p/ρg θ
[cmH2O] [cm3/cm3]
11,5 0,3816
21,5 0,3831
41,0 0,1749
58,0 0,1040
81,5 0,0245
111,0 0,0199
195,0 0,0021
85
(c) Nesta condição, quais os correspondentes valores de θs em z = 30 e 50 cm?
Usando a Equação (7.35),
θ 30 = 0,005 +
0,391
[
= 0,2789 cm3 /cm3 ]
{
1 + (0,029 ⋅ − 30 ) }
4 ,178 0, 761
θ 50 = 0,005 +
0,391
[
= 0,1808 cm3 /cm3 ]
{1 + (0,029 ⋅ − 40 ) }
4 ,178 0 , 761
(f) Qual o volume de água passa na região do fluxo durante uma hora num hectare?
Volume = q·A·t = 0,10·10000·1 = 1000 m3.
[Exercício 7]
Você coletou amostras não deformadas de solo em uma área do seu projeto de irrigação.
Com estas amostras, fez uma análise de retenção de água com o método de van Genuchten e teve
resultados a seguir: α = 0,04 [cm-1]; θs = 0,6 [cm3/cm3]; θr = 0,15 [cm3/cm3]; n = 2, m = 0,5. Neste
local, você instalou dois tensiômetros (superior A e inferior B) em profundidades de z = 20 cm e 40
cm, respectivamente.
Num dia, você mediu eles e observou que as alturas da coluna do Hg foram 50 cm e 45 cm
nos A e B, respectivamente. Então, a água está subindo ou descendo? Admite que a altura do nível
do Hg nas cubas, a partir da superfície do solo foi de 10 cm para ambos tensiômetros.
pA
= −12,6 ⋅ 50 + 10 + 20 = −600 [cm]
ρ⋅g
pB
= −12,6 ⋅ 45 + 10 + 40 = −517 [cm]
ρ⋅g
pA
Então, hA = z A + = −20 − 600 = −620 [cm]
ρ⋅g
pB
hB = z B + = −40 − 517 = −557 [cm]
ρ⋅g
Como hA < hB, a água está subindo.
86
(b) Determine os valores de θ em z = 20 e 40 cm.
0,45
Usando a Equação (7.3), θ = 0,15 +
2 0,5
ρ
1 + 0,04
ρg
Então, θ 20 = 0,15 +
0,45
[
≈ 0,169 cm3 /cm3 ]
{
1 + (0,04 600 )
2 0,5
}
θ 40 = 0,15 +
0,45
[
≈ 0,172 cm3 /cm3 ]
{1 + (0,04 517 ) }
2 0,5
(c) Sabendo que Ks = 2 [cm/min], calcule o fluxo que está subindo (ou descendo).
A umidade média na região do fluxo é :
θ +θ 0,169 + 0,172
θ = 20 40 =
2 2
≈ 0,171 cm3 /cm3 [ ]
Nesta condição, a condutividade hidráulica não saturada é
2
1 1 0,5
0,171 − 0,15 0,171 − 0,15 0,5
≈ 5,128 ⋅ 10 [cm/min ]
2
K (0,171) = 2 1 − 1 − −7
0, 45 0, 45
dh − 557 − (− 620 )
O gradiente hidráulico é = = 3,15 [cm/cm]
dz 40 − 20
dh
Então, q = K (θ ) = 5,128 ⋅ 10− 7 ⋅ 3,15 = 1,615 ⋅ 10− 6 [cm/min ]
dz
(d) Qual o tempo necessário para ter um volume de água de 1 litro que passa numa área de 1
hectare?
t=
V
=
[ ]
103 cm3
≈ 6,19 minutos ≈ 6 minutos 12 segundos
q ⋅ A 1,615 ⋅ 10 − 6 [cm/min] ⋅ 108 cm 2 [ ]
A partir da teoria de Laplace, pode-se determinar a ascenção capilar, h, como:
2σ ⋅ cos α c
h= (7.37)
g ⋅ρ ⋅r
onde σ é a tensão superficial; αc é o ângulo de contato; g é a aceleração gravitacional; ρ é a
densidade da água; e r é o raio do capilar.
Assumindo que σ = 73,5 (dyn/cm), ρ = 1 (g/cm3), g = 980 (cm/s2), αc = 0o, obtém-se
0,3 0,3
h= = (7.38)
2r d
onde d é o diâmetro equivalente do poro (cm). Neste caso pode-se considerar que h é sucção
da água em altura (cm). Usando a eq. (7.38), pode-se construir a relação entre o diâmetro
equivalente do poro e a sucção.
87
Como acima mencionado, por meio de derivar a eq. (7.18), obtém-se uma relação entre
capacidade específica da água C e ψ , ou seja, a eq. (7.30). A curva expressa pela eq. (7.30)
demonstra a distribuição de poros no solo.
Através dessa distribuição, pode ser determinado o valor de ψMÁX que fornece o máximo
valor de C( ψ) . Então, matematicamente, tem-se:
d C (ψ MAX ) d 2θ (ψ MAX )
= =0 (7.39)
dψ dψ 2
ou seja
/
n - 1 , n m + 1
( ) ( )
n m+1
( ) ( ) αn ψMÁX
n-1
n
m n θs - θr α ψ MÁX 1 + α ψ - m n θs - θr 1 + α ψ
MÁX MÁX
2 = 0 (7.40)
n m + 1
1 + α ψMÁX
( )
Simplificando a Equação (7.40), obtém-se finalmente,
1
1 n −1n
ψ MAX = (7.41)
α n
Assim, o valor de ψMÁX de cada solo pode ser determinado com sua curva característica de
retenção de água. Como ψMÁX é o valor que define o tamanho (diâmetro) médio do poro, definido
por COLLIS-GEORGE et al. (1971), então inserindo a Equação (7.41) na Equação (7.38), obtém-
se:
0,3
DM = 1
(7.42)
1 n −1n
α n
onde DM é tamanho médio do poro. Assim, o tamanho médio do poro pode ser estimado a
partir da equação de Van Genuchten (1980).
88
Desta maneira, MINELLA et al. (1999) procuraram uma nova equação para um latossolo do
município de Foz do Iguaçu e compararam-na com a curva universal estabelecida pelo fabricante do
aparelho. Os mesmos autores mostraram a diferença significativa entre duas curvas (Figura 7.3),
sugerindo que para cada tipo de solo existe uma equação de ajuste.
Figura 7.3. Comparação entre os dados observados, a curva para o latossolo e a curva proposta pelo
fabricante do TDR. (Fonte: MINELLA et al., 1999)
isotrópica anisotrópica
homogeneidade
heterogeneidade
7.6.2 Aqüíferos
Aqüíferos: Uma formação geológica que contém água e permite que a mesma se movimente
em condições naturais e em quantidades significativas.( Figura 7.6)
• Aqüífero freático (não confinado): possui lençol freático (superfície livre)
• Aqüífero confinado: sub pressão positiva (às vezes, artesiano)
90
Aqüiclude: Uma formação geológica que pode conter água mas sem condição de
movimentá-la em condições naturais e em quantidades significativas.
Aqüitarde: Uma formação geológica de natureza semipermeável, que transmite água a uma
taxa muito baixa, comparada com a do aqüífero.
91
Rio é afluente Rio é efluente.
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96
8. CO
CEITOS BÁSICOS DE HIDRÁULICA DE CA
AIS
8.1 Introdução
Os escoamentos da água em rios, canais, canalizações de esgoto sanitário ou pluvial, são
todos do mesmo tipo. Chamam-se escoamentos livres. Funcionam somente com a energia da
gravidade e sempre tem pressão atmosférica na superfície da água. Para que isso, é necessário que o
fundo esteja inclinado no sentido longitudinal do fluxo. Se, em toda a extensão do rio, o fundo for
horizontal, a água estaria imóvel. Neste último caso, teríamos então uma espécie de reservatório
estreito e bem extenso e o caso seria estudado como Hidrostática. Um rio pode até ter alguns
pequenos trechos curtos sem declividade mas não em toda sua extensão. Além disso,
diferentemente dos condutos forçados, a água não precisa necessariamente ocupar todo o espaço da
secção transversal disponível. É até interessante que o escoamento trabalhe com uma certa folga ou
seja, com altura menor do que a de extravasamento. No caso dos esgotos, tanto sanitários como
pluviais, a referida altura deve ser portanto inferior ao diâmetro. Ainda neste último caso, convém
lembrar que se a altura for igual ao diâmetro e a mencionada pressão for maior que a atmosférica, o
caso deixará de ser o de um escoamento livre e será portanto um conduto forçado com suas
fórmulas específicas.
Como a vazão aqui é constante, se nenhuma alteração for introduzida, a superfície da água
ficará estabilizada. Note que tanto do lado esquerdo (montante) como do lado direito (jusante) a
superfície da água apresenta as chamadas “curvas de remanso”. Assim, essas duas extremidades
apresentam o MPGV. Na zona central teremos aproximadamente o MPU. Será exatamente MPU se,
98
como já foi dito, o canal for suficientemente extenso para que a aceleração seja nula e a superfície
seja paralela ao fundo. Assim, é preciso “dar tempo à água” para que ela saia da curva de montante
e se estabilize no MPU. No final de jusante, o escoamento lentamente começa a desacelerar
aumentando sua altura para se adaptar à condição de contorno de jusante, no caso o nível de um
lago ou mar.
Para uma análise transversal do escoamento, apresenta-se a Figura 8.2 com uma secção do
tipo trapezoidal. Com a variação do ângulo do talude ( para tem-se portanto uma secção
retangular ou até mesmo quadrada dependendo da altura da água. Por esta razão, com uma mesma
metodologia de cálculo pode-se resolve-se várias secções. Por essa razão essa é a forma geral de
secção mais utilizada na prática. Basicamente essa análise transversal ao fluxo abrange apenas duas
coisas: geometria e distribuição das velocidades pontuais da água que são as linhas isótacas. Essas,
analogamente às curvas de nível da topografia, ligam pontos de mesma velocidade. A velocidade
pontual é máxima numa região central um pouco abaixo da superfície da água. No fundo e nas
paredes, a velocidade é zero. A isótaca correspondente à velocidade média estaria aproximadamente
situada na faixa central de cor cinza. Sua exata posição dependeria da medição de velocidade em
muitos pontos.
onde α é o coeficiente de Coriolis (número > 1 para compensar distribuição das velocidades
individuais dos diferentes filetes). Na prática, pode-se tomar α = 1; I é a declividade longitudinal do
fundo do canal; J é a declividade da linha de energia; g é a aceleração da gravidade em m/s2.
Essa equação também pode ser ampliada ou diminuída para poder adequar-se à casos
especiais. O sistema formado pelas duas citadas equações descreve satisfatoriamente um
escoamento não permanente gradualmente variado, por exemplo, uma propagação de cheia em um
rio. A integração exata desse sistema de equações é praticamente impossível a não ser em casos
particulares simplificados. Normalmente o que se utiliza é a solução por métodos numéricos como,
por exemplo, “diferenças finitas”, fora do alcance desse texto. Na literatura específica de modelos
matemáticos podem ser encontrados todos os detalhes. Para casos simplificados da prática, como
por exemplo, secção transversal constante, altura constante, vazão constante, canal prismático
retilíneo, etc, as duas equações já comentadas tornam-se muito mais simples e dispensam tais
cálculos numéricos.
A seguir então são mostradas as equações para os mencionados casos práticos simplificados:
Equação da continuidade para movimentos permanentes:
Q = AiVi = AV = cte (8.5)
onde Q é a vazão em m3/s ; Ai é a área da secção i em m2; Vi é a velocidade média na secção
i em m/s.
Essa equação vem do conceito de vazão como sendo um volume de água que passa, dividido
pelo tempo transcorrido. Se considerarmos o escoamento como um prisma reto, esse volume será a
área da secção multiplicada por uma certa distancia. Esta, por outro lado, é uma velocidade média
multiplicada por um determinado tempo. Dessa forma, chega-se à citada equação 8.5. Neste texto, o
termo simplificado “secção” aparecerá várias vezes e significará, à rigor: “secção transversal”,
perpendicular à direção do escoamento. Para deixar bem claro, uma “velocidade média” será então:
V = Q/A. Essa velocidade é apenas um ente matemático significando que, se todos os pontos da
área A tivessem essa velocidade, a vazão seria Q. Na verdade, cada ponto do líquido tem sua
própria velocidade como pode ser visto na Figura 8.2.
100
Inicialmente será considerada a aplicação da equação de Bernoulli apenas na zona central do
perfil longitudinal onde há MPU, conforme já foi apresentado na Figura 8.1. A equação 8.6 é a
forma básica de apresentação:
2 2
z1 + h1 + V1 = z 2 + h2 + V2 + hpt (8.6)
2g 2g
onde z1 é a cota topográfica do ponto 1 em m; h1 = p1 /γ é a altura representativa da pressão
no ponto 1 junto ao fundo em mca; αV12 /2g = αV22 /2g é a taquicarga ou energia cinética em mca;
α é o coef. de Coriolis =1,0 adimensional; V é a velocidade média = Q /A em m/s; Q é a vazão em
m3/s; A é a área da secção transversal em m2; g é aceleração da gravidade em m/s2; hpt é a perda
de carga total entre as secções 1 e 2 em mca; LE = linha de energia (linha imaginária, situada V2 /2g
acima da superfície da água; LP é a linha piezométrica (coincidente com a superfície da água).
Se admitirmos um escoamento no qual nem a velocidade nem a turbulência são muito
significativas e que as curvaturas verticais longitudinais do fundo são suaves, podemos considerar a
variação da pressão no interior da massa líquida como hidrostática. Por isso, o termo p /γ poder
substituído por h que significa a altura representativa da pressão no fundo. Na verdade, essa é a
equação de Pascal/Stevin da hidrostática. Como no trecho a vazão e a altura são constantes, a área a
velocidade média e taquicarga também o serão. Assim, a equação da energia no trecho em MPU
fica resumida à:
∆z = hpt (8.7)
onde ∆z é a diferença de cotas topográficas em m; hpt é a perda de carga total entre as
secções 1 e 2 em mca;
Dividindo-se ambos os membros pela distancia entre as duas secções (em projeção
horizontal), teremos:
I=J (8.8)
onde I é a declividade do fundo em m/m = tg β2, adimensional; J é a declividade da linha de
energia em m/m = tg β1 , adimensional (ou seja, no MPU os dois citados ângulos são iguais).
Isso significa que a linha da superfície da água (linha piezométrica LP), a linha de energia
(LE) e o fundo longitudinal do canal são todos paralelos. Finalmente, a aplicação da mesma
equação 8.6 nas regiões onde há MPGV, mostrará que a declividade da linha de energia (J) é
sempre diferente da declividade do fundo (I). Tal fato, associado à equação da continuidade,
permitirá concluir que a taquicarga é variável e portanto a linha de energia não será paralela à linha
piezométrica.
101
onde ∆t é o intervalo de tempo considerado em segundos; ∆V a diferença entre velocidade
final e inicial em m/s. Esta equação é indispensável para casos de variações bruscas de velocidade
da massa líquida como é o caso do ressalto hidráulico que será visto mais adiante.
Equação de atrito:
Em qualquer caso da água em movimento, é bastante difícil a determinação matemática das
reais forças de atrito (ou de resistência) que surgem nos contornos do escoamento, ou seja, no fundo
e nas margens. Nos rios e canais naturais, pela sua grande irregularidade, é mais difícil ainda. Uma
maneira de resolver esse problema é a observação externa sistemática de uma série de experimentos
feitos em canais de laboratório de hidráulica suficientemente extensos para que o MPU prevaleça.
Assim, a aplicação principal destas equações de atrito são para MPU e portanto a altura da água em
uma secção será a chamada “altura normal”. Na prática, essas equações de atrito tem sua aplicação
digamos, estendidas, ao MPGV ou até mesmo em movimento não permanente gradualmente
variado se o trecho for curto, aproximadamente prismático, linha d’água com pouca curvatura e
pequena variação de vazão. Nestes casos, o mais correto é a utilização da linha de energia (J). Um
resumo da metodologia de ensaio em laboratório poderia ser a que segue. Observa-se cada ensaio
macroscopicamente ou seja, mede-se as variáveis, a saber, declividade da linha de energia (no MPU
J = I), largura, área da secção, lâmina de água e vazão. O cuidadoso ajuste matemático dessas
variáveis é conduzido de tal forma que apareça um fator aproximadamente constante que refletirá
indiretamente essas forças de atrito ou seja, a resistência do canal. Os ensaios devem ser repetidos
para cada tipo de material, secção transversal, etc. Assim, como foi dito, é realizado apenas uma
análise macroscópica sem entrar na questão física real de cada variável que seria uma tarefa
matemática bem, mais difícil. Assim, surgem as chamadas “fórmulas empíricas” que conseguem
descrever com precisão apenas razoável esse tipo de problema porém com grande aplicação e
popularidade na engenharia prática. O trabalho dos pesquisadores foi realmente extenso e aqui
somente serão apresentadas algumas dessas fórmulas empíricas que são aplicáveis, em princípio, só
para MPU.
Fórmula de Chézy (1769):
V = C RJ (8.11)
onde V é a velocidade média do escoamento em m/s; C um coeficiente que reflete a
resistência do canal; R é o raio hidráulico em m; J é a declividade da linha de energia em m/m .
Se o canal for suficientemente longo para ter tempo de desenvolver MPU, J pode ser
obviamente substituído pela declividade do fundo I , que é variável bem mais fácil de ser medida.
Na literatura podem ser encontradas outras fórmulas de resistência como a de Strickler, Ganguillet
& Kutter, etc. Neste livro, só serão apresentados alguns coeficientes para a fórmula de Manning que
acabou se tornando a mais utilizada.
Fórmula de Manning:
V = 1 R2 3J 1 2 (8.12)
n
onde n é o coeficiente “de resistência” de Manning. Demais símbolos já explicados e
comentados.
Aplicando a equação da continuidade (8.5) aparecerá então a vazão Q em m3/s:
Q = 1 AR 2 3 J 1 2 (8.13)
n
102
onde Q é a vazão em m3/s ; A é a área da secção em m2; Demais símbolos, já explicados.
Comparando-se as fórmulas de Chézy e Manning deduz-se que C = R1/6/ n . De certa forma,
isso mostra que o conceito de resistência em Chézy é mais elaborado pois é função de dois
parâmetros: raio hidráulico e rugosidade de fundo. É importante salientar que em A e R está
automaticamente embutida a “altura normal” (hN) que é uma altura bem particular que só ocorre no
MPU. Assim, essa altura é diferente das várias alturas que aparecem, por exemplo, no MPGV a ser
visto mais adiante. O citado coeficiente de rugosidade de Manning (n) expressa indiretamente, para
cada tipo de material e situação, a influência do atrito da água com o fundo e os taludes laterais.
Não é um coeficiente exato pois o fenômeno é bastante complexo e não será neste livro analisado
em todos os detalhes. A Tabela8.2 abaixo é apenas ilustrativa e mostra uma média geral das faixas
de valores de n para algumas situações. O menor valor é sempre relativo ao material com melhor
acabamento, ou seja, com menor rugosidade absoluta. Assim, percebe-se que uma decisão final
depende do julgamento e experiência do projetista. Em Chow (1973) encontra-se um longo e
cuidadoso estudo sobre o tema com extensas tabelas, fotografias, etc. Para uma vazão, secção,
material e declividade constantes, quanto maior o n , tanto menor será a velocidade média e, pela
equação da continuidade, maior será a área molhada e a altura normal. Para facilitar a compreensão,
pode-se imaginar tal coeficiente como uma espécie de “freio” ao escoamento. Se o freio aumenta, a
água não tendo outra possibilidade, eleva-se.
103
Além dos valores de “n” simplesmente citados em tabelas, existe uma outra abordagem mais
científica que tenta determinar esse coeficiente como função da rugosidade absoluta do fundo. Por
exemplo, segundo Chow (1973) o coeficiente pode ser dado pela equação 8.14.
( )
n = Φ R ⋅ k1 6
k
(8.14)
ou segundo Strickler (1923) para um fundo aluvial erodível e sem formas de fundo (dunas,
antidunas, etc.):
16
d 90
n≈ (8.15)
K
onde n é o coeficiente de Manning; Φ é “função de”; R é o raio hidráulico em m; k é a
rugosidade absoluta do fundo; d90 em metros é abertura da peneira do ensaio granulométrico
correspondente à passagem de 90 % do peso da amostra de sedimento; K é um coeficiente empírico
adimensional variando aproximadamente de 20 a 35, dependendo das reais condições do
escoamento e granulometria do fundo.
Chow mostra que nos casos reais a variação da função Φ (R/k) é pequena. Segundo
Strickler, o valor médio de K é 29,24. A Tabela 8.2 à seguir apresenta, para areias e cascalhos, um
cálculo do coeficiente n pela fórmula 8.15.
Tabela 8.2. Coeficientes de Manning segundo Strickler (fórmula 8.15 c/ K = 29,24).
d90 (m) n
0,0005 0,00963
0,001 0,01081
0,002 0,01214
0,003 0,01299
0,004 0,01362
0,005 0,01414
Figura 8.3. Velocidades críticas de início de erosão em canal de fundo arenoso; Medeiros (1996).
A Figura 8.3 mostra o ajuste matemático final entre números adimensionais feito por
Medeiros utilizando sedimentos com os seguintes diâmetros aproximadamente uniformes: A = 4,53
mm, B = 3,90 mm, C = 2,93 mm , D = 2,18 mm, E = 1,84 mm, F = 1,43 mm, G = 1,01 mm, H =
0,710 mm, I = 0,50 mm, J = 0,36mm. Esse autor, utilizando um critério específico para
identificação visual de movimento de grãos e também Análise Dimensional, chegou a uma
105
expressão geral para a velocidade média crítica de início de erosão em fundos móveis (equação
8.17).
[ (
Vc = 4,408 gh(ρs − ρ ρ ) ⋅ (h d ) dg 1 3v −2 3 ) ]
1 3 −0, 522
(8.17)
onde Vc é a velocidade crítica de início de erosão por arraste para fundos móveis (ou
aluviais) em m/s; g é a aceleração da gravidade = 9,81 m/s2 ; h é a altura da lâmina de água em m; ρ
é a massa específica da água = 1000 kg/m3; ρs é a massa específica do grão de sedimento = 2650
kg/m3; d é o diâmetro do sedimento uniforme em m; ν é a viscosidade cinemática da água em m2/s.
Os exemplos acima tratam de rios aluviais ou canais de fundo “móveis” (erodíveis). Para
arraste de sedimentos em canais artificiais de concreto ou argamassa, os exemplos são bem mais
raros. A seguir (Tabela 8.3), alguns resultados de Medeiros & Marin (1994). Para canais de fundo
fixo (artificiais), os autores estudaram quais as velocidades médias e tensões de cisalhamento
mínimas que garantiam transporte de descargas de grãos injetadas no escoamento, sem que
ocorressem depósitos. Este tipo de abordagem tem aplicação, por exemplo, em galerias de
drenagem urbana e redes de esgotos sanitários onde os depósitos não são tolerados. As equações
8.18, 8.19 e 8.20 são os números adimensionais utilizados na metodologia.
Tabela 8.4. Alguns resultados de Medeiros & Marin (1994) para fundos de cimento alisado
d (mm) Velocidade média Tensão de cisalhamento
2,84 f(V) = 7,128 f(gs)0,362 f(τ) = 0,689 + 0,013 f(gs)
2,10 f(V) =18,73+0,22 f(gs) f(τ) = 0,618 + 0,016 f(gs)
1,42 f(V) = 6,648 f(gs)0,411 f(τ) = 0,579 + 0,019 f(gs)
0,392
1,02 f(V) = 7,466 f(gs) f(τ) = 0,541 + 0,022 f(gs)
0,65 f(V) = 10,08 f(gs)0,319 f(τ) = 0,808 + 0,016 f(gs)
V
f (V ) = (8.18)
(v ⋅ g )1 s
τ ⋅ g1 s
f (τ ) = (8.19)
γ sv2 s
gs
f (g s ) = (8.20)
γ sv
onde τ é a tensão de cisalhamento no fundo em kgf/m2; g é a aceleração da gravidade em
2
m/s ; é o peso específico da partícula de sedimento em kgf/m3; é a viscosidade cinemática da
água em m2/s; d é o diâmetro do sedimento uniforme em m; V é a velocidade média em m/s.
Como informação, sobretudo para os mais jovens, salienta-se que os resultados de qualquer
pesquisa de laboratório de Hidráulica quando realizada por pesquisador confiável e publicada em
meio de igual credibilidade, serão sempre válidos. Apenas como exemplo, uma velocidade de início
de arraste de um certo cascalho observada, por exemplo, em 1920 nunca será velha ou fora de
moda. É importante perceber que enquanto a água tiver as mesmas características físicas e o planeta
tiver a mesma gravidade, não haverá resultado “velho”. A água que passou lá na antiga
Mesopotâmia ou sob o olhar de Leonardo da Vinci, ainda é a mesma. Claro que no século XXI,
com melhor instrumentação, computação, consegue-se um número bem maior de resultados, com
melhor precisão, qualidade, etc. Da mesma forma, novas metodologias vão surgindo. Pode-se hoje
106
melhorar, ampliar e, em alguns casos, corrigir resultados anteriores mas a Hidráulica, sendo Física,
ainda é basicamente a mesma.
A Figura 8.4 apresenta, para uma vazão fixa, um gráfico da variação da energia específica
em função da altura. O gráfico pode ser obtido fazendo escoar em um canal uma determinada vazão
constante e, em cada ensaio, variar apenas a declividade do fundo. Assim, se tem várias alturas
normais, cada uma com sua velocidade média. Dito de outra forma, quando a altura for pequena, a
velocidade será grande e vice versa.
Derivando-se a equação 8.18 em relação à altura e igualando o resultado à zero, temos uma
situação hidráulica “notável”, representando a condição de mínima energia necessária para
movimentar uma determinada vazão. Esse estado chama-se “regime crítico”, expresso pela seguinte
equação:
Q2B =1 (8.19)
gA3
onde Q é a vazão em m3/s; B é a largura na superfície em m; g é a aceleração da gravidade
em m/s ; A é a área molhada em m2.
2
Na Figura 8.4, o ponto de mínima energia, com ordenada hC , é o “ponto crítico”, definidor
do regime crítico. Abaixo desta ordenada, o regime é rápido ou supercrítico. Acima, é lento ou sub-
crítico. A velocidade das ondas rasas em um canal é:
Vo = gH (8.20)
107
A relação entre velocidade média e velocidade das ondas rasas chama-se número de Froude
e tem portanto, a seguinte expressão:
F=V (8.21)
gH
Na equação acima, para qualquer secção transversal do canal, V é a velocidade média do
escoamento ( = Q /A) e H é a “altura hidráulica” ( = A/B). Evidentemente que no caso de uma seção
retangular a altura hidráulica é a própria altura da água. A já citada equação 8.19 pode ser
particularizada para o caso de uma secção retangular. Assim, substituindo-se a área molhada por
“B.h” teremos:
32
Q = 3,132hc ⋅B (8.22)
onde h passou a se chamar altura crítica hc.
Outra relação que se pode deduzir das equações anteriores é:
hc
=2 (8.23)
Emin 3
Significando que na condição crítica a altura crítica representa 2/3 da energia. Assim , resta
exatamente 1/3 da energia para a taquicarga. É importante notar que a altura nas equações 8.22 e
8.23 deve levar o sub-índice “c” e ser chamada de “altura crítica” (hc). Logo, em um “escoamento
crítico” de largura B, a vazão é apenas função da altura crítica que pode ser medida no local. Não é
necessário pois o conhecimento nem da declividade de fundo, nem da rugosidade do material da
calha. Este é um fato notável e é aproveitado com muitas vantagens nos medidores de vazão de
regime crítico como a calha tipo Parshall. Nesta, para a determinação da vazão, não se mede a
própria altura crítica pois esta variando um pouco de posição em função de cada vazão, dificulta a
ação do operador. Em função disso, o fabricante indica a medição de uma outra altura em posição
fixa um pouco mais à montante da crítica. De qualquer forma, mesmo com essa alteração, o
princípio acima descrito é, em essência, o mesmo.
Pode ser conveniente substitur Q/B = q = “vazão por metro de largura” ou “vazão unitária”,
tornando a expressão 8.22 mais compacta sob a forma da equação 8.24:
hc = 0,4671 ⋅ q 2 3 (8.24)
Com as mesmas equações recentemente citadas, pode-se ainda facilmente deduzir a seguinte
expressão:
Q2B = F2 (8.25)
gA3
O número de Froude pode assim ser utilizado para definir 3 tipos de regime , a saber:
• Regime lento, fluvial ou sub-crítico, com F < 1
• Regime rápido, torrencial ou super-crítico, com F > 1
• Regime crítico, com F = 1
108
8.7 Ressalto hidráulico
Sob certas condições, um escoamento em regime rápido (com F > 1) pode bruscamente, de
maneira espontânea, elevar-se e passar para o regime lento. Nesta elevação, a superfície da água não
é lisa e contínua mas totalmente irregular e com grande agitação. Um exemplo típico de ocorrência
do fenômeno é logo após uma comporta de fundo. Esta deve ter à montante uma altura de água bem
superior à sua altura. Dito de outra forma, deve haver uma carga hidráulica suficiente grande para
produzir uma velocidade tal que seu número de Froude seja > 1. A Figura 8.5 mostra uma fotografia
de um ensaio típico realizado em laboratório e Figura 8.6 mostra as variáveis hidráulicas.
Figura 8.5. Ressalto hidráulico (Cortesia Lab. de Hidráulica da Eng. Sanitária e Ambiental da
UFSC)
Por Safranes:
L = 5,20d 2 (8.28)
110
Figura 8.7. Exemplo genérico de curva de remanso.
A equação básica de uma curva de remanso é deduzida à partir da equação de Bernoulli para
um ponto genérico no escoamento (ver figura 8.7):
H = z + h + v2 2 g ( 8.29)
Substituindo v por Q/A ( Q é constante) e derivando H em relação ao comprimento x:
dH dx = dz dx + dh dx + Q 2 2 g ⋅ dA−2 dx (8.30)
Considerando que dA/ dx = (dA/dh).(dh/dx) = B dh/dx; dH/dx = - J e dz/dx = - I tem-se:
(
dh dx = (I − J ) 1 − F 2 ) (8.31)
Que é a equação genérica de uma curva de remanso. Com uma ordenada e sistemática
discussão da equação 8.31, pode-se identificar as características de todas as curvas possíveis. A
análise está baseada na comparação de I com J, comparações de F2 com a unidade e, dessa forma,
sinais do numerador e denominador. Assim, identifica-se quais curvas tem altura crescente ou
decrescente pelo sinal da derivada.
Dependendo das particularidades de cada canal, da declividade do fundo e da região onde a
curva de remanso se desenvolve podem existir muitos tipos de curva, cada uma com características
muito bem definidas. Como “região” entende-se a localização da curva em corte longitudinal
tomando como referências a altura normal e a altura crítica. Em resumo, trata-se de saber se a curva
está, por exemplo, abaixo ou acima da altura crítica, entre a altura crítica e a altura normal, etc. A
Figura 8.8 à seguir mostra apenas alguns tipos de curvas possíveis. Por fim, o estudo completo das
curvas de remanso está fora dos objetivos deste livro.
111
Figura 8.8. Alguns tipos de curvas de remanso, Porto (1998).
112
Figura 8.9. Secção do canal.
Resolução:
Observe antes a seção transversal genérica da Figura 8.1 no início deste capítulo. Fazendo uma pequena
dedução matemática, chega-se às seguintes expressões para área (A), perímetro (P) e largura na superfície
(B), válidas para qualquer secção trapezoidal, retangular ou quadrada:
A = b. h + m.h2;
P = b + 2h ;
B = b + 2m.h;
R = A/P (já comentada antes)
Note que para não transbordar: h tem que ser menor que H (OK, confere)
O coeficiente de Manning pela Tabela 8.1 é 0,020.
Quando a incógnita for a velocidade média ou vazão, pode-se aplicar a fórmula de Manning diretamente:
V= = 3,734 m/s
Q = A.V = 4,375. 3,734 = 16,336 m3/s
Mesmo que a aplicação direta da fórmula de Manning tenha resolvido o problema, uma outra maneira de
chegar ao resultado é com o uso da Tabela 8.5 (explicada somente no exercício 2). Primeiro, calcula-se a
variável: h/b = 1,25/3,50 = 0,35714
K= = 0,12551 (obtido, por interpolação linear na linha correspondente à h/b = 0,35714
e m = 0)
2) Determine a altura do MPU para uma secção trapezoidal com: b = 7,00 m; θ = 45o (ver Figura 8.2);
Material: concreto em boas condições; hmáx = 1,20 m (prof. máxima sem transbordar), Vazão (Q) = 60,00
m3/s; cota topográfica de um ponto 1 situado sobre o fundo: z1 = 131,50 m; idem, em relação a um ponto 2
situado 400,00 m (em planta) à jusante de 1: z2 = 130,00 m.
Resolução:
Declividade do fundo = (131,5-131,0) / 400 = I = tg β2 (ver Figura 8.1) = 0,00125 m/m
Coeficiente de Manning = n = 0,014 (ver Tabela 8.1); m = cotg θ = 1,00.
Quando a incógnita é a altura normal, a resolução da equação de Manning fica mais difícil, pois não se pode
explicitar essa variável. Teria que ser resolvida por algum método numérico (manualmente ou por
calculadora pré-programada) ou por tentativas, arbitrando um valor para h e verificando se a vazão resulta
em 60,00 m3/s.
Outra maneira é transformar a equação de Manning na seguinte função:
K= = = f (h/b; m)
113
Dessa forma, à esquerda teremos um parâmetro K (são dados nesse tipo de problema). À extrema direita,
uma função a ser desenvolvida com apenas duas variáveis: h/b; m. Assim, trata-se de uma função de 3
variáveis (K; h/b; m) onde, arbitrados 2 valores, teremos o terceiro. A Tabela 8.5 abaixo apresenta um
conjunto de cálculos para uma certa faixa de valores das variáveis.
Assim, temos então:
K= = 0,076501
Na coluna correspondente à m = 1 procura-se o valor mais próximo à K que está pois entre 0.074706 e
0.080889. Interpolando-se linearmente tem-se h/b ≈ 0,2129. Logo, h ≈ 0,2129. 7,00 ≈ 1,490 m.
3) Qual a velocidade média real e velocidade crítica de início de erosão por arraste de um canal de cascalho
uniforme com d90 ≈ d50 = 4,53 mm, ν = 0,000001141 m2/s , h = 0,50 m , ρs = 2650 kg/m3, ρ = 1000 kg/m3,
declividade do fundo = 0,3 %? Aplicando o critério da tensão de cisalhamento haverá erosão?
A equação 8.17 de Medeiros (1996), é um tanto complexa, pois é generalizada para qualquer diâmetro entre
0,36 e 4,53 mm e alturas até 0,50 m. Nesse trabalho, Vc é a máxima velocidade sem erosão (Não confundir
com a velocidade crítica da Energia Específica).
Velocidade real do canal em MPU, considerando “canal largo” (b ≥10 h). Assim, R ≈ h:
n = 0,004531/6/ 29,24 = 0,01391 (rugosidade de Manning segundo Strickler)
V = 1/0,01391 . 0,5 2/3. 0,003 ½ = 2,480 m/s (OBS: A vazão, neste caso, não interessa)
Com a fórmula de Medeiros: 2,480 >>> 0,493 m/s, logo haverá muitíssima erosão.
Com Fortier & Scobey: 2,480 > 0,762 m/s (Tab. 8.3), logo haverá muita erosão.
OBS: O cálculo da quantidade de material erodido está totalmente fora do alcance deste livro, pertencendo à
uma especialização chamada Transporte de Sedimentos.
Em Erosão e Transporte de Sedimentos sempre há alguma aleatoriedade nos resultados, por isso, em um
projeto real deve-se ainda incluir um certo coeficiente de segurança para restringir um pouco mais a
velocidade real do canal. A literatura especializada sobre o tema apresenta imensa quantidade de
metodologias, informações e possibilidades dentro do tema. Em contrapartida, o leitor vai se deparar com tal
complexidade que só será resolvida com a experiência e bom senso. Em resumo, o presente tema está longe
de ser simples, pois a natureza é muito irregular e diferente dos ensaios de laboratório que não contemplam
adequadamente, matéria orgânica, coesão, grandes variações de secção transversal, coesão, fundo
absolutamente irregular, etc.
4) Determine o regime de escoamento para: Caso a) um canal de secção retangular com b =10,00 m; hN (ou
seja, MPU) = 2,00 m; fundo com areia d50 = 1,0 mm; I = J = 0,0002 m/m. Caso b) Idem, com hN = 0,50 m; I
= J = 0,015 m/m.
114
Caso a:
m=0
A = 10,0. 2,0 + 0. 0,502 = 20,00 m2; P = 10,0+2.2,0 = 14,00 m ; R = A/P = 1,428 m
n = 0,0011/6 / 29,24 = 0,01081 (utilizando o n de Strickler)
V por Manning = 1,659 m/s
H (altura hidráulica), neste caso, = hN = 2,00 m
Velocidade das ondas rasas; Vo = = 4,429 m/s
F = V / Vo = 1,659 / 4,429 = 0,374 < 1,00 logo, Regime LENTO
Caso b:
m=0
A = 10,0. 0,5 + 0. 0,502 = 5,00 m2; P = 10,0+2.0,5 = 11,00 m; R = A/P = 0,454 m
n = 0,01081
V por Manning = 6,693 m/s
Velocidade das ondas rasas; Vo = = 2,215 m/s
F = V / Vo = 6,693 / 2,215 = 3,022 > 1,00 logo, regime RÁPIDO.
OBS: No caso b tem-se: declividade relativamente alta para canais e rugosidade baixa. Essa combinação
resultou em velocidade excessiva para rios e canais que, na maioria dos casos, é inferior à 3,50 m/s. Não foi
realizado o cálculo mas o movimento do sedimento de fundo será certamente muito grande. Possivelmente,
com a erosão, haverá alterações na secção e, em cadeia, outras variáveis irão também se alterar com o tempo.
5) Calcule todas as variáveis de um ressalto hidráulico. Dados: Q = 4,80 m3/s; d1 =0,40 m, b = 2,60 m.
Vazão unitária = Q/B = 4,80 / 2,60 = 1,846 m3/s.m
No ponto de montante:
Vo = = = 1,981 m/s;
V = 4,80/(2,6.04) = 4,615 m/s
F1 = 4,615/1,981 = 2,330
Em jusante:
d2 / d1 = 1/2 ( - 1) = 2,833
d2 = 2,833 . 0,40 = 1,133 m
Vo = = = 3,334 m/s;
V = 4,80/(2,60. 1,133) = 1,629 m/s
F2 = 1,629/3,334 = 0,489
Extensão do ressalto:
L = 6,02 (1,133 - 0,40) ≈ 4,41 m (Smetana)
L = 5,20 . 1,133 ≈ 5,89m (Safranes)
OBS: Um ressalto sempre oscila um pouco para montante e jusante. Seu comprimento como se vê, não é
uma variável exata. A critério do projetista, pode-se tomar tanto o maior valor como um valor médio.
6) Na Figura abaixo, determine as curvas de remanso (MPGV) em um canal com duas declividades de fundo
: II = 0,001 m/m; III = 0,05 m/m. Secção retangular com b = B = 3,00 m, vazão = 6,0 m3/s, n = 0,012 (cimento
alisado). Os comprimentos são indefinidos.
Trecho II:
K= ≈ 0,01720
Para m = 0, pela Tabela 8.5 tem-se: h/b ≈ 0,0937; hN II ≈ 0,279 m
A altura crítica para qualquer dos trechos, será :
hC = 0,4671. (6,0/3,0)2/3 = 0,741 m
Alturas pré-determinadas do Trecho I:
∆h = (1,050 – 0,741) / 4 = 0,7725 m
Assim, tem-se (de jusante p/ montante) as seguintes alturas:
ho = hC = 0,741; h1 = 0,818; h2 = 0,895; h3 = 0,973; hN I = 1,050 m
Este é apenas um exemplo didático sem grande precisão. Para melhor resultado, recomenda-
se dividir em, por exemplo, 10 alturas.
Seguindo a direção de cálculo recomendada, o primeiro cálculo é a determinação do
primeiro ∆x referente ao sub-trecho 1. Para isso, primeiro calculam-se as energias específicas (E) e
as declividades de energia (J) ambas no início e fim do sub-trecho 1. (OBS: coeficiente de Coriolis
tomado como 1,00).
Eo = 0,741 + 1,0 [ 6,0 / (3,0 + 0,741)]2. 1 / (2.9,81) = 1,1123 m
E1 = 0,818 + 1,0 [ 6,0 / (3,0 + 0,818)]2. 1 / (2.9,81) = 1,1227 m
Ao = 2,223 m2; A1 = 2,454 m2; Ro = A / P = 0,4960 m; R1 = 0,5293 m
Jo = [(0,012 . 6,0) / (2,223. 0,4960 2/3)]2 = 0,002672 m/m
116
J1 = [ (0,012 . 6,0) / (2,454. 0,5293 2/3 ) ]2 = 0,002010 m/m
J* médio do intervalo = (0,002672 + 0,002010) /2 = 0,002341 m/m
∆x 1 = (1,1123 - 1,1227) / (0,001 – 0,002341) ≈ 7,75 m
Assim, prossegue-se o cálculo em direção à montante até chegar na altura normal hN I.
No trecho II, o procedimento é igual começando em hC e terminando em hN II.
Os resultados são:
Trechos Pontos
0 1 2 3 4 5
I h =0,741 h =0,818 h =0,895 h =0,973 h =1,047 ----------
xacum = 0 xacum = 7,75 xacum = 41,95 xacum = 140,9 xacum = 560,1
II h =0,741 h =0,649 h =0,556 h =0,464 h =0,371 h =0,279
xacum = 0 xacum = 0,444 xacum = 2,279 xacum = 6,981 xacum = 19,91 xacum = 94,72
OBS: Unidades em metros. No trecho II optou-se por dividir em mais alturas, pois a curva apresentou maior
concavidade.
Na Figura 8.11 está o perfil final sendo que as declividades foram omitidas, ou seja, as cotas topográficas z
foram consideradas todas igual à zero.
117
Tabela 8.5. Resolução de canais trapezoidais: Valores de K. (cont.)
0.16 0.039188 0.043721 0.047084 0.049816 0.052266 0.054595 0.056871 0.059128
0.17 0.042922 0.048215 0.052166 0.055387 0.058282 0.061036 0.063729 0.066399
0.18 0.046748 0.052873 0.05747 0.061232 0.06462 0.067846 0.071 0.074126
0.19 0.050661 0.05769 0.062995 0.067352 0.071283 0.075027 0.07869 0.08232
0.2 0.054655 0.062664 0.068741 0.073748 0.078273 0.082586 0.086806 0.090986
0.21 0.058727 0.067791 0.074706 0.08042 0.085593 0.090526 0.095354 0.100135
0.22 0.062873 0.073071 0.080889 0.087371 0.093247 0.098853 0.10434 0.109773
0.23 0.067088 0.078499 0.087291 0.094601 0.101237 0.107572 0.113771 0.11991
0.24 0.071369 0.084074 0.093911 0.102113 0.109567 0.116686 0.123654 0.130553
0.25 0.075713 0.089795 0.10075 0.109907 0.11824 0.126202 0.133995 0.14171
0.26 0.080117 0.09566 0.107806 0.117985 0.127259 0.136125 0.144801 0.15339
0.27 0.084578 0.101666 0.11508 0.12635 0.136629 0.146459 0.156079 0.1656
0.28 0.089094 0.107814 0.122573 0.135003 0.146352 0.157209 0.167835 0.17835
0.29 0.093661 0.1141 0.130285 0.143947 0.156433 0.168381 0.180075 0.191646
0.3 0.098278 0.120525 0.138216 0.153182 0.166874 0.17998 0.192807 0.205498
0.31 0.102942 0.127088 0.146366 0.162712 0.177679 0.19201 0.206036 0.219912
0.32 0.107652 0.133787 0.154737 0.172538 0.188853 0.204477 0.21977 0.234898
0.33 0.112405 0.140621 0.163329 0.182663 0.200398 0.217387 0.234015 0.250462
0.34 0.117199 0.14759 0.172143 0.193089 0.212318 0.230743 0.248778 0.266613
0.35 0.122034 0.154693 0.181179 0.203818 0.224617 0.244552 0.264064 0.28336
0.36 0.126907 0.161929 0.190438 0.214852 0.237298 0.258818 0.279881 0.300708
0.37 0.131817 0.169298 0.199922 0.226193 0.250366 0.273546 0.296234 0.318667
0.38 0.136762 0.1768 0.20963 0.237845 0.263824 0.288742 0.313131 0.337245
0.39 0.141741 0.184434 0.219564 0.249808 0.277676 0.30441 0.330578 0.356448
0.4 0.146752 0.192199 0.229725 0.262086 0.291924 0.320555 0.34858 0.376284
Referências bibliográficas
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2010.
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PORTO, R.de M. Hidráulica Básica, EESC-USP, Projeto REENGE,1998, São Carlos.
SILVA, R. C. V. da, et al, Hidráulica Fluvial, 2 vol. COPPE / UFRJ, 2003.
118
9. MEDIÇÃO E ESTIMATIVA DE VAZÃO
Fernando Grison
Masato Kobiyama
"A água é a força motriz de toda natureza"
Leonardo da Vinci
9.1 Introdução
A medição de um fluxo d’água em um rio é uma atividade que vem sendo desenvolvida desde
os tempos de Leonardo da Vinci no século XV que realizou as primeiras medições com seu
Odômetro (aparelho usado para medir certa distância percorrida). Isso significa que naquela época
saber o comportamento de um rio já era considerado importante para o desenvolvimento da
sociedade.
O conhecimento de um regime fluvial é obtido por dados de vazão (produto da velocidade do
fluxo d’água pela área de uma determinada seção transversal). Os dados de vazão são
indispensáveis para o planejamento dos recursos hídricos, previsão de cheias, gerenciamento de
bacias hidrográficas, saneamento básico, abastecimento público e industrial, navegação, irrigação,
transporte, meio ambiente e muitos outros estudos de grande importância científica e sócio-
econômica (Ibiapina et al., 2007).
Atualmente, a determinação da vazão de um rio é feita em geral com o uso de equipamentos
convencionais ou equipamentos modernos que utilizam o princípio físico do efeito Doppler
(também chamados de aparelhos Doppler). Entre os convencionais os mais utilizados pelos
119
hidrometristas são os molinetes e micromolinetes e entre os modernos são o ADCP (Acoustic
Doppler Current Profiler) e o ADP (Acoustic Doppler Profiler).
O procedimento de medição de vazão é extremamente trabalhoso e honeroso. Por este motivo,
opta-se pelo registro dos níveis d’água (feito por sensores ou réguas de nível) em uma determinada
seção transversal do rio e determina-se uma relação entre os níveis d’água e suas vazões
correspondentes. Essa relação é denominada de curva-chave ou curva de descarga. O presente
capítulo tem por objetivo mostrar como a vazão de um rio pode ser medida e estimada com o uso de
aparelhos convencionais ou aparelhos Doppler. Além disso, a partir dos dados de nível d’água e
vazão, mostrar como uma curva-chave pode ser construída e extrapolada e qual método usar para
isso.
120
Figura 9.1. Características geométricas de uma seção transversal. abca é área molhada; abc é o
perímetro molhado; L é largura superficial; h é profundidade; hm é profundidade média.
Tabela 9.1. Tabela de cálculo das velocidades médias pelo Método Detalhado.
Nº de Posição na vertical em Cálculo da velocidade média na vertical (m/s) Profundidade (m)
pontos relação à profundidade (m)
1 0,6p v = v0 , 6 0,15 – 0,6
2 0,2p e 0,8p v = ( v0 , 2 + v0 , 8 ) / 2 0,6 - 1,2
3 0,2p; 0,6p e 0,8p v = ( v0 , 2 + 2 v0 , 6 + v0 , 8 ) / 4 1,2 - 2,0
4 0,2p; 0,4p; 0,6p e 0,8p v = ( v0 , 2 + 2 v0 , 4 + 2 v0 , 6 + v0 , 8 ) / 6 2,0 - 4,0
S; 0,2p; 0,4p; 0,6p; 0,8p e
6 F (*) v = (v s + 2(v 0 , 2 + v 0 , 4 + v 0 , 6 + v 0 ,8 ) + v f ) / 10 > 4,0
(*) S = superfície; F = fundo
DNAEE (1977) citada por SANTOS et al., 2001.
Tabela 9.2. Tabela de cálculo das velocidades médias pelo Método Simplificado.
Nº de pontos Posição na vertical em Cálculo da velocidade Profundidade (m)
relação à profundidade (m) média na vertical (m/s)
1 0,6p v = v0,6 < 0,6
2 0,2p e 0,8p v = (v 0 , 2 + v 0 ,8 ) / 2 > 0,6
A escolha do número de verticais de profundidade deve ser tal que a vazão média em cada
vertical não ultrapasse 10% da vazão média total da seção. A Tabela 9.3 mostra algumas distâncias
recomendadas entre as verticais.
Para fins mais práticos de anotação em campo existe uma tabela padrão de medição de
descarga líquida que facilita a organização dos dados quando se realiza uma medição com molinete.
Essa tabela está em anexo e foi adaptada da antiga Superintendência de Desenvolvimento de
Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental – SUDERHSA/ PR.
122
9.3.1 Estimativa convencional de vazão
A estimativa de vazão com dados de um molinete pode ser feita pelo método da Meia Seção
e pelo método da Seção Média.
O método da Meia Seção consiste em calcular vazões parciais de várias subseções. Isso é
feito através da multiplicação da velocidade média da vertical pela área do segmento retangular,
definido pelo produto da profundidade média pela soma das semi-distâncias às verticais adjacentes
(Santos et al., 2001) (Figura 9.3).
123
Figura 9.4. Esquema ilustrativo do método da seção média.
q i = vi ai (9.8)
Finalmente, com a Equação (9.5) obtém-se a vazão total.
(a) (b)
Figura 9.5. (a) ADP modelo RiverSurveyor "Mini" System; (b) Suporte do ADP modelo RiverCat
Integrated Catamaran System.
Para esses aparelhos o efeito Doppler é a mudança na freqüência de uma onda sonora
causada por um movimento relativo entre o aparelho transmissor do som (chamado de transdutor) e
o material em suspensão na água. O material ao ser atingido por um feixe de ondas sonoras muda a
freqüência de retransmissão. Como esse material se desloca na mesma velocidade da corrente de
água, a magnitude do efeito Doppler é diretamente proporcional a essa velocidade (Filho et al,
124
1999). Portanto, para medidores de corrente Doppler, olha-se para a reflexão do som nas partículas
da água.
O aparelho Doppler transmite um pulso acústico (um ping) na coluna de água e em seguida,
escuta o regresso do som (o eco). Ao receber o eco o aparelho calcula o efeito Doppler. A Figura
9.6 mostra um esquema de como um pulso acústico é transmitido na água e as suas conseqüentes
reflexões de energia acústica (Simpsom, 2001).
125
Figura 9.7. Analogia de uma medição de vazão convencional para uma medição com efeito
Doppler.
126
9.4.2 Áreas não medidas pelos aparelhos Doppler
Em uma seção de medição existem áreas que não são medidas pelos aparelhos Doppler.
Essas áreas geralmente são aquelas próximas ao aparelho, próximas do leito e nas margens do rio.
Em frente ao transdutor (emissor do pulso acústico) há um espaço reservado para emitir e receber o
feixe sonoro. Nessa pequena região o aparelho não consegue medir, e por isso é chamada de
blanking region. Isto permite aos transdutores recuperar eletronicamente o pulso transmitido e
preparar para receber o retorno do sinal. Na área do fundo as ondas sonoras se espalham numa
vertical formando um feixe paralelo, chamado “side lobe”. O “side lobe” possui uma energia muito
fraca que não produz ruído considerável e por isso chega ao fundo primeiro. Ao encontrar uma boa
superfície para reflexão ele contamina o espaço perto do leito, impedindo a leitura de dados. As
áreas não medidas nas margens são devido à baixa profundidade da coluna de água (SONTEK,
2000).
9.5 Curva-chave
Em uma seção transversal de um curso d’água, a relação que existe entre a vazão e a altura
da lâmina d’água (cota) é uma função denominada de curva de descarga, ou curva-chave. Essa
função é muito complexa e envolve características geométricas da seção transversal considerada e
características hidráulicas do canal. É importante ressaltar que essa relação de cota com vazão é
específica para uma única determinada seção, não valendo para um trecho do rio o qual inclui a
seção considerada (Jaccon e Cudo, 1989).
A representação de uma curva-chave é feita de tres formas: gráfica, matemática e por tabela.
Um exemplo da forma gráfica pode ser vista na Figura 9.9 que mostra a curva-chave da Bacia do
127
Campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em Florianópolis. Matematicamente a
representação de uma curva-chave pode ser feita em geral de duas formas: exponencial (ou
potencial) e polinomial (Equações 9.9 e 9.10 respectivamente).
Q = a (h − h0 ) n (9.9)
Q = a0 + a1h + a2 h 2 + ... + am h n (9.10)
onde Q é a vazão (m³.s-1); h é a altura da lâmina de água correspondente à vazão Q (m); h0 é a altura
da lâmina de água correspondente à vazão nula (m); e a, a0, a1, a2 e am são coeficientes
característicos da estação calculados por regressão linear. O coeficiente n será aquele que fornecer a
melhor regressão linear representado através do coeficiente de determinação r² que indica a
porcentagem da variância explicada pelo ajuste da curva.
A representação de uma curva-chave na forma de tabela nada mais é do que uma simples
tabela de cota-vazão, em que estão todos os resultados das vazões correspondentes as cotas de
interesse. É uma forma prática de se usar uma curva-chave.
1.8
1.6
1.4
1.2
Cota (m)
1
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 5 10 15 20
Vazão (m³/s)
128
interrogar-se sobre como variam as características geométricas de uma seção durante a continuidade
de um escoamento (Jaccon e Cudo, 1989).
Existem muito métodos de extrapolação de curvas de descarga. O principal cuidado que se
deve ter ao utilizá-los é diferenciá-los em relação ao nível de água. Uns são aplicados em médios e
altos níveis de água e outros em baixos. A seguir, se encontra a descrição dos principais métodos
utilizados no Brasil.
Q = a (h − h0 ) n (9.11)
onde h é a cota para vazão Q (m); e h0 é a cota para uma vazão inicial Q0 (m).
Para extrapolar a curva, faz-se uma regressão linear do conjunto das medições para se
descobrir os parametros a e n e consequentemente a equação da curva. Com essa equação gera-se as
vazões para as cotas superiores de interesse até a cota máxima observada em uma determinada
enchente histórica. O mais importante nessas extrapolações superiores é obter um bom alinhamento
dos pontos (Jaccon e Cudo, 1989).
Sempre que a seção linimétrica de um canal estiver sob controle hidráulico (características
geométricas invariáveis, sempre com a mesma vazão para a mesma cota) o método logarítmico
costuma dar bons resultados. Caso contrário, as mudanças nas condições de controle acarretam
muitos e graves erros. Por isso, esse método não é aplicável para baixas vazões, pois, nessas
condições a geometria da seção pode sofrer grandes mudanças (Santos et al., 2001).
Q = cA RI (9.12)
onde c é o coeficiente de Chezy, variável em função do raio hidráulico e da natureza do leito
(m1/2.s-1/2); A é a área molhada (m²); R é o raio hidráulico (m); e I é a declividade superficial (m.m-
1
).
Nesta equação, A R e c I representam o fator geométrico da seção (que pode ser obtido
por levantamentos topobatimétricos) e o fator de declividade, respectivamente. Se c I é constante
na Equação (9.12), Q A R também é constante. Isso significa que a função A R = f (Q ) é
graficamente uma reta que passa pela origem. Dessa forma, essa reta pode ser prolongada até o fator
geométrico equivalente ao nível máximo observado.
129
É preciso ressaltar que para aplicar o método de Stevens, além do escoamento ser quase
uniforme, é necessário também ter um perfil estável ou um número suficiente de medições
alinhadas.
Uma vantagem desse método é que ele não depende das velocidades medidas e por isso nas
medições de vazão não há necessidade da seção de medição ser sempre a mesma (Sefione, 2002).
130
Figura 9.10. Gráfico típico de curva-chave com extrapolações (linhas pontilhadas).
Para verificar a melhor extrapolação serão realizadas medições diretas em pontos de baixas e
elevadas vazões, a fim de confirmar o método mais adequado.
131
Referências bibliográficas
AZEVEDO NETTO, J. M. et al. Manual de hidráulica. 8. ed. São Paulo – SP, 2003. 669p.
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Descarga – Stevens. In: Anais do XV Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Curitiba – Paraná,
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e Médios Cursos D’água. In: Grupo de trabajo sobre hidromecânica - 5ª Reunião, Montevidéu –
Uruguai, 1999. 10p.
GAMARO, P. E. III Curso de Medidores de Vazão Acústica Doppler, de 05 a 09 de novembro de
2007, Foz do Iguaçu-PR. Apostila Módulo Básico, Revisão 1.0, 2007.
GLOSSÁRIO DE TERMOS HIDROLÓGICOS, Versão 2.0.1, Agência Nacional das Águas
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GRISON, F.; Uso do ADCP como ferramenta de apoio no traçado e extrapolação de curva-chave
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GRISON, F.; KOBIYAMA, M,; SANTOS, I.; CUNHA, H. D. Uso do ADCP para construção de
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IBIAPINA, A.V.; FERNANDES, D.; CARVALHO, D.C.; OLIVEIRA, E.; SILVA, M.C.A.M.;
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Alegre, 2002, Dissertação de mestrado, 240p.
132
A
EXO
Equação:
133
10. EVAPOTRA
SPIRAÇÃO
Masato Kobiyama
Pedro Luiz Borges Chaffe
Cláudia Weber Corseuil
Patrícia Kazue Uda
10.1. Conceitos
O ciclo hidrológico consiste na troca constante de água entre a superfície terrestre e a
atmosfera. A água chega até a superfície através da precipitação. E o componente responsável por
abastecer a atmosfera de água é a vaporização da água da superfície. Toda água que retorna a
atmosfera passa a ficar indisponível para outros usos pelo menos temporariamente (seja água que
escoaria superficialmente ou abasteceria um aqüífero subterrâneo). Estudos de evaporação são,
portanto, essenciais para o planejamento de atividades agrícolas (ex. lagos para irrigação),
abastecimento de água, operação de barragens para geração de energia e até mesmo para usos
relacionados à recreação.
Algumas definições são usadas em hidrologia para os diferentes aspectos da transformação
de água para sua forma de vapor:
134
No ambiente natural, a evaporação depende basicamente de fatores meteorológicos e físicos,
que podem ser resumidos em:
• Disponibilidade de água;
• Radiação solar;
• Umidade relativa do ar;
• Pressão atmosférica;
• Vento;
• Temperatura do ar e água;
• Forma e profundidade da superfície livre da água;
• Salinidade da água.
Forma e profundidade: A forma da superfície livre da água pode influenciar nos padrões de
vento e, por conseguinte na evaporação. No caso da profundidade, águas mais profundas tem uma
maior estabilidade quanto a mudanças no clima pela capacidade de armazenamento de energia ao
longo da coluna de água. Portanto, enquanto em estações quentes superfícies mais rasas podem
135
evaporar mais, em estações muito frias pode ser que superfícies mais profundas evaporem mais
água devido à energia armazenada durante a época quente.
Salinidade da água: A intensidade da evaporação reduz-se com o aumento do teor de sal na
água. Isso acontece porque o sal na água não está exatamente na forma sólida. Ele se dissolve em
íons com cargas elétricas que atraem moléculas de água, o que aumenta a energia necessária para
evaporação. No caso do cloreto de sódio (sal de cozinha), o íon de cloro (carga negativa) é atraído
ao hidrogênio da molécula de água; o íon de sódio (carga positiva) é atraído pelo átomo de
oxigênio.
Todos esses fatores meteorológicos influenciam a capacidade de transpiração das plantas,
pois está diretamente ligada a evaporação da água. É a maneira que a planta consegue manter o
balanço térmico nas folhas. A transpiração ainda depende da idade e espécie das plantas, que
determinam tipo de raiz, folha e fases de crescimento, e também da água disponível no solo para
absorção das raízes.
Como as condições meteorológicas dependem da altitude, latitude e longitude da região e
variam ao longo dos dias e também sazonalmente. Regiões perto do equador têm o números de
horas de sol mais uniformes durante todo o ano e estações menos definidas que regiões de maiores
latitudes. A evaporação depende, por conseguinte, da hora do dia, da época do ano e da região de
estudo. A Figura 10.1 mostra a variação mensal da Evapotranspiração potencial calculada para a
região de Rio Negrinho – SC. A Figura 10.1 mostra ainda como a vazão estimada poderia variar de
acordo com a precipitação e evapotranspiração potencial calculada.
A evapotranspiração potencial diária calculada pode ser transformada em para estimativa de
valores horários ou com maior resolução temporal. A Figura 10.2 mostra um exemplo onde se
considerou uma evaporação potencial diária de 1 mm. Supôs-se que a evaporação segue uma função
senoidal nas horas de sol (06h00min às 18h00min h) e corresponde a 90% da evaporação total. Nas
horas sem sol (00h00min às 06h00min e 18h00min às 00h00minh) a evaporação é uniforme e seu
total corresponde a 10% da evaporação potencial diária.
225 ETp
ETp, Precipitação, Vazão (mm/mês)
200 Precipitação
150
125
100
75
50
25
0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Mês
136
0.12
0.1
0.06
0.04
0.02
0
00:00 06:00 12:00 18:00 00:00
Tempo (h:min)
Figura 10.2. Exemplo de suposta distribuição da Evaporação potencial ao longo de um dia (24 h)
com 12 horas de sol.
10.3. Medição
10.3.1. Tanques de Evaporação
Tanque de evaporação é um tipo de evaporímetro que mede a evaporação da superfície da
água. Existem diversos tipos de tanque: enterrados, superficiais, com base de concreto ou metal e de
forma cilíndrica ou cônica. O mais conhecido deles é o Tanque Classe A do U.S. Weather Bureau
(Fig. 10.3). Normalmente é colocado em uma área gramada sobre um pallet de madeira (10 – 20 cm
acima do solo) quando seu propósito é estimar a evapotranspiração. É um tanque cilíndrico feito de
aço galvanizado com de 122 cm de diâmetro e 25,4 cm de profundidade. As leituras de variação do
nível podem ser feitas com auxílio de uma régua ou parafuso micrométrico em forma de gancho
(Figura 10.3c) e recomenda-se que seja operado com o nível de água de 5 – 7,5 cm da borda
superior. O parafuso micrométrico deve ficar dentro de um poço tranqüilizador para evitar
turbulência na hora da leitua (Figura 10.3d). A estação padrão deve ser acompanhada de
anemômetro e termômetro. Este método de medição é direto e a evaporação do tanque em um
determinado intervalo de tempo é dada por:
E = h0 − h (10.1)
onde E é a evaporação total no intervalo de tempo; h0 é a leitura no tempo inicial e h é a leitura no
tempo final. As leituras geralmente são feitas em mm, assim, a unidade da evaporação também é
mm.
137
(a) (b)
(c) (d)
Figura 10.3. Tanque Classe A. (a)Tanque em cima de pallet visto de perspectiva. (b) Tanque visto
de cima. (c) Parafuso micrométrico com ponta em forma de gancho. (d) Parafuso micrométrico
dentro de poço tranquilizador.
138
evapotranspiração é a diferença entre a entrada e a saída, o sistema considerado em estudos
hidrológicos geralmente consiste da bacia hidrográfica. Para esse caso:
ET = P − Q (10.2)
onde E é a evapotranspiração; P a chuva; e Q a vazão. Outro sistema que pode ser considerado para
se fazer o balanço hídrico pode ser um volume de solo explorado por plantas (Figura 10.4) (Pereira
et al., 1997).
P + I − ET − RO − DP + AC = ∆At (10.3)
onde P é a precipitação; I é a irrigação; ET é a evapotranspiração real; RO é o escoamento direto
(runoff); DP é a drenagem profunda; AC é a ascensão capilar; ∆AL é a variação do armazenamento
de água na camada do solo de estudo. A Figura 10.5 mostra alguns componentes do balanço hídrico
de quatro bacias hidrográficas determinados através do uso de um modelo hidrológico de chuva-
vazão HYCYMODEL. Com esse modelo calibrado também é possível separar os componentes da
evapotranspiração (Figura 10.6).
139
100% 2% 6% 4% 6%
80%
51% 42% 50% 49%
60% dS
10% E
6% 4%
40% 11% Qd
Qb
20% 40% 42% 41%
35%
0%
Fragosos Avencal Rio Preto Rio Negro
Figura 10.5. Balanço hídrico de quatro bacias usando o modelo HYCYMODEL (Qb = escoamento
de base; Qd = escoamento direto; E = evapotranspiração real; e dS = armazanamento de água no
solo). (Kobiyama et al, 2009)
900 Ec
Ei
800
Et
Evapotranspiration (mm/year)
700
600
500
400
300
200
100
0
77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94
Year
Figura 10.6. Componentes da evapotranspiração da bacia do rio Cubatão-Sul para os anos de 1977
a 1994 (Et = transpiração, Ei = evaporação por interceptação, Ec = evaporação de canal).
(Kobiyama e Chaffe, 2008)
10.3.3. Lisímetro
É um equipamento que consiste de uma caixa impermeável, contendo um volume de solo e
que permite conhecer com detalhe alguns termos do balanço hídrico do volume amostrado (Figura
10.7).
140
Figura 10.7. Representação esquemática de um lisímetro.
141
Figura 10.8. Equipamentos para aplicação do método Heat-Pulse.
142
Figura 10.10. Gráfico de transpiração pela velocidade do Heat-pulse.
10.4 Estimativa
Existem diversos métodos para estimar evapo(transpi)ração potencial e real. A Figura 10.11
mostra a comparação entre 6 métodos diferentes, sendo que dois deles (Water Budget e com o
modelo HYCYMODEL) calculam evapotranspiração real e os outros a potencial. Neste capítulo são
apresentados dois dos métodos que vêm sendo comumente utilizados: Thornthwaite e Penman.
250
THORNTHWAITE
BLANEY & CRIDDLE
PENMAN
200
HAMON
WATER BUDGET
ETP (mm/month)
150 HYCYMODEL
100
50
0
Jan. Feb. Mar. Apr. May Jun. Jul. Aug. Sep. Oct. Nov. Dec.
Month
Figura 10.11. Comparação da evapotranspiração calculada para a bacia do rio Cubatão-Sul com
dados de 1977-1994 através de 6 métodos diferentes. (Kobiyama e Chaffe, 2008)
143
a
10 ⋅ Ti
ETP = 16 ⋅ (10.4)
I
1,514
12
Ti
I = ∑ (10.5)
i =1 5
A Tabela 10.2 apresenta valores de ' correspondentes ao 15º dia de cada mês em função da
latitude local. Normalmente assume-se que o 15º dia representa a média mensal para '.
Tabela 10.2. Duração máxima da insolação diária ('), em horas, nos meses e latitude de 10ºN a
40ºS. Os valores correspondem ao 15º dia de cada mês.
Latitude Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
ov Dez
10oN 11,6 11,8 12,1 12,4 12,6 12,7 12,6 12,4 12,2 11,9 11,7 11,5
8oN 11,7 11,9 12,1 12,3 12,5 12,6 12,5 12,4 12,2 12,0 11,8 11,6
6oN 11,8 11,9 12,1 12,3 12,4 12,5 12,4 12,3 12,2 12,0 11,9 11,7
4oN 11,9 12,0 12,1 12,2 12,3 12,4 12,3 12,2 12,0 12,0 11,9 11,9
2oN 12,0 12,0 12,1 12,2 12,2 12,2 12,2 12,2 12,1 12,1 12,0 12,0
Equador 12,1 12,1 12,1 12,1 12,1 12,1 12,1 12,1 12,1 12,1 12,1 12,2
2o S 12,2 12,1 12,1 12,1 12,0 12,0 12,0 12,0 12,1 12,1 12,2 12,2
4o S 12,3 12,2 12,1 12,0 11,9 11,8 11,9 12,0 12,1 12,2 12,3 12,4
6o S 12,4 12,3 12,1 12,0 11,9 11,7 11,8 11,9 12,1 12,2 12,4 12,5
8o S 12,5 12,4 12,1 11,9 11,7 11,6 11,7 11,9 12,1 12,3 12,5 12,6
10oS 12,6 12,4 12,1 11,9 11,7 11,5 11,6 11,8 12,0 12,3 12,6 12,7
12oS 12,7 12,5 12,2 11,8 11,6 11,4 11,5 11,7 12,0 12,1 12,7 12,8
14oS 12,8 12,6 12,2 11,8 11,5 11,3 11,4 11,6 12,0 12,1 12,8 12,9
16oS 13,0 12,7 12,2 11,7 11,4 11,2 11,2 11,6 12,0 12,1 12,9 13,1
18oS 13,1 12,7 12,2 11,7 11,3 11,1 11,1 11,5 12,0 12,5 13,0 13,2
20oS 13,2 12,8 12,2 11,6 11,2 10,9 11,0 11,4 12,0 12,5 13,2 13,3
o
22 S 13,4 12,8 12,2 11,6 11,1 10,8 10,9 11,3 12,0 12,6 13,2 13,5
24oS 13,5 12,9 12,3 11,5 10,9 10,7 10,8 11,2 11,9 12,6 13,3 13,6
26oS 13,6 12,9 12,3 11,5 10,8 10,5 10,7 11,2 11,9 12,7 13,4 13,8
28oS 13,7 13,0 12,3 11,4 10,7 10,4 10,6 11,1 11,5 12,0 12,5 13,0
30oS 13,9 13,1 12,3 11,4 10,6 10,3 10,4 11,0 11,9 12,8 13,6 14,1
32oS 14,0 13,2 12,3 11,3 10,5 10,0 10,3 10,9 11,9 12,9 13,7 14,2
34oS 14,2 13,3 12,3 11,3 10,3 9,8 10,1 10,9 11,9 12,9 13,9 14,4
36oS 14,3 13,4 12,4 11,2 10,2 9,7 10,0 10,7 11,9 13,0 14,0 14,6
o
38 S 14,5 13,5 12,4 11,1 10,1 9,5 9,8 10,6 11,8 13,1 14,2 14,8
40oS 14,7 13,6 12,4 11,1 9,9 9,3 9,6 10,5 11,8 13,1 14,3 15,0
Dados interpolados da Tabela meteorológica de Smithsonian. 6a edição. 1951 - Quadro 171
144
[Exemplo]
Dados: Num local (22º42´S), a temperatura (ºC) média mensal ao longo do ano é: jan = 24,0;
fev = 24,7; mar = 23,9; abr = 21,1; mai = 17,6; jun = 16,8; jul = 17,2; ago = 18,9; set = 20,3; out =
22,2; nov = 22,9; dez = 23,8; média anual = 21,1.
Então,
a 2 , 353
10 ⋅ Ti 10 ⋅ 24
Para Janeiro: ETP = 16 ⋅ = 16 ⋅ = 107,1 mm/mês
I 106,9928
a 2 , 353
10 ⋅ Ti 10 ⋅ 24,7
Para Fevereiro: ETP = 16 ⋅ = 16 ⋅ = 114,6 mm/mês
I 106,9928
Fazendo a correção com a Tab. 10.2, obtém-se
' 'D 13,4 31
Janeiro: ETPcorrigido = 107,1 ⋅ ⋅ = 107,1 ⋅ ⋅ =123,6 mm/mês
12 30 12 30
' 'D 12,8 28
Fevereiro: ETPcorrigido = 107,1 ⋅ ⋅ = 114,6 ⋅ ⋅ =114,1 mm/mês
12 30 12 30
145
(1) Estimativa de (ea - ed)
ur Tabela 10.3. Tensão de saturação de
Pela definição, ea − ed = ea − ea , onde ur é a vapor de água no ar (mmHg).
100
umidade relativa do ar (%). Os valores de ea se
encontram na Tab. 10.3. Como a Tab. 10.3 adota a
unidade de mmHg, deve-se fazer uma transformação
da unidade, pois 1 mbar = 0,75 mmHg.
(3) Estimativa de W
Os valores de W estão na Tabela 10.4.
Tabela 10.4. Valores para o fator de peso (W) para o efeito da radiação na ET em diferentes
temperaturas e altitudes.
Temperatura (oC) 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
W por altitude 0 (m) 0,43 0,46 0,49 0,52 0,55 0,58 0,61 0,64 0,66 0,69
500 0,44 0,48 0,51 0,54 0,57 0,6 0,62 0,65 0,67 0,7
1000 0,46 0,49 0,52 0,55 0,58 0,61 0,64 0,66 0,69 0,71
2000 0,49 0,52 0,55 0,58 0,61 0,64 0,66 0,69 0,71 0,73
3000 1,52 0,55 0,58 0,61 0,64 0,66 0,69 0,71 0,73 0,75
4000 0,54 0,58 0,61 0,64 0,66 0,69 0,71 0,73 0,75 0,77
Temperatura (oC) 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40
W por altitude 0 (m) 0,71 0,73 0,75 0,77 0,78 0,80 0,82 0,83 0,84 0,85
500 0,72 0,74 0,76 0,78 0,79 0,81 0,82 0,84 0,85 0,86
1000 0,73 0,75 0,77 0,79 0,80 0,82 0,83 0,85 0,86 0,87
2000 0,75 0,77 0,79 0,81 0,82 0,84 0,85 0,86 0,87 0,88
3000 0,77 0,79 0,81 0,82 0,84 0,85 0,86 0,87 0,88 0,89
4000 0,79 0,81 0,82 0,84 0,85 0,86 0,87 0,89 0,90 0,90
146
(4) Estimativa de Rn
n
Rns = (1 − r )Rs = (1 − r ) a + b Ra
'
onde Rns é a radiação solar líquida de ondas curtas (mm/dia); r é o coeficiente de refletância
(albedo) (Tabela 10.5); Rs é a radiação solar (mm/dia); a e b são constantes (normalmente, a = 0,25
e b = 0,50); n é a insolação (hora/dia); ' é máxima possível insolação (hora/dia) (Tabela 10.2); Ra é
a radiação solar recebida no topo da atmosfera (mm/dia) (Tabela 10.6).
Nota-se que, no caso de estações automáticas, a radiação solar (Rs) está sendo medida em
vez de insolação n.
Tabela 10.5. Albedo de diversas superfícies.
Superfície % superfície % superfície %
Concreto 22 grama 24 sorgo 20
solo escuro seco 14 batata 20 algodão 21
solo escuro úmido 8 beterraba 26 tomate 23
asfalto 7 cevada 24 abacaxi 15
areia branca 37 trigo 24 floresta conífera 5 - 15
neve recém caída 82 feijão 24 floresta folhosa 10 - 20
neve velha 57 milho 20 campos naturais 3 - 15
Água 5 Fumo 22 Cidades 14 - 18
147
Tabela 10.6. Valores para a radiação recebida no topo da atmosfera (Ra ) expressa em evaporação
equivalente em mm/dia.
Hemisfério
orte
Latitude
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
ov Dez
50o 3,8 6,1 9,4 12,7 15,8 17,1 16,4 14,1 10,9 7,4 4,5 3,2
o
48 4,3 6,6 9,8 13,0 15,9 17,2 16,5 14,3 11,2 7,8 5,0 3,7
46 o 4,9 7,1 10,2 13,3 16,0 17,2 16,6 14,5 11,5 8,3 5,5 4,3
o
44 5,3 7,6 10,6 13,7 16,1 17,2 16,6 14,7 11,9 8,7 6,0 4,7
42 o 5,9 8,1 11,0 14,0 16,2 17,3 16,7 15,0 12,2 9,1 6,5 5,2
o
40 6,4 8,6 11,4 14,3 16,4 17,3 16,7 15,2 12,5 9,6 7,0 5,7
38 o 6,9 9,0 11,8 14,5 16,4 17,2 16,7 15,3 12,8 10,0 7,5 6,1
o
36 7,4 9,4 12,1 14,7 16,4 17,2 16,7 15,4 13,1 10,6 8,0 6,6
34 o 7,9 9,8 12,4 14,8 16,5 17,1 16,8 15,5 13,4 10,8 8,5 7,2
o
32 8,3 10,2 12,8 15,0 16,5 17,0 16,8 15,6 13,6 11,2 9,0 7,8
30 o 8,8 10,7 13,1 15,2 16,5 17,0 16,8 15,7 13,9 11,6 9,5 8,3
o
28 9,3 11,1 13,4 15,3 16,5 16,8 16,7 15,7 14,1 12,0 9,9 8,8
26 o 9,8 11,5 13,7 15,3 16,4 16,7 16,6 15,7 14,3 12,3 10,3 9,3
o
24 10,2 11,9 13,9 15,4 16,4 16,6 16,5 15,8 14,5 12,6 10,7 9,7
22 o 10,7 12,3 14,2 15,5 16,3 16,4 16,4 15,8 14,6 13,0 11,1 10,2
o
20 11,2 12,7 14,4 15,6 16,3 16,4 16,3 15,9 14,8 13,3 11,6 10,7
18 o 11,6 13,0 14,6 15,6 16,1 16,1 16,1 15,8 14,9 13,6 12,0 11,1
o
16 12,0 13,3 14,7 15,6 16,0 15,9 15,9 15,7 15,0 13,9 12,4 11,6
o
14 12,4 13,6 14,9 15,7 15,8 15,7 15,7 15,7 15,1 14,1 12,8 12,0
o
12 12,8 13,9 15,1 15,7 15,7 15,5 15,5 15,6 15,2 14,4 13,3 12,5
o
10 13,2 14,2 15,3 15,7 15,5 15,3 15,3 15,5 15,3 14,7 13,6 12,9
o
8 13,6 14,5 15,3 15,6 15,3 15,0 15,1 15,4 15,3 14,8 13,9 13,3
o
6 13,9 14,8 15,4 15,4 15,1 14,7 14,9 15,2 15,3 15,0 14,2 13,7
o
4 14,3 15,0 15,5 15,5 14,9 14,4 14,6 15,1 15,3 15,1 14,5 14,1
o
2 14,7 15,3 15,6 15,3 14,6 14,2 14,3 14,9 15,3 15,3 14,8 14,4
o
0 15,0 15,5 15,7 15,3 14,4 13,9 14,1 14,8 15,3 15,4 15,1 14,8
Hemisfério Sul
Latitude
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
ov Dez
o
50 17,5 14,7 10,9 7,0 4,2 3,1 3,5 5,5 8,9 12,9 16,5 18,2
o
48 17,6 14,9 11,2 7,5 4,7 3,5 4,0 6,0 9,3 13,2 16,6 18,2
o
46 17,7 15,1 11,5 7,9 5,2 4,0 4,4 6,5 9,7 13,4 16,7 18,3
o
44 17,8 15,3 11,9 8,4 5,7 4,4 4,9 6,9 10,2 13,7 16,7 18,3
o
42 17,8 15,5 12,2 8,8 6,1 4,9 5,4 7,4 10,6 14,0 16,8 18,3
o
40 17,9 15,7 12,5 9,2 6,6 5,3 5,9 7,9 11,0 14,2 16,9 18,3
o
38 17,9 15,8 12,8 9,6 7,1 5,8 6,3 8,3 11,4 14,4 17,0 18,3
o
36 17,9 16,0 13,2 10,1 7,5 6,3 6,8 8,8 11,7 14,6 17,0 18,2
o
34 17,8 16,1 13,5 10,5 8,0 6,8 7,2 9,2 12,0 14,9 17,0 18,2
o
32 17,8 16,2 13,8 10,9 8,5 7,3 7,7 9,6 12,4 15,1 17,1 18,1
o
30 17,8 16,4 14,0 11,3 8,9 7,8 8,1 10,1 12,7 15,3 17,2 18,1
o
28 17,7 16,4 14,3 11,6 9,3 8,2 8,6 10,4 13,0 15,4 17,3 17,9
o
26 17,6 16,4 14,4 12,0 937,0 8,7 9,1 10,9 13,2 15,5 17,2 17,8
o
24 17,5 16,5 14,6 12,3 10,2 9,1 9,5 11,2 13,4 15,6 17,1 17,7
o
22 17,4 16,5 14,8 12,6 10,6 9,6 10,0 11,6 13,7 15,7 17,0 17,5
o
20 17,3 16,5 15,0 13,0 11,0 10,0 10,4 12,0 13,9 15,8 17,0 17,4
o
18 17,1 16,5 15,1 13,2 11,4 10,4 10,8 12,3 14,1 15,8 16,8 17,1
o
16 16,9 16,4 15,2 13,5 11,7 10,8 11,2 12,6 14,3 15,8 16,7 16,8
o
14 16,7 16,4 15,3 13,7 12,1 11,2 11,6 12,9 14,5 15,8 16,5 16,6
o
12 16,6 16,3 15,4 14,0 12,5 11,6 12,0 13,2 14,7 15,8 16,4 16,5
o
10 16,4 16,3 15,5 14,2 12,8 12,0 12,4 13,5 14,8 15,9 16,2 16,2
o
8 16,1 16,1 15,5 14,4 13,1 12,4 12,7 13,7 14,9 15,8 16,0 16,0
o
6 15,8 16,0 15,6 14,7 13,4 12,8 13,1 14,0 15,0 18,7 15,8 15,7
4o 15,5 15,8 15,6 14,9 13,8 13,2 13,4 14,3 15,1 15,6 15,5 15,4
o
2 15,3 15,7 15,7 15,1 14,1 13,5 13,7 14,5 15,2 15,5 15,3 15,1
0o 15,0 15,5 15,7 15,3 14,4 13,9 14,1 14,8 15,3 15,4 15,1 14,8
148
Se for difícil determinar o valor do albedo, adota-se a seguinte critério: r = 0,05 para
superfície livre da água, 0,15 para solo nu, e 0,23 para superfície com vegetação.
n
Rnl = f (t ) ⋅ f (ed ) ⋅ f
'
onde Rnl é a radiação líquida de ondas longas; e f(t) é a função obtida na Tab. 10.7.
(5) Estimativa de c
Normalmente recomenda-se o uso da Tabela 10.8. Mas se for difícil de determinar o valor
de c, considera-se que c = 1.
149
[Exemplo]
Estação experimental (acima de areia) no município de Campos – RJ (Latitude 22ºS;
Altitude 0 m). No dia 03 de junho de 2004, obteve-se: Temperatura = 15,0 ºC; Insolação = 8,5
hora/dia; Umidade relativa = 75,0%; Vento U2 = 43,2 km/dia (= 0,5 m/s). Considera-se que o valor
de Albedo da areia branca é de 37% (Tabela 10.5).
(1) Pela tabela de valores de tensão de saturação de vapor d’água no ar, para T=15ºC,
12,79
ea = 12,79 mmHg = = 17,05 mbar (pois, 1 mbar = 0,75 mmHg).
0,75
ur
Portanto, ea − ed = ea − ea = 17,05·(1 – 0,75) = 4,26
100
U 43,2
(2) f (U ) = 0,27 ⋅ 1 + 2 = 0,271 + = 0,38664
100 100
0,61 + 0,64
(3) W = = 0,625
2
(4) Para areia, r =37% = 0,37.
a = 0,25; b = 0,50
Para Junho, ' = 10,8 hora/dia (Tabela 10.2); Ra = 9,6 mm/dia (Tabela 10.6)
n 8,5
Rns = (1 − r )Rs = (1 − r ) a + b Ra = (1 − 0,37 ) 0,25 + 0,5 ⋅ ⋅ 9,6
' 10,8
= 3,892 mm/dia
13,5 + 13,8
Segundo a Tabela 10.7, f (t ) = = 13,65
2
ur 75
f (ed ) = 0,34 − 0,044 ed = 0,34 − 0,044 ea = 0,34 − 0,044 17,05 = 0,1826577
100 100
n n 8,5
f = 0,1 + 0,9 = 0,1 + 0,9 = 0,8083333
' ' 10,8
n
Portanto, Rnl = f (t ) ⋅ f (ed ) ⋅ f = 13,65·0,1826577·0,8083333 = 2,0153993
'
150
10.4.3. Estimativa de Evapotranspiração Regional
A evapotranspiração é uma componente que apresenta grande incerteza. Pode ser medida
através de equipamentos específicos, como lisímetros, estimada por meio de balanço hídrico ou por
dados metereológicos aplicados a equações. No entanto, sua medição é difícil e os resultados
estimados representam valores pontuais de localização específica. Portanto, a adoção destes dados
pontuais para grandes regiões pode resultar em uma estimativa errônea de evapotranspiração,
devido às diferentes coberturas de solo, dentre outros fatores(GIACOMONI & MENDES, 2008;
FOLHES, 2007, SANTOS, FONTANA & ALVES, 2010).
Neste contexto, o desenvolvimento de técnicas de sensoriamento orbital e os sistemas de
informações geográficas (SIGs) possibilitaram que vários fenômenos fossem representados de
forma espacial e, podem ser uma alternativa para o cálculo de evapotranspiração a nível regional.
Uma importante vantagem do uso de sensoriamento remoto é possibilidade de cálculo de
evapotranspiração sem a necessidade de se quantificar complexos processos hidrológicos
(GIACOMONI & MENDES, 2008).
Comumente, a representação espacial da evapotranspiração é realizada por meio de
algoritmos matemáticos em SIGs, que interpolam e/ou extrapolam informações pontuais obtidas em
estações metereológicas, gerando um plano de informação. Mas, se o objetivo é avaliar a
distribuição espacial da evapotranspiração, aumenta a incerteza da estimativa ao utilizar métodos de
interpolação\extrapolação dos elementos meteorológicos na área de estudo. Visando minimizar o
emprego de variáveis meteorológicas com baixa representatividade regional, muitos modelos foram
desenvolvidos nas últimas décadas para estimar os fluxos de energia na superfície terrestre com
base técnicas de sensoriamento remoto. Foram desenvolvios modelos de caráter empírico,
determinístico e semi-emprírico (FOLHES, 2007).
Dentre os métodos empíricos pode-se citar o método residual do balanço de energia, Water
Deficit Index (WDI), etc. Os métodos empíricos apresentam-se simples, no entanto, necessitam
grande esforço metdológico para se tornarem operacionais.
Os métodos determinísticos baseiam-se nos processos físicos de transporte de massa e
energia, ligados por meio de modelos de interação solo-planta-atmosfera, ou seja, são uma
abordagem determinística, utilizada nos modelos Soil Vegetation Atmosphere Transfer (SVAT) que
estimam evapotranspiração e outros processos, por meio da interação dos diferentes elementos do
sistema vegetal. Estes métodos apresentam como vantagens, em relação aos empíricos: i) expressam
melhor a realidade física do transporte de energia e água no sistema; e ii) simulam os fluxos de
maneira conínua. Porém, os modelos determinísticos frequentemente necessitam de grande número
de parâmetros de entrada e apresentam complexas interações, implicando em significativas
simplificações antes de sua utilização.
Os métodos semi-empíricos reproduzem o balanço de energia nas superfícies. Proporcionam
uma operacionalização das estimativas de evapotranspiração de maneira mais fácil, porque
possibilitam a realização de diversas simulações em curto espaço de tempo e relativamente com
poucos dados de superfície.
Atualmente, diversos métodos vêm sendo utilizados, como por exemplo, o algoritmo S-
SEBI (Simplified Surface Energy Balance Index), algoritmo SEBAL (Surface Energy Balance
Algorithm for Land) e o METRIC (Mapping Evapotranspiration at high Resolution and with
Internalized Calibration).
151
O algoritmo SEBAL foi desenvolvido por Bastiaanssen, em 1995 e validado em várias
regiões pertencentes ao Egito, Espanha, Portugal, França, Itália, Argentina, China, Índia, Nigéria,
Estados Unidos, etc. Esta medotologia vem sendo amplamente utilizada e tem como princípio o uso
da equação do balanço de energia e a relação entre as radiâncias do espectro infravermelho termal e
visível de áreas com contraste hidrológico evidente, ou seja, superfícies secas e úmidas na região de
estudo. Ele utiliza como dados de entrada os climatológicos obtidos a partir de estações
metereológicas e imagem NDVI (Ìndice de Vegetação da Diferença Normalizada) e simula suas
inter-relações para estimar os fluxos de energia da superfície para uma grande variação de obertura
do solo (BASTIAANSSEN et al, 1998; ALLEN et al, 2002).
A vegetação tem grande influência no balanço hídrico de uma bacia hidrográfica. As
técnicas de sensoriamento remoto, juntamente com o processamento digital de imagens,
possibilitam a obtenção de dados de extensas áreas vegetadas. Ou seja, a compreensão das variações
da evapotranspiração passa pela análise das informações quantitativas das mudancas espaciais e
temporais da cobertura vegetal, as quais podem ser avaliadas mediante as técnicas de sensoriamento
remoto.
Algumas linhas de pesquisa buscam relacionar evapotranspiração a algumas características
da vegetação, utlizando modelos empíricos. Dentre as técnicas que permitem obter dados de
vegetação a partir de imagens orbitais, tem-se o realce de imagens por meio de razão de bandas, as
quais têm como objetivo principal maximizar as informações de vegetação, denominadas índice de
vegetação, sendo comumente usado o 'DVI.
Aqui, será apresentado sucintamente um trabalho de Uda et al (2010) que estimaram a
distribuição espacial da evapotranspiração potencial (ETP) por meio da correlação com o 'DVI
para a bacia do Rio Negrinho-SC.
Objetivo
O objetivo geral deste estudo foi analisar a evapotranspiração potencial distribuída, por meio
de imagens NDVI na bacia do Rio Negrinho – SC.
Material
Foram utilizados: i) programas Idrisi Andes Versão 15.0 e SPRING (Sistema de
Processamento de Informações Georreferenciadas), versão 5.0.4; ii) Imagens do satélite LandSat-
TM5 (resolução espacia de 30m), datadas de 02/01 e 28/08/2009, referentes à órbita 220, pontos 78
e 79, obtidas gratuitamente pelo site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE.
http://www.dgi.inpe.br/CDSR; iii) Dados meteorológicos: temperaturas média e umidade relativa
do ar, velocidade do vento e radiação, obtidos de nove estações, sendo três localizadas no Estado do
Paraná e seis, em Santa Catarina.
Área de Estudo
A bacia hidrográfica do Rio Negrinho (195,09 km2), localiza-se no Planalto Norte
Catarinense e situa-se entre as longitudes 49°19’54”W e 49°31’22”W e as latitudes 26°14’45”S e
26°25’31”S, abrangendo as cidades de Rio Negrinho, São Bento do Sul e Corupá.
152
Método
• Uso e cobertura do solo
Por meio de um recorte das imagens LandSat TM5, ponto 78, que continha a bacia do rio
Negrinho, mapas de uso e cobertura do solo foram obtidos no software SPRING 5.0.4, por meio de
segmentação por crescimento de regiões e posterior classificação supervisionada pelo, definindo-se
as classes: reflorestamento, mata nativa, agricultura, área urbana e solo exposto.
• Imagens 'DVI
No software Idrisi Andes, inicialmente, foi feita a calibração radiométrica e a correção
atmosférica das imagens para obtenção de valores físicos de reflectância da superfície de forma
mais fidedigna, possibilitando a obtenção do índice de vegetação. Através do modelo Cos(t),
proposto por Chavez (1996), que utiliza as equações propostas por Markham e Barker (1986),
realizou-se a conversão dos NDs para fator de reflectância bidirecional (FR) e o método da
subtração do pixel escuro para a remoção de névoa.
Após, foram geradas as imagens de índice de vegetação da diferença normalizada (NDVI).
Este índice possibilita o realce das imagens por meio da diferença normalizada entre bandas,
condensando as informações espectrais dos objetos e realçando a vegetação, com o objetivo de
minimizar a influência do solo na resposta espectral da mesma, diminuir a interferência da
atmosfera e as variações mensais do ângulo solar zenital, a partir da Equação 1:
NDVI = (ρ4-ρ3) / (ρ4+ρ3) (1)
em que NDVI é o índice da diferença normalizada; ρ3 é a reflectância na região do vermelho; ρ4 é a
reflectância na região do infravermelho próximo.
153
em que é a evapotranspiração potencial (mm.d-1); e são os coeficientes a serem estimados
pelo método dos mínimos quadrados e é o valor do índice de vegetação da diferença
normalizada (adimensional).
Determinados os coeficientes e da Equação 3, foram gerados os mapas de ETP
distribuída no software Idrisi Andes, por meio da inserção da equação de regressão no módulo
Image Calculator, tendo como variável independente as imagens NDVI. Desta maneira, para cada
pixel das imagens NDVI foi calculado o respectivo valor de ETP, gerando as imagens de ETP
distribuída.
Resultados
• Imagens 'DVI
As Figuras 1 e 2 representam o NDVI para a bacia do rio Negrinho. Constatam-se valores
entre -1 e 1 e que as imagens NDVI destacam a vegetação em relação aos demais elementos, como
áreas urbanas e solo exposto. Os tons de verde indicam áreas cobertas de vegetação, sendo que as
zonas em verde escuro representam regiões de vegetação densa, como florestas, onde os valores de
NDVI estão próximos de 1. As zonas urbanas, o solo exposto e os plantios recentes estão
representados em tons mais amarelados, com NDVI variando de 0 a -1. Na bacia em estudo não foi
detectada a presença de corpos d’água de magnitude suficiente a serem evidenciados nas imagens
NDVI, uma vez que as imagens apresentam uma resolução de 30x30m. Para extração dos dados
visando à relação ETP x NDVI, foram geradas imagens NDVI que abrangem todas as estações
meteorológicas (visualizadas no canto inferior direito das Figuras 1 e 2).
Figura 1: Imagem NDVI para 01/02/2009. Figura 2: Imagem NDVI para 01/02/2009.
154
• Mapas de ETP Distribuída
A relação entre os dados NDVI e ETP foi realizada a partir da regressão linear entre os
dados de ETP das estações e de NDVI, dos pixels de localização geográfica idêntica a das estações
meteorológicas (Tabela 1), obtendo-se os diagramas de dispersão (Figuras 3 e 4).
Figura 3. Relação ETP x NDVI, para Figura 4. Relação ETP x NDVI, para
01/02/2009. 28/08/2009.
Figura 5. Mapa de ETP distribuída, para Figura 6. Mapa de ETP distribuída, para
01/02/09. 28/08/09.
Conclusões
• O método aplicado obteve bom ajuste, evidenciando uma alta relação entre índice de
vegetação da diferença normalizada e evapotranspiração potencial pelos elevados coeficientes
de determinação (r2 = 0,9364 e 0,9193).
• Para as imagens LandSat-TM5, datadas de 01 de fevereiro e 28 de agosto de 2009, o NDVI
variou de -1 a 1 na bacia do rio Negrinho, indicando que existem áreas sem cobertura vegetal
e com densa cobertura de vegetação, respectivamente.
• Na bacia do rio Negrinho, a vegetação tem grande influência no comportamento da
evapotranspiração, visto que corresponde a mais de 75% de sua área.
156
• A evapotranspiração apresentou os menores valores para as áreas urbanas, com amplitude
interquartil entre 3,84 e 4,71 mm.d-1 em 01 de fevereiro de 2009 e 2,74 a 3,21 mm.d-1 em 28
de agosto de 2009, e os maiores valores para áreas de reflorestamento, com amplitude
interquartil entre 5,04 e 5,16 mm.d-1 em 01 de fevereiro de 2009 e 3,53 a 3,72 mm.d-1 em 28
de agosto de 2009.
Referências bibliográficas
ALLEN, R.; TASUMI, M.; TREZZA, R.; BASTIAANSSEN, W. SEBAL - Surface Energy
Balance Algorithms for Land: Advanced Training and Users Manual. Idaho. Versão 1.0.
Agosto de 2002. 98p.
BASTIAANSSEN, W.G.M., MENENTI, M., FEDDES, R.A., HOLTSLAG, A.A.M. A remote
sensing surface energy balance algorithm for land (SEBAL) 1. Formulation. Journal of
Hydrology. 212-213. p. 198-212, 1998.
CHAFFE, P.L.B.; KOBIYAMA, M. Estudo hidrológico comparativo na região serrana sul
brasileira. Florianópolis: UFSC/CTC/ENS/LabHidro, 2006. 35p.
FOLHES, M. T. Modelagem da evapotranspiração para a gestão hídrica de perímetros
irrigados com base em sensores remotos. 2007. 186 p. Tese (Doutorado em Sensoriamento
Remoto) São José dos Campos: INPE.
GIACOMONI, H.M.; MENDES, C.A.B. Estimativa de Evapotranspiração Regional por meio de
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KOBIYAMA, M.; CHAFFE, P.L.B. Water balance in Cubatão-Sul river catchment, Santa
Catarina, Brazil. Revista Ambiente e Água, Taubaté, v.3, p.5-17, 2008.
KOBIYAMA, M.; CHAFFE, P.L.B.; ROCHA, H.L.; CORSEUIL, C.W.; MALUTTA, S.; GIGLIO,
J.N.; MOTA, A.A.; SANTOS, I.; RIBAS JUNIOR, U.; LANGA, R. Implementation of school
catchments network for water resoureces management of the Upper
egro River region,
southern Brazil. In: TANIGUCHI, M.; BURNETT, W.C.; FUKUSHIMA, Y. HAIGH, M.;
UMEZAWA, Y. (eds.) From Headwaters to the Ocean: Hydrological Changes and Watershed
Management, London: Tayor & Francis Group, 2009. p.151-157.
MOREIRA, M. A. Fundamentos do Sensoriamento Remoto e Metodologias de Aplicação.
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UDA, P. K.; CORSEUIL, C.W.; NETTO, A.O.A.; BORTOLOTTO, N.L. Análise da
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In: IX Seminário de Atualização em Sensoriamento Remoto e Sistemas de Informações
Geográficas Aplicados à Engenharia Florestal. Curitiba: FUPEF, Anais, 2010. p.288-295.
157
Bibliografia recomendada (avançada)
BRUTSAERT, W. Evaporation into the atmosphere. London: D. Reidel Pub. Co., 1982. 299p.
DOORENBOS, J.; PRUITT, W.O. Guidelines for predicting crop water requirements. 2 ed.
Rome: FAO, 1992. 144p. (FAO Irrigation and Drainage Paper 24).
PEREIRA, A. R.; NOVA, N.A.V.; SEDIYAMA, G.C. Evapo(transpi)ração. Piracicaba: Fundação
de Estudos Agrários Luiz de Queiroz, 1997. 183 p.
158
11. SEDIME
TOS EM RIOS
O percurso que a água superficialmente segue em uma bacia topográfica é determinado por
suas formações topográficas. Ao transitar, esta água pode possuir uma dada energia que pode
remover e carrear partículas do solo e do leito dos rios. Como o movimento dos sedimentos ocorre
junto com o da água, ao se enfatizar mais a dinâmica do sedimento do que o da água, os processos
hidrológicos podem ser chamados processos hidrossedimentológicos.
Então, em outras palavras, pode-se dizer que os processos hidrossedimentológicos estão
fortemente ligados ao ciclo hidrológico. Tais processos compreendem a desagregação, separação ou
erosão, o transporte, decantação ou sedimentação, deposição e consolidação ou compactação de
partículas sólidas presentes na bacia hidrográfica. Muitas vezes, a desagregação, a separação e a
erosão estão sendo tratadas como sinônimos. Da mesma forma a decantação, sedimentação e a
deposição são tratadas como sinônimos. A consolidação e a compactação não serão tratadas na
presente discussão devido ao fato que esses dois fenômenos geralmente ocorrem no tempo
geológico. Nota-se que, às vezes, que todos estes processos estão inclusos nos chamados processos
erosivos. Desta forma, de maneira simples, pode-se dizer que os processos erosivos consistem em
erosão (desagregação), transporte e deposição.
O assoreamento constitui-se em um dos mais graves impactos da erosão nos recursos hídricos,
favorecendo a ocorrência de enchentes, causando a perda da capacidade de armazenamento de água nos
reservatórios para o abastecimento público e incremento de poluentes químicos. Mas existe também o
aspecto benéfico relacionado ao transporte e deposição de microorganismos ou matéria orgânica que
melhora a fauna fluvial, bem como o carreamento de nutrientes, fertilizando terras já formadas.
De qualquer maneira, todos os processos contribuem com o remanejo e redistribuição de
partículas sólidas ao longo da bacia. Isto pode eventualmente ou permanentemente alterar o ciclo
hidrológico e a própria dinâmica dos sedimentos, e conseqüentemente, influenciar no manejo dos
recursos naturais.
11.1.1 Desagregação
A desagregação é o desprendimento de partículas sólidas do meio do qual fazem parte, por
meio de reações químicas, variações de temperatura, ações mecânicas dentre outros fatores. O
desprendimento e arraste de partículas é causado por forças ativas e passivas. As forças ativas,
representadas pelas tensões de cisalhamento são determinadas pelas características da chuva, a
declividade, comprimento da superfície do terreno e a capacidade de infiltração do solo. As forças
passivas são o atrito e a coesão do solo que representam a resistência do solo contra a ação erosiva da
159
água. Esta resistência depende das propriedades do solo, do uso do solo e da umidade do solo
(Adinarayana et al., 1999).
A erosão pode ser entendida como o processo de desgaste e arrastamento da superfície da
terra pela ação da gravidade combinada com água, vento, gelo, atividades humanas ou outros
agentes naturais (Silva et al., 2003). A erosão esta relacionada com a fragmentação mecânica e
decomposição química das rochas, bem como na remoção superficial e subsuperficial dos produtos
do intemperismo (Bigarella, 2003). Os principais fatores condicionantes do processo erosivo são os
tipos de solo, a natureza das rochas formadoras do solo, o clima, a topografia e a cobertura do solo.
A erosão pode ocorrer de quatro grandes tipos: (i) erosão eólica; (ii) erosão hídrica
superficial; (iii) erosão fluvial; e (iv) erosão por remoção em massa (Carvalho, 1994).
A erosão eólica é aquela provocada pelo vento. Sua ocorrência esta ligada a coesão do solo,
ao tamanho e estabilidade das partículas, rugosidade da superfície, velocidade e turbulência do
vento, dentre outros fatores (Carvalho, 1994).
A erosão hídrica pode ocorrer por: (i) erosão pluvial – ocorre pelo contato da gota com o
solo; (ii) erosão por escoamento difuso – também conhecida por erosão em sulcos ou ravinas, tem
capacidade reduzida de arranque; (iii) erosão por difuso intenso – possui as mesmas características
do anterior mas com transporte maior de sedimentos; (iv) erosão laminar – ocorre quando o solo
esta saturado e forma-se uma lâmina de água que escoa e erode a superfície uniformemente em toda
sua extensão; e (v) erosão por escoamento concentrado – quando permite com que sulcos vão
sofrendo desmoronamentos terminando pela formação de voçorocas (Carvalho, 1994).
A erosão fluvial é aquela que acontece espontaneamente pela ação das correntes dos rios.
Este tipo de erosão é o responsável pela formação do leito dos rios.
A erosão em massa corresponde aos grandes movimentos de massa tanto de solo como de
rochas. Conforme Carvalho (1994) a erosão em massa pode se processar de forma lenta (rastejo e
solifluxão) e rápida (desprendimento de terra, escorregamento superficial e escorregamento
profundo). Pode-se utilizar também para este tipo de erosão a classificação proposta por Augusto
Filho (1994) separando os escorregamentos em 4 tipos: rastejos, deslizamentos (rotacional e
translacional), quedas de blocos e fluxo de escombros (debris flow). Dentre estes movimentos, o
mecanismo do fluxo de escombros pode ser considerado com um dos mais complexos, pois
geralmente inicia com um deslizamento rotacional ou translaciona, e se transorma em um fluxo
quando o material deslizado alcança e se propaga pelo canal. Assim, este tipo de movimento possui
caracteríriticas tanto de erosão em massa como erosão fluvial. A descrição mais detalhada do fluxo
de escombros se encontra em Takahashi (2007). Embora o presente trabalho não trate desse
fenômeno, ele deve ser detalhadamente estudado no Brasil já que ocorreu intensamente e gerou
muitos prejuízos no Vale do Itajaí em 2008 e 2009 (Goerl et al., 2009).
11.1.2 Transporte
Os sedimentos resultantes do processo de erosão acabam sendo transportados
principalmente pela ação do escoamento da águas influenciado pelas condições locais e
granulometria dos sedimentos.
O transporte de sedimentos é o fenômeno de deslocamento de sedimentos que acontece em
ambientes aquáticos e aéreos, promovidos pela interação química e física das partículas ao fluído. O
presente trabalho terá como foco o transporte em ambientes fluviais.
160
Os sedimentos presentes nos rios englobam os materiais proveninetes das rochas, solos e
poluentes antropicos procedentes de diversas ações como: os processos erosivos que ocorrem nas
vertentes da bacia hidrográfica, no leito e nas margens dos rios; os movimentos de terra que
atingiram os rios; os despejos de contaminantes; dentre outras origens.
O transporte nesses ambientes ocorre na forma dissolvida, em suspensão, por rolamento,
deslizamento e/ou saltação (Vestena, 2008). A Figura 11.1 apresenta os parâmetros que interferem
no transporte:
Transporte de Sedimentos
161
• Sedimento Clastícos ou Mecânicos
São fragmentos de rochas ígneas, metamórficas e/ou sedimentares que foram transportados e
depositados em determinados locais onde sofreram ou não, a consolidação Englobam: matacões,
blocos, seixos, grânulos, areias, siltes e argilas. Conglomerados, brechas, arenitos e folhelhos são
exemplos de rochas sedimentares consolidadas e areias, argilas e siltes são exemplos de não
consolidadas. Os sedimentos clastícos se deslocam em suspensão, por rolamento, deslizamento e/ou
saltação a partir da sua granulometria e da dinâmica do fluido. No entanto, parte da composição
mineral das argilas pode também se transportar na forma dissolvida, pois se apresentam na forma de
íons. Os detalhes de cada movimento serão apresentados no item Princípios de Interação Física.
• Sedimentos Químicos
• Sedimentos Orgânicos
162
Tabela 11.1. Relação entre a granulometria do sedimento e transporte.
Material Ø mm (AB
T 65602/95) Transporte
Argila 0<Ø<0,002 Em suspensão
Silte 0,002<Ø<0,06 Em suspensão
Areia Fina 0,06<Ø<0,2 Em suspensão, rolamento,
Média 0,2<Ø<0,6 arraste e/ou saltação
Grossa 0,6<Ø<2,0
Pedregulho Fina 2,0<Ø<6,0 Rolamento, arraste e/ou
Média 6,0<Ø<20,0 saltação
Grossa 20,0<Ø<60,0
163
O estudo da velocidade do fluido permite avaliar a energia da água, e, portanto, a
turbulência do fluido. A turbulência define se o sedimento se desloca em suspensão, por rolamento,
deslizamento e/ou saltação. Isso significa que um mesmo material pode ser transportado de formas
diferentes devido à turbulência da água. O estudo das condições do fluxo permite analisar a
intensidade de turbulência para manter os sedimentos em suspensão, e normalmente, nos ambientes
fluviais encontra-se o fluxo turbulento.
As condições do fluxo do rio são determinadas pelo 'úmero de Reynold (Re) que define o
fluxo como laminar ou turbulento, e pelo 'úmero de Froude (Fr) que define o fluxo como
supercrítico e subcrítico. As expressões matemáticas de ambos os parâmetros são apresentadas
abaixo.
v.D.ϕ
Re = (11.4)
µ
onde v é a velocidade, D é a profundidade, φ é o peso específico e µ é a viscosidade, com valor
igual a 1,12 x 10-4 m2.s. Quando o valor de Re é inferior a 500 o fluxo laminar é predominante,
quando superior a 750 predomina-se o fluxo turbulento.
v
Fr = (11.5)
g .D
onde g é a aceleração da gravidade. Quando o valor de Fr é inferior a 1 o fluxo é tranqüilo
(subcrítico), quando superior a 1 o fluxo é rápido (supercrítico).
Para uma mesma condição de fluxo, a turbulência aumenta ao longo da profundidade do
canal do rio devido ao aumento da fricção nas camadas limites (superfície do rio e fundo do leito),
seguindo o mesmo perfil de velocidade do fluido como mostra a Figura 11.3 (a) e (b).
Vale ressaltar que a forma e o tamanho dos sedimentos além das saliências existentes sobre
os fundos dos leitos dos rios interferem na remoção da partícula então depositada nestes fundos do
leito. Suguio e Bigarella (1990) apresentam uma comparação entre a dinâmica de deposição e
movimento das areias e argilas. Segundo estes autores, as argilas, em virtude da coesão existente,
exije uma maior energia para proporcionar essas remoções comparadas às areais, no entanto, as
areias se depositam mais rapidamente que as argilas.
Os sedimentos em suspensão se transportam com a mesma velocidade do fluido e
permanecem em suspensão desde que a intensidade de turbulência seja superior a velocidade de
decantação da partícula. Essa por sua vez depende da viscosidade do fluido, do peso específico, do
tamanho e esfericidade da partícula.
A distribuição vertical dos sedimentos nos cursos de água está diretamente relacionada à
velocidade da corrente horizontal e do peso das partículas. A concentração de sedimentos, de
maneira geral, apresenta seu mínimo na superfície e seu máximo perto do leito, variando de acordo
com a granulometria. As partículas mais finas, como silte e argila apresentam uma distribuição
aproximadamente mais uniforme na vertical, enquanto as partículas mais grossas apresentam uma
variação crescente da superfície para o leito (Figura 11.2).
164
Figura 11.2. Distribuições verticais teóricas dos sedimentos no rio em função do material.
(Fonte: Morris e Fan, 1997)
(a) (b)
Figura 11.3. (a) Diagrama da velocidade, concentração de sedimentos e descarga sólida em cursos
d’água; (b) Relação entre tipo de sedimento, condição de transporte e perfil de velocidade do
fluxo.(Fonte: (a) Carvalho, 1994; (b) Suguio e Bigarella, 1990)
11.1.3 Deposição
A decantação ou sedimentação refere-se ao processo pelo qual as partículas transportadas em
suspensão, descendem ao fundo do leito sob efeito da gravidade. A decantação é muitas vezes
confundida com o depósito, porém difere por poder continuar movimentando-se mesmo em contato com
o fundo (fundo móvel). A deposição representa a parada total da partícula em suspensão recém
decantada sobre o fundo, ou daquela transportada por arraste (Bordas e Semmelmann, 2000). A
deposição ocorre quando a força peso das partículas sólidas transportadas torna-se maior que a
energia de transporte.
A consolidação ou compactação representa o acúmulo de partículas sobre o fundo e a
compactação do depósito resultante sob efeito do próprio peso dos sedimentos, da pressão
hidrostática ou outro fenômeno que venha aumentar a densidade dos depósitos (Bordas e
Semmelmann, 2000).
166
desagregação, transporte e deposição. Nota-se na figura que o tamanho da partícula e a velocidade
do fluxo para erosão não possuem uma relação linear. Quando o tamanho for entre 0,2 e 0,4 mm, a
velocidade necessária para erosão torna-se mínima. Quando o tamanho for ainda menor, necessita-
se uma velocidade ainda maior para gerar a erosão. Isto porque, partículas com tamanho menor
(argila e silte) possuem maior coesão e precisam sofrer maior força para desagregação. Uma vez
que as partículas se movimentam, a energia necessária para transporte diminui, pois não existe mais
coesão entre as partículas.
167
na estimativa da erosão, principalmente pela sua simplicidade, e pelo número pequeno de dados de
entrada necessário no modelo. A USLE é apresentada como:
A = R.K .L.S .C.P (11.6)
onde A é a perda do solo computada por unidade de área [ton/(ha.ano)]; R fator erosividade da
chuva [MJ.mm/(ha.h.ano)]; K fator erodibilidade do solo, definido como a quantidade de solo
perdida por unidade de área por unidade de índice de erosividade [ton.ha.h/ha.MJ.mm]; L fator
comprimento do declive (adimensional); S fator declividade (adimensional); C fator uso e manejo
do solo (adimensional); P fator práticas conservacionistas (adimensional).
Com o tempo a USLE sofreu diversas modificações para outras finalidades, podendo citar:
• MUSLE - Foi desenvolvida por Williams (1975) para prever a produção de sedimentos em
de pequenas e médias bacias hidrográficas através de análises de chuvas. Houve
modificação no cálculo do fator hidrológico, os demais permanecendo iguais ao USLE.
• RUSLE – Desenvolvida por Renard et al. (1991) é uma atualização da USLE, com
modificações na estimativa de alguns fatores K, C e P.
Devido a sua simplicidade e facilidade do uso, a USLE vem sendo utilizada amplamente no
Brasil. A ANA adotou este modelo para realizar o programa “Produtor de Água” (Chaves et al.,
2004). Por causa deste projeto, este modelo poderá ser ainda mais difundido no futuro.
168
Para bacias maiores, em torno de 776 km2, a SDR está por volta de 3 a 20%. Walling (1983)
apresentou uma única relação entre o tamanho da bacia e o valor da SDR (Figura 11.6).
Figura 11.5. Relação entre área da bacia e SDR. (Fonte: Maidment, 1993)
Figura 11.6. Única relação entre área da bacia e SDR. (Fonte: Walling, 1983)
Entretanto, Walling (1988) relatou que a SDR pode variar substancialmente no decorrer do
ano, sofrendo uma variação entre 20% a 50% no inverno, e de até 100% a 350% no verão. Assim, a
relação entre área da bacia e a SDR não é muito simples. Entretanto, de posse dessa relação, pode-
se estimar a quantidade dos sedimentos que passam em uma determinada seção no rio caso se tenha
valor de perda total do solo na área de contribuição. Aplicação da USLE é relativamente simples.
Então, calculando a perda de solo com a USLE, é possível ter uma noção da quantidade dos
sedimentos no rio. Mesmo assim é aconselhavel medir os sedimentos no rio com amostragem.
169
serem representativas para toda a seção. Estas amostras representam a concentração média de
sedimento da vertical como da seção, quando as coletas são realizadas ao longo de diversas verticais
na seção. Na medição integral deve-se ter cuidado para nunca tocar o fundo do rio e também que a
velocidade com que o amostrador é baixado e levantado sejam suficientes para não encher a garrafa
(Carvalho, 1994).
Para a determinação da concentração de sedimento em suspensão (CSS) pode ser realizada
através de amostradores: (i) instantâneos; (ii) por integração; e (iii) por bombeamento (Carvalho,
1994).
Os amostradores instantâneos (Figura 11.7) coletam a amostra pelo fechamento instantâneo
das extremidades do equipamento. Os amostradores por integração acumulam no recipiente a
amostra obtida através do meio por um bico. Já os amostradores por bombeamento utilizam uma
bomba para coleta da amostra.
(a) (b)
Figura 11.8. Amostrador por integração: (a) amostrador; (b) utilização a vau.
(a) (b)
Figura 11.9. Amostrador Helley Smith: (a) em campo (b) em detalhe.
(Fonte (b): http://www.fondriest.com/images/helley-smith_sampler_sm.jpg)
171
(a) (b)
Figura 11.10. Amostrador de material de leito: (a) aplicação em campo; (b) US-BMH-53.
(Fonte: (b) http://water.usgs.gov/osw/pubs/OFR_2005_1087/US_BMH53.gif)
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173
12. GERAÇÃO DE VAZÃO EM RIOS
Masato Kobiyama
Pedro Luiz Borges Chaffe
174
Tabela 12.1. Termos empregados para zona ripária. (a)inglês; (b)português; e (c)japonês.
(a)
Autor(es) Termo utilizado Definição
Dillaha et al. (1989) Faixa vegetal de filtragem Área de vegetação estabelecida para remover
(vegetative filter strip) sedimentos e outros poluentes a partir do
escoamento superficial através de filtragem,
deposição, infiltração, adsorção, absorção,
decomposição, e volatilização.
Gregory & Ashkenas Área ripária Ecossistema aquático (EA) e porções do
(1990) ecossistema terrestre (ET) próximas ao EA,
que diretamente afetam ou são afetados pelo
EA. Inclui rios, lagos, banhados, planície de
inundação, uma parte de vertente.
Gregory & Ashkenas Zona de manejo ripário Área especificamente estabelecida para
(1990) objetivos do manejo ripário. Está dentro da
área ripária, mas não necessariamente inclui
toda parte da mesma.
Gregory et al. (1991) Zona ripária Interface entre ecossistemas terrestre e
aquático. É ecótono. Estende-se
horizontalmente até o limite que a inundação
alcança, e verticalmente até o topo da copa da
vegetação. É reconhecida como corredor para
movimento de animais dentro do sistema de
drenagem.
Bren (1993) Zona ripária Área de maior proximidade dos rios
Hupp & Osterkamp Zona ripária Uma parte da biosfera inundada e suportada
(1996) pela paisagem fluvial atual. Inclui barranco,
planície de inundação
NRCS (1997) Armazenamento florestal Área de árvores e arbustos, localizada próxima
ripariano (Riparian Forest de rios, lagos, lagoas e banhados.
buffer)
Bren (1997) Armazenamento do rio (Stream Área adjacente ao rio, a partir da qual o
buffer) desamamento não é permitido.
Bren (1998) Faixa de armazenamento (Buffer Área de terra ao longo do rio, protegida da
strip) prática de uso do solo na bacia hidrográfica,
para proteger o rio dos impactos de montantes.
Georgia Adopt-A- Zona ripária Área de vegetação (natural) em torno do corpo
Stream (2002) de água.
McKergow et al. Área ripária Terra bem próxima a rios, podendo
(2003) potencialmente minimizar impactos da
agricultura sobre os mesmos. Minimizar
impactos da agricultura sobre rios.
Webb & Erskine Zona ripária Conjunto de canal, barraco e planície de
(2003) inundação.
175
(b)
Autor(es) Termo utilizado Definição
Salvador (1987) Floresta ripícola ou ciliar Vegetação arbórea das margens dos rios, que
desempenha funções ecológicas e hidrológicas
importantes em uma bacia hidrográfica.
Mantovani (1989) Floresta ripária Formações com particularidade florística, em
função das cheias periódicas, variáveis em
intensidade, duração e freqüência e da flutuação
do lençol freático.
Mantovani (1989) Floresta de condensação Floresta situada no fundo de vales, em condições
mesoclimáticas que favorecem a condensação e
a permanência de neblina nas primeiras horas do
dia, ao menos em algum período do ano.
Mantovani (1989) Mata aluvial Floresta que se situa sobre aluviões
Mantovani (1989) Floresta paludosa ou de várzea Floresta que se situa em várzeas
Rodrigues (1991) Floresta ripária Faixa de vegetação sob as interferências diretas
da presença de água em algum período do ano.
Rodrigues (1992) Mata ciliar Qualquer formação às margens de cursos da
água, incluindo as matas ripárias, de galeria e até
de brejo, quando se tem um curso da água bem
definido.
Torres et al. (1992) Floresta de brejo Floresta sobre solos permanentemente
encharcados, com fluxo constante de água
superficial.
Schiavini (1997) Floresta de galeria Florestas situadas nas faixas marginais dos
cursos da água, formando uma galeria. Dessa
maneira, é um caso especial da floresta ciliar.
Barbosa (1997) Floresta de galeria Formações vegetais características de margens
de corpos da água com espécies altamente
tolerantes e resistentes ao excesso da água no
solo.
Brazão & Santos Áreas das formações pioneiras com Áreas de acumulação dos cursos de água, lagoas
(1997) influência fluvial ou lacustre e assemelhados, que constituem os termos
(vegetação aluvial) aluviais sujeitos ou não a inundações periódicas.
Souza (1999) Vegetação ripária Toda e qualquer vegetação de margem, não
apenas a que está relacionada ao corpo da água,
seja este natural ou criado pelo homem.
Rodrigues (2000) Formação ribeirinha Formação vegetal e fitogeográfica em áreas de
entorno de cursos de água, definindo uma
condição ecotonal (ecótono ciliar).
Dias (2001) Áreas de preservação permanente Áreas com qualquer formação às margens de
ciliares cursos da água (ciliares), legalmente protegidas,
de acordo com o Código Florestal.
Selles et al. (2001) Mata ciliar Faixa de mata na margem da água.
Ohta & Takahashi Zona ripária Ecossistema aquático, tais como rios e lagoas, e
(1999) ecossistema terrestre que influencia diretamente
os mesmos.
The Japan Society of Zona ripária Zona próxima a rios, lagos, pântanos, etc. Esta
Erosion Control zona influencia fortemente a transferência de
Engineering (2000) energia, nutrientes, sedimentos etc. entre os
ecossistemas terrestre e aquático. Incluem
planície, vertente, vegetação, e a estrutura
subterrânea onde a água subterrânea se
movimenta.
The Japan Society of Zona de armazenamento (buffer) Zona que minimiza efeitos físicos, químicos e
Erosion Control biológicos dos usos da terra sobre outros
Engineering (2000) ambientes vizinhos.
The Japan Society of Zona de manejo ripário. Zona florestal protegida, em torno de rios e
Erosion Control lagoas, pela legislação.
Engineering (2000)
176
NRCS (1997) classificou a área mais detalhadamente com critério de geomorfologia e uso
da terra (Figura 12.1). Nesta figura, a Zona 3 é considerada como faixa de filtragem que é
exclusivamente para reduzir a quantidade dos sedimentos e solutos (fertilidade e agrotóxicos) que
vêm da área de cultivos e entram no rio.
No caso da proposta de Gregory & Ashkenas (1990), a zona de manejo ripário não coincide
com a ripária. Isso é natural, pois para melhorar a condição da zona ripária, o manejo deve ser
efetuado não somente nela, mas também em seu redor (Figura 12.2). Nesta figura, a zona ripária
coincide com a planície de inundação.
Figura 12.2. Zona de manejo ripário (Fonte: Gregory & Ashkenas, 1990)
Figura 12.3. Conceito da zona “hyporheic”. (Fonte: Takahashi & Ohta, 1999). Observação: A
origem da água no rio é da água subsuperfical de vertente (A), água subsuperficial da zona
“hyporheic” (B), e água subterrânea bem profunda (C). Normalmente a água “hyporheic” recarrega
o rio, mas às vezes o rio recarrega a zona “hyporheic” (D).
Finalizando a discussão sobre a terminologia, a zona ripária deve ter melhor compreensão
em termos de espaço físico tridimensional (KOBIYAMA, 2003). Entretanto, neste caso, a zona
ripária implica apenas espaço. Quando se precisa tratar o sistema, processos, mecanismos entre
outros, é melhor usar o termo ecossistema ripário. Este ecossistema é sistema aberto. Por isso, ele é
considerado ecótono entre ecossistemas terrestres e aquáticos através da movimentação das águas
superficial e subterrânea (Figura 12.4).
178
Regolito
(Horizontes A e B Zona
“Hyporheic”
179
CALHA MAIOR
ZONA RIPÁRIA
Analisando diversos trabalhos, Silva (2003) classificou as funções da zona ripária em nove
itens, descritos a seguir:
(i) Estabilização de taludes e encostas
A vegetação ripária atua significativamente para a estabilização de taludes e encostas. Nos
taludes, contribui para a formação junto ao solo de uma manta protetora contra a erosão causada
pela chuva e pelo escoamento superficial. Nas encostas, as raízes das plantas contribuem para a
fixação do solo acima da camada de rocha.
(ii) Manutenção da morfologia do rio e proteção a inundações
A vegetação garante a preservação dos meandros nos rios, diminuindo a velocidade do
escoamento e conseqüentemente diminuindo a erosão, aumentando a infiltração da água no solo
durante as inundações. Também por infiltração diminui a quantidade de água que chega ao rio.
Desta forma, a quantidade de água transbordada é menor (diminuição do pico de cheia) e, em
conseqüência disso, os danos causados também são menores.
(iii) Retenção de sedimentos e nutrientes
Funcionando como um filtro, a vegetação retém os sedimentos e nutrientes provenientes de
alterações à montante (atividades agrícolas, desmatamentos, etc). Diminui a velocidade do
escoamento superficial e favorece a infiltração dos nutrientes para degradação pelo solo. Desta
forma, a vegetação ripária contribui para a manutenção da qualidade do rio.
(iv) Mitigação da temperatura da água e do solo
A interceptação dos raios solares produz sombras sobre o rio, regulando a temperatura e a
umidade do ar. No rio a redução da temperatura máxima favorece a oxigenação e reduz o stress de
peixes e outras espécies aquáticas. No solo diminui a temperatura na superfície favorecendo a
conservação da umidade.
(v) Fornecimento de alimento e habitat para criaturas aquáticas
A vegetação ripária contribui para o rio com escombros lenhosos (restos de galhos, troncos), folhas e
insetos. Estes escombros podem formar escada – piscina (step–pool) providenciando cobertura para peixes.
(vi) Manutenção de corredores ecológicos
Faixas contínuas de zona ripária favorecem a formação de corredores ecológicos. É através dos
corredores que as mais variadas espécies se inter-relacionam através das diferentes paisagens. Preservando as
espécies que dificilmente são encontradas fora da zona ripária.
(vii) Paisagem e recreação
Zonas ripárias contribuem para uma imagem mais verde ao longo dos rios, bloqueando a vista de
transformações urbanas. Como locais de recreação permitem a prática de camping e trilhas.
180
(viii) Fixação do gás carbônico
Como toda floresta, as florestas ripárias contribuem para a fixação de gás carbônico. O gás se integra
à biomassa da floresta e esta por sua vez libera oxigênio. Esse gás é um dos grandes responsáveis pelo efeito
estufa.
(ix) Interceptação de escombros rochosos
A vegetação ripária, mais precisamente as árvores, pode funcionar como barreiras contra sedimentos
(pedras) vindos de montante. Esses sedimentos podem vir acompanhados de água (debris flow) ou sem água
(dry debris flow).
A Figura 12.6 mostra uma relação das larguras recomendadas para as faixas ripárias de acordo com
as funções que elas desempenham. Essas larguras são apresentadas em CRJC (2003).
Atividade humana
Rio
15 30 45 60 75 90
Figura12.6. Larguras ideais para as funções da zona ripária. (Adaptação de CRJC, 2003).
A Figura 12.7 mostra uma combinação entre as faixas recomendadas pela CRJC (2003) e os
resultados obtidos por Silva (2003)
A grande variação das faixas para um mesmo objetivo (diferença entre a largura mínima e
máxima) é função das diferentes metodologias empregadas e todos os outros parâmetros envolvidos
na determinação, como: tipo de solo, tipo de vegetação, declividade, vazão do efluente etc.
Atividade humana
Rio
Agrotóxicos (20m)
Sedimentos (9 a 52m)
Temperatura no rio (12m) Controle de enchentes (+ 60m)
181
As funções de estabilidade de taludes e de controle de enchentes não foram relacionadas à
largura da faixa ripária nos trabalhos levantados. Desta forma, foram utilizadas as larguras
recomendadas pela CRJC (2003). Também, não foram encontrados trabalhos que fizessem a mesma
relação para a função de interceptação de sedimentos (escombros lenhosos).
Embora não tenha utilizado o termo área variável de fonte, Tsukamoto (1961) demonstrou esse
conceito, com medição intensiva em uma bacia pequena no Japão. Takasao (1963) também apresentou esse
conceito através da modelagem numérica com teoria de onda cinemática. Além disso, Betson (1964) notou
esse conceito com análise dos dados de processo chuva-vazão, propondo outro termo “área parcial de fonte
(partial source area)”. Assim, através da revisão bibliográfica em relação à área variável, nota-se que nos
EUA e no Japão diversos pesquisadores descobriram individualmente o mesmo conceito de diferentes
maneiras. Isto é historicamente interessante. Descrição mais detalhada sobre esse conceito encontra-se em
Chorley (1978) e Mendiondo & Tucci (1997).
O conceito de área variável de fonte explica a dinâmica hídrica da água em entorno da rede fluvial.
Entretanto, ele não explica a dinamismo geomorfológico nesta área. Estendendo a classificação de
hierarquização da rede fluvial de Strahler (1952), Tsukamoto (1973) introduziu o novo conceito “ordem
zero”. Este local de ordem zero é onde ocorre erosão superficial e subsuperficial, conseqüentemente sendo a
fonte de sedimento em bacia hidrográfica. Os aspectos hidrogeomorfológicos em ordem zero foram
discutidos com medição em campo, por Tsukamoto & Minematsu (1987).
A zona ripária sofre uma drástica evolução geomorfológica. Essa evolução ocorre freqüentemente na
nascente (ou ordem zero). Schumm (1994) mostrou essa evolução (Figura 12.9). A evolução geomorfológica
182
foi demonstrada por Cohen & Brierly (2000) através da observação de um rio na Austrália que apresentou
três fases na evolução: (1) incisão do canal; (2) retificação e alargamento; (3) ajustamento lateral.
Segundo Gregory et al. (1991) e Hupp & Osterkamp (1996), a vegetação ripária ocupa uma das áreas
mais dinâmicas da paisagem. A distribuição e a composição das comunidades de plantas ripárias refletem a
história da inundação. Inundações freqüentes dificultam o estabelecimento da vegetação pela erosão
superficial e também pelos efeitos fisiológicos da inundação. A magnitude, a freqüência e a duração de
inundação diminuem lateralmente para fora do curso ativo da água, influenciando a distribuição de espécies.
Desta forma, na área próxima ao rio, a vegetação é mais jovem e baixa. Mesmo na área de inundação, se for
longe do curso da água, normalmente a vegetação é mais antiga e alta. Ainda, Seddel et al. (1990)
comentaram que as variações das características hidrológicas, enchentes e secas, condicionam o
desenvolvimento de espécies animais e vegetais na zona ripária e altera o habitat dos peixes. Além de
magnitude, freqüência e duração de inundação, sedimentos depositados também influenciam a distribuição
de espécies (MELICK & ASHTON, 1991).
A vegetação ripária exerce uma influência significativa sobre geomorfologia fluvial por afetar a
resistência ao fluxo, a resistência mecânica do solo em barranco, o armazenamento de sedimento, a
estabilidade de leito e a morfologia do canal (HICKIN, 1984), e é importante para função de ecossistema
aquático (GREGORY et al., 1991). Nos canais, a floresta ripária produz escombros lenhosos que
influenciam processos fluviais (KELLER & SWANSON, 1979; Nakamura & Swanson, 1993). Segundo
Brooks & Brierly (1997), existe uma comprovação que vegetação na zona ripária modifica a eficiência
geomorfológica dos eventos de inundação.
Assim, a vegetação ripária e o ambiente fluvial são bem relacionados. Essa relação foi
detalhadamente revisada por Malanson (1993) que enfatizou a ecologia de paisagem.
Segundo Vannote et al. (1980) que propuseram o conceito de contínuo fluvial (River Continuum
Concept), a influência da zona ripária é maior na parte montante da bacia onde os cursos da água são
caracterizados por ter pequena largura, alta velocidade, pouca vazão, pouca profundidade, entre outros. Ela
relativamente diminui mais para jusante. Com base nesses aspectos, Kobiyama et al. (1998a) concluíram que
a influência biológica na hidrologia é mais acentuada quanto menor tamanho da bacia.
183
Figura 12.9. Evolução da seção do canal (Fonte: Schumm, 1994)
184
instabilidade da própria massa, ocorre enxurrada ou fluxo de lama que destrói ainda mais a parte a
jusante. A Figura 12.12 apresenta o fluxograma desses desastres.
PROCESSOS HIDROLÓGICOS
Ciclo hidrológico
Chuva
Seca
Infiltração
Escoamento superficial
Escoamento subterrâneo
Velocidade da vazão
Profundidade da vazão
Intemperismo
Erosão superficial Inundação
Inundação Crescimento vegetal
Deslizamento Qualidade de água
Enxurrada PROCESSOS
GEOBIOHIDROLÓGICOS
Determinação da estrutura
da vegetação ripária
Morfologia fluvial
Regime hídrico
ECOSSISTEMA RIPÁRIO
185
Deslizamento
em vertente
(Massa
+ Escombros lenhosos)
Deposição da massa
no leito
Construção de
barragem
Manutenção Destruição
Enxurrada
Inundação
Fluxo de lama
Figura 12.12. Fluxograma de ocorrência de desastres devido a deslizamento em vertente próxima
ao rio.
Além disso, sedimentos gerados pelo movimento de massa e extensas voçorocas podem
alterar as características do canal localmente e extensivamente, com efeitos que incluem
alargamento do canal, redução do tamanho de sedimento no leito, aumento de turbidez (HARVEY,
1991; MADEJ & OZAKI, 1996).
Na ilustração onde Cohen & Brierley (2000) mostraram a evolução do canal, encontram-se o
deslizamento em talude e sua conseqüência devido a presença de escombros lenhosos (Woody
debris) em canal (Figura 12.13). The Japan Society of Erosion Control Engineering (2000) definiu
tamanho de escombros lenhosos grandes como os de diâmetro > 10 cm e comprimento > 3 m. A
presença desses escombros constrói depressão (pool) no canal, que é importante para o habitat de
peixes.
Figura 12.13. Deslizamento e escombros lenhosos em canal (Modificação de Cohen & Brierley
(2000))
186
morfológica entre bacias caracterizadas por diferentes processos geomorfológicos (Figura 12.14). A
mudança de tipo de morfologia do leito já foi notada por Montgomery & Buffington (1997).
Ohmori & Shimazu (1994) classificaram o risco natural ao longo do rio em três tipos:
enxurrada (debris flow), escoamento de lama (turbidity flow) e inundação. A enxurrada é um fluxo
de alta densidade que contém inúmeros blocos (>256 mm). O escoamento de lama é torrente que
possui mais carga tradicional de seixo (4 – 26 mm) e pedra (64 – 256 mm). A inundação é o
escoamento superficial e deposição de lama sem cascalho. Dá um prejuízo com ampla área. Esses
três tipos possuem diferentes processos de transporte de sedimentos que o gradiente do leito
influencia. Os mesmos autores analisaram rios de diversos tamanhos no Japão e concluíram que, o
gradiente do leito que separa a enxurrada e o escoamento de lama é de 80/1000, e que o gradiente
do leito que separa escoamento de lama e inundação é de 1/1000.
Na região das cabeceiras dos rios, ou seja, torrentes, o transporte de sedimentos é
caracterizado pela descontinuidade temporal de produção de sedimento (perda de solo) e de vazão,
também pelo conseqüente desequilibro da potencial de transporte de sedimento. Em outras palavras,
mesmo que ocorra erosão superficial (perda de solo) e deslizamento em grande parte da bacia, os
canais com ordens menores (1 a 2 ordens) não conseguem transportar esses sedimentos que,
conseqüentemente, ficam depositados nos seus leitos. Embora ocorra erosão nas margens do rio, a
quantidade de solo erosivo é pequena para transportar a maior parte desses sedimentos depositados,
necessitando eventos episódicos de chuva para gerar um fluxo tipo de enxurrada. Então, este tipo de
enxurrada catastrófica ocorre uma vez por 10 a 100 anos, que escava e retira este tipo de material
instável do leito e o expõem a superfície rochosa no leito. Assim, a morfologia fluvial vem sendo
desenvolvida pela alteração contínua (repetitiva) no nível do leito (elevação – deposição e
rebaixamento – erosão fluvial). Os organismos (fauna e flora) são controlados por ambos estrutura
geomorfológica e freqüência da alteração geomorfológica, mantendo seus habitats.
187
Então, quanto mais próximo à fonte de sedimento, ou seja, cabeceira do rio, os sedimentos
vêm sendo transportados eventualmente, e quando transportado, a quantidade do sedimento é
elevada. Pelo contrário, quanto mais a jusante, a quantidade de sedimento transportado é menor,
mas mantém-se constante. Maita et al. (1994) ilustraram este conceito (Figura 12.15).
Figura 12.15. Conceito de transporte de sedimentos de montante para jusante. (Fonte: Maita et al.,
1994).
188
Tipos de desastres Tipos de vegetação
Cabeceira
Jusante
Inundação Árvores altas e arbustos
Planície
Figura 12.16. Relação entre tipo de desastre por local da bacia e vegetação a ser utilizada.
Para vegetação ripária atuar como estabilizadora de taludes é recomendável o estudo do perfil do
solo. Nesta função a vegetação além de desempenhar um importante papel, pode contribuir com a
aparência do local. Tsukamoto & Kusakabe (1984) definiram quatro tipos de efeitos das raízes na
estabilização de encostas (Figura 12.17). Analisando a mesma função Montgomery & Dietrich (1994)
constataram em seu estudo que no escoamento superficial sobre vegetação rasteira (grama) há transporte
de sedimento apenas quando o escoamento superficial desenvolve força trativa suficiente para vencer a
resistência da vegetação que cobre o solo. Da mesma forma Masterman & Thorne (1994) estudaram a
resistência ao escoamento de taludes vegetativos. O método desenvolvido possibilitou o estudo da
influência de taludes vegetativos na morfologia do canal. Predições do modelo puderam ilustrar que a
vegetação pode proteger o talude de escoamentos potencialmente erosivos. Esta proteção é adicional
àquela proporcionada pelas raízes. Sugerem ainda que combinações de vegetações flexíveis, não-
flexíveis e emergentes são mais eficientes na proteção dos taludes do que qualquer uma delas sozinha.
Nesta mesma linha de sistemas combinados, Gillespie et al. (1995) analisaram a influência da vegetação
rasteira no crescimento e sobrevivência de árvores maiores. Concluíram que as vegetações junto ao solo
não interferem nas árvores maiores e recomendam o uso de sistemas combinados para uma melhor
eficiência em retenção de sedimentos.
Figura 12.17. Efeitos das raízes na estabilização de encostas. (Adaptação de Tsukamoto &
Kusakabe, 1984).
189
A vegetação ripária quando atua como barreira para interceptar rochas na presença de água
foi estudada por Mizuyama et al (1989). Os mesmos autores analisaram a resistência de árvores a
um fluxo de sedimento em um modelo reduzido, usando areia para representar os sedimentos. Os
resultados mostraram que o coeficiente de rugosidade aumenta e a sedimentação é bastante notada
quando a percentagem de área ocupada por árvores torna-se maior. A sedimentação (interceptação)
foi máxima quando a razão entre a distância entre as árvores e o diâmetro das mesmas foi mínimo.
Quando este fenômeno ocorre sem a presença de água é denominado fluxo de escombros (debris
flow), mas a função das árvores da zona ripária continua sendo a mesma, o de interceptação dos
escombros.
Fry et al. (1994) citando Debano & Schmidt (1989) relatam que zonas ripárias providenciam
um controle natural das cheias. Árvores e pequenas espécies vegetativas promovem a estabilização
de taludes, os quais permitem ao rio a manutenção dos meandros e da profundidade. A formação de
meandros é a forma mais efetiva na diminuição da velocidade das cheias do que a retificação de
canais. Reduzir as velocidades do escoamento permite garantir mais tempo para que as águas das
cheias sejam absorvidas pela vegetação ou pelo próprio leito do rio. A absorção de água pelo leito
do rio também é importante para manutenção da água subterrânea. Na mesma função, mas
simulando sedimentos menores Darby (1999) constatou que vegetações não flexíveis oferecem
maior rugosidade do que as flexíveis. O modelo utilizado por ele fornece orientações para
renaturalização de rios e dimensionamento de canais para controle de cheias envolvendo vegetação
ripária.
191
Figura 12.18. Tipos de escoamento possíveis em uma bacia hidrográfica.(BEVEN 2001)
192
12.3 Código Florestal e sua aplicação
Um sistema ripário saudável auxilia na filtragem de sedimentos, na estabilização de taludes,
no armazenamento e eliminação de água na bacia e na recarga de aqüíferos. Além desses fatores,
influencia as áreas adjacentes, é benéfica para a manutenção da fauna local, auxilia no controle da
erosão, na qualidade da água e retarda os eventos de cheias, entre outros.
A Figura 12.19 mostra um exemplo de uma bacia preservada, localizada na zona rural do
município de Rio Negrinho/SC, onde se observa que a área de entorno dos cursos da água apresenta
uma zona ripária bem conservada. A vegetação ripária presente nessa área está exercendo seu papel
de protetora dos cursos da água, promovendo o retardo, a absorção, bem como a filtragem do
escoamento subsuperficial e superficial.
Visando garantir a qualidade e quantidade de água dos corpos hídricos, o Código Florestal
Brasileiro, Lei 4.771 de 15/09/65 e suas alterações no ano de 1989, consideram de preservação
permanente, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:
a) Ao longo dos rios ou cursos d’água, desde o seu nível mais alto em faixa marginal, cuja
largura mínima seja de: 30 m para rios com largura menor que 10 m; 50 m para rios com largura
entre 10 a 50 m; 100 m para rios com 100 a 200 m; maior que 200 m a faixa de vegetação deve ser
igual à largura do rio, inclusive no perímetro urbano.
b) Ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais.
c) Nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados olhos d’água, qualquer que seja a
sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 m de largura (redação dada pela Lei nº. 7.803 de
18/07/1989).
193
A resolução do CONAMA nº 302 de 20 de março de 2002 dispõe sobre os parâmetros,
definições e limites das Áreas de Preservação Permanente de reservatórios artificiais e o regime de
uso de entorno.
Considerando a necessidade de regulamentar o art. 2º da Lei nº 4.771, de 1965, no que
concerne às Áreas de Preservação Permanente no entorno dos reservatórios artificiais, a resolução,
no seu Art. 2º, adotada as seguintes definições: a) reservatório artificial: acumulação não natural de
água destinada a quaisquer de seus múltiplos usos; b) Área de Preservação Permanente: a área
marginal ao redor do reservatório artificial e suas ilhas, com a função ambiental de preservar os
recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas; c) nível máximo normal: a
cota máxima normal de operação do reservatório. Com relação às áreas no entorno dos reservatórios
artificiais, o Art. 3º apresenta as seguintes definições:
Art. 3º - Constitui Área de Preservação Permanente a área com largura
mínima, em projeção horizontal, no entorno dos reservatórios artificiais, medida a
partir do nível máximo normal de:
I - trinta metros para os reservatórios artificiais situados em áreas urbanas
consolidadas e cem metros para áreas rurais;
II - quinze metros, no mínimo, para os reservatórios artificiais de geração
de energia elétrica com até dez hectares, sem prejuízo da compensação ambiental.
III - quinze metros, no mínimo, para reservatórios artificiais não utilizados
em abastecimento público ou geração de energia elétrica, com até vinte hectares de
superfície e localizados em área rural.
§ 1º Os limites da Área de Preservação Permanente, previstos no inciso I,
poderão ser ampliados ou reduzidos, observando-se o patamar mínimo de trinta
metros, conforme estabelecido no licenciamento ambiental e no plano de recursos
hídricos da bacia onde o reservatório se insere se houver.
§ 2º Os limites da Área de Preservação Permanente, previstos no inciso II,
somente poderão ser ampliados, conforme estabelecido no licenciamento
ambiental, e, quando houver, de acordo com o plano de recursos hídricos da bacia
onde o reservatório se insere.
§ 3º A redução do limite da Área de Preservação Permanente, prevista no §
1º deste artigo não se aplica às áreas de ocorrência original da floresta ombrófila
densa - porção amazônica, inclusive os cerradões e aos reservatórios artificiais
utilizados para fins de abastecimento público.
§ 4º A ampliação ou redução do limite das Áreas de Preservação
Permanente, a que se refere o § 1º, deverá ser estabelecida considerando, no
mínimo, os seguintes critérios:
I - características ambientais da bacia hidrográfica;
II - geologia, geomorfologia, hidrogeologia e fisiografia da bacia
hidrográfica;
III - tipologia vegetal;
IV - representatividade ecológica da área no bioma presente dentro da bacia
hidrográfica em que está inserido, notadamente a existência de espécie ameaçada
de extinção e a importância da área como corredor de biodiversidade;
V - finalidade do uso da água;
VI - uso e ocupação do solo no entorno;
VII - o impacto ambiental causado pela implantação do reservatório e no
entorno da Área de Preservação Permanente até a faixa de cem metros.
Na Figura 12.20, é possível observar que existem áreas no entorno da represa de Volta Grande, no
município de Rio Negrinho/SC, que estão desprotegidas de vegetação ciliar, sendo utilizadas para agricultura
e pastagem, sem aplicação de práticas conservacionistas. Isso implica na maior susceptibilidade dessas áreas
194
aos processos de erosão causados pelo escoamento superficial. O impacto negativo desse cenário é o
transporte de sedimentos, poluentes agroquímicos e dejetos de animais, causando o assoreamento e a
poluição da represa.
Desta forma, fica evidente a necessidade de preservar os mananciais dessa região, sejam eles naturais
e artificiais, visando a melhoria da qualidade e quantidade de água para diversos usos. Assim, trabalhos estão
sendo desenvolvidos pelo Grupo de Estudos de Bacias Hidrográficas (LABHIDRO/UFSC) juntamente com a
Companhia Volta Grande de Papel com objetivo de levantar os problemas existentes nessa região e propor
possíveis soluções para melhoria da qualidade e quantidade da água para a população que utiliza a represa
para os mais diversos fins.
Figura 12.20. Uso do solo na região da represa de Volta Grande no município de Rio Negrinho/SC.
195
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199
13. I
STALAÇÃO E MA
UTE
ÇÃO DE ESTAÇÕES
HIDROMETEOROLÓGICAS
Fernando Grison
Pedro Guilherme de Lara
Masato Kobiyama
13.1 Introdução
A partir da década de 80 com o surgimento da informática e da telecomunicação as
informações hidrológicas puderam ser adquiridas em tempo real. Isso aconteceu devido ao processo
de medição automática que possibilitou um maior numero de informações. Segundo Mauro (2002),
a modernização da telecomunicação teve como conseqüências: maior número de informações
diárias; melhoria na qualidade dos dados; avaliação “instantânea” da disponibilidade hídrica;
melhor avaliação do potencial energético; análise de balanço hídrico em tempo “quase real”; melhor
controle dos recursos hídricos e disposição de dados mais atualizados para a sociedade.
Apesar de toda a modernização na obtenção das informações hidrológicas o grande
problema do Brasil ainda é o alto custo de um monitoramento hidrológico. Na maioria das vezes os
custos de projetos de monitoramento são previstos para um curto período de tempo, o suficiente
para produzir uma tese. Isso acontece porque geralmente os aparelhos previstos para o
monitoramento são muito caros. Depois do término do estudo, os aparelhos são retirados ou
simplesmente abandonados por falta de recurso financeiro para manutenção e continuação do
estudo.
Servidor
Circuito de alimentação
Para a transmissão de dados a longa distancia e de baixo custo pode ser usada a transmissão
via celular. Essa tecnologia utiliza o sistema GPRS (General Packet Radio Service) que tem como
base a tecnologia GSM (Global System for Mobile Communications), mas pode ser encontrado
disponível no padrão TDMA (Time Division Multiple Access). Tanto GMS quanto TDMA são
padrões utilizados em comunicação móvel. A disponibilização do sinal GPRS nos padrões GMS e
TDMA torna-o flexível, pois quase qualquer operadora de telefonia disponibiliza pacotes de
serviços GPRS para transmissão de dados. A transmissão é feita via comutação de pacotes (pacotes
de dados) onde ocorre a divisão da informação em partes para posterior reorganização no endereço
de destinatário. A localização do datalogger e o relevo da região são fatores importantes que
influenciam na qualidade do sinal de transmissão. Também é importante ter uma antena da
prestadora de serviço de comunicação móvel nas proximidades do local de monitoramento.
A transmissão de dados via satélite é uma alternativa eficiente para tráfego de dados. As
questões relacionadas com o revelo e a localização não são problemas que afetam o sistema, pois os
satélites permanecem em órbita e conseguem cobrir todo o globo terrestre. Os dados transmitidos
são da alta qualidade e com baixa possibilidade de surgimento de ruídos. A função do satélite é
receber, converter a freqüência recebida, amplificar e retransmitir. Entretanto um dos pontos
negativos na utilização desse tipo de tecnologia é o alto custo de implantação do sistema. O capital
necessário para investir é relativamente superior quando comparado a outros sistemas de
comunicação de dados. Por outro lado, o custo de manutenção é nulo visto que esta tarefa é feita
pela prestadora de serviço.
A transmissão de dados via sinal de rádio é uma alternativa de baixo custo. O sistema de
transmissão a rádio já vem acoplado no datalogger havendo a necessidade de ajustar o
posicionamento das antenas do transmissor e receptor do sinal. É um sistema eficiente para
comunicação de informação, pois mantendo condições ideais de uso o sinal é de alta qualidade e
201
com baixa possibilidade de surgimento de ruídos. Entretanto o revelo afeta consideravelmente a
qualidade os dados e por isso pode ser necessário a instalação de um retransmissor de sinal entre o
datalogger e o servidor, o que encarece o custo do sistema. Por isso, esse tipo de sistema é aplicado
geralmente para pequenas distâncias. Os dataloggers dispõem de moduladores de baixa freqüência,
os quais possuem um pequeno raio de atuação de até 2000 m.
202
Precipitação diária
Precipitação horária
Vazão horária
Vazão diária
Para o começo do monitoramento, como não existem dados medidos, o TC pode ser obtido
simplesmente por meio de fórmulas matemáticas. A Tabela 13.1 mostra algumas fórmulas para o
cálculo de TC. Para essas fórmulas, os valores de área, comprimento do talvegue (canal principal da
bacia) e desnível da bacia podem ser obtidos por meio de um mapa.
203
É preciso ressaltar que as fórmulas da Tabela 13.1 foram desenvolvidas para bacias
específicas. Por isso é importante que a partir das primeiras medições o TC seja estimado
hidrologicamente, a fim de confirmar ou não o valor de TC obtido pela análise morfométrica. No
caso da não confirmação dos valores de TC, ou seja, a análise hidrológica diferir significativamente
da morfométrica, se opta pela hidrológica. Mas é preciso ter cuidado com os dados utilizados, pois
podem ter erros dos próprios aparelhos de medição. Para a estimação hidrológica de TC constrói-se
um hidrograma (Vazão & Tempo) junto com um hietograma (Precipitação & Tempo). O TC é o
tempo entre o fim da precipitação e o fim do escoamento superficial (Figura 13.3).
5.00
TC 0.00
0.20
4.00 0.40
Precipitação (mm) )
0.60
(m³/s)
Vazão (m3/s)
3.00 0.80
1.00
2.00 1.20
1.40
1.00 1.60
1.80
0.00 2.00
0:02
0:10
0:18
0:26
0:34
0:42
0:50
0:58
1:06
1:14
1:22
1:30
1:38
1:46
1:54
2:02
2:10
23:05
23:13
23:21
23:29
23:38
23:46
23:54
204
datalogger converte esses sinais elétricos em dados de turbidez ou quantidade de sólidos
suspensos;
• Pluviógrafo (de básculas): Aparelho utilizado para medição de precipitação (chuva). É
formado basicamente por um funil que conduz a água da chuva para um sistema de duas
básculas de volume conhecido. Quando uma báscula enche automaticamente ela vira para
esvaziar e a outra báscula passa a coletar a água. As básculas são unidas por um eixo que
contém um imã acoplado. Quando ocorre a virada das básculas esse imã passa em frente
a um dispositivo que fecha um circuito que emite um pulso elétrico ao datalogger. Cada
pulso transmitido é convertido em milímetros de chuva (conforme o volume da báscula).
(a) (b)
(c) (d)
Figura 13.4. Aparelhos usados para monitorar chuva e vazão. (a) Sensor de nível; (b) Seção de
réguas linimétricas; (c) Sensor de turbidez; (d) Pluviógrafo de básculas.
205
A qualidade dos dados de uma rede de monitoramento não depende apenas da tecnologia
dos aparelhos de medição. Depende também de aspectos como a localização do aparelho de
medição em relação à bacia de monitoramento, da fixação desse aparelho e da sua manutenção
periódica. A Tabela 13.2 abaixo apresenta alguns dos principais aparelhos utilizados nas estações
de monitoramento hidrológico com algumas recomendações de instalação.
206
sinal de celular transmite os dados até um computador servidor. Os dados também podem ser
obtidos diretamente do datalogger com um computador portátil.
Antena de celular
Pluviógrafo
Computador servidor
RN
Sensor de SS*
Sensor de nível
(pressão)
* SS = Sedimento em suspensão
Figura 13.5. Esquema básico de instalação de uma estação de monitoramento hidrológico
automático.
Sensor de nível
Sensor de turbidez
Régua linimétrica
(a) (b)
Figura 13.6. Estação de monitoramento de nível d’água, sedimento em suspensão e precipitação.
Além da preocupação com a instalação de uma estação é preciso também se preocupar com
a manutenção da mesma. De nada adianta ter uma estação bem instalada se ela não passar
periodicamente por uma manutenção adequada. Por mais que o monitoramento seja automático as
207
visitas aos locais de medição são indispensáveis para manter a calibração dos sensores e a qualidade
dos dados. Também, é importante que cada problema encontrado seja relatado, pois assim, quando
o banco de dados for analisado os erros encontrados podem ser mais facilmente resolvidos. Por
exemplo, em visita a uma determinada estação encontra-se um pluviógrafo entupido. Se for anotado
essa alteração quando os dados do local forem analisados haverá uma falha de dados de chuva que
será facilmente compreendido o porquê não foi registrado. A Tabela 13.3 abaixo mostra alguns dos
problemas que podem ocorrer pela falta de manutenção dos aparelhos de medição.
APARELHO PROBLEMAS
Pluviógrafo (de básculas) → Entupimento com poeira, folhas e com ninho de insetos;
→ Desnivelamento.
A Figura 13.7 mostra alguns problemas encontrados pela falta periódica de manutenção dos
aparelhos de um monitoramento hidrológico.
208
(a) (b)
(c) (d)
Figura 13.7. Problemas da falta de manutenção. (a) Pluviógrafo entupido com ninho de insetos; (b)
Pluviógrafo com marcas de vandalismo; (c) Sensor de turbidez com sedimento acumulado ao redor;
(d) Régua linimétrica com camada de resíduo que dificulta a leitura correta do nível d’água.
209
Tabela 13.4. Principais vantagens e desvantagens dos sistemas de telemetria
210
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211
14. GEOPROCESSAME
TO
14.1 Introdução
Nos estudos em que a variação espacial é de extrema importância, como por exemplo,
aqueles que envolvem a modelagem hidrológica distribuída, o geoprocessamento tem se mostrado
como uma metodologia promissora e vem se desenvolvendo fortemente. A motivação reside,
principalmente, nos estudos que envolvem as mudanças climáticas, os impactos das mudanças de
uso do solo e de previsão de vazões.
Segundo Miranda (2005) o geoprocessamento tem permitido uma grande evolução na
modelagem e planejamento ambiental, devido às facilidades de armazenamento, manipulação e
análise de grandes quantidades de dados espacialmente distribuídos.
O geoprocessamento reúne uma série de vantagens com relação à produção de dados e
informações para o estudo dos fenômenos e recursos naturais, em função da obtenção de
informações confiáveis, muitas vezes, num curto espaço de tempo e com custos mais acessíveis,
quando comparado com levantamentos de campo. Além disso, permite a combinação de um grande
número de dados oriundos de diversas fontes (mapas, imagens de satélite, fotografia aéreas,
tabulares, entre outros), objetivando a análise das interações existentes entre eles, a elaboração de
modelos de predição para à tomada de decisão.
As tecnologias utilizadas no geoprocessamento, denominadas de geotecnologias, para a
aquisição, o processamento, a interpretação e/ou análise de dados espaciais, traz progressos
significativos no desenvolvimento de pesquisas, nas ações de planejamento, nos processos de gestão
e no manejo do meio ambiente. Entre as principais geotecnologias, estão os sistemas de
informações geográficas (SIG), o sensoriamento remoto, os sistemas de posicionamento por
satélites, a fotogrametria digital, entre outras.
212
meio ambiente; vi) evidencia áreas, tanto graficamente, como em forma de valores, antes e/ou
depois das análises (modelagem).
Para Silva (2003) os SIGs requerem um meio digital, de uma base de dados integrada, dados
com controle de erro, funções de análises como, álgebra cumulativa e operações lógicas.
Os primeiros sistemas de geoprocessamento surgiram na década de 60, no Canadá, como
parte de um programa governamental para criar um inventário de recursos naturais, o Canadian
Land Inventory, desenvolvido por Tomlinson em 1962, denominado de CGIS (Canadian
Geographic Information System) (SILVA, 2003).
Nos Estados Unidos, em 1964, a Divisão de Suprimento de Água e o Controle de Poluição
do Serviço de Saúde Pública, desenvolveram o STORET (Storage and Retrieval). Este sistema teve
como principal objetivo padronizar os dados gerados por diversas agências privadas e
governamentais com relação às características hidrológicas como, qualidade da água, fluxo de água
e processos de tratamento. Ao longo dos anos 70 foram desenvolvidos novos recursos de hardware
e software, tornando viável o desenvolvimento de sistemas comerciais. Nesta época, também
surgiram os primeiros sistemas comerciais de CAD (Computer Aided Design), que melhoraram as
condições para a produção de desenhos e plantas de engenharia, e serviram de base para os
primeiros sistemas de cartografia automatizada (CÂMARA et al., 2009).
A década de 80 representa o momento quando a tecnologia dos SIGs inicia um período de
acelerado crescimento, que dura até os dias de hoje. Até então, limitados pelo alto custo do
hardware e pela pouca quantidade de pesquisas específicas sobre o tema, os SIGs se beneficiaram
fortemente da massificação causada pelos avanços da microinformática e do estabelecimento de
centros de estudos sobre o assunto. Nos EUA, a criação dos centros de pesquisa que formam o
National Centre for Geographical Information and Analysis (NCGIA), em 1989, marca o
estabelecimento do geoprocessamento como disciplina científica independente (Câmara et al.,
2009).
Ainda, segundo os autores acima, o geoprocessamento iniciou no Brasil na década de 80.
Sendo que em 1984, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) estabeleceu um grupo
específico para o desenvolvimento de tecnologias de geoprocessamento e sensoriamento remoto: a
Divisão de Processamento de Imagens (DPI). De 1984 a 1990 a DPI desenvolveu o Sistema de
Tratamento de Imagens (SITIM) e o SIG (Sistema de Informações Geográficas) e, a partir de 1991
o SPRING (Sistema para Processamento de Informações Geográficas) para ambientes UNIX e
Windows.
No decorrer dos anos 80, com a grande popularização e diminuição dos custos de hardware,
além da evolução dos computadores e dos sistemas gerenciadores de bancos de dados relacionais,
ocorreu uma grande difusão do uso de SIG, bem como a incorporação de muitas funções de análise
espacial que proporcionou um aumento de suas aplicações (SILVA, 2003).
Os anos 90 consolidaram, definitivamente, o uso do geoprocessamento como ferramenta de
apoio à tomada de decisão. A partir de importantes projetos, esses sistemas saíram do meio
acadêmico para alcançar o mercado com uma ampla velocidade. Instituições do governo e grandes
empresas começaram a investir no uso de aplicativos comerciais disponíveis no mercado.
Consolidam-se as aplicações desktop que agregavam diversas funções no mesmo sistema
(modelagem 3D, análise espacial, processamento digital de imagens, etc).
A utilização do geoprocessamento tem evoluído significativamente nos últimos anos,
abrangendo diversas organizações nas áreas de administração, infra-estrutura, gestão ambiental,
213
saúde, entre outras. Toda essa evolução está ligada ao avanço das geotecnologias. Em função disso,
nas últimas décadas o dado espacial (georreferenciado) está mais acessível ao usuário, fazendo com
que a coleta e o processamento dos dados espaciais fiquem mais próximos dos orçamentos de países
como o Brasil.
i) Dados Espaciais
Os dados espaciais são aqueles que podem ser representados de forma gráfica e descrevem
as características espacias (geometria e posição) da superfície representada. Estes dados podem ser
obtidos de imagens de sensoriamento remoto, mapas temáticos (solo, uso do solo, geologia, entre
outros), sistema de posicionamento por satélite, entre outros (FITZ, 2008). Esses dados representam
os fenômenos ou objetos do mundo real, cujos valores podem variar de forma discreta (por
exemplo, pontos de deslizamentos de terras, rios, parcelas de cobertura da terra), ou de forma
contínua (por exemplo, a topografia, declividade, precipitação).
As principais formas de representações computacionais de dados espaciais em um SIG são:
vetorial e matricial.
214
Na forma vetorial a representação de um elemento gráfico é reduzida a três formas básicas
como: o ponto, a linha (ou arcos) e a área (ou polígono) (CÂMARA e MEDEIROS, 1998).
O SIG, internamente, representa os pontos, linhas e polígonos como conjuntos de pares de
coordenadas (x, y) ou (latitude, longitude). Os pontos são representados por apenas um par de
coordenadas, enquanto que as linhas e polígonos são representados por uma sequência de pares de
coordenadas. As linhas possuem, no mínimo, dois vértices conectados, gerando polígonos abertos e
expressam elementos expressão comprimento ou extensão linear. Já os polígonos são representados
por, no mínimo, três vértices conectados, sendo que o primeiro vértice possui coordenadas idênticas
ao do último, gerando assim, polígonos fechados que definem elementos espaciais com área e
perímetro (Rocha, 2002).
Cada elemento gráfico pode apresentar uma estrutura associada relacionando cada entidade
a um atributo digital ou mesmo um banco de dados alfanuméricos.
São exemplos de representações vetoriais no SIG as curvas de nível associadas as altitudes;
polígonos relacionando o tipo de solo com as suas características descitivas, pontos cotados,
estradas, rios, entre outros. A Figura 14.2 mostra um modelo de representação vetorial no SIG.
215
É possível associar o par de coordenadas da matriz (coluna, linha) a um par de coordenadas
espaciais (x, y) ou (longitude, latitude). Cada um dos pixels está associado a valores. Desta forma, a
relação entre as células é subentendida em função das coordenadas da malha, pois devido a sua
forma regular, dada a linha e a coluna que localizam um elemento, pode-se facilmente localizá-la e
mesmo efetuar análise simples como operações de vizinhança, distância, no SIG. Estes valores
serão sempre números inteiros, geralmente, utilizados para definir uma cor para apresentação na
tela ou para impressão (CÂMARA et al., 1998)
Os valores dos pixels representam alguma grandeza física, correspondente a uma porção do
terreno. O principal componente de uma estrutura matricial é a resolução, que corresponde à
distância linear da menor unidade de um espaço geográfico onde os dados são registrados. Essa
unidade corresponde a célula e, o arranjo espacial destas a matriz (Figura 14.3). Assim, haverá alta
resolução quando essas células apresentarem dimensões muito pequenas. Desta forma, alta
resolução significa quantidade de detalhes, quantidade de células, grandes matrizes e células
pequenas.
Mapas temáticos: podem ser representados por meio de estrutura vetorial (mapa
contendo polígonos de solos) e matricial (mapa hipsométrico);
Imagens de sensoriamento remoto: são armazenadas no SIG na forma matricial;
Modelo numérico do terreno (M
T): podem ser armazenados na forma de
estrutura vetorial (grades triangulares, isolinhas) e matricial (mapa hipsométrico)
216
Modelo numérico do terreno (M"T)
Além das formas básicas de representação de dados espaciais, isto é vetorial e matricial,
outra muito utilizada é o Modelo Numérico de Terreno (MNT).
O MNT é a representação matemática computacional da distribuição espacial de um
fenômeno que ocorre numa determinada região da superfície terrestre. Como exemplo de dados que
podem ser representado por um MNT tem-se: i) altimetria, ii) dados geológicos, iii) dados de
batimetria, iv) meteorológicos, v) geofísicos e geoquímicos (SPRING, 2009).
O MNT consiste na representação matemática de uma superfície por meio de coordenadas x,
y e z, onde z = f (x, y).
O MNT é uma superfície, geralmente, contínua e o fenômeno que ele representa pode ser
variado. Dentre as aplicações de um MNT pode-se citar armazenamento de dados altimétricos para
produzir mapas topográficos, de declividade, aspecto e de exposição, entre outros (Burrough, 1986).
O processo de modelagem numérica do terreno pode ser realizado em duas etapas: i) a
primeira consiste na aquisição de um conjunto de dados amostrais representativos do fenômeno de
interesse (solo, cotas altimétricas, precipitação, temperaturas, etc.); ii) interpolação dos dados
amostrados, ou seja, o modelo propriamente dito, que envolve a elaboração de uma estrutura de
dados e a definição da superfície de ajuste, visando obter uma representação contínua do fenômeno
a partir dos dados amostrados.
A etapa de aquisição de dados é caracterizada pela obtenção das coordenadas (x, y, z), que
representam a superfície ou fenômeno a ser modelado. O levantamento destes dados depende da
área a ser modelada e da precisão desejada.
Os dados para geração de um MNT podem ser obtidos por meio de digitalização ou
vetorização mapas existentes; métodos fotogramétricos a partir de modelos estereoscópicos de
fotografias aéreas e imagens de sensoriamento remoto; e levantamentos de campo (topografia,
sistema de posicionamento por satélite), cotas estimadas por imagens SRTM (Shuttlle Radar
Topography Mission).
A aquisição de dados a partir de mapas existentes pode ser efetuada por meio de
digitalização manual (vetorização) ou automática (leitores de varredura ótica).
No caso de dados para a elaboração, por exemplo, de modelos digitais de elevação, caso
específico de MNT, onde são considerados valores de altitude, são utilizados mapas topográficos
contendo curvas de nível (linhas de mesma altitude) e pontos cotados. O processo de vetorização
das curvas de nível consiste na transformação destas, em uma seqüência de pontos com
coordenadas x, y de mesmo valor em z (altitude). Na digitalização por varredura ótica é obtida uma
matriz de pontos onde cada célula representa um valor de cota.
Quanto aos métodos fotogramétricos são utilizadas fotografias aéreas ou imagens de
satélites com sobreposição. Como exemplo de imagens de satélite disponíveis, atualmente, tem-se:
as do SPOT -5/HRS (Satellite pour l'Observation de la Terre), IKONOS-2, ASTER, CBERS, entre
outros. Estas imagens possuem características operacionais que permitem a superposição (imagens
estereoscópicas), que, depois de restituídas por métodos fotogramétricos, produzem um MDE
(Rocha, 2002).
A partir de estereopares de imagens, obtidas pelos sensores remotos que operam no espectro
óptico, é possível gerar um DEM pelo princípio da Estereoscopia. A estereoscopia permite obter
dados tridimensionais, por meio da observação de um par de imagens planas (estereopares) de uma
217
mesma cena, com ângulos de incidência diferentes (Santos et al.,1999). Entre os sensores remotos
orbitais de média e alta resolução espacial que possuem capacidade de gerar DEMs, destacam-se:
ASTER, SPOT-5/HRS, IKONOS-II e QuickBird (Toutin e Gray, 2000).
Quanto aos levantamentos de campo, os dados são obtidos de forma direta utilizando
instrumentos topográficos informatizados como, as estações totais automáticas, níveis digitais e
sistemas de posicionamento por satélites.
A segunda etapa é a geração do modelo propriamente dito. Para isso, existe uma variedade
de algoritmos de interpolação de dados. A interpolação envolve a criação de estrutura de dados e a
definição da superfície de ajuste com o objetivo de se obter uma representação contínua do
fenômeno a partir das amostras. A interpolação é o processo de determinar (estimar) valores
desconhecidos ou não amostrados, de uma característica contínua, por meio de valores conhecidos
ou amostrados (Miranda, 2005).
Sendo que, a interpolação espacial converte dados de observações pontuais para contínuos
(transforma imagens vetoriais em matriciais) e assim, produz padrões espaciais (planos de
informações contínuos) que podem ser comparados com outras entidades espaciais contínuas. A
base da interpolação é que, em geral, os valores de um atributo tendem a ser semelhantes em locais
próximos a ele. Dentre os métodos de interpolação mais utilizados nos SIG, tem-se: i) polígonos de
Thiessen; ii) Triangulação (TIN - Triangulated Irregular Networks) (Figura 14.4); iii) média local
simples; iv) inverso da distância; v) média móvel local; vi) Krigagem (Miranda, 2005).
218
Geração de mapas de contorno, que representam isolinhas, ou seja, curvas que
conectam pontos da superfície com mesmo valor. Essas isolinhas podem representar
valores de elevação, dados geofísicos, geoquímicos, meteorológicos, entre outros;
mapas de declividade;
orientação de vertentes, objetivando o cálculo da inclinação e orientação das
vertentes do terreno;
extração de padrões como, vales, divisores de água, talvegue;
geração de perfis, que representam a interseção de planos verticais com a superfície
do terreno, possibilitando a observação do comportamento do terreno ao longo de um
traçado linear;
análise de bacias hidrográficas como direção de fluxo, delimitação automática de
bacias e sub-bacias, comprimento de rios, extração de rede de drenagem, entre
outros.
Os dados alfanuméricos (ou não gráficos) são aqueles constituídos por letras, números ou
sinais gráficos e, podem ser armazenados em forma de tabelas organizadas num banco de dados no
SIG. Os dados dispostos nas tabelas possuem atributos (características) que se relacionam à
estrutura espacial (gráfica) e podem ser identificados por meio de suas coordenadas e características
específicas, com sua descrição qualitativa ou quantitativa (Fitz, 20008). Esses dados possuem,
portanto, informações referentes aos mapas a eles vinculados, por meio do seu endereço
(coordenadas) e, são associados aos elementos gráficos fornecendo informações descritivas.
Os dados alfanuméricos podem ser de dois tipos: i) características dos dados espaciais, ii)
atributos de localização (ou de georreferência).
As características dos dados espaciais fornecem informações descritivas, relacionadas ao
dado espacial (gráfico).
Os dados alfanuméricos se relacionam com os gráficos (elementos espaciais) por meio de
identificadores (códigos) comuns, que são armazenados, tanto nos registros alfanuméricos, como
nos registros espaciais. A organização dos atributos é feita de acordo com técnicas convencionais de
banco de dados. A maioria dos SIG utiliza o modelo relacional, baseado na estruturação dos dados
em tabelas, onde cada linha (ou registro), corresponde a um elemento geográfico representado
graficamente no plano de informação (ou camadas) e, as colunas (ou campos), correspondem as
caracteríscas dos elementos.
A função dos atributos é fornecer informações qualitativas ou quantitativas associadas aos
elementos espaciais como pontos, linhas e polígonos, representados na base de dados no SIG
(Rocha, 2002). Por exemplo, uma feição do tipo linha, que representa uma rede de abastecimento de
água, possibilita estruturar um arquivo associado à informações como: tipo de rede, material
utilizado, diâmetro, vazão. Neste exemplo, a análise realizada no SIG pode ser feita por meio de
uma consulta ao banco de dados, do tipo: Onde estão todas as redes com diâmetro igual a “x” e
vazão maior do que “y”? A resposta a essa pergunta pode ser dada na forma de tabelas, textos ou
visualizadas no mapa.
219
Os atributos de georreferência são aqueles onde a preocupação é somente localizar uma
característica específica, sem descrever as feições espaciais. Esses dados são armazenados e
gerenciados em arquivos separados, sendo associados à base espacial por meio de registros (Rocha,
2002).
220
14.3 Obtenção de dados em geoprocessamento
O processo de obtenção e tratamento dos dados para alimentar os sistemas de
geoprocessamento utiliza, basicamente, as metododologias apresentadas na Figura 14.5.
14.3.2 Fotogrametria
A fotogrametria é a ciência que estuda e desenvolve instrumentos e metodologias que
permitem a obtenção de medidas confiáveis em fotografias, a partir das quais é possível elaborar
mapas topográficos e temáticos (LOCH & ERBA, 2007).
As fotografias para fins de mapeamento são obtidas por aeronaves e sistemas fotográficos,
especialmente desenvolvidos para esse fim. Como as fotografias aéreas são obtidas no intervalo de
comprimento de onda do visível do espectro eletromagnético e suas proximidades, o seu conteúdo é
de fácil interpretação, pois apresenta uma aparência natural com relação à forma, ao tamanho e à
cor dos objetos fotografados na superfície terrestre.
As fotografias aéreas podem ser utilizadas nos mais diversos estudos, desde visão detalhada
(fotos em escala grande) até uma visão panorâmica da região (fotos em pequena escala) (Loch e
Erba, 2007).
Atualmente, a aerofotogrametria é muito utilizada para geração mapas topográficos, modelo
digital de elevação, mapas cadastrais, estudo de bacias hidrográficas, entre outros. A Figura 14.6
221
mostra uma fotografia obtida por métodos fotogramétricos, onde é possível observa com riqueza de
detalhes o terreno fotografado.
222
qualquer uma das três situações, a radiação eletromagnética é o meio pelo qual a informação é
transferida do objeto observado ao sensor (Chuvieco, 2007; Novo, 2008).
Figura 14.7. Formas de obtenção de informações em sensoriamento remoto: (1) reflexão, (2)
emissão, (3) emissão-reflexão. (Fonte: adaptada de Chuvieco, 2007).
223
Figura 14.8. Espectro Eletromagnético: principais regiões.
(Fonte: adaptada de
ovo,2008)
224
Figura 14.9. Radiação do sol e da Terra e janelas atmosféricas.
(Fonte: Adaptada de Moreira, 2003)
225
dos recursos naturais. A energia eletromagnética ao atingir a atmosfera é espalhada, e parte desta
retorna para o espaço, vindo a contaminar a energia refletida ou emitida pela superfície e que é
detectada pelos sensores orbitais (Moreira, 2003).
Atualmente, existe uma grande variedade de sensores remotos desenvolvidos para os mais
diversos usos ambientais. Os sensores são dispositivos que captam a energia refletida ou emitida
por uma superfície qualquer e armazenam na forma de dados digitais (por exemplo, imagens,
gráficos, números) (Novo, 2008).
Os sensores remotos apresentam características fundamentais que influenciam na escolha de
um ou de outro para uma dada aplicação. Dentre as principais características, citam-se: i) a
resolução espacial; ii) a resolução espectral; iii) a resolução radiométrica; e iv) resolução temporal.
A capacidade do sensor em “enxergar” objetos na superfície terrestre define a sua resolução
espacial. Assim, quanto maior a capacidade de enxergar objetos menores, maior a resolução
espacial do sensor. A maneira mais comum de se determinar a resolução espacial de um sensor é
pelo campo de visada instantâneo ou IFOV (Instantaneous Field of View). Este campo é
determinado pelas propriedades geométricas do sistema sensor e define a área do terreno
fotografado que é “vista” pelo sensor num dado instante. O IFOV é medido pelas dimensões da área
vista no terreno e, de uma forma simplificada, representa o tamanho do pixel na imagem de satélite.
Salienta-se que, o IFOV, e consequentemente, a resolução espacial, é um conceito teórico, visto que
existem variações na altitude da órbita dos satélites que provocam mudanças no IFOV, mas não no
tamanho do pixel, que é fixo e é determinado pelo intervalo de amostragem do sinal recebido pelo
sensor (Crosta, 1999).
Atualmente, existe uma variedade de sensores em funcionamento para a observar a superfície
terrestre, com diferentes resoluções espaciais.
As imagens que permitem a visualização de grandes objetos possuem baixa resolução
espacial, ou seja, o tamanho da área mínima detectada pelo sensor é grande. Imagens de alta
resolução espacial permitem detectar objetos de dimensões pequenas. A Figura 14.10 permite
avaliar o impacto da resolução espacial no processo de reconhecimento de feições na superfície
terrestre. Com sensores de alta resolução espacial (menor que 4 metros) é possível identificar
prédios, árvores, aviões, entre outros, numa área urbana (Figura 14.10a). Na medida em que a
resolução se torna menor, com um pixel de tamanho mínimo de 20 m no terreno, por exemplo,
pode-se identificar traçados de ruas, rios grande de porte, manchas urbanas e de vegetação (Figura
14.10b).
226
(a) (b)
Figura 14.10. Imagens de satélite com diferentes resoluções: (a) Imagem do satélite
Quikbird (resolução 1 m); (b) Imagem adquirida pelo satélite CBERS-2, câmera CCD, da capital do
Estado de Amazonas (resolução de 20 m)
227
tomada de dados e outra, pois o objetivo é fornecer informações sobre fenômenos dinâmicos
(climáticos).
Assim, a escolha de uma imagem para um estudo específico deve ser fundamentada nas
características mencionadas acima. Esta escolha pode ser em função da quantidade de detalhes do
terreno que a imagem proporciona (resolução espacial), ou na periodicidade de obtenção dos dados
(resolução temporal) e, assim por diante.
• Satélites CBERS
228
Figura 14.11. Exemplo de imagem CBERS-2, sensor CCD, enfatizando o campo agrícola (cinza
escuro).
• Satélite Landsat-TM5
A série dos satélites Landsat teve inicio no final da década de 60, por meio do projeto
desenvolvido pela Agência Espacial Americana, que visava a observação dos recursos naturais
terrestres. O primeiro satélite da série (Landsat-1) foi lançado em 1972 e o último, Landsat-7, em
1999.
Atualmente o único satélite em operação é o LANDSAT-5, que possui o sensor Tematic
Mapper (TM) e contribui para o mapeamento temático da superfície terrestre (Tabela 14.3).
229
Tabela 14.3. Principais características do sensor TM.
Resolução Resolução Resolução Área Resolução
Sensor Bandas Espectrais
Espectral Espacial Temporal Imageada Radiométrica
0,45 –
(B1) AZUL
0,52 µm
0,50 –
(B2) VERDE
0,60 µm
0,63 –
(B3) VERMELHO 30 m
0,69 µm
(B4)
0,76 –
INFRAVERMELHO 16 dias 185 km 8 bits
0,90 µm
TM PRÓXIMO
(Thematic (B5)
1,55 –
INFRAVERMELHO
Mapper) 1,75 µm
MÉDIO
(B6)
10,4 –
INFRAVERMELHO 120 m
12,5 µm
TERMAL
(B7)
2,08 –
INFRAVERMELHO 30 m
2,35 µm
MÉDIO
(Fonte: http://www.sat.cnpm.embrapa.br/conteudo/landsat.htm#tm)
• Satélite IKO'OS II
Como podem ser observadas, as imagens do IKONOS II são obtidas com resolução
radiométrica de 11 bits, ou seja, 2048 níveis de cinza, o que viabiliza grande distinção entre objetos
(Figura 14.13). O IKONOS tem capacidade para ser ampliado com qualidade até 1:2.500 e possui
uma ampla aplicabilidade em trabalhos científicos que necessitam de dados e informações
detalhadas da superfície terrestre.
• Satélite AQUA
231
bordo seis instrumentos sensores: Atmospheric Infrared Sounder (AIRS), Advanced Microwave
Sounding Unit (AMSU-A), Humidity Sounder for Brazil (HSB), Advanced Microwave Scanning
Radiometer for EOS (AMSR-E), Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) e
Clouds and the Earth's Radiant Energy System (CERES) (EMBRAPA, 2009).
Dentre estes sensores, o MODIS tem uma importância singular para diversos estudos, dentre
os quais, trabalhos em agricultura, devido à sua alta resolução temporal e espectral, que permitem o
monitoramento sistemático de algumas culturas (Tabela 14.5).
.
Tabela 14.5. Principais características do sensor MODIS.
Bandas Resolução Resolução Resolução Área Resolução
Sensor
Espectrais Espectral Espacial Temporal Imageada Radiométrica
620 – 670 2330 x
1 250 m 1 a 2 dias 12 bits
nm 5000 km
841 – 876
2
nm
459 – 479
3
nm
545 – 565
4
nm 2330 x
500 m 1 a 2 dias 12 bits
1230 – 5000 km
5
1250 nm
1628 –
6
1652 nm
2105 –
7
2155 nm
405 – 420
8
nm
438 – 448
9
nm
483 – 493
MODIS (Moderate 10
nm
Resolution Imaging
526 – 536
Spectroradiometer) 11
nm
546 – 556
12
nm
662 – 672
13
nm
673 – 683 2330 x
14 1000 m 1 a 2 dias 12 bits
nm 5000 km
743 – 753
15
nm
862 – 877
16
nm
890 – 920
17
nm
931 – 941
18
nm
915 – 965
19
nm
3660 –
20
3840 nm
232
Continuação Tabela 14.5.
Bandas Resolução Resolução Resolução Área Resolução
Sensor
Espectrais Espectral Espacial Temporal Imageada Radiométrica
3929 –
21
3989 nm
3929 –
22
3989 nm
4020 –
23
4080 nm
4433 –
24
4498 nm
4482 –
25
4549 nm
1360 –
26
1390 nm
6535 –
27
6895 nm
7175 –
MODIS (Moderate 28
7475 nm 2330 x
Resolution Imaging 1000 m 1 a 2 dias 12 bits
8400 – 5000 km
Spectroradiometer) 29
8700 nm
9580 –
30
9880 nm
10780 –
31
11280 nm
11770 –
32
12270 nm
13185 –
33
13485 nm
13485 –
34
13785 nm
13785 –
35
14085 nm
14085 –
36
14385 nm
(Fonte: http://www.sat.cnpm.embrapa.br/conteudo/aqua.htm#modis.)
Dentre os diversos produtos obtidos pelas imagens deste sensor pode-se citar: produtos
relacionados ao balanço de energia e radiação da superfície, para avaliação física de processos
superficiais; produtos de vegetação e ecologia, para caracterização e funcionamento de
ecossistemas, padrões de produtividade sazonais. A Figura 14.14 apresenta um exemplo de imagem
obtida pelo sensor MODIS.
233
Figura 14.14. Exemplo de imagem obtida pelo satélite AQUA, sensor MODIS.
(Fonte: http://www.sat.cnpm.embrapa.br/conteudo/aqua.htm#modis)
14.3.4 Geodésia
A Geodésia é a ciência que estuda a forma, as dimensões e o campo gravitacional da Terra
em grandes extensões de área, considerando a sua curvatura. Ela estabelece o apoio básico para dar
suporte à elaboração de mapas, ou seja, a malha de pontos geodésicos com latitude, longitude e
altitude, de alta precisão. Para isso, utiliza instrumentos de alta precisão e métodos complexos para
as medições realizadas na superfície terrestre.
Apesar da finalidade principal da Geodésia ser cientifica, ela é empregada como estrutura
básica do mapeamento e trabalhos topográficos. Os levantamentos geodésicos compreendem o
conjunto de metodologias para as medições e observações que se destinam à determinação da forma
e dimensões da Terra (geóide e elipsóide). Ela é a base para o estabelecimento do referencial físico
e geométrico necessário ao posicionamento dos elementos que compõem a superfície terrestre
(IBGE, 1999).
Os levantamentos geodésicos, até recentemente, se baseavam em medidas de ângulos e
distâncias terrestres para solucionar os seus problemas, sendo a intervisibilidade entre os pontos
medidos, uma exigência e, conseqüentemente, uma das principais restrições enfrentadas. Com o
surgimento dos primeiros satélites artificiais, os geodesistas descobriram as vantagens de utilizá-los
como pontos espaciais geodésicos de referência para o estabelecimento de redes geodésicas (Loch e
Erba, 2007).
A utilização dos sistemas de posicionamento por satélites artificiais nos levantamentos
geodésicos, para fins topográficos, oferece uma série de vantagens com relação à eficiência na
coleta e automação dos dados, dispensa da intervisibilidade entre os vértices e a possibilidade do
234
transporte simultâneo de coordenadas tridimensionais (x, y, z) em qualquer condição atmosférica e,
a qualquer hora do dia.
No início dos anos 70, a necessidade de um sistema de navegação por satélites de alta
precisão, com cobertura mundial, que estivesse disponível a qualquer momento, sob quaisquer
condições meteorológicas, tornou-se imprescindível no âmbito das forças armadas dos Estados
Unidos. Além disso, foi estabelecida como requisito essencial do sistema uma capacidade de
posicionamento contínuo tridimensional (latitude, longitude e altitude). Esse sistema deveria ser
empregado não só por navios, submarinos, aeronaves e veículos militares terrestres, mas, também,
ser de grande utilidade para o segmento civil, com uma ampla variedade de aplicações, desde
mapeamento topo-hidrográfico de precisão até sistemas anti-colisão de navios e aeronaves
(Hofmann-Wellenhof et al., 1997).
Em abril de 1973, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos iniciou formalmente o
programa de desenvolvimento de um sistema de navegação por satélites de segunda geração,
denominado NAVSTAR- GPS ('avigation Satellite with Timing And Ranging – Global Positioning
System), ou GPS (Global Positioning System).
O sistema consiste basicamente de um conjunto de estações fixas espalhadas pela superfície
terrestre, uma cosntelação de satélites artificais orbitando em volta da Terra a uma altitude de,
aproximadamente, 20000 km e de estações receptoras terrestres móveis.
Conforme Hofmann-Wellenhof et al. (1997) o sistema GPS é constituído por três segmentos
principais: espacial, controle terrestre e do usuário.
Segmento espacial
Segundo Silva (2003), o segmento espacial é composto pela constelação de satélites e possui
a função de gerar e transmitir os sinais GPS. Compreende 27 satélites (24 operacionais e 3 de
reserva) distribuídos em 6 planos orbitais, com 4 satélites operacionais por plano, inclinados 55° em
relação ao plano do Equador e a uma altura dos satélites de 20000 km, o que implica um período de
12 horas, tempo para completar uma volta em torno da Terra. O sistema foi projetado para garantir
pelo menos 4 satélites sempre acima do horizonte, em qualquer ponto da superfície da Terra, 24
horas por dia (Figura 14.15).
Figura 14.15. Distribução dos satélites GPS nos planos orbitais. Fonte: Monico (2000).
235
Os satélites GPS são transmissores de sinais de rádio gerados a partir de uma freqüência
fundamental de 10,23 MHz. Os satélites transmitem duas ondas de rádio denominadas portadoras,
obtidas pela multiplicação eletrônica da freqüência fundamental pelo fator 154 e 120. As
freqüências obtidas estão na faixa da banda L de radiofreqüências (1000 a 2000 MHz), e as
portadoras transmitidas são conhecidas como L1 e L2, com freqüências 1575,42 e 1227,60MHz,
respectivamente. Os satélites transmitem continuamente dois códigos modulados em fase sobre as
portadoras. Sobre a L1, modula-se o código C/A (Clear Acess ou Course Aquisition) e sobre as
portadoras L1 e L2, modula-se o código P (Precise Code). O código C/A apresenta freqüência de 1,
023 MHz enquanto que o código P é gerado na freqüência fundamental de 10,23 MHz. Ambos os
sinais transmitem ainda uma série de mensagens de navegação, como as efemérides, correções dos
relógios dos satélites, saúde dos satélites e outras, que são processadas pelos receptores. (Silva,
2003; Rocha, 2002).
O Sistema GPS é um sistema de posicionamento baseado na radionavegação, que permite
aos usuários determinar suas posições em coordenadas cartesianas retangulares (x, y, z) em relação
ao centro de massa da Terra e, posteriormente, convertê-las em coordenadas curvilíneas elipsoidais
expressas em latitude, longitude e altura. A posição GPS é baseada na medição de distâncias aos
satélites do sistema. Os satélites GPS funcionam como pontos de referência no espaço, cuja posição
é conhecida com precisão. Então, um receptor GPS, com base na medição do intervalo de tempo
decorrido entre a transmissão dos sinais pelos satélites e sua recepção a bordo, determina a sua
distância a três satélites no espaço, usando tais distâncias como raios de três esferas, cada uma delas
tendo um satélite como centro. A posição GPS será o ponto comum de interseção das três esferas
com a superfície da Terra. O sistema de referência usado pelo GPS é o Datum WGS 84 (World
Geodetic System).
Segmento de controle
Segmentos do usuário
236
controle do receptor, amostragem e processamento de dados; oscilador, responsável pela geração da
frequência interna do receptor; interface com o usuário como painel de exibição de dados e
comandos de operação, que permitem a configuração do receptor antes dos levantamentos; fonte de
energia e memória para armazenar os dados coletados.
Existem vários tipos de receptores GPS que podem ser classificados de acordo com:
• A freqüências recebida: recptores simples freqüência, que recebem somente a freqüência L1,
o acesso ao código C/A é dado entre o sinal do satélite com uma réplica gerada no receptor.
Recptores de dupla freqüência, recebem as freqüências L1 e L2, e podem ter acesso ao
código C/A e ao código P.
• Número de canais - os receptores que possuem apenas um canal que se move rapidamente
de um satélite para outro; receptores multicanais que possuem vários canais independentes
para rastrear, simultaneamente, cada satélite visível no horizonte.
• O tipo de sinal observado - os receptores podem rastrear somente o código C/A, o código
C/A e a portadora L1, há os que rastreiam o código C/A e as portadoras L1 e L2, os
receptores que rastreiam os códigos C/A e P e as portadoras, os que rastreiam somente a
portadora L1 e os receptores que rastreiam somente as portadoras L1 e L2 sem o código.
Segundo Rocha (2002), o posicionamento pelo sistema GPS é baseado em dois tipos de
medições diretas satélite/receptor: (1) medida baseada nos códigos (medidas das pseudodistâncias);
(2) medida baseada nas ondas portadoras (medida de fase).
Para o posicionamento através do código, sendo dado um sistema de referência, no caso o
Datum WGS 84, um ponto pode ser determinado pelas suas coordenadas (x, y, z). O posicionamento
consiste em três procedimentos fundamentais:
• Medir as distâncias satélite-receptor;
• Determinar as coordenadas dos satélites;
• Calcular as coordenadas do receptor no ponto.
A medição da distância satélite-receptor pelos códigos se dá através do tempo de propagação
(∆t), necessário para a correlação entre o código recebido do satélite e a sua réplica gerada pelo
receptor. Neste caso a distância é calculada por:
D = c x ∆t (14.1)
onde D é a distância entre os satélites e oa receptores (m); c é a velocidade da luz; ∆t o tempo de
propagação do sinal.
Este é o tipo de posicionamento utilizado principalmente para navegação. A precisão fica
em aproximadamente 15 m. Com a observação de três satélites, tem-se a geometria mínima para a
determinação das coordenadas (x, y e z). Recomenda-se que sejam observados 4 satélites para a
correção do erro dos relógios dos receptores. (SILVA, 2003; ROCHA 2002).
Alguns erros interferem na recepção do sinal do sistema GPS e podem afetar a precisão do
posicionamento por pontos.Estes erros podem estar relacionados aos satélites, à propagação do
sinal, aos receptores e às antenas. A Tabela 14.6 mostra os erros que influenciam no
237
posicionamento por GPS. Os principais fatores que causam erros de posicionamento nas
coordenadas adquiridas com o GPS estão na Tabela 14.7.
Os erros mais comuns relacionados aos satélites são os erros nos relógios dos satélites e
receptores e aqueles relativos à distribuição geométrica dos satélites, denominada de DOP (Dilution
Of Precision). O fator DOP descreve o efeito da distribuição dos satélites no espaço sobre a
precisão obtida na solução de navegação (Figura 14.16). O melhor valor possível para o DOP é 1 e
o pior é infinito. Existem vários os índices de DOP: GDOP – Geometria, PDOP – Posição 3D,
HDOP – Horizontal, VDOP – Vertical, TDOP – Tempo. Nos equipamentos de navegação, o DOP é
representado pelo EPE (erro de posição estimado) dado em metros. (Silva, 2003).
Outro erro ocorre devido à disponibilidade seletiva (SA) que é a de degradação do sinal GPS
de forma intencional através da manipulação dos dados das efemérides transmitidas e dos relógios
dos satélites. Segundo Rocha (2000), foi implementado pela primeira vez em 1990 e desligado em
maio de 2000.
Erro do Relógio do Receptor Diferença entre o tempo recebido e o tempo do sistema GPS.
Ruído da Portadora ao
Imprecisões na medida da portadora devido a ruído no receptor.
Receptor
238
Figura 14.16. Representação do DOP.
239
Outros Sistemas de Posicionamento por Satélite
Há outros sistemas GNSS (Global 'avigation Satellite System) como o Glonass e o Galileu.
O sistema de posicionamento Glonass é um sistema Russo e foi desenvolvido para fins militares,
controlado pelo Ministério de Defesa Federal Russo. Tem altitude de 19100 km, projeto de 24
satélites em três planos orbitais com inclinação do plano orbital de 65° em relação ao Equador e
período espacial de 11h15min. Atualmente 12 satélites estão em operação e o sistema está integrado
com o GPS. Existem receptores que rastreiam GPS e Glonass, melhorando o número de satélites,
diminuindo o DOP. O sistema Galileu é um sistema 100% civil, implantado pela Comunidade
Européia com a participação de vários outros países, 14 nações ao todo. Tem projeto previsto para
30 satélites em três orbitas com inclinação de 56° com o Equador. Altitude de 23600 km, período de
14h04min. Possivelmente este sistema será compatível com o GPS.
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