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Ementa:
SUMÁRIO
Planejamento de ensino:
peculiaridades significativas
REGINA BARROS LEAL
Universidade de Fortaleza, Brasil
Planejar e pensar andam juntos. Ao começar o dia, o homem pensa e distribui suas
atividades no tempo: o que irá fazer, como fazer, para que fazer, com o que fazer etc. Nas
mais simples e corriqueiras ações humanas, quando o homem pensa de forma a atender suas
metas e seus objetivos, ele está planejando, sem necessariamente criar um instrumental
técnico que norteie suas ações. Essas observações iniciais estão sendo expressas, apenas para
chamar atenção sobre o aspecto cotidiano da ação de planejar e como o planejamento faz
parte da vida. Aquele que não mais planeja, talvez já tenha robotizado suas ações, portanto,
quem sabe, não tem a consciência do que está fazendo, nem se ainda pode construir alguma
coisa. Alguns até dizem: “Nem preciso mais pensar, vou fazendo o que me mandam fazer...
Eu não necessito planejar, já vou fazendo, porque sei onde vai dar...”. E assim por diante.
Nessa circunstância, parece estar presente a alienação do homem como sujeito, na medida em
que assume a atitude de dominado, fazedor dócil e outras tantas denominações que podem ser
imprimidas no sujeito, quando este se torna objeto nas mãos de outrem. Todavia, o objetivo
deste estudo não é discutir tais questões, muito embora elas estejam presentes nas atividades
habituais do homem. O planejamento é um processo que exige organização, sistematização,
previsão, decisão e outros aspectos na pretensão de garantir a eficiência e eficácia de uma
ação, quer seja em um nível micro, quer seja no nível macro. O processo de planejamento está
inserido em vários setores da vida social: planejamento urbano, planejamento econômico,
planejamento habitacional, planejamento familiar, entre outros. Do ponto de vista
educacional, o planejamento é um ato político-pedagógico porque revela intenções e a
intencionalidade, expõe o que se deseja realizar e o que se pretende atingir. Mas o que
significa planejamento do ensino e suas finalidades pedagógicas?1 O que é o planejamento
docente? O plano de aula? O projeto de disciplina? A programação semestral? O projeto
pedagógico? Esses conceitos, atualmente, foram redefinidos, não só por conta da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, mas também como resultante do novo modelo de
sociedade, onde alguns denominam de sociedade aprendente, outros, sociedade do
conhecimento 2.
O que é importante, do ponto de vista do ensino, é deixar claro que o professor
necessita planejar, refletir sobre sua ação, pensar sobre o que faz, antes, durante e depois. O
ensino superior tem características muito próprias porque objetiva a formação do cidadão, do
profissional, do sujeito enquanto pessoa, enfim de uma formação que o habilite ao trabalho e à
vida. Voltemos a questão inicial. O que significa o planejamento de ensino? Por que o
professor deve planejar? Quais os procedimentos, os instrumentos, as técnicas, os métodos, os
recursos e as finalidades pedagógicas do planejamento de ensino? Um ato político
pedagógico? Uma carta de intenção? Uma reflexão sobre o saber fazer docente?
Antes de desenvolver algumas dessas questões, é imprescindível afirmar que existem
diferentes abordagens sobre o assunto. Tais abordagens se diferenciam pela forma como
tratam a temática, todavia se afinam quantos aos seus elementos constitutivos. Assim
considerado, arrisca-se afirmar que o planejamento do ensino significa, sobretudo, pensar a
ação docente refletindo sobre os objetivos, os conteúdos, os procedimentos metodológicos, a
avaliação do aluno e do professor. O que diferencia é o tratamento que cada abordagem
explica o processo a partir de vários fatores: o político, o técnico, o social, o cultural e o
educacional.
Tal atitude do docente o encaminhará para uma reflexão de sua ação educativa naquela
instituição e a partir desse diagnóstico inicial, relacionando com o projeto da universidade,
poderá desenvolver uma prática formativa. De posse do Projeto de Ensino oficial5, o docente
irá elaborar sua programação, adaptando-a às suas escolhas, inclusive, inserindo a pesquisa
nos exercícios didáticos. Caso a instituição de ensino superior não apresente o projeto da
disciplina, o professor deverá elaborar observando os seguintes componentes:
a) EMENTA DA DISCIPLINA. Ementa é um resumo dos conteúdos que irão ser trabalhados
no projeto.
b) OBJETIVOS DE ENSINO. Elaborá-los na perspectiva da formação de habilidades a serem
desenvolvidas pelos alunos: habilidades cognitivas, sociais, atitudinais etc. Há níveis
diferenciados de objetivos: objetivo geral, alcançável longo prazo; objetivo específico, o qual
expressa uma habilidade específica a ser pretendida. Este deve explicitar de forma clara a
intenção proposta. Os objetivos variam quanto ao nível, conforme o projeto. Por exemplo; no
Projeto da disciplina: objetivo geral e objetivos específicos para cada unidade do Projeto; no
plano de aula pode comportar mais de um objetivo específico, dependendo do número de
sessões (exemplo: 02 sessões no período da noite, horários A e B). É importante frisar que irá
depender da estrutura pedagógica da instituição, a forma de elaborar projetos e planos. Há
bastante flexibilidade, contanto que no projeto de ensino ou plano de aula, estejam presentes
os seus elementos constitutivos. Portanto, não existem modelos fixos. Destaca-se ainda, que
os objetivos, de uma maneira geral, para deixar claro a ação pretendida, devem iniciar com o
verbo no infinivo porque irá indicar a habilidade desejada. Caso o professor desejar indicar
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outra habilidade no mesmo objetivo, deve usar o outro verbo no gerúndio. Exemplo: Avaliar
as condições socioeconômicas do Nordeste, indicando os fatores determinantes da região. A
formulação de objetivos está diretamente relacionada à seleção de conteúdos.
c) CONTEÚDOS (saber sistematizado, hábitos, atitudes, valores e convicções) 6. Quais são
os conteúdos de ensino? Quais os saberes fundamentais? O professor deverá, na seleção dos
conteúdos, considerar critérios como: validade, relevância, gradualidade, acessibilidade,
interdisciplinaridade, articulação com outras áreas, cientificidade, adequação. Além do
conhecimento da ciência, o professor, por exercer uma função formadora, deve inserir outros
conteúdos: socialização, valores, solidariedade, respeito, ética, política, cooperação,
cidadania, etc.
d) METODOLOGIA (procedimentos metodológicos). Metodologia é o estudo dos métodos.
Metodologia de ensino significa o conjunto de métodos aplicados a situação
didáticopedagógica. Método de ensino é o caminho escolhido pelo professor para organizar as
situações ensinoaprendizagem. A técnica é a operacionalização do método. No planejamento,
ao elaborar o projeto de ensino, o professor antevê quais os métodos e as técnicas que poderá
desenvolver com seu aluno em sala de aula na perspectiva de promover a aprendizagem. E,
juntamente com os alunos, irão avaliando quais são os mais adequados aos diferentes saberes,
ao perfil do grupo, aos objetivos e aos alunos como sujeitos individuais7. Nesse processo
participativo o professor deixa claro suas possibilidades didáticas e o que ele pensa e o que
espera do aluno como sujeito aprendente, suas possibilidades, sua capacidade para aprender,
sua individualidade.
Quando o professor exacerba um método ou uma técnica, poderá estar privilegiando
alguns alunos e excluindo outros, e, mais ainda, deixando de realizar singulares experiências
didáticas que o ajudariam aperfeiçoar sua prática docente e possibilitar ao aluno variadas
formas de aprender. Ainda arriscar a trabalhar o saber de diferentes formas, percorrendo
criativos trajetos em sala de aula. O medo de mudar, às vezes, impede o professor de arriscar
novos caminhos pedagógicos. Daí o significado didático-pedagógico na formação do
professor. Os paradigmas das experiências anteriores podem ser as referências de muitos
professores. Assim posto, é válido para o docente buscar novas técnicas, desbravar novos
caminhos, numa investida esperançosa de quem deseja fazer o melhor, do ponto de vista
metodológico e didático8. Tal atitude implica em estudar sobre a natureza didática de sua
prática educativa. Donald Schon tem sido uma referência teórico-metodológica dos
profissionais que atuam na área de formação de professores por afirmar que os bons
profissionais utilizam um conjunto de processos que não dependem da lógica, da
racionalidade técnica, mas sim, são manifestações de sagacidade, intuição e sensibilidade
artística. Schon orienta para que se observe estes professores para averiguarmos como
desenvolvem suas práticas, como fazem e o que fazem, para colhermos lições para nossos
programas de formação. (O saber fazer-docente, 2002) 9. O professor deve refletir
didaticamente sobre sua prática, pensar no cotidiano sobre o saberfazer em sala de aula, para
não escorregar na mesmice metodológica de utilização dos mesmos recursos e das invariáveis
técnicas de ensino. É importante que o professor estude sobre essa temática, uma vez que há
uma diversidade metodológica que pode ser trabalhada em sem sala de aula e/ou numa
situação didático-pedagógica. Exemplo: exposição com ilustração, trabalhos em grupos,
estudos dirigidos, tarefas individuais, pesquisas, experiências de campo, sociodramas, painéis
de discussão, debates, tribuna livre, exposição com demonstração, júri simulado, aulas
expositivas, seminários, ensino individualizado.
f) RECURSOS DE ENSINO. Com o avanço das novas tecnologias da informação e
comunicação-NTIC, os recursos na área do ensino se tornaram valiosos, principalmente do
ponto de vista do trabalho do professor e do aluno, não só em sala de aula, mas como fonte de
pesquisa. Ao planejar, o professor deverá levar em conta as reais condições dos alunos, os
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recursos disponíveis pelo aluno e na instituição de ensino, a fim de organizar situações
didáticas em que possam utilizar as novas tecnologias, como: datashow, transparências
coloridas, hipertextos, bibliotecas virtuais, Internet, E.mail, sites, teleconferências, vídeos, e
outros recursos mais avançados, na medida em que o professor for se a aperfeiçoando10.
g) AVALIAÇÃO. A avaliação é uma etapa presente quotidianamente em sala de aula, exerce
uma função fundamental, que é a função diagnóstica. O professor deverá acolher as
dificuldades do aluno no sentido de tentar ajudá-lo a superá-las, a vencê-las. Evitar a função
classificatória, comparando sujeitos entre sujeitos. A avaliação deverá considerar o avanço
que aquele aluno obteve durante o curso. Há muito que estudar sobre avaliação11. Um das
dicas é a de realizar as articulações necessárias para que se possa promover testes, provas,
relatórios, e outros instrumentos a partir de uma concepção de avaliação que diz respeito ao
aluno como sujeito de sua aprendizagem12, uma vez que planejar é uma ação dinâmica,
interativa, e acontece antes de se iniciar o processo de ensino, durante e depois do processo. É
uma ação reflexiva, que exige do professor permanente investigação e atualização didático-
pedagógica.
Bibliografia
ALARCÃO, I.: Formação reflexiva dos professores, Estratégias de Supervisão, Porto Editora, 1996.
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LIBÂNEO, José Carlos: Didática, São Paulo, Cortez, 1994.
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VEIGA, Ilma (coord.): Panejamento do ensino numa perspectiva crítica de educação, in LOPES,
Antonia: Repensando a Didática, Campinas, Ed. Papirus, 2.a ed.
Resumo
Este artigo tem como objetivo conduzir uma reflexão sobre as práticas didáticas presentes na
educação corporativa. O aumento expressivo das universidades corporativas como resposta a
mudanças no cenário econômico e a deficiência existente na educação formal fazem com que
essas entidades tenham um papel importante na educação continuada de nossa população. A
preocupação com estratégias de ensino e de aprendizagem é fundamental para que os
profissionais consigam desenvolver competências importantes ao seu próprio
desenvolvimento, contribuir para o crescimento das empresas e, conseqüentemente, o
progresso das nações. Um caso de educação corporativa, em uma empresa de soluções de
informação, é utilizado para suportar o processo de reflexão. De forma não conclusiva,
percebe-se que a corporação apresenta um rico potencial para a utilização de recursos técnicos
de ensino e aprendizagem. Porém, o papel de um dos principais atores, o gestor, ainda não foi
totalmente transformado em gestor educador. Este novo papel da liderança é fundamental para
garantir a viabilização e consolidação da educação corporativa como instituição
complementar para a educação contínua.
Abstract
This paper has the objective of driving a reflection on the didactic practices present in the
corporate education. The expressive increase of corporate universities as answer to changes in
the economic scenery and to the existent deficiency in the formal education, transformed
those entities in important players in the continued education process of our population.
Concerns with teaching and learning strategies are fundamental and contribute in assuring
professionals´ competencies development, their support for companies´ growth and,
consequently, the progress of the nations. A case of corporate education, in a company of
information solutions, is used to support the reflection process. Non-conclusively, this study
points to a great potential inside the corporate universities for teaching and learning
techniques usage. Therefore, the role of one of its key actors - the leader - was not completely
transformed into the educating leader. This new leadership role is fundamental to consolidate
and sustain the corporate university as a complementary institution on continued education.
Key words: education, corporate education, continuing education, didactic, didactic practices
in corporate education.
1 Introdução.
A educação corporativa pode ser vista como um modismo por algumas pessoas, talvez
por ter surgido na prática empresarial antes de ser teorizada na academia, como outros
modelos e instrumentos de gestão da administração.
A expansão da educação corporativa no Brasil veio responder a duas situações: o
aumento da competitividade global e a fragilidade e precariedade da educação tradicional. Por
um lado, o aumento da competitividade pressionou empresas a terem maior velocidade, maior
inovação, preocupação com qualidade e produtividade; além de adotarem técnicas de gestão
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para atender a esses requisitos como o trabalho em grupo, a participação e o aumento da
comunicação interna. Por outro lado, o histórico de pouca continuidade nos estudos, leva para
as organizações pessoas com deficiências básicas. Nem mesmo a expansão de cursos técnicos
profissionalizantes, conseguiu responder às crescentes demandas do mercado.
Com isso, a organização opta pela educação corporativa como forma de desenvolver
seus recursos e talentos e buscar competitividade sustentada. O papel dessas entidades é o de
desenvolver competências críticas empresariais e humanas fundamentais, priorizando a
comunicação, a colaboração, a capacitação técnica, o raciocínio crítico e a liderança
(MEISTER, 1999). Seu objetivo não é substituir a educação básica tradicional, mas realizar o
processo de educação continuada com foco na renovação do conhecimento, dada a sua rápida
obsolescência e, no desenvolvimento de novas atitudes e habilidades requeridas pelo mercado
de trabalho.
Em alguns casos, uma organização estabelece uma parceria com uma instituição de
ensino para pensar sua estratégia de educação e realizar seus programas. Em outros, seus
recursos internos são responsáveis pelo planejamento, execução, avaliação e controle das
atividades. Será que os recursos internos de uma organização têm a mesma preocupação ou o
preparo dos educadores das entidades de ensino? A liderança das organizações suporta e serve
de exemplo ao processo de aprendizagem? Quais as estratégias de ensino mais adequadas a
esta nova realidade? Será que o aprendizado é aferido?
Muita bibliografia existe sobre didática no ensino superior tradicional, mas esta
abordagem ainda é pouco explorada na educação corporativa. Assim, entender o quê as
organizações entendem por educação, quais recursos de ensino e aprendizagem elas utilizam,
os novos papéis de seus atores, a processo de avaliação do aprendizado, pode contribuir para
aprofundar nosso conhecimento sobre educação continuada, focalizando especialmente a
contribuição das empresas ao desenvolvimento humano, no novo cenário econômico.
Para tal, é traçado um referencial teórico focalizando dois temas principais: a educação
e a didática. Entender o papel da educação corporativa dentro de um cenário de educação
mais amplo é necessário, já que esta nasceu para participar do processo educacional como um
todo. Com relação à didática, faz sentido analisar a didática no ensino superior tradicional
como subsídio para a discussão de seu uso e aplicabilidade na corporação. Didática neste
trabalho será abordada como sendo os princípios, recursos e técnicas de ensino, habilidades
do educador, processo de aprendizagem e aferição de aprendizado. Um estudo de caso
exploratório é utilizado para auxiliar, do modo empírico, a reflexão sobre práticas didáticas na
educação corporativa.
Com este trabalho, espera-se iniciar uma reflexão centrada no aluno
(estudante/funcionário) como paciente de um processo educativo contínuo e realizado por
múltiplas entidades. Um pano de fundo importante é a compreensão da missão principal tanto
da entidade de ensino tradicional quanto da corporação, entendendo as mesmas como
parcerias no desenvolvimento sustentado das nações.
Em função dessa história, o tom político foi sempre muito forte. Se, de um lado, a grande
expansão do ensino se deu sob regimes autoritários, de outro, efetivamente ajudou o
desenvolvimento econômico do país.
O tamanho e a diversidade do país, bem como a complexidade de gestão de um sistema de
educação descentralizada trazem uma série de conseqüências em termos de qualidade e
abrangência do ensino, preparo de docentes, pesquisa científica e o ensino continuado. Mas, e
quanto ao alinhamento deste processo de ensino à modernidade?
Quando se fala de modernidade, se fala em racionalização e subjetivação (ÉBOLI, 1999),
e não necessariamente o que vem depois da Idade Moderna. A modernidade está pautando o
cenário macroeconômico atual com a globalização, a inovação, a competitividade e aumento
exponencial do conhecimento. É um processo complexo e multidimensional. Na dimensão
cultural compreende a ética, a valorização do ser humano e o espírito de liberdade. Na dimensão
política é a afirmação da democracia e a preocupação com a cidadania. Na dimensão social
entende o sujeito como parte do movimento social, em um ambiente de justiça. Na dimensão
administrativa persegue uma preocupação com a eficácia por meio de projetos, a visão de futuro e
a esperança. Na dimensão econômica, visa prosperidade e lucro, mas subordina os objetivos
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econômicos aos sociais. E, finalmente, na dimensão tecnológica, pressupõe inovação sempre, sem
menosprezar a criatividade do ser humano.
Souza (2005) desenvolveu uma visão para a educação brasileira. Mesmo sem
intencionalmente alinhar sua visão a esta visão de modernidade, ela o está. O sistema educacional
brasileiro, segundo ele, deve levar em conta a sociedade do conhecimento em um mundo global, a
cidadania e os valores éticos. Os dois principais focos de sua visão são: o desenvolvimento da
capacidade de aprender e a criação de condições para a educação permanente. A escola deve ter
em mente questões como a socialização, o uso do conhecimento acumulado, o desenvolvimento
de habilidades de pensamento, a crítica e raciocínio e a formação do caráter. Além disso, um
indivíduo deve alternar idas-e-vindas entre a academia e o mercado de trabalho, além de tirar
proveito de recursos como a educação a distância e novas tecnologias aplicadas à educação.
Enquanto esta visão não se consolida plenamente, a Universidade Corporativa tem muito a
contribuir.
1
Fonte: adaptada de Éboli: Educação corporativa no Brasil: mitos e verdades -2004 Figura 1: os setes princípios
de sucesso da educação
corporativaCompetitividadePerpetuidadeConectividadeDisponibilidadeCidadaniaParceriaSustentabilidadeSete
princípios de sucesso da Educação CorporativaElevar o patamar de competitividade por meio da consolidação
das competências críticas.Transmissão da herança cultural, perpetuando a existência da empresa.Comunicação e
interação, relacionamento com públicos internos e externos.Atividades e recursos educacionais de fácil uso e
acesso.Estimular o exercício da cidadania individual e corporativa.Estabelecimento de parcerias internas
(gestores) e externas (instituições de ensino superior.Ser um centro gerador de resultados para a empresa.
2
Figura 2: focos da Universidade Corporativa, desenvolvimento gerencial institucional, equipes de venda,
integração dos funcionários.desenvolvimento gerencial institucional e individual, políticas corporativas de T&D,
conhecimentos específicos, conhecimento de produtos.desenvolvimento gerencial institucional e individual,
gestão do conhecimento, essência da empresa, competências, pilar de consultoria e universidade de
vendas.desenvolvimento gerencial, pilares funcionais, gestão do conhecimento, essência da empresa,
responsabilidade social.2001200220032004. Fonte: desenvolvido pela autora para conferência de RH da
organização em 2003.
3
Figura 3: modelo de funcionamento da Universidade Corporativa.
6. Considerações Finais
A educação corporativa veio para ficar e estabelecer parceria com a academia no processo
de educação continuada. Pode ser que práticas didáticas no nível tático estejam sendo bem
utilizadas contribuindo para a melhoria do processo de aprendizado. No caso destas práticas, pode
até ser que a universidade corporativa seja mais rica do que a academia, em função da
possibilidade de aplicação imediata do aprendizado.
Porém, muito pouco se investiga sobre o desempenho dos principais atores: o gestor e os
funcionários. Sem a devida sensibilização e valorização dos papéis, em especial o do gestor, os
benefícios deste processo de educação não serão maximizados.
Novas pesquisas devem ser realizadas focalizando as práticas didáticas e, em especial,
analisando o desempenho dos gestores em seus vários papéis para se chegar a uma visão mais
conclusiva sobre o bom desempenho didático da universidade corporativa.
Se a educação é a base do desenvolvimento e ela serve para mobilizar as pessoas em busca
do desenvolvimento, não adiantam só os recursos. È fundamental a sensibilização, engajamento e
comprometimento dos atores para o desenvolvimento sustentado das nações.
Referências Bibliográficas
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O ensino superior no Brasil pode ser considerado como algo recente se comparado a
história da universidade no mundo, principalmente nos países da Europa que já vivenciaram
essa realidade desde o final do século XII. Mas, ao mesmo tempo em que este ensino é
recente, ele tangencia crises que são características da realidade do ensino superior de uma
maneira geral, inclusive para aqueles países onde a tradição desse nível de ensino é uma
característica marcante, como é o caso da Espanha, França, Inglaterra e Alemanha. O
questionamento sobre a finalidade da universidade – sua crise de identidade, a dicotomia entre
sua função de profissionalizar e produzir conhecimento, a crise de autonomia perante o
estado, a sua organização interna perante às demandas externas são alguns dos elementos que
independente do tempo de vida das instituições se fazem presentes no cotidiano de cada uma
delas. O sistema de formação superior público brasileiro, desde seus primeiros passos,
inaugurou uma série de desafios para se legitimar perante a sociedade. Nascido de iniciativas
privadas e isoladas, ele passa a fazer parte do cenário público num período de uma era
populista e de lá para cá vem enfrentando vários desafios para se manter como um bem
público e a serviço da Ciência e do Desenvolvimento Social. Para Chamilian, em estudo
apresentado em 2003, o ensino superior no Brasil apresenta-se hoje com uma estrutura de
proporções consideráveis, se formos comparar à sua realidade de 40 anos atrás. Esse aumento
de oferta ocorreu especialmente pela atuação majoritária da iniciativa privada, que viu no
ensino superior um mercado lucrativo a ser explorado. O poder público, por sua vez, tendo
alcançado o momento forte de expansão na década de 60 e na primeira metade dos anos 70,
retraiu os investimentos para a oferta de vagas e cursos de graduação e concentrou sua ação
no investimento à pesquisa, favorecendo a implementação de cursos de pós-graduação. Essa
falta de incentivo à graduação, se deu pelo desinteresse do governo militar pela formação
profissionalizante do ensino superior devido ao seu interesse na ampliação da formação
técnica secundária – mais popular e com retorno financeiro mais rápido para a nação.
O investimento do setor privado no ensino superior trouxe, segundo Pimenta e
Anastasiou (2002), um aumento do número de docentes, que no período de 1950 a 1992,
passou de 25 mil para um milhão, numa ordem de 40 vezes mais o número de docentes que
ora existiam. Essa explosão de professores acarreta, dentre outras coisas, a ausência de uma
compreensão mais complexa sobre as origens desse professor universitário, o que pensa,
como interage no seu espaço profissional consigo e com os seus pares. Isso porque, os
professores em sua maioria são oriundos dos mais variados cursos, distantes, diga-se de
passagem, de uma preparação para a vida acadêmica que a universidade exige. O convívio
com essa realidade tem suscitado vários debates e trabalhos de pesquisa sobre esse
personagem que atua na formação superior em nosso país. Entre os anos de 2003 a 2005
através de financiamento do CNPq, um projeto de pesquisa intitulado “Desenvolvimento
profissional e docência universitária: entre saberes e práticas” foi desenvolvido por um grupo
de pesquisadoras do Núcleo de Saberes e Práticas Educativas – NUPESPE, tendo como
objetivo investigar como o docente universitário desenvolve-se profissionalmente, que
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saberes e práticas envolvem sua atuação, ou seja, quem são, o que pensam e o que sabem
fazer os profissionais que atuam no contexto da Universidade Federal de Uberlândia. Para
tanto, o olhar dos investigadores pautou-se na figura e fala desses profissionais para,
inicialmente, desvelar pontos relacionados à sua visão de competência profissional frente às
limitações e às condições de trabalho e, a seguir, focalizar seus fazeres educativos.
O trabalho foi realizado com docentes universitários em efetivo exercício e integrantes
da carreira do magistério superior, que passaram a configurar o universo de sujeitos desta
investigação. Os colaboradores, que atuam em 33 cursos de graduação oferecidos pela UFU
(bacharelados e licenciaturas), foram reunidos por área do conhecimento, conforme
classificação do CNPq. Para a obtenção dos dados, foram utilizadas fontes primárias da UFU;
questionários visando à coleta de informações sobre identificação, formação acadêmica,
atividades profissionais e culturais dos docentes; entrevistas semi-estruturadas. Para um total
de professores de 889 efetivos, foram distribuídos 869 questionários, tendo sido recolhidos
368. As informações obtidas por meio dos questionários foram tabuladas e submetidas a
tratamento estatístico. As entrevistas, realizadas por amostragem num total de 37, foram
transcritas e categorizadas em dois grandes blocos: a formação e a prática docente. Para a
análise, os grupos que constituem as oito áreas do conhecimento foram reorganizados em três
grandes áreas. O primeiro grupo reuniu as Áreas de Ciências Exatas e da Terra e das
Engenharias; o segundo grupo reuniu as Áreas de Ciências Biológicas, da Saúde e Agrárias; e
o terceiro agrupou as Áreas de Ciências Sociais Aplicadas, Humanas e a Área de Lingüística e
Artes. Este artigo tem como propósito apresentar dados referentes as áreas de Ciências
Biológicas, da Saúde e Agrárias enfocando questões relacionadas à formação inicial e
continuada de seus professores com a finalidade de discutir as nuanças dessa formação
anunciada em seus depoimentos. Nesse grupo, foram distribuídos 328 questionários, tendo
sido recolhidos 140 respondidos. Para as entrevistas selecionou-se 16 docentes que se
encontravam em diferentes níveis da carreira universitária (auxiliar de ensino, assistente,
adjunto e titular), do sexo feminino e masculino, e que possuíam formação inicial
diferenciada.
Através de entrevistas orais temáticas semidiretivas, foram registrados os depoimentos
dos professores. As fontes orais representam uma possibilidade real de troca de experiências,
de diálogo, de registro, preservação e crítica da prática docente. Esperamos que reflexões
advindas da análise desses dados possam contribuir para a definição de políticas institucionais
voltadas para a formação do professor universitário, mediante apresentação de propostas que
de fato respeitem as peculiaridades e singularidades da formação para o ensino superior. A
formação do professor universitário tem possibilitado vários debates sobre as condições pelas
quais esses atores ingressam na carreira acadêmica. Dos aspectos que vem sendo apontados
nos trabalhos em torno da temática, como a formação desse profissional, a prática docente, a
carreira, a história de vida profissional e as políticas públicas sobre tal profissão, a formação é
o aspecto que, nesse momento para nós, tem suscitado maiores reflexões. Isso devido ao
contexto no qual os professores universitários são/não são preparados para o exercício de sua
profissão. A carreira docente instituída na academia brasileira, supõe quatro níveis iniciais de
formação para o ingresso e progressão na vida acadêmica: o professor Auxiliar, o Assistente,
o Adjunto e o Titular. O primeiro na condição de possuir apenas a graduação (em alguns
casos uma especialização); o segundo, o título de mestre e o terceiro o título de doutor, e o
último além do doutorado, necessita ter uma vasta produção para sua titularidade. Nessa
organização, percebemos que a primeira condição para o ingresso no magistério superior é a
formação inicial numa área específica do conhecimento. Isso implica afirmar que a
universidade propõe para além da formação para a profissão liberal ou a licenciatura para a
Educação Básica, a formação para o engajamento na carreira acadêmica – o que nos remete a
Nas entrevistas os professores abordaram sobre sua formação enfocando: a opção pela
docência, as influências sofridas, sua trajetória profissional, sua formação inicial que suscitou
questões como a carência da formação pedagógica e ainda a formação para a docência na pós-
graduação. Alguns entrevistados mencionaram a aprendizagem advinda da experiência.
Abordaram ainda sobre o que é ser professor, e apontaram os conhecimentos necessários para
exercer a docência, onde enfatizaram a necessidade de atualização que traz para a discussão a
formação continuada. Esses diversos aspectos serão ilustrados pelos depoimentos dos
professores e discutidos com base nas leituras realizadas. Embora tenhamos recolhido um rico
e representativo material empírico, em função do espaço disponível para o artigo, iremos
apresentar apenas uma amostra do material coletado. Sobre a opção profissional, é
interessante observar, que enquanto alguns passaram a exercer a profissão docente, como
decorrência de suas atividades de pesquisa, como alunos na pós-graduação, outros decidiram
ser professor universitário, ainda na graduação, entretanto, enfatizam que nunca pensaram em
atuar no ensino básico. Em suas palavras:
Não tive influência da família não, mas do ensino médio sim, onde tive bons
professores. Eu tive grandes privilégios, venho daquele ensino público de
qualidade estudei em escola pública a minha vida inteira, na minha época
ainda era grupo escolar, ginasial e colegial. Naquela época, a escola
pública era excelente. Oriento-me na Didática dos professores, nas aulas
que me mantinham atentas, nas ferramentas que utilizavam, são essas que
eu busco imitar, com certeza.
Minha história com o ensino vem desde o primário, sempre tive facilidade
de ajudar os colegas. Eu já fazia alguma coisa no quadro explicando para
os alunos, na ausência do professor. Depois durante a graduação eu dei
aulas no cursinho como uma forma de auto-sustentação e depois convivendo
aqui na Universidade, com professores, vendo a carreira, já desenvolvendo
alguns trabalhos com eles, eu fui ficando cada vez mais ligado com a área
docente, o que contribuiu para meu aproveitamento durante a graduação.
Surgiu a oportunidade, eu fiz o concurso e estou há mais de quinze anos na
carreira.
Pérez Gómez (1995) questiona a idéia de que a formação inicial tenha como produto,
um profissional pronto para atender às necessidades concretas da sala de aula. Corroborando
essa idéia, foi uníssono na voz dos professores, que a formação inicial não dá conta da
complexidade da atividade docente, e que o desenvolvimento profissional carece de
mecanismos de formação continuada. Sobre a formação inicial e continuada, os professores se
manifestaram destacando a carência da formação pedagógica, mesmo nos cursos de
licenciatura. Nesse sentido é possível afirmar que a universidade não considera a
possibilidade de seu aluno voltar como professor?
Uberlândia ofereceu vagas para 43 novos docentes, e fez concurso nas suas
várias áreas. Então a gente imagina que seria interessante para esses
docentes que estão entrando, uma capacitação que mostrasse aspectos da
formação, do planejamento, do conteúdo, que mostrasse a ele um pouco da
história da instituição, um pouco da dinâmica do seu grupo de trabalho e
um pouco de Metodologia do Ensino Superior em termos gerais. Acho que
na hora de capacitar pra docência tinha que ser a Pró Reitoria de
Graduação. Então acho que no caso especifico da UFU, seria fundamental
que a Pró Reitoria de Graduação junto com a Pró Reitoria de Recursos
Humanos, organizasse uma Educação continuada voltada para a qualidade
da docência, de técnicas, ou seja, lá o que for, para todos os professores
ingressantes, e aberto aos professores que já são efetivos, pra que esses
também pudessem se qualificar.
Assim, é consensual que a formação inicial não dá conta da complexidade que envolve a
atividade docente do professor do ensino superior, como também os cursos stricto sensu
posteriores a essa formação não ajudam a resolver esse problema. Um entrevistado chegou a
sugerir que a preocupação maior do mestrado deveria ser a formação do professor para o
ensino superior e não a formação do pesquisador na área específica, a qual poderia acontecer
no doutorado. Instituir cursos sobre Metodologia e Didática no Ensino Superior também se
mostrou como uma opção entre os entrevistados para tentar amenizar as lacunas encontradas
nesse quesito. Por fim, gostaríamos de registrar que os problemas pertinentes à formação para
a docência no ensino superior coexistem junto a tantos outros que se entremeiam no universo
do professor. No entanto, a consciência de que as ausências são presenças no universo
formativo dos docentes, já existe. Os depoimentos colhidos e apresentados nesse trabalho, são
uma forma de materializar tal consciência. Acordar professor universitário é um ritual de
passagem, portanto requer cuidados específicos que respeitem essa singularidade.
5-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO
QUADRO 1
Elementos constituintes das atividades de pesquisa e ensino, segundo Pimenta e Anastasiou
(2002, p. 190-196):
Conhecimentos
Os conhecimentos constituem-se em sínteses provisórias geradoras de novas propostas
de trabalho. Trata-se, em geral, do trabalho com o conhecimento já existente e sistematizado,
a ser “apropriado” pelo aluno sob a orientação do professor.
Método
É definido ao se propor o problema, tendo em vista a estreita relação entre o objeto, o
campo do conhecimento e a metodologia a ser trabalhada. Depende, inicialmente, da visão de
ciência, de conhecimento e de saber escolar do professor. Considerando as diferenças entre as
atividades de pesquisar e ensinar, as autoras concluem que não seja difícil compreender por
que ser um reconhecido pesquisador, produzindo acréscimos significativos aos quadros
teóricos existentes, não é garantia de excelência no desempenho pedagógico e,
conseqüentemente, por que os programas de pós-graduação não oferecem, necessariamente,
melhoria na qualidade docente: como a pesquisa e a produção de conhecimentos são objetivos
da pós-graduação, os docentes, quando participam desses programas, sistematizam e
desenvolvem habilidades próprias ao método de pesquisa, deixando de lado o
desenvolvimento das características necessárias para o desenvolvimento do ensino. Assim,
podemos perceber que os cursos de formação, quando voltados exclusivamente para a
realização de pesquisas, não atendem às necessidades específicas dos professores no tocante a
suas atividades de docência. Ou seja, a qualificação oferecida pelos cursos de pós-graduação,
como atualmente estruturados, possibilitam aos professores a titulação, porém, a maior
titulação não significa, necessariamente, melhoria na qualidade docente. É válido ressaltar que
os próprios pós-graduandos criticam o despreparo pedagógico com que iniciam seu trabalho
em sala de aula, como levantado por Macedo, Paula e Torres (1998, p.1). Ainda a respeito da
falta de preparo pedagógico dos futuros professores universitários, Kennedy (1997) introduz
uma observação bastante interessante. Segundo o autor, a vasta maioria dos doutorados
acadêmicos são produzidos em universidades, mas grande parte dos professores nelas
formados irá lecionar em instituições de ensino superior bastante diferentes daquelas onde
foram titulados. Dessa forma, “chegam ao trabalho com poucas noções sobre como realizar
a transição de aprendiz experiente para professor novato, ou mesmo sobre o que é esperado
deles como profissionais” (p. 30).
Embora Kennedy esteja se referindo à situação das instituições de ensino superior
americanas, o que ocorre no Brasil não é diferente. Aqui, também, grande parte dos
professores universitários é titulada em universidades, prioritariamente em instituições
públicas (estaduais ou federais), pelas quais não serão necessariamente contratados. Assim,
embora muitos professores sejam formados, ou titulados, em instituições universitárias, com
tradição em pesquisa, o mercado de trabalho que para eles se abre é, muitas vezes, em
instituições não-universitárias, com tradição em ensino. Tendo em vista as recentes políticas
de expansão e flexibilização do sistema de ensino superior brasileiro, essa situação de
diferenciação entre instituições voltadas predominantemente ao ensino ou à pesquisa, e
conseqüentemente a discrepância entre a formação oferecida ao pós-graduando e as tarefas a
serem exercidas em sua futura atuação como professor, torna-se mais acentuada.
O Brasil tem vivenciado um período de diversas alterações no sistema de ensino
superior, que englobam, além do crescimento destacado anteriormente, a expansão e
flexibilização do sistema, mudanças na estrutura curricular (diretrizes curriculares), alterações
nos critérios de ingresso nas IES, exigência de titulação do corpo docente, processos
sistemáticos de avaliação, tanto em âmbito institucional como nacional, entre outros
indicadores, muitos dos quais decorrentes da introdução de novas tecnologias na educação.
Esse processo, no entanto, não tem se dado de modo proporcional entre os diferentes tipos de
Hoje, portanto, é necessário ao professor saber lidar com uma diversidade cultural que
antes não existia no ensino superior, decorrente do ingresso de um público cada vez mais
heterogêneo. Um público que pode, por um lado, não estar tão bem preparado, tanto
emocional quanto intelectualmente, para o ingresso no ensino superior; um público talvez
mais jovem, mais imaturo, e, por vezes, pouco motivado e comprometido com sua
aprendizagem, tendo em vista que o ensino superior hoje não é mais garantia de um emprego
estável no futuro, mas um público que pode, por outro lado, ser muito mais exigente quanto à
qualidade do curso oferecido, tendo em vista especialmente o alto grau de competitividade do
mercado de trabalho (MILLAR, 1996, BRIDGES, 1995; SANTOS, 1997; RIBEIRO
JÚNIOR, 2002). Além disso, os professores passam a ter necessidade de aprender a lidar com
turmas cada vez mais numerosas, pois a baixa correlação do número de alunos por professor,
antes tomada como índice de qualidade de um curso, hoje passa a identificar a “ineficiência
do sistema”. É necessário destacar também que o ensino superior, por muito tempo
considerado ponto terminal da educação e voltado à formação profissional, tem agora para si
outras funções e, dependendo do ponto de vista que adotarmos, configura-se apenas como um
primeiro passo rumo a um processo de “lifelong learning” (educação permanente), fenômeno
que vem ocorrendo não apenas no Brasil.
Tais constatações nos levam a uma preocupação em relação à formação dos
professores para atuar no ensino superior e que culminam nos questionamentos propostos por
Morosini (2000, p. 11): “quem são (serão) esses novos professores? Estarão preparados
didaticamente?”.
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Até aqui, analisamos um pouco das mudanças que vêm se processando no contexto
que podemos chamar de “intrínseco” ao ensino superior. No entanto, as modificações não se
processam isoladamente do contexto social, político e econômico mais amplo no qual as IES
se acham envolvidas. As mudanças que vêm ocorrendo no mundo contemporâneo, assim
como das mudanças nos campos das diversas ciências, inclusive da educação levam, elas
também à necessidade de se repensar a formação atualmente oferecida aos futuros professores
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universitários e mesmo àqueles que já exercem suas funções. Temos hoje configurado um
processo de mudanças no contexto global no qual se inserem as instituições de ensino
superior, mudanças relacionadas, em especial, ao avanço científico-tecnológico, a alterações
na organização do trabalho (processo produtivo), à sociedade de informação, aos processos de
globalização da economia e a alterações na relação dos sujeitos com o conhecimento
(MORAES, 1997; RIBEIRO JÚNIOR, 2002). Tais mudanças acabam por afetar, direta ou
indiretamente, a organização das IES, assim como o trabalho realizado em seu interior.
Em complementação às alterações e aos questionamentos suscitados pelas mudanças
decorrentes da “nova ordem mundial” e dos avanços tecnológicos, as instituições de ensino
superior encontram-se imersas em um outro processo de mudanças, não desvinculado dos
outros dois. Como apontado por diversos autores (Santos, 1997; Kuhn, 1991; Pimentel, 1993;
Cunha, 1998; Leite et al., 1998; Pereira, 2002, entre outros), vivemos um período de transição
em que crenças absolutistas e de neutralidade da ciência, assim como de diversos
pressupostos da modernidade, que vigoraram como verdades absolutas durante muito tempo,
passam a ser questionados. As “verdades” passam a ser vistas como sínteses provisórias, o
saber é historicizado e relativizado e a divisão entre disciplinas estanques é questionada. A
confiança do homem na razão é abalada e, conseqüentemente, todo o trabalho realizado
dentro das instituições universitárias. A reestruturação na forma como se concebe o saber, a
influência dos aspectos tecnológicos e toda uma reestruturação na organização social clamam,
portanto, por mudanças na estruturação e nos objetivos do ensino superior, eminentemente
marcados pelo paradigma moderno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RESUMO: Este trabalho tem o objetivo de decifrar algumas das tendências da produção
intelectual sobre formação de professores nos últimos vinte anos no Brasil, chamando a
atenção para os “idiomas pedagógicos” que tiveram impacto entre os educadores. No
mapeamento da literatura especializada, alguns autores/textos foram tomados como
exemplares por representarem lógicas de pensamento marcantes a respeito do papel da teoria
e da prática na formação docente. Do balanço efetuado, o que se verificou foi a ruptura de um
idioma pedagógico, passando-se de uma pedagogia marcadamente conteudista sob a
hegemonia de uma razão teórica para uma perspectiva que aponta para uma epistemologia da
prática.
4
Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira e diretora
do Departamento de Educação da PUC-Rio. E-mail: isabell@edu.puc-rio.br
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postos aos sistemas públicos de ensino. Trata-se de uma tentativa de reconstruir, de certa
forma, uma trajetória intelectual nas continuidades e rupturas que apresenta. Em uma
pedagogia dos conteúdos, qual a relação do professor com o saber?
Em contrapartida à segunda metade dos anos de 1970, marcada pela crítica ao papel da
escola na reprodução da estrutura de classes, florescem trabalhos voltados para o
conhecimento dos fatores intra-escolares, como mecanismos de exclusão dos setores
populares, considerando-se a “rede de expectativas e contradições que permeiam a prática
pedagógica” (Souza, 2000, p. 43). Sob diferentes ângulos, é analisada a situação do
magistério na tentativa de encontrar explicações para as precárias condições de
funcionamento dos sistemas públicos de ensino, expressas em altas taxas de exclusão escolar,
principalmente entre segmentos das camadas populares. Em um texto que se tornou referência
no campo dos educadores, Mello (1982) parte do caráter mediador da escola1 para estudar as
representações e expectativas do professor face à escola, ao aluno e aos papéis que
desempenha. Trabalhando sobre o conceito de “representação” de Moscovici,2 bastante
utilizado na investigação educacional, a autora busca dar conta tanto da forma singular como
um corpo de idéias se processa no indivíduo, respeitando a sua contextura psicológica
autônoma, como das condições sociais reais de sua produção (Lelis e Nunes, 1999). A tese
central de Mello passa, nesse momento, pela defesa da competência técnica do professor vista
como mediação através da qual se realizaria o sentido político da educação escolar. Nestes
termos, a competência técnica envolveria tanto o domínio dos conteúdos de ensino pelo
professor como o seu entendimento a respeito das relações entre os vários aspectos da escola,
incluindo-se o peso da formação sobre o modo como percebe a organização da escola e os
resultados de sua ação.
Bem diversa da tendência tecnicista dos anos de1970,3 Mello denuncia ainda a lógica
subjacente à organização do trabalho no interior da escola que acabara por fazer com que o
professor perdesse seus instrumentos de trabalho: do conteúdo (saber) ao método (saber
fazer), restando uma técnica sem competência. Na busca por mapear as causas da
precariedade da prática docente, estaria a dificuldade do professor em se perceber como parte
do problema do ponto de vista das deficiências de sua formação (Mello, 1982). De certa
forma, essa tese provoca impacto e gera um debate intelectual, na medida em que faz emergir
uma polêmica em torno do significado de uma suposta concepção universal sobre
competência, acima dos interesses de classe. Independente das críticas recebidas,4 o texto de
Mello torna-se paradigmático e representa uma forma de pensar o trabalho docente no que ele
era mas também no que deveria ser, surgindo com força a noção de que a escola e, nela, o
professor teriam um papel chave na transmissão do saber elaborado, sistematizado, erudito
de forma a garantir à população a possibilidade de expressar de maneira elaborada os
conteúdos da cultura popular que correspondem a seus interesses (Saviani, 1985).
Trabalhando nas diferenças entre o cientista e o professor do ponto de vista da relação
com o saber, Saviani5 ajuda-nos a entender a constituição de um idioma pedagógico, onde o
professor seria transmissor do saber e não produtor: Enquanto o cientista está interessado em
fazer avançar a sua área de conhecimento, em fazer progredir a ciência, o professor está mais
interessado em fazer progredir o aluno. O professor vê o conhecimento como um meio para o
crescimento do aluno; enquanto para o cientista o conhecimento é um fim, trata-se de
descobrir novos conhecimentos na sua área de atuação. (Saviani, 1985, p.19) Nessa
perspectiva, o conhecimento viria de “fora para dentro”, tendo uma dimensão
instrumentalizadora do ponto de vista político social. Ao professor, caberia a organização dos
processos, de métodos, de modo a garantir a apropriação pelos alunos. (...) um professor de
história ou de matemática; de ciências ou estudos sociais, de comunicação e expressão ou
literatura brasileira etc., tem cada um, uma contribuição específica a dar em vista da
democratização da sociedade brasileira, do atendimento aos interesses das camadas populares,
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da transformação estrutural da sociedade. Tal contribuição se consubstancia na
instrumentalização, isto é, nas ferramentas de caráter histórico, matemático, científico,
literário, etc. que o professor seja capaz de colocar de posse de alunos. (Saviani, 1982, p. 83)
No horizonte de pensar a formação do educador, Saviani afirmava a necessidade de
que o curso de Pedagogia fornecesse uma fundamentação teórica que permitisse uma ação
coerente, o desenvolvimento de uma consciência aguda da realidade em que os futuros
professores iriam atuar e uma instrumentalização técnica que permitisse uma ação futura
eficaz (Saviani, 1980, p. 60). Como forma de garantir o cumprimento dessas finalidades, cada
disciplina do curso de Pedagogia deveria ser trabalhada de modo que os alunos chegassem a
uma teoria geral de educação “no nível atitudinal (‘o que o educador precisa viver’), no nível
crítico-contextual (‘o que o educador precisa fazer’), no nível cognitivo (‘o que o educador
precisa saber’), no nível instrumental (‘o que o educador precisa fazer’)” (Saviani, 1980, p.
61). Sua proposta conferia ao conhecimento científico e à reflexão filosófica uma centralidade
enquanto instrumentos-chave, capazes de transformar positivamente os atributos negativos do
senso comum6 em elementos característicos de uma consciência crítica (Bonamino, 1989).
Em uma filosofia da educação que se afirmava radical, rigorosa e de conjunto, Saviani
encontrava o fermento para uma educação revolucionária.
Analisando o pensamento político pedagógico de Saviani, Bonamino chama a atenção
para o caráter problemático do papel emancipador conferido ao saber elaborado, dada a
natureza iluminista que poderia estar contida nessa formulação: a escola não educa a
consciência social apenas através dos conteúdos críticos devidamente seqüenciados e dosados
que transmite. A consciência da criança não se desenvolve tão somente através de conceitos
que ela assimila em seu contato com os detentores da cultura elaborada, mas as condições
para o desenvolvimento desta consciência crítica são criadas pela participação da criança na
experiência social coletiva, a qual se compõe, em parte, das experiências práticas que a escola
propicia através de sua organização interna e do sentido que assumem suas relações internas.
(Bonamino, 1989, p. 205-206)
Em que pese o investimento intelectual por pensar uma pedagogia crítico-social dos
conteúdos7 e, nela, o papel do educador,8 o que deve ser registrada é a influência desta tese
sobre o campo dos educadores, provocando “discursos sobre teoria”, expressões de um
“abstracionismo pedagógico”, “na obsessiva preocupação em descrever a escola e explicar os
problemas educacionais a partir de hipotéticas relações do processo educativo com outros
processos socioeconômicos” (Azanha, 1992, p. 46), em um claro superdimensionamento da
teoria em detrimento da empiria. Do ponto de vista da prática de pesquisa, os anos de 1980
ficaram a nos dever, em termos do conhecimento sobre as práticas pedagógicas efetivas que
estavam acontecendo na sala de aula. Fiorentini et al. (1998) reforçam essa crítica ao
afirmarem que as pesquisas sobre ensino e formação de professores passaram a priorizar o
estudo de aspectos políticos e pedagógicos amplos. Os saberes escolares, os saberes docentes
tácitos e implícitos e as crenças epistemológicas, como destaca Linhares (1996), seriam muito
pouco valorizados e raramente problematizados ou investigados tanto pela pesquisa
acadêmica educacional como pelos programas de formação de professores. (Fiorentini et al.,
1998, p. 314)
Na busca por efetuar um balanço da pedagogia crítico-social dos conteúdos, Libâneo
(1999), quinze anos depois, procura atualizar o “conteudismo”, chamando a atenção para as
interpretações equivocadas que esvaziavam a abordagem, na identificação mecânica entre
“conteúdo” e “matéria”: conteúdos são os conhecimentos sistematizados, selecionados das
bases das ciências e dos modos de ação acumulados pela experiência social da humanidade e
organizados para serem ensinados na escola; são habilidades e hábitos, vinculados aos
conhecimentos, incluindo métodos e procedimentos de aprendizagem e de estudo; são atitudes
Notas
1. A autora utiliza a categoria da mediação para se referir a “processos de fatos existentes na
realidade objetiva, que são ações recíprocas, a trama das relações que ocorrem entre partes,
forças, fenômenos de uma totalidade” (p. 24).
2. Para Mello (1982), Moscovici deixa claro que as representações não constituem apenas o
reflexo, invertido ou não da realidade de um objeto social, sendo diferentes das imagens, tal
como estas últimas são entendidas em psicologia social. O que dá especificidade às
representações “é que em cada ator singular elas se constituem pela mediação de sua
subjetividade, a qual configura um modo próprio de se apropriar, reelaborar e praticar idéias”
(p. 40).
3. Para Lelis, no tecnicismo, a preocupação estava voltada para a mera instrumentalização
técnica, estando a formação de professores orientada pelo domínio de comportamentos e
habilidades observáveis e mensuráveis ( p. 44).
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4. A polêmica instalada expressou-se em dois textos publicados em Educação & Sociedade,
números 14 e 15, provocados pela tese de Mello (1982): um primeiro, de Nosella (1983),
problematizando a competência técnica como momento prévio do compromisso político, e um
segundo, de Saviani (1983), comentando o texto de Mello (1981) e respondendo a Nosella na
perspectiva de mediar um conflito em torno à função política da escola e sua mediação pela
via da competência técnica.
5. Para Gadotti, a pedagogia dos conteúdos foi desenvolvida no Brasil por Dermeval Saviani,
Guiomar Namo de Mello, José Carlos Libâneo e Carlos Roberto Cury, apoiados por autores
como Georges Snyders, Makarenko, Bernard Charlot, Bogdan Suchodolski e Mario
Manacorda; situa-se como uma das vertentes da pedagogia progressista (p. 92).
6. Para Saviani (1980), “passar do senso comum à consciência filosófica significa passar de
uma concepção fragmentária, incoerente, desarticulada, implícita, degradada, mecânica,
passiva, simplista a uma concepção unitária, coerente, articulada, explícita, original,
intencional, ativa e cultivada” (p. 5).
7. A Pedagogia Crítico Social dos Conteúdos é um movimento que nasce da reunião de
intelectuais em torno da Ande. Para Libâneo, um dos seus principais ideólogos, o nome PSCS
tem sua inspiração na leitura de A mistificação pedagógica, de Bernard Charlot, obra com
forte penetração entre os educadores.
8. O tema da formação do educador mobilizou o campo intelectual, expressando-se sobre a
forma de publicações, encontros, seminários do norte ao sul do país, desde o início dos anos
de 1980. Representava a oposição tanto ao especialista em conteúdo como ao técnico em
educação (Pereira, 2000).
9. Entrevista de Libâneo, concedida por e-mail a alunos do programa de Pós-Graduação em
Educação Brasileira, em maio de 1999.
10. A pesquisa Novos Rumos da Licenciatura foi desenvolvida no período de 1985-1987 e
contou com equipe constituída pelas professoras do Departamento de Educação da PUC-Rio
Vera Maria Ferrão Candau (coord.), Menga Lüdke, Ana Waleska P. C. de Mendonça, Rosina
Wagner e Yara Wall e alunos da pós-graduação.
11. Antonio Nóvoa foi um dos propulsores da tendência ao uso de histórias de vida na
pesquisa sobre formação de professores, especialmente a partir da chegada, em 1992, da obra
Vidas de professores, por ele coordenada.
12. Este artigo foi traduzido por Léa Paixão e publicado em 1991 na revista Teoria e
Educação nº 4. Deve ser considerado um trabalho inaugural no campo do saber docente no
Brasil, expressão de um programa de pesquisa que reúne pesquisadores de várias
universidades canadenses, como Maurice Tardif, Clermont Gauthier, Claude Lessard,
Danielle Raymond, entre outros.
13. Nosso primeiro contato com o pensamento de Philippe Perrenoud deu-se através do livro
Práticas pedagógicas, profissão docente e formação: Perspectivas sociológicas, publicado
pela Dom Quixote, em 1993.
ABSTRACT: This work has the objective of to decipher a few tendencies of the intellectual
production about teacher’s education in the last years in Brazil, bringing the attention to the
“pedagogic idioms” which caused impact among educators. In “mapping” specialized
literature, a few authors/texts were taken as examples for they represented the logic of
thought, markly about the significance of the theory and practice in the teacher’s education.
From the balance made, what was noticed, was a rupture from a pedagogy markly with
contains to an epistemology of practice.
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Referências bibliográficas
ALMEIDA, A. e PEROSA, G.S. Exclusão escolar e formação do magistério: Notas de pesquisa sobre
uma relação não necessária. In: Anais da XXII Reunião anual da Anped, Caxambu, out. 1999, p. 1-14
(CD-Rom).
AZANHA, J.M.P. Uma idéia de pesquisa educacional. São Paulo: Edusp, 1992.
BONAMINO, A.M.C. O Pensamento pedagógico-político de Dermeval Saviani. Até que ponto
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