Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Reprodução/ Facebook
Meninas usam vestidinhos de princesas, meninos usam camisetas de super heróis. Enquanto
os garotos brincam com carros, brinquedos de montar e praticam atividades que lhes estimulam o
contato com o mundo exterior, as meninas recebem jogos de panelas, pias, utensílios domésticos de
brinquedo e aprendem a brincar com bonecas, fingindo que são mães. As garotas ganham Barbies de
cabelos loiros, com corpos irrealmente magros, e escutam que precisam ser bonitas e agir como
donzelas.
Isso é o que chamo de doutrinação de gênero. Nossa cultura tem uma forte ideologia de gênero
sendo disseminada pela sociedade, nas escolas, nos ambientes de lazer e nas famílias brasileiras,
sejam ela tradicionais ou não. E a pior parte disso é que essas ideias sobre o que é “ser menino” ou
“ser menina” estão contaminadas por hierarquizações; ou seja, as crianças acabam aprendendo que
meninos podem fazer mais coisas e que as meninas devem agir de maneira submissa e contida. Na
prática, o machismo é perpetuado: os homens aprendem a ser predadores e as mulheres enfrentam
altos índices de violência machista – aquela que acontece contra as mulheres por motivações
misóginas, como a ideia de que devem obedecer seus parceiros ou que não podem rejeitar um avanço
sexual.
Se você ainda não entende a relevância desse tema, veja cinco motivos pelos quais as questões
de gênero precisam ser discutidas ainda na escola:
– Divisão desigual de tarefas domésticas
2
Imagem: Reprodução / Agência Énois
Segundo as informações colhidas pela Agência ÉNois, 77% das garotas acham que o
machismo afeta seu desenvolvimento. Isso acontece porque as meninas crescem ouvindo que não
podem realizar certas atividades, que determinadas profissões são “masculinas” ou que elas devem
adotar um tipo de comportamento que as limita. Ditar barreiras que as meninas não podem transpor
só pelo fato de seres meninas é algo que prejudica muito o seu desenvolvimento – isso mina sua
autoconfiança, destrói sua autoestima e as ensina que não são capazes, somente por serem do gênero
feminino.
– Trabalhar a igualdade na escola pode ser muito simples
Esqueça os longos textos cheios de termos acadêmicos e as discussões complexas sobre o que
é gênero e o que é sexualidade – eles podem ter um papel importante na Universidade e em outros
ambientes educativos, mas, com crianças, as questões de gênero são muito mais simples.
Estimular que as crianças se divirtam juntas, sem fazer distinção entre elas, sem impor que
brinquem com brinquedos e atividades separadas pelo gênero – ou ainda permitir que adolescentes
transgênero tenham um ambiente seguro onde sejam respeitados – são coisas desenvolvidas na
prática, de maneira tão fluida quanto são naturalizadas as ideias machistas.
Professores capacitados se tornam aptos a discutir sobre questões de gênero de maneira
acessível, utilizando exemplos, atividades lúdicas e conversas sinceras. Até mesmo um desenho
animado pode repassar mensagens positivas sobre equidade entre meninos e meninas. As crianças
são capazes de aprender muito rapidamente – para assimilarem e reproduzirem valores de respeito
umas pelas outras, somente uma educação livre de machismo será capaz de favorecer.
Eduque-se também
3
A menos que você pense que homens são superiores às mulheres e que as coisas devem ser
mantidas como estão – ou ainda que devem voltar a um modelo mais parecido com o do passado,
onde mulheres eram ainda mais submissas e mais dependentes dos homens -, defender que questões
de gênero sejam discutidas nas escolas é uma excelente opção. Talvez essa seja a melhor forma de
promover a equidade e combater os altos números de estupros, feminicídios e violência doméstica,
além de desestimular a desigualdade salarial e outras tantas mazelas que se baseiam no machismo.
Muitos julgam ter a cabeça já bem “moderninha” e pensam que os tempos são outros. Porém,
por mais que tenhamos avançado bastante na conquista dos direitos das mulheres, no dia-a-dia a
cultura machista ainda é dominante. Embora leis sejam importantes, elas não solucionam
definitivamente o problema da violência contra a mulher, porque somente um esforço educativo pode
disseminar valores de igualdade e respeito. Por isso, discutir gênero nas escolas é importante e
urgente: afinal, o papel do ambiente escolar não é somente preparar os alunos para provas e
vestibulares, mas também promover a cidadania e a responsabilidade social para professores,
coordenadores, funcionários, alunos e suas famílias.
Aproveite que o assunto tratado é educação e eduque-se com responsabilidade.
Link: http://www.revistaforum.com.br/questaodegenero/2015/06/19/5-motivos-para-discutir-questoes-de-genero-na-
escola/