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1 GUGEL, Maria Aparecida. A pessoa com deficiência e sua relação com a história da humanidade
Disponível em: http://www.ampid.org.br/ampid/Artigos/PD_Historia.php. Acesso em: 28/08/2018.
O povo grego sempre foi marcado pela cultura ao corpo, para eles a condição
física era primordial. Os espartanos, guerreiros na essência, preparavam suas
crianças a fim de se tornar grandes guerreiros, portanto qualquer anomalia que fosse
detectada iria contra a estrutura do povo. Neste contexto, afirma Gugel (2018),2 que
“Pelos costumes espartanos, os nascidos com deficiência eram eliminados, só os
fortes sobreviviam para servir ao exército de Leônidas”.
Para os Romanos a situação não era muito diferente das Gregas, já que a lei
permitia o extermínio de bebês que nasciam antes de completados sete meses de
gestação, e também aqueles que nasciam disformes, pois não eram reconhecidos
como sujeitos de direitos. SILVA (1987).
A lei das XII tabuas, mais precisamente na Tábua IV, na Lei III, autorizava o pai
matar o filho que nascesse com alguma anomalia, o que acontecia por intermédio de
afogamento3. Mais tarde foi determinado que, antes da eliminação, era necessário a
apresentação de tais crianças a membros da população para constatar que se tratava,
realmente, de uma “aberração”. SILVA (2017).
Com o surgimento do cristianismo, ainda que de forma tímida, as perspectivas
com relação às pessoas com deficiência começaram a mudar. Pautados no amor ao
próximo e na caridade, reconheciam que qualquer pessoa era criatura formada por
Deus, adotando aqueles que, de alguma forma, sofriam pela condição anômala a que
viviam, e que na maioria das vezes eram abandonados à própria sorte. LARAIA
(2009).
Por volta do século V, sobre influência da igreja, foram criadas casas de abrigo
para viajantes, mais conhecidas como "xenodochium"4, porém eram habitadas, na
sua maioria, por pessoas que possuíam algum tipo de deficiência ou por idosos. SILVA
(1987).
Com a expansão do assistencialismo, durante a Idade Média, foram criadas
várias casas de assistências voltadas para o acolhimento dessas pessoas. Mantidas
pela igreja e pelos senhores feudais, tais casas ficavam sob os cuidados da igreja,
2 IDEM
3O "Táboa IV - Sobre o Direito do Pai e Direito do Casamento Lei III - O pai imediatamente matará o
filho monstruoso e contrário à forma do gênero humano, que lhe tenha nascido há pouco".[...]”. (SILVA,
1987, p. 87)
4 O autor do Livro Epopeia Ignorada, caracteriza o termo xenodóchium como “um grande e bem
organizado abrigo para peregrinos e estrangeiros doentes ou com problemas, que recebia também
doentes e miseráveis da própria localidade e seus arredores [...]”. (SILVA, 1987, p. 164)
porém, em sua maioria, servia de isolamento das pessoas que lá estavam, excluindo-
as do convívio das demais, numa espécie de “limpeza” social. RESQUE (2014).
Somente após a revolução Francesa, entre os séculos XVI e XVIII, é que
começou a observar as pessoas com deficiências sob o ponto de vista patológico,
passíveis de tratamento. Além disso, houve muitos avanços, principalmente no âmbito
educacional para pessoas cegas e surdas. Neste tempo houve a criação do código
Braile para pessoas cegas, por Louis Braille, e ainda, o desenvolvimento de ajuda tais
como, cadeiras de rodas, bengalas e muletas. GUGEL (2009)
Conforme pode aduzir, ocorreram diversas mudanças no que tange as pessoas
com deficiência, porém, essa evolução se deu de maneira sutil, voltada somente para
o amparo e acolhimento, ficando ainda muitos resquícios de uma cultura carregada
por preconceitos e dogmas. O olhar sob o viés dos direitos humanos só aconteceu
mais tarde após a criação de normas voltadas ao assunto, modificando a concepção
do que é pessoa com deficiência.
(...) Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo
prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em
interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.
7 UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS: Comissão dos Direitos das pessoas com Deficiência.
Disponível em: https://www.ohchr.org/EN/HRBodies/CRPD/Pages/CRPDIndex.aspx. Acesso em: 02
set. 2018.
Hoje a convenção conta com 177 países signatários e 99 que aderiram, além
da convenção, o protocolo8. Dentre esses países está o Brasil, que no ano de 2008,
mais precisamente em 10 de julho, por meio do decreto legislativo n. 186, e
promulgada em 25 de agosto de 2009 no Decreto nº 6.949, adota o disposto pela
Convenção dos Direitos da pessoa com deficiência, bem como seu protocolo,
demonstrando grande avanço na conceituação, atitudes e comportamentos no que
tange às pessoas com deficiência também no âmbito interno. GUGEL (2016).
A convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, não foi só ratificada
pelo Brasil juntamente com o protocolo adicional, mas acima disso, foi e até então o
único9 tratado a ser admitido como parte da Constituição Federal. Isso porque
obedeceu o rito descrito no parágrafo 3º incluído no art. 5º da Constituição Federal/88
pela emenda 45. Portanto a CDPD, não faz parte somente do plano do Direito
internacional, pois obedece a norma de direito interno, uma vez que foi por ela
recepcionada. SANTOS (2014).
O Comitê Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que realiza reuniões
periódicas, considerou o relatório inicial enviado pelo Brasil (CRPD / C / BRA / 1) em
sua 216ª e 217ª reunião, e expediu as recomendações a respeito na sua 226ª reunião
realizada em 1ª de setembro de 2015. CRPD/C/BRA/CO/1(2015)10
Em suas recomendações a comissão destaca como pontos positivos, a adoção
da CDPD dando a ela status de norma constitucional, e ainda reconhece o esforço do
pais pela criação de comissões a fim de alcançar os diferentes eixos descritos na
carta, bem como medidas para melhorar a acessibilidade das pessoas com
deficiência. CRPD/C/BRA/CO/1(2015)
Contudo, relata em torno de 27 pontos preocupantes, dentre eles ressaltou a
preocupação quanto a adoção de normas e programas que assegurem as diversas
necessidades desse grupo de pessoas, e ainda a melhoria nas políticas de educação
saúde e recreação garantindo efetividade na promoção dos direitos. Desta ainda, em
8 UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS: Convention on the Rights of Persons with Disabilities.
Disponível em https://www.ohchr.org/Documents/HRBodies/CRPD/OHCHR_Map_CRPD.pdf. Acesso
em: 02 set. 2018.
9 Dado atualizados retirados no site: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-
legis/internacional/tratados-equivalentes-a-emendas-constitucionais-1- Acesso em 15 set. 2018.
10UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS: Comité sobre los Derechos de las Personas con Discapacidad
observaciones finales sobre el informe inicial del Brasil* Disponível em https://documents-dds-
ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G15/220/78/PDF/G1522078.pdf?OpenElement. Acesso em: 16 set. 2018.
relação ao Estatuto das Pessoas com Deficiências, na época, em vias de ser
aprovado, recomendando a adoção de medidas que atendesse diretamente a
finalidade já proposta pela CDPD antes mesmo de sua aprovação. ONU/BR (2018) 11.
11ONUBR.Comitê da ONU sobre direitos das pessoas com deficiência divulga observações sobre o
Brasil. Disponível em: https://nacoesunidas.org/comite-da-onu-sobre-os-direitos-das-pessoas-com-
deficiencia-divulga-observacoes-finais-sobre-brasil/. Acesso em: 16 de set.2018
12ARAUJO, L.; FILHO, W., O Estatuto da Pessoa com Deficiência - EPCD (Lei 13.146, de 06.07.2015):
algumas novidades. RT online. Disponível em file:///C:/Users/a/Desktop/tcc/13146/EPCD(2).pdf.
Acesso em:02 de set. 2018.
Com a entrada em vigor da Lei 13.1468/2015, o ordenamento jurídico brasileiro
sofreu profundas alterações, objetivando a promoção da autonomia e a igualdade a
essas pessoas, dentre elas estão o acesso igualitário a saúde, a sexualidade, a
constituição de família, ao tratamento inclusivo educacional. Ocorre que ao
estabelecer essas novas diretrizes, na busca de proteção, contrariamente o que pode
acontecer é a desproteção acentuando a vulnerabilidade daqueles que não possuem
o discernimento para muitos atos do cotidiano. D’ALBUQUERQUE (2018)
Assim, sabendo que a criação da Lei Brasileira da inclusão modificou várias
normas do Direito brasileiro com a finalidade de proteção, vamos perceber que a maior
delas foi no âmbito do direito Civil, modificando de forma contundente o instituto da
capacidade civil.