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AULA 4 - PARTE 1

SAPATAS - DIMENSIONAMENTO

1. INTRODUÇÃO

Como visto em aula anterior, sapatas são elementos de fundação superficial de


concreto armado, com altura reduzida em relação as dimensões da base e, por essa
razão, trabalham a flexão. Quanto à forma, as sapatas são usualmente de base
quadrada, retangular ou trapezoidal.

Nesta aula, discute-se como determinar as dimensões a e b em planta dos vários tipos
de sapatas de fundação. Para isso, considera-se que sejam conhecidas a tensão
admissível ou taxa de trabalho do solo σadm, as cargas P da estrutura, as dimensões a’
e b’ e a locação dos pilares.

As alturas h1 e h2 decorrem do dimensionamento estrutural da sapata.

2. VERIFICAÇÃO DO EDIFÍCIO COMO UM TODO

As seguintes verificações iniciais são recomendáveis no projeto de fundações


superficiais de um edifício, antes de se fazer o dimensionamento propriamente dito.

2.1 Verificação da ordem de grandeza do carregamento

Esta verificação é feita calculando-se a tensão média p na área projetada Ap do


edifício (ou área do radier hipotético). Dividindo-se a tensão p pelo número n de
andares deve resultar, em edifícios normais de concreto armado residencial ou de
escritórios, uma tensão de aproximadamente 12 kN/m2.
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Seja:

∑ Pi
p=
Ap

tem-se:

p
≅ 12 kN / m 2
n

Se o valor obtido for muito diferente de 12 kN/m2, deve-se consultar o calculista da


estrutura para verificar se há alguma condição especial de carregamento no edifício.

2.2 Verificação da viabilidade do emprego de fundação direta

Para que o projeto de fundações em sapatas seja econômico, a relação entre a área
total das sapatas As e a área projetada Ap não deve ser superior a 65-70%.

Tem-se:

∑ Pi = A sσadm = A p p
Então:

As p
= ≤ 0,65 a 0,70
A p σadm

Portanto a condição acima estará satisfeita se:

σ adm ≥ 1,5p

Exemplo

Pretende-se construir um edifício com 25 andares com Ap = 250 m2 com fundação


em sapatas em solo com σadm = 320 kN/m2. Essa tensão admissível é adequada?

p ≅ 12 n = 12x25 = 300 kN/m2

σadm ≥ 1,5 x 300 = 450 kN/m2

Portanto a tensão admissível de 320 kN/m2 não é adequada.


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2.3. Verificação da tendência de adernamento do edifício

Esta verificação consiste em se determinar se o centro de cargas do edifício coincide


aproximadamente com o centro de gravidade da área projetada em planta. Caso isso
não ocorra, podem ocorrer recalques não uniformes que resultem numa tendência ao
adernamento (inclinação) do edifício. Assume gravidade essa condição
principalmente no caso de edifícios altos e estreitos com relação (altura / lado menor
da base) superior a 4 ou 5.

As coordenadas do centro de carga do edifício são dadas por:

∑ Pi X i
X CC =
∑ Pi
∑ Pi Yi
YCC =
∑ Pi
Y

CG
CC

3. DIMENSIONAMENTO DE SAPATAS PARA PILARES ISOLADOS

3.1 Dimensionamento

A solução óbvia é a de sapata isolada. A área A de uma sapata isolada quadrada ou


retangular, com dimensões a e b, para um pilar com carga P, é calculada por:

P
A = a. b =
σadm

Note-se que na expressão acima foi desprezado o peso próprio da sapata, que, em
geral, é pouco significativo (5 a 10% de P).

Conhecida a área A, a escolha do par de valores a e b deve ser feita obedecendo as


seguintes prescrições:
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a) o centro de gravidade da sapata deve coincidir com o centro de carga do pilar;
b) devido a problemas de ruptura do solo, a serem discutidos posteriormente neste
curso, a sapata não deve ter nenhuma dimensão menor do que 80 cm (no caso de
sapata corrida, a menor dimensão será de no mínimo 60 cm);
c) sempre que possível, a relação entre os lados a e b deve ser no máximo igual a 2,5;
d) as dimensões finais devem ser fornecidas em múltiplos de 5 cm;
e) sempre que possível, os valores a e b devem ser escolhidos de modo que os
balanços da sapata (abas) em relação às faces do pilar sejam iguais nas duas direções.
Isso resulta em um dimensionamento econômico, pois acarreta momentos fletores
aproximadamente iguais nas duas abas, em relação à mesa da sapata.

x
x x
b' b
x

a'
Da prescrição e tem-se:

2x + a’ = a → a - a’ = 2x
2x + b’ = b → b - b’= 2x

donde resulta:

a - b = a’- b’

3.2 Exemplos

Exemplo 1

Dimensionar uma sapata para um pilar quadrado de 30 cm x 30 cm e carga de 1500


kN, sendo a taxa de trabalho do solo igual a 300 kN/m2.

Resolução

P 1500
A= = = 5 m2
σadm 300

a - b = a’- b’= 0,30 - 0,30 = 0 → a = b (sapata quadrada)

a2 = 5 → a = 2,24 m
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Arredondando, tem-se a = b = 2,25 m

Exemplo 2

Dimensionar uma sapata para um pilar de seção retangular de 100 cm x 30 cm com


carga de 3000 kN para uma tensão admissível de 300 kN/m2.

Resolução

A = a.b = 3000 / 300 = 10 m2

a - b = a’- b’= 1,00 - 0,30 = 0,70 m

(0,7 + b).b = 10

b2 + 0,7b - 10 = 0

Resolvendo a equação, tem-se:

b = (0,7±6,36)/2 → b =2,83m

a = 2,83+ 0,70 = 3,53 m

Arredondando os valores de a e b:

b = 2,85 m
a = 3,55 m
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Exemplo 3

Projetar uma sapata para o pilar indicado abaixo, com carga de 3000 kN e taxa de
trabalho no solo de 300 kN/m2.

Resolução

Este é o caso de um pilar de seção transversal em forma de L. O mesmo tipo de


solução abaixo apresentado é utilizado para pilares em forma de U, Z, etc.

Este caso recai no do exemplo anterior ao se substituir o pilar real por outro fictício
de forma retangular circunscrito ao mesmo e que tenha o seu centro de gravidade
coincidente com o centro de carga do pilar real.

Cálculo do centro de carga (C.C.) do pilar, que neste caso, coincide com o centro de
gravidade (C.G.):

∑Ai Xi ∑ A i Yi
X CG = YCG =
∑ Ai ∑Ai
Tomando os eixos coordenados nas faces externas do pilar, tem-se:

35x145x17,5 + 65x 25x67,5 198500


X CG = = ≅ 30 cm
35x145 + 25x 65 6700

35x145x72 ,5 + 65x 25x12 ,5 388250


YCG = = ≅ 58 cm
35x145 + 25x65 6700

O retângulo circunscrito ao pilar e que possui o mesmo CG terá os lados:

a’= 2(145-58) = 2x87 = 174 cm


b’= 2(100-30) = 2x70 = 140 cm
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3000
A = a. b = = 10,0 m2
300

a - b = a’ - b’= 1,74 -1,40 = 0,34 m

(b + 0,34).b = 10

b2 + 0,34b - 10 = 0

Resolvendo a equação tem-se:

b =(0,34±6,33)/2 → b = 3,00 m

a =3,00 + 0,34 = 3,34 m

Arredondando, tem-se:

b = 3,00 m
a = 3,35 m

Exemplo 4

Projetar uma sapata para os pilares justapostos abaixo, para taxa de trabalho do solo
de 300 kN/m2.

PA = 400 kN
PB = 600 kN
PC = 800 kN
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Resolução

Neste caso, o centro de carga não coincide com o centro de gravidade. As


expressões para o cálculo do centro de carga são:

∑ Pi X i ∑ Pi Yi
X CC = YCC =
∑ Pi ∑ Pi
e então:

400x 20 + 600x 7,5 + 800x 20


X CC = = 15,8 ≅ 16 cm
400 + 600 + 800

400x 7 ,5 + 600x 35 + 800x62,5


YCC = = 411
, ≅ 41 cm
1800

O retângulo circunscrito ao pilar dado e que tem o mesmo CC terá os lados:

a’ = 2x41 = 82 cm
b’ = 2x(40-16) = 48 cm

400 + 600 + 800


A= = 6,0 m2
300

a - b = a’- b’= 0,82 - 0,48 = 0,34 m

a = b + 0,34

(b+0,34)xb = 6

b2 + 0,34b - 6 = 0

Resolvendo, tem-se b = 2,29 m

a = 2,29 + 0,34 = 2,63 m

Arredondando as dimensões:

a= 2,65 m
b= 2,30 m
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4. DIMENSIONAMENTO DE SAPATAS PARA PILARES PRÓXIMOS

4.1 Dimensionamento

Quando a proximidade de pilares adjacentes inviabiliza a adoção de sapatas isoladas,


devido à superposição das áreas, deve-se projetar uma única sapata, chamada de
sapata associada, sendo necessária a introdução de uma viga de interligação dos
pilares (viga de rigidez) para que a sapata trabalhe sob tensão constante.

A área de uma sapata associada é dada por:

∑ Pi
A=
σadm

Conhecida a área A, a escolha do par de valores a e b deve ser feita obedecendo as


seguintes prescrições:

a) O centro de gravidade das sapata deve coincidir com o centro de carga dos pilares,
sendo suas coordenadas dadas por:

∑ Pi X i ∑ Pi Yi
X CC = e YCC =
∑ Pi ∑ Pi
b) As dimensões econômicas da sapata associada dependem não só dos balanços,
mas também da viga de rigidez, e é difícil prescrever regras. No caso específico de
sapatas com 2 pilares de cargas iguais, tem-se uma condição econômica quando os
momentos positivos e negativos na viga de rigidez são iguais. Para tanto, deve-se
tomar a distância entre os eixos dos pilares iguais a 3a/5.

c) No caso de sapata associando 2 pilares, um dos lados deve ser paralelo ao eixo da
viga de rigidez, enquanto o outro lado sempre que possível deve ser perpendicular,
evitando-se a torção na viga.

4.2 Exemplos

Projetar sapatas para os pilares P1


e P2, sendo a taxa de trabalho do
solo de 300 kN/m2, para os
seguintes casos:
a) P1 = P2 = 1600 kN;
b) P1 = 1500 kN e P2 = 1700 kN.
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Resolução - Caso a

Inicialmente é necessário verificar a possibilidade de projetar sapatas isoladas.

A = 1600/300 = 5,33 m2

a - b = a’ - b’ = 1 - 0,20 = 0,80 m

(0,80+b).b = 5,33

b2 + 0,80b - 5,33 = 0

→ b =1,94 m

a = 0,80 + 1,94 m = 2,74 m

Arredondando:
a = 2,75 m e b = 1,95 m

Observa-se pela figura que ocorre superposição de áreas. Mesmo que não fosse
considerada a prescrição a - b = a’- b’, não seria possível projetar sapatas isoladas. É
necessário que se projete uma sapata associada.

Como P1= P2, o centro de carga estará equisdistante de P1 e P2.

A= 2x1600/300 = 10,67 m2

Neste caso, consegue-se uma


sapata com viga de rigidez
econômica fazendo-se com
que a distância entre os eixos
dos pilares seja igual a 3a/5.
Tem-se:

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a = 1,80 2 + 1,00 2 = 2 ,06 m
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∴ a = 3,43 m

b = 10,67 / 3,43 = 3,11 m

Arredondando:

a = 3,45 m
b = 3,15 m
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Resolução - Caso b

1700 + 1500
A= = 10,67 m2
300

É necessário calcular o CC dos pilares:

1700 x0 + 1500 x180


X CC = = 84,4 cm
1700 + 1500

Deve-se observar que não é necessário calcular YCC, uma vez que o C.C. deve estar
na reta que une os centros dos pilares.

Neste caso, a obtenção da sapata mais econômica torna-se difícil. Adota-se então
para a/2 a distância do centro de carga à face externa do pilar mais afastado, medida
sobre o eixo da viga de rigidez, acrescida de um valor arbitrário a critério do
projetista.

No presente exercício, adotar-se-á a/2 = 2,0 m→ a = 4,0 m

b= 10,67 /4 = 2,67 m

Arredondando:

a = 4,0 m
b = 2,7 m.

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