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1.6.7.3 Exemplo 3 Sapata Isolada sob Força Normal e um Momento Fletor

Para um pilar de 20 x 100 cm submetido a uma força de compressão (Nk) de 1.600 kN e um momento fletor
(Mk) de 10.000 kN.cm, atuando em torno do eixo paralelo ao menor lado do pilar (Figura 1.82), dimensionar a fundação
em sapata isolada, sendo conhecidos: concreto C25, aço CA-50 (fyd = 43,48 kN/cm2), adm = 0,030 kN/cm² (0,30 MPa),
armadura longitudinal do pilar composta por barras de ,pil = 20 mm.

Mk

Nk

100
ap

A
Figura 1.82 Notação das dimensões e ações aplicadas na sapata.

Resolução

1) Cálculo das dimensões (em planta) da sapata (sem considerar o efeito do momento fletor)

Área de apoio da sapata, considerando Kmaj = 1,05 como estimativa do peso próprio da sapata e do solo sobre a
sapata (Eq. 1.7):

cm2

Dimensão B da sapata em planta (Eq. 1.9), com balanços (c) iguais nas duas direções (Figura 1.83):

= cm

que já é um valor múltiplo de 5 cm, de modo que B = 200 cm. Para balanços iguais (cA = cB) tem-se (Eq. 1.5):

A ap = B bp A=B bp + ap = 200 20 + 100 = 280 cm

e a área da base da sapata passa a ser: Ssap = A . B = 280 . 200 = 56.000 cm2, que corresponde à área mínima para
atender a tensão admissível do solo.

ap
100

A
280
Figura 1.83 Dimensões da sapata (cm).
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2) Verificação das tensões na base da sapata

O cálculo da tensão no solo será feito considerando a estimativa do peso próprio da sapata e do solo sobre a
sapata, pelo fator Kmaj de 1,05. Tensões na base da sapata (Figura 1.85):

, ;

cm ; cm

cm a força N está aplicada dentro do núcleo central de inércia (ver Figura 1.73)

A tensão máxima é (Eq. 1.39):

1,05 1600 6 5,95


máx 1 0,0338 kN/cm2 > adm = 0,030 kN/cm2 não ok!
280 200 280

Neste caso deve-se aumentar a seção da base da sapata. Fazendo o lado A = 300 cm e com a Eq. 1.5 tem-se o
lado B e a nova área da base da sapata:

B = A ap + bp = 300 100 + 20 = 220 cm

Ssap = A . B = 300 . 220 = 66.000 cm2

A excentricidade (e) não se altera, de modo que com as novas dimensões a tensão máxima é:

kN/cm2 < adm = 0,030 kN/cm2 ok! a tensão admissível do solo

não foi ultrapassada.


3) Altura da sapata

Fazendo como sapata rígida, conforme o critério da NBR 6118 (Eq. 1.1):

A ap 300 100
h 66,7 cm , e fazendo cA = cB , não é necessário verificar na direção do lado B.
3 3

É importante definir a altura da sapata também em função do comprimento de ancoragem da armadura


longitudinal do pilar ( 20 mm). Considerando situação de boa aderência, com gancho, C25, CA-50 (nervurado) tem-se
o comprimento de ancoragem b = 53 cm na Tabela A-7. Adotando h = 80 cm a altura útil é:

d=h 5 cm = 80 5 = 75 cm > b = 53 cm ok!

A altura da face vertical nas extremidades da sapata é (Eq. 1.3):

adotado ho = 30 cm

O balanço c da sapata, com balanços iguais (ver Figura 1.84), é (Eq. 1.26):

A ap 300 100
cA cB c 100 cm
2 2

O ângulo da superfície inclinada da sapata é:

h ho 80 30
tg = 26,6°
c 100
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cA ap cA
100 100 100

A
300

Figura 1.84 Dimensões e balanços da sapata (cm).

4) Cálculo dos momentos fletores segundo o CEB-70

Verificação se o processo do CEB-70 pode ser aplicado:

40 c = 100 160 cm ok!

Para cálculo dos esforços solicitantes atuantes na sapata (V e M), não é necessário considerar o peso próprio da
sapata e do solo sobre a sapata, pois não influenciam nesses esforços solicitantes, de modo que o cálculo será refeito
desconsiderando o fator Kmaj = f =
1,4:
cm

A tensão máxima teórica 22 é (Eq. 1.39):

kN/cm2

kN/cm2 > 0 (como esperado, porque a força N aplicada está dentro

do núcleo central de inércia, Figura 1.85)

Conforme o CEB-70, o momento fletor M1A,d deve ser calculado na seção de referência S1A (Figura 1.86). O
cálculo deve compreender o diagrama de reações no solo compreendido entre a seção de referência e a extremidade da
sapata, onde ocorre a tensão máxima (0,03818 kN/cm2).
A distância entre a extremidade da sapata e a seção de referência S1A é:

xA = cA + 0,15ap = 100 + 0,15 . 100 = 115 cm

A tensão no solo na posição da seção de referência S1A é:

0,03818 0,02970
p1, A 0,03818 115 0,03493 kN/cm2 (ver Figura 1.86 e Figura 1.87)
300

As forças resultantes das tensões no solo, para o diagrama de tensões mostrado na Figura 1.86, são:

P1 = 0,03493 . 115 = 4,02 kN

P2 = (0,03818 0,03493) . 115/2 = 0,19 kN

M1A,d = (4,02 . 57,5 + 0,19 . 76,7) 220 = 54.059 kN.cm

22
A tensão máxima real aplicada no solo é de 0,0285 kN/cm2. O valor de 0,03818 kN/cm2 é teórico, serve apenas para calcular os
esforços solicitantes de cálculo na sapata, e considera o coeficiente de ponderação majorador das ações.
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100

300

Nd
A.B

Md y
I

0,02970
0,03818

Figura 1.85 Dimensões da sapata (cm) e tensões do solo (kN/cm2).

cA ap cA
100 100 100

S1A 115

p1,A
0,03493
P1 0,03818
A
300

0,15 ap = 15 P2

76,7 38,3
115
xa
57,5 57,5
S1A

0,02970
0,03818

p1,A
Figura 1.86 Seção de referência S1A e valores das tensões do solo (kN/cm2).
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0,02970

0,02970 0,03394
(valor médio)

0,03818
0,02970

0,03818

Figura 1.87 Esquema de reações do solo na base da sapata.

Na dimensão B o momento fletor M1B,d deve ser calculado na seção de referência S 1B (ver Figura 1.87).
Considerando a tensão média entre as tensões mínima e máxima tem-se:

kN/cm2

A distância entre a extremidade da sapata e a seção de referência S1B é:

xB = cB + 0,15bp = 100 + 0,15 . 20 = 103 cm

kN.cm

Armaduras de flexão (Eq. 1.28):

cm2

Transformando a armadura em cm2/m:

cm2/m na Tabela A-11: 10 mm c/9 cm (8,89 cm2/m)

cm2

cm2/m na Tabela A-11: 10 mm c/12 cm (6,67 cm2/m)

Para a armadura de flexão recomenda-se que o espaçamento entre as barras esteja compreendido entre os
valores:

5) Verificação da diagonal comprimida na superfície crítica C

O perímetro do pilar é:
100
uo = 2(ap + bp) = 2(20 + 100) = 240 cm
bp
(Figura 1.88)
ap

Figura 1.88 Perímetro do pilar superfície crítica C.


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A força aplicada pelo pilar, sem considerar a possível redução devida à reação de baixo para cima na base da
sapata, proveniente do solo, é:

FSd = NSd f . N = 1,4 . 1600 = 2.240 kN

Tensão de cisalhamento atuante (Eq. 1.18):

kN/cm2 = 1,24 MPa

Tensão de cisalhamento resistente (Eq. 1.17):

kN/cm2 = 4,34 MPa

Sd = 1,24 MPa < Rd,2 = 4,34 MPa ok!

Portanto, não irá ocorrer o esmagamento das bielas comprimidas de concreto. As sapatas devem ter o
equilíbrio verificado, quanto à possibilidade de tombamento e escorregamento, conforme apresentado no item 1.8.

6) Detalhamento das armaduras (Figura 1.89)

As armaduras serão distribuídas uniformemente nas direções A e B, conforme a NBR 6118 (22.6.4.1.1), a qual
especifica que as barras das armaduras de flexão sejam estendidas até as faces das extremidades da sapata, e terminadas
em gancho. Como o cobrimento de concreto é 4 cm e ho é 30 cm, pode-se considerar que o gancho vertical nas
extremidades das barras seja: ho 10 cm = 30 10 = 20 cm.
O comprimento de ancoragem básico das barras de flexão, considerando 10 mm, C25, boa aderência, sem
gancho, na Tabela A-7 é b = 38 cm. Considerando o procedimento do CEB-70 (item 1.6.5.2), mostrado na Figura 1.58,
o comprimento do gancho inclinado então é a diferença entre o comprimento de ancoragem ( b) e o gancho vertical:

gancho,incl 38 20 18 cm , portanto, pode-se arredondar o gancho,incl para 20 cm.

20

N2 - 24 c/12

20

292
N1 - 24 Ø10 C = 372

Ø
Ø,pil
l

100

80
30

24 Ø10
24 Ø10

Figura 1.89 Detalhamento das armaduras de flexão da sapata.


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1.6.7.4 Exemplo 4 Sapata Isolada Sob Flexão Oblíqua


(Exemplo de Edja L. Silva[20], Dissertação de Mestrado, 1988, EESC-USP, São Carlos/SP)

Dimensionar a sapata isolada de um pilar considerando:

- seção transversal do pilar: 40 x 60 cm ; ,pilar = 22 20 mm (parte tracionada);


- força normal característica Nk = N = 1.040 kN;
- concreto C20 ; aço CA-50 ; c = 4,5 cm;
- tensão admissível do solo adm = 500 kN/m2;
- momentos fletores solicitantes característicos: Mx = 280 kN.m ; My = 190 kN.m.

Resolução

a) Estimativa das dimensões da base da sapata

Considerando o fator Kmaj = 1,1 para estimar o peso próprio da sapata e do solo sobre ela, bem como outras
eventuais cargas sobre o pavimento acima da sapata, tem-se:

1,1 N 1,1 1040


Ssap 2,288 m2 = 22.880 cm2
adm 500

Fazendo abas (balanços) iguais (cA = cB = c):

adotado B = 140 cm.

A ap = B bp A=B bp + ap = 140 40 + 60 = 160 cm (Figura 1.90)

A área da base da sapata é: Ssap = A . B = 160 . 140 = 22.400 cm2 2


não ok! mas como a
diferença é pequena, serão mantidas as dimensões calculadas.

A
160cm

y
My
N
60
x N
40

Mx

Figura 1.90 Dimensões (cm) e esforços solicitantes na sapata.


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b) Verificação das tensões na base da sapata

Em função da força normal e dos momentos fletores solicitantes:

N = 1.040 kN ; Mx = 280 kN.m ; My = 190 kN.m

as excentricidades da força vertical são:


e

Cálculo da tensão máxima 1 com auxílio do ábaco da Figura 1.81:

ábaco (Figura 1.81) 1 = 0,34, zona C

kN/m2

Considerando o fator Kmaj = 1,1 para estimar o peso próprio da sapata e do solo sobre a sapata, a tensão é:

kN/m2 >> 1,3 adm = 650 kN/m2 não ok!

As dimensões da sapata devem ser aumentadas! Nova tentativa com A = 220 cm, B = 200 cm e cA = cB = c =
80 cm:
;

Verifica-se que:

(há tração na base)

no ábaco (Figura 1.81): 1 = 0,44, = 36 , 4 = 0,10 e zona C.

Tensões nos vértices da sapata (Figura 1.91):

1,1 . 1040
1 591 kN/m2 < 1,3 adm = 650 kN/m2 ok!
0,44 . 2,2 . 2.0

4 = 4 1 = 0,10 . 591 = 59,1 kN/m2 (fictícia)

2 = 317,4 kN/m2

3 = 214,5 kN/m2
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Figura 1.91 Tensões nos vértices da sapata (kN/m2).

c) Verificação do tombamento da sapata

0,122 + 0,092 = 0,023 < 0,111 ok!

Deve ainda ser verificada a equação:

d) Determinação da altura da sapata como rígida

Pelo critério da NBR 6118:

cm

Para a armadura do pilar (22 20 mm) será utilizado o gancho a fim de diminuir o comprimento de ancoragem
e a altura necessária para a sapata. Para 20, C20, boa aderência, com gancho, resulta b = 61 cm, e:

d> b = 61 cm

Será adotado h = 75 cm, e d = 75 5 = 70 cm > b = 61 cm ok!

e) Determinação dos momentos fletores conforme o CEB-70

Verificação:

ok! o método do CEB-70 pode ser aplicado.


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As seções de referência S1 estão indicadas na Figura 1.92. Para simplificação pode-se admitir uma tensão
uniforme de referência como:

Como simplificação a favor da segurança será considerada a maior tensão entre aquelas na metade dos lados A
e B.

Dimensão A (S1A):

kN/m2

MA = 359,61 kN.m = 35.961 kN.cm

MA,d = 1,4 . 35961 = 50.346 kN.cm

Dimensão B (S1B):

kN/m2

MB = 327,86 kN.m = 32.786 kN.cm

MB,d = 1,4 . 32786 = 45.901 kN.cm

Atividade: fazer os demais cálculos, verificações e o detalhamento final das armaduras.

A
C
B
D

Figura 1.92 Tensões na base da sapata e seções de referência S 1 .

1.6.8 Sapata Flexível Sob Carga Centrada

Segundo o critério da NBR 6118, sapatas flexíveis são aquelas que:

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