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Sobre TENDÊNCIA:

“O que difere por natureza não são as coisas, nem os estados de coisas, não são
as características, mas as tendências” (DELEUZE, 1999, p. 98).

“O grupo não se definirá mais pela posse de certas características, mas por sua
tendência a acentuá-las"(BERGSON, EC, p. 107).

“[...] em si mesma e em sua verdadeira natureza, uma coisa é a expressão de


uma tendência antes de ser o efeito de uma causa” (DELEUZE, 1999, p. 99).

“[...] somente a tendência é pura: isso quer dizer que a verdadeira coisa ou a
substância é a própria tendência. Assim, a intuição aparece como um verdadeiro método
de divisão: ela divide o misto em duas tendências que diferem por natureza. Reconhece-
se o sentido dos dualismos caros a Bergson: não somente os títulos de muitas de suas
obras, mas cada um dos capítulos, e o anúncio que precede cada página, dão testemunho
de um tal dualismo. A quantidade e a qualidade, a inteligência e o instinto, a ordem
geométrica e a ordem vital, a ciência e a metafísica, o fechado e o aberto: essas são as
figuras mais conhecidas. Sabe-se que, em última instância, elas se reconduzem à
distinção, sempre reencontrada, da matéria e da duração. E matéria e duração nunca se
distinguem como duas coisas, mas como dois movimentos, duas tendências, como a
distensão e a contração” (DELEUZE, 1999, p. 131).

“É a tendência que é sujeito. Um ser não é o sujeito, mas a expressão da


tendência, e ainda um ser é somente a expressão da tendência à medida que ela é
contrariada por uma outra tendência. Assim, a intuição apresenta-se como um método da
diferença ou da divisão: dividir o misto em duas tendências. Esse método é coisa distinta
de uma análise espacial, é mais do que uma descrição da experiência e menos
(aparentemente) do que uma análise transcendental. Ele eleva-se até as condições do
dado, mas tais condições são tendências-sujeito, são elas mesmas dadas de uma certa
maneira, são vividas. Além disso, são ao mesmo tempo o puro e o vivido, o vivente e o
vivido, o absoluto e o vivido. Que o fundamento seja fundamento, mas não seja menos
constatado, é isso o essencial, e sabemos o quanto Bergson insiste sobre o caráter
empírico do impulso vital. Não devemos então nos elevar às condições como às condições
de toda experiência possível, mas como às condições da experiência real: Schelling já se
propunha esse alvo e definia sua filosofia como um empirismo superior. A fórmula é
também adequada ao bergsonismo (DELEUZE, 1999, p. 100-101).
Sobre DURAÇÃO:

“Com efeito, o que é a duração? Tudo o que Bergson diz acerca dela volta
sempre a isto: a duração é o que difere de si” (DELEUZE, 1999, p. 103).

“A duração é somente uma das duas tendências, uma das duas metades; mas, se
é verdadeiro que em todo seu ser ela difere de si mesma, não conteria ela o segredo da
outra metade? Como deixaria ainda no exterior de si isto de que ela difere, a outra
tendência? Se a duração difere de si mesma, isto de que ela difere é ainda duração, de um
certo modo. Não se trata de dividir a duração como se dividia o misto: ela é simples,
indivisível, pura. Trata-se de uma outra coisa: o simples não se divide, ele se diferencia.
Diferenciar-se é a própria essência do simples ou o movimento da diferença. Assim, o
misto se decompõe em duas tendências, uma das quais é o indivisível, mas o indivisível
se diferencia em duas tendências, uma das quais, a outra, é o princípio do divisível”
(DELEUZE, 1999, p. 105).

Sobre DIFERENCIAÇÃO:

“A noção de diferenciação traz ao mesmo tempo a simplicidade de um virtual,


a divergência das séries nas quais ele se realiza e a semelhança de certos resultados
fundamentais que ele produz nessas séries” (DELEUZE, 1999, p. 107).

“E a censura que Bergson dirige ao mecanicismo e ao finalismo em biologia,


assim como à dialética em filosofia, é que eles, de pontos de vista diferentes, sempre
compõem o movimento como uma relação entre termos atuais, em vez de aí verem a
realização de um virtual. Mas, se a diferenciação é assim o modo original e irredutível
pelo qual uma virtualidade se realiza, e se o impulso vital é a duração que se diferencia,
eis que a própria duração é a virtualidade. A evolução criadora traz a Os dados imediatos
o aprofundamento assim como o prolongamento necessários, pois desde Os dados
imediatos a duração se apresentava como o virtual ou o subjetivo, porque ela era menos
o que não se deixa dividir do que o que muda de natureza ao dividir-se” (DELEUZE,
1999, 133-134).

“Tudo se passa como se a Vida se confundisse com o próprio movimento da


diferenciação em séries ramificadas. Sem dúvida, esse movimento se explica pela
inserção da duração na matéria: a duração se diferencia segundo os obstáculos que ela
encontra na matéria, segundo a materialidade que ela atravessa, segundo o gênero de
extensão que ela contrai. Mas a diferenciação não é somente uma causa externa. É em si
mesma, por uma força interna explosiva, que a duração se diferencia: ela só se afirma e
só se prolonga, ela só avança em séries ramosas ou ramificadas” (DELEUZE, 1999, p.
76).

Sobre DIFERENÇA SEM NEGAÇÃO:

“Tudo retoma à crítica que Bergson faz do negativo: chegar à concepção de uma
diferença sem negação, que não contenha o negativo, é este o maior esforço de Bergson.
Tanto em sua crítica da desordem, quanto do nada ou da contradição, ele tenta mostrar
que a negação de um termo real por outro é somente a realização positiva de uma
virtualidade que continha ao mesmo tempo os dois termos. Então, é por ignorância do
virtual que se crê na contradição, na negação. A oposição dos dois termos é somente a
realização da virtualidade que continha todos dois: isso quer dizer que a diferença é mais
profunda que a negação, que a contradição” (DELEUZE, 1999, p. 110-111).

Sobre IMPULSO VITAL:

“O que Bergson quer dizer quando fala em impulso vital? Trata-se sempre de
uma virtualidade em vias de atualizar-se, de uma simplicidade em vias de diferenciar-se,
de uma totalidade em vias de dividir-se: a essência da vida é proceder ‘por dissociação e
desdobramento’, por ‘dicotomia’” (DELEUZE, 1999, p. 75).

Sobre DURAÇÃO, MEMÓRIA E IMPULSO VITAL-DIFERENCIAÇÃO:

“Duração, memória, impulso vital formam três aspectos do conceito, aspectos


que se distinguem com precisão. A duração é a diferença consigo mesma; a memória é a
coexistência dos graus da diferença; o impulso vital é a diferenciação da diferença. Esses
três níveis definem um esquematismo na filosofia de Bergson. O sentido da memória é
dar à virtualidade da própria duração uma consistência objetiva que faça desta um
universal concreto, que a torne apta a se realizar. Quando a virtualidade se realiza, isto é,
quando ela se diferencia, é pela vida e é sob uma forma vital; nesse sentido, é verdadeiro
que a diferença é vital. Mas a virtualidade só pôde diferenciar-se a partir dos graus que
coexistiam nela. A diferenciação é somente a separação do que coexistia na duração. As
diferenciações do impulso vital são mais profundamente os graus da própria diferença.
E os produtos da diferenciação são objetos absolutamente conformes ao conceito, pelo
menos em sua pureza, porque, na verdade, são tão-somente a posição complementar dos
diferentes graus do próprio conceito. É sempre nesse sentido que a teoria da diferenciação
é menos profunda que a teoria das nuanças ou dos graus” (DELEUZE, 1999, p. 112-113).

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