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,. ESPAÇO E POLÍTICA
Tradução
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitor: Ronaldo Tadêu Pena MARGARIDA MARIA DE ANDRADE
Vice-Reitora: Heloisa Maria Murgel Starling SÉRGIO MARTINS
EDITORA UFMG
Diretor: Wanáer Melo Miranda
Vice-Diretora: Silvana Cóser
CONSELHO EDITORIAL
Wander Melo Miranda (p,esidente)
Carlos António Leite Brandão
Juarez Rocha Guimarães
Márcio Gomes Soares
Maria das Graças Santa Bárbara
Maria Helena Damasceno e Silva Megale BELO HORIZONTE
Paulo Sérgio Lacerda Beirão
Silvana Cóser EDITORA UFMG
2008
-- - - - - - - -
- ---
© 1972, Éditions Anthropos
© 2008, da tradução brasileira, Editora UFMG
Título original: Le droit à la ville - suivi de Espace et politique. Paris: Éditions
Anthropos, 1972.
Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem
autorização escrita do Editor.
Lefebvre, Henri
Espaço e política / Henri Lefebvre; Tradução Margarida
L448dPm
Maria de Andrade e Sérgio Martins. - Belo Horizonte: Editora
UFMG,2008.
SUMÁRIO
192 p. ; il. - (Humanitas Pocket)
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-7041-687-2
Tradução de: Le droit à la ville: suivi de Espace et politique.
1. Filosofia. 2. Ciências sociais. 3. Economia.
4. Urbanização. I. Andrade, Margarida Maria de. II. Martins,
Sérgio. III. Título. lV. Série.
CDD: 1 PREFÁCIO À TRADUÇÃO BRASILEIRA 06
--./'
CDU:100
INTRODUÇÃO 17
Elaborada pela CCQC-Central de Controle de Qualidade da Catalogação da
Biblioteca Universitária da UFMG
O ESPAÇO 36
~
Este livro contou com apoio financeiro do CNPq. REFLEXÕES SOBRE A POLÍTICA DO ESPAÇO 58
A CIDADE O URBANO 79
Editoração de textos: Maria do Carmo Leite Ribeiro
Revisão de texto e normalização: Márcia Romano
Projeto gráfico: Cássio Ribeiro ENGELS E A UTOPIA 89
Revisão de provas: Alexandre Vasconcelos de Melo
Produção gráfica: Warren Marilac AS INSTITUIÇÕES DA SOCIEDADE
Formatação e montagem de capa: Diego Oliveira "PÓS-TECNOLÓGICA:' 106
Imagem de capa: Detalhe da fotog1-afia Bulls and bears, de Orla Schantz,
e fotografia Cíclico, de Carnila Pereira M. . A BURGUESIA E O ESPAÇO 146
Editora UFMG
Av. Antônio Carlos, 6627 - Ala direita da Biblioteca Central - Térreo A CLASSE OPERÁRIA E O ESPAÇO 164
Campus Pampulha - CEP 31270-901 :.... Belo Horizonte/MG
TeL: + 55 (31) 3409-4650 Fax:+ 55 (31) 3409-4768 NOTAS 178
www.editora.ufmg.br ed.itora@ufmg.br
Esse estudo psicológico e sociológico pode referir-se
ao corpo e aos gestos, à imagem do corpo e ao espaço da
vizinhança. Alguns desses aspectos, como, por e~emplo,
as questões concernentes à lateralização do esp~ço: ~tere~-
sariam à arquitetura e à urbanística. Co~o ai d1s~ngwr
O ESPAÇO ou indicar simetrias, dissimetrias? Como ai constrmr urna
esquerda e uma direita, um alto e um baixo, correspondente
aos gestos, aos movimentos, aos ritmos do corpo?
Pode-se eh:iborar urna semântica dos discursos sob~e
0 espaço. Poder-se-ia _~onc~ber t~bém_~a s_em~olo_gi~
·do esp~ço: parte de uma semiótica __geral._ Tod2__ espa~~-e
1. O que será exposto situa-se no nível teórico. Vai na significante? Em caso positivo, de q11er ~g.}.S P-r~9_
S-ª!l:l~nte,
direção da filosofia, embora não da filosofia especula- todo es1;aço ou fragmento de espaço nao se~~a um_ text?
tiva, dogmática e sistematizada. Dessa filosofia clássica, so · ele ró rio contextc;, de Jextq_s _tspeçífjçqs,.1st,q_ ~
mantém-se a preocupação de definir perspectivas e ·escritos: inscrições, anúncios~~c.?. De.s_ort~ q~~ ~ ~re.ciso
conhecimentos à escala global. Como esses conhecimentos ou reencontrar, _ou construir os có_d igos dess~s _çliv~rsas
não se encontram mais separados da prática, trata-se de mensagens para decifrá-lasA
metafilosofia. · Nessa perspectiva, o espaço aparente~e!}te in~j?ni_fi~
Poder-se-ia dizer que esta exposição é «interdisciplinar•: cante~Ou sej~Çneüiro:·não significaria de início sua ms1g-
no sentido de uma crítica das disciplinas parcelares. Ela nificância, ·seu ca_cáter v~zio2 _~~.µi _s~~~dª~---~~-r~~~és ~~ssa
evita o empirismo descritivo, mas não comporta conceito ~eutralidade. desse vazio aparente, alguma coi~qJ10 n1y~l
operacional. Ao contrário, tentará mostrar como determi- da sociedade inteira, isto é, da sociedade neocapitali~.!a?
nado conceito operatório coloca questões: "por quê? para Nesse nível, não seria a própria unidade dess_a socied~de,
quem? no interesse de quem?" sua globalidade, que apareê<:~#ii p.~ sêiode~ta!"~~:_i li~ade"
espadal.: aparentemente disjm~t~ e sep~rada, por exe~plo,
2. Existem vários métodos, várias abordagens no que uma cidade nova? · · ----- -··- ·-
concerne ao espaço, e isso a diferentes níveis, de reflexão,
de recorte da realidade objetiva. _P or exemplo, pode-se 3. O interesse teórico geral dessas pesquisas, a gestual
estudar o que alguns denominam biótopo; pode-se estudar e a lateralização do espaço, a semiologia e a leitura dos
o espaço percebido, a saber, o da percepção comum à escala espaços, é o de mostrar como e por que, hoj~ ~ agora, os
do indivíduo e de seu grupo, a familiá, a vizinhança, aí sentidos tornam-se imediata e diretamente teoncos, como
compreendendo o que se chama "o ambiente" (Umwelt 1) disse Marx (Manuscritos de 1844).2
37
••
•• Nessa perspectiva, ~I-.~lª~ªº da teoria com a_p..rá1iç_a
n_~o é~ de uma abstraçã.o tr~11~cepde11:te a ~ma imegja-
tjd~qe_ou a wri "cc_:mcreto" ant~rjor. A abstraçã~-teó~ica já _
Por que este preâmbulo? Porgue é possível gue e:>
__espaço desempenhe um papel ~u uma função ,d~cisiva..
•• teoria do e_spaco. ·
4. Um método pretensamente científico consiste em
· -· · ·
desse sistema. dessa lógica, dessa_totalidade. E preciso, ac::>
contrário. >
mostrar sua função nesta perspectiva (prática.
e estratégica).
•• pôr, ou em supor. um sistema e uma lógica preexistentes;
tal método afirma que o objeto estudado deve situar-se no
5. Do mesmo modo,.se há um "ponto de vista de classe': é
~~:~ar
•• seio de uma totalidade pressuposta.
Ora. não se tem o direito de postular um sistema já exis-
impossível nietodologicameJ?te partir_dele, é precis?
a ele. Partir do "ponto de vista de classe" e pressupô-lõ;ã..
maneira de um sistema oposto ao sistema existente, é
•••
sistema, é preciso descobri-lo e mostrá-lo, ao invés de partir
Quanto ao projeto de sajr de um sistema de classe para..
.•
dele. Se partirmos de tal hipótese, instalamo-nos numa
um outro sistema de classe, ele imQlica a idéia de pular de
tautologia dissimulada, pois não faremos mais que deduzir
um dogmatismo a outro por um salto verdadeiramente
as conseqüências da pressuposição. Assim também para
prodigioso~
a lógica. Se em alguma parte existe uma lógica. e mesmo
6. Esta exposição parte, portanto, de uma problemática.
•• uma lógica concreta (por exemplo, a de urna estratégia),
também é preciso descobri-la, e~pecificá-la no que difere definida, ou seja, ela não parte de uma definição particular,
não mais que de uma problemática indefinida e muito gera.l
•• 38
-•
39
teoria do urbano e à sua ciência e, por conseguinte7 a uma , ~ •'•
•.••
mal-entendido a este respeito. Nojnício, _trata-se does~_o
'
I; viyi o, vinculado _à pr~?cà social. A. problem~t~c_c:t qu~ se -problemática ainda mais vasta, .a d~ so~ieda~e.g~b~. Para ~
c~oloca a partir desse espaço compreende um copj_l!!}to_4_e nós, aqui, é um viés ou um front pelo qual se pode abordar
problemas parciais que tem um traço que os aproxima: a _ um conjunto de questões.
· «~spaciali~~de': -- · · -· Entre essas questões encontram-se as colocadas mais
/"'·-··
/ a) •qual é o estatuto teórico da noção de espaço?
Qual é a relação entre o espaço mental (perce-
bido, concebido, representado) e o espaço social
acima e estas:
(construído, produzido, projetado, portanto, recuperadora seja irresistível até seu desmorona- tp
notadamente o espaço urbano), isto é, entre o mento em bloco? Se é que ele pode desmoronar ~
espaço da representação e a representação do
espaço?
de fato?
40 41
·• /t·"
•·
:e que os objetos, os grupos, os indivíduos no espaço efetivo, ou metafóricos, mas como rigorosos, são de uso corrente
• ••
As matemáticas de um lado, e do outro, a filosofia (a
fenomei:ioJogia e, sobretudo, a epistemologia), resgatam
essa essencialidade, ou, mais exatamente, a estabelecem e
.histórico, como do tempo vivida e, aliás, de uma maneira
desigual (muito mais em Michel Foucault que em Georges
Gusdorf, por exemplo). Ela comporta igualmente uma ten-
a constituem. A coerência do discurso se desenvolve no dência para a «cientificidade" abstrata, para o saber "abso-
••espaço mental, que a garante. A epistemologia define uma
topía (ouse define por ela), a saber, um conjunto de lugares
luto" constituído por um inventário do passado (filosofia,
ideologias, literatura etc.) e inscntó rto espaço atual.
•• e de percursos, topologia abstrata e geral completada por
uma topologia de existências concretas .
:g~~a teoria do espaço não fica só n9_!~rrep9_epi~t~.mQ-
lógico; ela o ultrapa~sa_4e ~a m~neira que merece ser
•• Eis alguns exemplos. A lingüística de Chomsky implica
um conceito do espaço. Assim, ele declara que existe um
mencionada. Alguns arquitetos ainda se vêem como os
senhores do espaço qu..e_ç_oncehem e_rea1izaro Eles.se vêem .
•••
. uma coerência regulada e calculada de antemão. É nesse riscos. Repitamos que o maior perigo e a maior objeção
e~paço centrado, teológico, onde a cumplicidad~ do é a evacuação do tempo concomitantemente histórico e_
s ignificado já se encontrava estabelecida, é aí que o
vivido.
•• __
__,._ --
42
43
...• ~ cilada na qual a burguesia capt~F-ª -~ classe operária
•• meio e o modo ' ao m es~~ tempo, de uma organização do
consumo no quadro da soc1·edade neocap1ta -- , -1·1sta
----- isto
. é --::r.:::-
acaba senao, nõ'"lim.1.te, -sua--própria arma_dilh~: espa_ç c
••
- . ua doentio o_u espaço de doença social. De todo modo,.neSS<=
soCiedade buro~rática de consumo dirigido. E~ verd~d.e, hipótese o espaço não seria uma representação inocente
ª~aparente
. r-odfinalidade
- d- e, - da sociedade , o çonsl!-_ mo, se defme -. mas veicularia as normas e os valores da sociedade bur
••
-· -
.
Pela-- rep uçao a 1or d . ·- -- · ---
-b-· , -- - ---- -· -çª- ~-tr~balh9, ou se~, das condições guesa e, de início, o valor de troca e a mercadoria, isto é, <
d_9_tra alho produtivo. · - - - - --
fetichismo. No limite, não há mais exatamente ideologü3
. ••~'--·\
••
q
b,s cidades
ue essa h. 't
falsa cons •
hipótese D
,
1po
A
seriam tão -somente umdades
corre1atas as grandes -·-··
ese
•
uoid anes
-- · -
reencontr
• ,
:1 llf
,
.
:1 · produç~,o
de consumo
- . . - ._. Pod - d .
---:-·· -~ .
a, ª sua maneira, a teoria da
c1encia, dJª meneio nad a, a propos1to
. e acor o com ela, haveria:
e-se 1zer
, . da segunda
mas somente falsa consciência, com os discursos que el
engendra.
Ol;?jt;_çg_es: _essa vinculação à produção, do espaço er
geral e do espaço urbano em particular, abrange somen1
a reprodução dos meios de pr(?dução, dos quais faz parte
•• a pe a 1 osofia .6 )
principal era re-produzir materialmente seus meios <
produção (máquinas e força de trabalho) e permitir
•• b. atotar
essad consciên
bGabeF
d · tota1mente verdadeira da
cia'.
1 ª. e, opor-se-ia uma consciência falsa a da
urgues1a de~eA partn· . d essas pressuposições, Joseph '
consumo dos produtos, ou seja, a compra no mercad
Sistema contratual ( o contrato de trabalho), sisteu
jurídico (o código civil e o código penal) quase bastava
•• espaciali
. . nvolveu uma tese segundo a qual a
e_ zaçao - caracteriza a "falsa ' consciência"
para assegurar, com a venda da força de trabalho, e~
re-produção dos meios de produção. É claro que n e s~
·•• ( , . , .d nsc1encia morbida, a do alienado,
uma ia.1sa co .. . ,
1
condições o es_paço era, então, simpl~s_m_~~t_e._ _~cion..a
esqmzm e), caso-limite da representação falsa
e·sse--despaço sena· o lugar da reificação, um lugar·
E instrument~_-A cidade tradicional tinha entre ou s e:
•• ora -- 0._!~mP?2... fo_ra da vida e da práxis. Nessa
perspectiva po
mental
. - - - - -=----
.: . r c~nse~mD:_!~•-Q ~SP-?-ÇQ_j nstru-
. !
f_Unção de c~~sumo, comp ementar à produção: Ma
situaçãq _muOoU: ·o ·rrio"dO dê produção capitalista dev(:
•• d e defimr
t_er!~ ~ma função específicà: No lu ar
a mtelig- ·r-:ili-..r-d·--r;::.,---- __ . -;- - -:- ,- g.
9-efender num front muito mais amplo, mais diversifice:
~ mais _cQmplexo, a saber: a re-produção das relações
,:•.•
- . -;--· - . 1u 1 . _ua e ,pnmeira hipotese)
• ele· d• e. fi1n1na
S
0C1a1s
dessas
--
ao
a rea11·zaçao- --re1ficarão
---
.
- .::r - --
~ela~es~ tem~? q~e _<1 _f-ª.l~Jl_f -º.!:l~ ~iência
Ü 'vel - ~e~~ - teona do espaço IJ1entalinte.:..
das.xe1 aço-es'
- ~ ·-
_rodução. Essa re-produção das rela ões de rodu ão l
coincide mais com a re ro u ão dos meios de rodu~
ela se efetua através da cotidianidade, através dos laz~-!
te~ria ~: ~po~ ~-~º esp~ço sociaf cç;~o cilc:t~-ª,..À da e ttrra, através da escola e da universidade, através
spa_ç<:> mteligivel e do primado (filosó-
47
• 46
l-
d~ determinadas relações. l?, nesse sentido que o espaço
:i••.
,
extensões
dõ
.._
esp e· proliferações
~~;~:~:t~:!~tese.
•
aço mteiro.
-- -·da· cid
· ;:i__d e a..ntiga,
. ou se1a.
. através
-- -·
49
4-8
••
• ••
encontram-se ligados aos setores do trabalho no consumo or-
ganizado, no consumo dominado. Esses espaços separados
da produção, como se fosse possível aí ignorar o trabalho
deslocado, separado, tempo de trabalho, tempo dito livre,
tempo imposto etc.
Para compreender esse esquema do tempo e do espaço,
•• produtivo, são os lugares da recuperação. Tais lugares, aos
quais se procura dar um ar de liberdade e de festa, que
s~ povoa ·de signos que não têm a produção e o traball:w
é preciso retornar ao capítulo mal conhecido. ~e _-~arx, ao
final d'O capital, intitulado «A fórmula trimtar1a • NessE
•••
~o mesmo tempo desloca o e unificado. São precisame~te termos da análise. Há, na sociedade em ato, ou seJa, n ('.]
lugares nos quais se reproduzem as relações de .p rodução, produção e na repr~~ução .4~s_re!ª-Çíies:
- ---- -- -- - --· - ----
o que não exclui, mas inclui, a reprodução pura e simples
a. o( ~~pital, e o i~~ro-.do empreendedor, isto é, d a
•• da força de trabalho. Tudo isso se lê nesses espaços,
mas com dificuldades, pois o texto e o contexto estão /
i
/
·burguesia; ·
••
0 tempo homogêneo enquanto tempo manipulado,
organizado em quadros definidos e ao mesmo tempo distintas da riqueza social, os elementos parecem recebe
•._ __ 50
51
menos aberrantes, cuja relação com o conhecimento ou o
a parte que lhes cabe do "rendimento" nacional, o que erro variam conforme se tome como referência à práxis
mascara o fato da riqueza social coincidir com a mais-valia
burguesa _(s~paração e dissociação) ou uma outra práxis
global. Esse capítulo decisivo d' O capital se encontra no
livro III, seção 7, cap. 48. 9 possível.
O es a O ar uitetônico e urbanístico, en uanto es aço,
~~-~~-ª hip_9tç~~-1-~- ideologia ~?i~g_çk_com a prática: a
s~paraçao nasoçi~4acle b_u rguesa. A ideologia é de aceitar
tem essa dupla característica: desarticulado e até estm:~-
çado sob a coerência fictícia do olhar es ª,ode coa oes
a ~issociação .e__considerá= la .real..Abando-na-:-se, assim, a
µm~;:tde c~n.cr__et~ que censtitui a sociedade-burg~e~a e ~ de oacroas disseminadas. !,le tem esse carater parado~al
que se tenta definir aqui: junto e sep~rado. E dessa,ma_nerra
~ce~ta-se_a ilusao..que ela coloca em.s~u l_~gar_{ao invés da
que ele é concomitantemente dommado (pela tecmc_a) e
J!lªIS ~val~~-- g_l9b.~l:_a_t~prj~ do rendimento naciGnal - do
-
r~~ _e de suas diversas_füntes). Uma vez admitidoÕ
não-apropriado (para e pelo uso). Ele é imediato e mediato,
ou seja, pertence a uma certa ordem pró~a, a ordem da
esq~ema conjunto-disjunto que caracteriza a prática da
vizinhança, e a uma ordem distante, a soCiedade, o ~stado.
soc1~dade burguesa, pode-se afirmar o que se quiser. A ide-
A ordem próxima e a distante só têm uma ~oerê~c1a apa-
ologia? Trata-se de verborragia ao lado .dos "assuntos".
rente que de modo algum impede a desart1culaçao.
_ Nossa ~ipó~ese sobre o espaço conjunto-disjunto se
~cula, pms, diretamente, ao esquema tripartite ou trini- Esse espaço depende de interesses diver ente de os 1
ç].iversos que, no entanto, encontram uma_unidade no E.sta_d o.
t~10 da sociedade capitalista, segundo Marx. Essa hipótese
situa-~e entre_a da falsa consciência, que exclui a ideologia, Ele depende de uma encomenda e de uma demanda que
e a da ideologia, que implica interpenetração do verdadeiro podem não ter nenhuma relação e que, contudo, encon-
e do falso, e exclui a falsa consciência. tram um denominador comum sob a predominância deste
ou daquele interesse. Quanto à divisão do_trabalho entre os
Há uma práxis: as separações sustentadas, mantidas,
que intervêm no espaço, a saber, o arqmteto, o pro~~t~r
portanto, representadas através da ação que mantém os
imobiliário, 0 urbanista> o empreendedor etc., essa divisao
ele:ne~tos da sociedade, mesmo na sua dissociação. Essa
do trabalho realiza esse misto de unificação imposta e de
açao e p~ecisamente o esquema do espaço, esquema
gerador ligado a uma práxis, a uma realidade e a uma desarticulação que se procura analisar.
verdade nos ~mites desta sociedade. Trata-se, cons.e qüen- Poder-se-ia mostrar que o espaço da pintura e da escul-
temente, de ideologia ligada a um certo conhecimento tura constitui precisamente esse espaço retalhado, dividido
nos limites de urna prática social. Essa representação é ao em pedaços e, não obstante, determinado globalmente.
mesmo tempo aparente, pois os elementos que ela dissocia 12 ..Repitarn~~ q~e o espaço inteiro torna-se o lugar _ga
enco~tram-~e li~ados, e real, porque os elementos que ela ~eprodução -~as relações de produção.
mantem estao dissociados. Ela propicia discursos mais ou
, . ue os técnicos e os tecnocratas
Outrora, o ar e a água, a luz e o calor eram dons da de todos, ou, ao contrario, q . d d na-0 pode sair de seu.
l Esta soc1e a e
natureza, direta ou indiretamente. Esses valores de uso podem reso1ve- os.
A
le proponha elanã()
entraram nos valores de troca; seu uso e seu valor de uso, d çiue este ou ague .-O- - · ' . _
com os prazeres naturais ligados ao uso, se esfumam;
?
~spaco: .PºU 11
., ·-1- oE.ta--so o e ten-der ara a sistematlz~.
- <- ~
. . ao d
.ode su era- o. . a u'ma lógica QUé nunca po e
ao mesmo tempo e que eles se compram e se vendem, desse espaço, ou se1a, par ·
tornam-se rarefeitos. A natureza, como o espaço, com o -~fetuar até o limite. .· ------~- - · d"
espaço, é simultaneamente posta em pedaços, fragmen- . ' . - ·does aço",{Essa e:xpressao m ica..
tada, vendida por fragmentos e ocupada globalmente. É Falamos ~e\proêtuçaR ã~ ·!qui~etônica e urba~í~a,
um passo adiante na re ex_ _ ~ -:-i{do-se ao conjunto da_
destruída como tal e remanejada segundo as exigências da - ult assando esses setores e r_tlerJ _______ - - -- . . . . . --- -
sociedade neocapitalista. As exigências da i-ecoridução das -___. :,~P - .: - ue não consideramos o espaçe>
soCiedade. Ela quer dizer ~ d ento (Kant), seja d<=>
relações sociais envolvem, assim, a venalidade generalizada - . . eJª o pensam
como um dado a pnon s
da própria natureza. Em contrapartida, a raridade do - . . . ) Vemos no espaço o desenvolvirnent<J
mundo (:pos1tiV1smo . . . s ortanto o es a e
es aco, nas zonas industrializadas e urbanizadas, contrastá . 1 D stm imo ' .-
de uma atividad e sacia . ~ . , , tal Contudo, e:
çom o vazio dos espaços ain a esocupa os, os esertos · . eométr1ço Jsto e men ·
t,errestres e os espaços interplanetários; a carestia do espaçO 1
~oCial do espaço g
-
,
rP arobie;na
n e fato toda sociedacl_<(;
, // ex.pressao pecroaue eflra toda saciedad 1
assim ocupado e rarefeito é um fenômeno recente, com « » es aço, ou, caso se pc
d
pro uz « seu,, ~ ço O que h,a de novo na socü:dade_erI
~onseqüências cada vez mais graves. •
produz um espa · _ de produção torna-s ·
Esse es aço, sendo lu ar e meio da prática SQ.CiaLna . - das re1açoes
que a manutençao , técnicas e as forças prod'Lli
sociedade neocapitalista (isto e, ;; rep -·- · á-_r açoes determinante, na qual, poredm, as rtante? O que signific:::.
de produção), assmãla os seus limites. . al um nível esconce · .
tivas cançaram- ? s·gnifica "coisas, . » obJ"etos, mercadoncL!: ·
Os dirigentes políticos, cuja tática exprime atualmente a palavra pro d uzrr · 1 - urna superestrutu...I
-t se espaço sena
as alianças e compromissos entre as forças armadas e Em termos mar~s ~, es . ca italista ou não), coII:3.
a tecnocracia, têm alertado em vão a opinião pública, da sociedade dita mdustnal ( . p ·a? Seria somente urr.
A
. , d calsa consc1enc1 .
formado comissões e comitês de estudo, criado adminis- sugere a h 1potese ª 11 , • outras<
representação mais . pro:xnna
, · da pratica que as ·
trações e ministérios; em vão têm suscitado proposições;
Será neces~ªrio.._Rortanto, precisa - r estes termos e es
os especialistas podem se mobilizar, mobilizar os cientistas,
colocar as questões do meio ambiente ou das contaminações; conce1 o: a
-P-rodução____do----
·t - espaço.
·- _,, b" ·· idade
eles podem procurar, conscientemente ou não, deslocar C \ . l' ;ca Uma semelhante am igu
13 i Espaço e agi . . , . ( osta, suposta, impostê3
nesse sentido os objetivos, as lutas políticas; eles podem reencontra. Onde se s1tu~ a lo~ca p - (maLelucidada) ~
apresentá-las como simples etapas para uma realidade mais HoJ· e há um abus~_çurJQS.(}_j a_no~a_o_ "l, . a ◄
elevada, com ou sem a ajuda das ciências humanas. Eles -, . ·- . - 1- - - dos discursos, descrev~-se a og1c -
l_og1ca. Ao ongo
podem pretender que os problemas urbanos, desde já, são - ---
54
--- -------- - - -· - -
,,
vivo': a "lógica do saber" (a epistemologia), a "lógica da encontra-se no fim e não no início. -Dessa maneira,
sobrevivência': a "lógica do urbanismo", a "lógica da ele engloba o que s·e · deixa integrar, como os processos
mercadoria': a "lógica do Estado" etc. Esse abuso coincide · i_!].tegradore5.. Ele engloba aquilo que se deixa reduzir, aí
<:ºIl_l_ o d~ sistema_ (ou as sistematizações com
ãÚSgica que compreendido o imaginário. Essa sociedade não 9~ede_ce
elas ~~hc~m). ~sse abuso_f ~ocJ.~L~~-polítiç__q, ideológico . a uma lógica. Repitamos: ela tende para is_so. Ela não ~
<?U pratico, 1mplicad0-no_disçurso ou inconsciência? sistema. _Ela sé esforça para isso, reunindo a co~_çãQ -~-º--
,?espaço !eria sua lógiça? O espaço ora d~pe~de de uma emprego das representações.
logica preexistente, superior e absoluta, quase teológica, As contradições 4o espaço não advêm de sua forma
ora ele é a própria lógica, o sistema da coerência, ora, racional, tal como ela se revela nas matemátiças._E.las
en_?m, ele _pern:iite a coerência autorizando a lógica da àdvim do conteúdo prático e social e, ·especificament~,.g._o
açao (praxiologia ou estratégia). Reencontram-se aqui as conteúdo capitalista=- _C om efeito, q espc!Ç_O da 5-ociedade
diversas teses sobre o espaço, tomado ora como modelo, ~apitalista pretende-_;e_racionai.quando,. na _pr_á tiçª :>-é !it,
ora ~<>mo instrumento, ora como mediação. -comercializado, despedaçado, vendido em parcelas. Ass~; 4r
-ele é simultaneamente lobal e pulverizado. _El~.J~_~ r.fil_
Proposiçõ~: ,ijão tendo uma lógica jntema e própria,
16gico e é absurdamente recorta . Essas contra 1çoes
0 espaça remete à ló&ica formal e à metodologia ~ai.
· explodem no plano fustitucional. l'{~sse plano, percebe-~e
O espa\_~_comum às atividades _9-i-yersa~ e _p~celares, no
t
quadro 1mpo~to da sociedade burguesa, um _e_s_q _~~~ do q11:~ a burguesia, çl~s_s e dominante, di~_9 e de umcluplo
poder sobre o espaço; primeiro, pela propri~dade prj.vadc1 do
qual essa sociedade se serve para--1:entar constituir-se em
filSÍ,ºDJa, paraafingfr a cõeiêiidà. CÕmoTMàs cã;ando suas
~olo, que se gen~rãlíza por todo o espaço", com exceção dos
direitos das coletividades e do Estado. Em segundo lugar,
s.,ontraâiçoes; àÍ ~duí_ das as·do própr!O espaço, esse c~áter
r.ela globalidade, a saber, o conhecimento, a estratégia, a
ao mes~o ~emp_~ _s.lo6.ãl_ eplll~erizado, cO.ri:Ünto ~ffi_sj!:!!).tO.
ação do próprio Estado. Existem conflitos inevitáveis entre
,A est_rategia d~~ asses ~enta assegurai·ª rep_rodu.J.,.-0'-LLJ...Lc:1-õ
esses dms aspectos, e notadamente entre o espaço abstrato
relaçoes esse!_l_c1ais_ a~~es dq espaço inteiro. Nessa hipótesé,
1 nao fia es a o absoluto, seja vazio~- sé}a pleno, a não ser (concebido ou conceitua!, global e estratégico) e o espaço
imediato, percebido, vivido, despedaçado e vendido. No
-~ tara O p~ns~ento osó co-m_a_temático. O espaço men-
plano institucional, essas contradições aparecem entre os
al e social e_ um espaço espec1 ICO, portanto, qualificado,
planos gerais de ordenamento e os projetos parciais dos
mesmo se nao percebido como tal. É uma modalidade da
produç~o _numa sociedade determi~ada, no seio da qual mercadores de espaço.
contrad1çoes e conflitos se manifestam. · ·-
(Seminários sobre o espaço, realizado em Nanterre,
Existem, portanto~tradiçães.__da__esoaço mesmo se Oxford etc., em 1972.)
di_ssimuladas ou 1:1:1~sc~~das. Nessa_sp~ie_d;de ;,'real,,
56 57
••
•• de orde teó íca. visando implícita ou explicitamente a
•• c__onstituição de uma epistemologia ou seja, de ~ma região
do saber, contendo núcleos de saber adquirido, em suma,
•• R
- /
, EFLE , OES SOBRE /
o que designa o termo epistemologia;
3. Essa reflexão teórica, capaz de alçar a prática urba-
'-
►
[ científicidade e espacialidade andavam juntas, ~o mesn:io
. tempo no plano mental e no social;-nm1ra estrutura geral.
Portanto, por meio da_ciência do espaço. a prática-e ~_té~nica
urbanísticas deviam ser alçadas no ârribitô geral da
cientific_~ dade. Essa posição estava implícita em muitos
teóricos - citemos apenas os trabalhos notáveis de Robert
Auzelle e de Ionel Schein. Por meio dessas consid~!ações,
o __e-spaço urbano, outrora integrado_qu~r à JJt_ij_i?,_%:ão
espo.ntãni~ ·ao sítío, quer à cultura glob_al 4_a s~cJed~de,
era isol~_dc;>_~9 conte~o; Ie aparecia C01!1<?_~!11 dado, co!llo
uma diçnensão -específi~~-da_organizaçã~ so_c~~.l; e isso em
relação, primeiramente, a uma ação concertada à escala
mais elevada e, em segundo lugar, às necess_id_adt:~ s<;>c!ais,
elas próprias localizáveis. Tal era o postulado subjacente
ao pensamento urbanístico e ao ensino. Um ooshllacl.-0
m ais · ocu lto era o i ........m...
~ nhi · · ..l ..l
~etJ:V1ua.ue e a « purgóa»i
do espaço urbanístico, objeto de ciência lhe co fernm
um cara ter neutro. O e a Q e a e · dº-.inoe.ente,
do
--- -- -
59
~i-
eu conteúdo, de endia
neutro, das matemáticas> portanto, enquanto objetivo e Outros procuravam determinar, a uma escala mais ampla,
uma lógica do espaço. ,.- "pólos vitalizantes': restituindo uma unidade orgânica aos
fenômenos urbanos, seja interna à comunidade urbana,
A ciência do espaço devia . rr. seja exter~a. isto é, atuando no ambiente. Às vezes, os
mesmo te · ' pois, E_Oroa e onter~ ao
mpo, o ensamento b , . estudos limitavam-se às propriedades formais do espaço
começavam as dificuldades. D ur an1st_1,.co .. ~as_ "aqui
de um espaço formal d e fato, se a c1enc1a e c1encia enquanto veículo dos bens materiais ou das informações.
~
im,nl__,,..;u~i
uma loP-ístic::i uma_,,orma es cial, ela implica
y~eac1e · - .
Tome-se~ como exemplo, o estudo das ~edes à escala do
s~não numa soma d ncia nao podena consistir espaço global ou à escala local.
e constran · · Nessas perspectivas,' não se negava exatamente a exis-
o conteúdo (as pessoas!) E11mentos pe~ando ·s obre
voltarmos para o estud d . contrapartida, se nos tência do político, mas esse era concebido de uma maneira
• 0 o que vem ap particular. Outrora, um outrora não tão remoto, o político
se3a as necessidades das ess . ovo3: ~ssa forma,
se centrarmos a refl - p boas, se3a suas re1vmdicações era percebido como um obstáculo à racionalidade, à cien-
exao so re O t ,d ' tíficidade, como se introduzisse uma perturbação, uma
forma "pura" con eu o e não sobre a
, que garante qu
0 , espécie de irracionalidade. Os homens políticos, pensava-se,
nessa forma sem s fr e esse conteudo vai entrar
0 er certas afj t 7 procediam seja ao acaso das conjunturas, seja segundo
. ue as es oas e suas ne . r~n as. 0-:-- que garante
o ístic . .. . vao interesses particulares, representados, mas geralmente
dissimulados por eles; tendo uma visão própria (e, ademais,
cambiante), não vendo claramente nem as alternativas,
nem os objetivos, esses políticos perturbavam a raciona-
lidade da organização urbanística e a eficácia da ciência.
Quando muito, considerava-se os homens políticos como
dependentes de uma ciência da estratégia; desse modo,
permitia-se-lhes operar tendo em conta que chegaria um
dia em que também eles se submeteriam ao caráter cieµtífico
·assim desbloqueado. · _
~:ty"essas p~r~pe<:fiyas, referentes -~<? P?.líti~o_~-sua-~ -
vençãQ_tg:_!2anística, conservava-se-o-pO$_tY-la..do .ão_espç1ço_
Óbjetivo e P.:_egti;-o._Qr~ ~ __eY!p.ei:it~, agora, que o esp~.ÇQ-~
··pOlitico. o ~pªço não é.um objeto.ci~ntífico_des..cartado pela
ideol<?filª ~u _pela polí~ca; ele sempre.foi político .e_esti:_a-
tégico. Se esse espaço tem um aspecto neutro, indiferente
em relação ao conteúdo, portanto "puramente" formal,
abstrato de uma abstração racional, é precisamente porque
60
61
ele já está ocupado, ordenado, já foi objeto de estratégias
· · licando
____ __ •----o- --
mais.
- ~ --d~- . . tos d- e -pro
antigas, das quais nem sempre se encontram vestígíos.._Q_ d b lan_ços financeiros, _If1!Q . --
de~endente
---r- -----d·u ça~o · Trata-se amda....
espaço foi formado, modelado ~ P?rtir de_el~111.e ntos his- elevado estudo os cusfi d- . sua- n-oção. A terceg:a..
tóricõs· ou hãturais,-fuãspopticamente. 0 espaço f.e_olítico · . li · a man o-se - . -
da economia po tIC~~ ;--'...-c-:-- - .. .:::J Ela supoe o estabe-
e ideÓlógicõ:· E tiina.repre_s_entação literalmente P-OVoada dimensão _ _?~e -~:_r~:-esp~ço::::~im~;to dás redes de:
de ideoÍÕgiã. ·Existê uma ideologia do espaço. _Por__quê? lecimento de 1ocabz_açoes, fl . tudo dos centros de:-
.· - es dos uxos, o es
Porque esse espaço, que parece homogêneo, que parece troca, de comumcaço ' A p,rimeira dimensã~
~ .b tal p~r balanços-matéria; a....
dado de uma vez na sµa objetj.vidade, na sua formapura, - · d sumo no terreno. ~- ---
produção e e con.
tal como o constatamos, é um produto social. A prodl!ç__~~ permite uma plamficaçao, rui . .tir. . a ao menos num...
do espaço não ~de ser comp3:rada à prodllç~_deste ou d ·t ais flexive perm1 I '
s~_~ n ª"' mm o m, . àemáquinas (computadores),
daquele objeto particular, desta ou daquela mercaâõr1a."E, certo número de pa1ses, o uso t úmero de países, é:-
i:io entanto, exisJ~iij relações_entre a produção" das coisas e eletrônicas.- Na ~rança :i:~sc~~~:Ceiros, pelos bancos,..
a produção do- ~spaço. Essa se vincula a grupos parti~ajar_es sobretudo pela via d_o~ b - áita "indicativa: ao passo que:
que se apropriam do espaço para geri-lo, para e:x:_e.~orá-Io. que se realiza a plam~caçao . , . centralizada ainda se:-
O espaço é um produto-da história,_com algo outr.o_e.ãJw na URSS a planificaçao autontana e
mais que a história no sentidq ç!_ásJico_do termo ..Por isso, edita pelos balanços-matéria. . .
a ciência do espaço deve repartir-se em vários níveis. Pode - -temporal ela devena ser
Qu_anto à ~r~gr~açao_esi:.~:mo· temp~-que as outras,...
haver ciência do espaço formal, quer dizer, próxima das perseguida teoncamente, ao d . submeter as outras
matemáticas, ciência na qual o conhecimento utiliza numa simultaneidade; ela po en~ O fato é que:
noções tais como os conjuntos, as redes, as árvores, as grades. dimensões à simultaneidade global o espaço. -
Contudo, a ciência não se situa nesse único nível, não pode ela tem curso separadamente. . d - ., L
permanecer formal. A análise crítica define como e de A:.::d:.::e:_m:..:.,,=,.::..:s_p_o_d~e---se- p-e r-~- - .J· fil"- é!.t~ q~~ P?~~~-~=~~ ~~s_e_J~ae
acordo com qual estratégia determinado espaço consta- cu' - - - -- A dº nsoes s1muua-
umaj>i-ogramação total dessas ~res _ 1me_Ela submeteria....
tável foi produzido; enfim, existe o estudo e a ciência dos --- . S, . •ecnocrata erfe1to a u~ ----- - - - -
conteúdos, desses conteúdos que talvez resistam à forma neamente.o_oJ._ . . 't· Conferindo ae>,
- - . . · 00 da c1berne 1ca. _ _
ou à estratégia: ou seja, os usadores. 1 a sociedade mteua ao JUb • . -. - 1·11.strumentos~
--- ---
P . abena utilizar esses
oder. existen~!__ -- .. --- g_u~_s_ ..-_ ___ . ilma quãl-
.,.... -· - -p1 anmca<..:.:
quer ~='~çã~
Pode-se afirmar, situando-se em patamar mais elevado,_ uma eficácia terrível, ela nao unpe - ;1--·- ocrâficã só-
de~ocratic~? No ~o~~~ - ~-;-----f" - Üráscío. hino totaL
que a planifiqção tem~trê~ dim~ns_g_es. Primeira: a plani~ 1- , . 0 a p antfü:açao uem __ .- --·
ficação:.,.~ ;~;t-quantificávrj: cifrável -ell_!Joneiada.s_jle t hances de vmgar atraves das 1§_~-- __ --- ·- . -,-
em- e ----- ·· _ _ ~-==::.:.---;-
ue O lano _. tota1 seJ·a um penge>-
trigo, de··cimento ou de aço. Essa dimensão depende da Por agora, nao pare~e q -p a dimensão espaço-
concepção corrente d.a economia política e de instrumen- iminente; tem-se a impre_ssalo que as outras duas, que~
tos precisos de análise: de matrizes. Segunda: jl~~zra;- 1 . d - se articu a com
- .._ ..__ tempora am a nao . 1 d harmonizadas entre sL
aliás, não são tão arhcu a as ~u
62
A dimensão espaço-temporal existe independentemente. Durante todo _º__p~rJ~do qu_e ~<:~l?-ª .de ..terminar,~
\ ~re~~i-~ a ;spécie de símbolo po~tico, ne~gen~~~~l
_Quant~ ªº. espaço. ele tem, poi~_~<?.Q!iegil_des formais.
- ou relegado ao segundo plano, .4~~ d~symªva nao se _sabia
E~istem tecmcas articulares, _~o_br_e tudo as técnicas de
ca-culo muito bein o que: um resíduo, algo que aparecia aqui <?u ~.
-._ , -de · - -qu_e_p~rmitem
---~r~Y!_sa~~ · · ·l?!?
UIJ)_a c~r.ta - _grarna5ão.
-escapando à ação racionalmente conduzic!ª.:_Qra, ~ª!?-~= -~
.-E_~XI~tem o.s_conteudos.? que isso prova? Já sabemos que a
que também a na~~za é formada, modelada, transforma~a.
ciencia do espaço, repartida em vários níveis não constitui
Que; em larga medida, ela é um pró"dutõ -dã ·açãô, que a
um~ ~iência unitária e total, que ela não c~lmina numa
log1stica do espaço •A gora, m · d o mais . 1onge, isso
. -2,rópria face da"Teirã, "l"~fo-é,-apáisagem, é-óbrãnumàna.
_ prova que
existem contradições do esp_aço. Q métpdo_p.ar,a.abardar Hoje a natureza aind?- é considerada, de acordo com uma
os- problemas do espaço na-__o· P-_o___
de. consistir
. . . umcamente . certa,ideologia, comó simples matéria do conhecimento
--~ -- ----- - ___
~um m~t~do _furmJi),_lQgic~ ou Iogís{íç~i ~aiialisanélo as e como objeto das técnicas. Ela é dominada, controlada.
-contrad1çoes d o ~_spaço na sociedade ,- ·- · · ·e na prática - -- socíal,· Na medida em que é controlada e dominada ela mesma se
ele deve e pode ser> também • • -- , um._ a· l_e't·.lC{J__.
me'tod_O__Jg. distancia. Ora, de rep~!!t~ _se perc~be_q1:1~ ao ~~r ~<2:tJ.trolada
ela é devastada, ·ameaçada de aniq~amento, ameaçand~_'.3-0
._. --- - s da.1ueia.
_Se_partimo ·...1 '· d e-que .o espaço é poljtic(), ele depende
mesmo tempo _a espécie humana, ain~á ligada à-natureza,
(a~~Im com~ sua teoria e sua ciência) de uma dun.la
cnt1ca, elapropna · poli· , . de direita e a crítica ---- :r.:de.. d-e se ver arrastada para o aniquilamento. Daí a necessi-
tica: a cntica
esquerda. A _crítica de direita é, grosso modo~-utnãcrítka _dade d~-uma estratégia. Ei_~ a natureza_poli!i23:da. O que
da bu~o~racia, das intervenções .estatistas, na medida em não é motivo para uma reflexão simplesmente técnica,
q~e tais mtervenções perturbam a iniciativa "privada", ou ou epistemológica, ou filosófica, conquanto a uma dupla
~eJa, os c~~itais. Do mesmo modo, a crítica de esquerda crítica, a crítica de direita e a crítica de esquerda. A crítica
e uma cntica. da burocracia · e d a mtervençao
. - - estatista, . de direita? Divaga em lamúrias sobre a beleza desaparecida
na ~edida em que esse! interv:enção não considera, ou das paisagens, sobre a pureza e a inocência da natureza
considera
. _, . m a1 , os usad ores, a pratica --, : social,-. quer dizer, ·- que se distancia; um róusseauísmo que parecia anacrônico
-ª :P~ª~~a-~rba!1~- Gostaria de me âeter um pouco nessa torna-se atual. Lamenta-se o desaparecimento das alegrias
2
distmJªº da cr~tica de esquerda e de direita. Ela implica simples e sãs; recorda-se do tempo em que a 1le-de-France
e supoe que ~XIstam conflitos e contradições no espaço, -propiciava paisagens admiráveis aos olhares felizes, antes
sem º. q~e nao se compreende os conflitos da "crítica". da suburbanização. Já foram feitas numerosas campanhas
Essa ~1s~nção foi abandonada, nesse período em que tudo em favor da natureza. Levada a cabo por Georges Duhamel,
p~eCI~ s1:°1plesmente formulação epistemológica de uma um acadêmico venerável, uma dessas campanhas, contra o
açao tecmca
. · Observemos um pouco o alcance desse duplo barulho, tornou-se célebre. Agora, Bernard Charbonneau
conceito. ' e aplique
. mo- lo a um exemplo que pode parecer, acaba de publicar sobre esse tema um belo e eloqüente livro,
num pnme1ro mome n t o, am · d a mais . paradoxal que o de Le jardin de Babylone. 3 ·
espaço: a natureza.
65
••
•• Onde tudo isso vai levar? Numa grande nostalgia
passadista
. , , , numa lamentaçao - so 6re a natureza perdida .
das quais há luta intensa, emergem: a água, o ar, a luz, 0
espaço. É em função dessa luta que é preciso compreender
••
proêfüçio ~m função da; néc'essid:ãdes s9ciais; Po~~_:: _s_e
para exterminá-la. ·
conseqü~~teme11:!_~_p_r~y~r! p_O!" vql!a do ano ~ -~__m
_E: como se dizia na filosofia clássica, são os "elementos" ;oclalismÕ-mundial_que I]âO mais terá muito em comu_m
•• -'- ª
~gua, o ar e a luz - que estão ameaçados. Estamos
cammhando para lill.lllencias
· · A
ternveis. E preciso prever
• , ,
com. o que Marx chamava de socialismo, e que, tod~via,
dele decorrerá ou com ele.terá uma relação mais.ouro.enos-
•
••
sera pr~c1so reproduzir o que foi a condição elementar da
produçao, a saber: a natureza. Com o espaço. No espaço.
Pode-se
, _ , , então, coIocar a questao:- em que e por que essa
E nesse sentido que a cntica aa pohtica concernente
espaço e à natureza é uma crítica de esquerda. O que eSt e
ou aquele "prospectivista" não admitiria. Pouco importa.
cntICa e de esquerda?Est - e, uma cntica
, • feita em nome ---...
••
.-- Desde agora, assim como o -~spaço, a nature~~ encoQ.tra-_se
• a nao (~ ,'
d e determinado g --
rup0i parti·do ou agrerruaçao
. _ de esquerda . politiza.da, pÕrqµeestá ins~rida em estratégias ÇOJ).~Çi! g__tes
.. . --: ..,,.
N-
ou inconscientes. O ordenamento de parques nacionais etc.
•
ao ~e trata de uma crítica levada a cabo em nome de
~ma 1~eo!ogia m ais ou menos classificada à esquerda. já é uma est; ~ia, embora uma pequena estratégia, talvez
~ p~ec1so Ir ao cerne das coisas. Pode-se pensar que daqui uma tática. Mas seria preciso ver muito mais longe.
•• 66 67
---·--·--------------- · - - - - - - - - - - - -
i
espécie de grande oscilação, ou de grande movimento incontestáveis da tecnoburocracia. Mas era impossível s<:
pendular que arrasta a sociedade françesa, em que o fazer compreender dizendo, por exemplo, que _as pessoas se::
estatista (curiosamente batizado de "social" ou "coletivo") entediam. Onde? Na Suécia, nos Estados Umdos? Talvez
se opõe ao "individual" e ao "privado': hoje a balança Não na F~ança! O tédio, não sendo fato mensurável, nã<
pende nitidamente para o lado do individual, quer devia ser levado em consideração, salvo como tema jorna
dizer, da iniciativa "privada" e dos capitais. O objetivo lístico ou de chacotas. Também não era permitido falar d◄
dessa crítica é evidentemente preparar o. terreno para os espaço ~epressivo; isso não era "sério"; o espaço objetivo 1
capitais que buscam o investimento mais rentável. Esses objeto de ciência era neutro, politicamente ...
capitais procuram um segundo circuito, anexo ao grande · Ao· menos momentânea, essa vantagem da situaçãi
circuito normal ou habitual da produção e do consumo, na atual não deve fazer esquecer os seus riscos. Eis um dele::
eventualidade de declínio desse grande circuito. O objetivo
0 v Plano considerava intocável a centralidade urban..c:
é o de inscrever completamente a terra e o habitat na troca a herança preciosa da história, caracterí~tica esse~cial d
e no mercado. A estratégia é normalizar esse circuito cidade européia e ocidental; era preciso mante-la n
secundário, o imobiliário, salvaguardando-o, talvez, urbanismo, sem, por outro lado, levar a cabo uma anális
como setor compensatório. Quanto à crítica de esquerda, satisfatória dessa centralidade. Contudo, já faz algu.r
ela toma como ponto de partida o usador, o habitante, tempo que se fala de u~a crise da centralidade: do dep t:
considerado não apenas em quantidade, à maneira habitual recimento dos centros. E evidente que a centralidade le""\i
de cifrar o problema da moradia, mas em qualidade. Na à saturação, da qual a menor é aquela dos veículo~. Ent~
prática urbana. a crítica de direita anuncia o fim dos centros, a dispersa
Na situação atual, o que é inleressante não é apenas a das atividades e da população, por conseguinte, urr
introdução oficial da crítica de direita. É, também, e digo segregação agravada, cedo ou tarde, das populações.
claramente, o fim de um certo terrorismo. Falo de um A crítica de esquerda, a meu ver, deve mostrar que
duradouro e danoso terrorismo intelectual. A pressão da cent~alidade é -coiisfi~tiva da vi<Iãurbana, q':e_se nao 1
técnica, dos técnicos e tecnocratas, da epistemologia, das -centiãlidade, não há mais vida urbana, que a pratica urba.i
pesquisas de natureza puramente técnica e epistemológica, é a~da--..no seu~~-p_elo des_lo_ç~~nto da cenLI aJ
conduzia a um terrorismo intelectual. A burocracia sempre d;de _Nesse sentido, a c;ítica deve mostrar cada vez me:
faz reinar um terrorismo. Há o que se deve e o que não se fundamente ~~~prafuncionalidade dos centro~ Alie:
deve falar. No últimp decênio, havia o que se considerava ero -- .
. ela não deve esconder as_dificuldades. Se eXI.Stem cQD.ll:
sério e o que não era considerado sério. O espírito de serie- <lições do espaço, elas aparecem também a esse nível, ~
dade era, e continua sendo em muitos lugares, a expressão centralicraâe" não paãé se declarar, se ãfumar se coJ a<
de um terrorismo latente, ligado, ademais, ao sentido da
sem problema~. EsJ~º~-_!~ _e e ~?;:1:°entos dialé~c◄
responsabilidade, ao respeito da competência, qualidades
. ---------
de deslocamentos da centraliâ"ade; existe a saturaçao:
-- -
68 69
•• d ~ ~~a centralidade p or s1· mesma, da qual talvez
1 características artesanais e deficitárias tendo desaparecido,
••
- 7 • • ...1 -
• .
a e:iage-nehroe -nma
~~id~ P<,n:~~
11·
P~- ----- --- - ~ b a n o Esto
·
.~~~tr~ll?ª
'
e, de uma conce~
t d ' .
as perspectivas modificando-se, pode-se confiar esse setor
ao capital~smo privado, posto que se tornou rentável.
apenas uma orientação. -- · u mos ran o, aqm,
t Não esqueçamos um detalhe histórico de uma impor-
Atualmente, o VI Plano amea a . . tância extrema. A proeriedade d..Q_~9J9,_e_dif~~~~ ?_U não~é
t do urbanismo oficial p . . ç exclmr a centralidade
· nmeira nota· du t - de origem feudal. Para compreender bem o que se passou,
t centros comerciais, enorme : r--an e esse tempo,
fpreciso lembr~ que o proprietário fundiário, qiiêr· seja
•• toda espécie de ser,,.; · s, ~e _conStituem, cercando-se de
.......ços, propiciando
é uma prática do espaço· d fi t uma nova concepção pr~e~ie!ário de__!_e rras ou d_e irnóY~!~2 ~'- iI_l.~'::Í~~~~!e, úi.h-
-p_~rsonagein diferente do capitalista industrial. _O capita1
não se encontram • 'd e ª o, esses centros comerciais
► segundo lugar q
1so1a os el .
. ' es constituem redes. Em t_nobiliário e o capital imobiliário não são os mesmos, eles-
' O ue vai persisti ' • não são-geridos do mesmo modo. Um signo e umã prõvã.
decisões ou se)· a r e ª centralidade das
' ' 0 centro reunindo O d . disso é que durante as duas guerras mundiais houve mora. -
a informação a potê . p po er, a nqueza,
' ncia. or consegui t ,. d tõria dos aluguéis, o que foi uma maneira de fazer recai.r
centralidade vai en b . _ n e, a cntica a
co nr nao a d' 1 - .e • sobre os proprietários fundiários algumas dificuldades.
mesma mas o fortal . isso uçao e.1etiva da
ec1mento de um d 1 . Creio que nunca se ouviu falar de uma moratória do!:
duplamente contestável· d ª upa centralidade,
centralidade das decisõe~ as r~ ~s ?e centros comerciais, a dividendos do capital industrial. A mobilização das riqueza!':
fundiária e imobiliária deve ser é:ompreendi_~~--~I!_lO UIIlc:
que a ideologia neolib a1'ver. a erras fortalezas do Estado,
er vai encobrir das grandes extenso·es do cápítalismo fmàn~eiro, desde un::
Tenhamos a corage d . , , . · certo número de anos; a entrada da construção-~õ-çirc_ui"t<
Em que consiste O urb ~ e Ir as u!tt~as conseqüências. e.
industrü~l, bancário . finan~eiro foi um dos objetive>
vãsta e-p õlivalente opa;is~o ~s~ l!!~mo decênio? Numa estratégicos qurante_o último decênio. Isso ~_completame~t
raçao um ·• • .
cando seu objeto e sua ob·etivi a c1~ncia mcerta, bus- lógico, completamente coer~ntenasocie.dade.talcomo _e 1
onde os buscava u 1, . dade, nao os encontrando
, · ma pratica dece t . ,. é. Mais exatamente, esse circuito do im<?biliário foi, durar.ri
Isso e outro assunto S ' r o, mas cientifica? ·muito tempo, um setor subordinado, subsidiário; pouéo
· eguramente 1 u · IA
instituições e de ideol .
~ g i a , u~ª- !!!aneira
1:1ª misce anea de pouco se tornou um setor paralelo, destinado à inserç:.a
·----=-i..7
prou1ematica , •
urban . - .. -- ----- de
--- m
__- ascarar a no circuito normal da produção-consumo. Embora ele s~_
socialização das
- --- -
·pe~aº? sdeu co_n~un~o, e, mais aind~
-- se as uro-encias O normalmente um setor compensatório, pode até tomar-~
1 J[él?
Esfãdo e pelo setor público -de u b - ? -~.9.~tr~-~2 um setor principal se o circuito normal "produção-consurn...◄
ai~~-~ ~E_t~~!}al _da . pro~tÍ-ao m setor def~sac!_o, atrasado, arrefecer, se houver recessão. Então, os capitais encontra...:
d~cênio, setor defJ_çitári~"~: nãd;lo menos n? _i~í~io d ~ no imobiliário uma espécie de refúgi~,_~m territór
sociedade. Essas car · t · , .
. , - -
dommio urbanístico ist , h b.
ac enstICas atras d d
bs~an~f!, d_ec1s1v_o parai_
a as a produçao no
- e
_suple~;."e~tar compleroeótar de expioraçãoi__~m geral is
, o e, a Itat e espaço urbano, essas ?ão dura muito, é -ü.m-fenômen~ ~~-~~~<:?"· Na Espan.1::
70 71
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no curso d~ss~s ~os de crescimento rápido, durante esse Em suma, evocamos aqui uma espécie de vasta polí~~~_a
famoso dece?10, P_?~e~se observar o capitalismo espanhol
atolar-se no rmobiliano e construir, perante o subdesen-
_do espaço, um ordenãmento prospectivo que preveria o
fuÚuo, oii seja, a desapàrição; a"cfesfrufçao, ·a autodes-
vo~vimento, uma gigantesca fachada moderna. Em certos truição da natureza, nfó tergiversàrido~ não sê·afüstãnâo,
paises,_ co~o a Espanha, a Grécia, esse setor tornou-se não minimizando os per~~f T~! políticã ºà óº"espãço não
essencial,
_ numa economia
. que exi·ge m· t ervençoes,
- d as
procederia simplesmente acumulando os consti~ng~ -
qu:-is sabe-se mmto bem em que consistem. Noutros ~entos; ela procuraria reunir a apropriação do t~:1:11_.P?!
pa1ses, co~o º ·!ªPªº1-.9
~~':u_rs_~--~ b i l i ~ i o ~ ~º- ~-Sp.-ª_çQP-elÓs11 sa·dOi:.es,:_p.elà.s"iri.d.i.YÍdüOS ~elos.grupos.
_c ompens:~ as ~ _cul1~des do circuito normaj ~p_r~~u_çã(?_- Ela buscaria unir essa_a.P!"Opriaçã~__d-º~-~P_3:ÇC? à escala mai_s
çonSumo e _c~n_segurr uma retomada~ é um fato corrente ã.nipla com a org<!ntzação ~..9~Í<?_econômica, tenc!.9~ontc3:
e mesmo previsto, quase-plãnific;d~~ - ---- - -------
um fator de importância capita[ deúãdo-de lado pelos
o paradoxal, ~ ~ô~i~~.-é -qu;-a crítica de direita, que ·prospectivistas, a_~aber, a ~omple~ifi_~~iãÓ-_d~~()A~]~d~; -õ
enc_obre to_da uma sene de operações - papel habitual ·fato de que a sociedade torna-se cada vez mai_s complexa e
da ideologi: - se considera revolucionária. Que diz M. diversificada. A meu v~~<; se.rfa_Qprojeto ou oprograma
Chalandon. Que a extensão dos pavilhões suburbanos é -reurnaesquer&1ºquese oc_uparia, enfin_i, d~sses pJpble!I!:~S.
uma revolução. Em verdade, o neoliberalismo oficial es- o que oigo· e perfeitamente utópico, pois isso supõe não
conde uma concepção setorial da gestão econômica uma apenas uma esquerda inteligente, mas modificações
estratégia
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diversificada • -re · - •
.1, m-se a unpressao que se quer econômicas e sociopolíticas profundas. Lembro uma tese
~iferenc1ar as fórmulas de acordo com o setor: agricultura ., que tive a oportunidade de sustentar aqui e alhures. !foj e,
mdústria• imobiliário· Na agnc · ultura po d er-se-iaobservar
. ' ::-~ mais que nunca, não existe pensamento sem utopia._~c_:)~-
n;-u~to bem as fórmulas de reagrupamento com caracte- entao, se n__os contetitarmos.em C0fl-Statar, e-m-ratifi_c_ai__o_que
nsticas qu~se s?cialistas, ao passo que no imobiliário, em temo;;~b os olhos, não iremos longe, P~t~ª11~_fere~~s COIJ?:
contrapartida, e o capitalismo privado que prevalece. õsolhosfíxados no real. Como_se diz: seremos realistas:~.
, A _questão sobre o êxito _ou o fracasso de urna tal política mas não perisâremos! Não existe pensamento qu_e não_
e mais ou menos a segumte: na indústria, incontesta- explore ·u mã-possi1Jilidad~, que não tente encontrar_lJf!:1-ª-..
velmente, constituiu-se o que Galbraith denomina de orientação. Evidentemente, desde que se evite o pos~!~ -
:ecnoes~ru~, ou seja, ~ grupo de técnicos, de elevada vismo acâbrunhante, que não significa outra coisa-senão
ompetenc1a, c~pazes de,mtervir eficazmente na gestão. No a aÜsêncía-ãe ~~am.ento, -ehéontramo-no~,-âiãiítê .das
setor do urbarusmo, no último decênio, constituiu-se uma fr~otei~~,-bastanteêlífíc~isde-dísce"rrur, entre o póssível ~
tec~oestru~a que manteria sua posição sob a cobertura ~ impossível-E liõfe,-ÕÕ -entanto, esped~e~!~-~~~?__~io
da ideologia neoliberal? ... que nõs concerne, nãõ-hápeilsaniento sem utopia. Os
arquit~tos, como os urbanistas, o sabem perfeitamente.
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•• · Quanto ao espaço francês, temos, como noutros lugares,
três camadas de fenômenos: de início a natureza, o que
função dos grandes trajetos europeus, o Padog. 5 Durante
dez anos, pessoas muito competentes trabalharam nesses
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países, as regiões, seguida de uma camada de transformações sua autodestruição!
históricas, notadamente durante o período industrial.
Enfim, temos as estratégias atuais que perturbam ou levam Há uma dezena de anos, assim foi, por exemplo, com
ao declínio as produções anteriores no que concerne ao a construção de um grande aeroporto internacional em
•• tempo e ao espaço. O resultado, como se sabe, é perfei- Estrasburgo, que a colocaria em boa posição para se tornar
a
•• tamente contraditório e incoerente. Tem-se, de um lado,
o "deserto francês~ 4 o subdesenvolvimento de toda uma
-·efetivamente cápítaJ da Europa. Urri dia souhe-se que ele
não seria construído. Nunca se soube bem como e por que
•• estudos muito avançados visando uma descentralização em do espaço. A centralidade parisiense _continuara a ser
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fortalecida? De todo modo, foi preciso começar uma descentralização efetiva e o laissez-faire neoliberal no
descentralização mitigada, sabiamente dosada para não que concerne às tendências à centralização política na
comprometer os privilégios do poder central. França. _
Se c?nsiderarmos agora a existência daqueles que são Os problemas estão ligados; no caso do laissez-faire,
den_o_~unados, por um neologismo bastante curioso, ,(Bs" haverá centros de decisão, de potência, de poder, de riqueza,
de informação, intitulados formações "quaternárias".
~coloca-se m~s de um ~roblema. _Qual _é_~ s~
_capa~~- ~de de adaptaçao? Su_as ~nentações_eocantram-se Na perspectiva dessa centralidade decisional, que até
- defi!J.l~_as? Qual é .ª sua ideologia, ã süa auteriomia?-Dit~- poderia se fortalecer em benefício das críticas neoliberais
da centralidade, a política do espaço corre o risco de levar a
de outro modo, ·repitamos a questão: quanto -à organização
urbana e à política do espaço na França, existe uma desigualdades de crescimento e de desenvolvimento ainda
tecnoestrutura estabelecida no decênio passado? maiores que no passado. Em princípio, essas desigualdades
de crescimento e de desenvolvimento foram combatidas,
. De to?º modo, esses decisores têm opçõe·s diante de mais ou menos corrigidas; poderia chegar um dia em que
s1. _Eles
________ __ -~ tre_sol uç_Q~~
tem que _escolher - _ç..o.ntrad.1torias.
. , .
elas seriam agravadas de maneira concertada, ou seja,
Todas as contradições do espaço se desenvolvem . .Eles utilizadas pelo poder central. Nesse q1.so, ocorrerá algo
.pode~-prever um or?enamento de equihbrio, perseguinAo de extremamente grave: uma espécie de transferência
a p~l~ti~a d~s metropoles provinciais - mas quem diz do colonialismo na metrópole, um semicolonialismo
equilib~10 d1~ estabilidade -, ou então pode~ prever e das regiões e das zonas mal desenvolvidas em relação aos
produz~ o efemero. Pode-se conceber casas..? eqaj.p@lentos- centros de decisão e, sobretudo, ao centro parisiense; não
que senam descartados _~o fin~l de alguns anos, co-~ o existem mais colônias no sentido antigo, mas já há um
fa~emos_com guardanapos e pratosdepapeIPor-que não? semicolonialismo metropolitano que subordina a esses
Fm preciso que as empresas e os metalúrgicos de Moselle centros elementos camponeses, operários estrangeiros
se sub~etessem às mudanças na produção, foi preciso em número considerável, em seguida também muitos
transfen-los ?ªra Dunquerque, não se sabe por quanto franceses pertencentes seja à classe operária, seja mesmo
tempo. Considerando as rápidas mudanças nos métodos à intelectualidade, o todo submetido a uma exploração,
e ~as condições de produção, pode-se prever e planejar o concentrada quanto aos métodos, mas mantendo os
e,fe~ero ou, ao c_o_n trário, tender para o máximo de equi- elementos em estado de segregação espacial. O que justifica
hbno e de estabilidade. Essa é uma opção na política do e confirma essa apreciação é, no que me toca, um estudo
~spaço que está na ordem do dia, urna escolha em meio permanente do complexo Lacq-Mourenx, nos Pirineus,
as contradições. · mais uma série de pesquisas noutros lugares, sobretudo
Eis, portanto, alguns elementos da proble~ática: na região parisiense. É inútil dizer que essa situação seria
escolher entre o equilfürio e o efêmero, opção entre a explosiva. Aqui, peço aos que criticaram minha posição que
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•• não confundam a tempestade com a meteorologia. Sou o
meteorologista, mas não sou eu quem faz a tempestade .
• como os perigos e as ameaças incluídas na situação. coin um ú~ntído ·soâoTógicotiata-se menos de um conceito
que de uma image~~ uma rn_et_áf.ora. E~sa imagem pode
-► (Conferênda proferida no Instituto de Urbanismo de
Paris, em 13 de janeiro de 1970. Espaces et Sociétés,
mascarar a qÜestão essencial: para onde vamos?
Não é menos certo que essa "mutação" é caracterizada
► Paris, Éditions Anthropos, n. 1, nov. 1970.)
por crise~ I!!úl!JP!~s que se ·imbricam umas nas outra_s,
► desde as crises econô~icãs e as crises da e_c onomia põlítiça,
► até as crises na arte, na literat:ura, no cinema, no teatro
► na univ~§id~de~ na juventude etc. Uma questão se cólocc
► nessé·cipoal, nessa interferência de crises múltiplas: -~~s~~
uma crise e crises mais importantes, mais essenci~~ que ~ :
outras? B-que-se vaHerapartir daqui fundamenta-se num.
/ ·-----.. hipótese, segundo a qual a C_!"i_se da realida~~ urbana é mai
!-··•· !
(mportante, mais central que esta ou aquela .outra.
\_''
2. É comum fal~·da sociedade mdustnãl-:-Esse term•
é criti~ável, pois ele ~ão-eviâencia cert~s rélaçõe_s _s_q_çj_~j
fOn;titutivas-do-processo de·industrialização. As relaçõt:
de próâüçao exigem uína àriális~ que o termo «soci~_ç lad
--~-- . ··- - - - ·•- . . ·- --
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