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HENRI LEFEBVRE

,. ESPAÇO E POLÍTICA

Tradução
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitor: Ronaldo Tadêu Pena MARGARIDA MARIA DE ANDRADE
Vice-Reitora: Heloisa Maria Murgel Starling SÉRGIO MARTINS

EDITORA UFMG
Diretor: Wanáer Melo Miranda
Vice-Diretora: Silvana Cóser

CONSELHO EDITORIAL
Wander Melo Miranda (p,esidente)
Carlos António Leite Brandão
Juarez Rocha Guimarães
Márcio Gomes Soares
Maria das Graças Santa Bárbara
Maria Helena Damasceno e Silva Megale BELO HORIZONTE
Paulo Sérgio Lacerda Beirão
Silvana Cóser EDITORA UFMG
2008

-- - - - - - - -
- ---
© 1972, Éditions Anthropos
© 2008, da tradução brasileira, Editora UFMG
Título original: Le droit à la ville - suivi de Espace et politique. Paris: Éditions
Anthropos, 1972.

Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem
autorização escrita do Editor.

Lefebvre, Henri
Espaço e política / Henri Lefebvre; Tradução Margarida
L448dPm
Maria de Andrade e Sérgio Martins. - Belo Horizonte: Editora
UFMG,2008.
SUMÁRIO
192 p. ; il. - (Humanitas Pocket)
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-7041-687-2
Tradução de: Le droit à la ville: suivi de Espace et politique.
1. Filosofia. 2. Ciências sociais. 3. Economia.
4. Urbanização. I. Andrade, Margarida Maria de. II. Martins,
Sérgio. III. Título. lV. Série.
CDD: 1 PREFÁCIO À TRADUÇÃO BRASILEIRA 06
--./'
CDU:100
INTRODUÇÃO 17
Elaborada pela CCQC-Central de Controle de Qualidade da Catalogação da
Biblioteca Universitária da UFMG
O ESPAÇO 36
~

Este livro contou com apoio financeiro do CNPq. REFLEXÕES SOBRE A POLÍTICA DO ESPAÇO 58

A CIDADE O URBANO 79
Editoração de textos: Maria do Carmo Leite Ribeiro
Revisão de texto e normalização: Márcia Romano
Projeto gráfico: Cássio Ribeiro ENGELS E A UTOPIA 89
Revisão de provas: Alexandre Vasconcelos de Melo
Produção gráfica: Warren Marilac AS INSTITUIÇÕES DA SOCIEDADE
Formatação e montagem de capa: Diego Oliveira "PÓS-TECNOLÓGICA:' 106
Imagem de capa: Detalhe da fotog1-afia Bulls and bears, de Orla Schantz,
e fotografia Cíclico, de Carnila Pereira M. . A BURGUESIA E O ESPAÇO 146
Editora UFMG
Av. Antônio Carlos, 6627 - Ala direita da Biblioteca Central - Térreo A CLASSE OPERÁRIA E O ESPAÇO 164
Campus Pampulha - CEP 31270-901 :.... Belo Horizonte/MG
TeL: + 55 (31) 3409-4650 Fax:+ 55 (31) 3409-4768 NOTAS 178
www.editora.ufmg.br ed.itora@ufmg.br
Esse estudo psicológico e sociológico pode referir-se
ao corpo e aos gestos, à imagem do corpo e ao espaço da
vizinhança. Alguns desses aspectos, como, por e~emplo,
as questões concernentes à lateralização do esp~ço: ~tere~-
sariam à arquitetura e à urbanística. Co~o ai d1s~ngwr
O ESPAÇO ou indicar simetrias, dissimetrias? Como ai constrmr urna
esquerda e uma direita, um alto e um baixo, correspondente
aos gestos, aos movimentos, aos ritmos do corpo?
Pode-se eh:iborar urna semântica dos discursos sob~e
0 espaço. Poder-se-ia _~onc~ber t~bém_~a s_em~olo_gi~
·do esp~ço: parte de uma semiótica __geral._ Tod2__ espa~~-e
1. O que será exposto situa-se no nível teórico. Vai na significante? Em caso positivo, de q11er ~g.}.S P-r~9_
S-ª!l:l~nte,
direção da filosofia, embora não da filosofia especula- todo es1;aço ou fragmento de espaço nao se~~a um_ text?
tiva, dogmática e sistematizada. Dessa filosofia clássica, so · ele ró rio contextc;, de Jextq_s _tspeçífjçqs,.1st,q_ ~
mantém-se a preocupação de definir perspectivas e ·escritos: inscrições, anúncios~~c.?. De.s_ort~ q~~ ~ ~re.ciso
conhecimentos à escala global. Como esses conhecimentos ou reencontrar, _ou construir os có_d igos dess~s _çliv~rsas
não se encontram mais separados da prática, trata-se de mensagens para decifrá-lasA
metafilosofia. · Nessa perspectiva, o espaço aparente~e!}te in~j?ni_fi~
Poder-se-ia dizer que esta exposição é «interdisciplinar•: cante~Ou sej~Çneüiro:·não significaria de início sua ms1g-
no sentido de uma crítica das disciplinas parcelares. Ela nificância, ·seu ca_cáter v~zio2 _~~.µi _s~~~dª~---~~-r~~~és ~~ssa
evita o empirismo descritivo, mas não comporta conceito ~eutralidade. desse vazio aparente, alguma coi~qJ10 n1y~l
operacional. Ao contrário, tentará mostrar como determi- da sociedade inteira, isto é, da sociedade neocapitali~.!a?
nado conceito operatório coloca questões: "por quê? para Nesse nível, não seria a própria unidade dess_a socied~de,
quem? no interesse de quem?" sua globalidade, que apareê<:~#ii p.~ sêiode~ta!"~~:_i li~ade"
espadal.: aparentemente disjm~t~ e sep~rada, por exe~plo,
2. Existem vários métodos, várias abordagens no que uma cidade nova? · · ----- -··- ·-
concerne ao espaço, e isso a diferentes níveis, de reflexão,
de recorte da realidade objetiva. _P or exemplo, pode-se 3. O interesse teórico geral dessas pesquisas, a gestual
estudar o que alguns denominam biótopo; pode-se estudar e a lateralização do espaço, a semiologia e a leitura dos
o espaço percebido, a saber, o da percepção comum à escala espaços, é o de mostrar como e por que, hoj~ ~ agora, os
do indivíduo e de seu grupo, a familiá, a vizinhança, aí sentidos tornam-se imediata e diretamente teoncos, como
compreendendo o que se chama "o ambiente" (Umwelt 1) disse Marx (Manuscritos de 1844).2

37
••
•• Nessa perspectiva, ~I-.~lª~ªº da teoria com a_p..rá1iç_a
n_~o é~ de uma abstraçã.o tr~11~cepde11:te a ~ma imegja-
tjd~qe_ou a wri "cc_:mcreto" ant~rjor. A abstraçã~-teó~ica já _
Por que este preâmbulo? Porgue é possível gue e:>
__espaço desempenhe um papel ~u uma função ,d~cisiva..

•• esta no concreto. E preciso aí revelá-la. No seio do espaço


percebido e concebido já se encontra o ~sp~ço teórico e a·
no estabelecimento de uma totalidade, de uma logica, d e
um sistema, precisamente quando não se po~~j3_duzi-lc::>

•• teoria do e_spaco. ·
4. Um método pretensamente científico consiste em
· -· · ·
desse sistema. dessa lógica, dessa_totalidade. E preciso, ac::>
contrário. >
mostrar sua função nesta perspectiva (prática.
e estratégica).
•• pôr, ou em supor. um sistema e uma lógica preexistentes;
tal método afirma que o objeto estudado deve situar-se no
5. Do mesmo modo,.se há um "ponto de vista de classe': é
~~:~ar
•• seio de uma totalidade pressuposta.
Ora. não se tem o direito de postular um sistema já exis-
impossível nietodologicameJ?te partir_dele, é precis?
a ele. Partir do "ponto de vista de classe" e pressupô-lõ;ã..
maneira de um sistema oposto ao sistema existente, é

•• tente - um sistema social, ou um sistema espacial, ou um


sistema urbano, por exemplo - para nele inserir elementos
rejeitar o saber existente como integrante do sistema e
construir um outro "sistema" sobre a recusa desse saber,

•• parciais cuja racionalidade (ou irracionalidade) derivaria


dessa suposição, seria deduzida do conjunto. Não se tem
e, não obstante, utilizando seus elementos, seus fragmentos,
sua terrrúnologia, suas palavras e seus conceitos. Aqui há u n::1

•• mais o direito de..pressupor um sistema sarialou_polít:ko,


teq_~i.co_eo~i_d_~ol(>@c_o. ~~~i~_CO!P.-_9__.Q._ão_s_e_p_o_de_p..r.essuP-_or
dilema: se estamos encarcerados num certo sistema, nossas
palavras e nossos conceitos fazem parte dele. O projeto de

•• 1:1-!Qé!_)ógi.Ǫ-.,.prt.e xist~»te:_Com efeito, isso significaria


atiibuir a esta sociedade. a sociedade neocapitalista, uma
coerên cia já alcançada, uma coesão já efetuada. Se há
quebrá-lo teórica e praticamente é vão. Se houvesse um ta.J.
sistema, tão for te, tão pregnante quanto alguns o supõem. >
o protesto e a contestação não teriam nenhum sentido.

•••
sistema, é preciso descobri-lo e mostrá-lo, ao invés de partir
Quanto ao projeto de sajr de um sistema de classe para..

.•
dele. Se partirmos de tal hipótese, instalamo-nos numa
um outro sistema de classe, ele imQlica a idéia de pular de
tautologia dissimulada, pois não faremos mais que deduzir
um dogmatismo a outro por um salto verdadeiramente
as conseqüências da pressuposição. Assim também para
prodigioso~
a lógica. Se em alguma parte existe uma lógica. e mesmo
6. Esta exposição parte, portanto, de uma problemática.
•• uma lógica concreta (por exemplo, a de urna estratégia),
também é preciso descobri-la, e~pecificá-la no que difere definida, ou seja, ela não parte de uma definição particular,
não mais que de uma problemática indefinida e muito gera.l

•• dessa ou daquela outra lógica concreta. Supô-Ia, admitindo,


por exemplo, uma lógica do capitalismo, uma lógica da
mercadoria. uma lógica da sobrevivência, é raciocinar por
que se estabelece na consciência. na cultura, na ideologia..
etc. Trata-se da problemática do espaço. Contudo, não se

•• analogia com tal démarche já efetuada, visando a coesão e


supondo tê-la atingido.
põe a questão: :o gue é o espaco?': Questão que se colocaria.
ao matemático ou, talvez, ao metafísico. Que não paire

•• 38

-•
39
teoria do urbano e à sua ciência e, por conseguinte7 a uma , ~ •'•
•.••
mal-entendido a este respeito. Nojnício, _trata-se does~_o
'
I; viyi o, vinculado _à pr~?cà social. A. problem~t~c_c:t qu~ se -problemática ainda mais vasta, .a d~ so~ieda~e.g~b~. Para ~
c~oloca a partir desse espaço compreende um copj_l!!}to_4_e nós, aqui, é um viés ou um front pelo qual se pode abordar
problemas parciais que tem um traço que os aproxima: a _ um conjunto de questões.
· «~spaciali~~de': -- · · -· Entre essas questões encontram-se as colocadas mais
/"'·-··
/ a) •qual é o estatuto teórico da noção de espaço?
Qual é a relação entre o espaço mental (perce-
bido, concebido, representado) e o espaço social
acima e estas:

a) encontramo-nos num conjunto fec~ad<], num


sistema estabelecido, de tal modo que sua força
'-·••
'I

(construído, produzido, projetado, portanto, recuperadora seja irresistível até seu desmorona- tp
notadamente o espaço urbano), isto é, entre o mento em bloco? Se é que ele pode desmoronar ~
espaço da representação e a representação do
espaço?
de fato?

b) existe saída, abertura, passagem, possibilidade


•◄
b) qual é a inserção do espaço (representado, elabo- ~

de uma transição, seja pela ação, seja pelo pen-
- rado, construído) na prática social, econômica ou samento e pela imaginação, seja por ambos?
política, industrial ou urbana? Onde e quando a t
concepção do espaço atua? Quando ela se mostra
eficaz e em quais limites?
8. Primeira tese ou hipótese. O espaço é a forma pura,
a transparência, a inteligibilidade. Seu conceito exclui
a ideologia> a interpretação, o. não-saber. Nessa hipótese,

4
N .B. Haveria, caso se quisesse levar a análise ao limite,
4
a forma pura do espaço, desembaraçada de todo conteúdo,
uma dificuldade análoga àquela da lógica e àquela da 4
(sensível, material, vivido, prático) é uma essência,
reflexão sobre os fundamentos das matemáticas. Toda uma idéia absoluta ~náloga ao número platônico. A ◄
definição do espaço, ou pesquisa sobre o espaço, implica filosofia cartesiana, e mesmo a crítica filosófica kantiana, ◄
um conceito de espaço, no mínimo, para enunciar e clas- conservam essa noção. Considerando que a lógica constrói
sificar as proposições. Nessa problemática, o espaço é uÍn espaços de atributos, que os cientistas constroem espaços
"puro" objet:o de ciência. ~o que concerne ao "vivido': o de configurações com um certo número de variáveis
es a o nunca é neutro e "puro". O ue já coloca uma e parâmetros, o espaço se apresenta como coerência e
distância _entre a, problemática do espaço vivido e modelo de coerência. Ele articüla o social e o mental, o
espaço ep1stemologico. posto como neutro. teórico e o prático, o ideal e o reãl.
7. A problemática do espaço vivido é um aspecto impor- Os conceitos se localizam, situam-se com seu enca-
tante e talvez essencial de um conhecimento da realidade deamento no seio do espaço intelectual, do mesmo modo
urbana. Desse modo, a proble~átiçg. do es.12<!:Ǻ pertence ~
;;. -- . - .

40 41
·• /t·"
•·
:e que os objetos, os grupos, os indivíduos no espaço efetivo, ou metafóricos, mas como rigorosos, são de uso corrente

•• socialmente realizado. O que permite a redução prévia do


caos fenomênico.
na epistemologia. 5
Objeções:~bipótese implica a liquidação do tempo _

• ••
As matemáticas de um lado, e do outro, a filosofia (a
fenomei:ioJogia e, sobretudo, a epistemologia), resgatam
essa essencialidade, ou, mais exatamente, a estabelecem e
.histórico, como do tempo vivida e, aliás, de uma maneira
desigual (muito mais em Michel Foucault que em Georges
Gusdorf, por exemplo). Ela comporta igualmente uma ten-
a constituem. A coerência do discurso se desenvolve no dência para a «cientificidade" abstrata, para o saber "abso-
••espaço mental, que a garante. A epistemologia define uma
topía (ouse define por ela), a saber, um conjunto de lugares
luto" constituído por um inventário do passado (filosofia,
ideologias, literatura etc.) e inscntó rto espaço atual.
•• e de percursos, topologia abstrata e geral completada por
uma topologia de existências concretas .
:g~~a teoria do espaço não fica só n9_!~rrep9_epi~t~.mQ-
lógico; ela o ultrapa~sa_4e ~a m~neira que merece ser
•• Eis alguns exemplos. A lingüística de Chomsky implica
um conceito do espaço. Assim, ele declara que existe um
mencionada. Alguns arquitetos ainda se vêem como os
senhores do espaço qu..e_ç_oncehem e_rea1izaro Eles.se vêem .

•• nível lingüístico no qual não se pode representar cada frase


simplesmente como a seqüência finita de elementos de
·ou se fazem ver como os demiurgos capazes de operar, na
s_ociedade, sua concepção e sua definição de espaço. O

•• um certo tipo, engendrada da esquerda para a direita por


al~m mecanismo simples, mas que é preciso des'7obrir um
qe_mit,1rgo pJ-ª.tônico ençarnou-se na matéria, no~ números
e nas proporções, nas idealidades transcende?-te~. _Esse

•• conJunto finito de níveis ordenados de alto a baixo. 3


Sabe-se que a psicanálise define um ou vários tópicos,
espaço tem as seguintes características: _vazio e puro, lugar
de números e de proporções, por exemplo, do número de
ouro; ele é visual, por conseguinte, desenhado, espetacular;
•• p or exemplo, o "id': o "ego': o "superego". Procurando o
sentido do discurso filosófico, Jean-Michel Rey escreveu: ele se povoa tardiamente de coisas, de habitantes e de
"usuários"; na medida em que esse espaço demiúrgico tem
•• O sentido se dá como o poder legal d e substituir os
significados na mesma cadeia horizontal, no espaço de
uma justificação, ele se avizinha do esp~ço abstrato <;los
filósofos, dos epistemólogos. Sua confusão não ocorre .s em

•••
. uma coerência regulada e calculada de antemão. É nesse riscos. Repitamos que o maior perigo e a maior objeção
e~paço centrado, teológico, onde a cumplicidad~ do é a evacuação do tempo concomitantemente histórico e_
s ignificado já se encontrava estabelecida, é aí que o
vivido.

•• sentido sempre precede a si próprio.4

Corpus, recorte, montagem, agrupamento, localização,


9. Segunda hipótese. O espaço social é um produto ~
da sociedade, constatável~ __dependentê antes de trufu, -f1

•• esses termos espaciais, considerados não como metafísicos


da constatação, portanto, da descrição empírica_ar~.tes de '\
q_ualquer teorização.

•• __
__,._ --
42
43
...• ~ cilada na qual a burguesia capt~F-ª -~ classe operária
•• meio e o modo ' ao m es~~ tempo, de uma organização do
consumo no quadro da soc1·edade neocap1ta -- , -1·1sta
----- isto
. é --::r.:::-
acaba senao, nõ'"lim.1.te, -sua--própria arma_dilh~: espa_ç c

••
- . ua doentio o_u espaço de doença social. De todo modo,.neSS<=
soCiedade buro~rática de consumo dirigido. E~ verd~d.e, hipótese o espaço não seria uma representação inocente
ª~aparente
. r-odfinalidade
- d- e, - da sociedade , o çonsl!-_ mo, se defme -. mas veicularia as normas e os valores da sociedade bur
••
-· -
.
Pela-- rep uçao a 1or d . ·- -- · ---
-b-· , -- - ---- -· -çª- ~-tr~balh9, ou se~, das condições guesa e, de início, o valor de troca e a mercadoria, isto é, <
d_9_tra alho produtivo. · - - - - --
fetichismo. No limite, não há mais exatamente ideologü3

. ••~'--·\
••
q
b,s cidades
ue essa h. 't
falsa cons •
hipótese D
,

1po
A
seriam tão -somente umdades
corre1atas as grandes -·-··
ese

uoid anes
-- · -
reencontr
• ,
:1 llf
,
.
:1 · produç~,o
de consumo
- . . - ._. Pod - d .
---:-·· -~ .
a, ª sua maneira, a teoria da
c1encia, dJª meneio nad a, a propos1to
. e acor o com ela, haveria:
e-se 1zer
, . da segunda
mas somente falsa consciência, com os discursos que el
engendra.
Ol;?jt;_çg_es: _essa vinculação à produção, do espaço er
geral e do espaço urbano em particular, abrange somen1
a reprodução dos meios de pr(?dução, dos quais faz parte

•• ª· urna consciência verd ad eira,


ao menos
tad
. a da classe operária
como .co nsciencia poss1vel, represen-
I fil •A • , '
força de trabalho. Ora, essa hipótese convém ao capitalisro
do século XIX, ao capitalismo concorrencial, cujo problerr

•• a pe a 1 osofia .6 )
principal era re-produzir materialmente seus meios <
produção (máquinas e força de trabalho) e permitir

•• b. atotar
essad consciên

bGabeF
d · tota1mente verdadeira da
cia'.
1 ª. e, opor-se-ia uma consciência falsa a da
urgues1a de~eA partn· . d essas pressuposições, Joseph '
consumo dos produtos, ou seja, a compra no mercad
Sistema contratual ( o contrato de trabalho), sisteu
jurídico (o código civil e o código penal) quase bastava
•• espaciali
. . nvolveu uma tese segundo a qual a
e_ zaçao - caracteriza a "falsa ' consciência"
para assegurar, com a venda da força de trabalho, e~
re-produção dos meios de produção. É claro que n e s~
·•• ( , . , .d nsc1encia morbida, a do alienado,
uma ia.1sa co .. . ,
1
condições o es_paço era, então, simpl~s_m_~~t_e._ _~cion..a
esqmzm e), caso-limite da representação falsa
e·sse--despaço sena· o lugar da reificação, um lugar·
E instrument~_-A cidade tradicional tinha entre ou s e:
•• ora -- 0._!~mP?2... fo_ra da vida e da práxis. Nessa
perspectiva po
mental
. - - - - -=----
.: . r c~nse~mD:_!~•-Q ~SP-?-ÇQ_j nstru-
. !
f_Unção de c~~sumo, comp ementar à produção: Ma
situaçãq _muOoU: ·o ·rrio"dO dê produção capitalista dev(:

•• d e defimr
t_er!~ ~ma função específicà: No lu ar
a mtelig- ·r-:ili-..r-d·--r;::.,---- __ . -;- - -:- ,- g.
9-efender num front muito mais amplo, mais diversifice:
~ mais _cQmplexo, a saber: a re-produção das relações

,:•.•
- . -;--· - . 1u 1 . _ua e ,pnmeira hipotese)

• ele· d• e. fi1n1na
S
0C1a1s
dessas
--
ao
a rea11·zaçao- --re1ficarão
---
.
- .::r - --
~ela~es~ tem~? q~e _<1 _f-ª.l~Jl_f -º.!:l~ ~iência
Ü 'vel - ~e~~ - teona do espaço IJ1entalinte.:..
das.xe1 aço-es'
- ~ ·-
_rodução. Essa re-produção das rela ões de rodu ão l
coincide mais com a re ro u ão dos meios de rodu~
ela se efetua através da cotidianidade, através dos laz~-!
te~ria ~: ~po~ ~-~º esp~ço sociaf cç;~o cilc:t~-ª,..À da e ttrra, através da escola e da universidade, através
spa_ç<:> mteligivel e do primado (filosó-

•• fi co ) d o -espaço s_e opoe - ? pr,i~a~?- - ·ci.o temp.o .

47

• 46
l-
d~ determinadas relações. l?, nesse sentido que o espaço
:i••.
,
extensões

.._
esp e· proliferações

~~;~:~:t~:!~tese.

aço mteiro.
-- -·da· cid
· ;:i__d e a..ntiga,
. ou se1a.
. através
-- -·

Nã~ se pob~e dizer que o espaço seja


inteiro tornã..:se o ·lugai dessa re- rodu ão, aí íncluídos
o es aço urbano, os es a os de lazeres, os es a os i ___ _
~ducativos, os da cotidianidade etc. Essa reprodução_·se
••

coisa ou c 1 - d~~.!92-.9 _J~to_91} soma de objetos realiza através de um esquema relativo à sociedade existente, ~
. -o eçao e c01sas m
mercado · N- · ··
d .
· '. erca ona ou conjunto de
- , cujo caráter essencial é ser conjunta-disjunta, dissociada, ~
. ·· · ·: Pi!.$ .. _ao se pode d1zerJllle se trata si 1·- - - mantendo uma unidade, a do poder, na fragmentação. ~
d, ep u_m
, mstrumento, o mais . unportante
.
0 re_-suposto de toda prod1vãa e de tod
~stana essencialmente ligad"'o a, r -- ---
(sociais) de produÇ N
a
mp e ~ e
dos iostrnment
troca.
d - d s:: -
· epro ~çao a~ rela_ções
O espaço
os,
Esse espaço homogêneo-fraturado não é somente o ~spaço
global do planejamento ou o espaço parcelar do ~quiteto
e dos promotores imobiliários, é também o espaço das
••
41
-- - ao. outras palavra · obras de arte, por exemplo, o do mobiliário e do design.
a terceira hipótese lev d- ,-. s, e~~a t~?.r~~-~-!~.Y-~lve 411
cando-a an o a análise ~ais longe, modifi- É o estetismo que unifica os fragmentos funcionais de um
um pouco Para c dA - ·· - . espaço deslocado realizando, assim, seu caráter homogêneo ◄
c_o mo referência ar~ d o~pdreen -~~la, é precis_o.:toinar
- pro uçao as relac:ões ~ d -
nao a produção no senti.d - -- .- .. :..;:- - pm __u_çao,..e. . e fraturado.
é, o processo da produ -: ~estnt~ dos _eE~~t~~_,_isto Esse espaço, homogêneo e contudo deslocado, recortado
Portanto, es a ça as ~o_isa~ -~ ~~-! ~~-~onsumo. e entretanto ordenado, desarticulado e todavia conservado,
im · . 0 P ç~ ~a prodm;:ao, nesse sentido· - - - éoes a oondeocentro, lodindo;·seeiirfecê~ . orexêm-
plicana e contena em 51. a fim a1·d -- -- --- - · amplo,
1 ade geral a -
comum a todas as ati ·& éf - . ---. .--- _ , ...Q[Ientaçao plo, nos centros comerciais, lugares onde o monofuncional
O espaço seria d VI a es na soCieda~~ _n eo_çapitalista. permanece a regra, mas com um cenário e um estetismo
- - , esse modo um , . d ----
num sentido dº a espec1e e esquema não-funcionais, com simulacros de festas e uma simula ão
mamico comum às f ·a d d
A • '

~- .da Júdjço, É o espaço onde a conexão coercitiva se efetua


trabalhos a· ·d·d
,,
,
IVI 1 os, a cotidianidad '
ª IVI ª· es iv:ersas aos
- ' ---·
efetuados pelos . e, as ~~tes, aos es:eaços por meio de um sistema de acessos às partes deslocadas: o
relação e , arqmtetos e pelos urbanistas. Seria uma espaço, ao mesmo tempo informe e duramente constran-
um suporte d · - A · -~ - -- · -
i_n clusão na sep araçao. - - e -~e_r~n~ias na dTssociação, de gedor das periferias e dos subúrbios; onde os cortiços, as
.. . - - -- - - - ~ -
favelas, as cidádes de urgência completam os subúrbios
Seria, portanto
concreto h : um espaço ao mesmo tempo abstrato- · residenciais; onde as normas reinam, prescrevendo as
u ~ o, que se deveria
, omogeneo e desartic 1 d - utilizações do tempo, enquanto se devota ao espaço toda
reencontrar nas cidades n s
na arquitetura e t b . ovas, na pmtura, na escultura e espécie de discursos, interpretações, ideologias e valores
' am em no saber. «culturais", artísticos etc.
Precisemos bem e insist Os lugares de lazeres, assim como as cidades novas 2 são
espaço homo A amos sobre essa análise de um
sentido ampl~~np:~de d~d·culado~ Trata-se 4~_produção no p.issociados da producão, a ponto dos espaços de lazeres
uçao e relaroes
- - -- ___ x___so · · e re-produção
__~~ais parecerem independentes do trabalho e "livres». Mas eles

49
4-8
••
• ••
encontram-se ligados aos setores do trabalho no consumo or-
ganizado, no consumo dominado. Esses espaços separados
da produção, como se fosse possível aí ignorar o trabalho
deslocado, separado, tempo de trabalho, tempo dito livre,
tempo imposto etc.
Para compreender esse esquema do tempo e do espaço,
•• produtivo, são os lugares da recuperação. Tais lugares, aos
quais se procura dar um ar de liberdade e de festa, que
s~ povoa ·de signos que não têm a produção e o traball:w
é preciso retornar ao capítulo mal conhecido. ~e _-~arx, ao
final d'O capital, intitulado «A fórmula trimtar1a • NessE

•• or si nificados, encontram-se precisamente li ados


rodutivo. um t1p1eo exemplo do es a ~
difícil capítulo, Marx explica a sociedade burguesa, a saber,
a conjunção-disjunção de seus elementos. Retome~os o~

•••
~o mesmo tempo desloca o e unificado. São precisame~te termos da análise. Há, na sociedade em ato, ou seJa, n ('.]
lugares nos quais se reproduzem as relações de .p rodução, produção e na repr~~ução .4~s_re!ª-Çíies:
- ---- -- -- - --· - ----
o que não exclui, mas inclui, a reprodução pura e simples
a. o( ~~pital, e o i~~ro-.do empreendedor, isto é, d a
•• da força de trabalho. Tudo isso se lê nesses espaços,
mas com dificuldades, pois o texto e o contexto estão /
i
/
·burguesia; ·

•• embaralhados (como num rascunho). O que se lê mal se


concebe claramente se se parte do conceito de espaço, de
um lado desarticulado e separado, e de outro, organizado
--1 b. a propriedade do so\o, com as rendas múltiplas
dó subsolo, da água, do solo edificado, etc.;

•• e re-unido pelo poder.


A esse espaço, cujas "propriedades" situam-se na
c. o -trabalho, com o salário destinado à classt
operária.

•• articulação da form a e do conteúdo, corresponde um


tempo que tem as m esmas "propriedades': O t~mp--º,_be~ Esses três elementos, unidos n a sociedade em ato, sãc

•• Sl:_lpremo,_!llE Cadoriasuprema, se v~nde e se compra: tempo


de trãbalho, te~p-~_-de co n ;~~o, d_~_lazer, de p~~c~~o -~!.<:·
representados como _se_paradQ.s, _e _sua sep_aração te.ip. urr
sentido objetiv~~is cada grupo l?~E~~~ r~ceber urna.par:(
determlnããi do _"rendimento'~. glo_bal da. so_çJrgad_e~ H~
•• Ele ~e !}__!g~.!!!?_~- ~~}unçã.9 dq_tr~pro~u!i-Y_'! e da
reprodução das relações ô.e prod~o .na_c:.otidi<l:!!_idade. O
tempo "p.e rdiâo" não o ~ ~ãt Üdo mundo, pois é preciso
portãô.to, aparência alienada das relaçõ~-~~ ci~s.?. a_par~~<::1-•
q~e -~~resenta um-p~el-<Yª1J~~~-a- Hus~9_~a serar_açac
•• pagar caro por ele. O pretenso "temp_o livrLup@nas o
tempo separado e mantido como t~ nos guadr.os..gerais.
nµma u~de, a da domina ão~ __gQ p.9der econom1co e
político da- burguesia.

•• Quanto ao tempo imposto; aquele d~s -tr~sportes e elas


formalidades, ·á se sabe como ele se vincula .d e maneira
- À ;eparaçfu}é ª~!Ilesmo tem_p}) falsa e_verd_~ ª~ira. O :
elementosqÜe aparecem separados aparecem como fonte :
•• deslocadi ao tempo do trabalho. - -- distintas da riqueza e da produção, ao passo que é soment◄
sua ação comum que produz essa riqueza. Enquanto fonte.

••
0 tempo homogêneo enquanto tempo manipulado,
organizado em quadros definidos e ao mesmo tempo distintas da riqueza social, os elementos parecem recebe

•._ __ 50
51
menos aberrantes, cuja relação com o conhecimento ou o
a parte que lhes cabe do "rendimento" nacional, o que erro variam conforme se tome como referência à práxis
mascara o fato da riqueza social coincidir com a mais-valia
burguesa _(s~paração e dissociação) ou uma outra práxis
global. Esse capítulo decisivo d' O capital se encontra no
livro III, seção 7, cap. 48. 9 possível.
O es a O ar uitetônico e urbanístico, en uanto es aço,
~~-~~-ª hip_9tç~~-1-~- ideologia ~?i~g_çk_com a prática: a
s~paraçao nasoçi~4acle b_u rguesa. A ideologia é de aceitar
tem essa dupla característica: desarticulado e até estm:~-
çado sob a coerência fictícia do olhar es ª,ode coa oes
a ~issociação .e__considerá= la .real..Abando-na-:-se, assim, a
µm~;:tde c~n.cr__et~ que censtitui a sociedade-burg~e~a e ~ de oacroas disseminadas. !,le tem esse carater parado~al
que se tenta definir aqui: junto e sep~rado. E dessa,ma_nerra
~ce~ta-se_a ilusao..que ela coloca em.s~u l_~gar_{ao invés da
que ele é concomitantemente dommado (pela tecmc_a) e
J!lªIS ~val~~-- g_l9b.~l:_a_t~prj~ do rendimento naciGnal - do
-
r~~ _e de suas diversas_füntes). Uma vez admitidoÕ
não-apropriado (para e pelo uso). Ele é imediato e mediato,
ou seja, pertence a uma certa ordem pró~a, a ordem da
esq~ema conjunto-disjunto que caracteriza a prática da
vizinhança, e a uma ordem distante, a soCiedade, o ~stado.
soc1~dade burguesa, pode-se afirmar o que se quiser. A ide-
A ordem próxima e a distante só têm uma ~oerê~c1a apa-
ologia? Trata-se de verborragia ao lado .dos "assuntos".
rente que de modo algum impede a desart1culaçao.
_ Nossa ~ipó~ese sobre o espaço conjunto-disjunto se
~cula, pms, diretamente, ao esquema tripartite ou trini- Esse espaço depende de interesses diver ente de os 1
ç].iversos que, no entanto, encontram uma_unidade no E.sta_d o.
t~10 da sociedade capitalista, segundo Marx. Essa hipótese
situa-~e entre_a da falsa consciência, que exclui a ideologia, Ele depende de uma encomenda e de uma demanda que
e a da ideologia, que implica interpenetração do verdadeiro podem não ter nenhuma relação e que, contudo, encon-
e do falso, e exclui a falsa consciência. tram um denominador comum sob a predominância deste
ou daquele interesse. Quanto à divisão do_trabalho entre os
Há uma práxis: as separações sustentadas, mantidas,
que intervêm no espaço, a saber, o arqmteto, o pro~~t~r
portanto, representadas através da ação que mantém os
imobiliário, 0 urbanista> o empreendedor etc., essa divisao
ele:ne~tos da sociedade, mesmo na sua dissociação. Essa
do trabalho realiza esse misto de unificação imposta e de
açao e p~ecisamente o esquema do espaço, esquema
gerador ligado a uma práxis, a uma realidade e a uma desarticulação que se procura analisar.
verdade nos ~mites desta sociedade. Trata-se, cons.e qüen- Poder-se-ia mostrar que o espaço da pintura e da escul-
temente, de ideologia ligada a um certo conhecimento tura constitui precisamente esse espaço retalhado, dividido
nos limites de urna prática social. Essa representação é ao em pedaços e, não obstante, determinado globalmente.
mesmo tempo aparente, pois os elementos que ela dissocia 12 ..Repitarn~~ q~e o espaço inteiro torna-se o lugar _ga
enco~tram-~e li~ados, e real, porque os elementos que ela ~eprodução -~as relações de produção.
mantem estao dissociados. Ela propicia discursos mais ou
, . ue os técnicos e os tecnocratas
Outrora, o ar e a água, a luz e o calor eram dons da de todos, ou, ao contrario, q . d d na-0 pode sair de seu.
l Esta soc1e a e
natureza, direta ou indiretamente. Esses valores de uso podem reso1ve- os.
A

le proponha elanã()
entraram nos valores de troca; seu uso e seu valor de uso, d çiue este ou ague .-O- - · ' . _
com os prazeres naturais ligados ao uso, se esfumam;
?
~spaco: .PºU 11
., ·-1- oE.ta--so o e ten-der ara a sistematlz~.
- <- ~
. . ao d
.ode su era- o. . a u'ma lógica QUé nunca po e
ao mesmo tempo e que eles se compram e se vendem, desse espaço, ou se1a, par ·
tornam-se rarefeitos. A natureza, como o espaço, com o -~fetuar até o limite. .· ------~- - · d"
espaço, é simultaneamente posta em pedaços, fragmen- . ' . - ·does aço",{Essa e:xpressao m ica..
tada, vendida por fragmentos e ocupada globalmente. É Falamos ~e\proêtuçaR ã~ ·!qui~etônica e urba~í~a,
um passo adiante na re ex_ _ ~ -:-i{do-se ao conjunto da_
destruída como tal e remanejada segundo as exigências da - ult assando esses setores e r_tlerJ _______ - - -- . . . . . --- -
sociedade neocapitalista. As exigências da i-ecoridução das -___. :,~P - .: - ue não consideramos o espaçe>
soCiedade. Ela quer dizer ~ d ento (Kant), seja d<=>
relações sociais envolvem, assim, a venalidade generalizada - . . eJª o pensam
como um dado a pnon s
da própria natureza. Em contrapartida, a raridade do - . . . ) Vemos no espaço o desenvolvirnent<J
mundo (:pos1tiV1smo . . . s ortanto o es a e
es aco, nas zonas industrializadas e urbanizadas, contrastá . 1 D stm imo ' .-
de uma atividad e sacia . ~ . , , tal Contudo, e:
çom o vazio dos espaços ain a esocupa os, os esertos · . eométr1ço Jsto e men ·
t,errestres e os espaços interplanetários; a carestia do espaçO 1
~oCial do espaço g
-
,
rP arobie;na
n e fato toda sociedacl_<(;
, // ex.pressao pecroaue eflra toda saciedad 1
assim ocupado e rarefeito é um fenômeno recente, com « » es aço, ou, caso se pc
d
pro uz « seu,, ~ ço O que h,a de novo na socü:dade_erI
~onseqüências cada vez mais graves. •
produz um espa · _ de produção torna-s ·
Esse es aço, sendo lu ar e meio da prática SQ.CiaLna . - das re1açoes
que a manutençao , técnicas e as forças prod'Lli
sociedade neocapitalista (isto e, ;; rep -·- · á-_r açoes determinante, na qual, poredm, as rtante? O que signific:::.
de produção), assmãla os seus limites. . al um nível esconce · .
tivas cançaram- ? s·gnifica "coisas, . » obJ"etos, mercadoncL!: ·
Os dirigentes políticos, cuja tática exprime atualmente a palavra pro d uzrr · 1 - urna superestrutu...I
-t se espaço sena
as alianças e compromissos entre as forças armadas e Em termos mar~s ~, es . ca italista ou não), coII:3.
a tecnocracia, têm alertado em vão a opinião pública, da sociedade dita mdustnal ( . p ·a? Seria somente urr.
A

. , d calsa consc1enc1 .
formado comissões e comitês de estudo, criado adminis- sugere a h 1potese ª 11 , • outras<
representação mais . pro:xnna
, · da pratica que as ·
trações e ministérios; em vão têm suscitado proposições;
Será neces~ªrio.._Rortanto, precisa - r estes termos e es
os especialistas podem se mobilizar, mobilizar os cientistas,
colocar as questões do meio ambiente ou das contaminações; conce1 o: a
-P-rodução____do----
·t - espaço.
·- _,, b" ·· idade
eles podem procurar, conscientemente ou não, deslocar C \ . l' ;ca Uma semelhante am igu
13 i Espaço e agi . . , . ( osta, suposta, impostê3
nesse sentido os objetivos, as lutas políticas; eles podem reencontra. Onde se s1tu~ a lo~ca p - (maLelucidada) ~
apresentá-las como simples etapas para uma realidade mais HoJ· e há um abus~_çurJQS.(}_j a_no~a_o_ "l, . a ◄
elevada, com ou sem a ajuda das ciências humanas. Eles -, . ·- . - 1- - - dos discursos, descrev~-se a og1c -
l_og1ca. Ao ongo
podem pretender que os problemas urbanos, desde já, são - ---
54
--- -------- - - -· - -
,,

vivo': a "lógica do saber" (a epistemologia), a "lógica da encontra-se no fim e não no início. -Dessa maneira,
sobrevivência': a "lógica do urbanismo", a "lógica da ele engloba o que s·e · deixa integrar, como os processos
mercadoria': a "lógica do Estado" etc. Esse abuso coincide · i_!].tegradore5.. Ele engloba aquilo que se deixa reduzir, aí
<:ºIl_l_ o d~ sistema_ (ou as sistematizações com
ãÚSgica que compreendido o imaginário. Essa sociedade não 9~ede_ce
elas ~~hc~m). ~sse abuso_f ~ocJ.~L~~-polítiç__q, ideológico . a uma lógica. Repitamos: ela tende para is_so. Ela não ~
<?U pratico, 1mplicad0-no_disçurso ou inconsciência? sistema. _Ela sé esforça para isso, reunindo a co~_çãQ -~-º--
,?espaço !eria sua lógiça? O espaço ora d~pe~de de uma emprego das representações.
logica preexistente, superior e absoluta, quase teológica, As contradições 4o espaço não advêm de sua forma
ora ele é a própria lógica, o sistema da coerência, ora, racional, tal como ela se revela nas matemátiças._E.las
en_?m, ele _pern:iite a coerência autorizando a lógica da àdvim do conteúdo prático e social e, ·especificament~,.g._o
açao (praxiologia ou estratégia). Reencontram-se aqui as conteúdo capitalista=- _C om efeito, q espc!Ç_O da 5-ociedade
diversas teses sobre o espaço, tomado ora como modelo, ~apitalista pretende-_;e_racionai.quando,. na _pr_á tiçª :>-é !it,
ora ~<>mo instrumento, ora como mediação. -comercializado, despedaçado, vendido em parcelas. Ass~; 4r
-ele é simultaneamente lobal e pulverizado. _El~.J~_~ r.fil_
Proposiçõ~: ,ijão tendo uma lógica jntema e própria,
16gico e é absurdamente recorta . Essas contra 1çoes
0 espaça remete à ló&ica formal e à metodologia ~ai.
· explodem no plano fustitucional. l'{~sse plano, percebe-~e
O espa\_~_comum às atividades _9-i-yersa~ e _p~celares, no
t
quadro 1mpo~to da sociedade burguesa, um _e_s_q _~~~ do q11:~ a burguesia, çl~s_s e dominante, di~_9 e de umcluplo
poder sobre o espaço; primeiro, pela propri~dade prj.vadc1 do
qual essa sociedade se serve para--1:entar constituir-se em
filSÍ,ºDJa, paraafingfr a cõeiêiidà. CÕmoTMàs cã;ando suas
~olo, que se gen~rãlíza por todo o espaço", com exceção dos
direitos das coletividades e do Estado. Em segundo lugar,
s.,ontraâiçoes; àÍ ~duí_ das as·do própr!O espaço, esse c~áter
r.ela globalidade, a saber, o conhecimento, a estratégia, a
ao mes~o ~emp_~ _s.lo6.ãl_ eplll~erizado, cO.ri:Ünto ~ffi_sj!:!!).tO.
ação do próprio Estado. Existem conflitos inevitáveis entre
,A est_rategia d~~ asses ~enta assegurai·ª rep_rodu.J.,.-0'-LLJ...Lc:1-õ
esses dms aspectos, e notadamente entre o espaço abstrato
relaçoes esse!_l_c1ais_ a~~es dq espaço inteiro. Nessa hipótesé,
1 nao fia es a o absoluto, seja vazio~- sé}a pleno, a não ser (concebido ou conceitua!, global e estratégico) e o espaço
imediato, percebido, vivido, despedaçado e vendido. No
-~ tara O p~ns~ento osó co-m_a_temático. O espaço men-
plano institucional, essas contradições aparecem entre os
al e social e_ um espaço espec1 ICO, portanto, qualificado,
planos gerais de ordenamento e os projetos parciais dos
mesmo se nao percebido como tal. É uma modalidade da
produç~o _numa sociedade determi~ada, no seio da qual mercadores de espaço.
contrad1çoes e conflitos se manifestam. · ·-
(Seminários sobre o espaço, realizado em Nanterre,
Existem, portanto~tradiçães.__da__esoaço mesmo se Oxford etc., em 1972.)
di_ssimuladas ou 1:1:1~sc~~das. Nessa_sp~ie_d;de ;,'real,,

56 57
••
•• de orde teó íca. visando implícita ou explicitamente a
•• c__onstituição de uma epistemologia ou seja, de ~ma região
do saber, contendo núcleos de saber adquirido, em suma,

•• R
- /
, EFLE , OES SOBRE /
o que designa o termo epistemologia;
3. Essa reflexão teórica, capaz de alçar a prática urba-

•• A POLITICA DO ESPAÇO nística à linguagem teórica e aos conceitos, consiste numa


d.ênciado es. a o, seja global (à escala da sociedade inteira),

•• seja local (à escala do habitat) .


.Qe maneira mais geral, recordemos, nesse último -

•• decênio era pouco ent~clido ou subentendido põr


to-d a··part~q1ieô- ôl:>jefo porêxc.e lência --~-ª-c~ên~~a
espaço, nao o tempo. Espaço do saber-e·saber do espc3:ço,
-~~--º- (

'-

[ científicidade e espacialidade andavam juntas, ~o mesn:io
. tempo no plano mental e no social;-nm1ra estrutura geral.
Portanto, por meio da_ciência do espaço. a prática-e ~_té~nica
urbanísticas deviam ser alçadas no ârribitô geral da
cientific_~ dade. Essa posição estava implícita em muitos
teóricos - citemos apenas os trabalhos notáveis de Robert
Auzelle e de Ionel Schein. Por meio dessas consid~!ações,
o __e-spaço urbano, outrora integrado_qu~r à JJt_ij_i?,_%:ão
espo.ntãni~ ·ao sítío, quer à cultura glob_al 4_a s~cJed~de,
era isol~_dc;>_~9 conte~o; Ie aparecia C01!1<?_~!11 dado, co!llo
uma diçnensão -específi~~-da_organizaçã~ so_c~~.l; e isso em
relação, primeiramente, a uma ação concertada à escala
mais elevada e, em segundo lugar, às necess_id_adt:~ s<;>c!ais,
elas próprias localizáveis. Tal era o postulado subjacente
ao pensamento urbanístico e ao ensino. Um ooshllacl.-0
m ais · ocu lto era o i ........m...
~ nhi · · ..l ..l
~etJ:V1ua.ue e a « purgóa»i
do espaço urbanístico, objeto de ciência lhe co fernm
um cara ter neutro. O e a Q e a e · dº-.inoe.ente,
do

--- -- -
59
~i-
eu conteúdo, de endia
neutro, das matemáticas> portanto, enquanto objetivo e Outros procuravam determinar, a uma escala mais ampla,
uma lógica do espaço. ,.- "pólos vitalizantes': restituindo uma unidade orgânica aos
fenômenos urbanos, seja interna à comunidade urbana,
A ciência do espaço devia . rr. seja exter~a. isto é, atuando no ambiente. Às vezes, os
mesmo te · ' pois, E_Oroa e onter~ ao
mpo, o ensamento b , . estudos limitavam-se às propriedades formais do espaço
começavam as dificuldades. D ur an1st_1,.co .. ~as_ "aqui
de um espaço formal d e fato, se a c1enc1a e c1encia enquanto veículo dos bens materiais ou das informações.

~
im,nl__,,..;u~i
uma loP-ístic::i uma_,,orma es cial, ela implica
y~eac1e · - .
Tome-se~ como exemplo, o estudo das ~edes à escala do
s~não numa soma d ncia nao podena consistir espaço global ou à escala local.
e constran · · Nessas perspectivas,' não se negava exatamente a exis-
o conteúdo (as pessoas!) E11mentos pe~ando ·s obre
voltarmos para o estud d . contrapartida, se nos tência do político, mas esse era concebido de uma maneira
• 0 o que vem ap particular. Outrora, um outrora não tão remoto, o político
se3a as necessidades das ess . ovo3: ~ssa forma,
se centrarmos a refl - p boas, se3a suas re1vmdicações era percebido como um obstáculo à racionalidade, à cien-
exao so re O t ,d ' tíficidade, como se introduzisse uma perturbação, uma
forma "pura" con eu o e não sobre a
, que garante qu
0 , espécie de irracionalidade. Os homens políticos, pensava-se,
nessa forma sem s fr e esse conteudo vai entrar
0 er certas afj t 7 procediam seja ao acaso das conjunturas, seja segundo
. ue as es oas e suas ne . r~n as. 0-:-- que garante
o ístic . .. . vao interesses particulares, representados, mas geralmente
dissimulados por eles; tendo uma visão própria (e, ademais,
cambiante), não vendo claramente nem as alternativas,
nem os objetivos, esses políticos perturbavam a raciona-
lidade da organização urbanística e a eficácia da ciência.
Quando muito, considerava-se os homens políticos como
dependentes de uma ciência da estratégia; desse modo,
permitia-se-lhes operar tendo em conta que chegaria um
dia em que também eles se submeteriam ao caráter cieµtífico
·assim desbloqueado. · _
~:ty"essas p~r~pe<:fiyas, referentes -~<? P?.líti~o_~-sua-~ -
vençãQ_tg:_!2anística, conservava-se-o-pO$_tY-la..do .ão_espç1ço_
Óbjetivo e P.:_egti;-o._Qr~ ~ __eY!p.ei:it~, agora, que o esp~.ÇQ-~
··pOlitico. o ~pªço não é.um objeto.ci~ntífico_des..cartado pela
ideol<?filª ~u _pela polí~ca; ele sempre.foi político .e_esti:_a-
tégico. Se esse espaço tem um aspecto neutro, indiferente
em relação ao conteúdo, portanto "puramente" formal,
abstrato de uma abstração racional, é precisamente porque
60
61
ele já está ocupado, ordenado, já foi objeto de estratégias
· · licando
____ __ •----o- --
mais.
- ~ --d~- . . tos d- e -pro
antigas, das quais nem sempre se encontram vestígíos.._Q_ d b lan_ços financeiros, _If1!Q . --
de~endente
---r- -----d·u ça~o · Trata-se amda....
espaço foi formado, modelado ~ P?rtir de_el~111.e ntos his- elevado estudo os cusfi d- . sua- n-oção. A terceg:a..
tóricõs· ou hãturais,-fuãspopticamente. 0 espaço f.e_olítico · . li · a man o-se - . -
da economia po tIC~~ ;--'...-c-:-- - .. .:::J Ela supoe o estabe-
e ideÓlógicõ:· E tiina.repre_s_entação literalmente P-OVoada dimensão _ _?~e -~:_r~:-esp~ço::::~im~;to dás redes de:
de ideoÍÕgiã. ·Existê uma ideologia do espaço. _Por__quê? lecimento de 1ocabz_açoes, fl . tudo dos centros de:-
.· - es dos uxos, o es
Porque esse espaço, que parece homogêneo, que parece troca, de comumcaço ' A p,rimeira dimensã~
~ .b tal p~r balanços-matéria; a....
dado de uma vez na sµa objetj.vidade, na sua formapura, - · d sumo no terreno. ~- ---
produção e e con.
tal como o constatamos, é um produto social. A prodl!ç__~~ permite uma plamficaçao, rui . .tir. . a ao menos num...
do espaço não ~de ser comp3:rada à prodllç~_deste ou d ·t ais flexive perm1 I '
s~_~ n ª"' mm o m, . àemáquinas (computadores),
daquele objeto particular, desta ou daquela mercaâõr1a."E, certo número de pa1ses, o uso t úmero de países, é:-
i:io entanto, exisJ~iij relações_entre a produção" das coisas e eletrônicas.- Na ~rança :i:~sc~~~:Ceiros, pelos bancos,..
a produção do- ~spaço. Essa se vincula a grupos parti~ajar_es sobretudo pela via d_o~ b - áita "indicativa: ao passo que:
que se apropriam do espaço para geri-lo, para e:x:_e.~orá-Io. que se realiza a plam~caçao . , . centralizada ainda se:-
O espaço é um produto-da história,_com algo outr.o_e.ãJw na URSS a planificaçao autontana e
mais que a história no sentidq ç!_ásJico_do termo ..Por isso, edita pelos balanços-matéria. . .
a ciência do espaço deve repartir-se em vários níveis. Pode - -temporal ela devena ser
Qu_anto à ~r~gr~açao_esi:.~:mo· temp~-que as outras,...
haver ciência do espaço formal, quer dizer, próxima das perseguida teoncamente, ao d . submeter as outras
matemáticas, ciência na qual o conhecimento utiliza numa simultaneidade; ela po en~ O fato é que:
noções tais como os conjuntos, as redes, as árvores, as grades. dimensões à simultaneidade global o espaço. -
Contudo, a ciência não se situa nesse único nível, não pode ela tem curso separadamente. . d - ., L
permanecer formal. A análise crítica define como e de A:.::d:.::e:_m:..:.,,=,.::..:s_p_o_d~e---se- p-e r-~- - .J· fil"- é!.t~ q~~ P?~~~-~=~~ ~~s_e_J~ae
acordo com qual estratégia determinado espaço consta- cu' - - - -- A dº nsoes s1muua-
umaj>i-ogramação total dessas ~res _ 1me_Ela submeteria....
tável foi produzido; enfim, existe o estudo e a ciência dos --- . S, . •ecnocrata erfe1to a u~ ----- - - - -
conteúdos, desses conteúdos que talvez resistam à forma neamente.o_oJ._ . . 't· Conferindo ae>,
- - . . · 00 da c1berne 1ca. _ _
ou à estratégia: ou seja, os usadores. 1 a sociedade mteua ao JUb • . -. - 1·11.strumentos~
--- ---
P . abena utilizar esses
oder. existen~!__ -- .. --- g_u~_s_ ..-_ ___ . ilma quãl-
.,.... -· - -p1 anmca<..:.:
quer ~='~çã~
Pode-se afirmar, situando-se em patamar mais elevado,_ uma eficácia terrível, ela nao unpe - ;1--·- ocrâficã só-
de~ocratic~? No ~o~~~ - ~-;-----f" - Üráscío. hino totaL
que a planifiqção tem~trê~ dim~ns_g_es. Primeira: a plani~ 1- , . 0 a p antfü:açao uem __ .- --·
ficação:.,.~ ;~;t-quantificávrj: cifrável -ell_!Joneiada.s_jle t hances de vmgar atraves das 1§_~-- __ --- ·- . -,-
em- e ----- ·· _ _ ~-==::.:.---;-
ue O lano _. tota1 seJ·a um penge>-
trigo, de··cimento ou de aço. Essa dimensão depende da Por agora, nao pare~e q -p a dimensão espaço-
concepção corrente d.a economia política e de instrumen- iminente; tem-se a impre_ssalo que as outras duas, que~
tos precisos de análise: de matrizes. Segunda: jl~~zra;- 1 . d - se articu a com
- .._ ..__ tempora am a nao . 1 d harmonizadas entre sL
aliás, não são tão arhcu a as ~u
62
A dimensão espaço-temporal existe independentemente. Durante todo _º__p~rJ~do qu_e ~<:~l?-ª .de ..terminar,~
\ ~re~~i-~ a ;spécie de símbolo po~tico, ne~gen~~~~l
_Quant~ ªº. espaço. ele tem, poi~_~<?.Q!iegil_des formais.
- ou relegado ao segundo plano, .4~~ d~symªva nao se _sabia
E~istem tecmcas articulares, _~o_br_e tudo as técnicas de
ca-culo muito bein o que: um resíduo, algo que aparecia aqui <?u ~.
-._ , -de · - -qu_e_p~rmitem
---~r~Y!_sa~~ · · ·l?!?
UIJ)_a c~r.ta - _grarna5ão.
-escapando à ação racionalmente conduzic!ª.:_Qra, ~ª!?-~= -~
.-E_~XI~tem o.s_conteudos.? que isso prova? Já sabemos que a
que também a na~~za é formada, modelada, transforma~a.
ciencia do espaço, repartida em vários níveis não constitui
Que; em larga medida, ela é um pró"dutõ -dã ·açãô, que a
um~ ~iência unitária e total, que ela não c~lmina numa
log1stica do espaço •A gora, m · d o mais . 1onge, isso
. -2,rópria face da"Teirã, "l"~fo-é,-apáisagem, é-óbrãnumàna.
_ prova que
existem contradições do esp_aço. Q métpdo_p.ar,a.abardar Hoje a natureza aind?- é considerada, de acordo com uma
os- problemas do espaço na-__o· P-_o___
de. consistir
. . . umcamente . certa,ideologia, comó simples matéria do conhecimento
--~ -- ----- - ___
~um m~t~do _furmJi),_lQgic~ ou Iogís{íç~i ~aiialisanélo as e como objeto das técnicas. Ela é dominada, controlada.
-contrad1çoes d o ~_spaço na sociedade ,- ·- · · ·e na prática - -- socíal,· Na medida em que é controlada e dominada ela mesma se
ele deve e pode ser> também • • -- , um._ a· l_e't·.lC{J__.
me'tod_O__Jg. distancia. Ora, de rep~!!t~ _se perc~be_q1:1~ ao ~~r ~<2:tJ.trolada
ela é devastada, ·ameaçada de aniq~amento, ameaçand~_'.3-0
._. --- - s da.1ueia.
_Se_partimo ·...1 '· d e-que .o espaço é poljtic(), ele depende
mesmo tempo _a espécie humana, ain~á ligada à-natureza,
(a~~Im com~ sua teoria e sua ciência) de uma dun.la
cnt1ca, elapropna · poli· , . de direita e a crítica ---- :r.:de.. d-e se ver arrastada para o aniquilamento. Daí a necessi-
tica: a cntica
esquerda. A _crítica de direita é, grosso modo~-utnãcrítka _dade d~-uma estratégia. Ei_~ a natureza_poli!i23:da. O que
da bu~o~racia, das intervenções .estatistas, na medida em não é motivo para uma reflexão simplesmente técnica,
q~e tais mtervenções perturbam a iniciativa "privada", ou ou epistemológica, ou filosófica, conquanto a uma dupla
~eJa, os c~~itais. Do mesmo modo, a crítica de esquerda crítica, a crítica de direita e a crítica de esquerda. A crítica
e uma cntica. da burocracia · e d a mtervençao
. - - estatista, . de direita? Divaga em lamúrias sobre a beleza desaparecida
na ~edida em que esse! interv:enção não considera, ou das paisagens, sobre a pureza e a inocência da natureza
considera
. _, . m a1 , os usad ores, a pratica --, : social,-. quer dizer, ·- que se distancia; um róusseauísmo que parecia anacrônico
-ª :P~ª~~a-~rba!1~- Gostaria de me âeter um pouco nessa torna-se atual. Lamenta-se o desaparecimento das alegrias
2
distmJªº da cr~tica de esquerda e de direita. Ela implica simples e sãs; recorda-se do tempo em que a 1le-de-France
e supoe que ~XIstam conflitos e contradições no espaço, -propiciava paisagens admiráveis aos olhares felizes, antes
sem º. q~e nao se compreende os conflitos da "crítica". da suburbanização. Já foram feitas numerosas campanhas
Essa ~1s~nção foi abandonada, nesse período em que tudo em favor da natureza. Levada a cabo por Georges Duhamel,
p~eCI~ s1:°1plesmente formulação epistemológica de uma um acadêmico venerável, uma dessas campanhas, contra o
açao tecmca
. · Observemos um pouco o alcance desse duplo barulho, tornou-se célebre. Agora, Bernard Charbonneau
conceito. ' e aplique
. mo- lo a um exemplo que pode parecer, acaba de publicar sobre esse tema um belo e eloqüente livro,
num pnme1ro mome n t o, am · d a mais . paradoxal que o de Le jardin de Babylone. 3 ·
espaço: a natureza.

65
••
•• Onde tudo isso vai levar? Numa grande nostalgia
passadista
. , , , numa lamentaçao - so 6re a natureza perdida .
das quais há luta intensa, emergem: a água, o ar, a luz, 0
espaço. É em função dessa luta que é preciso compreender

•• Abas, e_impossível voltar atrás. A crítica de esquerda tenta


ver as implicações e as conseqüências dessa devastação
o urbanis_mo, o que, apesar de suas fraquezas e fracas:os,
justifica em certa medida as pesquisas, as inquietaçoes,

•• da natureza, dessa ·destruição. De fato, há uma espécie


de autod es t rmçao
· - da natureza no e pelo "homem" que
emerge da nat ureza, que nasce · dela e se volta contra' ela
as interrogações. JJ.9rl@tQ, pQf\.e::s~__p_reyer..._a_g~stã~
posse coletiva dQs meios de produção e a ge~tão soaal_ a

••
proêfüçio ~m função da; néc'essid:ãdes s9ciais; Po~~_:: _s_e
para exterminá-la. ·
conseqü~~teme11:!_~_p_r~y~r! p_O!" vql!a do ano ~ -~__m
_E: como se dizia na filosofia clássica, são os "elementos" ;oclalismÕ-mundial_que I]âO mais terá muito em comu_m
•• -'- ª
~gua, o ar e a luz - que estão ameaçados. Estamos
cammhando para lill.lllencias
· · A
ternveis. E preciso prever
• , ,
com. o que Marx chamava de socialismo, e que, tod~via,
dele decorrerá ou com ele.terá uma relação mais.ouro.enos-

•• o momento em que será preciso reproduzir a natureza


Prod ·
, UZir_estes ou aqueles objetos não será mais suficiente;
·
di~ta~te. Ísto sem consid~1;ar_é;l_ç~2acidªd~ r_~~uperado~a ~~
<:apita1ismo_<:_ a_p~~sj.~ili_cJ~~e_~-e~ !á~t~o~1.v:e~--


••
sera pr~c1so reproduzir o que foi a condição elementar da
produçao, a saber: a natureza. Com o espaço. No espaço.
Pode-se
, _ , , então, coIocar a questao:- em que e por que essa
E nesse sentido que a cntica aa pohtica concernente
espaço e à natureza é uma crítica de esquerda. O que eSt e
ou aquele "prospectivista" não admitiria. Pouco importa.
cntICa e de esquerda?Est - e, uma cntica
, • feita em nome ---...

••
.-- Desde agora, assim como o -~spaço, a nature~~ encoQ.tra-_se
• a nao (~ ,'
d e determinado g --
rup0i parti·do ou agrerruaçao
. _ de esquerda . politiza.da, pÕrqµeestá ins~rida em estratégias ÇOJ).~Çi! g__tes
.. . --: ..,,.
N-
ou inconscientes. O ordenamento de parques nacionais etc.


ao ~e trata de uma crítica levada a cabo em nome de
~ma 1~eo!ogia m ais ou menos classificada à esquerda. já é uma est; ~ia, embora uma pequena estratégia, talvez
~ p~ec1so Ir ao cerne das coisas. Pode-se pensar que daqui uma tática. Mas seria preciso ver muito mais longe.

•• : trmta anos, talvez antes, haverá, ou ao menos poderá


aver (s~j~~os P rud entes!) posse e gestão coletivas (i) do
Aqui, ouço os realistas: "Você nos fala sobre o amanhã:
sobre o depois de amanhã. Fale-nos de hoje:' De acordo,~

•• que subsistira da natureza: {ii) da reprodução da natureza do


espaço, d~ ar, da luz, da água e, mais amplamente ainda, 'das
preciso ser realista. Mas acontece que às vezes o ~anh~ ..:e-::
~hoje, e y9~sa realidade pode ficar na fr..ei;te ~o- ~ar~_~ ! -

•• novas r~rz~ades. As antigas raridades foram o pão, os meios


d: subs1stencia etc. Nos grandes países industrializados já
ex~iprlo,_c_l~_!epente, da ~c_>ite t~ra o dia, p~~e~ ?-~~~~r
históri~s_extraordinárias d~luição ...

•• ~a superprodução latente desses meios de viver que outrora


oram ~aros, que provocaram lutas terríveis em torno de
sua rar1~ade. E agora, não em todos os países, mas vjrtual-
Reit~t:9, portanto: que existe uma política do espaço,
pois o espa.ço é p Õlitico. -

•• mente a escala planetan


d esses bens· não obstant
,
' · h,
a, ª uma produção abundante
.
e, as novas raridades, em torno
Quanto ao urbanismo, atualmente, a crítica de direita
enfatiza a casa individual e a iniciativa privada. Nessa

•• 66 67
---·--·--------------- · - - - - - - - - - - - -
i
espécie de grande oscilação, ou de grande movimento incontestáveis da tecnoburocracia. Mas era impossível s<:
pendular que arrasta a sociedade françesa, em que o fazer compreender dizendo, por exemplo, que _as pessoas se::
estatista (curiosamente batizado de "social" ou "coletivo") entediam. Onde? Na Suécia, nos Estados Umdos? Talvez
se opõe ao "individual" e ao "privado': hoje a balança Não na F~ança! O tédio, não sendo fato mensurável, nã<
pende nitidamente para o lado do individual, quer devia ser levado em consideração, salvo como tema jorna
dizer, da iniciativa "privada" e dos capitais. O objetivo lístico ou de chacotas. Também não era permitido falar d◄
dessa crítica é evidentemente preparar o. terreno para os espaço ~epressivo; isso não era "sério"; o espaço objetivo 1
capitais que buscam o investimento mais rentável. Esses objeto de ciência era neutro, politicamente ...
capitais procuram um segundo circuito, anexo ao grande · Ao· menos momentânea, essa vantagem da situaçãi
circuito normal ou habitual da produção e do consumo, na atual não deve fazer esquecer os seus riscos. Eis um dele::
eventualidade de declínio desse grande circuito. O objetivo
0 v Plano considerava intocável a centralidade urban..c:
é o de inscrever completamente a terra e o habitat na troca a herança preciosa da história, caracterí~tica esse~cial d
e no mercado. A estratégia é normalizar esse circuito cidade européia e ocidental; era preciso mante-la n
secundário, o imobiliário, salvaguardando-o, talvez, urbanismo, sem, por outro lado, levar a cabo uma anális
como setor compensatório. Quanto à crítica de esquerda, satisfatória dessa centralidade. Contudo, já faz algu.r
ela toma como ponto de partida o usador, o habitante, tempo que se fala de u~a crise da centralidade: do dep t:
considerado não apenas em quantidade, à maneira habitual recimento dos centros. E evidente que a centralidade le""\i
de cifrar o problema da moradia, mas em qualidade. Na à saturação, da qual a menor é aquela dos veículo~. Ent~
prática urbana. a crítica de direita anuncia o fim dos centros, a dispersa
Na situação atual, o que é inleressante não é apenas a das atividades e da população, por conseguinte, urr
introdução oficial da crítica de direita. É, também, e digo segregação agravada, cedo ou tarde, das populações.
claramente, o fim de um certo terrorismo. Falo de um A crítica de esquerda, a meu ver, deve mostrar que
duradouro e danoso terrorismo intelectual. A pressão da cent~alidade é -coiisfi~tiva da vi<Iãurbana, q':e_se nao 1
técnica, dos técnicos e tecnocratas, da epistemologia, das -centiãlidade, não há mais vida urbana, que a pratica urba.i
pesquisas de natureza puramente técnica e epistemológica, é a~da--..no seu~~-p_elo des_lo_ç~~nto da cenLI aJ
conduzia a um terrorismo intelectual. A burocracia sempre d;de _Nesse sentido, a c;ítica deve mostrar cada vez me:
faz reinar um terrorismo. Há o que se deve e o que não se fundamente ~~~prafuncionalidade dos centro~ Alie:
deve falar. No últimp decênio, havia o que se considerava ero -- .
. ela não deve esconder as_dificuldades. Se eXI.Stem cQD.ll:
sério e o que não era considerado sério. O espírito de serie- <lições do espaço, elas aparecem também a esse nível, ~
dade era, e continua sendo em muitos lugares, a expressão centralicraâe" não paãé se declarar, se ãfumar se coJ a<
de um terrorismo latente, ligado, ademais, ao sentido da
sem problema~. EsJ~º~-_!~ _e e ~?;:1:°entos dialé~c◄
responsabilidade, ao respeito da competência, qualidades
. ---------
de deslocamentos da centraliâ"ade; existe a saturaçao:
-- -
68 69
•• d ~ ~~a centralidade p or s1· mesma, da qual talvez
1 características artesanais e deficitárias tendo desaparecido,

••
- 7 • • ...1 -
• .
a e:iage-nehroe -nma
~~id~ P<,n:~~
11·
P~- ----- --- - ~ b a n o Esto
·
.~~~tr~ll?ª
'
e, de uma conce~
t d ' .
as perspectivas modificando-se, pode-se confiar esse setor
ao capital~smo privado, posto que se tornou rentável.
apenas uma orientação. -- · u mos ran o, aqm,
t Não esqueçamos um detalhe histórico de uma impor-
Atualmente, o VI Plano amea a . . tância extrema. A proeriedade d..Q_~9J9,_e_dif~~~~ ?_U não~é
t do urbanismo oficial p . . ç exclmr a centralidade
· nmeira nota· du t - de origem feudal. Para compreender bem o que se passou,
t centros comerciais, enorme : r--an e esse tempo,
fpreciso lembr~ que o proprietário fundiário, qiiêr· seja
•• toda espécie de ser,,.; · s, ~e _conStituem, cercando-se de
.......ços, propiciando
é uma prática do espaço· d fi t uma nova concepção pr~e~ie!ário de__!_e rras ou d_e irnóY~!~2 ~'- iI_l.~'::Í~~~~!e, úi.h-
-p_~rsonagein diferente do capitalista industrial. _O capita1
não se encontram • 'd e ª o, esses centros comerciais
► segundo lugar q
1so1a os el .
. ' es constituem redes. Em t_nobiliário e o capital imobiliário não são os mesmos, eles-
' O ue vai persisti ' • não são-geridos do mesmo modo. Um signo e umã prõvã.
decisões ou se)· a r e ª centralidade das
' ' 0 centro reunindo O d . disso é que durante as duas guerras mundiais houve mora. -
a informação a potê . p po er, a nqueza,
' ncia. or consegui t ,. d tõria dos aluguéis, o que foi uma maneira de fazer recai.r
centralidade vai en b . _ n e, a cntica a
co nr nao a d' 1 - .e • sobre os proprietários fundiários algumas dificuldades.
mesma mas o fortal . isso uçao e.1etiva da
ec1mento de um d 1 . Creio que nunca se ouviu falar de uma moratória do!:
duplamente contestável· d ª upa centralidade,
centralidade das decisõe~ as r~ ~s ?e centros comerciais, a dividendos do capital industrial. A mobilização das riqueza!':
fundiária e imobiliária deve ser é:ompreendi_~~--~I!_lO UIIlc:
que a ideologia neolib a1'ver. a erras fortalezas do Estado,
er vai encobrir das grandes extenso·es do cápítalismo fmàn~eiro, desde un::
Tenhamos a corage d . , , . · certo número de anos; a entrada da construção-~õ-çirc_ui"t<
Em que consiste O urb ~ e Ir as u!tt~as conseqüências. e.
industrü~l, bancário . finan~eiro foi um dos objetive>
vãsta e-p õlivalente opa;is~o ~s~ l!!~mo decênio? Numa estratégicos qurante_o último decênio. Isso ~_completame~t
raçao um ·• • .
cando seu objeto e sua ob·etivi a c1~ncia mcerta, bus- lógico, completamente coer~ntenasocie.dade.talcomo _e 1
onde os buscava u 1, . dade, nao os encontrando
, · ma pratica dece t . ,. é. Mais exatamente, esse circuito do im<?biliário foi, durar.ri
Isso e outro assunto S ' r o, mas cientifica? ·muito tempo, um setor subordinado, subsidiário; pouéo
· eguramente 1 u · IA
instituições e de ideol .
~ g i a , u~ª- !!!aneira
1:1ª misce anea de pouco se tornou um setor paralelo, destinado à inserç:.a
·----=-i..7
prou1ematica , •
urban . - .. -- ----- de
--- m
__- ascarar a no circuito normal da produção-consumo. Embora ele s~_
socialização das
- --- -
·pe~aº? sdeu co_n~un~o, e, mais aind~
-- se as uro-encias O normalmente um setor compensatório, pode até tomar-~
1 J[él?
Esfãdo e pelo setor público -de u b - ? -~.9.~tr~-~2 um setor principal se o circuito normal "produção-consurn...◄
ai~~-~ ~E_t~~!}al _da . pro~tÍ-ao m setor def~sac!_o, atrasado, arrefecer, se houver recessão. Então, os capitais encontra...:
d~cênio, setor defJ_çitári~"~: nãd;lo menos n? _i~í~io d ~ no imobiliário uma espécie de refúgi~,_~m territór
sociedade. Essas car · t · , .
. , - -
dommio urbanístico ist , h b.
ac enstICas atras d d
bs~an~f!, d_ec1s1v_o parai_
a as a produçao no
- e
_suple~;."e~tar compleroeótar de expioraçãoi__~m geral is
, o e, a Itat e espaço urbano, essas ?ão dura muito, é -ü.m-fenômen~ ~~-~~~<:?"· Na Espan.1::

70 71
1

no curso d~ss~s ~os de crescimento rápido, durante esse Em suma, evocamos aqui uma espécie de vasta polí~~~_a
famoso dece?10, P_?~e~se observar o capitalismo espanhol
atolar-se no rmobiliano e construir, perante o subdesen-
_do espaço, um ordenãmento prospectivo que preveria o
fuÚuo, oii seja, a desapàrição; a"cfesfrufçao, ·a autodes-
vo~vimento, uma gigantesca fachada moderna. Em certos truição da natureza, nfó tergiversàrido~ não sê·afüstãnâo,
paises,_ co~o a Espanha, a Grécia, esse setor tornou-se não minimizando os per~~f T~! políticã ºà óº"espãço não
essencial,
_ numa economia
. que exi·ge m· t ervençoes,
- d as
procederia simplesmente acumulando os consti~ng~ -
qu:-is sabe-se mmto bem em que consistem. Noutros ~entos; ela procuraria reunir a apropriação do t~:1:11_.P?!
pa1ses, co~o º ·!ªPªº1-.9
~~':u_rs_~--~ b i l i ~ i o ~ ~º- ~-Sp.-ª_çQP-elÓs11 sa·dOi:.es,:_p.elà.s"iri.d.i.YÍdüOS ~elos.grupos.
_c ompens:~ as ~ _cul1~des do circuito normaj ~p_r~~u_çã(?_- Ela buscaria unir essa_a.P!"Opriaçã~__d-º~-~P_3:ÇC? à escala mai_s
çonSumo e _c~n_segurr uma retomada~ é um fato corrente ã.nipla com a org<!ntzação ~..9~Í<?_econômica, tenc!.9~ontc3:
e mesmo previsto, quase-plãnific;d~~ - ---- - -------
um fator de importância capita[ deúãdo-de lado pelos
o paradoxal, ~ ~ô~i~~.-é -qu;-a crítica de direita, que ·prospectivistas, a_~aber, a ~omple~ifi_~~iãÓ-_d~~()A~]~d~; -õ
enc_obre to_da uma sene de operações - papel habitual ·fato de que a sociedade torna-se cada vez mai_s complexa e
da ideologi: - se considera revolucionária. Que diz M. diversificada. A meu v~~<; se.rfa_Qprojeto ou oprograma
Chalandon. Que a extensão dos pavilhões suburbanos é -reurnaesquer&1ºquese oc_uparia, enfin_i, d~sses pJpble!I!:~S.
uma revolução. Em verdade, o neoliberalismo oficial es- o que oigo· e perfeitamente utópico, pois isso supõe não
conde uma concepção setorial da gestão econômica uma apenas uma esquerda inteligente, mas modificações
estratégia
• •
diversificada • -re · - •
.1, m-se a unpressao que se quer econômicas e sociopolíticas profundas. Lembro uma tese
~iferenc1ar as fórmulas de acordo com o setor: agricultura ., que tive a oportunidade de sustentar aqui e alhures. !foj e,
mdústria• imobiliário· Na agnc · ultura po d er-se-iaobservar
. ' ::-~ mais que nunca, não existe pensamento sem utopia._~c_:)~-
n;-u~to bem as fórmulas de reagrupamento com caracte- entao, se n__os contetitarmos.em C0fl-Statar, e-m-ratifi_c_ai__o_que
nsticas qu~se s?cialistas, ao passo que no imobiliário, em temo;;~b os olhos, não iremos longe, P~t~ª11~_fere~~s COIJ?:
contrapartida, e o capitalismo privado que prevalece. õsolhosfíxados no real. Como_se diz: seremos realistas:~.
, A _questão sobre o êxito _ou o fracasso de urna tal política mas não perisâremos! Não existe pensamento qu_e não_
e mais ou menos a segumte: na indústria, incontesta- explore ·u mã-possi1Jilidad~, que não tente encontrar_lJf!:1-ª-..
velmente, constituiu-se o que Galbraith denomina de orientação. Evidentemente, desde que se evite o pos~!~ -
:ecnoes~ru~, ou seja, ~ grupo de técnicos, de elevada vismo acâbrunhante, que não significa outra coisa-senão
ompetenc1a, c~pazes de,mtervir eficazmente na gestão. No a aÜsêncía-ãe ~~am.ento, -ehéontramo-no~,-âiãiítê .das
setor do urbarusmo, no último decênio, constituiu-se uma fr~otei~~,-bastanteêlífíc~isde-dísce"rrur, entre o póssível ~
tec~oestru~a que manteria sua posição sob a cobertura ~ impossível-E liõfe,-ÕÕ -entanto, esped~e~!~-~~~?__~io
da ideologia neoliberal? ... que nõs concerne, nãõ-hápeilsaniento sem utopia. Os
arquit~tos, como os urbanistas, o sabem perfeitamente.

72 73
••
•• · Quanto ao espaço francês, temos, como noutros lugares,
três camadas de fenômenos: de início a natureza, o que
função dos grandes trajetos europeus, o Padog. 5 Durante
dez anos, pessoas muito competentes trabalharam nesses

•• nos resta das obras e trabalhos dos períodos nos quais


predominava a agricultura, quer dizer, as paisagens, os
projetos; .agora nem sequer se sabe exatamente ~o q,ue _se
trata. É a burocracia e a crítica da burocracia por s1 propna,

•••
países, as regiões, seguida de uma camada de transformações sua autodestruição!
históricas, notadamente durante o período industrial.
Enfim, temos as estratégias atuais que perturbam ou levam Há uma dezena de anos, assim foi, por exemplo, com
ao declínio as produções anteriores no que concerne ao a construção de um grande aeroporto internacional em
•• tempo e ao espaço. O resultado, como se sabe, é perfei- Estrasburgo, que a colocaria em boa posição para se tornar
a
•• tamente contraditório e incoerente. Tem-se, de um lado,
o "deserto francês~ 4 o subdesenvolvimento de toda uma
-·efetivamente cápítaJ da Europa. Urri dia souhe-se que ele
não seria construído. Nunca se soube bem como e por que

•• série de regiões, e não apenas ao sul do Loire, posto que é


preciso situar a Bretanha e, até certo ponto, a Alsácia no
tal decisãó foi tomada. Soube-se do sentido político dessa
decisão, ou seja, do abandono de urna política. Aband~~a-
va-se a grande via Mediterrâneo-Mar do Norte, a pohtica
•• desenvolvimento desigual das regiões francesas. De outro
lado, a inacreditável e insustentável centralização de toda do espaço centrada na Europa. No início dos anos 1~6_0,
se me recordo bem, tomara-se, na cúpula, uma dec1sao
•• sociedade francesa em Paris e na região parisiense. Daí
a famosa exigência de descentralização que atualmente
orienta a política do espaço. Descentralização? Como o
quanto à estratégia do espaço: um espaço francês. Nada de
Europa, nada de espaço europeu. Isso significava ~ue ~e

•• Estado centralizado pode ocupar-se da descentr~liz~ ão?


Isso é uma fachada, é uma caricatura. Nos projetos
retomava a centralização e, notadamente, a central1zaçao
parisiense. Era preciso que Paris se tornasse um núcleo

•• descentralizadores, as comunidades locais e regionais


não têin efetivas cãpacidades de gestão; quando -muito,
urbano tão rico, tão poderoso quanto o Ruhr ou quan,t~ a
megalópole na Inglaterra. Tratava-se de uma_decisão po~~ca

•• elas poâem continuar paralisando as iniciativas do poder


central, numa çerta.meilicla, e ainda se procura arrancar-lhes
es.5a cap_acidad~. Na França~ a política do espaço encontra-se
concernente à política do espaço. Ademais, essa política
foi m antida durante todo o decênio. Foi nesse momento

•• submetida, quer se queira ou não, às exigências da descen-


tralização; ou melhor, ao profundo conflito entre os
que os estudos do distrito começaram a ser execut~d?s; e
como não convinha que Paris se tomasse o centro uruco e
solitário da França, concebeu-se essa famosa repartição?º
•• imperativos da centralização estatista e as exigências concretas
da descentralização. O espaço é político!
espaço com as metrópoles ditas de equilíbrio, uma mane1:a
mecânica de, no papel, compensar Paris no espaço frances,
•• Durante o decêni~Õ~ política do espa_ço foi
concebida em função de uma estratégia européia. Houve
enquanto a estratégia anterior era totalmente diferente .
Pode-se perguntar qual vai ser agora _ª est~atégia

•• estudos muito avançados visando uma descentralização em do espaço. A centralidade parisiense _continuara a ser


•---- 74 75
fortalecida? De todo modo, foi preciso começar uma descentralização efetiva e o laissez-faire neoliberal no
descentralização mitigada, sabiamente dosada para não que concerne às tendências à centralização política na
comprometer os privilégios do poder central. França. _
Se c?nsiderarmos agora a existência daqueles que são Os problemas estão ligados; no caso do laissez-faire,
den_o_~unados, por um neologismo bastante curioso, ,(Bs" haverá centros de decisão, de potência, de poder, de riqueza,
de informação, intitulados formações "quaternárias".
~coloca-se m~s de um ~roblema. _Qual _é_~ s~
_capa~~- ~de de adaptaçao? Su_as ~nentações_eocantram-se Na perspectiva dessa centralidade decisional, que até
- defi!J.l~_as? Qual é .ª sua ideologia, ã süa auteriomia?-Dit~- poderia se fortalecer em benefício das críticas neoliberais
da centralidade, a política do espaço corre o risco de levar a
de outro modo, ·repitamos a questão: quanto -à organização
urbana e à política do espaço na França, existe uma desigualdades de crescimento e de desenvolvimento ainda
tecnoestrutura estabelecida no decênio passado? maiores que no passado. Em princípio, essas desigualdades
de crescimento e de desenvolvimento foram combatidas,
. De to?º modo, esses decisores têm opçõe·s diante de mais ou menos corrigidas; poderia chegar um dia em que
s1. _Eles
________ __ -~ tre_sol uç_Q~~
tem que _escolher - _ç..o.ntrad.1torias.
. , .
elas seriam agravadas de maneira concertada, ou seja,
Todas as contradições do espaço se desenvolvem . .Eles utilizadas pelo poder central. Nesse q1.so, ocorrerá algo
.pode~-prever um or?enamento de equihbrio, perseguinAo de extremamente grave: uma espécie de transferência
a p~l~ti~a d~s metropoles provinciais - mas quem diz do colonialismo na metrópole, um semicolonialismo
equilib~10 d1~ estabilidade -, ou então pode~ prever e das regiões e das zonas mal desenvolvidas em relação aos
produz~ o efemero. Pode-se conceber casas..? eqaj.p@lentos- centros de decisão e, sobretudo, ao centro parisiense; não
que senam descartados _~o fin~l de alguns anos, co-~ o existem mais colônias no sentido antigo, mas já há um
fa~emos_com guardanapos e pratosdepapeIPor-que não? semicolonialismo metropolitano que subordina a esses
Fm preciso que as empresas e os metalúrgicos de Moselle centros elementos camponeses, operários estrangeiros
se sub~etessem às mudanças na produção, foi preciso em número considerável, em seguida também muitos
transfen-los ?ªra Dunquerque, não se sabe por quanto franceses pertencentes seja à classe operária, seja mesmo
tempo. Considerando as rápidas mudanças nos métodos à intelectualidade, o todo submetido a uma exploração,
e ~as condições de produção, pode-se prever e planejar o concentrada quanto aos métodos, mas mantendo os
e,fe~ero ou, ao c_o_n trário, tender para o máximo de equi- elementos em estado de segregação espacial. O que justifica
hbno e de estabilidade. Essa é uma opção na política do e confirma essa apreciação é, no que me toca, um estudo
~spaço que está na ordem do dia, urna escolha em meio permanente do complexo Lacq-Mourenx, nos Pirineus,
as contradições. · mais uma série de pesquisas noutros lugares, sobretudo
Eis, portanto, alguns elementos da proble~ática: na região parisiense. É inútil dizer que essa situação seria
escolher entre o equilfürio e o efêmero, opção entre a explosiva. Aqui, peço aos que criticaram minha posição que

76 77
••
•• não confundam a tempestade com a meteorologia. Sou o
meteorologista, mas não sou eu quem faz a tempestade .

•• D_e outro lado, essa espécie de oscilação do privado ao


coletivo, do individ~al ao estatista, ainda pode durar muito

•• tempo. Neoliberalismo, neodirigismo, é uma alternância


da sociedade francesa como um todo - ela pendeu para A CIDADE E O URBANO

•• um lado, agora pende para outro. O que é ilustrado cari-


ca~ralmente no terreno, pelo _contraste entre os grandes
.conJ~ntos e ?s pavilhões do subúrbio. Do lado' "público':

t • coletivo, estatista, os grandes conjuntos são impulsionados.


Pelo lado "privado~ prevalecem os pavilhões. Poder-se-ia
t mencionar outros exemplos. 1. Tornou-se uma banalidade dizer que a sociedade
t ~través dessas contradições, a análise crítica do espaço contémporânéa está em ll!utação. A palavra "mutação""
t pohtICo e da política do espaço mostra as tendências, assim só tem conteúdo preciso na biologia. Quando empregada

• como os perigos e as ameaças incluídas na situação. coin um ú~ntído ·soâoTógicotiata-se menos de um conceito
que de uma image~~ uma rn_et_áf.ora. E~sa imagem pode
-► (Conferênda proferida no Instituto de Urbanismo de
Paris, em 13 de janeiro de 1970. Espaces et Sociétés,
mascarar a qÜestão essencial: para onde vamos?
Não é menos certo que essa "mutação" é caracterizada
► Paris, Éditions Anthropos, n. 1, nov. 1970.)
por crise~ I!!úl!JP!~s que se ·imbricam umas nas outra_s,
► desde as crises econô~icãs e as crises da e_c onomia põlítiça,
► até as crises na arte, na literat:ura, no cinema, no teatro
► na univ~§id~de~ na juventude etc. Uma questão se cólocc
► nessé·cipoal, nessa interferência de crises múltiplas: -~~s~~
uma crise e crises mais importantes, mais essenci~~ que ~ :
outras? B-que-se vaHerapartir daqui fundamenta-se num.
/ ·-----.. hipótese, segundo a qual a C_!"i_se da realida~~ urbana é mai
!-··•· !
(mportante, mais central que esta ou aquela .outra.
\_''
2. É comum fal~·da sociedade mdustnãl-:-Esse term•
é criti~ável, pois ele ~ão-eviâencia cert~s rélaçõe_s _s_q_çj_~j
fOn;titutivas-do-processo de·industrialização. As relaçõt:
de próâüçao exigem uína àriális~ que o termo «soci~_ç lad
--~-- . ··- - - - ·•- . . ·- --

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