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ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL: CONTEXTUALIZAÇÃO E

CARACTERIZAÇÃO

Claudiomiro Agustini da Silva1

Resumo: Este artigo tem como objetivo diferenciar abuso moral de abuso sexual, sustentados
por doutrinadores experientes na área como Nunes (2002), Magalhães Filho (2001) para o
desenvolvimento deste trabalho, tendo em vista a contextualização dessas agressões, por meio
de um projeto feito por mulheres jornalistas de quase todo o país, #DeixaElaTrabalhar, as quais
já sofreram algum tipo de assédio, este explanado e caracterizado no decorrer dos capítulos com
citações de pessoas especializadas nesse assunto e argumentadas com jurisprudências, e que
viram uma oportunidade de se reunirem para o combate dessa violência no meio jornalístico,
seja nos estádios de futebol, nas redações e nas redes sociais. Por fim, utilizam-se artigos do
Código Civil, da CLT e da Lei Federal, mostrando a dignidade da pessoa humana e, além disso,
para orientação ao assediado se submeter e conquistar seu espaço mais harmônico no mercado
de trabalho.

Palavras-chave: Agressão. Assédio moral. Assédio sexual. Dano moral. Meio ambiente de
trabalho. Violência.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Muito tem-se falado em assédio moral na mídia brasileira atualmente. No entanto, os


empregados não conhecem ou, até mesmo, para se manterem no emprego, preferem ficar

1
Acadêmico do Curso de Pós-Graduação em Direito do Trabalho
calados para não serem demitidos, devido às responsabilidades pessoais como seus próprios
sustentos e de suas famílias.
Abordar-se-ão diferenças entre as agressões: assédio moral e assédio sexual,
cometidos, na maior parte das vezes, pelo próprio dono da empresa ou que apresente um grau
hierárquico superior ao seu preposto.
No primeiro capítulo, apresenta-se a distinção entre esses dois tipos de violência no
meio ambiente de trabalho, sustentados em fontes de doutrinadores estudados na área, em
jurisprudências e, além disso, citar-se-á o projeto formado por mulheres jornalistas
#DeixaElaTrabalhar, as quais já foram alvo desse tipo de violência nos estádios de futebol e em
outros meios, durante os seus expedientes.
No segundo capítulo, são mencionados os valores éticos profissionais, salientando que
o ambiente de trabalho é um direito que todo o cidadão tem e que se deve viver em plenas
condições físicas, emocionais e espirituais, garantindo sua qualidade de vida e bem-estar
consigo e com os demais colegas do ramo.
No terceiro capítulo, analisar-se-á a configuração do dano moral, por conta dessas
agressões, frisando a necessidade de indenizar e compensar a vítima que sofreu com rejeições,
baixo autoestima, entre outros, desencorajando as práticas futuras.
No quarto e último capítulo, contextualizar-se-á o dano por meio dos artigos
específicos do Código Civil e da CLT, deixando claro que, para cada dano, tem-se o empregador
uma responsabilidade no que tange comportamento a partir da admissão do trabalhador e o
empregado tenha assegurado, perante a lei, o direito de buscar a Poder Judiciário para que se
faça justiça e garanta sua dignidade no seu meio profissional.

1. PROVA DO ASSÉDIO MORAL X PROVA DO ASSÉDIO SEXUAL

Ao iniciar a pesquisa, precisa-se definir assédio moral e do assédio sexual. Esses


assédios ocorrem, principalmente em ambientes de trabalho. De acordo com o dicionário
Michaelis Online, assédio, na sua segunda acepção, significa “insistência impertinente, em
relação a alguém, com declarações, propostas, pretensões etc.” Ainda, ressalta a diferença entre
assédio moral e assédio sexual:
Assédio moral: exposição do trabalhador a situações humilhantes, geralmente
repetitivas e prolongadas, durante a jornada de trabalho, por parte de seu superior
hierárquico, que o ridiculariza e hostiliza, provocando constrangimento, insegurança,
estresse etc.
Assédio sexual: a) insistência inoportuna com intenções sexuais; b) constrangimento
em alguém com o intuito de obter favorecimento sexual, prevalecendo o agente de sua
condição de superior hierárquico.2

Assim, toda a forma de desconforto, um beijo, ou seja, toda a conduta que obtém cunho
sexual não consentido, é considerado assédio sexual. Em outras palavras, “a liberdade sexual
pode ser definida como o direito de disposição do próprio corpo ou de não ser forçado a praticar
ato sexual”. 3
Para ilustrar melhor este trabalho, citar-se-á um projeto criado por um grupo de
cinquenta jornalistas femininas que engloba o país inteiro, chamado #DeixaElaTrabalhar4.
Essa campanha foi proposta justamente por mulheres que já sofreram algum tipo de assédio.
Uma delas, foi beijada, à força, por um torcedor, no estádio, durante uma partida de futebol, na
primeira quinzena do mês de março deste ano. Além disso, três dias antes, outra jornalista,
gaúcha, é agredida fisicamente por um torcedor, insultando-a com frases grosseiras: “Sai daqui,
sua puta”. 5 Com isso, as jornalistas chamam a atenção, por meio desse projeto, pelo tratamento
no meio ambiente de trabalho, expostas a qualquer tipo de violência, não só em estádios de
futebol, mas em qualquer outro lugar, como nas redações, nas redes sociais.
Ao ressaltar isso, percebe-se que, segundo a doutrinadora Alice Monteiro de Barros6,
baseada em pesquisa realizada em doze capitais no início de 1995, constatou que, no Brasil,
cinquenta e dois por cento das mulheres que trabalham já sofreram assédio sexual devido a sua
vulnerabilidade, sendo que noventa por cento dos assédios têm como assediador o homem. No
entanto, os casos ainda são raros aos olhos da Justiça.
O assédio moral, normalmente, inicia-se, conforme Marie-France Hirigoyen7 “quando
uma vítima reage ao autoritarismo de um chefe, ou se recusa a deixar-se subjugar. É sua
capacidade de resistir à autoridade, apesar das pressões, que a leva a tornar-se um alvo”.
Consequentemente, a autora sustenta que o assédio vem “precedido de uma desvalorização da

2
Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/ass%C3%A9dio/>.
Acesso em: 15 mar. 2018.
3
DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. 3. ed. Volume 3. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 122
4
Disponível em: < https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/23/politica/1521823054_844544.html>. Acesso em:
15 mar. 2018.
5
Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/23/politica/1521823054_844544.html>. Acesso em:
15 mar. 2018.
6
BARROS, Alice Monteiro de. A mulher e o Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1995.
7
HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. Trad. de Maria Helena Kühner.
14. ed. Rio de Janeiro: Beltrand Brasil, 2012, p. 68.
vítima pelo perverso, que é aceita e até caucionada posteriormente pelo grupo. Essa depreciação
dá uma justificativa a posteriori à crueldade exercida contra ela e leva a pensar que ela realmente
merece o que lhe está acontecendo”. 8
Ainda hoje, as vítimas de assédio, principalmente o sexual, apresentam inúmeras
dificuldades para chegar à provação do fato, pois não caracteriza como forma pública.
Geralmente, o assediador comete o ato ao assediado no momento de intimidade, isto é, quando
estão sós. A agressão, de qualquer maneira, em conformidade com Marie-France Hirigoyen9,

não se dá abertamente, pois isso poderia permitir um revide; ela é praticada de maneira
subjacente, na linha da comunicação não-verbal: suspiros seguidos, erguer de ombros,
olhares de desprezo, ou silêncios, subentendidos, alusões desestabilizantes ou
malévolas, observações desabonadoras.

Sendo assim, pode-se distinguir o assédio moral e o sexual notada por jurisprudências
brasileiras. As duas apresentadas a seguir, as quais vão ao encontro do que já foi mencionado
pela doutrinadora:

DANOS MORAIS. ASSÉDIO MORAL. CARACTERÍSTICAS.


CONFIGURAÇÃO. O assédio moral caracteriza-se pela exposição do trabalhador
a situações humilhantes e constrangedoras, de forma repetitiva e prolongada,
durante a jornada de trabalho, de modo a desestabilizar a relação do mesmo com o
ambiente de trabalho e com a própria empresa, forçando-o até mesmo, a desistir do
emprego. No presente caso, a prova oral produzida nos autos noticia que a
reclamante foi vítima de perseguição no ambiente de trabalho, perpetrada por
empregada da segunda reclamada, de forma repetitiva e prolongada, considerando
a duração de seu pacto laboral (cerca de 1 ano), consistente em um tratamento
diferenciado a ela direcionado, em comparação aos demais empregados, cerceando-
lhe a liberdade de movimentação dentro da empresa, bem como pressionando-lhe
nas atividades mais comezinhas do cotidiano, como por exemplo, ir ao banheiro, o
que, por certo, a fez sentir-se inferiorizada diante dos colegas, desestabilizando sua
relação com o ambiente de trabalho, restando, pois, caracterizado o assédio moral.
Recurso ordinário da primeira reclamada a que se nega provimento. (TRT-15 - RO:
44671 SP 044671/2012, Relator: ANA PAULA PELLEGRINA LOCKMANN,
Data de Publicação: 22/06/2012).

Ementa: ASSÉDIO MORAL. PROVA. A caracterização do assédio moral deve ser


obtida a partir da prova cabal e robusta dos fatos persecutórios capazes de ensejar o
reconhecimento do dano alegado moral, o que não ocorreu no presente caso.
Recurso do réu a que se dá provimento. (TRT-9 9296201012905 PR 9296-2010-12-
9-0-5, Relator: SUELI GIL EL-RAFIHI, 4A. TURMA, Data de Publicação:
18/11/2011).

DANO MORAL – ASSÉDIO SEXUAL. "O assédio sexual é um ato que, pela sua
própria natureza, se pratica secretamente. Portanto, a prova direta dificilmente

8
HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. Trad. de Maria Helena Kühner.
14. ed. Rio de Janeiro: Beltrand Brasil, 2012, p. 68.
9
HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. Trad. de Maria Helena Kühner.
14. ed. Rio de Janeiro: Beltrand Brasil, 2012, p. 77.
existirá. Por conseguinte, os Tribunais têm levado em conta a conduta similar do
agente, como forma de prova indireta. Comprovado que o agente agiu da mesma
maneira em relação a outras possíveis vítimas, demonstrando um comportamento
desvirtuado da normalidade, o assédio sexual restará admitido. No caso dos autos,
entretanto, a conduta reiterada do agente não restou comprovada. Não há qualquer
elemento de prova, mesmo a indireta, que corrobore as assertivas da reclamante, razão
pela qual não se pode atribuir ao empregador a responsabilidade que a autora pretende
lhe imputar”. (TRT 3ª R. – RO 8.051/98 – 4ª T. – Rel. Luiz Otávio L. Renault –
DJMG)

EMENTA: ASSÉDIO SEXUAL - CARACTERIZAÇÃO E PROVA. A prova do


assédio moral é primordialmente indireta. A linguagem do assédio sexual é corporal
porque se vale de meios primários de comunicação não verbalizados, tais como
olhares, gestos, posturas e comportamentos, que dentro do contexto cultural são vistos
ou entendidos como representativos de apelo sexual (TRIBUNAL: 3ª Região
DECISÃO: 08 08 2008 TIPO: RO NUM: 01325 ANO: 2006 NÚMERO ÚNICO
PROC: RO - 01325-2006-091-03-00-9 TURMA: Terceira Turma) 10.

Embora o Poder Judiciário ressalte a prova e a caracterização do assédio moral, não


existem leis federais, nem para servidores e empregados públicos federais e nem para
trabalhadores da iniciativa privada. Destacam-se leis específicas para a maioria dos estados e
dos municípios, protegendo seus servidores dessa agressão. Mesmo assim, o servidor ou o
trabalhador que comete o assédio pode ser responsabilizado nas esferas: administrativas –
infração disciplinar – ou trabalhista (artigos 482 e 483, da CLT); civil – danos morais e materiais
e criminal (podem configurar em diferentes atos de violência, resultando o julgamento,
conforme o tipo de agressão for ocasionado à vítima no ato).
É preciso lembrar que, no Brasil, a primeira decisão condenatória somente ocorreu em
outubro de 2001, sendo que em outros países, a discussão é feita ainda na década de 1970.

2. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

No projeto mencionado acima, #DeixaElaTrabalhar, percebe-se que, mulheres,


formadas na sua área, nesse caso, jornalismo, pois o trabalho delas é entrevistar torcedores sobre
os placares, o desempenho de seus times nos estádios, durante as diversas competições
estaduais, municipais, nacionais e internacionais. Esse grupo de jornalistas se reuniu, com

10
Disponível em: < https://trt-9.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/20772307/9296201012905-pr-9296-2010-12-9-
0-5-trt-9>. Acesso em: 15 mar. 2018.
intuito de reduzir assédios sexuais, não somente nas entrevistas, mas na área interna de trabalho,
como nas redações e, principalmente, nas redes sociais particulares. A mulher, desde o final do
século XIX, luta, aqui no Brasil e no mundo, por direitos iguais aos homens, conquista seu
espaço de trabalho e, com isso, busca sua dignidade na sua profissão. Glauco Barreira
Magalhães Filho11 aduz que “a dignidade da pessoa humana é o núcleo essencial de todos os
direitos fundamentais, o que significa que o sacrifício total de algum deles importaria uma
violação ao valor da pessoa humana”. Ainda, segundo Sarlet 12, a dignidade constitui “qualidade
intrínseca e indissociável de todo e qualquer ser humano, sendo uma meta permanente da
humanidade, do Estado e do Direito”.
Sustenta-se, portanto, com essa afirmação que valores morais, sociais e até espirituais,
enquanto dignidade da pessoa humana, torna-se qualidade intrínseca e indissociável de homens
e de mulheres, pois é resultado de direitos e deveres assegurados pelo Estado, proporcionando,
o meio ambiente de trabalho, um lugar harmônico e com condições mínimas para uma vida
digna.
Luiz Antonio Rizzato Nunes13 sugere que a “dignidade é um conceito que foi
elaborado no decorrer da história e chega ao início do século XXI repleta de si mesma como
valor supremo, construído pela razão jurídica”. Logo, o direito de a mulher trabalhar
dignamente em qualquer lugar que ela estiver, sem o risco de ser violentada sexualmente deve
ser assegurada no meio ambiente de trabalho, pois o que sustenta Celso Antonio Pacheco
Fiorillo14, em uma definição do que seja esse local:

É onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, sejam remuneradas ou não,


cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que
comprometem a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independente da
condição que ostentam (Homens ou mulheres, maiores ou menores de idade,
celetistas, servidores públicos, autônomos etc.).

E o que ensina Raimundo Simão de Melo15 sobre o que é um ambiente de trabalho


seguro e apropriado para se ter dignidade:

11
MAGALHÃES FILHO, Glauco Barreira. Hermenêutica e unidade axiológica da Constituição. Belo
Horizonte: Livraria Mandamentos, 2001. p. 248.
12
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de
1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 27.
13
NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 54.
14
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: 2004, p. 22-3.
15
MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador. 3. ed. São Paulo:
LTR, 2008. p. 27-33.
O meio ambiente de trabalho adequado e seguro é um direito fundamental do cidadão
trabalhador (lato sensu). Não é um mero direito trabalhista vinculado ao contrato de
trabalho, pois a proteção daquele é distinta da assegurada ao meio ambiente do
trabalho, porquanto esta última busca salvaguardar a saúde e a segurança do
trabalhador no ambiente em que desenvolve as suas atividades.
De conformidade com as normas constitucionais atuais, a proteção do meio ambiente
do trabalho esta vinculada diretamente à saúde do trabalhador enquanto cidadão, razão
por que se trata de um direito de todos, a ser instrumentalizado pelas normas gerais
que aludem à proteção dos interesses difusos e coletivos. O Direito do Trabalho, por
sua vez, regula as relações diretas entre empregado e empregador, aquele considerado
estritamente.

Em suma, o mercado de trabalho obtém um local interno ou, até mesmo, externo onde
trabalhadores exercem suas atividades profissionais, alguns sob supervisão hierárquica.

3. DANO MORAL E ASSÉDIO MORAL/SEXUAL

O dano moral também pode ser denominado extrapatrimonial. Tanto o assédio moral
quando o assédio sexual acontece, geralmente, por conduta de uma pessoa que está
hierarquicamente superior à vítima naquele ambiente de trabalho. Essas agressões, portanto,
geram um efeito devastador sobre a autoestima do assediado. Isso porque a cultura brasileira é
permeada pela autoimagem, e, em algumas cidades, até pelo próprio sobrenome. Entretanto, a
vítima se sente abalada emocionalmente, a ponto de cometer atitudes como o próprio suicídio,
porque ela tem “vergonha” de comentar à família e/ou amigos, em função do julgamento da
sociedade. Em outras palavras, o meio social vê, principalmente, o assédio sexual, assim como
o estupro, como atitude responsável do assediado, isto é, o que sofre a violência como culpado
e o agressor como vítima da situação. Frases como “Por que você foi com essa roupa para o
trabalho, você pediu para o chefe a olhar de outra forma”; “Assim você estará chamando a
atenção na rua, no trabalho”, entre outras ditas pela pessoa que ouve ou julga esse tipo de
comportamento.
Para isso, o que pode vir a ser dano moral? Dano moral, no contexto acima, afirma-se
que nada mais é do que a injúria, a calúnia, a difamação, a prática do ato atentório à honra, à
autoimagem, à intimidade, à boa fama e ao patrimônio moral do empregado e de sua família.
Segue algumas jurisprudências acerca do dano moral, ressaltadas pela Justiça do
Trabalho:
DANO MORAL. VIOLAÇÃO DA INTIMIDADE – Responde por danos morais a
empresa cujo sócio viola a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem de ex-
empregada e frusta-lhe o acesso ao mercado de trabalho. (TRT 8ª Reg. RO 7143/95;
Ac. 3ª Turma, Rel. Juiz José Maria Quadros de Alencar).

DANO MORAL - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. É possível que


o dano moral decorra da relação de trabalho, quando o empregador lesar o empregado
em sua intimidade, honra e imagem (CF, art. 5º, V e X; CLT, art. 483, "a", "b" e "e").
Punição disciplinar ou pecuniária injusta, que denigra a imagem do empregado, é
passível de indenização na esfera trabalhista, uma vez comprovado o caráter danoso
do ato patronal. A fonte da obrigação de reparar o dano moral sofrido pelo empregado
reside no ato ilícito do empregador de lhe imputar inverídica conduta desairosa e,
como tal, guarda íntima relação com o pacto laboral, de forma que se encontra inserida
na regra de competência preconizada pelo art. 114 da Carta da República.
(TRIBUNAL: TST. DECISÃO: 24 11 1999. PROC: RR NUM: 348045 ANO:
1997 REGIÃO: 10 RECURSO DE REVISTA TURMA: 04 ÓRGÃO JULGADOR
- QUARTA TURMA)

RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR - ATIVIDADE COMO CONCAUSA


DE DOENÇA - RESPONSABILIDADE - INDENIZAÇÃO - DANOS MORAL E
MATERIAL - I- Cabe ao empregador inúmeras obrigações, dentre elas, e a mais
importante (cláusula implícita no contrato) é a preservação da integridade física e
psíquica do trabalhador, dimensão do direito de personalidade vinculado à dignidade
humana e ao valor social do trabalho princípios elevados a direitos fundamentais pela
Constituição Federal de 1988. II. Se o laudo pericial reconhece que a doença tem
cunho degenerativo mas afirma que a doença foi agravada pelas condições de trabalho
verifica-se a concausa e a presença do acidente de trabalho, máxime e se o Órgão
Previdenciário atesta o afastamento e a percepção auxilio acidente em função das
tarefas desenvolvidas (varreção e recolhimento de resíduos, como também pela
necessidade de empurrar e puxar carrinho contendo resíduos). III. Provado o acidente
o nexo causal acham-se presentes os requisitos da responsabilidade civil do
empregador (dano, omissão a dever legal e nexo de causalidade) é devida a
indenização por danos morais, nos termos do art. 186 do Código Civil. IV.
Indenização. Dano Moral. Desnecessária é a prova do dano moral, basta a prova do
fato gerador do dano, pois a esfera atingida é a subjetividade da vítima, tal seja, seu
psiquismo, sua intimidade, sua vida privada, gerando dor, angústia, entre outros
sentimentos de indignidade.. V- Valor da indenização por dano moral. Os critérios
para a fixação do valor da indenização por dano moral deve levar em conta o grau de
culpa da reclamada (art. 944, parágrafo único do Código Civil), a extensão do dano,
o caráter pedagógico da condenação, a fim de que a empresa reveja seus
procedimentos, a razoabilidade e, o intuito de amenizar o sofrimento ocasionado. VI-
Dano Material. Os art. 1.539 e 950 do CC, estabelecem duas possibilidades: 1 - defeito
que impede o exercício do mesmo ofício ou profissão; 2 - defeito que não impede o
exercício do mesmo ofício ou profissão, mas traz dificuldades para o mesmo trabalho,
daí a diminuição da capacidade para o trabalho. Para cada um das possibilidades, a
medida da pensão ou indenização será diversa: se há impedimento para o mesmo labor
(possibilidade 1), a pensão corresponderá à importância deste mesmo trabalho, ou
seja, ao valor do salário que recebia, até o advento do acidente do trabalho ou doença
equiparada; agora, se não há impedimento para o trabalho (possibilidade 2), mas mera
redução da capacidade laboral, a pensão abrangerá apenas o valor da depreciação,
apurável pela aplicação de um percentual representativo da incapacidade sobre o valor
do salário. É que o Código Civil, no instituto da responsabilidade civil, inclusive por
acidente do trabalho é regido pelo princípio da restitutio in integrum. Diante da
incapacidade total do exercício de mesma função,hipótese 01, descabido pensar em
qualquer percentual ou tabela: a pensão deve abranger o valor total do salário.
Mantenho o valor arbitrado na sentença. (TRIBUNAL: 2ª Região ACÓRDÃO NUM:
20090647828 DECISÃO: 18 08 2009 TIPO: RO01 NUM: 02364 ANO: 2007
NÚMERO ÚNICO PROC: RO01 - 02364-2005-030-02-00-8 RECURSO
ORDINÁRIO TURMA: 4ª ÓRGÃO JULGADOR - QUARTA TURMA).16

Em outro capítulo, foi já citado que o assédio moral não possui ordenamento jurídico
brasileiro como o assédio sexual é mencionado em Lei Federal 10.224/01, já constituído como
crime. Antes do reconhecimento ao dano moral, já salientado em capítulo anterior, o respeito à
dignidade da pessoa humana e a sua intimidade. Para isso, é necessário reforçar os direitos
fundamentais da Constituição Federal de 198817:

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
(...)
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
(...)
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem;
(...)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação.

Mesmo que o Poder Judiciário defenda que o dano moral é um fato real e concreto, o
empregado tem cuidado e atenção, pois, ao abrir um processo, acarreta no desemprego e a maus
olhos por outros empregadores. Por isso, são poucos os casos existentes de denúncias acerca de
assédios, mas que, por outro lado, seria um direito de cada cidadão manter sua dignidade e viver
melhores condições no meio ambiente de trabalho.
No próximo e último capítulo, o qual será continuação deste, porém com
aprofundamento maior nas leis específicas civis, a fim de reforçar que o dano moral deve ser
empregado com todo o seu direito, denunciando possíveis abusos, um dos meios de reduzir
violências como o assédio sexual.

4. O ARTIGOS 932, 944, do CC, e 483, da CLT, CONCEITUALIZANDO A


INDENIZAÇÃO.

16
Disponível em:
<https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=VIOLA%C3%87%C3%83O+DA+INTIMIDADE%2C+
VIDA+PRIVADA+E+IMAGEM+DO+RECLAMANTE>. Acesso em: 15 mar. 2018.
17
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em:
15 mar. 2018.
É essencial também, neste capítulo, citar o dano moral, afinal, é por meio dele que são
estabelecidas normas de convivência social que, judicialmente falando, pauta em leis, ou seja,
os artigos, seus respectivos incisos e suas respectivas alíneas, quando for o caso.
O dano moral, por si só, já se refere a um dano, uma lesão ao agredido, implicando
uma indenização compensatória a este (art. 5º, da CF/88, incisos V e X). Assim, exige-se, a
título de valor indenizatório, pautando-se pelo princípio da razoabilidade e da
proporcionalidade (art. 944, do CC)18:

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o


dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

Obviamente o Magistrado deve alcançar um valor razoável e justo, tendo em vista


sempre a gravidade do dano, inclusive a intensidade da dor em que a vítima se encontra pela
violência, deixando de lado seu poder econômico e a personalidade do culpado.
A CLT19, em seu artigo 483, reza de algumas leis que podem defender o empregado,
mostrando alguns de seus direitos, já estabelecidos desde a admissão deste:

Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida


indenização quando:

a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos
bons costumes, ou alheios ao contrato;
b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor
excessivo;
c) correr perigo manifesto de mal considerável;
d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;
e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato
lesivo da honra e boa fama;
f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de
legítima defesa, própria ou de outrem;
g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a
afetar sensivelmente a importância dos salários.

A Deputada Iara Bernardi, no final dos anos 1990, apresentou à Câmara dos Deputados
um projeto de lei nº 62, modificando os artigos 482, 483 e 468, da CLT, nas quais foram inclusas
a prática do assédio sexual ao empregado cuja justa causa pleitearia para a rescisão indireta do

18
CC
19
CLT
contrato de trabalho, estabelecendo-se à indenização e/ou à mudança de local de trabalho.
Assim, o inciso III, do CC, em seu artigo 932, estabelece que:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no


exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

A responsabilidade dos danos é do contratante, uma vez que o poder dentro da função
laboral é dele aplicado aos seus empregados, serviçais ou prepostos, contemplados pela
legislação trabalhista, pois está sob a dependência da subordinação hierárquica.
No entanto, vale-se lembrar que elogios ou meros galanteios, acompanhados de
gentilezas, não dá o direito de indenização, logo não se caracteriza como assédio sexual. Torna-
se a ressaltar que assédio sexual ou assédio moral foram comparados e constituídos na forma
da Lei no decorrer dos capítulos, explanando suas características e formas de identificação na
atividade laboral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto #DeixaElaTrabalhar tem o intuito de diminuir o assédio contra mulheres no


Brasil. Portanto, é uma das violências mais recorrentes e que deveria ser evitado a qualquer
custo no meio ambiente de trabalho. O mês de abril é lembrado como um momento para a
reflexão acerca dessa violência que gera dor, angústias, afetando a saúde psicológica da vítima.
Já comentado neste trabalho, são poucos os casos que a Justiça tem conhecimento, pois
as vítimas temem perder o próprio emprego, uma vez que é o sustento familiar e devido a
escassez do número de trabalhos ofertados no país. Se a assediada ou o assediado recorre ao
âmbito jurídico, alguns empregadores o(a) demitem por justa causa, punindo-os por outra
justificativa que pode até denegrir a imagem desse empregado para a próxima oportunidade.
O que a Justiça do Trabalho pode fazer é conscientizar os empregados a procurarem
seus direitos, promovendo, além de tudo, o combate a essas condutas dos agressores, os quais
desestimulam a fazer suas atividades profissionais, mas que, por necessidade, ficam no
emprego, mas desamparados no ambiente de trabalho. O Poder Judiciário tem por fim garantir
os direitos e a justiça, punindo devidamente os agressores.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 1a edição. São Paulo: Revista
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