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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000434491

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


1011286-37.2015.8.26.0032, da Comarca de Araçatuba, em que é apelante REIS ALVES
EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS S/C LTDA, é apelada ANDREA CRISTINA
CUSTÓDIO PEREIRA DE SOUZA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 32ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento em
parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUIS FERNANDO


NISHI (Presidente) e FRANCISCO OCCHIUTO JÚNIOR.

São Paulo, 13 de junho de 2018.

Kioitsi Chicuta
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

COMARCA: Araçatuba – 5ª Vara Cível – Juiz Antônio Conehero Júnior


APTE. : Reis Alves Empreendimentos Imobiliários S/C Ltda.
APDA. : Andrea Cristina Custódio Pereira de Souza

VOTO Nº 38.389

EMENTA: Direito de vizinhança. Construção de muro e prédio


residencial em parte do terreno vizinho e sem observância de
distância mínima prevista em norma interna do loteamento. Lote
de empreendimento que contém cláusulas restritivas, com
necessária publicidade. Necessidade de recuo de três metros em
relação ao lote vizinho. Ação julgada improcedente. Cerceamento
de defesa. Desnecessidade de prova pericial. Ré que não nega a
invasão e os subsídios ofertados indicam invasão de três metros
do terreno vizinho e construção de prédio na divisa e com
aproveitamento do muro edificado. Não ocorrência de
decadência ou prescrição. Ordem para demolição das obras que
decorre de atentado contra as regras impostas e com a devida
publicidade. Prejuízo material não demonstrado. Recurso
provido em parte.
Não há cerceamento de defesa. Nada obstante insista a autora na assertiva de
que não sabe a área total do terreno da ré e se a parte invadida é inferior ao
percentual indicado pelo art. 1.258 CC, bem se vê que a matrícula nº 75.068,
do Registro de Imóveis, indica área total de 1.148,61m² (fl. 51) e a própria
inicial anota na inicial que o muro divisório invadiu 3 metros do terreno
vizinho, observando que, na divisa, a extensão é de 58,69 metros. Não se vê,
com base nos subsídios existentes, inclusive do prédio construído, necessidade
de dilação probatória.
Não há decurso do prazo de prescrição, observando que não se reclama
indenização pelo fato da invasão, mas demolição da parte invadida e da
construção que ofende a restrição convencional do empreendimento. A
questão fática abarca dano contínuo e permanente.
A construção feita pela ré para sua moradia não observa as normas restritivas
convencionais do empreendimento. A construção não atentou ao recuo
mínimo de 3 metros para a edificação, impondo-se a adequação da obra, bem
como demolição do muro divisório construído em terreno vizinho, recompondo-
o na divisa correta e nos termos da restrição existente.

Trata-se de recurso interposto contra r. sentença de fls. 209/212 que


julgou improcedente pedido de demolição, reconhecendo, ainda, prescrição da pretensão
indenizatória, arcando a autora com as custas, despesas e honorários de advogado de 12%
sobre o valor da causa.

Anota a autora apelante que o prédio levantado pela ré não observou


regra de necessidade de prévia aprovação do Município, não havendo como aferir o
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percentual de 20% como sendo da área invadida, anotando que não há como apontar a área
total de seu terreno, fazendo necessária a perícia. Destaca, ainda, que há restrição
convencional e que impede edificação sem recuo mínimo de três metros em relação ao lote
vizinho, cuidando-se de obra irregular, anotando, mais, que a ré deve ser considerada como
possuidora de má-fé, incidindo o parágrafo único, do artigo 1.258 do Código Civil. Pede
anulação ou inversão do julgado.

Recurso tempestivo, processado com preparo e contrarrazões, os


autos restaram encaminhados a este C. Tribunal.

É o resumo do essencial.

Nada obstante se cuide de pedido demolitório e no qual invoca


invasão de terreno alheio com a edificação de muro divisório e de construção de moradia
sem observância do recuo reclamado em norma interna, não se vê, diante dos pormenores
do processo e dos elementos nele contidos, necessidade de perícia. Há outros ingredientes e
que não foram observados pelo MM. Juiz de Direito, deixando a autora especificado, desde
o início, que o lote adquirido pela ré integra loteamento denominado Itapuã Residencial
Park e no qual existe publicidade, inclusive no Registro de Imóveis, de restrição
construtiva, havendo indicação de que, em relação ao lote 17, da quadra B, deve haver
recuo de três metros na divisa com o lote 16. Ora, anotando invasão de três metros em toda
extensão da divisa, conforme planta de fl. 44, num total de 173,70 metros quadrados, e a
área total do lote 16 é de 1.187,71m2, conforme consta da matrícula 75.068 do Registro de
Imóveis de Araçatuba (fl. 50). Tais dados não restaram questionados pela ré e não há
sentido perícia para apuração da área invadida, seu total e aferição do 1/20 a que se refere o
artigo 1.258 do Código Civil, além do que tal providência se mostra inócua frente ao que
adiante se exporá.

No mérito, respeitada convicção judicial externada, a solução para o


caso deve ser diversa, observando que a ré não nega a invasão, limitando-se a afirmar que
demarcou seu terreno com auxílio de preposto da autora, invocando sua boa-fé. Nada
existe nesse sentido e, consoante anotado pela autora, há regras a serem observadas e de

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conhecimento da ré, ou seja, exibição de planta aprovada para edificação e que, no caso,
não existe.

O que se nota é que a possuidora de direitos do lote 17, da quadra B,


adotou as divisas do seu imóvel em desconformidade com a realidade, não se mostrando
inadequado pedido demolitório, eis que a obra já estava finalizada, sem decurso do prazo
prescricional por se cuidar de questão fática que abarca dano contínuo e permanente. Não
se cuida propriamente de pretensão de reparação civil, mas de obrigação de fazer,
observando o prazo geral da prescrição, com pormenor de que a ré só poderia utilizar do
lapso temporal em caso de preenchimento dos requisitos para a usucapião, o que não é o
caso dos autos, havendo jurisprudência deste Tribunal (Apelações 9099391-96.2005,
9147699-71.2002, 0082320-35.2008 e 0005530-31.2011, relatores os Desembargadores
Grava Brasil, Samuel Junior, Burza Neto e Nestor Duarte).

No Regulamento exibido consta restrição do lote 17, da quadra B,


vedada construção sem o recuo de três metros em relação ao lote 16 (fl. 35). A infração às
regras do loteamento, para a qual se deu publicidade inclusive no registro do parcelamento
do solo, é suficiente para caracterizar danos ao loteamento e aos titulares de direitos dos
lotes, não sendo pertinente invocação do artigo 1.258 do Código Civil. O interesse da
comunidade dos titulares dos lotes do empreendimento prevalece em relação àquele da ré e
não justifica tolerância admitida de manutenção do estado atual, não havendo
desproporcionalidade na ordem de demolição. Aliás, nesse sentido já se posicionou a 7.ª
Câmara de Direito Privado no julgamento da apelação 0000618-72.1999, relator o Des.
Walter Barone, como medida necessária para adequação do imóvel às regras do
loteamento.

Assim, ao recurso se dá provimento parcial para condenar a ré a


demolir o muro divisório e a construção que ofende obrigatoriedade de recuo de três
metros em relação ao lote 16, da quadra B, fixado prazo de sessenta (60) dias a partir do
trânsito em julgado, sob pena de multa diária de R$ 100.00 até o limite de R$ 10.000,00,
respondendo pelas despesas da demolição, arcando, também, com as custas, despesas e
honorários de advogado de 10% sobre o valor da causa, observada a assistência judiciária.

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Não há prova do prejuízo efetivo sofrido pela autora.

Isto posto, dá-se parcial provimento ao recurso.

KIOITSI CHICUTA
Relator

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