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322 p.
Em primeiro lugar, quis definir uma antropologia, de acordo com a visão que foi
esboçada, simultaneamente na continuidade e na ruptura com a evolução
biológica. (p.16)
Ainda inocente, não soube que aquela morte à qual dirigiu tantos clamores e
preces não era senão a sua própria imagem, o seu próprio mito, e que, julgando
olhá-la, olhava para si próprio. (p.19)
(...) tortura até a morte, espécie de horrível síntese entre o desejo de negar e o
de humilhar outrem, e onde o torturador vai colher os prazeres conjugados do
assassinato e da escravatura. (p.65)
E existe comunicação íntima entre este horror e esta volúpia (...) (p.66)
Arrisca-se a morte por amor, por êxtase, por vaidade, por masochismo, por
loucura, por felicidade... Por amor ao próprio risco (...) (p.68)
(...) não somente o suicídio exprime a solidão absoluta do indivíduo, cujo triunfo
coincide então exactamente com o da morte, como nos mostra que o indivíduo
pode, na sua autodeterminação, ir até aniquilar friamente seu instinto de
conservação, e aniquilara vida que recebeu da espécie, a fim de provar dessa
forma, a si próprio, a impalpável realidade de sua omnipotência. (p.69)
A dor do vivo é talvez sincera, mas o exibicionismo da dor, que vai até a utilização
de carpideiros e carpideiras profissionais, visa acima de tudo a lisonjear a morte,
como o fazem hoje ainda as belas palavras pronunciadas sobre a tumba do
maior dos imbecis, exaltando as suas extraordinárias virtudes e profundas
qualidades. (p.141)
Pelo contrário, só o risco de morte pode justificar aquilo que se quer justificar a
morte, por ser aceito, escolhido ou desejado. É experimentando-o que a
individualidade se experimenta e se prova provando a si mesma a sua liberdade.
(p.251)
A morte não surge no momento da morte, existe desde o nascimento (...) (p.255)
A morte não é o bicho que rói a fruta; é, como em Rilke, o próprio núcleo da vida.
(p.277)
Não há fechadura que possa resistir à violência total. Toda fechadura é um apelo
ao arrombador. Que umbral psicológico é uma fechadura! (p.72 - capítulo III a
gaveta, os cofres e os armários)
(...) haverá mais coisas num cofre fechado do que num cofre aberto. A
verificação faz morrer as imagens. (p.76 - capítulo III a gaveta, os cofres e os
armários)
(...) todo canto de uma casa, todo ângulo de um aposento, todo espaço reduzido
onde gostamos de nos esconder, de confabular conosco mesmos, é, para a
imaginação, uma solidão, ou seja, o germe de um aposento, o germe de uma
casa. (p.108 - capítulo VI os cantos)
Como acontece com toda gente em tais ocasiões, Piotr Ivánovitch entrou sem
saber ao certo o que devia fazer. Mas uma coisa não ignorava: um sinal-da-cruz
é sempre oportuno. Ficou, porém, em dúvida se deveria também se ajoelhar. E,
então, ao transpor a porta, apelou para um discreto meio-termo: persignou-se e
inclinou ligeiramente a cabeça. (p.9)
E a lembrança se afigurou inconveniente a Piotr Ivánovitch, ou pelo menos
pareceu não lhe dizer respeito. Sentiu-se um pouco constrangido e, mais uma
vez fazendo um rápido sinal-da-cruz, virou-se e se encaminhou para a porta,
com uma pressa que fugia às regras da decência, conforme ele mesmo
considerou. (p.10)
A vida, uma série de sofrimentos crescentes, rolava cada vez mais veloz para o
último e mais terrível sofrimento. (p.67)
BAUDELAIRE, Charles. As Flores do Mal. São Paulo: Martin Claret, 2012. 255p.