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UNIDADE 3 CONTINUAÇÃO – A TERCEIRA QUESTÃO CHAVE DA ECONOMIA:

A JUSTIÇA DISTRIBUTIVA

INTRODUÇÃO

 Trata da repartição dos resultados do esforço social de produção. Esta é


uma questão complexa em virtude de:

 Correlação contribuições-participação: avaliar as contribuições em


relação ao valor agregado. Reconhecimento, renda, poder, prestígio e
riqueza não são correlacionáveis exclusivamente com fatores
econômicos.

 Juízos de valor envolvidos: a repartição deve ser igualitária ou deve


prestigiar os talentos e os esforços?

 Efeitos colaterais: quaisquer que sejam a estrutura de distribuição de


renda e da riqueza e os mecanismos que a definem, haverá sempre
efeitos colaterais sobre a economia como um todo. As questões chave
da economia são inter-relacionadas. A eficiência produtiva fundamenta-
se também na justiça distributiva. J. Pastore afirma: “uma sociedade sem
mobilidade é uma sociedade estagnada, que simplesmente reproduz a
estrutura vigente ao longo do tempo”.

 Desdobramentos político-institucionais: as diferentes formas de


organização da vida econômica, suas justificações ideológicas e
implicações político-institucionais têm estreitas relações com diferentes
propostas para a questão da justiça distributiva. A contraposição entre a
economia de mercado e a de comando central se estabelece a partir
desta questão chave.

A QUESTÃO DA DESIGUALDADE ECONÔMICA

 Quadros referenciais: estruturas de repartição em diferentes países

 A desigualdade econômica, evidenciada pelas estruturas de repartição


da renda pessoal, é um das características universais das nações. Não há uma
só economia nacional que tenha apresentado algum dia o que apresenta hoje
padrões distributivos de renda e riqueza que possam ser descritos como de
igualdade absoluta.

 Segundo J. L. Bach: “a desigualdade e a pobreza são tão antigas quanto


a história do homem socialmente organizado”.

 Prevalecem em todas as nações estruturas de repartição da renda e da


riqueza caracterizadas por diferentes graus de desigualdade. Considerando-se
pobreza e riqueza como conceitos relativos, há pobres e ricos em todas as
economias nacionais, independentemente do estágio de desenvolvimento
alcançado.

 Pobreza absoluta – limite inferior de renda recebida pela classe


socioeconômica situada na base da pirâmide de repartição.

 A tabela 1 sintetiza a estrutura de repartição pessoal da renda em 51


países selecionados dos cinco continentes.
Tabela 1 – Estrutura da repartição da renda em países selecionados: taxas de participação na renda
agregada de cinco estratos socioeconômicos
 A Estrutura de Repartição da Renda no Brasil

 No Brasil, os padrões da estrutura de repartição da renda assemelham-


se aos das nações de baixo PNB per capita e de alta concentração distributiva.

 Os dados da tabela 2 mostram que os 20% mais pobres ficam com 3,5%
da renda agregada; os 20% mais ricos com 62,6%.
Tabela 2 – Estrutura de repartição da renda no Brasil em 2001. Distribuição da população
economicamente ativa, por classes de rendimentos

 A estrutura de repartição da renda no país é de alta concentração.


Qualquer que seja o ângulo de leitura dos dados, eles revelam a alta
discrepância entre as parcelas da renda agregada apropriadas pelos mais
pobres e mais ricos. Na Tabela 2, observam-se, entre outras, as três seguintes
indicações de alta concentração:

 O segmento de mais alta renda do país, constituído pelo 1% mais


rico, apropria-se de 13,1% da renda agregada. Essa taxa de apropriação
é pouco menor que a dos 50% mais pobres, que ficam com 14,4% da
renda agregada.

 Aos 5% mais ricos destinam-se 33,7% da renda agregada,


participação acumulada dos 80% mais pobres.

 Mesmo entre os mais ricos, a estrutura distributiva é concentrada:


dos 46,9% de renda apropriada pelos 10% mais ricos, 33,7% destinam-
se aos 5% mais ricos.

 A estrutura de distribuição praticamente se reproduz em todas as


grandes regiões. Os dados da tabela 3 revelam que a forma como a renda se
reparte é muito parecida em todas as regiões, embora no Nordeste, no Norte e
no Centro-Oeste, a desigualdade interclasses seja ainda mais acentuada que
nas regiões Sul e Sudeste.

Tabela 3 – Estrutura de repartição da renda no Brasil em 2001, por grandes regiões. Distribuição da
população urbana economicamente ativa, por classes de rendimentos

 De 1960 a 1990, a renda


tornou-se crescentemente
concentrada no Brasil. A Figura 1
revela que em 1960 a estrutura de
distribuição era menos desigual que
em 1990. A questão-chave da
justiça distributiva no país não se
equacionou adequadamente
nesses 30 anos.
Figura 1 – Evolução da estrutura de repartição da
renda agregada no Brasil, 1960-2001.
OS INSTRUMENTOS DE AFERIÇÃO DAS DESIGUALDADES

 A Hipérbole de Pareto: Conceito e Interpretação

 Os dados sobre estruturas de repartição da renda, da forma como são


convencionalmente apresentados, indicam como a renda agregada se
encontra distribuída, permitindo que se comparem entre si padrões de
distribuição, bem como sua evolução ao longo do tempo.

 Mas nem sempre dão a medida exata das diferenças observadas. Isto
só é possível com o emprego de instrumentos de aferição, que em
geral reduzem os graus de concentração das estruturas de
distribuição a um único coeficiente. São deste tipo, por exemplo, o
coeficiente alfa de Pareto e o coeficiente de Gini.

 O enunciado geral da lei de Pareto baseou-se em dados estatísticos


de diferentes países, a partir do qual ele construiu séries de
distribuição de freqüência, adotando como intervalos de classes os
diversos estratos da repartição e acumulando descendentemente os
dados correspondentes ao número dos indivíduos inscritos em cada
uma das classes.

 As distribuições foram reproduzidas em diagramas cartesianos,


representando-se no eixo das abscissas as classes de renda e no eixo
das ordenadas as freqüências descendentemente acumuladas,
correspondentes ao número de indivíduos com rendimentos iguais ou
superiores aos das classes consideradas.
Figura 2 – Hipérboles de Pareto. Curvas ajustadas a estruturas de repartição da renda
 As curvas encontradas apresentam sempre uma forma semelhante,
descrevendo ramos de hipérbole, cuja equação é dada pela
expressão:
Y = A / (X - r)α
 Y – número de indivíduos
 X – classes de rendimento
 A e α – parâmetros positivos
 R – menor renda a partir da qual a curva se desenvolve.

 Dada a equação acima, quando X tende para r, Y tende para o infinito;


quando X tende para o infinito, Y tende a zero. Isto que dizer que tanto
maior será o número dos indivíduos inscritos quanto menores os
níveis de rendimento; na outra extremidade da curva quanto mais
expressivo for o nível de rendimento, menor o número dos indivíduos
inscritos.
α –α
 Se r = 0, Y = A / X , ou Y = A . X .
 Então: Log Y = Log A – α Log X é uma expressão linear com alfa
representando a inclinação e indicando o grau de desigualdade da
repartição de renda. Alfa varia de 1,2 a 1,9, tendo como média 1,5.

Figura 3 – Cinco hipóteses de estruturas de


repartição, representadas sob a forma de curvas
de Pareto: da plena igualdade à plena
desigualdade
 A Curva de Lorenz e o Coeficiente de Gini

 Representa os percentuais acumulados da população e suas


participações correspondentes na renda agregada. Assemelha-se a
um ramo de parábola.

 A curva de Lorenz é comparada com a reta de eqüidistribuição, que


corresponde a uma situação teórica em que a renda seria
igualitariamente distribuída entre a população. Entre a curva de
Lorenz e a reta de distribuição igualitária, defini-se área da
desigualdade. Quanto maior for esta área, maior a concentração na
distribuição de renda.

 A Tabela 4 reúne seis estruturas teóricas de repartição da renda, de


seis países imaginários, A a F. Transportando cada uma destas seis
estruturas para um diagrama de Lorenz, como o da Figura 4,
definiremos diferentes áreas de concentração da renda.

Tabela 4 – Estruturas teóricas de repartição da renda. Seis economias imaginárias: da igualdade perfeita à
plena desigualdade

Figura 4 – Seis diferentes estruturas teóricas de repartição da renda: do extremo da plena igualdade ao
extremo da plena desigualdade
 A partir das curvas de Lorenz, podemos calcular um coeficiente de
concentração de renda, definido a partir da área que se estabelece
entre a curva de desigualdade e a reta de perfeita igualdade. Trata-se
do coeficiente de Gini, graficamente dado pela divisão da área
compreendida pela curva de Lorenz e o triangulo de plena
desigualdade, formado pela linha perfeita igualdade e os dois eixos do
diagrama.
 O coeficiente de Gini varia dentro do intervalo zero a um; zero, quando
não há área de desigualdade; um, quando área é igual do triangulo de
plena desigualdade.

 A Estrutura de Repartição da Renda no Brasil

 No Brasil, os coeficientes de Gini, calculados para os anos de 1960,


70, 80, 90, 95 e 2001 evidenciam o já destacado processo de
crescente concentração da renda, somente revertido a partir de 95.

 Os dados da Tabela 5, transportados para a Figura 5 mostram como,


no período, a distribuição de renda tornou-se mais desigual.

Tabela 5 – Evolução da Estrutura de Repartição de renda no Brasil 1960 – 2001. Distribuições Acumuladas.
Figura 5 – Curvas de Lorenz das estruturas de repartição da renda no Brasil em 1960 e 2001. Evidenciando
maior concentração, a área de desigualdade em 2001 ampliou-se.

 Desigualdades e Pobreza: Diferenças Conceituais e Implicações.

 Os indicadores convencionais de desigualdade, não obstante revelem


e comparem entre sim os padrões de repartição que se observam em
diferentes grupos sociais ou em diferentes economias nacionais vistas
como um todo, escondem um dos aspectos cruciais da questão-chave
da justiça distributiva: a existência da pobreza.

 O conceito de pobreza relativa é derivado das estruturas de


desigualdade na distribuição de renda. Sob este prisma, a pobreza
pode ser definida em relação a determinado padrão médio.

 Já o conceito de pobreza absoluta leva em conta não a posição


relativa de determinada classe em relação à sociedade a que
pertence. Ele parte da concepção de que pobreza e desigualdade não
são coisas iguais, embora se apresentem correlacionadas.

 As duas abordagens de referencia para definição da linha de pobreza


absoluta são:

 A sobrevivência biológica – diz respeito à definição de uma linha


de pobreza a partir de requisitos mínimos exigidos para satisfação
de necessidades alimentares.

 A satisfação de necessidades básicas – diz respeito à definição


de uma linha de pobreza que não se limita ao preenchimento de
requisitos biofisiológicos. É mais abrangente, incluindo também
disponibilidade orçamentária para atender a exigências mínimas de
vestuário, moradia, transportes, assistência à saúde e educação
fundamental.

Figura 6 – Esquema metodológico para definição do conceito de pobreza. A fixação de critérios para
estimativa da linha de pobreza

 Pode-se medir o grau de pobreza de determinada sociedade por


diferentes tipos de índices. Os principais são:

 Índice de incidência de pobreza: define-se pela proporção de


população que se encontra abaixo da linha de pobreza, em
relação à população total.

 Índice de insuficiência de renda: conhecida a linha de pobreza


e a renda agregada de todos os que se encontram abaixo dela,
este índice mede a deficiência de renda em relação à linha
definida.

 Índice de déficit da pobreza: para o cálculo deste índice devem


ser conhecidas: a linha de pobreza, a renda agregada de todos
os que se encontram abaixo dela e a renda agregada da
sociedade como um todo. Esses dados permitem que se calcule
quanto de renda precisa ser adicionado à renda de todos os
pobres para que eles alcancem a linha da pobreza.
DESIGUALDADE, POBREZA E JUSTIÇA DISTRIBUTIVA

 As Causas Prováveis das Desigualdades

 A desigual repartição da renda, a pobreza relativa e mesmo a


pobreza absoluta são aspectos da realidade econômica que
parecem estar presentes em todas as sociedades,
independentemente de seus estágios de desenvolvimento e da
ordem institucional praticada.

 Como a desigualdade e a pobreza estão presentes em todas as


nações, quais seriam afinal, seus principais fatores determinantes?
Quais as causas?

 Heranças históricas – escravidão, imobilidade social.

 Macrocondicionalidades – modelos de crescimento e


desenvolvimento.

 Retorno do capital humano – background e educação.

 Talento e habilidades inatas – dons valorizados pela


sociedade.

 Curva de experiência – experiência como fator de


diferenciação.

 Estoques de riqueza acumulados – poupança ou herança.

 Poder de mercado – imperfeições da concorrência.

 Heterogeneidade ocupacional – divisão social do trabalho.

 Discriminação – sexo e cor.

 O Que Significa Justiça Distributiva

 A justiça distributiva esta relacionada aos critérios da maximização


da renda mínima e o princípio da diferença. A maximização de
renda mínima implica que a estrutura de repartição social seja tal
que os mais pobres dos indivíduos tenha padrões admitidos como
de bem-estar. O princípio da diferença implica que as de renda
reproduzam padrões de eficiência agregada que maximizem o
bem-estar de todos.

 Existem condições, relacionadas à integração da questão-chave


justiça distributiva com as outras questões-chave da economia.
Elas se inter-relacionam, no sentido de que nenhuma, quando
considerada isoladamente, basta a si própria nem ao sistema
socioeconômico como um todo.

Figura 7 – Os critérios que definem a justiça distributiva complementam-se com a intersecção desta
questão-chave como os requisitos da eficiência produtiva e da eficácia alocativa

 Embora não existam indicações consensadas, há pelo menos três pontos a


partir dos quais se podem definir estruturas de repartição que preenchem
minimamente as condições da justiça distributiva. Em síntese são:

 Equitatividade: padrão de desigualdade justificado por causas justas


que explique as diferenças de renda e da riqueza.
 Zero de pobreza absoluta: atendimento universal de necessidades
básicas, no sentido de que os mais pobres da estrutura distributiva
tenham padrões mínimos de bem-estar.
 Princípio da diferença: estrutura de repartição não plenamente
igualitária, cujos resultados maximizam o bem-estar permanente de toda
a sociedade.
UNIDADE 3 CONTINUAÇÃO – A QUARTA QUESTÃO-CHAVE DA ECONOMIA: O
ORDENAMENTO INSTITUCIONAL

INTRODUÇÃO

 Trata-se de definir que princípios, bases estruturais e características


de ordem econômica melhor compatibilizam os objetivos de pleno
emprego, máximo aproveitamento de fatores empregados, expansão
de fronteiras de produção, redução de custos sociais de oportunidade
a níveis mínimos, equitatividade e incidência zero de pobreza.

 A duas formas básicas de ordenamento institucional são a economia


de mercado e a economia de comando central. Entre esses dois
pólos, podem-se se estabelecer inúmeras variantes, genericamente
denominados de sistemas mistos.

 Quando se destacam traços dominantes das diferentes formas de


ordenamento institucional, evidenciando-se sua evolução ao longo do
tempo, seus resultados, suas contradições, seus vícios e suas
imperfeições, a impressão que tem é de que, a longo prazo, parece
consolidar-se uma tendência centrípeta: os sistemas econômicos
estão-se deslocando dos extremos para o centro.

 As economias de comando central passam por processos de


reestruturação e de abertura. E as economias de mercado revêem os
papéis, o tamanho e os limites do governo como agente econômico e
rediscutem as funções sociais dos empreendimentos privados.

FORMAS ALTERNATIVAS DE ORDENAMENTO: UMA VISÃO CONJUNTO

 As Bases das Primeiras Formas de Ordenamento Institucional

 As primeiras formas de ordenamento institucional da economia,


praticadas desde a Antiguidade até o final da Idade Média e, depois,
estendidas pelos séculos XVI, XVII e a primeira metade do século
XVIII, fundamentaram-se em três bases:

 Autoridade: o exercício autocrático do poder.

 Proteção: o governo como agente tutelar.

 Tradição: a reprodução do conservadorismo.

 As palavras-chave que definem o ordenamento institucional praticado


expressam conteúdos semelhantes: Poder autocrático,
Conservadorismo, Centralismo, Restrições, Regulamentações.
Tabela 1 – O ordenamento da economia: uma visão de conjunto, sob perspectiva histórica. Da Antiguidade
à primeira metade do século XVIII

 O Pensamento Liberal Clássico e a Economia de Mercado

 As características básicas descritas anteriormente só foram superadas


a partir da segunda metade do século XVIII, com a formulação do
pensamento liberal clássico.

 Uma rebelião de novas idéias, fundamentada em novos princípios,


coincidiu com a revolução industrial, com a guerra da independência
nos Estados Unidos com a Revolução Francesa.

 Em 1776, mesmo ano da declaração da independência norte-


americana, com a publicação de the wealth of nations, de Adam
Smith, começaram a mudar substancialmente as crenças nos
princípios tradicionais de ordenamento da economia.

 Na mesma época, a França vivia momentos de crise. Denunciavam-se


os privilégios das classes dominantes sustentados pelo poder central.
Os controles burocráticos e a excessiva regulamentação vinham
dificultando o desempenho da economia.

 Floresceu a idéia de que era natural e conveniente que não houvesse


qualquer intervenção do governo na vida econômica e social. Datam
dessa época os novos conceitos os que se edificaria uma nova ordem
institucional:

 Ordem natural: resulta da ordem econômica.


 Laissez-faire: mínima interferência do governo.

 O Pensamento Socialista e a Economia de Comando Central

 A segunda metade do século XIX produziu um tipo de pensamento


socialista respaldado na observação crítica da realidade.

 Ele nasceu do fracasso do liberalismo em corresponder às suas


promessas, extremamente otimistas, de bem-estar econômico geral.

 Somente no século XX é que se deu a construção das economias de


comando central, doutrinariamente fundamentadas no pensamento
marxista.

 Acreditavam os socialistas que as instituições básicas do liberalismo,


a liberdade de empreender, a livre concorrência e a propriedade
privada dos meios de produção, eram responsáveis pelas
desigualdades na repartição da renda social e pelas seguidas crises
econômicas.

 Eliminar essas instituições, substituindo-as por outras, sintetizava o


objetivo específico da revolução socialista.

 A propriedade dos meios de produção deveria pertencer à sociedade,


e a organização da atividade não deveria ser guiada pelo interesse
individual e pela concorrência, mas por um único centro de decisões,
que atuaria no sentido do interesse coletivo.

 Esse sistema de organização da atividade econômica, embora


proposto no século XIX, só seria praticado pelos soviéticos após a
revolução de 1917. Somente à época da Segunda Grande Guerra é
que outras nações passariam a submeter-se às regras de planificação
centralizada: Tcheco-Eslováquia, Iugoslávia, Hungria, Alemanha
Oriental, Polônia, Bulgária, Albânia e Romênia, na Europa; Cuba, no
Caribe, e a China, na Ásia.

 Uma síntese: traços e transição dos modelos de referência

 Restrição seletiva ao empreendimento privado.

 Estatização parcial do aparelho de produção.

 Submissão dos mercados ao poder regulatório.


Tabela 2 – O ordenamento da economia: uma visão de conjunto, sob perspectiva histórica. Da primeira
metade do século XVIII ao final do século XX.

O MODELO LIBERAL: O ORDENAMENTO PELAS FORÇAS DE MERCADO

 Uma primeira aproximação: a “mão invisível” do mercado


 Fable of the bees (B. de Mandeville, 1705): São do interesse público a
cobiça, a ambição individual e a procura do benefício próprio;
esses três aparentes vícios de comportamento constituem condições
essenciais para a sustentação das atividades econômicas.

 O comportamento do homem econômico, segundo o ponto de vista


originalmente desenvolvido por A. Smith, fundamenta-se, no esforço
que cada qual faz, continuamente, para melhorar sua própria posição.
O interesse próprio é o impulso que leva ao empreendimento, à
produção e à satisfação das necessidades sociais. Ainda que possa
ser um vício privado, ele deságua em benefícios públicos.
 Segundo o argumento da ortodoxia clássica, o bom funcionamento do
sistema econômico como um todo não se fundamenta apenas na
justificação do interesse individual, mas nos ajustamentos que a
concorrência perfeita é capaz de promover. A concorrência é a
contrapartida do interesse próprio.

 Em síntese, as proposições da ortodoxia liberal fundamenta-se em 4


princípios:
 A racionalidade do homem econômico: fundamenta-se na
presunção de que os agentes econômicos, individualmente
considerados, sempre se conduzem de forma racional. Assim, os
agentes individuais prescindem da tutoria do governo, à medida
que sua própria racionalidade constitui a segurança maior de seu
bem-estar.

 As virtudes do individualismo: fundamenta-se na concepção de


que a soma dos interesses individuais, resultante da racionalidade
de cada agente econômico, é a expressão própria dos interesses
coletivos. Cada qual, ao buscar seu próprio interesse, está
convergindo para a realização do interesse social.

 O automatismo das forças do mercado: como consumidores, os


cidadãos têm liberdade para adquirir o que mais lhes agrada a
fantasia; como produtores, como trabalhadores ou como
proprietários de outros meios de produção, têm liberdade de
empregar sua força de trabalho e seus ativos de tal forma que, a
seu juízo, estes lhe tragam a máxima recompensa econômica ou
outra forma de satisfação.

 Os ajustamentos pela concorrência: quando a concorrência se


estabelece, ela impede que produtores conspirem contra o
interesse social, a não ser que eles se unam, em conluios que
destruam os princípios da competição.

 Os vícios e as imperfeições da economia de mercado

 As proposições e os princípios da ortodoxia liberal chocaram-se com


as novas realidades que emergiram das ondas sucessivas de
revoluções tecnológicas e industriais, ocorridas nos últimos dois
séculos. Chocaram-se também com os vícios e as imperfeições da
própria economia de mercado, tanto no plano micro, como no
macroeconômico. E ainda com as novas requisições sócias que o
empreendimento privado e o mercado não foram capazes de atender.

 As deficiências, os vícios e as imperfeições da economia de mercado


resultaram assim, de desvios entre suas bases conceituais e a
realidade da vida econômica. E muitas delas se acentuaram ao longo
dos anos, em decorrência de mudanças de alto impacto ocorridas nas
condições sociais e político-institucionais da maior parte das nações.
São geralmente destacadas as seguintes:

 Estruturas efetivas de concorrência: o modelo idealizado de


economia de mercado fundamentava-se a hipótese de
concorrência perfeita. Mas, as estruturas de concorrência que na
realidade prevalecem são imperfeitas. Ocorrendo imperfeições na
estrutura de concorrência, com formação de grupos conspirativos,
como os cartéis e ainda os monopólios, não se pode garantir que o
interesse social prevalecerá sobre o privado.

 Geração de externalidades negativas: os efeitos sobre terceiros


ou sobre a sociedade como um todo causados pelas ações ou
comportamentos de agentes envolvidos em determinado ato
econômico pode ser positivas ou negativas, benéficas ou
prejudiciais, não importa se involuntárias ou não. Uma das
imperfeições em que atuação dos agentes econômicos é
preponderantemente livre é a geração de externalidades negativas.

 Incapacidade para avaliação de méritos: a racionalidade do


homem econômico não é garantia suficiente para que os padrões
de produção ou de consumo sejam plenamente satisfatórios, tanto
do ponto de vista da sociedade como um todo, como de indivíduos
isoladamente considerados.

 Instabilidade conjuntural: os primeiros formuladores da ortodoxia


liberal acreditavam que como a oferta cria sua própria demanda,
tudo o que for produzido será escoado e a economia se manterá
permanentemente em estado de equilíbrio e de pleno emprego.
Mas os fatos não confirmaram essa suposição. A historia da
economia de mercado é pontilhada por bruscas oscilações, de alta
e de baixa, da atividade econômica como um todo.

 Ineficiências distributivas: a liberdade de ação econômica não é


um premio de que todos desfrutam em igualdade de condições.
Uma das causas da desigualdade de rendas e de riquezas é o
talento diferenciado que alguns têm para desenvolver negócios e
fazer fortuna.

 Incapacidade para produzir bens públicos e semipúblicos: por


definição, os bens públicos diferem dos bens de mercado por
vários atributos. Os primeiros se definem por sua indivisibilidade e
pela dificuldade em se ressarcirem seus custos de oferta pelos
mecanismos do mercado. Ex: segurança nacional e saneamento
básico.
 Ineficácia alocativa: esta deficiência tem a ver com uma das
características marcantes das economias de mercado: nelas, os
produtores não ouvem as vozes de quem mais necessita, mas as
de quem tem mais recursos para adquirir os bens e serviços que
eles estão dispostos a produzir.

 As Intervenções Corretivas: Fundamentos e Objetivos

 Os vícios, as imperfeições e as deficiências levaram o governo a atuar


com maior amplitude, deixando de ser mero agente passivo.

 Ao ampliar sua esfera de ação, o governo assumiu funções adicionais.


O número dessas funções e seu conteúdo interventor superaram as
prescrições originais da ortodoxia liberal. As novas funções passaram
a compreender:
 Promover a concorrências, fiscalizar e corrigir desvios que
contrariem o interesse social.

 Mobilizar instrumentos de política econômica para estabilizar a


economia.

 Redistribuir a renda e remover situações de pobreza absoluta.

 Atenuar ou remover problemas decorrentes de externalidades.

 Produzir bens e serviços públicos, que, pelos mecanismos do


mercado livre e pelos estímulos do empreendimento privado não
seriam produzidos em escalas que atendessem às necessidades
a eles relacionadas.

 O economista Adolph Wagner detectou no final do século XIX as


necessidades crescentes por bens públicos e semipúblicos. A lei de
Wagner diz que a expansão do governo nas economias de mercado
se dá a taxas mais que proporcionais ao crescimento da renda
agregada.

 Há também algumas restrições à intervenção do governo:


 O regulamento excessivo dos processos econômicos para a
esfera do governo, centralizam-se decisões alocativas.

 O governo como empresário tende a ser menos eficiente no


emprego de recursos que os empreendedores privados, devido
a fatores como: rigidez administrativa e descontinuidade
gerencial; pouca sensibilidade para custos e para exigências do
mercado; imunidade à competição; ausência de mecanismos de
estímulo e de penalização.
 Este conjunto de restrições tem levado, desde o início dos anos 80, à
revisão dos papéis, dos limites e do tamanho do governo nas
economias de mercado. A tendência, que tem sido denominada
genericamente de neoliberalismo tem levado à redução de
determinadas ações intervencionistas.

O MODELO COLETIVISTA: O ORDENAMENTO POR COMANDOS


CENTRAIS

 A crítica socialista e a planificação da economia

 Thomas Morus, 1516 – Utopia: solidarismo igualitarista: todos


trabalham para o bem da sociedade.

 Utopistas franceses – séc. XVII

 Associativistas ingleses – séc. XVIII

 Karl Marx e Friedrich Engels – 1848 Manifesto Comunista

 Karl Marx – 1867- O Capital – Síntese do pensamento comunista

 Karl Marx procurou evidenciar que o socialismo, antes de ser


concepção de uma forma ideal de organização da vida em sociedade,
deveria ser visto como uma tendência inevitável da historia, uma
espécie de ruptura engendrada pelas contradições do processo
privado de acumulação.

 No pensamento de Marx, as sociedades estão sujeitas a um


permanente processo de transformação histórica, decorrente de
choques entre interesses opostos. Assim, das condições vigentes em
sua época resultaria uma nova ordem, fruto da luta de classes entre
os detentores do capital e do proletariado.

 O Quadro Institucional e os Modelos de Planificação

 O retorno ao sistema de comando central ocorreu a partir de 1927-28,


no início da era stalinista. Quando Stalin assumiu o poder, já se
encontrava definido o quadro institucional do sistema. E também já se
encontravam estruturadas suas bases organizacionais e o modelo de
gestão que seria adotado para a coordenação como um todo.

 O quadro institucional fundamentava-se nos seguintes pontos:


 A posso e o controle, pelo governo, da totalidade dos meios de
produção da economia: isto significa reduzir a zero ou a quase
zero as variadas formas de propriedades privada dos recursos
produtivos.
 A justaposição dos poderes político e econômico: este traço é
uma decorrência linear da coletivização dos meios de produção.
Com ele, o governo define a alocação dos recursos e a destinação
dos produtos.

 A soberania do planejador: é uma decorrência natural dos dois


anteriores. A soberania do consumidor ou do produtor, movidos por
interesses privados, é substituída pela do planejador.

 A supremacia de medidas compulsórias de gestão,


comparativamente a sistemas de incentivo fundamentados na
busca do interesse próprio.

 O governo assume a posição de agente econômico central. É dele a


responsabilidade pelo equacionamento das três questões-chave da
economia: a eficiência, a eficácia e a justiça social.

 Na economia soviética, por exemplo, o governo detinha, em 1950, o


correspondente a 99,4% dos meios de produção.

 Para conduzir a economia, o governo recorre a um conjunto


articulados de planos. Planos elaborados para horizontes de longo
prazo, passando por planos de médio prazo, até chegar aos planos
operacionais, de condução do processo econômico, de orçamento e
de acompanhamento de metas anuais.

 Os Vícios e as Imperfeições dos Sistemas Centralizados

 Uma avaliação da trajetória histórica das economias de comando


central evidencia uma característica comum a todas elas: a passagem
de modelos centralistas para formas mais flexíveis de condução da
economia. Em todas, observam-se também como evoluções comuns
a revisão de duas instituições fundamentais: a propriedade
coletivizada dos meios de produção e a restrição à liberdade para
empreender.

 As mudanças observadas nessas economias têm muito a ver com os


vícios, as imperfeições e as deficiências do modelo centralista
extremado. Entre as de maior relevância, são geralmente destacadas
as seguintes:
 Burocratização excessiva imposta ao processo econômico.

 Insubmissão de atividades primarias e terciárias ao rigorismo


dos comandos centrais.
 Congelamento de padrões definidos.
 Vulnerabilidade à propagação de erros estratégicos ou
operacionais.
 Desalinhamento das escolhas em relação às aspirações sociais.
 Dificuldades para reconhecer e corrigir externalidades negativas.
 Perda progressiva de eficiência produtiva, comprometendo ao
longo prazo o objetivo dominante da justiça distributiva.

O PROCESSO DE DESRADICALIZAÇÃO: A TENDÊNCIA CENTRÍPETA

 As Direções Dominantes: dos extremos para o Centro

 Decorrentes da correção das imperfeições e das deficiências dos


ordenamentos institucionais extremados, as mudanças introduzidas
em cada uma dos dois pólos opostos parecem caminhar em direção
centrípeta – dos extremos para o centro.

 As posições de cada um dos sistemas em relação aos dois critérios


fundamentais, a liberdade econômica e a propriedade dos meios de
produção, já são as praticadas no passado.
Tabela 3 – Evolução de economias de comando central, em relação a dois critérios de diferenciação de
sistemas econômicos: liberdade e propriedade.
Tabela 4 – Evolução de economias de mercado, em relação a dois critérios de diferenciação de sistemas
econômicos: liberdade e propriedade.

 Um Novo Paradigma: A Economia Social de Mercado

 É um tipo de ordenamento institucional que se configura como uma


espécie de síntese dos modelos até então praticados.

 As diferenças interclasses são decorrentes de causas socialmente


aceitáveis. Prevalecem os princípios da equitatividade, não os de
pleno igualitarismo.

 Todas as classes têm acesso a todos os mercados, embora com


diferentes poderes de aquisição.

 Não há os que se excluam dos mercados essenciais. Às


necessidades básicas todos têm amplo acesso. É nula a incidência de
pobreza absoluta.
Tabela 5– Os novos paradigmas do ordenamento institucional: a trajetória aparente das grandes
mudanças.
BIBLIOGRAFIA

 ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 20 ed., São


Paulo: Ed. Atlas, 2003.

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