Você está na página 1de 15

Embucetismos

(poemas)

Severino Figueiredo
1. OPERÁRIO

O canteiro de obras

tem vários tamanhos

e cores de zorbas

onde dentro e morga

a rola suada

por fora se coça

2. FIMOSE

Todo boy nasce

com excesso de pele

na cabeça da minhoca

De duas uma sucede:

ela cresce

e a cabeça desemboca;

ela estica mas

prefere o escuro da toca.


3. PUNHETA

O caminhão guarda

mil quilos de espera

mas não feito a mão

daquela que pesca

uma mão igualzinha

na falta e na oferta

É mais dando a mão

ao que desestressa

à ordenha do leite

de dentro da pedra
4. FLERTE 1

Gato é mais que cão

no rabo: tem de miss o de aceno

pois se bota acima

mesmo de pau menor que o jumento

Gato que do cão

difere quando se endurecendo

maior tempo nega

a pelúcia do acasalamento

5. FLERTE 2

fuça fundo o cão

fundo taca taça

ao róseo botão
6. DOM

uma das pontas

da cruz de cristo

o pau do menor

na mão do arcebispo

7. BRASIL QUE QUERO

Nalgum ponto da cidade

(cartão-postal)

Enquadro a cara na tela

(horizontal)

O Brasil que a gente quer

para o futuro

é o da buceta molhada

o do pau duro
8. DO LIVRO

Embucetismo,

de embucetado:

o que tá puto,

brabo, irado.

Embucetismos:

a siririca

matinal

no terraço

o cão lambendo

o próprio pau.

Embucetismos

que se embucete

o cidadão

anticorpo

um viva ao que

no rabo é fogo
9. SOLIDÃO

Nalguma hora

o pé formiga no coturno

Aí faz falta um velho

enrolado no extrato

uma nêga presa

na porta giratória

Porque então se anda

abre-se a boca pra mandar

chaves pro coletor.

Mas nalguma hora

o pé formiga no coturno

e só tem tu

mais 12 caixas eletrônicos

um ferro, cinco poivas


que a sexta gastou-se à paisana.

Nessa hora

em que o pé formiga no coturno

o pau coça

e coçando tu lembra

que não fura há dias

a mulher menstruada

buceta quando...

Aí se anda

se pisa os traços das filas

no chão

Mas o pé formiga

no coturno

o pau coça

na zorba

e só tem tu
e a dúzia de caixas eletrônicos

Então desamarra o sapato

arria o calção.

Pés e pau para fora

Dentre os 12 escolhe

o preferencial

deposita a rola

na boca da máquina

goza dentro

de uma agência do Bradesco.


10. AMANCEBAÇÃO

Cum cão de casa morto de velho

morrem anos de vigília

e o cartão de vacina

do centro de zoonoses

O cão de casa morto de velho

onde enterrar se não temos quintal?

Num novo cão de casa

de nome e cor novos

que como o velho coma

sacos de pão de caixa mofado


11. RUA DO PORTO

O homem que trampa no Porto

a mulher da rua do Porto

pica

O futuro homem do Porto

na creche da rua do Porto

fica

12. NUDE

Eu num tinha essa de hoje,

assim chocha, assim pouca,

assim assim...

Nem essas tão passas.

Num tinha essa sem sangue,

tão veluda e veiuda e velhuda;

Eu num tinha essa napeira


que nem se ga-baba.

Eu num dei por essa demência,

tão certa, tão fácil, tão simples:

— Em que app ficou pendida

a minha pêia?

13. PRELÚDIO

1.

Desde que sentimos

o cheiro de merda

não passamos um dia

sem olhar as solas

de nossas chinelas

Desde que sentimos

pensamos: já já passa ventania

como ao do nariz de pó

e voltaremos ao cheiro de lama

da nossa continental Mariana


Mas continuamos sentindo

trocando de havaianas

comprando bom-ar

quilos de goiaba madura

pra pôr na fruteira

2.

Muito depois

é que viemos notar

o rabo de nossos pais

a boca de nossas mães

as unhas

dos ex-colegas do médio

Filetes de merda

em suas cuecas

por entre canais e caninos

nas mãos que se davam com estas

Então tentamos
com rolos e rolos de papel

escova acetona cepacol

entupir esse cheiro de merda

com o cheiro de um bolo de leite

com o cheiro de uma buceta molhada

com o cheiro de Johnson's Baby

até com o cheiro de lama

da ao menos democrática Mariana

3.

Agora

desde que nos pisar a merda

ela não vai passar um dia

sem olhar as solas

de suas chinelas

14.

No princípio

o berro:
pega o traveco!

E o berro

se fez pêia

ripa na chulipa

ferro

na boneca

esgoelética:

Dandaraiai!

Você também pode gostar