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Departamento de Políticas de
Educação Infantil e do Ensino Fundamental
152 p. : il.
Introdução ....... 7
O
ano de 2005 inaugurou a primeira edição do Prêmio Professores do Bra-
sil. Com muito empenho iniciamos uma nova proposta de premiação,
conservando os antigos parceiros – Fundação Orsa e Fundação Bunge
– e contando ainda com o apoio tradicional de duas importantes entidades, o
Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e a União Nacional de
Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
Preservamos algumas rotinas que faziam parte das antigas premiações, como
suas duas etapas de seleção – a estadual e a nacional – e estabelecemos outras,
como premiar dez professores autores de experiências no âmbito da Educação
Infantil, incluindo creches e pré-escolas e dez professores autores de experiên-
cias correspondentes à etapa dos anos/séries iniciais do Ensino Fundamental.
Nosso objetivo, ao unificar na atual proposta o “Prêmio Qualidade na Educa-
ção Infantil” e “Prêmio Incentivo à Educação Fundamental”, foi unir esforços
em prol da idéia de que a passagem da Educação Infantil para o Ensino Funda-
mental deve acontecer naturalmente, sem rupturas ou impactos negativos para
as crianças durante seu processo educativo. Tal concepção consubstancia-se na
compreensão da infância como etapa do desenvolvimento humano, como tempo
singular de vida. E é para os professores que atuam nessa etapa da formação hu-
mana que o Prêmio Professores do Brasil está direcionado.
É com imensa satisfação que o Ministério da Educação apresenta a primeira
publicação dessa nova proposta. As vinte experiências premiadas estão reunidas
aqui, no documento síntese Prêmio Professores do Brasil – 2005 – Experiências
Premiadas. Com ele, damos prosseguimento à prática de sistematizar, registrar
concepções, revelar fazeres e saberes manifestados no cotidiano de professores e
professoras das etapas iniciais da Educação Básica de todo o País.
O MEC homenageia todos os profissionais que participam e atuam nestes seg-
mentos da Educação Básica. Sente-se honrado com a oportunidade de socializar
estas experiências junto ao coletivo de educadores, especialistas da área e toda a
comunidade educacional. Esta publicação reúne um conjunto de experiências pe-
dagógicas que contribuem para a construção de uma escola inovadora e para o es-
tabelecimento de políticas públicas para formação e aprimoramento profissional.
Caro leitor,
O
Departamento de Políticas da Secretaria de Educação Básica (SEB) do
Ministério da Educação (MEC) propôs transformar o Prêmio “Qualida-
de na Educação Infantil”, desenvolvido, desde 1999, pela Coordenação
Geral de Educação Infantil (COEDI), em parceria com a Fundação Orsa e União
Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), bem como o Prêmio
“Incentivo à Educação Fundamental”, desenvolvido, desde 1995, pela Coordena-
ção Geral de Ensino Fundamental (COEF), em parceria com a Fundação Bunge e
o Conselho de Secretários Estaduais de Educação (CONSED), em uma única ativi-
dade. Foi instituído então o Prêmio Professores do Brasil.
Esta fusão traduz a concepção de que a Educação Infantil e o Ensino Funda-
mental (anos iniciais), por atenderem as crianças em sua temporalidade da infân-
cia, devam ser desenvolvidos de forma integrada, pois acreditamos ser necessário
que a transição ocorra da forma mais natural possível, não provocando rupturas
no processo de aprendizagem.
Quando, em 2005, publicamos as experiências vencedoras da edição de 2004
dos antigos “Prêmio Qualidade na Educação Infantil” e “Prêmio Incentivo à Edu-
cação Fundamental” tínhamos como objetivo que estas publicações, distribuídas
gratuitamente às Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e demais enti-
dades vinculadas à área educacional dos diversos estados brasileiros, promoves-
sem reflexões, gerassem debates e novos projetos, enriquecendo a qualidade da
ação pedagógica nas primeiras etapas da Educação Básica.
Visando manter este canal de comunicação com o professor, contribuindo com
a formação continuada dos docentes, estão aqui publicadas as vinte experiências
pedagógicas contempladas com o Prêmio Professores do Brasil em 2005.
A publicação Prêmio Professores do Brasil - 2005 - Experiências Premiadas
mostra que há professores inovando e implementando experiências bem sucedi-
das em todas as regiões do Brasil, escrevendo a história da Educação Básica em
nosso país, história de superação das dificuldades e de envolvimento da comu-
nidade escolar e das famílias no trabalho educativo.
As experiências registradas nos textos que compõem esta publicação foram re-
latadas no Primeiro Seminário Professores do Brasil e possibilitaram a reflexão,
o diálogo e a troca de idéias entre os premiados e os demais presentes. Acredita-
mos que esse tenha sido um momento importante para o debate sobre a prática
e sobre a ação pedagógica desenvolvida nessas etapas da Educação Básica.
Organizamos o Seminário, agrupando os trabalhos vencedores em quatro
painéis temáticos com cinco experiências em cada um, buscando intercalar as
apresentações das professoras dos segmentos da Educação Infantil e Ensino
Fundamental. Após cada conjunto de apresentações, realizamos debates como
participantes sob a coordenação de um especialista da área da educação.
Nesta publicação foram mantidos os mesmos blocos temáticos apresentados no Se-
minário:
Boa leitura!
. É música no ar...
PRÊMIO PROFESSORES DO BRASIL
Múltiplas Linguagens: Arte, Música e Matemática
Dados de identificação:
Título: Das formas às fórmulas
Arte e geometria num contexto interdisciplinar
Professora: Maria Rita Lorêdo
Escola Municipal Santa Maria
Município/UF: Muriaé/MG
Faixa etária atendida pela experiência: 8 a 13 anos
E
ste trabalho está sendo desen- e tinham um nível de compreensão
volvido na Escola Municipal bem diferenciado sobre os conteúdos
Santa Maria, localizada na zona geométricos. Queria trabalhar a Arte
rural do município de Muriaé - MG. É não como desenho para colorir formas
uma comunidade carente de recursos geométricas e sim criar um ambiente
econômicos e culturais, porém rica de de prazer e conhecimento sobre o que
pessoas trabalhadoras que vivem da estivesse sendo realizado.
atividade leiteira - predominante no Só no mês de março, quando um ou-
município. Todos os 38 alunos da esco- tro professor foi contratado, e a turma
la são filhos de colonos que trabalham foi dividida, consegui dar início, re-
em sítios e fazendas da região, com almente, ao trabalho. Esse projeto foi
renda per capita familiar de, aproxi- sendo desenvolvido com 19 alunos do
madamente, 400 reais. 2º, 3º e 4º anos, na faixa etária de 8 a
Ao iniciar o trabalho no mês de feve- 13 anos, sendo dois, apenas, os alunos
reiro, a escola tinha apenas uma turma especiais.
multiciclada unidocente com 24 alu- Os alunos do Pré-Escolar e do 1º ano
nos de 5 a 13 anos. Nesse período, a da outra turma participaram apenas
maior dificuldade era a chegada de 3 a de algumas atividades, de acordo com
4 alunos novos por semana. Eu não es- o nível de compreensão.
tava conseguindo dar seqüência com Dar mais sentido aos conteúdos
a geometria despertando o interesse, curriculares e também para que meus
a compreensão e a aprendizagem dos alunos, ao final do semestre, pudes-
conteúdos propostos porque os alu- sem estar mais cultos, com um saber
nos que iam chegando, não sabiam ler que dificilmente iriam ter consideran-
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Múltiplas Linguagens: Arte, Música e Matemática
à conclusão de como é importante uma mundo uma sala de aula que se renova
fundamentação teórica para executar- a cada dia. E é nessa sala de aula que o
mos com mais sabedoria nossa prática homem é avaliado por suas múltiplas
docente diariamente. Compreendi que competências e não só àquelas que a
um projeto de trabalho deve trazer a escola considera válidas”.
vida que pulsa além dos muros da esco- Para trabalhar a geometria, - tão im-
la para nossa sala se aula. portante para o trabalho em outras
Segundo (FREIRE, 1982), “Para o áreas da Matemática (frações, gráficos,
Homem e a Mulher, o mundo é uma perímetro, área, volume, etc) – e tor-
realidade objetiva independente deles, nar o trabalho divertido e atraente, o
possível de ser conhecida, em que não segundo olhar sobre uma obra de arte
apenas está, mas com o qual se defron- foi importante. Primeiro foi o olhar de
ta. Daí, o ser de relações que ele é, e apreciação, a leitura da obra de acordo
não só de contato”. com a emoção e os possíveis conheci-
Mesmo trabalhando com diferentes mentos que o aluno trazia.
faixas etárias e diferentes níveis de Com todos esses cuidados e a preo-
aprendizagens, nesse trabalho que foi cupação de que a resposta dos alunos
todo sistematizado buscou-se o alicer- seria positiva, apresentei aos alunos
ce no “prazer de conhecer”. Pablo Ruiz Picasso. Mostrei para os
Nesse momento em que a humanidade alunos um álbum com algumas obras
passa por diferentes conflitos: culturais, de Picasso e eles ficaram muito entu-
políticos, econômicos, sociais, psicológi- siasmados e achando estranho como
cos, etc, onde nosso bem-estar físico de- esse pintor representava suas formas.
pende de muitos fatores, o aluno precisa Um aluno fez o seguinte questiona-
conhecer e compreender o mundo que mento: “Será que Picasso pinta melhor
o cerca, tornando-se um sujeito ativo na ou pior que Portinari?”.
construção do seu conhecimento. Eu disse que ele é que ia descobrir
DEMO (2001) afirma: “A vida coope- e o que eu sabia era que Picasso era
rativa na sala de aula ajuda o profes- muito mais famoso que Portinari, suas
sor a sair da sua solidão, pois ele passa obras eram caríssimas, valiam milhões
a compartilhar tarefas, a co-produzir de dólares. Que a tela “O Sonho”, de
estratégias pedagógicas, a criar e a 1932, foi vendida em 1997 por 48,4 mi-
aprender novos temas”. lhões de dólares. Fizemos a conversão
Pensando em incluir todos “nós alu- para o nosso dinheiro e eles ficaram
nos”, o desenho, a leitura, a produção admirados ao saber que as obras de
de texto, a pintura, os jogos, a lingua- Picasso valiam tanto. Mostrei a repor-
gem oral, a cooperação, foram os ins- tagem da Revista Veja (19-11-97) que
trumentos usados para valorizar as falava sobre esse leilão milionário.
competências. Mostrei para eles que aquela ia ser a
Para complementar, ANTUNES primeira tela que íamos conhecer.
(2001) reforça: “A vida é uma escola e o Após ter trabalhado a biografia de
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usando réguas. Pedi também que eles escondida pela poltrona. Esse fato me
dessem um nome para a obra criada fez lembrar o professor Luiz Cláudio
e marcassem o ano de 2005 para que, da Costa, da Universidade Federal de
daqui a alguns anos, quando eles olha- Viçosa, MG, que em sua palestra sobre
rem, certamente as guerras vão ter ar- “Educar para o amor” disse que a PAZ
mamentos mais sofisticados. não vende, não dá ibope. PAZ não dá
Que riqueza de detalhes! Bombas, dinheiro. Não existe a indústria da
terroristas, prédios incendiados, fogo e PAZ, existe a indústria de guerra. Eu
tudo que a televisão mostra ficou regis- falei sobre isso com as crianças.
trado. Cada aluno falou sobre sua obra. Na “apreciação geométrica” encon-
Durante a semana levei a música traram polígonos, tais como o losango,
“Era um garoto que como eu amava romboíde, triângulos, curvas abertas,
os Beatles e os Roling Stones”, com fechadas, ângulos agudos, obtusos e
os Engenheiros do Havaí, para que as retas. Para trabalhar a classificação dos
crianças vissem que os artistas podem triângulos, apreciamos a tela “Banhis-
também falar de um acontecimento ta com uma bola de praia”, de 1932,
através da música. que mostra uma mulher de maiô rosa
Uma produção de textos – trabalhan- com vários triângulos amarelos. Ela é
do a intertextualidade entre a tela feita também da fase rosa de Picasso. Nessa
por eles e a música - ficaram ótimas! obra, as pinturas das crianças saíram
Só depois fomos ler sobre “Guernica” da forma plana para as formas arre-
e ver como Picasso retratou a Guerra dondadas (gordinhas) da banhista.
Civil Espanhola através de corpos em Avisei as crianças que esta seria a últi-
pedaços, olhos fora do lugar, animais e ma tela de Picasso que íamos pintar.
pessoas em estado de horror. Esse tex- Chega a vez de Tarsila do Amaral e
to também explicava os motivos pelo vimos que era mais nova que Picasso 5
quais levaram o artista a pintar uma anos e que foi também para Barcelona e
obra tão triste, tão grandiosa para a Paris para estudar, assim como Picasso.
história e tão grande em tamanho. Seus traços, parecidos com os da
Na semana seguinte, para fechar o obra de Picasso, nos mostram o povo
assunto guerra, fomos falar de PAZ. brasileiro, nossa paisagem e o jeito
Foi muito difícil encontrar a tela brasileiro em “Abaporu”, de 1928 (an-
“POMBA DA PAZ”, de 1951, que Pi- tropófago em Tupi), “Antropofagia”,
casso pintou. Mesmo essa tela sendo de 1929, “A Negra”, de 1923, “Operá-
usada como símbolo da Paz em quase rios”, de 1933 e “Urutu”, de 1928.
todo o mundo, ela não apareceu nos As crianças logo perceberam que Tar-
livros que eu pesquisei e nem nos si- sila e Picasso tiveram estilos parecidos.
tes de museus. Só no livro onde o fotó- A primeira tela trabalhada foi “Aba-
grafo David Douglas Duncan mostra poru” que o livro didático dos alunos
o ateliê de Picasso, ela aparece encos- apresenta com várias atividades. De-
tada na parede, no chão, um pouco pois, todos pintaram sua tela para que
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Referências bibliográficas
DANTE, Luiz Roberto. Matemática vol 4. 2ª ed. São Paulo. Editora Ática. (2001).
FREIRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. 29º ed. Rio de Janeiro: Record, (1994)
POUGY, Eliana Gomes Pereira. Descobrindo as artes visuais. 1ª ed. São Paulo (2001).
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VEJA, Bolsa cheia. Não há crise que derrube um leilão de Picasso em oferta. São
Paulo. Ed. Abril, 19 de novembro (1997).
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A
Unidade Municipal de Educa- estão expostos trabalhos das crianças e
ção Infantil Rosalina de Araújo quadro, entre outros materiais.
Costa (UMEI) está situada no Em nossa comunidade a procura por
Barreto, bairro da zona norte de Nite- vagas na UMEI é muito grande, pois é
rói, a aproximadamente seis quilôme- a única instituição pública do bairro
tros do centro do município. Na entra- que atende crianças de 3 a 5 anos.
da da instituição, as crianças vêem a A escola tem no seu histórico de alu-
casinha de bonecas e o parque. No pá- nos duas gerações da mesma família e
tio coberto, elas participam das aulas crianças cujos irmãos ou primos estuda-
de recreação e têm acesso aos banhei- ram lá há três, quatro ou mais anos, às
ros externos. Há outro parque à frente vezes, até com a mesma professora. São
do pátio coberto, de onde as crianças crianças de famílias pobres, de classe
vêem a sala das professoras. Ao lado média baixa, moradoras do morro e das
desta sala, estão os dois refeitórios favelas mais próximos da escola, filhos
separados pela cozinha. No segundo e filhas de empregadas domésticas, de
andar desta ala, encontram-se a sala funcionários públicos, comerciários,
de infojogos, a sala da comunidade e professores, eletricistas, motoristas e
a sala de leitura. E ainda, há um pátio de subempregados.
na parte de trás das salas de ativida- O projeto Arte Naïf e outras artes na
de, com grandes jardineiras ao longo Educação Infantil é o resultado do pro-
da parede. As salas de atividades são cesso de reformulação pedagógica da
amplas com banheiros infantis e portas instituição, sendo que um dos seus
coloridas em tons claros – laranja, ama- eixos principais é a relação da escola
relo, azul, vermelho e rosa. Internamen- com a arte e a cultura.
te, as paredes das salas, de azulejo rosa Considerando que tudo que nos re-
antigo, são cobertas com murais onde mete a nossa realidade pode ser mais
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bém como fez, que cores e recursos elaborar textos coletivos contando sobre
usou. a vida e o trabalho de cada artista.
Após analisarem as obras, as crian- Como parte das atividades do pro-
ças também viraram artistas! Propuse- jeto foi programada uma visita ao
mos então a elas que fizessem repro- Museu Internacional de Arte Naïf do
duções das obras de alguns pintores Brasil (MIAN). No museu, as crianças
utilizando diversos materiais. puderam apreciar, bem de pertinho,
Foi quando percebemos que a repre- as mesmas obras que já tinham visto
sentação desse intenso processo, feito nas pastas, nos livros e nas fotos, além
apenas por desenho, não dava conta de disso, foi uma bela oportunidade de
expressar tanto conhecimento novo, por conhecerem quadros de outros artistas
isso, professoras e crianças passaram a brasileiros e até de outros países.
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BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São
Paulo: Perspectiva; Porto Alegre: Fundação IOCHPE, 1991.
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Dados de identificação:
Título: Cidadania, infância e a estética do olhar
Professora: Ana Lúcia Machado
Escola Básica Vitor Miguel de Souza
Município/UF: Florianópolis/SC
Faixa etária atendida pela experiência: 9 a 13 anos
Cidadania, infância
e a estética do olhar
O
projeto aqui relatado foi de- passam as tardes cuidando dos irmãos
senvolvido durante um ano, menores, cozinhando, lavando ou
numa turma de segundo ciclo passando. Ainda há aquelas que, nada
que, em 2004, cursava a terceira série tendo o que fazer, passam longas tar-
e, em 2005, cursava a quarta série, com des e parte das noites perambulando
a mesma professora. pela vizinhança. A renda das famílias
A turma iniciou o projeto no ano varia de um a cinco salários mínimos,
passado, mais precisamente em agosto o que comprova as disparidades eco-
de 2004 e o finalizou em julho do pre- nômicas encontradas na turma.
sente ano. São, ao todo, 24 crianças es- O bairro onde se situa a escola, o
tudantes do período matutino da Rede Itacorubi, é o espelho dos contras-
Municipal de Ensino do Município de tes econômicos e culturais presentes
Florianópolis. no ambiente escolar. Nele, casas bem
A escola atende, em média, 338 planejadas, com espaço para as mais
alunos na faixa etária de 7 a 17 anos, variadas necessidades e condomí-
sendo 180 do sexo masculino e 158 do nios residenciais de luxo dividem o
sexo feminino, e possui 25 professores. cenário com as encostas do Morro do
A clientela atendida é bastante diversi- Quilombo, morro onde mora a maio-
ficada. Dela constam crianças de classe ria das crianças alunas da escola. O
média baixa a crianças que vivenciam crescimento desordenado, o uso e trá-
situações de pobreza extrema. fico de drogas, a falta de trabalho, as
Na turma envolvida é possível per- condições de precariedade residen-
ceber crianças que vivem a infância de cial (energia, saneamento básico e ur-
maneira diversa. Algumas fazem aula banismo) e a falta de acesso aos mais
de dança, futebol, capoeira, outras variados serviços são uma constante
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apenas como reflexo da indústria cultu- Mas, muito além. Ampliar e questio-
ral e da alienação e falta de reflexão de nar o repertório sociocultural são um
muitos educadores que, iludidos com objetivo urgente quando pensamos na
imagens e cenas comerciais estimulam necessidade de se superar visões es-
ainda mais o uso desta linguagem sem treitas, hegemônicas e alienantes. As
provocar a mínima reflexão e, muitas culturas não estão prontas e acabadas,
vezes, a assimilação de valores nada elas são também parte do repertório
estéticos, a assimilação de estereótipos sociocultural e, nesse sentido, “o que
de gênero, a assimilação do consumo podemos fazer ao longo de nossas vi-
desenfreado de produtos su- das está diretamente relacio-
pérfluos, a assimilação da nado ao nosso repertório
banalização da violên- de experiências” (Fer-
cia e, muitas vezes, o reira, 2001, p.16).
“alienamento” das Muitas vezes não
crianças quanto à se tem idéia do tra-
capacidade de re- balho árduo das
alizarem elabora- pessoas envolvi-
ções mais reflexi- das na produção,
vas e produzirem no tempo gasto na
esteticamente a par- elaboração de efei-
tir do cinema. tos, de emoções, dos
Como bem menciona roteiros, dos planos,
Lopes (2004): das múltiplas equipes (so-
“Ao invés de constituir-se num noplastia, iluminação, locação,
pensamento, manifestação, criação e entre outras) enfim, dos elementos de
expressão abertos, livres, desestrutu- significação do cinema, já que “o cine-
rantes, contribuindo para a crítica à ma pode ser, ainda, um elemento vital
reprodução à barbárie, qual seja, uma para a construção de um homem livre
vez submetida à lógica do mercado, a nas suas convicções, crítico nas suas
arte perde suas possibilidades de cria- análises, humanista e sensível na sua
ção, circulação e distribuição do conhe- forma de compreender e olhar o mun-
cimento e sensibilidades” ( p. 194). do e a vida, aberto à multiplicidade de
Cinema, Educação e as Artes Plásti- propostas” (Lopes, 2004, p.200). Assim
cas, em geral, embora artes bem dis- sendo, investigar, de forma interdisci-
tintas, podem muito bem se articular, plinar, com as crianças, os conceitos
complementar e ressignificar os olha- de cidadania, ética e estética manifes-
res e as possibilidades diferentes de tados nas produções fílmicas que tra-
ensinar e aprender. Não se trata de tam da infância, promovendo, assim,
articular cinema, artes plásticas e edu- um espaço de reflexão e produção foi,
cação, não em um sentido estreito de pois, o objetivo central deste projeto.
cunho tecnológico e metodológico. Ter a pesquisa como princípio edu-
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Referências bibliográficas
Arroyo apud TEIXEIRA, Inês A. de Castro. A escola vai ao cinema. Belo Hori-
zonte: Autêntica, 2003.
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O
Centro de Recreação e Educa- nista, no qual se enfatiza a criativida-
ção Infantil Desembargador de, a capacidade cognitiva e a inte-
Milton Malulei está localizada ração entre as crianças. Acreditamos
dentro da reserva da mata do Parque que o desenvolvimento infantil é um
dos Poderes, no município de Campo processo dinâmico e que as crianças se
Grande, no Mato Grosso do Sul, e faz desenvolvem ao interagir com o meio,
parte das dependências do Tribunal pois este lhes oferece constantes in-
de Justiça do Estado. formações, conforme afirma o teórico
A instituição conta com um ótimo es- Jean Piaget.
paço físico, possui brinquedoteca, par- Se Piaget nos assegura que as experi-
ques, casinha de bonecas, praças, sala ências com o meio possibilitam a cada
de vídeo e jardins charmosos, manti- indivíduo construir novas e superiores
dos cuidadosamente por uma equipe estruturas mentais, procuramos ofere-
bastante dedicada. cer às crianças um ambiente absoluta-
Atende crianças oriundas de famílias mente “rico” e estimulante, dentro e
de classe média, filhos de funcionários fora da instituição.
do Tribunal e do Fórum, bastante en- Para isso, nos valemos das propos-
volvidos com o desenvolvimento de tas do pedagogo francês Célestin Frei-
seus filhos. Ao completarem os 6 (seis) net que com suas aulas-passeio (expe-
anos de idade deixam a instituição e dições) procurou privilegiar algumas
ingressam com autonomia no ensino situações de aprendizagens nesse con-
fundamental. tato com a realidade.
O trabalho diário, desenvolvido na Acreditamos também que a intera-
escola, com as crianças, é baseado no ção entre as crianças proporcionará
modelo sócio-contrutivista-interacio- avanços naquilo que elas são capazes
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de realizar com a ajuda do outro, fa- quisa, pela história de seu município
vorecendo assim, segundo Lev Semi- e pelas várias formas de leitura, con-
novich Vygotsky, o desenvolvimento tando e reconstruindo um pouco da
potencial de cada uma delas. história de Campo Grande. Procura-
A idéia do presente projeto surgiu mos estabelecer comparações entre o
da constatação de uma necessidade da passado e o presente, reconhecendo o
turma, evidenciada durante a realiza- homem como agente modificador da
ção de uma atividade com as crianças própria história, identificando as per-
de 4 e 5 anos. Nesse momento, perce- sonalidades que se destacaram ao lon-
bemos que elas sabiam muito pouco go do tempo em nossa cidade.
sobre o município de Campo Grande, Levamos, para a sala de atividades,
terra onde haviam nascido. vários portadores de textos contendo o
Diante de tal situação, trouxemos, na assunto a ser pesquisado e dividimos
aula do dia seguinte, um cartaz com a a turma em duplas heterogêneas, com
famosa frase patriótica do poeta Ola- relação ao estágio da escrita, para que
vo Bilac “Ama com fé e orgulho a terra o material fosse analisado.
em que nasceste”. Analisamos a frase O planejamento das situações de
com a turma, e a partir dela buscamos leitura considerava que era possível
a inspiração necessária para um tra- ler quando ainda não se sabia ler con-
balho que despertasse o interesse das vencionalmente. Tratamos as crianças
crianças pelo lugar onde vivem. como leitores plenos, e não como deci-
Nosso objetivo foi desenvolver na fradores de textos, e o fato de colocar-
turma a criatividade, o gosto pela pes- mos em duplas, com vários portado-
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do, que gerou as atividades, uma vez que do Prosa”, uma reserva ecológica
o processo que permite a construção de onde conhecemos a Fauna e Flo-
aprendizagens significativas pelas crian- ra de Campo Grande. Lá uma guia
ças requer intensa atividade interna por nos acompanhou em um passeio por
parte delas. uma trilha e nos ofereceu detalhadas
Dessa forma, elas estabeleceram informações.
relações entre as novas informações Visando valorizar artistas locais
e os conhecimentos que já possuíam, pesquisamos a vida e as obras de
modificando seus conhecimentos Humberto Espíndola e Conceição dos
prévios, ampliando-os, em função Bugres. Elegemos uma tela do artista
das novas informações. plástico Humberto Espíndola, anali-
Registramos nossa pesquisa samos sua obra e realizamos a
sobre a história da cidade releitura da mesma.
de Campo Grande em Para conhecer um
pranchas de madei- pouco mais sobre
ra, usando a técnica Conceição dos Bu-
de pintura deno- gres convidamos
minada “Pintura seu neto, também
Matérica”. artista, para uma
Definimos as du- entrevista, pois
plas de crianças e Conceição já é fa-
o momento da his- lecida. Na impossi-
tória que cada dupla bilidade de fazermos
representaria. Cada a releitura de sua obra
dupla recebeu uma pran- “Bugrinhos” usando ma-
cha de madeira coberta com deira, como nos originais,
uma fina camada de massa corrida trabalhamos com a pasta de parafina
ainda molhada. A proposta era que que facilitou o trabalho de entalhe
desenhassem o momento histórico desenvolvidos pelas crianças.
sobre a massa corrida, usando paliti- Na medida em que o projeto avan-
nhos de sorvete e de churrasquinho. çava, mais e mais nos envolvíamos
Depois de secas as pranchas, dis- com ele.
tribuímos as tintas, pincéis e panos Os familiares das crianças conhe-
úmidos para que cada prancha fos- ceram profundamente o trabalho
se pintada e depois, esfregando-a que estávamos desenvolvendo com o
levemente com o pano úmido, con- projeto. Tivemos o cuidado para que
seguimos um efeito de pintura enve- recebessem informações freqüentes
lhecida, com sombreamentos. Para fi- sobre o assunto, e eles foram convida-
nalizar passamos a resina sobre cada dos para estarem presentes em uma
prancha e... que maravilha!!! exposição que montamos, onde as
Outra aula passeio foi no “Parque crianças deram um verdadeiro show
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Exposição d
os trabalho
s produzido
s pelas crian
ças durante
o projeto
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Dados de identificação:
Título: É música no ar ...
Professora: Cristiane Lopes
Co-autores: Magda Mariza Krauss, Rosana Réus,
André Luiz de Souza, Sara Libera Crema Corrêa
Coordenação: Lourdes Taffarel Baesso e Suzamar Renck
Centro de Educação Infantil Bem-te-vi
Município/UF: Florianópolis/SC
Faixa etária atendida pela experiência: 4 a 5 anos
É música no ar...
O
projeto É música no ar... foi intenção de ampliar o acervo musical
desenvolvido no Centro de das crianças foi proposto o desenvol-
Educação Infantil Bem-te-vi, vimento de um projeto, intitulado pelo
na cidade de Florianópolis, com a tur- grupo de É música no ar.... Esse teve
ma 4B, composta por 18 crianças com como objetivo proporcionar à turma a
idade entre 4 anos e meio a 5 anos. vivência com diversos ritmos musicais
O Centro de Educação Infantil Bem- e, assim, a ampliação do universo cul-
te-vi pertence à Rede Estadual de tural das crianças, bem como de sua
Ensino de Santa Catarina, conta com linguagem e expressão corporal.
10 salas nas quais são atendidas 160 Aprender música é prazeroso em
crianças de 4 meses a 6 anos de idade, qualquer idade e principalmente para
oriundas de famílias de classe média. a criança. A música é uma das lingua-
Desde o início do ano letivo obser- gens mais presente no cotidiano delas,
vávamos o repertório musical que as desde bebês elas estão imersas em um
crianças traziam para a instituição e universo onde as melodias das canções
nos preocupávamos, pois constatamos de ninar, rimas, cantigas de rodas e
a forte influência da mídia no univer- etc... encantam os que ouvem. A músi-
so cultural dos pequenos. Muitos pro- ca mantém forte ligação com o brincar
gramas de televisão que eles assistem por envolver gestos, movimentos, can-
passam um erotismo adulto para as to, dança, faz-de-conta e jogos.
crianças - as meninas são transforma- Percebemos que a música possui um
das em pequenas adolescentes - que papel significativo no cotidiano das
não possuem capacidade de avaliar, crianças e de seus familiares e sabemos
sozinhas, uma atitude que a mídia co- que conhecer diferentes estilos musi-
loca como normal. cais contribui para a formação cultural
Partindo desta constatação e com a e a cidadania.
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¹(cerca se 540 a.c) partiu de uma idéia dos antigos egípcios, desenvolveu uma teoria
em que os planetas movendo-se no espaço emitiam um determinado som e cada som
correspondia a uma nota (JEANDOT, l985 p.l3).
²(cerca de l928) vincula o surgimento da música ao interesse do homem primitivo pe-
los movimentos e pelos gestos por eles produzidos e pelos sons oriundos da natureza
(JEANDOT, l985, p.l4).
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Múltiplas Linguagens: Arte, Música e Matemática
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Múltiplas Linguagens: Arte, Música e Matemática
Referências bibliográficas
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Pluralidade Cultural,
Cidadania e História
. Intercâmbio cultural: indígenas e não-indígenas
. Educação no trânsito
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Pluralidade Cultural, Cidadania e História
Dados de identificação:
Título: Intercâmbio cultural: indígenas e
não-indígenas: respeitando as diferenças,
repudiando as injustiças e discriminações
Professora: Cristina Pires Dias Lins
Escola Municipal Neil Fioravanti – Unidade CAIC
Município/UF: Dourados/MS
Faixa etária atendida pela experiência: 8 a 11 anos
Intercâmbio cultural:
indígenas e não-indígenas
respeitando as diferenças, repudiando as
injustiças e discriminações
O
presente trabalho foi desen- repúdio às injustiças e discriminações.
volvido no segundo bimestre Buscaram alicerçar atitudes de cidada-
do ano de 2004, pela turma da nia, indispensáveis para se conviver
1ª série do Ensino Fundamental, com numa sociedade democrática, plura-
o tema “Intercâmbio Cultural: Indíge- lista e mais solidária.
nas e Não - Indígenas Respeitando as O desenvolvimento do projeto teve
Diferenças, Repudiando as Injustiças e como base legal a Lei de Diretrizes e
Discriminações”. Bases da Educação Nacional, especial-
A temática surgiu na própria sala de mente nos seguintes aspectos:
aula e partiu das falas preconceituo-
sas e curiosidades que os educandos Art.3º
demonstravam em relação aos indíge- IV – respeito à liberdade e apreço à to-
nas. Apesar dos relatos serem um pou- lerância;
co distorcidos, foram de grande valia, X - valorização da experiência extra-
pois demonstravam a visão de mundo escolar;
que eles tinham e, também, historica- Art. 27
mente adquiridos pela sociedade em I - a difusão de valores fundamentais
que estão inseridos. ao interesse social, aos direitos e deveres
Os objetivos foram pautados visan- dos cidadãos, de respeito ao bem comum
do promover o conhecimento, o res- e à ordem democrática;
peito pela comunidade indígena e o Art. 32 IV - o fortalecimento dos vín-
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monia
como os indígenas viviam em har
Maquete montada representando es
a dos portugues
com a natureza, antes da chegad
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Pluralidade Cultural, Cidadania e História
Diante disso, propus que realizásse- em relação aos objetivos, aos conteú-
mos um estudo para conhecer melhor dos e à contextualização, para cada
a comunidade indígena da nossa ci- área de conhecimento foram estabele-
dade. Ressaltei que o estudo poderia cidas as seguintes categorias:
sanar nossas dúvidas e seria muito in- a) Objetivação;
teressante para a turma. b) Problematização (conteúdos rela-
Os alunos aceitaram animados e se cionados a valores, normas e atitudes);
propuseram a participar do projeto. c) Situações de aprendizagem, Ins-
O desenvolvimento do trabalho trumentalização e Avaliação.
aqui apresentado foi fundamentado A seguir, alguns exemplos da carac-
teoricamente por vários documentos terização de cada área segundo as ca-
que legitimam e orientam a busca de tegorias acima descritas.
transformação da realidade:
Brasil. Constituição Federativa do HISTÓRIA e GEOGRAFIA
Brasil/1998. Objetivação:
Brasília.Dezembro/1996- - ser parte integrante de todo o pro-
L.D.B.E.N- Lei de Diretrizes e Bases da cesso de ensino e aprendizagem fazen-
Educação Nacional do valer e exercendo sua cidadania;
Brasil. Secretaria de Educação Fun- - conhecer o histórico da comunida-
damental. Parâmetros Curriculares Na- de indígena;
cionais – Brasília: MEC, SEF, 1997. - compreender e comparar aconte-
Freire, Paulo- Pedagogia da Auto- cimentos que retratam os motivos pe-
nomia- Saberes necessários à pratica los quais a maioria dos indígenas vive
educativa- p.35. precariamente;
P.P. Proposta Pedagógica-Prefeitu- - vivenciar in loco a forma de vida
ra Municipal de Dourados - Secretaria dos índios da aldeia, compreendê-la
Municipal de Educação - Escola Muni- e valorizá-la, bem como ampliar o co-
cipal Neil Fioravanti. nhecimento sobre a história dessa co-
munidade.
Objetivos a partir do que foi com- Problematização:
partilhado junto aos educandos: A Localidade/Comunidade Indígena.
Os objetivos visaram à inclusão so- - levantamento de semelhanças e di-
cial por meio do conhecimento, da ferenças sobre o modo de vida dos indí-
reflexão e do repúdio às injustiças e genas em relação aos não-indígenas, por
discriminações. Buscaram alicerçar a meio de pesquisas, palestras, debates e
amizade entre indígenas e não-indíge- opiniões respeitosas entre si;
nas, bem como promover atitudes de - verificação do território onde ha-
cidadania, tão indispensáveis para se bitam, intercâmbios e visitas entre os
conviver numa sociedade democráti- indígenas e os não-indígenas;
ca, pluralista e mais solidária. - registro em diferentes formas: textos,
Para a organização do planejamento livros, filmagens, painéis, entre outras;
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integradas
Finalmente as turmas passeiam
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Dados de Identificação
Título: A mãe África e seus filhos brasileiros
Professora: Juceli Hack de Oliveira
Escola Municipal de Ensino Fundamental
Vereador Arnaldo Reinhardt
Município/UF: Novo Hamburgo/RS
Faixa etária atendida pela experiência: 5 e 6 anos
O
trabalho Mãe África e seus filhos muito presente em vários aspectos da
brasileiros: resgatando a cultura cultura de nossa cidade, pois Novo
afro-brasileira no Jardim Nível 6 Hamburgo está situada em uma região
foi desenvolvido na Escola Municipal de colonização alemã que se iniciou há
de Ensino Fundamental Vereador Ar- mais de 180 anos.
naldo Reinhardt, com a turma do Jardim Inicialmente, acreditava-se que a
Nível 6 B, cujas crianças tinham entre maior parte das crianças era descen-
cinco anos e meio e seis anos. dente desses alemães e não havia ne-
A escola está situada na periferia da nhuma criança negra na turma. Foi ob-
cidade de Novo Hamburgo (RS), em servado que quando alguém da turma
um bairro que concentra um grande se referia às crianças negras de outras
número de indústrias calçadistas. turmas, chamavam-nas de pretas ou
A comunidade é carente, existem negrinhas, como se elas não tivessem
poucas alternativas culturais e de la- uma identidade própria.
zer nas proximidades. Atualmente, a Além disso, um desentendimento
escola recebe a comunidade aos finais entre dois meninos na entrada da es-
de semana no projeto Escola Aberta, cola alertou sobre a necessidade de
nesses dias são desenvolvidas diver- abordar o tema da diversidade cultu-
sas oficinas. Para 2006 está prevista a ral com as crianças.
implementação de aulas de capoeira, Certo dia, a turma recebeu um novo
fruto do projeto, aqui apresentado, de- colega, Lucas, um menino negro recém-
senvolvido com as crianças. chegado na cidade. Seu ingresso na tur-
Apesar da valorização do tradiciona- ma aconteceu em clima de amizade e
lismo gaúcho, a cultura européia está aceitação, até ocorrer a primeira dispu-
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ta por um brinquedo entre ele e outro acontecia agora em ordem inversa, pois
colega, nesse momento veio à tona um Gabriel era uma criança negra que sen-
preconceito inconscientemente ador- tia-se diferente das demais.
mecido: Este carrinho é meu, negro! Aos cinco ou seis anos as crianças
A professora não poderia julgar que ainda não desenvolveram plenamente
as crianças estavam tendo atitudes ra- sua consciência moral e, portanto, seria
cistas, afinal, tratavam-se de meninos e contraditório afirmar que a atitude das
meninas em fase de formação da perso- crianças era de segregação, como se re-
nalidade e estavam apenas reproduzin- almente quisessem discriminar o novo
do o que viam acontecer em seu meio colega por ser negro. Nessa faixa etá-
social. Mas, a ofensa ao colega foi a ria, é comum a criança ser influencia-
indicação de que um trabalho de cons- da por tudo o que a mídia e o seu meio
cientização deveria começar logo. social apresenta, como expressões e
Posteriormente, a chegada de um se- costumes. Durante essa fase de muita
gundo colega, Gabriel, que já havia sido curiosidade, o que ela faz é absorver a
aluno da escola, aconteceu quando Lu- forma como o outro, seja ele um adul-
cas retornava repentinamente para sua to ou adolescente, muitas vezes de sua
cidade natal. O clima de não aceitação própria família, faz ou se expressa; a
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criança espelha-se no outro. É o que moral, demonstra que, por volta dos
explica FICHTNER (in AZEVEDO, seis anos, a criança é moralmente hete-
SANTOS e SILVA, 1997), ao abordar os rônoma e tende a considerar as regras
estudos vigotskianos, afirmando que a como deveres externos, não elabora-
consciência e a vontade fazem parte de dos como obrigações da consciência
qualquer forma superior de percepção (FREITAG, 1984, p. 48).
do mundo, como sentimentos ou pen- Esses estudos trouxeram indica-
samentos, e o processo psíquico, ou ções sobre como ajudar as crianças a
seja, a formação psíquica da criança, compreender as regras, ou seja, enten-
parte de uma vontade particular de der que você não pode magoar o(a)
sujeitos que lhe darão res- outro(a) por sentir-se dife-
postas. É na família que a rente dele(a), quando elas
criança encontra o seu ainda estão em proces-
primeiro referencial so de elaboração da
e o utiliza para ela- chamada morali-
borar sua visão de dade, da consciên-
mundo. cia sobre o que se
Assim sendo, atribui como certo
entende-se que a e errado, como de-
criança colhe do sejável e não dese-
meio, no qual está jável. Neste período
inserida, uma “lin- em que as crianças es-
guagem social”, para ex- tão desenvolvendo uma
pressar emoções. FREITAG personalidade menos he-
(1984), ao citar a abordagem de terônoma, ao vivenciar momen-
Vygotsky sobre o pensamento e a lin- tos de respeito às diferenças, sejam
guagem da criança, relacionando-os elas quais forem, constroem a própria
a um “estágio pré-intelectual da fala” consciência.
e de um “estágio pré-lingüístico do Segundo afirma FICHTNER A
pensamento”. Dessa forma, a criança construção deste núcleo não é um pro-
desenvolveria ambos e amadureceria cesso de copiar uma realidade externa e
a ponto de poder pensar lingüística- social, ao contrário, é um processo ativo
mente e verbalizar intelectualmente. onde o indivíduo constrói-se como su-
Se Vygotsky constata que a criança jeito, transformando as relações sociais
se torna mais consciente após internali- em funções psicológicas superiores (...)
zar a linguagem social, o teórico suíço, assim, a consciência é, no fundo, um
Jean Piaget, que categoriza a vida in- contato social do indivíduo com si mes-
fantil em estágios de desenvolvimento mo e com a realidade (FICHTNER, in
¹ de Vygotsky
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Pluralidade Cultural, Cidadania e História
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MACHADO, Ana Maria. Menina bonita do laço de fita. São Paulo: Ática,
1997. 7. ed.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Os novos mapas culturais e o lugar do currículo numa
paisagem pós-moderna. In: MOREIRA, Antonio Flávio, SILVA, Tomaz Tadeu
da (ORG.). Territórios contestados: o currículo e os novos mapas políticos e
culturais. Petrópolis: Vozes, 1995, p. 184-202.
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Dados de Identificação
Título: Negro que te quero ser negro
Professora: Valmária Martins da Silva
Co-autora: Marizeth Ribeiro da Costa de Miranda
Escola Classe 16 do Gama
Município/UF: Gama/DF
Faixa etária atendida pela experiência: 6 a 14 anos
O
trabalho aqui relatado teve vislumbramos muitas possibilidades
início em 2003 e está em an- de educação.
damento até o presente mo- Nossa experiência se desenvolve na
mento. Participaram das atividades, ESCOLA CLASSE 16 DO GAMA, uma
inicialmente, 58 crianças, na faixa escola urbana, porém, localizada na
etária de 6 a 8 anos, mediados pelas periferia. A maioria dos alunos, desde
professores responsáveis, sendo que, cedo, conhece o que é ser discrimina-
posteriormente, os outros professo- do. A maior parte das nossas crianças
res, sensibilizados, passaram também é negra. Elas são oriundas de famílias
a defender esta causa, totalizando, as- com baixo poder aquisitivo e também
sim, aproximadamente, 502 alunos, na temos alguns alunos com necessida-
faixa etária de 06 a 14 anos, matricula- des especiais de aprendizagem. Mui-
dos no ensino Fundamental I. tos pais não chegaram a concluir o
O caminho que estamos trilhando Ensino Fundamental. Existem alguns
tem sido sempre alicerçado com es- que nunca freqüentaram uma escola.
tudos, pois estamos, a todo momen- As profissões predominantes na nossa
to, desconstruindo, reconstruindo e comunidade são: doméstica, vendedor
ajudando a construir novas histórias: ambulante, auxiliar de serviços gerais
de cada aluno, em particular, e a his- e auxiliar da construção civil. Nem to-
tória da humanidade de forma geral, dos os pais trabalham e alguns estão
principalmente daqueles que tiveram desempregados.
e ainda têm sua cultura mascarada, Porque conhecemos bem o contexto
negada. Nossa sala de aula é um uni- de vida das crianças trabalhamos ten-
verso riquíssimo, pois nela estamos do como prisma o cuidar, o educar, a
em contato direto com a diversidade. esperança e o afeto – iluminados pelo
Basta olharmos para cada rosto e logo conhecimento, nos dão a convicção de
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Pluralidade Cultural, Cidadania e História
voto, já que são crianças, ou seja, são e ga, Selma Pantoja, Maria José Rocha e
estão sem direitos. Enfim, fazem parte Ney Lopes, além de vários nomes con-
do grupo dos “NINGUÉNS” da socie- sagrados da literatura infantil.
dade brasileira. Os objetivos pretendidos com esse
Segundo o IBGE (2001), o negro, projeto foram: resgatar o autoconceito
com renda em torno de 01 salário mí- da criança negra construindo uma auto-
nimo por família - que, normalmente, imagem positiva; resgatar a memória
é numerosa - vive em condições su- cultural do povo negro destacando as
bumanas e é o que mais sofre com várias formas de preconceito e discri-
o analfabetismo e a falta de minação; refletir e questionar
condições para estudar. nossa posição na socieda-
A quantidade de ne- de em relação à negritu-
gros que não vai ou de; desenvolver uma
nunca foi à escola consciência ética e
é também enor- crítica ampliando os
me em relação aos horizontes não ape-
brancos: dos ne- nas para esclarecer
gros que iniciam o e interpretar o mun-
Ensino Fundamen- do, mas para modifi-
tal, apenas 1,1% con- cá-lo; destacar a bele-
clui o Ensino Médio e, za negra tanto cultural,
geralmente, com dificul- quanto física..
dades e quebras, devido a Determinamos os objeti-
períodos de evasão e reprovações. vos acima porque percebemos que as
Há também a questão social que difi- crianças negras da nossa Unidade de En-
culta o trabalho. Muitos pais não se dão sino apresentavam baixo rendimento es-
conta da negação da sua raça imposta colar, o qual acreditamos estar relaciona-
pela sociedade e que se reflete numa do ao baixo autoconceito e ao descrédito
educação “embranquecedora”. A maio- nas próprias potencialidades. Por isso, ne-
ria das crianças não tem um referencial cessitam de resgate para garantir o suces-
familiar que possa desenvolver suas so não só acadêmico como o da formação
potencialidades e qualidades próprias humana em todas as dimensões.
do ser negro e vai, assim, negando sua Para alcançar tais objetivos, diversos
raça e sua própria existência. temas foram abordados de variadas
Muitos foram os teóricos que servi- formas, em muitas atividades realiza-
ram de embasamento para a constru- das. Dentre elas:
ção deste projeto. Entre eles Wallon, Discussões e debates envolvendo
Vygotsky, Joel Rufino dos Santos, Nil- os temas relacionados à valorização
ma Lino Gomes, Petronilha B. Gonçal- do negro na sociedade;
ves Silva, Anísio Ferreira dos Santos, dramatizações e produções de ar-
Jacques D’adeskt, Kabenguele Munan- tes visuais;
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ias
Painel sobre as diversas etn
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Dados de identificação
Título: Pregoeiros: conhecendo um pouco
dessa história
Professora: Maria do Perpétuo Socorro Costa
Pereira
Escola Centro de Educação Básica Paulo Freire
Município/ UF: São Luís/MA
Faixa etária atendida pela experiência: 6 anos
Pregoeiros: conhecendo
um pouco dessa história
O
projeto Pregoeiros: conhecendo vência à custa de trabalhos informais.
um pouco dessa história foi de- É uma comunidade rica em manifesta-
senvolvido com uma turma ções culturais, mas que apresenta bai-
de 25 crianças de 6 anos, mas envolveu xos indicadores sociais e altos índices
toda a comunidade do Centro de Educa- de violência, o que nos mobiliza a estar
ção Básica Paulo Freire, instituição que realizando constantemente atividades
pertence à Rede Municipal de Ensino de de intervenção nesta problemática.
São Luís e que atende a um total de 660 Foi nesse contexto que tivemos a
crianças, na faixa etária de 3 a 6 anos. ousadia de vivenciar, de forma enri-
A escola possui uma excelente estru- quecedora, o projeto aqui apresenta-
tura física e vivencia uma gestão de- do que teve como ponto de partida as
mocrática que se expressa, entre ou- curiosidades, as inquietações e idéias
tros, pela participação da comunidade apresentadas pelas crianças a respeito
na definição dos seus rumos e pela va- da forma de ser, viver e trabalhar dos
lorização da formação permanente de pregoeiros.
seus profissionais, sendo que temos a Os pregoeiros são trabalhadores
oportunidade de estudar, discutir, pla- ambulantes que utilizam versos e cân-
nejar e replanejar coletivamente nossas ticos engraçados, poéticos e criativos,
ações educativas. conhecidos como pregões, para anun-
A instituição está localizada na pe- ciarem os produtos que vendem pelas
riferia da cidade de São Luís (MA), no ruas da cidade. Eles fazem parte do
bairro da Liberdade, é formada por fa- contexto das crianças, alguns como
mílias de baixo poder econômico que, membros de suas famílias, já que exis-
em grande parte, garantem a sobrevi- tem pais que sobrevivem dessa pro-
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Referências bibliográficas
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VIEIRA, Antônio; BOGÉIA, Lopez. Pregões de São Luís. São Luís: Editora Litho-
graf, 1999.
WEIZ, Telma. Por trás das letras. São Paulo: FDE, 1992.
ZABALA, Antoni. A Prática Educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
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