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OlhOs I r . D e n i l s o n M a r i a n o, SD N

O
Evangelho de João 1) a de alguém que nasceu cego, que Para enxergar,
nos apresenta a histó- nada sabe e que foi recuperando a não basta ter olhos
ria do cego de nascen- vista; e O homem cego tem sua visão física res-
ça (Jo 9,1-41). Nela fi- 2) a dos fariseus, que nasceram ven- taurada (9,7). Ele sabe que foi curado
cam claras duas situ- do, acham que sabem tudo e que vão por “um homem chamado Jesus” (9,11),
ações paralelas: se tornando cegos. depois o reconhece como profeta (v.17),

F/REPRODUÇÃO

[ 14 • olutador [ outubro ] 2015


Bíblia [ Em nossas comunidades estamos parecidos com...

❛ estivesse preparando seus discípulos


para vivenciarem e compreenderem

Eles aquilo que se passaria com ele em bre- O
se recusam ve. Lázaro, discípulo amado de Jesus
(cf. 11,3.36), é imagem de todos nós, é
cego
a abrir os olhos, a imagem da comunidade amada, que vê porque
percebendo ama.
precisa também sair da escuridão (tú-
mulo) para a claridade, desamarrar-se
que aceitar para ter vida nova.
Também a ressurreição de Lázaro
O
sua mensagem quer ajudar a abrir os olhos. Ela marca cego
implicará numa um dos momentos mais importantes e
críticos da vida de Jesus. As multidões já via
mudança radical acorrem a Jesus, maravilhadas com os
seus sinais. Esta multidão o acompa-
muito
de suas nha triunfalmente na sua entrada em mais do que
vidas Jerusalém (cf. 12,12-19). As autorida-
des judaicas ficam muito preocupadas os fariseus
❜ (cf. 11,48; 12,19). Assim, no momen-
to de máxima revelação do poder de

alguém que vem de Deus (v.33) e co- Deus agindo através de Jesus, o Siné- postura de um escravo (cf. Fl 2,7), pois
mo o “filho do Homem” (v.37). drio decide matá-lo. A máxima procla- era o escravo quem lavava os pés de
Com os fariseus acontece o con- mação da luz e da vida é recebida com seu patrão. É por isto que Pedro pro-
trário. Eles começam – aparentemen- o fechamento da parte daqueles que testa: “Tu não me lavarás os pés nun-
te – aceitando o fato da cura do ce- esperavam o Messias. “Os seus não o ca!” (13,8), pois ele não havia ainda en-
go (v.15) e abertos a reconhecer que receberam” (1,11). tendido que, para Jesus, reinar é servir.
só um homem de Deus poderia curar Vemos, assim, que o maior dos Este é o verdadeiro caminho do disci-
num sábado (v.16). Mas, depois, cai sinais de Jesus – como os anteriores pulado missionário.
aquele aparente início de fé. Come- – provoca uma resposta ambígua. O lava-pés também é uma explica-
çam a duvidar e vão atrás de outros Por um lado, muitos se convertem, ção do ensinamento que Jesus deseja
depoimentos. Eles não estão interes- abrem os olhos e creem que Jesus é o passar aos seus discípulos missionários.
sados em saber a verdade, mas ape- Filho de Deus – pois só Deus é capaz Em última instância, o lava-pés deve
nas em confirmar as suas expectati- de dar vida aos mortos. Mas muitos nos fazer repensar a ideia que temos
vas covardes. Os pormenores deta- rejeitam Jesus, se recusam a abrir os de Deus e do seu amor. De fato, Jesus
lhados que o cego lhes dá só servem olhos, percebendo que aceitar sua diz logo após lavar os pés dos discípu-
para aumentar ainda mais a indigna- mensagem implicará numa mudan- los: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos la-
ção deles, que terminam ofendendo-o ça radical de suas vidas. Para estes, vei os pés, também vós deveis lavar os
e negando que Jesus tenha qualquer Jesus é uma ameaça que precisa ser pés uns aos outros” (13,14). Aqui está
parte com Deus (v.29). eliminada. E é este grupo que con- a identidade do discípulo missioná-
O cego vê porque ama. E assim des- denará Jesus à morte. rio: o Amor-Serviço, eis a herança dei-
cobrimos que, antes da cura, o cego já xada por Jesus a seus fiéis seguidores.
via muito mais do que os fariseus, por- Aprender a servir Quem não aprende a colocar-se a ser-
que seu coração era terra boa para aco- Na Última Ceia (Jo 13,1-17) Jesus se viço, ainda não enxergou o que signi-
lher a semente do Evangelho. levanta e realiza o lava-pés, que fun- fica seguir Jesus.
ciona como uma verdadeira homilia,
Da escuridão para a luz uma explicação daquilo que Jesus vi- Para o aprofundamento
Poucos dias antes de sua própria – e verá momentos depois em sua Paixão. Em nossas comunidades estamos pare-
definitiva – Páscoa, Jesus realiza seu No lava-pés, Jesus partilha conosco o cidos com o cego, que a cada dia enxer-
último e mais grandioso sinal em Be- modo como ele entende sua própria gava mais, ou como os fariseus, que a
tânia, a casa dos pobres. A ressurrei- vida: um serviço de amor, feito num es- cada dia enxergavam menos? Por quê?]
ção de Lázaro é um sinal para animar pírito de humildade e de oblação em
os discípulos e a comunidade joanina prol da salvação de todos. Ao lavar os * Missionário Sacramentino,
do fim do Séc. I. Nela, é como se Jesus pés de seus discípulos, Jesus adota a trabalha com a formação de lideranças leigas.

olutador [ outubro ] 2015 • 15 ]

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