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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2014.0000772684

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0042042-


90.2009.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante FAZENDA DO
ESTADO DE SÃO PAULO, é apelado SAULO DE ALMEIDA JUNIOR.

ACORDAM, em 1ª Câmara Extraordinária de Direito Público do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V.
U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RICARDO


DIP (Presidente) e LUCIANA BRESCIANI.

São Paulo, 18 de novembro de 2014.

José Luiz Germano


RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº: 22.029 (vg)


Apelação com revisão: 0.042.042-90.2009.8.26.0053 Comarca:
São Paulo
Apelante: Fazenda Pública do Estado de São Paulo
Apelado: Saulo de Almeida Júnior
Juiz: Fernão Borba Franco

AÇÃO DE COBRANÇA - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS


- Defensor dativo em processo criminal - Nomeação direta pelo
juiz da causa - Não obediência à forma prevista em convênio
oficial - Irrelevância - Serviços efetivamente prestados -
Contraprestação devida pelo Estado. Ação procedente.
Sentença mantida.
RECURSO NÃO PROVIDO.

Tratam os presentes autos de apelação


contra a r. sentença de fls. 55/57 que julgou pedido
condenatório contra a Fazenda para que esta pague
honorários de advogado arbitrados em causa referente à
justiça gratuita.
Alega a Fazenda a partir de fls. 62 que no
Estado de São Paulo a assistência jurídica gratuita é
prestada pela Defensoria Pública, salvo nos casos em que
há convênio entre o Estado e a Ordem dos Advogados, de
modo que os causídicos particulares só podem receber do
Estado através do referido convênio com a Procuradoria,
onde é observado um rodízio dos profissionais, não podendo
haver livre escolha dos magistrados para a nomeação, o que
atentaria contra o princípio da impessoalidade; que a
nomeação feita não tem caráter obrigatório e sim de mera
liberalidade que foi aceita pelo recorrido, de modo que a

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solução adequada é a improcedência do pedido, para que não


sejam estabelecidos privilégios em favor de determinados
advogados.
A resposta ao recurso está a partir de fls.
73.
Os autos foram distribuídos a uma
desembargadora em maio de 2013 e houve redistribuição a
este relator em setembro de 2014.

É o relatório.

O recurso não comporta provimento.

Conforme se verifica dos autos, trata-se de


ação de cobrança por meio da qual busca o autor o
recebimento de honorários em razão da atuação como
defensor dativo nos feitos de fls. 13/16.

Em sua petição inicial, o autor aduz, em


suma, que foi nomeado diretamente pelo MM. Juiz da 2ª Vara
do Júri de Guarulhos para atuar como defensor de réus em
dois processos criminais, neles realizando todos os meios
de defesa até a prolação da sentença.

Afirma que na carta precatória 841/05 foram


arbitrados honorários no valor de R$ 141,20 (fls.13) e na
carta precatória 848/05 o mesmo valor.

Diz que, no momento do recebimento das


certidões, constatou a falta do ofício de nomeação da PGE,

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pelo que o convênio não realiza o pagamento dos honorários


através da esfera administrativa.

Assim, requer a procedência do pedido, a


fim de
que seja a ré condenada ao pagamento dos honorários
arbitrados no valor já corrigido de R$ 531,77, além dos
ônus da sucumbência.

Em resposta, a FESP alega que uma das


condições do convênio PGE/OAB é que o pagamento somente
será efetuado ao final da causa, mediante a apresentação
de cópia da provisão de indicação expedida pela OAB ou
pela Procuradoria, acompanhada da certidão expedida pelo
Poder Judiciário ou pela Comissão Processante onde
tramitou o feito no qual atuou o advogado; que não pode
haver escolha pessoal do juiz a respeito dos que vão atuar
nas causas, mas sim deve ser obedecido o rodízio imposto
pelo convênio entre a OAB e a Procuradoria Geral do
Estado. Assevera que como o autor não apresentou cópia da
provisão não há como se realizar o pagamento pretendido.

Sem razão, contudo, a ré.

Com efeito, é pacífica a jurisprudência no


sentido de que o advogado designado judicialmente para
exercer o múnus público de defensor dativo em processo
criminal tem o direito de receber do Estado a justa
remuneração pelo exercício do seu mister. Neste sentido:

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“É devida pela Fazenda Estadual a


verba honorária aos defensores dativos
nomeados em processos criminais para
prestarem serviços de atribuição do
Estado.” (RE 225651 AgR, Relator(a):
Min. CEZAR PELUSO, Primeira Turma,
julgado em 16/12/2004, DJ 04-03-2005
PP- 00020 EMENT VOL-02182-04 PP-00584)

“HONORARIOS DE ADVOGADO. DEFENSOR


DATIVO. RÉU POBRE. PROCESSO-CRIME.
INEXISTENTE, JUNTO AO ÓRGÃO
JUDICIARIO, SERVIÇO OFICIAL DE
ASSISTENCIA GRATUITA AO RÉU POBRE,
INCUMBE AO ESTADO O PAGAMENTO DE
HONORARIOS AO DEFENSOR NOMEADO PELO
JUIZ. PRECEDENTES. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E PROVIDO EM
PARTE.” (RE 110512, Relator(a): Min.
RAFAEL MAYER, Primeira Turma, julgado
em 05/09/1986, DJ 26-09-1986 PP-17729
EMENT VOL-01434-05 PP-01056)

“ADVOGADO DATIVO. RÉU POBRE. ART-30 DA


LEI 4.215/63. ENTENDE O SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL QUE CABE AO ESTADO O
PAGAMENTO DOS HONORARIOS ARBITRADOS EM
FAVOR DO ADVOGADO NOMEADO, EM PROCESSO
CRIMINAL, PARA EXERCITAR A DEFENSORIA
DE RÉU POBRE, NOS TERMOS DO ART-30 DA
LEI 4.215/63, EM VISTA DA OMISSAO DO
PODER PÚBLICO EM OFERECER A
ASSISTENCIA QUE LHE INCUMBE. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO NÃO CONHECIDO.” (RE
107791, Relator(a): Min. RAFAEL MAYER,
Primeira Turma, julgado em 06/12/1985,
DJ 19-12-1985 PP-23637 EMENT
VOL-01405-07 PP-01522)

“É cediço que o ônus da assistência


judiciária gratuita é do Estado. Não
havendo ou sendo insuficiente a
Defensoria Pública local, ao juiz é
conferido o poder-dever de nomear um
defensor dativo ao pobre ou revel.
Essa nomeação ad hoc permite a
realização dos atos processuais,

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assegurando ao acusado o cumprimento


dos princípios constitucionais do
Contraditório e da Ampla Defesa. A
indispensabilidade da atuação do
profissional do Direito para
representar a parte no processo, gera
ao defensor dativo o direito ao
arbitramento de honorários pelos
serviços prestados, cujo ônus deve ser
suportado pelo Estado. (Precedentes do
STF - RE 222.373 e 221.486) 6. Recurso
desprovido.” (REsp 602005/RS, Rel.
Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 23/03/2004, DJ 26/04/2004,
p. 153)

Apelação nº 9123020-94.2008.8.26.0000
GUARULHOS “EMBARGOS À EXECUÇÃO.
DEFENSOR DATIVO. CONDENAÇÃO EM
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ÔNUS DO
ESTADO. I O advogado nomeado
defensor dativo, em processos em que
figure como parte pessoa
economicamente necessitada, faz jus a
honorários, cabendo à Fazenda o ônus
pelo pagamento. Precedentes: REsp nº
493.003/RS, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, DJ de 14/08/06; REsp nº
602.005/RS, Rel. Min. LUIZ FUX, DJ de
26/04/04; RMS nº 8.713/MS, Rel. Min.
HAMILTON CARVALHIDO, DJ de 19/05/03 e
AgRg no REsp nº 159.974/MG, Rel. Min.
FRANCISCO FALCÃO, DJ de 15/12/03.”
(AgRg no REsp 1041532/ES, Rel.
Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 05/06/2008, DJe
25/06/2008)

Mostra-se irrelevante, no mais, que o autor


tenha sido designado diretamente pelo juiz para atuar nos
feitos, pois, mesmo em tais circunstâncias, subsiste o
direito de receber a justa remuneração pela função
exercida.

Não há evidência de que o advogado em

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questão seja privilegiado em relação a outros ou


concretamente não esteja sendo observado o princípio da
impessoalidade.

Entendimento diverso implicaria


enriquecimento sem causa do Estado em detrimento do autor.
Como bem salientou o magistrado a quo:

“Não admitir o pagamento de


honorários, ainda que nos limites do
convênio firmado à época, seria impor
não apenas um desprestígio à nomeação
realizada pelo magistrado, à época, e
que assim o fez no interesse da ampla
defesa, já que não havia plantão
institucionalizado (apenas para os
casos de juizado especial cláusula
Mais a mais, o desrespeito estaria
adstrito à ordem de nomeação, já que o
patrono estava também inscrito no
convênio, fato este facilmente
solucionado, administrativamente, com
a exclusão daquele advogado nos
rodízios imediatamente seguintes. O
que não se pode admitir é, em verdade,
o enriquecimento ilícito por parte do
Estado em se abster de gastos de sua
alçada, como se o trabalho
desenvolvido e de grande relevância,
fosse prestado gratuitamente pelo
advogado credenciado. Note-se que a
indicação não foi requerida pelo
patrono dos réus beneficiários, mas
pelo próprio magistrado que, de
ofício, assim agiu e no interesse
maior dos réus que, novamente salienta-
se, estavam presos e sem defensores
constituídos (arts. 5, LV e 133 ambos
da Constituição Federal).” (fls.
XXXXXX)

Assim, aliás, vem decidindo este Egrégio.

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Tribunal acerca do tema:

“Ação de cobrança - Honorários


advocatícios - Prestação de serviços
por advogado dativo - Nomeação direta
pelo Juiz da causa - Não obediência à
forma prevista em convênio oficial -
Irrelevância - Múnus do Estado quanto
à remuneração - Serviços efetivamente
prestados - Valores devidos - Recurso
provido.” (Apelação
0165770-07.2007.8.26.0000, Borelli
Thomaz, 13ª Câmara de Direito Público,
j. 17/12/2008)

“HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - CURADOR


ESPECIAL - NOMEAÇÃO DE FORMA DIVERSA
DA PREVISTA NO CONVÊNIO PGE/OAB -
IRRELEVANCIA - SERVIÇOS PRESTADOS -
CONTRAPRESTAÇAO DEVIDA PELO ESTADO -
AÇÃO DE RESTITUIÇÃO MOVIDA PELA
FAZENDA IMPROCEDENTE - SENTENÇA
CONFIRMADA.” (Apelação
9086733-06.2006.8.26.0000, Ricardo
Feitosa, 4ª Câmara de Direito Público,
j. 21/02/2011)

De rigor, portanto, a manutenção integral


do r. decisum monocrático, proferido em consonância com os
fundamentos acima expostos.
Para fins de prequestionamento, observo que
a solução da lide não passa necessariamente pela restante
legislação invocada e não declinada. Equivale a dizer que
se entende estar dando a adequada interpretação à
legislação invocada pelas partes. Não se faz necessária a
menção explícita de dispositivos, consoante entendimento
consagrado no Eg. Superior Tribunal de Justiça.

Isto posto, nega-se provimento ao recurso.

Apelação nº 0042042-90.2009.8.26.0053 9
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

JOSÉ LUIZ GERMANO


RELATOR

Apelação nº 0042042-90.2009.8.26.0053 9

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