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PODER JUDICIÁRIO

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Registro: 2019.0000041328

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº


0012837-76.2013.8.26.0408, da Comarca de Ourinhos, em que é apelante BANCO
ITAUCARD S/A, é apelado JULIANA CRISTINA DAS VIRGENS (JUSTIÇA
GRATUITA).

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 24ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram
provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que
integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores DENISE


ANDRÉA MARTINS RETAMERO (Presidente) e JONIZE SACCHI DE OLIVEIRA.

São Paulo, 31 de janeiro de 2019.

WALTER BARONE
RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

VOTO Nº 18926
Apelante(s): Banco Itaucard S/A
Apelado(s): Juliana Cristina das Virgens
Comarca: Ourinhos - Foro de Ourinhos/1ª Vara Cível
Juiz(a): Nacoul Badoui Sahyoun

CONTRATOS BANCÁRIOS. Ação de revisão contratual.


Sentença de procedência parcial, afastando a cobrança das
tarifas de avaliação do bem, registro de contrato, serviços de
terceiros e inclusão de gravame eletrônico. Irresignação da
parte ré. Cabimento em parte. Tarifa de serviços de terceiro.
Possibilidade da cobrança, devendo ser especificado o serviço
a ser prestado, o que não foi feito, 'in casu'. Tarifas de
avaliação de bem e de registro de contrato. Possibilidade da
cobrança, devendo ser demonstrada, no entanto, a efetiva
prestação dos serviços, não comprovada, 'in casu'. Cobranças
corretamente afastadas na origem. Legalidade da cobrança de
tarifa de gravame eletrônico em contratos anteriores a
25/02/2011, como no caso dos autos. Entendimento do E. STJ
consolidado no julgamento dos REsp nº 1.578.553/SP e nº
1.639.259/SP, sob o rito dos recursos repetitivos. Procedência
parcial da ação e sucumbência recíproca mantidas. Recurso
provido em parte.

Trata-se de recurso de apelação interposto


contra r. sentença que julgou parcialmente procedente ação de revisão
contratual, para “condenar a Ré a pagar a Autora a importância de R$
2.191,11 (dois mil, cento e noventa e um reais e onze centavos), corrigida
monetariamente nos termos da Lei nº 6.899/81, a partir do ajuizamento da
ação, e acrescida de juros de mora de 1,0% (um por cento) ao mês a partir
da citação”, fixando a sucumbência recíproca entre as partes, condenando
cada uma ao pagamento de honorários advocatícios de seus próprios
Patronos.

Apelação nº 0012837-76.2013.8.26.0408 - Ourinhos - VOTO Nº 18926 2/6


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Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

A parte autora, ora apelante, em síntese, que:


1) as Súmulas 565 e 566 do STJ consolidaram o entendimento de que são
legais a cobrança de TAC, TEC e tarifa de cadastro, cujos fundamentos
podem ser aplicados para a cobrança de tarifas bancárias e ressarcimento
de terceiros; 2) não há abusividade na cobrança das tarifas; 3) as tarifas de
avaliação de bem e de registro de contrato estão expressamente previstas
no contrato e compõem o custo efetivo total; 4) o ressarcimento de
serviços de terceiros visa a cobrir os custos com, a comissão devida à
concessionária que intermediou a operação; 5) o gravame eletrônico está
previsto no contrato e compõe o custo efetivo total.
Não houve resposta (fls.118).

É o relatório.

Ressalte-se, primeiramente, que o apelo em


tela foi interposto já sob a vigência do Novo Código de Processo Civil,
aplicando-se à hipótese dos autos, por conseguinte, a nova disciplina
processual por ele fixada.
No que diz respeito à cobrança de tarifa de
avaliação do bem, registro de contrato e serviços de terceiros, o C.
Superior Tribunal de Justiça analisou a controvérsia, sob o rito dos
Recursos Repetitivos, nos autos do Recurso Especial nº 1.578.553/SP,
firmando as seguintes teses, nos termos do artigo 1.040 do Código de
Processo Civil de 2015:
2. TESES FIXADAS PARA OS FINS DO ART. 1.040
DO CPC/2015:
2.1. Abusividade da cláusula que prevê a cobrança de
ressarcimento de serviços prestados por terceiros, sem
a especificação do serviço a ser efetivamente prestado;

Apelação nº 0012837-76.2013.8.26.0408 - Ourinhos - VOTO Nº 18926 3/6


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2.2. Abusividade da cláusula que prevê o ressarcimento


pelo consumidor da comissão do correspondente
bancário, em contratos celebrados a partir de
25/02/2011, data de entrada em vigor da Res.-CMN
3.954/2011, sendo válida a cláusula no período anterior a
essa resolução, ressalvado o controle da onerosidade
excessiva;
2.3. Validade da tarifa de avaliação do bem dado em
garantia, bem como da cláusula que prevê o
ressarcimento de despesa com o registro do contrato,
ressalvadas a:
2.3.1. abusividade da cobrança por serviço não
efetivamente prestado; e a
2.3.2. possibilidade de controle da onerosidade
excessiva, em cada caso concreto

Em relação à contratação de seguro de


proteção financeira e da cobrança de tarifa a título de gravame, tais
questões foram objeto de análise pelo E. Superior Tribunal de Justiça no
julgamento do Recurso Especial nº 1.639.259/SP, sob o rito dos recursos
repetitivos, tendo sido pacificado o seguinte entendimento:
RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. TEMA 972/STJ.
DIREITO BANCÁRIO. DESPESA DE PRÉ-
GRAVAME. VALIDADE NOS CONTRATOS
CELEBRADOS ATÉ 25/02/2011. SEGURO DE
PROTEÇÃO FINANCEIRA. VENDA CASADA.
OCORRÊNCIA. RESTRIÇÃO À ESCOLHA DA
SEGURADORA. ANALOGIA COM O
ENTENDIMENTO DA SÚMULA 473/STJ.
DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. NÃO
OCORRÊNCIA. ENCARGOS ACESSÓRIOS.
1. DELIMITAÇÃO DA CONTROVÉRSIA: Contratos
bancários celebrados a partir de 30/04/2008, com
instituições financeiras ou equiparadas, seja diretamente,
seja por intermédio de correspondente bancário, no
âmbito das relações de consumo.
2. TESES FIXADAS PARA OS FINS DO ART. 1.040
DO CPC/2015:
2.1 - Abusividade da cláusula que prevê o
ressarcimento pelo consumidor da despesa com o
registro do pré-gravame, em contratos celebrados a
partir de 25/02/2011, data de entrada em vigor da Res.-
CMN 3.954/2011, sendo válida a cláusula pactuada no
período anterior a essa resolução, ressalvado o controle
da onerosidade excessiva.
2.2 - Nos contratos bancários em geral, o consumidor

Apelação nº 0012837-76.2013.8.26.0408 - Ourinhos - VOTO Nº 18926 4/6


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não pode ser compelido a contratar seguro com a


instituição financeira ou com seguradora por ela
indicada.
2.3 - A abusividade de encargos acessórios do contrato
não descaracteriza a mora.
3. CASO CONCRETO.
3.1. Aplicação da tese 2.1 para declarar válida a
cláusula referente ao ressarcimento da despesa com o
registro do pré-gravame, condenando-se porém a
instituição financeira a restituir o indébito em virtude
da ausência de comprovação da efetiva prestação do
serviço.
3.2. Aplicação da tese 2.2 para declarar a ocorrência de
venda casada no que tange ao seguro de proteção
financeira.
3.3. Validade da cláusula de ressarcimento de despesa
com registro do contrato, nos termos da tese firmada no
julgamento do Tema 958/STJ, tendo havido
comprovação da prestação do serviço.
3.4. Ausência de interesse recursal no que tange à
despesa com serviços prestados por terceiro.
4. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO,
PARCIALMENTE PROVIDO.

O contrato 'sub judice' previu a cobrança das


tarifas de serviços de terceiro, registro de contrato, avaliação de bens e
gravame eletrônico (cláusulas C.6; C.7; D.2; 5.4 - fls.11/12).
Relativamente à tarifa de serviços de
terceiros, sua exigência mostra-se indevida na hipótese em exame, porque
a instituição financeira não especifica, nos termos da tese fixada no V.
Acórdão acima indicado, o suposto serviço de terceiro que estaria sendo
cobrado, tendo sido corretamente afastada sua cobrança na origem.
Não foi comprovada, além disso, a efetiva
avaliação do bem e o efetivo registro do contrato, caracterizando, portanto,
prática abusiva por colocar a parte autora em desvantagem exagerada, bem
como por descumprir o dever de informação, ofendendo o disposto nos
artigos 46, parte final, e 51, inciso IV, ambos do CDC, tendo sido
corretamente afastada sua cobrança na origem.
Apelação nº 0012837-76.2013.8.26.0408 - Ourinhos - VOTO Nº 18926 5/6
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A tarifa de inclusão de gravame eletrônico,


por outro lado, afigura-se lícita, pois o contrato foi celebrado em
15/09/2010 (fls.34/35), antes, portanto, da data de entrada em vigor da Res.
CMN 3.954/2011, sendo permitida sua cobrança.
Mantém-se a procedência parcial da ação,
condenando-se a parte ré a efetuar a devolução simples dos valores
cobrados a título de tarifas de avaliação de bem, de registro de contrato e
serviços de terceiros, mantendo-se, também, a sucumbência recíproca entre
as partes.
Consideram-se prequestionadas e reputadas
não violadas as matérias constitucionais e legais aqui discutidas e
fundamentadamente decididas.
Ante o exposto, pelo meu voto, DÁ-SE
PROVIMENTO EM PARTE ao recurso.

WALTER BARONE
Desembargador Relator

Apelação nº 0012837-76.2013.8.26.0408 - Ourinhos - VOTO Nº 18926 6/6

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