PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO VIGÉSIMA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL DO CONSUMIDOR
APELAÇÃO CÍVEL nº 0021629-74.2014.8.19.0021
Apelante: COMPANHIA DE CONCESSÃO RODOVIÁRIA JUIZ DE FORA-CONCER Apelada: FABIANA DE SOUZA GOMES Relatora: Des. SONIA DE FÁTIMA DIAS Juízo de Origem: DUQUE DE CAXIAS 7ª VARA CÍVEL
ACORDÃO
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR.
AÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. Quebra de para-brisa em rodovia administrada pela CONCER. Sentença de procedência condenando a ré ao pagamento das quantias de R$120,00 por dano material e R$2.000,00 por danos morais. Recurso da ré. Pedra lançada durante limpeza por roçadeira. Fato demonstrado. Responsabilidade Objetiva. Legitimidade da autora, que estava na posse do veículo de propriedade da mãe. Inexistência De Prova De Excludente. Dano Material Comprovado. Diversas Tentativas De Solução Administrativamente. Dano moral configurado. VALOR DA INDENIZAÇÃO FIXADO DE ACORDO COM OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA MANTIDA. NEGATIVA DE PROVIMENTO.
Vistos, relatados e discutidos estes autos do processo n o 0021629-
74.2014.8.19.0021, acordam os Desembargadores da Vigésima Terceira Câmara Cível deste Tribunal, por unanimidade de votos, em NEGAR PROVIMENTO ao recurso, nos termos do voto da desembargadora relatora.
SONIA DE FATIMA DIAS:000015405 Local: GAB. DES(A). SONIA DE FATIMA DIAS 141
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
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VOTO DA RELATORA
O recurso deve ser conhecido, visto que preenchidos os requisitos de
admissibilidade.
Alega a autora/apelada que, em 06 de junho de 2013, o veículo que
conduzia foi atingido por pedra lançada por roçadeira, utilizada por prepostos da ré que faziam a manutenção das margens da rodovia. Assevera que o para brisa do carro foi danificado. Pretende indenização por danos morais e materiais.
A sentença condenou a parte ré a indenizar danos morais no patamar de
R$2.000,00, e danos materiais no valor de R$120,00.
A ré interpôs apelação, argumentando que o veículo dirigido pela autora é
de propriedade de terceira pessoa, que não integrou a lide. Assevera que inexistem provas das alegações. Assevera que a rodovia é inspecionada ininterruptamente. Afirma que não deu causa ao dano material e que o dano moral não está configurado.
Não merece prosperar a apelação.
A hipótese se enquadra no conceito de relação de consumo regulada pela
Lei nº 8078/90, norma de ordem pública, cogente e de interesse social, sendo a parte ré fornecedora de serviços e a parte autora consumidora, na forma da legislação consumerista.
A responsabilidade da fornecedora de serviços é objetiva, portanto,
independe de culpa, nos termos do art. 14 do CDC e só pode ser afastada se demonstrada a existência de uma das causas excludentes previstas no §3º do citado artigo.
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Inicialmente, cumpre analisar a legitimidade da autora/apelada, para a
propositura da presente demanda, ante o argumento trazido pela concessionária de que, apesar de conduzir o veículo danificado, a autora não é sua proprietária.
Os documentos constantes dos autos demonstram que a autora estava na
posse do veículo de propriedade de sua mãe.
Conquanto a autora não seja proprietária do veículo envolvido no acidente,
tem ela legitimidade para a propositura de demanda indenizatória, já que era usuária do serviço prestado pela ré/apelante e responderá, perante a dona do bem, pelos prejuízos.
Nesse sentido:
0010448-08.2015.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1a
Ementa - DES. PEDRO SARAIVA ANDRADE LEMOS - Julgamento: 18/03/2015 - DECIMA CAMARA CIVEL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. Ação indenizatória por danos materiais e morais. Acidente de trânsito. Decisão saneadora que rejeitou preliminar de ilegitimidade ativa. Motorista lesado que não ostenta a qualidade de proprietário do veículo envolvido no acidente. O motorista, na condição de usuário e possuidor, tem legitimidade ativa para a propositura de demanda reparatória. Art. 1.267 do CC. Precedentes do STJ e desta Corte. Ademais, aplica-se ao caso a teoria da asserção. As condições da ação, a priori, são aferidas consoante o alegado pelo autor na petição inicial, não podendo o magistrado adentrar com profundidade em sua análise, sob pena de exercer juízo meritório. RECURSO COM SEGUIMENTO NEGADO, na forma do art. 557, caput, do CPC.
FERNANDO CERQUEIRA - Julgamento: 29/10/2014 - DECIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL. APELAÇÃO CÍVEL. RITO SUMÁRIO. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. SENTENÇA DE EXTINÇÃO DO FEITO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO POR ILEGITIMIDADE ATIVA. AUSÊNCIA DE PROVA DA PROPRIEDADE DO VEÍCULO. 1. Art. 1.267, CC: o simples fato do Certificado de Registro de Veículo ¿ CRLV não estampar o nome do autor, não altera, por si só, a sua condição de usuário e possuidor do bem, conferindo-lhe, assim, legitimidade ativa para a propositura de demanda reparatória. Precedente do STJ: ¿Tem
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legitimidade ativa ad causam para o pleito o motorista que se achava ao
volante do veículo quando do evento e padeceu o prejuízo dele advindo, pois detém a posse do veículo e pode responsabilizar-se perante o proprietário¿ (AGA 556.138/RS, rel. Min. LUIZ FUX, DJ 5.4.2004). 2. Impossibilidade de aplicação do art. 515, §3o, do CPC - Teoria da Causa Madura -, ante a necessidade de instrução probatória, considerada a natureza da causa, que trata de controvérsia acerca da responsabilidade por acidente automobilístico, o que demanda produção de provas. 3.Anulação da sentença e determinação de prosseguimento do feito em seus ulteriores termos. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
Acrescente-se que a autora colacionou aos autos a nota fiscal
comprovando o dano material, a Ficha de Atendimento ao Usuário, lavrada na data do acidente e a ré o pedido de ressarcimento onde constam o mesmo relato do incidente (indexes 00018, 00021 e 00087).
Assim, os elementos constantes dos autos autorizam a conclusão pela
existência dos requisitos da responsabilidade objetiva, ou sejam, a falha no serviço prestado o dano e nexo causal.
Os fatos ultrapassaram a esfera de mero aborrecimento, considerando que,
além dos transtornos do incidente ocorrido na estrada, as diversas tentativas da autora em obter o ressarcimento do valor do para-brisa administrativamente, como se verifica pelos e-mails anexados à contestação.
Assim, incumbia à parte ré a prova de qualquer das excludentes da
responsabilidade objetiva, na forma do §3º do art. 14 do CDC, ônus do qual não de desincumbiu.
Assim sendo, considerando as circunstancias do caso, atendendo aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, o valor de R$ 2.000,00 representa justa reparação pelo dano moral.