A PRESENÇA DA CULTURA BANTU NA SOCIEDADE BRASILEIRA
O tráfico humano transatlântico no período colonial do Brasil foi responsável
por trazer diversos povos africanos para nosso país a fim de que fossem escravizados. Dentre estes, estavam povos bantos, nagôs e jejes. Os povos bantus, aos quais pertencia grande parte dos africanos, referiam-se a mais de 400 grupos étnicos, dispostos em grande parte do continente africano, sobretudo na África Oriental e Central. Por conta da numerosidade desses povos em nosso país, mas também por sua antiguidade e da amplitude geográfica alcançada por eles no território brasileiro (CASTRO, 1983), eles contribuíram grandemente para o acervo cultural da nossa sociedade. A cultura bantu se mantém viva e pulsante, mesmo que não fortemente evidenciada ou reconhecida por grande parte da sociedade, em nossa música, na nossa religião, na nossa culinária e em nosso vocabulário. A cultura bantu compreende diversas línguas, sendo que o português brasileiro incorporou diversos termos de uma dessas, o quimbundo, tais como senzala, mucama, quilombo, mungunzá, samba, calango, cafuné. Há fenômenos linguísticos interessantes relacionados a essa incorporação: Castro (1983) relata que alguns termos, não só se entrelaçaram à língua portuguesa, mas também serviram de base para a origem de outros, casualmente utilizados por nós na atualidade, é o caso de quilombola (derivado de quilombo), molequeira (derivado de moleque). Em contrapartida, outros termos substituíram aqueles de origem portuguesa que possuíam significados similares e são usados até hoje: bunda, xingar, molambo, cochilar, cachaça, dendê e marimbondo, no lugar, respectivamente, de nádegas, insultar, trapo, dormitar, aguardente, óleo-de-palma e vespa. Em se tratando de cultura africana, aqui, especificamente, cultura bantu, ainda que não saibamos, está fortemente enraizada em nossa estrutura, é cotidianamente evocada. Utilizamos da herança cultural proveniente dos povos bantos de maneira muito natural, casual, desconhecendo, infelizmente, sua influência na construção do Brasil como o conhecemos.
REFERÊNCIAS
CASTRO, Y. Das línguas africanas ao português brasileiro. Afro-Ásia 14: 81-
106. 1983. Disponível em: < http://www.labjor.unicamp.br/patrimonio/materia.php?id=214 > Acesso em 30 de outubro de 2018.
LINGUAGEM KIMBUNDU. Palavras de Origem Bantu Inseridas no Português
Disponível em: <http://www.linguakimbundu.xpg.com.br/palavras2.html> Acesso em 01 de novembro de 2018.