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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA GERAL / INSTITUTO DE BIOLOGIA


ACCS BIOA94 - INCLUSÃO: CONTRIBUIÇÕES DA GENÉTICA E DA
EDUCAÇÃO

MELLAMY LANA S.M. SANTOS

RELATÓRIO I DE ATIVIDADES EM CAMPO:

OBRAS SOCIAIS IRMÃ DULCE

CEEBA

LAR VIDA

Salvador/BA

2016
RELATÓRIO I DE ATIVIDADES EM CAMPO:
OBRAS SOCIAIS IRMÃ DULCE

CEEBA

LAR VIDA

Relatório apresentado a ACCS BIO A94: Inclusão


Contribuições da Genética e da Educação do
Departamento de Biologia Geral / Instituto de
Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
como requisito para obtenção de nota e avaliação
semestral no 2016.2.
Docente: Lilia Maria de Azevedo Moreira
Monitora: Érica Vieira Alcântara

Salvador/BA

2016
INTRODUÇÃO

Atualmente, a inclusão de pessoas com deficiência tem recebido considerável


atenção. Embora se discutam as possibilidades, as dificuldades, as implementações
relacionadas à realização do processo de inclusão, existe nessas discussões pouco
espaço para ações que possibilitem o contato com as pessoas com deficiência e com
organizações e instituições que as acolhem.
Por estarmos inseridos numa sociedade preconceituosa e excludente, que não
sabe lidar com pessoas que não correspondem ao padrão de normalidade imposto
socialmente, estabelecem-se imagens errôneas acerca dessas pessoas, contribuindo para
o isolamento, a marginalização dessas pessoas. Incapaz, incompleto, dependente e sem
autonomia para lidar com suas escolhas, sentimentos, opiniões, comportamentos
(BORDIGNON, 2010) são algumas das características que compõem o perfil que a
sociedade consolidou das pessoas com deficiência.
A interação direta com as pessoas com deficiência possibilitaria a desconstrução
desse perfil que se estabeleceu, uma mudança de comportamento e uma visão menos
paternalista para com essas pessoas. As pessoas com deficiência não podem ser
limitadas a uma única característica nem serem vistas como um problema. Elas
precisam ser acolhidas, respeitadas e consideradas em suas diferenças, além de ter
garantido o seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Libertar-se daqueles estereótipos que rodeiam as pessoas com a deficiência é um
passo considerável para a construção de uma sociedade mais inclusiva, que aceita,
acolhe e respeita a diversidade. Esse processo é especialmente importante para a
formação de licenciados, já que, embora estejam contidos nos espaços escolares, que
são bastante diversos e heterogêneros, não são capacitados para lidar com pessoas com
deficiência pela academia, mas precisam estar preparados para lidar com elas.
Assim, a participação em oficinas educativas na graduação consistiria num
avanço significativo para a promoção da inclusão e respeito às pessoas com deficiência,
não só por não limitar a discussão da inclusão a uma discussão teórica restrita a um
espaço acadêmico, mas também por permitir a vivência com pessoas com deficiência,
desmistificando as imagens que rodeiam essas pessoas e permitindo que os licenciados
enxerguem para além das deficiências, que enxerguem potencialidades.
OBJETIVO GERAL

 Possibilitar a imersão dos licenciados na realidade das pessoas com deficiência.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Elaborar atividades lúdicas que promovam interação e entretenimento;


 Conhecer espaços que acolhem pessoas com deficiência;
 Exercitar a criatividade para a realização das atividades;
 Refletir sobre práticas inclusivas;
 Exercitar a capacidade de enxergar a diferença e os diferentes de modo
humanizado.

METODOLOGIA E MÉTODOS

Em quatro semanas, o grupo realizou quatro idas a campo, sendo que somente
em duas delas foram realizadas oficinas. As oficinas consistiram na produção de
máscaras e desenhos, com material fornecido pelo grupo, tendo de 12 a 15 participantes,
que foram auxiliados por 2 a 3 membros do grupo.

20 de dezembro de 2016: Ida ao CAPD- Obras Sociais Irmã Dulce. Na


primeira ida a campo do grupo, realizamos a primeira oficina, auxiliando os
participantes a produzirem desenhos em cartolina, usando lápis de cor, cola glitter,
hidrocor. Inicialmente, nos dividiríamos em alguns subgrupos – dança, pintura – mas
não tivemos tempo considerável para nos atermos a isso. Duas a três pessoas do grupo
“tutoraram” os participantes em seus desenhos. Estes constituíam a turma de
participantes mais heterogênea das visitas: haviam desde pessoas em cadeira de rodas a
pessoas com síndrome de Down. Após o término da atividade, os desenhos dos
participantes foram fixados na parede com fita adesiva.
24 de janeiro de 2017: Lar VIDA. Na segunda ida a campo, primeiramente,
tivemos uma conversa com a responsável pelo local, Alzira, que nos contou sobre o
início do Lar Vida e seus moradores. Conhecemos a área externa do local e visitamos a
ala médica – passamos por um pavilhão onde ficavam as crianças autistas. Durante
nossa caminhada pelo local, fomos acompanhados pelos meninos e meninas que ali
residiam. Ao final, cantamos e dançamos algumas músicas.
31 de janeiro de 2017: Centro de Educação Especial da Bahia (CEEBA).
Palestra e Roda de Conversa. Visita Institucional. Primeiramente, conhecemos a área
externa do local. Depois, tivemos uma conversa com a responsável por gerenciar a
instituição, Alzira, que nos contou sobre a história do CEEBA, o contexto histórico e
político da época em que foi criado e também compartilhou histórias sobre estudantes
da instituição, sobre a inserção deles na vida adulta, no mercado de trabalho. Não
interagimos com os estudantes do local
07 de fevereiro de 2017: Ida ao CAPD- Obras Sociais Irmã Dulce – Festas
Populares. Na segunda visita a campo ao CAPD, também foi a realização da segunda
oficina, que consistiu na decoração de máscaras de carnaval. Dividimo-nos em dois
grupos, inicialmente: um ficou responsável pela confecção das máscaras, que iam desde
as tradicionais máscaras até máscaras do Batman, ursinho e borboleta; o outro ficou
responsável por introduzir o bailinho e por falar um pouco do carnaval, comentando
sobre o objetivo da nossa oficina. Esta teve um número maior de participantes e contou
com maior tempo para sua realização.
Após a distribuição das máscaras pelo primeiro grupo, todos passaram a auxiliar
e a acompanhar os participantes a decorar suas máscaras, juntamente com funcionários
do CAPD, por meio da utilização de hidrocores, colas glitter, tintas. Simultaneamente,
marchinhas eram tocadas no aparelho de som, disponibilizado pelo CAPD. Enquanto
desenhavam, os participantes receberam acessórios relacionados ao carnaval, tais como
óculos, máscaras e pompons, a fim de mergulhá-los no clima carnavalesco. Após o
término da decoração, as máscaras dos participantes foram fixadas na parede com fita
adesiva.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Foi interessante, realizarmos duas visitas, com espaço considerável de distância


entre ela, ao CAPD, pois possibilitou fazer comparações. Percebi maior conforto da
minha parte na realização da oficina; ao contrário da primeira visita, em que estava
nervosa e temerosa, sem saber como agir e interagir, da segunda vez, não essa sensação
diminuiu, me permitindo interagir com mais leveza e entrega com os participantes -
senti-me mais à vontade, mais tranquila, mais familiarizada. Na primeira vez, fiquei
contida, num canto, auxiliando um participante apenas; contudo, na mais recente, não só
auxiliei mais de um, como também circulei mais pela ala, conhecendo outros
participantes e brincando mais com eles.
Notei um comprometimento maior dos participantes nesta oficina em
comparação a mais antiga – não tivemos dificuldades para integrá-los às atividades ou
ao clima carnavalesco que estávamos querendo mergulhá-los. Contudo, ao contrário da
outra vez, tivemos menos material para confecção das máscaras, o que ocasionou, num
primeiro momento, uma sensação de não saber o que fazer, pois o material que
tínhamos não era suficiente para todos do grupo fazerem uso de. Passada essa
dificuldade inicial, acredito que, por conta do tempo maior disponível, pudemos realizar
a oficina mais calmamente, sendo que alguns participantes decoraram mais de uma
máscara. O clima instaurado foi bem melhor que o da primeira vez: tivemos mais
participantes, mais animação e alegria.
Embora, na visita ao CEEBA, não tenhamos interagido com os estudantes
daquela instituição, esta foi uma das visitas mais enriquecedoras que tivemos. As
histórias que Alzira nos contou sobre seus estudantes foram determinantes para alterar a
visão limitada que tinha das pessoas com deficiência, além de me fazer refletir sobre
vários aspectos de suas vidas. Ouvir sobre o processo de inserção dos estudantes da
instituição no mercado de trabalho e as dificuldades enfrentadas pelos mesmos causou-
me um impacto muito grande.
Uma das coisas que me encantou na fala de Alzira foi sua visão autêntica e
realista da deficiência – não é fácil, há certo choque e incomodo, inicialmente, é
compreensível que haja, mas não é impossível lidar com essas pessoas, não é impossível
que elas se insiram nos espaços sociais, não é impossível estabelecer interações com
elas e respeitá-las. A partir de sua fala, fiquei mais tranquila quanto ao meu próprio
desconforto, por saber que não é algo hediondo, mas comum e inevitável; porém com
grandes chances de ser superado, a partir da convivência com as pessoas com
deficiência e do conhecimento ampliado sobre suas histórias de vida.
A visita ao lar VIDA também me provocou as mesmas sensações; o relato da
responsável pela instituição, Cristina, contando sobre sua dificuldade, seu choque em
lidar com características de alguns de seus “filhos e filhas”, mas que, posteriormente, foi
superado e substituído por amor e dedicação a sua família deu uma dimensão mais
humana e verdadeira sobre como enxergamos e nos comportamos em relação às
diferenças. Cristina tem uma história de vida inspiradora e a maneira como criou o lar
VIDA e abrigou meninos e meninas, homens e mulheres com as mais diversas
deficiências, tratando-os com muito carinho é algo fascinante de se ouvir.
A ação que realizamos neste local, embora simples, foi bastante significativa:
músicas. É interessante como pessoas que nunca se viram antes, possam se conectar tão
facilmente, só porque cantaram e dançaram juntos. Esse momento possibilitou criar uma
familiaridade, uma cumplicidade com as pessoas que ali residiam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse contato com pessoas com deficiência, em nossas visitas a essas instituições,
possibilitou a desconstrução de certas imagens que tinha dessas pessoas, assim como
permitiu que o desconforto que sentia ao redor dessas pessoas, fruto de minha própria
ignorância e preconceito, diminuiu. A partir das visitas, pude conhecer a realidade e a
vivência dessas pessoas, me propiciando ter uma visão menos vitimista delas – são
pessoas capazes, são pessoas que tem dificuldades em se inserir em nossa sociedade
excludente, mas que. Interagir com pessoas com deficiência e familiarizar-se com sua
história de vida ampliou a visão que tinha dessas pessoas e me fez estabelecer
similaridades entre nossas vidas. As oficinas permitem que nos tornemos menos
incomodados com as pessoas diferentes que nos cercam, mais sensíveis aos seus
problemas e dificuldades, além de ajudar a cultivar respeito e carinho por essas pessoas.

REFERÊNCIAS

Bordignon, P. M. A INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO


MERCADO DE TRABALHO: UMA REALIDADE POSSÍVEL. Faders -
Fundação de Atendimento ao Deficiente e ao Superdotado do Rio Grande do Sul.
Disponível em <
http://www.faders.rs.gov.br/uploads/1345762043A_Inclusao_da_PcD_no_Mercado_de
_Trabalho___uma_realidade_possivel._Priscila_Mallmann_Bordignon.pdf

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