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MARY POPE 0SBORNE

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SUMÁRIO

1. No meio da mata
2. O monstro
3. Que lugar é este?
4. Rufo
5. Ouro na relva
6. O Vale dos Dinossauros
• tres ... 1a.
7. Um, d 01s, A "' I

8. Uma sombra gigante


9. A espantosa viagem
10. Em casa antes do anoitecer
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1
No meio da mata
- Socorro! Um monstro! - disse
Aninha.
- Claro! - disse João. - Um
monstro de verdade no Riacho do
Sapo, na Pensilvânia.
- Corra, João! - gritou Aninha, e
saiu correndo pela estrada.
Agora mais essa!
É nisso que dá perder seu tempo
com uma irmã de sete anos.
Aninha adorava fazer de conta. Mas
João tinha oito anos e meio. Ele
gostava de coisas de verdade.
Cuidado, João! Lá vem o
monstro. Corra!
- Não, obrigado - disse João.
Aninha entrou correndo na mata,
sozinha.
João olhou para o céu. O sol ia se
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por.
- Vamos, Aninha! É hora de ir pra
casa!
Mas a menina tinha sumido.
João esperou.
Nada de Aninha.
- Aninha! - gritou ele novamente.
-João! João! Venha cá!
- Espero que não seja outro
alarme falso - disse João, dando um
.
suspiro.
João saiu da estradinha e entrou na
mata. A luz do sol poente dourava as
,
arvores.
- Venha cá! - gritou Aninha.
E lá estava ela. Embaixo de um
enorme carvalho.
- Olhe - disse ela apontando para
uma escada de cordas.
João nunca vira uma escada tão
comprida.
A corda ia até o alto da árvore.
E lá em cima - no alto - havia
uma casa presa entre dois galhos da
,
arvore.
- Essa deve ser a casa mais alta do
mundo - disse Aninha.
- Quem a construiu? - perguntou
João. - Eu nunca tinha visto essa
casa.
- Não sei, mas vou subir - disse
Aninha.
- Não! Não sabemos de quem é -
respondeu João.
- É só por um minutinho -
insistiu a garota, começando a subir a
escada.
- Aninha, volte aqui!
Ela continuou subindo.
João deu outro suspiro.
- Aninha, já é quase noite. Temos
de voltar para casa.
A garota desapareceu dentro da
casa da árvore.

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- Aninhai
João esperou um instante. Ele já
ia chamar novamente quando Aninha
pôs a cabeça para fora da janela da
casa da árvore.
- Livros! - gritou ela.
- O quê?
- Está cheia de livros!
Puxa vida! João adorava livros .
Ele ajeitou os óculos, segurou nas
cordas laterais da escada e lá se foi.
2

O monstro

João entrou pela abertura que


havia na parte de baixo da casa.
Uau! A casa da árvore era cheia de
livros. Livros por toda parte. Livros
muito velhos, de capa empoeirada.
Livros novos, com capas novinhas e
brilhantes.
- Olhe! Dá para ver bem longe -
disse Aninha olhando pela janela da
casa da árvore.
João foi para a janela e ficou
olhando junto com a irmã. Eles viam o
topo das outras árvores, lá embaixo.
E, lá longe, ele viu a biblioteca do
Riacho do Sapo.
A escola. O parque.
Aninha apontou em outra direção.
- Aquela é a nossa casa - disse
ela.
Era mesmo. Lá estava uma casa
branca de madeira, com varanda
pintada de verde. Na porta da casa
ao lado estava Rufo, o cachorro
preto do vizinho. Ele parecia tão
pequenininho ...
- Ei, Rufo! - gritou Aninha.
- Psiu! - fez João. - Ninguém
deve saber que estamos aqui.
Ele deu mais uma olhada à sua
volta, na casa da árvore.
- Queria saber quem é o dono de
todos esses livros - disse.
Pegando os livros, ele notou que
havia marcadores em muitos deles.
- Gostei deste - apontou Aninha,
mostrando um com um castelo na
capa.
- Este é um livro sobre o estado
da Pensilvânia, nos Estados Unidos -
disse João, abrindo-o na página onde
estava o marcador.
- Veja aqui uma foto do Riacho do
Sapo - apontou João. - É uma foto
desta mata!
- Ah, este é para você
disse a menina, mostrando um livro
de dinossauros. Ele estava com um
marcador de seda azul.
- Deixe-me ver - pediu João
colocando a mochila no chão.
- Você fica olhando esse, que eu
vou olhar o livro sobre castelos -
disse Aninha.
- Não, é melhor não - discordou
João. - A gente não sabe de quem
são esses livros.
Mas, enquanto dizia isso, o menino
já ia abrindo o livro dos dinossauros.
Não dava para resistir.
João abriu o livro na página que
tinha o desenho de um antigo réptil
voador, um pteranodonte.
Ele tocou nas enormes asas, que
lembravam as de um morcego.
- Puxa! - murmurou o menino.
- Eu queria ver um pteranodonte de
verdade.
João examinou a figura da
estranha criatura voando no céu.
- Ai! - gritou Aninha.
- O que foi? - perguntou o
garoto.
- Um monstro! - exclamou
Aninha apontando para a janela da
casa da árvore.
- Pare de fingir, Aninha - disse
João.
Não. É de verdade! - afirmou
ela.
João olhou pela janela.
Uma criatura gigantesca voava
acima do topo das árvores! Tinha
uma crista comprida e esquisita na
parte de trás da cabeça e um bico
fino. Suas asas eram enormes, como
as de um morcego!
Era um pteranodonte de verdade!
O monstro fez uma volta no céu.
Estava vindo bem na direção da casa
da árvore. Parecia um avião planador!
Começou a soprar um vento forte.
As folhas tremiam.
De repente, a ave começou a subir
e foi lá para o alto, no céu.
João quase caiu da janela tentando
acompanhá-la.
O vento estava ainda mais forte.
Agora, assobiava alto.
A casa da árvore começou a girar.
- O que está acontecendo?
gritou João.
- Saia daí! - gritou Aninha.
Ela puxou o irmão da janela.
A casa da árvore girava cada vez
mais rápido.
João fechou bem os olhos e
agarrou-se a Aninha.
Então tudo ficou parado e no maior
silêncio.
No mais absoluto silêncio.
João abriu os olhos. A luz do sol
entrava pela janela.
Lá estava Aninha, os livros, a
mochila.
A casa da árvore ainda estava no
alto do carvalho.
Mas não do mesmo carvalho.
3
Que lugar é este?

João olhou pela janela.


Olhou para a ilustração no livro.
Olhou de novo pela janela.
O mundo lá fora e o mundo da ilustração ... eram
iguaizinhos.
O pteranodonte voava no céu. O chão era coberto de
samambaias e grama alta. Um riacho serpenteava por
entre a mata. Uma colina íngreme. E vulcões ao longe.
- Onde estamos? - gaguejou João.
O pteranodonte foi voando até o pé da árvore, onde
eles estavam; parou ali e ficou bem quieto.
- O que aconteceu conosco? - perguntou Aninha,
olhando para João. Ele olhou para ela.
- Não sei - respondeu o menino. - Estava olhando
a ilustração do livro ...
- E você falou: "Puxa, eu queria poder ver um
pteranodonte de verdade" - lembrou Aninha.
- Sim. E eu vi. Na mata do Riacho do Sapo - disse
João.
- Sim. E então o vento começou a assobiar. E a
árvore começou a girar - continuou a garota. - E a
gente veio parar aqui.
- Então isso significa... - disse João.
- Isso significa... o quê? - perguntou ela.
- Nada - disse o menino balançando a cabeça.
Nada disso pode ser real.
Aninha olhou pela janela novamente. - Mas ele é real
- afirmou ela. - Muito real.
João ficou olhando pela janela junto com a irmã.
O pteranodonte estava no pé do carvalho. Como um
guardião. Suas asas gigantes estavam bem abertas, dos
dois lados do corpo.
- Olá! - gritou Aninha.
- Psiu! - fez João. - Ninguém pode saber que a
gente está aqui.
- Mas que lugar é aqui? - perguntou ela.
- Não sei - respondeu o garoto.
- Olá! - gritou Aninha novamente para o bicho.
O pteranodonte levantou a cabeça para eles.
- Que lugar é este aqui? - gritou ela para o bicho lá
embaixo.
- Você está louca! Ele não fala - disse João. - Mas
talvez o livro possa nos dizer.
João olhou as páginas do livro e leu a legenda da
ilustração:

Este répti I voador viveu no


período Cretáceo. Ele desa-
pareceu há 65 milhões de
anos.

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(
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Não! Impossível! Eles não podiam ter ido parar 65


milhões de anos atrás.
-João - chamou Aninha. - Ele é legal.
- Legal?
- Sim, tá na cara. Vamos lá falar com ele.
- Falar com ele?
Aninha começou a descer pela escada de cordas.
- Ei! - gritou João.
Mas a menina continuou a descer.
- Você está louca? - gritou o irmão.
Aninha pulou no chão e avançou corajosamente em
direção àquela criatura dos tempos antigos.
4
Rufo

João quase perdeu o fôlego quando Aninha estendeu


a mão ao pteranodonte.
Ah, Deus! Ela vivia querendo fazer amizade com os
animais. Mas aquilo estava indo longe demais.
- Não se aproxime tanto dele, Aninha! - gritou João.
Porém a garota tocou na crista do pteranodonte e
acariciou-lhe o pescoço. E começou a falar com ele.
Que diabos estava lhe dizendo?
João respirou fundo. Tudo bem. Ele ia descer
também. Seria interessante examinar aquele animal.
Tomar notas. Como um cientista.
João começou a descer a escada de cordas.
Ao chegar ao chão, estava a apenas alguns passos do
bicho.
O pteranodonte olhou para João. Seus olhos estavam
brilhantes e atentos.
- Ele é fofinho, João - disse Aninha. - É como o
Rufo.
João bufou. - Ele não é um cachorro, Aninha.
- Passe a mão nele, João - disse Aninha.
O garoto não se mexeu.
- Não pense, João. Simplesmente faça.
O irmão deu um passo à frente e estendeu o braço.
Com muito cuidado, ele passou a mao no pescoço
daquele enorme animal.
Interessante. Uma fina penugem cobria a pele do
pteranodonte.
- Fofinho, não? - repetiu Aninha.
João tirou um lápis e um caderno de anotações da
mochila e escreveu:

pele com penugem


- O que você está fazendo? - perguntou Aninha.
- Tomando notas - disse João. - Com certeza
somos as primeiras pessoas em todo o mundo a ver um
pteranodonte de verdade e vivo.
João olhou novamente para o animal. Ele tinha uma
crista de osso no alto da cabeça. Era mais comprida e
mais larga que o braço do menino.
- Será que ele é inteligente? - perguntou João.
- Muito inteligente - confirmou Aninha.
- Não conte com isso - retrucou João. - O cérebro
dele não deve ser maior que um grão de feijão.
- Não, ele é muito inteligente. Tá na cara!

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- disse Aninha. - Vou batizá-lo de Rufo.
João escreveu no caderno:

cérebro pequeno?
João tornou a olhar para ele.
- Talvez seja um mutante - disse.
O pteranodonte balançou a cabeça.
Aninha riu.
- Ele não é um mutante, João.
- E o que está fazendo aqui, então? Onde ele vive?
Aninha aproximou-se bem do animal.
- Você sabe onde estamos, Rufo? - perguntou ela
em voz baixa.
Ele olhou para Aninha e suas longas mandíbulas se
abriram e fecharam, como uma tesoura gigante .
. - ----- - - ----- - - ------ - - ----- - - - -- - - ---- - - - ----- - - ----- - - - ----- - - ----
- Você está tentando falar comigo, Rufo?
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perguntou a garota.
- Desista, Aninha - disse João. Em seguida,
escreveu no caderno:

boca parecida com tesoura?


Nós voltamos a um tempo muito antigo, Rufo?
- perguntou a menina. - Este lugar é de uma época
muito antiga?
De repente, ela se assustou e chamou:
-João!
Ele olhou para ela.
Aninha estava apontando para a colina. Lá no alto
havia um enorme dinossauro!
5
Ouro na relva

- Vai! Vai! - exclamou João. Ele jogou o caderno


dentro da mochila e empurrou Aninha em direção à
escada de cordas.
- Até logo, Rufo! - disse ela.
- Vai! - disse novamente, dando-lhe um grande
empurrao.
- Para com isso - respondeu. Mas começou a subir
a escada. João foi subindo atrás dela.
Lá no alto, entraram pela janela da casa da árvore.
Ofegantes, os dois olhavam pela janela e viam o
dinossauro. Ele estava no alto da colina, comendo as
flores de uma árvore.
- Puxa vida! - disse João, baixinho. - Estamos num
tempo muito, muito antigo!
O dinossauro parecia um gigantesco rinoceronte. Só
que tinha três chifres, em vez de um. Dois bem
compridos, acima dos olhos, e um terceiro no focinho. E
tinha uma coisa enorme, parecida com um escudo, atrás
da cabeça.
- Triceratope! - disse João.
- Será que ele come gente? - cochichou Aninha.
- Vou pesquisar - disse João pegando o livro de
dinossauros e começando a folhear.
- Olhe aqui! - disse ele apontando para a figura de
um triceratope. E leu a legenda:

O triceratope viveu no fim do


período Cretáceo. Esse di-
nossauro, que se alimentava
de plantas, pesava mais de
cinco toneladas.
João fechou o livro com força. - Só plantas. Carne,
nao.
- Vamos vê-lo - sugeriu Aninha.
- Você está louca? - disse João.
- Não quer fazer anotações sobre ele? - perguntou
Aninha. - Com certeza somos as únicas pessoas no
mundo a ver um triceratope de verdade.
João deu um suspiro. Ela estava certa.
- Vamos - concordou.
Ele enfiou o livro de dinossauros na mochila,
pendurou-a no ombro e começou a descer a escada.
No meio da escada, ele parou. Gritou para Aninha,
que estava um pouco mais acima:
- Você tem de prometer uma coisa: não vai fazer
carinho nele.
- Prometo!
- Prometa que não vai beijá-lo.
- Prometo!
- Prometa que não vai conversar com ele.
- Prometo!
- Prometa que não vai. ..
- Vai! Vai! - apressou ela.
João foi.
E Aninha o seguiu.
Quando terminaram de descer a escada, o
pteranodonte lançou um olhar bondoso para eles.
Aninha lhe mandou um beijo.
- Logo a gente volta, Rufo - disse, alegremente.
- Psiu! - fez João. E avançou por entre as
samambaias. Devagar e com todo cuidado.
Quando ele chegou ao pé da colina, ajoelhou-se atrás
de uma grande moita.
A irmã se ajoelhou ao seu lado e começou a falar.
- Psiu! - fez ele, pondo o dedo nos lábios.
A menina fez uma careta.
João espiou o triceratope.
O dinossauro era incrivelmente grande. Maior que um
caminhão. E estava comendo magnólias.
Ele tirou o caderno de dentro da mochila e escreveu:
come flores
Aninha o cutucou.
João fingiu não sentir. Observou o triceratope
novamente. E escreveu:

come devagar
Aninha cutucou-o com força.
João olhou para ela.
A garota apontou para si mesma. Em seguida, fez
com os dedos o movimento de caminhar, apontou
o dinossauro como se quisesse aproximar-se dele e
sorriu.
Aninha estava brincando, não?
Ela acenou para João.
Ele fez um movimento para agarrá-la.
Ela sorriu, se esquivou e caiu na grama, bem à vista
do triceratope!
- Volte! - sussurrou João.
Tarde demais. O grande dinossauro já tinha visto a
garota. Olhou para ela do alto da colina. Metade de uma
magnólia saía de sua boca.
- Ops! - fez Aninha.
- Volte! - gritou o menino.
- Ele parece ser legal, João.
- Legal? Olhe só os chifres dele, Aninha!
- Não. Ele é legal, João.
Legal?
Mas o triceratope apenas olhou para a menina
calmamente. Depois fez meia-volta e se afastou,
começando a descer a encosta da colina.
- Tchau - disse ela para o dinossauro, e voltou para
onde estava o irmão.
-Viu?
João grunhiu, mas escreveu em seu caderno:

legal
- Vamos! Vamos dar mais uma olhada por aí - disse
a menina.
Quando João começou a seguir a irmã, viu uma coisa
brilhando no meio da grama alta. Ele se abaixou e
pegou-a.
Era um medalhão. Um medalhão de ouro!
Havia uma letra gravada nele. Um belo M.
- Puxa! Alguém esteve aqui antes de nós - disse
João, baixinho.
6
O Vale dos Dinossauros

- Aninha, olhe isto aqui! - gritou João. - Olha o que


eu achei!
A garota já estava no alto da colina.
E estava concentrada, colhendo magnólias.
- Aninha, olhe! Um medalhão.
Mas ela não estava prestando atenção nele. Estava
olhando para outra coisa, do outro lado da colina.
- Oh, uau! - disse ela.
-Aninha!
Segurando uma magnólia, ela desceu correndo pelo
outro lado da colina.
- Aninha, volte! - gritou o irmão.
Mas ela desapareceu.
- Eu vou matar essa menina! - disse ele em voz
baixa.
João pôs o medalhão no bolso da calça.
Então ouviu Aninha gritar.
- Aninha? - o garoto chamou.
Ele ouviu também um outro som. Um som grave, de
um urro. Como uma tuba.
- João! Venha cá! - gritou a garota.
-Aninha!
Ele pegou a mochila e subiu correndo a colina.
Quando chegou lá no alto, ficou de boca aberta.
O vale estava cheio de ninhos. Grandes ninhos feitos
de barro. E estavam cheios de minúsculos dinossauros!
Aninha estava agachada perto de um dos ninhos. E,
bem ao seu lado, estava um gigantesco dinossauro com
bico de pato!
- Não entre em parnco. Não se mexa - disse João.
Ele desceu a colina devagar, em direção ao lugar onde
estava a irmã.
O enorme dinossauro estava bem junto a Aninha,
balançando os braços e fazendo aquele som de tuba.
João parou. Não queria se aproximar demais.
Ajoelhou-se no chão.
- Caminhe na minha direção, devagar - disse ele.
Aninha começou a se levantar.
- Não se levante. Venha de gatinhas - disse o
irmão.
Segurando a flor, ela engatinhou na direção dele.
O dinossauro de bico de pato a seguiu, urrando.
Aninha ficou paralisada.
- Não pare - disse João baixinho.
A menina recomeçou a engatinhar.
João foi descendo a colina bem devagar, até ficar a
um braço de distância da irmã.
Então, estendeu o braço e agarrou a mão dela.
E puxou-a em sua direção.
- Continue abaixada - disse, agachando-se ao lado
dela. - Abaixe a cabeça. Finja que está mastigando.
- Mastigando?
- Sim. Li que é isso que se deve fazer quando um
cachorro vem em cima de você.
- Ele não é um cachorro, João - disse Aninha.
- Finja que está mastigando - ele insistiu.
João e Aninha abaixaram a cabeça e fingiram estar
mastigando.
Logo o dinossauro se acalmou.
João levantou a cabeça.
- Acho que ele não está mais bravo - disse.
- Obrigada, João, você me salvou - disse a garota.
- A gente tem de usar a cabeça - afirmou João.
- Não se pode simplesmente correr para um ninho de
filhotes. Tem sempre uma mãe por perto.
A menina se levantou.
-Aninha!
Ela estendeu a mão e ofereceu a magnólia ao
dinossauro.
- Desculpe-me por ter feito você temer por seus
filhotes - disse ela.
O dinossauro aproximou-se mais de Aninha e pegou
a flor. Depois queria mais.
- Não tem mais - disse Aninha.
O dinossauro fez um som triste de tuba.
- Mas tem mais flores lá em cima - apontou a
garota para o alto da colina. - Vou pegar algumas para
você.
E subiu a colina correndo.
O dinossauro subiu atrás dela, naquele passo de
pato.
João observou rapidamente os filhotes. Alguns
estavam se arrastando para fora do ninho.
Onde estariam as outras mães?
Ele tirou o livro dos dinossauros da mochila e
começou a folhear.
Encontrou a figura de alguns dinossauros com bico
de pato e leu a legenda:

Os anatossauros viviam em
colônias.

Algumas mães ficavam de


guarda junto aos ninhos,
enquanto outras saíam em
busca de alimento.
Quer dizer, então, que há outras mães aqui por perto.
- Ei, João! - gritou a irmã.
O menino levantou a vista. Ela estava no alto da
colina, dando magnólias ao enorme anatossauro!
- Ele também é legal, João - disse ela.
Mas, de repente, o anatossauro fez aquele terrível
som de tuba.
Aninha se agachou e fingiu estar mastigando.
O dinossauro desceu a colina com seu passo pesado.
Parecia estar com medo de alguma coisa.
João pôs o livro dentro da mochila e correu na direção
da irmã.
- Por que será que ele saiu tão apressado? -
perguntou a menina. - Estávamos começando a fazer
amizade.
João olhou em volta. O que ele viu ao longe quase o
fez desmaiar.
Um monstro enorme e horrível avançava pela planície
em sua direção.
Andava sobre duas pernas imensas, arrastava uma
cauda grossa e comprida e sacudia dois bracinhos
minúsculos.
A cabeça era enorme e a boca estava escancarada.
Mesmo a distância, ele viu os dentes compridos e
brilhantes.
- Tiranossauro Rex! - sussurrou João.
7
Um, dois, três ... já!

- Corra, Aninha, corra! - gritou João. - Para a casa


da árvore!
Eles correram desabalados colina abaixo. Passaram
correndo por entre a grama alta e as samambaias, pelo
pteranodonte, e chegaram à escada de cordas.
Os dois subiram aos trancas e barrancos. Segundos
depois, estavam dentro da casa da árvore.
Aninha correu para a janela.
- Ele está indo embora! - disse ela, ofegante.
O garoto ajeitou os óculos e ficou olhando pela janela
com a irmã. O tiranossauro estava indo embora.
Mas então o monstro parou e se voltou.
- Abaixe-se! - exclamou João.
Os dois se abaixaram.
Depois de muito tempo, levantaram a cabeça e
olharam novamente.
- Tudo azul - disse João.
- Que bom! - sussurrou a garota.
- Temos de sair daqui - concluiu ele.
- Da outra vez você formulou um desejo.
- Eu queria voltar para o Riacho do Sapo. - disse ele,
mas não aconteceu nada.
- Eu queria ...
- Espere. Você estava olhando para a ilustração do
livro dos dinossauros, lembra?
O livro dos dinossauros. João deu um suspiro.
- Ah, não. Deixei o livro dos dinossauros e minha
mochila na colina. Tenho de voltar.
- Ah, esquece - sugeriu a irmã.
- Não posso - disse ele. - O livro não é nosso.
Além disso, meu caderno está na mochila com todas as
minhas anotações.
- Vá depressa! - exclamou Aninha.
João desceu a escada de cordas, correndo. Pulou no
chão.
Passou pelo pteranodonte, passou por entre as
samambaias, passou pela grama alta e subiu a colina.
Chegando no alto da colina, olhou para baixo. Lá
estava a mochila, jogada no chão. Em cima da mochila,
o livro dos dinossauros.
Mas agora o vale estava cheio de anatossauros. Todos
de guarda ao lado dos ninhos.
Onde é que eles estavam antes? Será que tinham
voltado para casa com medo do tiranossauro?
João respirou fundo.
Um, dois, três ... já!
Desceu a colina correndo, e mais que depressa pegou
a mochila e o livro dos dinossauros.
Um terrível som de tuba! Outro! Mais outro! Todos os
anatossauros urravam para ele.
João saiu correndo.
E lá vai ele subindo a colina.
E lá vem ele descendo a colina.
Então, ele parou.
Lá vinha o Tiranossauro Rex de novo! E ele estava
entre João e a casa da árvore!
8
Uma sombra gigante

João pulou para trás da árvore das magnólias.


Seu coração batia tão forte que ele mal conseguia
pensar.
Deu uma espiada no monstro gigantesco. A horrível
criatura estava abrindo e fechando a queixada enorme.
Os dentes eram grandes como facões.
Não entre em pânico. Pense.
Ele olhou o vale, lá embaixo.
Tudo bem. Os dinossauros de bico de pato estavam
perto dos ninhos.
João olhou novamente para o tiranossauro.
Tudo bem. O monstro ainda parecia ignorar que ele
estava ali.
Não entre em pânico. Pense. Pense. Talvez haja
alguma informação no livro.
João abriu o livro dos dinossauros e encontrou o
Tiranossauro Rex. Ele leu:

O Tiranossauro Rex foi o


maior animal carnívoro de
todos os tempos. Se ainda
estivesse vivo, comeria um
ser humano de uma bocada.
Ora. O livro não ajudou em nada.
Tudo bem. Ele não podia se esconder do outro lado
da colina. Os anatossauros o esmagariam com as patas.
Tudo bem. Ele não podia correr para a casa da árvore.
O tiranossauro correria mais rápido que ele.
Tudo bem. Talvez o melhor mesmo fosse esperar.
Esperar que o monstro fosse embora.
Escondido atrás da árvore, João deu uma espiada.
O tiranossauro se aproximara mais da colina.
Uma coisa chamou a atenção de João. Aninha estava
descendo a escada de cordas!
Ela estava louca? O que queria fazer?
João viu Aninha pular no chão.
A menina foi direto ao pteranodonte e começou a
falar com ele. Ela batia os braços como se quisesse voar.
Apontou para João, apontou para o céu e para a casa da
arvore.
Ela estava mesmo louca!
- Volte para a árvore! - sussurrou João. - Suba!
De repente, ele ouviu um rugido.
O Tiranossauro Rex estava olhando na sua direção.
O menino se abaixou.
O tiranossauro vinha andando na direção da colina.
João sentiu o chão tremer.
Será que devia correr? Rastejar para o Vale dos
Dinossauros? Subir na magnólia?
Naquele mesmo instante, uma sombra gigante o
cobriu. Ele olhou para cima.
O pteranodonte planava no céu. A gigantesca criatura
foi descendo rumo ao pico da colina.
Vinha em direção a João.
9
A espantosa viagem

O pteranodonte pousou no chão.


Ele olhou para João com seus olhos brilhantes e
atentos.
O que João devia fazer? Montar nele? "Mas sou
pesado demais", pensou.
Não pense. Simplesmente faça.
João olhou para o tiranossauro.
Ele já começava a subir a colina. Os dentes enormes
brilhavam à luz do sol.
Tudo bem. Não pense. Simplesmente aja!
Ele colocou o livro na mochila e montou no
pteranodonte.
O garoto se agarrou com força.
A enorme ave avançou um pouco, abriu as asas ... e
ergueu-se do chão!
Eles balançaram para um lado ... balançaram para o
outro ...
Por pouco João não caiu.
O pteranodonte equilibrou o corpo, levantou voo e
subiu em direção ao céu.
João olhou para baixo. O tiranossauro estava
mordendo o ar e olhando para ele.
O pteranodonte planava no ar.
Sobrevoou o topo da colina.
Deu voltas sobre o vale, sobre os ninhos cheios de
filhotes e os dinossauros gigantes de bico de pato.
Então, o pteranodonte sobrevoou a planície. Lá
embaixo estavam os triceratopes pastando na grama
alta.
Aquilo era espantoso! Um verdadeiro milagre!
João se sentiu como um passarinho. Leve como uma
pluma.
O vento soprava em seu cabelo. O ar tinha um cheiro
doce e fresco.
Ele gritava e ria de alegria.
João não podia acreditar naquilo. Estava montado nas
costas de um antigo réptil voador!
O pteranodonte planava sobre os rios, matas e
árvores.
Então ele foi descendo e deixou o garoto junto ao
carvalho.
Quando eles pararam, João deslizou das costas do
animal e caiu sentado no chão.
Então o pteranodonte tornou a levantar voo e ganhou
o céu.
- Adeus, Rufo - sussurrou João.
- Você está bem? - gritou Aninha da casa da árvore.
O menino ajeitou os óculos e continuou a olhar o
pteranodonte lá no céu.
-João, você está bem? - gritou Aninha.
Ele ergueu a cabeça, olhou para a irmã e sorriu.
- Obrigado por salvar a minha vida - disse ele. -
Foi muito divertido.
- Suba! - disse a menina.
Ele tentou se levantar. Suas pernas estavam bambas.
João estava um pouco tonto.
- Depressa! - gritou Aninha. - Ele vem vindo!
O garoto olhou em volta. O tiranossauro vinha na sua
direção!
João correu para a escada de cordas, agarrou-a e
começou a subir.
- Depressa! Depressa! - gritava a irmã.
O menino entrou cambaleante na casa da árvore.
- Ele está vindo em direção à árvore! - exclamou
Aninha.
De repente, alguma coisa se chocou contra o
carvalho. A casa da árvore balançou feito uma folha.
João e Aninha caíram em meio aos livros.
- Faça um pedido! - exclamou a garota.
- Precisamos do livro! O livro que tem uma figura
com o Riacho do Sapo! - disse João. - Onde está?
João afastou alguns livros. Ele tinha de achar o livro
sobre a Pensilvânia.
Lá estava ele!
O garoto agarrou o livro e foi virando as paginas
depressa, procurando a fotografia das matas do Riacho
do Sapo, até que encontrou!
Ele apontou para a fotografia.
- Quero que a gente vá para casa! - gritou.
O vento começou a gemer. A princípio, bem baixinho.
- Depressa! - gritou João.
O vento foi ganhando força. Agora, o vento
assobiava.
A casa da árvore começou a girar.
Girava cada vez mais rápido.
João fechou os olhos e se agarrou com força à irmã.
Então tudo ficou imóvel e em silêncio.
Em absoluto silêncio.
10
Em casa antes do anoitecer

Um passarinho começou a cantar.


João abriu os olhos. Ele ainda estava apontando a foto
das matas do Riacho do Sapo.
Olhou pela janela da casa da árvore. Lá fora, ele viu a
mesma paisagem.
- Estamos em casa - sussurrou Aninha.
As matas estavam iluminadas por uma luz dourada. O
sol já ia se pôr.
O tempo havia parado desde que eles iniciaram a
viagem.
-Joãão! Aniinha! - gritava uma voz ao longe.
- É a mamãe - disse Aninha apontando.

João viu sua mae ao longe. Ela estava na frente da


casa. E parecia uma formiguinha, de tão pequena.
- A-niii-nha! -Jo-ãão! - gritou ela.
Aninha pôs a cabeça para fora da janela e gritou: -
Estamos indo!
João ainda estava atordoado. Ele só ficava
olhando para a irmã.
- O que será que nos aconteceu? - ele perguntou.
- Fizemos uma viagem na casa da árvore
respondeu Aninha com simplicidade.
- Mas é a mesma hora de quando a gente saiu
disse João.
Aninha deu de ombros.
- E como é que ela nos levou tão longe? -
perguntou João. - E a uma época tão antiga?
- Foi só você olhar um livro e dizer que queria ir para
lá - disse Aninha -, que a casa da árvore mágica nos
levou para lá.
- Mas como? - perguntou João. - E quem construiu
a casa mágica? Quem colocou aqui todos esses livros?
- Uma pessoa com poderes mágicos, acho -
sugeriu Aninha.
Uma pessoa com poderes mágicos?
- Ah, olhe - disse João. - Quase havia me
esquecido. - Colocou a mão no bolso e tirou o
medalhão de ouro. - Alguém perdeu isso lá ... na terra
dos dinossauros. Olhe, tem uma letra M!
Aninha arregalou os olhos.
- Você acha que esse M é de mágico? - perguntou
ela.
- Não sei - respondeu João. - Só sei que alguém
esteve naquele lugar antes de nós.
-Joãão! Aniinha! - ouviram gritar ao longe.
Aninha pôs a cabeça para fora da janela. - Tamos
indo!
João pôs o medalhão no bolso novamente.
Tirou o livro dos dinossauros da mochila e colocou-o
junto aos outros livros.
Então ele e Aninha olharam em volta, contemplando a
casa da árvore uma última vez.
- Adeus, casa - disse ela baixinho.
O garoto pôs a mochila nas costas e apontou para a
escada.
Aninha começou a descer. João a seguiu.
Segundos depois, os dois chegaram ao chão e
começaram a andar pela mata.
- Ninguém vai acreditar em nossa história - disse
João.
- Então não vamos contar a ninguém - afirmou a
1rma.
- Papai não vai acreditar - disse o garoto.
- Ele vai dizer que a gente sonhou - disse Aninha.
- Mamãe também não vai acreditar - continuou
João.
- Ela vai dizer que foi tudo um faz de conta -
completou a menina.
- Meu professor não vai acreditar na história - disse
o menino.
- Ele vai dizer que estamos loucos - concluiu ela.
- É melhor a gente não contar a ninguém! - disse
João.
- Eu já disse isso - falou a menina.
- Acho que eu também já estou começando a
duvidar - disse ele, suspirando.
Eles saíram da mata e pegaram o caminho de casa.
À medida que passavam pelas casas de sua rua, a
viagem à época dos dinossauros ia ficando cada vez
mais parecida com um sonho.
Somente este mundo e esta época pareciam reais.
João enfiou a mão no bolso e pegou o medalhão.
O menino sentiu o relevo da letra M, que fez seus
dedos formigarem.
Ele riu. De repente se sentiu muito feliz.
Não seria capaz de explicar o que lhe acontecera
naquele dia. Mas tinha certeza de que sua aventura na
casa da árvore fora real.
Absolutamente real.
- Amanhã - disse João baixinho-, vamos voltar à
mata.
- Claro - concordou Aninha.
- E vamos subir na casa da árvore - disse João.
- Claro - concordou Aninha.
- E vamos ver então o que acontece - disse o irmão.
- É isso aí - afián_õ_u _a--menYria:-= -Vamo-s--ve-r--q-uem
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chega primeiro?
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E os dois saíram correndo para casa.

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