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A HISTÓRIA DO PEDRITO COELHO

ERA uma vez quatro coelhos pequeninos chamados Flopsi,


Mopsi, Rabinho-de-Algodão e Pedrito.
Os coelhinhos viviam com a mãe numa toca quentinha, escavada
sob as raízes de um enorme abeto.
- Ora bem, meus queridos - disse a Senhora Coelho certa manhã
-, podem ir para os campos ou passear pelo caminho abaixo, mas
não vão para o quintal do Senhor Gregório. O vosso pai teve lá um
acidente e acabou metido numa empada pela Senhora Gregório.
- Vá, vão lá e não se metam em sarilhos. Eu tenho de sair.
A Senhora Coelho pegou no cesto e na sombrinha e foi à padaria pelo
caminho da floresta. Comprou um cacete de pão escuro e cinco pães de
passas.
Flopsi, Mopsi e Rabinho-de-Algodão, que eram coelhinhas bem-
-comportadas, foram apanhar amoras na beira do caminho.
Mas o Pedrito, que era muito malandro, foi logo a correr para o quintal do
Senhor Gregório, esgueirando-se por baixo do portão!
Primeiro comeu algumas alfaces e alguns feijões-verdes; depois comeu
alguns rabanetes.
Depois, como já estava enjoado, foi procurar salsa.
Mas, ao contornar a estufa dos pepinos, quem havia ele de encontrar senão
o Senhor Gregório!
O Senhor Gregório estava de joelhos a plantar couves, mas deu um salto e
correu atrás do Pedrito com o ancinho na mão a gritar:
- Para, ladrão!
O Pedrito estava terrivelmente assustado, de tal maneira que se esqueceu
do caminho para o portão e corria desvairado pelo quintal todo. Perdeu um
dos sapatos entre as couves e o outro no meio das batatas.
Depois de perder os sapatos, correu a quatro patas para ser mais rápido, e
penso que teria conseguido escapar se não tivesse tido o azar de ir contra a
rede das groselheiras e de ficar preso pelos enormes botões do seu casaco.
Era um casaco azul com botões de latão, quase novo.
O Pedrito deu-se por vencido e chorou amargamente; mas os seus soluços
foram ouvidos por uns pardais simpáticos que voaram para ele muito
excitado, implorando-lhe que se animasse e não desistisse.
O Senhor Gregório tinha ido buscar uma peneira para caçar o Pedrito, mas
o Pedrito conseguiu soltar-se mesmo a tempo, deixando o casaco para trás.
Fugiu para o barracão das ferramentas e saltou para dentro de um regador.
Teria um local fantástico para se esconder se não estivesse tão cheio de
água.
O Senhor Gregório tinha quase a certeza de que o Pedrito estava no
barracão, talvez escondido debaixo de um vaso. Começou a levantá-los um a
um, procurando debaixo deles.
De repente, o Pedrito espirrou:
- Atchiiimmm!
O Senhor Gregório viu-o logo.
E tentou pôr-lhe um pé em cima. Mas o Pedrito saltou por uma janela,
derrubando os vasos de plantas. A janela era demasiado pequena para o
Senhor Gregório e ele estava farto de correr atrás do Pedrito. Resolveu
voltar para o seu trabalho.
O Pedrito sentou-se a descansar; estava sem fôlego e a tremer de medo, e
não fazia a mínima ideia de para onde havia de ir. Também estava todo
molhado por ter estado dentro do regador.
Passado um bocado, atreveu- -se a dar saltinhos pequenos, muito devagar e
a olhar para todos os lados.
Encontrou uma porta numa parede, mas estava fechada à chave e não havia
espaço para um coelhinho anafado se esgueirar por baixo dela.
Uma ratita velhota corria para dentro e para fora, levando ervilhas e
feijões para a família que vivia no bosque.
O Pedrito perguntou-lhe onde ficava o portão mas ela tinha uma ervilha
tão grande na boca que não conseguiu responder. Apenas lhe acenou com a
cabeça.
O Pedrito começou a chorar.
Então, ele tentou encontrar o caminho atravessando o quintal a direito,
mas ficou ainda mais confuso.
Estava à beira do lago onde o Senhor Gregório costumava encher os
regadores. Uma gata branca admirava os peixes-vermelhos; estava muito
quieta mas, de vez em quando, a ponta da sua cauda abanava como se
estivesse viva. O Pedrito achou melhor seguir o seu caminho sem lhe falar - o
primo Casimiro tinha-lhe contado certas coisas acerca dos gatos...
Voltou para trás em direção ao barracão mas, de repente, ali perto, ouviu
o barulho de um sacho - crás, zic, crás, zic. O Pedrito escondeu-se debaixo
dos arbustos. Como nada aconteceu, saiu e saltou para um carrinho de mão
para espreitar. A primeira coisa que viu foi o Senhor Gregório sachar as
cebolas. Estava de costas para o Pedrito e do outro lado estava o portão!
O Pedrito desceu muito devagarinho e começou a correr o mais depressa
que podia por um caminho estreito atrás dos arbustos de groselhas-pretas.
O Senhor Gregório viu-o virar a esquina, mas o Pedrito não se importou.
Esgueirou-se por baixo do portão e, por fim, ficou a salvo no bosque, fora do
quintal.
O Senhor Gregório fez um espantalho com o pequeno casaco azul e os
sapatos para assustar os melros.
O Pedrito correu sem olhar para trás até chegar a casa, debaixo do grande
abeto.
Estava tão cansado que se deixou cair no chão macio da toca e fechou os
olhos. A mãe estava ocupada a cozinhar; perguntou-lhe o que tinha feito com
a roupa.
Era o segundo casaco e o segundo par de sapatos que ele perdia em quinze
dias!
Lamento ter de dizer que o Pedrito não passou nada
bem a noite.
A mãe mandou-o para a cama. Depois fez chá de
camomila e deu-lhe uma grande dose.
- Uma colher de sopa bem cheia antes de deitar!
Mas Flopsi, Mopsi e Rabinho-de-Algodão comeram pão
fresco, leite e amoras ao jantar.

Beatrix Potter

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