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I- ADICIONAL DE INSALUBRIDADE – SAÚDE DO TRABALHADOR

Breves considerações sobre o trabalho insalubre.

1. A proteção à saúde do empregado

Rotineiramente nos deparamos com um conceito equivocado de que o pagamento


do adicional de insalubridade resolve a questão do ambiente nocivo com relação ao
empregado e com os órgãos fiscalizadores.

O conceito do trabalho insalubre está previsto no Artigo 189 da CLT, e é aquele que
obriga o trabalhador a ficar exposto em seu ambiente de trabalho a qualquer agente
nocivo a saúde.

O artigo 190 da CLT define que cabe ao Ministério do Trabalho definir quais são as
atividades e operações insalubres, e estas por sua vez, estão definidas na Norma
Regulamentadora e seus anexos (NR 15 – clique aqui). Importante deixar claro que
não basta uma atividade ser considerada nociva, ela deve – necessariamente – ter
esta classificação na relação oficial elaborada pelo Ministério do Trabalho (Súmula nº
448, I, TST):

SÚMULA Nº 448 – TST:


ATIVIDADE INSALUBRE. CARACTERIZAÇÃO. PREVISÃO NA NORMA
REGULAMENTADORA Nº 15 DA PORTARIA DO MINISTÉRIO DO TRABALHO
Nº 3.214/78. INSTALAÇÕES SANITÁRIAS. (conversão da
Orientação Jurisprudencial nº 4 da SBDI-1 com nova redação do
item II ) – Res. 194/2014, DEJT divulgado em 21, 22 e
23.05.2014.

I - Não basta a constatação da insalubridade por meio de


laudo pericial para que o empregado tenha direito ao
respectivo adicional, sendo necessária a classificação da
atividade insalubre na relação oficial elaborada pelo
Ministério do Trabalho.

Na atualidade, a preservação da saúde do empregado, através de um ambiente de


trabalho saudável, é um dos pontos basilares da relação empregatícia. Isto não só
contribui com a saúde do empregado, mas também colabora com o aumento de
produtividade decorrente de um ambiente de trabalho sadio.

Todo empregador deve atentar-se para uma questão muito mais séria do que o
pagamento do valor do adicional, que é a necessidade imperiosa da eliminação
efetiva dos fatores nocivos (insalubres) à saúde do empregado, até porque, resta
evidente que o trabalho nestas condições por períodos prolongados, pode causar
sérias doenças ocupacionais, ou até mesmo acidentes de trabalho, além, claro, da
diminuição e aproveitamento da capacidade de trabalho do colaborador.

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Os riscos ambientais normalmente vêm previstos nos Laudos Trabalhistas Obrigatórios:

 LTCAT – Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho: que identifica


riscos ambientais (INSS – vide Art. 58, Lei nº 8.213/91);
 PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (NR7): o
programa tem caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos
agravos à saúde relacionados ao trabalho;
 PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (NR 9): documento de
identificação de riscos ambientais visando a preservação da saúde e da
integridade dos empregados;
 PPP – Perfil Profissiográfico Previdenciário: documento de histórico laboral do
empregado (INSS – vide Art. 58, § 4º, Lei nº 8.213/91);.

O empregador que não toma as necessárias medidas preventivas para a


neutralização ou minimização dos efeitos nocivos ao ambiente de trabalho insalubre,
mediante a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos
limites de tolerância, bem como a utilização de equipamentos individuais de proteção
(EPI´s) – independentemente do pagamento do adicional de insalubridade – fica
sujeito a multas administrativas em caso de fiscalização por órgãos governamentais,
assim como se expõe a um sério risco de contingência trabalhista futura, atraindo a
responsabilidade civil objetiva no caso de dano a saúde do trabalhador, ficando
sujeito, também, a indenizações por danos de ordem material e moral.

Também, não basta fornecer equipamentos de proteção. O empregador deve


manter ativa fiscalização com relação ao uso correto e efetivo por parte do
empregado.

Tal princípio se extrai da Súmula nº 289 do TST.

Súmula nº 289 do TST


INSALUBRIDADE. ADICIONAL. FORNECIMENTO DO APARELHO DE
PROTEÇÃO. EFEITO (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e
21.11.2003

O simples fornecimento do aparelho de proteção pelo


empregador não o exime do pagamento do adicional de
insalubridade. Cabe-lhe tomar as medidas que conduzam à
diminuição ou eliminação da nocividade, entre as quais as
relativas ao uso efetivo do equipamento pelo empregado.

Uma vez fornecido o equipamento de proteção individual ao empregado, assim


como tomadas medidas de proteção coletiva no ambiente de trabalho, o
empregador fica dispensado do pagamento do adicional de insalubridade:

Súmula nº 80 do TST
INSALUBRIDADE (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e
21.11.2003
A eliminação da insalubridade mediante fornecimento de
aparelhos protetores aprovados pelo órgão competente do Poder
Executivo exclui a percepção do respectivo adicional.

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Esta também é a diretriz da norma
regulamentadora (NR 15):

15.4 A eliminação ou neutralização da insalubridade


determinará a cessação do pagamento do adicional respectivo.

15.4.1 A eliminação ou neutralização da insalubridade deverá


ocorrer: a) com a adoção de medidas de ordem geral que
conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de
tolerância; (115.002-2 / I4) b) com a utilização de
equipamento de proteção individual

Como citado acima, muito mais importante que o não pagamento do valor do
adicional, com o fornecimento e fiscalização ativa do uso de equipamento de
proteção o empregador previne acidentes e doenças ocupacionais de seus
empregados, evitando-se, inclusive, a incidência de dolo por ação ou omissão
voluntária.

2. Base de Cálculo do Adicional de Insalubridade

A questão da base de cálculo (salário mínimo; salário normativo ou salário base do


empregado) é matéria que gera confusão, por falta de norma legal expressa sobre o
tema, especialmente após a Constituição Federal de 1988.

A Súmula Vinculante nº 4 do Supremo Tribunal Federal, não permite a imposição de


outra base de cálculo para o adicional de insalubridade, ainda que considerada
inconstitucional a vinculação do pagamento da respectiva verba ao salário mínimo. A
Excelsa Suprema Corte entendeu que o artigo 7º, inciso IV, da Constituição da
República (1988), revogou a norma relativa à adoção do salário mínimo como base
de cálculo para o adicional de insalubridade, mas não permite a atuação do
Judiciário em substituição para determinar novo parâmetro, sem expressa previsão
em lei. Assim, enquanto não houver norma positivada a respeito da base de cálculo
do adicional, o salário mínimo é o parâmetro a ser adotado, não sendo possível que o
cálculo se faça sobre salário normativo ou salário profissional, por absoluta ausência
de respaldo legal. Tal entendimento possibilita a observância ao princípio da
segurança jurídica que norteia o Estado de Direito e o devido processo legal.

A matéria é regulada por Súmula do TST, mas que tem sua eficácia suspensa:

Súmula nº 228 do TST


ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. BASE DE CÁLCULO (redação
alterada na sessão do Tribunal Pleno em 26.06.2008) - Res.
148/2008, DJ 04 e 07.07.2008 - Republicada DJ 08, 09 e
10.07.2008. SÚMULA CUJA EFICÁCIA ESTÁ SUSPENSA POR DECISÃO
LIMINAR DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - Res. 185/2012, DEJT
divulgado em 25, 26 e 27.09.2012
A partir de 9 de maio de 2008, data da publicação da Súmula
Vinculante nº 4 do Supremo Tribunal Federal, o adicional de
insalubridade será calculado sobre o salário básico, salvo
critério mais vantajoso fixado em instrumento coletivo.

O trabalho em condições insalubres (ocorrem situações que que é impraticável sua


eliminação ou neutralização) ou sem equipamento de proteção individual que
neutralize o agente nocivo, assegura ao trabalhador o recebimento de adicional
incidente sobre o salário mínimo equivalente a:

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 40%, para insalubridade em grau máximo;
 20%, para insalubridade em grau médio;
 10%, para insalubridade em grau mínimo.

O grau de insalubridade é apurado através de perícia técnica.

3. Tempo de exposição ao agente nocivo

3.1. Exposição reduzida ou esporádica

Muito se discute se o tempo de exposição de forma esporádica ou eventual do


empregado ao agente insalubre, e sem o equipamento de proteção individual,
geraria o direito ao recebimento do adicional de insalubridade.

A primeira consideração a se fazer é que a norma técnica (NR 15) da Portaria nº


3.214/1978 não cogita de tempo de exposição mínima em ambiente nocivo a saúde,
para que fique caracterizada a insalubridade, daí a maioria da jurisprudência
entender que, se constado ambiente de trabalho insalubre e se não fornecido
equipamento de proteção individual, o empregado faz jus ao recebimento de
adicional de insalubridade, mesmo que tenha contato eventual ao ambiente.

A maioria das decisões julga irrelevante a análise do tempo de exposição eventual,


frente ao princípio consagrado pela Sumula 47 do TST:

Súmula 47 – TST

INSALUBRIDADE (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e


21.11.2003

O trabalho executado em condições insalubres, em caráter


intermitente, não afasta, só por essa circunstância, o
direito à percepção do respectivo adicional.

Pelo direcionamento das normas atuais e decisões recentes da jurisprudência, o


empregado que tenha exposição eventual a agentes insalubres e sem equipamento
de proteção adequado, faz jus ao recebimento de adicional de insalubridade.

3.2. Limite Máximo de Exposição

Existem ainda situações que, além do fornecimento de EPI´s (equipamentos de


proteção) o empregador deve – também – observar normas regulamentadoras de
tempo máximo de exposição por hora e/ou diária do empregado no ambiente hostil.

Podemos citar como exemplo:

a) Exposição ao ruído (NR 15, anexo 1);

A norma prevê um tempo máximo de exposição diária permissível que vai de 7


minutos para nível de ruído de 115 dB a 8 horas para um nível de ruído de 85 dB.

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b) Exposição ao calor (NR 15 – anexo nº 3)

A norma prevê regime de trabalho intermitente com descanso de acordo com o tipo
de atividade, variando o tempo de trabalho (45 minutos) com descanso (15 minutos),
de acordo com a fórmula de cálculo de taxa de metabolismo prevista na própria
norma.

c) Exposição ao frio (NR 15 – anexo 9).

A norma técnica (NR 15 – anexo nº 9) não prevê tempo máximo de exposição ao frio,
mas a análise deve ser feita de forma sistemática com o disposto no artigo 253 da CLT,
ou seja, a cada 1 hora e 40 minutos de trabalho em ambiente frio, o empregado deve
ter intervalo de 20 minutos.

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Importante notar que em qualquer dos exemplos acima com relação a tempo
máximo de exposição, a eliminação do agente insalubre: “calor” ou “frio” está
condicionado à existência simultânea de dois elementos: uso correto de EPI´s
certificados e usufruto efetivo de intervalos durante a jornada de trabalho diária. No
caso específico do “ruído”, o uso de EPI´s e limitação do tempo máximo de exposição
diária. Não satisfeito um destes dois requisitos, é devido o adicional de insalubridade.

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Walter Augusto Becker Pedroso

 Advogado e Consultor Jurídico Empresarial;


 Membro efetivo da Comissão de Direito Empresarial da OAB/SP;
 Membro do Conselho Superior do Centro Universitário Ítalo Brasileiro;
 Especialização acadêmica em Direito Empresarial do Trabalho;
 Atualização em Gestão Estratégica de Recursos Humanos.

 Todos os direitos reservados.


Publicação: nov/2013
Revisão 1: nov/2014

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