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CÁLCULO DO ÍNDICE DE CONDIÇÃO DO PAVIMENTO PARA ELABORAÇÃO

DE UM SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE PAVIMENTOS SUSTENTÁVEIS


ATRAVÉS DO PROGRAMA SHRP: BR 463 – TRECHO DOURADOS A PONTA
PORÃ

José Reynaldo A. Setti


Manoel Henrique A. Sória
Universidade de São Paulo
Escola de Engenharia de São Carlos

RESUMO
Sabendo-se que o planejamento das ações de manutenção depende da capacidade de prever a condição futura do
pavimento, o presente projeto de pesquisa visa buscar novas formas de políticas de manutenção, conservação e
reabilitação de rodovias, baseadas na utilização de Sistemas de Gerenciamento de Pavimentos, que seja simples e
de grande utilidade. Face ao exposto, há de se considerar o uso do manual do SHRP (Strategic Highway
Research Program), o qual ajudará a desenvolver um Índice de Condição de Pavimento e, posteriormente, um
Sistema de Gerenciamento de Pavimentos alimentado pela ferramenta HDM-4.

1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, o crescimento da preocupação com desenvolvimento aliado à
sustentabilidade é notável. Neste sentido, surge o interesse de aliar o desenvolvimento global
ao desempenho ambiental, econômico e social adequados, controlando os impactos de forma
consciente e responsável.

O contexto de legislações está cada vez mais exigente por práticas de consumo e de
investimentos mais conscientes, da elaboração de medidas destinadas a estimular o
desenvolvimento sustentável e de uma crescente preocupação em relação às questões
ambientais, econômicas e sociais.

Dessa forma, cresce o interesse em aliar técnicas de gerenciamento para aprimorar os


serviços, buscando a otimização da produção, desenvolvendo produtos com mais qualidade e
menor impacto ambiental, racionalizando-se os processos, evitando desperdício de materiais e
geração de resíduos.

Diante de uma sociedade globalizada, o Brasil ocupa posição insatisfatória ante o cenário
mundial nos quesitos de qualidade de rodovias. Segundo o Relatório Gerencial de Pesquisa de
Rodovias elaborado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) no ano de 2015, na
América do Sul, a situação das nossas estradas está aquém da de países como Chile,
Argentina, Uruguai, Bolívia e Peru.

Segundo Machado (2013), aspectos como conforto e segurança são parâmetros de análise para
o enquadramento na boa qualidade. Uma rodovia confortável e segura é, em consequência,
uma rodovia com tráfego menos custoso.

Estima-se que são necessários aproximados R$ 2,14 bilhões de investimentos para a


reconstrução, restauração e a manutenção dos trechos e rodovias danificadas em Mato Grosso
do Sul, em conformidade com o exposto no relatório CNT 2015.

Tal fato expõe que o estado está em uma condição crítica no que tange às rodovias.
Face ao exposto, é imprescindível que sejam implementadas políticas de conservação,
manutenção e reabilitação, baseadas na utilização de Sistemas de Gerenciamento de
Pavimentos, que fornecem a melhor estratégia de intervenção e a definição da lista de
prioridades O acesso a dados e a análise das condições atuais e exposição dos pavimentos são
conhecimentos necessários para evitar possíveis deteriorações futuras. (MESQUITA, 2001)
Há necessidade de um método que, além de obedecer aos conceitos básicos, seja simples e de
grande utilidade à tomada de decisão quanto aos investimentos necessários para a manutenção
e reabilitação de pavimentos. (PÁEZ, 2015)

O DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) apresenta conceitos e


definições para identificação e classificação de defeitos através das normas DNIT 005/2003,
DNIT 006/2003, DNIT 007/2003, DNIT 008/2003 e DNIT 009/2003.

Entretanto, existem outros manuais de identificação de defeitos, sendo o SHRP (Strategic


Highway Research Program), com 15 tipos de defeitos - descrição, níveis de severidade,
extensão e métodos de medição - um dos métodos de grande confiabilidade, fornecendo
resultados detalhados e precisos. (PÁEZ, 2015)

Em conformidade com os conceitos, definições, levantamentos, avaliações e classificações,


serão coletados dados para identificar defeitos, diagnosticar o pavimento, selecionar medidas
de restauração e propor alternativas.

Nisso, o interesse existente é em desenvolver um Índice de Condição do Pavimento (ICP):


índice numérico que varia de 0 (para pavimentos em condições de rolamento muito ruins) a
100 (para pavimentos em condições de rolamento muito boas), podendo ser avaliado
subjetivamente ou calculado a partir de informações detalhadas de um levantamento de
defeitos em campo. A partir desse índice, criar um Sistema de Gerenciamento de Pavimentos,
alimentado pela ferramenta HDM-4, que é recomendado pelo Banco Mundial como modelo
de avaliação de desempenho para conservação de pavimentos. Os resultados do HDM-4 são
traduzidos nos tipos de intervenção para cada segmento, custo e época, dentro de um cenário
de investimentos.

Futuramente é possível concretizar um efetivo sistema de análise para qualquer rodovia


pavimentada, criando-se um banco de dados que facilite a conservação e manutenção das
mesmas, de modo a contribuir com o desenvolvimento de infraestruturas mais sustentáveis,
tecnológicas, duráveis, funcionais e seguras.

Isso gera consequências positivas para os profissionais envolvidos na área, bem como para os
órgãos como o DNIT, que é o responsável pela maior parte da quilometragem de rodovias
pavimentadas no Brasil. E, finalmente, para o desenvolvimento do país como um todo.

2. JUSTIFICATIVA
O planejamento das ações de manutenção depende da capacidade de prever a condição futura
do pavimento. Equívocos nesse processo podem resultar em alternativas incoerentes de
estratégias e, consequentemente, em utilização ineficiente dos recursos.

Dados como irregularidades, trincas, desgaste, deformações, tráfego, idade do pavimento são
de fácil acesso através de levantamento de dados. Em posse desses dados e em função do que
eles representam, é possível calcular o ICP (Índice de Condição do Pavimento) e, a partir
desse cálculo, determinar as necessidades atuais e futuras de manutenção, evitar uma
deterioração acelerada no futuro e estabelecer prioridades na programação de investimentos
sob restrição orçamentária.

Justifica-se então a pesquisa no sentido de otimização de aplicação de recursos financeiros e


naturais, de modo a criar um sistema de manutenção e conservação mais eficiente, funcional e
consciente. Visando com isso assegurar que são cumpridos os objetivos essenciais do Sistema
Nacional de Viação, quais sejam, dotar o país de infraestrutura viária adequada, garantir a
operação racional e segura dos transportes de pessoas e bens e promover o desenvolvimento
social e econômico e a integração nacional.

Não obstante a utilização de normas, o levantamento de dados em campo geralmente resulta


em dúvidas relacionadas ao reconhecimento e à forma de medição dos defeitos. Nisso,
existem diversos estudos sobre outros métodos de avaliação e identificação de defeitos nos
pavimentos, sua severidade e extensão, resultando na elaboração de diversos manuais que
buscam estabelecer e uniformizar a nomenclatura, as definições, os conceitos e os métodos de
levantamento dos principais defeitos observados nos pavimentos.

Dentro desse contexto, destaca-se o programa SHRP (Strategic Highway Research Program),
já utilizado em países da Europa e nos Estados Unidos. O manual do Programa SHRP,
desenvolvido em 1993, considera 15 (quinze) tipos de defeitos em pavimentos flexíveis,
apresentando, para cada tipo, a descrição, os níveis de severidade e a forma de quantificação
da extensão.

Uma identificação de defeitos mais específica direciona a tomada de decisões por parte dos
profissionais responsáveis. Isso gera um Sistema de Gerenciamento de Pavimentos mais
sustentável, tecnológico, funcional e seguro, assim como fornece a melhor estratégia de
intervenções e definições de prioridades ante um quadro de recursos esgotáveis, sejam
financeiros, sejam de origem natural. Criam-se então rodovias mais confortáveis ao usuário,
mais seguras e menos agressivas ao meio ambiente, pois sendo executada uma manutenção
mais eficaz, diminuem as aplicações desnecessárias de materiais naturais, desperdício,
retiradas excessivas de jazidas e intervenções agressivas ao meio ambiente.

Os dados levantados em campo e analisados através do programa SHRP são as entradas para a
ferramenta HDM-4 (Highway Design and Maintence Standarts Model). Tal ferramenta foi
desenvolvida para efetuar análise econômica da rede rodoviária para definição de
investimentos e é recomendada pelo Banco Mundial. Os resultados do HDM-4 se traduzem
em tipos de intervenção para cada segmento, custo e época, dentro de um cenário de
investimentos.

Todos esses dados, programas e ferramentas estão disponíveis para aplicação e criação de um
Sistema de Manutenção de Pavimentos. No caso desse projeto, o objeto de estudo será a
rodovia federal BR 463 – trecho Dourados a Ponta Porã. Devido à importância dos dois
municípios para o Estado do Mato Grosso do Sul, o tráfego de veículos é intenso nessa
rodovia. Trata-se do segundo maior município do estado – Dourados – e de um município
com grande importância no turismo de comércio – Ponta Porã.

3. OBJETIVO
3.1. OBJETIVO GERAL
O objetivo geral do projeto é formar base teórica, pesquisada na literatura técnica de diversos
especialistas sobre o tema de gerenciamento de rodovias através do cálculo do ICP (Índice de
Condição do Pavimento).

3.2. OBJETIVO ESPECÍFICO


Os objetivos específicos são relacionados à rodovia federal BR 463 – trecho Dourados a
Ponta Porã.
Coletar a base de dados sobre a rodovia.
Definir um método de cálculo do ICP (Índice de Condição do Pavimento), baseado no
Programa SHRP, que identificará os tipos de defeitos, a extensão e severidade dos mesmos. O
ICP varia de 0 (para pavimentos em condições de rolamento muito ruins) a 100 (para
pavimentos em condições de rolamento muito boas) e será dado pela equação:
ICP = 100 –  (Pdi) x (Fsi) x (Fei)

em que: ICP: Índice de Condição de Pavimento calculado para a rodovia;


Pdi: Peso por tipo de defeito (primeira etapa);
Fsi: Fatores de ponderação em função da severidade (segunda etapa);
Fei: Fatores de ponderação em função da extensão (terceira etapa).
Identificar as deficiências do método atual utilizado pelo DNIT e estabelecer
comparação com o método do Programa SHRP.

Montar modelo de gerenciamento de rodovia com base no ICP por meio da ferramenta HDM-
4 para indicar qual seção de pavimento apresenta-se em pior condição que outra e propor
modelo de gerenciamento para uma manutenção mais sustentável.

4. METODOLOGIA
A metodologia empregada será baseada na revisão da literatura, através da qual se pode
discorrer sobre as técnicas empregadas para a operação, manutenção, restauração e adequação
de rodovias.

Bem como levantamento dos dados em campo - BR 463 – trecho Dourados a Ponta Porã -
para caracterização, descrição dos níveis de severidade e extensão dos defeitos localizados em
acordo com o Programa SHRP, para que seja efetuado o cálculo do ICP.

Em posse dos valores obtidos de ICP, que são entradas para a ferramenta HDM-4, pode-se
estabelecer um método de análise de informações para aplicação do método de gerenciamento
de pavimentos aliado à sustentabilidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NORMA DNIT 005 / 2003 - TER. Defeitos nos pavimentos flexíveis e semi-rígidos - Terminologia.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Rio de Janeiro, 2003.
NORMA DNIT 006 / 2003 - PRO. Avaliação objetiva da superfície de pavimentos flexíveis e semi-rígidos -
Procedimento. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Rio de Janeiro, 2003.
NORMA DNIT 007 / 2003 - PRO. Levantamento para avaliação da condição de superfície de subtrecho
homogêneo de rodovias de pavimentos flexíveis e semi-rígidos para gerência de pavimentos e estudos e
projetos - Procedimento. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Rio de Janeiro, 2003.
NORMA DNIT 008 / 2003 - PRO. Levantamento visual contínuo para avaliação da superfície de pavimentos
flexíveis e semi-rígidos - Procedimento. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Rio de
Janeiro, 2003.
NORMA DNIT 009 / 2003 - PRO. Avaliação subjetiva da superfície de pavimentos flexíveis e semirrígidos -
Procedimento. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Rio de Janeiro, 2003.
MACHADO, Denise Maria Camargo. Avaliação de normas de identificação de defeitos para fins de gerência de
pavimentos flexíveis. Dissertação de Mestrado – Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de
São Paulo - USP. São Carlos: 2013.
MESQUITA, José Carlos Lobato. Pavimento rígido como alternativa econômica para pavimentação rodoviária.
Estudo de caso – Rodovia BR-262, Miranda – Morro do Azeite / MS. Dissertação de Mestrado –
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Florianópolis: 2001.
PÁEZ, Edgar Misael Arévalo. Índice de Condição do Pavimento (ICP) para aplicação em sistemas de gerência
de pavimentos urbanos. Dissertação de Mestrado – Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade
de São Paulo - USP. São Carlos: 2015.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE – CNT (2015). Relatório Gerencial – Pesquisa CNT
Rodovias 2015. Brasília: CNT: Sest Senat. Disponível em http://www.cnt.org.br Acesso em 13 de janeiro
de 2016.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES – DNIT. Sistema Nacional de
Viação. Disponível em http://www.dnit.gov.br Acesso em 13 de janeiro 2016.

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