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RESUMO
O artigo tem como objetivo descrever os resultados do estudo do comportamento mecânico de misturas de dois
solos lateríticos do Estado de São Paulo, com emulsão asfáltica de Ruptura Lenta. O estudo envolveu a análise
dos solos in natura, além da sua mistura com 2, 4, 6 e 8% de emulsão asfáltica. Foram analisadas as influências
do efeito da imersão em água no comportamento mecânico das misturas para os dois solos através de ensaios de
compressão simples, compressão diametral e triaxial cíclico. Os resultados mostraram que o solo argiloso e o
solo arenoso estabilizados com emulsão apresentaram resistência e rigidez superiores aos dos solos in natura
quando imersos em água. Finalmente, concluiu-se que o uso das emulsões asfálticas é de uso promissor em
pavimentação dado que proporciona à mistura propriedades físicas e mecânicas comparáveis àquelas obtidas por
meio de outros estabilizantes químicos de uso tradicional.
ABSTRACT
The basic objective of this research is to describe the mechanical behavior of two lateritics soils, from the State
of São Paulo, when mixed with asphalt emulsion of slow-setting at several percentages. Soil-emulsion was
prepared at 2%, 4%, 6% and 8% emulsion by dry weight of soil. The experimental program involved the effect
of the immersion in water in the mechanical behavior of the soils mixtures subjected to similar laboratory test
(Unconfined Compression Test, Indirect Tension Test and Triaxial Cyclic Compression Test). The results had
shown that the sand and clay soils stabilized with emulsion had presented superior strength and rigidity that the
in nature soils when immersed in water. Finally, it concludes that bituminous emulsion provides to soils qualities
that could be qualified for use in road construction when compared with other chemical stabilizations.
1. INTRODUÇÃO
O avanço da tecnologia e das técnicas de pavimentação possibilitam o melhoramento das
camadas estruturais dos pavimentos no Brasil, melhorando as características dos materiais
empregados na construção e manutenção da malha rodoviária do país.
Para obter a melhoria dos materiais é utilizada a estabilização, que proporciona aos solos
características mecânicas com as quais este seja capaz de resistir aos agentes erosivos da
natureza como também aos esforços e às solicitações produzidas pela ação do tráfego
rodoviário.
Um aspecto de grande interesse é o uso de vários tipos de estabilizantes como o cimento, a cal
e as emulsões asfálticas, sendo estas últimas as menos usadas no Brasil, seja pelo
desconhecimento da melhoria das propriedades que proporcionam aos solos finos ou pela
falta consenso nas normativas para a sua aplicação. Porém nos últimos anos têm sido feitas
pesquisas para contribuir com novos conhecimentos do uso das emulsões asfálticas no Brasil
como é o caso de Jacintho (2005), Miceli (2006) e Soliz (2007), que mostram o
comportamento dos solos quando estes são estabilizados com emulsões asfálticas.
Este trabalho está direcionado à analise do uso de emulsões asfálticas catiônicas de ruptura
lenta na estabilização de solos lateríticos, para condições de cura e de imersão que simulariam
condições de uso das camadas estruturais dos pavimentos, determinando as variações da
resistência mecânica e as condições de expansibilidade e contração, para teores variados de
emulsão asfáltica.
2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é analisar resultados da avaliação, em laboratório, das propriedades
físicas e mecânicas de dois solos lateríticos do Estado de São Paulo estabilizados com
emulsão asfáltica para uso na construção rodoviária como camadas de base, sub-base ou
reforço de subleito.
3. MATERIAIS
3.1. Escolha, caracterização, gênese e compactação dos solos
Os solos estudados foram selecionados entre as amostras coletadas em taludes de rodovias do
interior paulista por Takeda (2006). Na pesquisa desenvolvida por este autor, as amostras
foram caracterizadas (granulometria e limites plásticos), submetidos a ensaios de microscopia
eletrônica de varredura (MEV) e difração de raios-X.
Os solos foram denominados solo arenoso (LA’) e solo argiloso (LG’). A Figura 1 apresenta,
as curvas granulométricas dos solos estudados.
Observou-se que as misturas feitas com emulsão asfáltica de ruptura lenta apresentaram uma
boa dispersão do ligante nos solos, o que não aconteceu com as emulsões de ruptura rápida e
ruptura média que apresentaram aglutinação do ligante quando misturados com os solos,
formando grumos de até 10 milímetros de diâmetro.
Visto que as emulsões asfálticas de ruptura lenta apresentaram uma melhor dispersão na
mistura, estas foram escolhidas para o estudo do comportamento mecânico da mistura solo-
emulsão. Nesse contexto, foram estudadas duas emulsões de ruptura lenta, uma de uso
comercial e outra com uma formulação específica para melhorar ainda mais a trabalhabilidade
e dispersão quando misturadas com solos finos. Neste artigo serão apresentados e discutidos
apenas os resultados obtidos com a emulsão de formulação específica.
4. MÉTODO EXPERIMENTAL
No presente trabalho foi analisado o efeito da adição de diferentes teores de emulsões
asfálticas de ruptura lenta e períodos de cura para as misturas de solo-emulsão. Para a
composição das misturas foram estudados os solos in natura e as seguintes porcentagens de
emulsão asfáltica: 2%, 4%, 6%, 8% em relação à massa seca do solo, levando-se em conta a
umidade higroscópica.
Para a escolha da condição de cura foram realizados ensaios de compressão simples em três
condições: corpos-de-prova expostos ao ar, selados através do envolvimento com papel filme
de PVC e expostos ao ar, e selados com papel filme de PVC e mantidos na câmara úmida.
Nesta etapa da pesquisa, observou-se um período de cura de sete dias e os corpos-de-prova
foram ensaiados após quatro horas de imersão em água. As Figuras 3 e 4 apresentam os
resultados dos ensaios de compressão simples para as três condições de cura, respectivamente
para os solos arenoso e argiloso.
280
160
120
80
Não selado ao ar
40 Selado na camera úmida
Selado ao ar
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Teor de emulsão (%)
Figura 3: Variação da RCS do solo arenoso com o teor de emulsão após imersão
280
200
RCS (kPa)
160
120
80
Não selado ao ar
40 Selado na camera úmida
Selado ao ar
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Teor de emulsão (%)
Figura 4: Variação da RCS do solo argiloso com o teor de emulsão após imersão.
Analisando-se os resultados apresentados nas Figuras 3 e 4, observa-se que a condição de
cura ao ar de corpos-de-prova selados com filme de PVC conduzia a valores mais elevados de
resistência pós-imersão. Assim, nos ensaios subseqüentes, foi adotada esta condição de cura,
sendo sempre realizados ensaios sem imersão e após imersão prévia em água por um período
de 4 horas, com o objetivo de se avaliar o efeito do umedecimento na resistência das misturas.
Analisando-se estes valores, o solo arenoso e as misturas constituídas com este material
apresentam massa específica seca (ρdmax) e umidade ótima (wo) respectivamente, maiores e
menores que os mesmos parâmetros obtidos para o solo argiloso. E ainda, para ambos os
solos, o acréscimo ou o aumento do teor de emulsão conduz a menores valores de ρdmax e wo.
Destaca-se que estudos anteriores com solo-emulsão adotam o ρdmax e wo do solo in natura
para a compactação dos corpos-de-prova utilizados nos ensaios mecânicos. Comparando-se os
resultados correspondentes ao solo puro e solo-emulsão, este procedimento conduziria a uma
sobre-compactação das misturas, assim cuidou-se em compactar cada mistura na sua condição
ótima.
640
560
480
400
320
240
160
80
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Figura 5: Variação da RCS do solo argiloso com o teor de emulsão e tempo de cura sem e
após imersão
Analisando-se a Figura 5, observa-se que para o material argiloso ensaiado sem imersão
acontece uma queda de resistência quando se adicionam 2%, 4% e 6% de emulsão ao solo in
natura. O valor da RCS do solo-emulsão só é superior ao do solo in natura a partir do teor de
8%. Observa-se que o efeito positivo da adição da emulsão ao solo argiloso destaca-se nos
ensaios realizados após imersão em água. Para estes ensaios, a RCS é crescente com o
aumento do teor de emulsão e as misturas apresentam resistências superiores à do solo puro.
800
720
640
560
480
400
320
240
160
80
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Analisando-se a Figura 6, observa-se que para o material arenoso ensaiado sem imersão
acontece uma queda de resistência quando se adiciona emulsão ao solo in natura, e que esta
variável apresenta valores decrescentes com o aumento do teor de emulsão. Observa-se que o
efeito positivo da adição da emulsão ao solo arenoso verifica-se apenas para os ensaios
realizados após imersão em água. Para estes ensaios, a RCS é crescente com o aumento do
teor de emulsão e as misturas apresentam resistências superiores à do solo puro.
360
340
com imersão
sem imersão
320
300
280
260
240
220
RCD (kPa)
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Figura 7: Variação da RCD do solo argiloso com o teor de emulsão e tempo de cura sem e
após imersão
380
360
340
320
300
280
260
240
220
RCD (kPa)
200
180
160
140
120
100
80
60
40 com imersão sem imersão
20
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Teor de emulsão (%)
Figura 8: Variação da RCD do solo arenoso com o teor de emulsão e tempo de cura sem
e após imersão
MR = k1σ 3 σ d
k2 k3
(1)
em que MR: módulo de resiliência [MPa];
k1, k2, k3: parâmetros de resiliência do solo ensaiado;
σ3 : tensão de confinamento [kPa];
σd : tensão de desvio [kPa];
σd
BASE 15 cm
σ3
SUB-BASE MR = 90 MPa
SUBLEITO MR = 45 MPa
Tabela 3: Modelo e valores do módulo de resiliência calculados para os modelos das misturas
estudadas
Material Modelo MR (MPa)
Solo argiloso puro sem imersão MR = 422 σ30.128 σd-0.187 230
Solo argiloso + 2% emulsão sem imersão MR = 638 σ30.025 σd-0.182 239
Solo argiloso + 4% emulsão sem imersão MR = 740 σ3-0.007 σd-0.192 246
Solo argiloso + 6% emulsão sem imersão MR = 881 σ3-0.032 σd-0.056 583
Solo argiloso + 8% emulsão sem imersão MR = 1366 σ3-0.016 σd-0.135 601
Solo argiloso puro com imersão MR = 51 σ30.532 σd-0.275 39
Solo argiloso + 2% emulsão com imersão MR = 254 σ30.233 σd-0.331 60
Solo argiloso + 4% emulsão com imersão MR = 284 σ30.201 σd-0.27 146
Solo argiloso + 6% emulsão com imersão MR = 388 σ30.102 σd-0.195 187
Solo argiloso + 8% emulsão com imersão MR = 706 σ30.019 σd-0.196 239
Solo arenoso puro sem imersão MR = 110 σ30.29 σd-0.054 240
Solo arenoso + 2% emulsão sem imersão MR = 1333 σ30.069 σd-0.221 441
Solo arenoso + 4% emulsão sem imersão MR = 1007 σ30.028 σd-0.144 473
Solo arenoso + 6% emulsão sem imersão MR = 1331 σ30.047 σd-0.169 582
Solo arenoso + 8% emulsão sem imersão MR = 1489 σ30.020 σd-0.107 869
Solo arenoso puro com imersão --- ---
Solo arenoso + 2% emulsão com imersão MR = 38 σ30.521 σd-0.19 137
Solo arenoso + 4% emulsão com imersão MR = 40 σ30.64 σd-0.237 188
Solo arenoso + 6% emulsão com imersão MR = 34 σ30.581 σd-0.144 206
Solo arenoso + 8% emulsão com imersão MR = 31 σ30.62 σd-0.137 228
900
SEM IM ERSÃO COM IM ERSÃO
800
700
600
MR (MPa)
500
400
300
200
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0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Teor de emulsão(%)
Figura 10: Variação do MR do solo argiloso com o teor de emulsão para 28 dias de cura sem
e após imersão
Analisando-se a Figura 10, observa-se que para o material argiloso ensaiado sem imersão, o
módulo de resiliência varia pouco quando se adicionam 2% e 4% de emulsão ao solo in
natura, sendo que esta variável apresenta um aumento expressivo para o teor de 6%, a partir
do qual tem pouca variação. Observa-se que o efeito positivo da adição da emulsão ao solo
argiloso destaca-se nos ensaios realizados após imersão em água. Para estes ensaios, o MR é
crescente com a adição e o aumento do teor de emulsão, para todos os teores considerados.
900
SEM IM ERSÃO COM IM ERSÃO
800
700
600
MR (MPa)
500
400
300
200
100
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Teor de emulsão(%)
Figura 11: Variação do MR do solo arenoso com o teor de emulsão para 28 dias de cura sem
e após imersão
Analisando-se a Figura 11, observa-se para o material arenoso ensaiado sem imersão e após
imersão, que o módulo de resiliência é crescente com a adição e o aumento do teor de
emulsão asfáltica. Observa-se ainda que o efeito positivo da adição da emulsão ao solo
arenoso tem maior destaque nos ensaios realizados sem imersão em água. Comparando-se os
resultados obtidos para o solo in natura com os resultados correspondentes aos teores de 6% e
8% que conduziram aos valores mais elevados de MR, observa-se que o valor do MR cresce
respectivamente 143% e 262% para a condição sem imersão. Para a condição após imersão
não foi possível ensaiar o corpo-de-prova do solo in natura pela desintegração do mesmo,
entretanto os resultados obtidos mostram incremento do valor do MR a partir do teor de 2%,
já para os teores de 4%, 6% e 8%, o crescimento varia pouco.
6. CONCLUSÕES
Para o teor ótimo, tempo de cura de 28 dias e ensaios realizados após imersão, o efeito
positivo da emulsão nos resultados de RCS é maior para o solo argiloso, sendo que para a
RCD, o efeito é maior para o solo arenoso. No tocante, ao MR, o efeito é similar para ambos
os solos.
Os valores de RCS, RCD e MR crescem com o aumento do teor de emulsão asfáltica para
amostras ensaiadas após imersão em água. Para a condição sem imersão, verifica-se o
crescimento significativo desses valores só para a RCD e MR.
Finalmente, conclui-se que o efeito positivo da emulsão pode contribuir para a melhoria do
comportamento mecânico dos solos usados como material de construção de pavimentos.
Entretanto, o uso das emulsões asfálticas aplicadas na construção rodoviária ainda exige o
aprofundamento das pesquisas, principalmente no tocante às condições de cura e de ensaios
que reflitam as condições de campo.
Agradecimentos
Os autores agradecem à CAPES pela bolsa de mestrado concedida ao primeiro autor.
REFERÊNCIAS
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de emulsão asfáltica”. In: 39.º Reunião anual de pavimentação, RAPv/13 º ENACOR, Recife/PE, Setembro.
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Yamaguchi University, Japón, Vol.19 No.1.
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211p. Dissertação (Mestrado), Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília.
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Rio de Janeiro. 223p. Dissertação (Mestrado), Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro.
Soliz, V. P. (2007) Estudo de três solos estabilizados com emulsão asfáltica. Rio de Janeiro. Dissertação
(Mestrado). Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE.