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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ALPV
Nº 70025244955
2008/CÍVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DISSOLUÇÃO DE


UNIÃO ESTÁVEL LITIGIOSA. PEDIDO DE GUARDA
COMPARTILHADA. DESCABIMENTO. AUSÊNCIA
DE CONDIÇÕES PARA DECRETAÇÃO.
A guarda compartilha está prevista nos arts. 1583 e
1584 do Código Civil, com a redação dada pela Lei
11.698/08, não podendo ser impositiva na ausência
de condições cabalmente demonstradas nos autos
sobre sua conveniência em prol dos interesses do
menor. Exige harmonia entre o casal, mesmo na
separação, condições favoráveis de atenção e
apoio na formação da criança e, sobremaneira, real
disposição dos pais em compartilhar a guarda
como medida eficaz e necessária à formação do
filho, com vista a sua adaptação à separação dos
pais, com o mínimo de prejuízos ao filho. Ausente
tal demonstração nos autos, inviável sua
decretação pelo Juízo.
AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO.

AGRAVO DE INSTRUMENTO SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70025244955 COMARCA DE CAMAQUÃ

L.G.C.F. AGRAVANTE
..
R.F.K. AGRAVADA
..

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Sétima Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento
ao agravo de instrumento.

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Custas na forma da lei.


Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes
Senhores DES. VASCO DELLA GIUSTINA (PRESIDENTE) E DES.
SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES.
Porto Alegre, 24 de setembro de 2008.

DES. ANDRÉ LUIZ PLANELLA VILLARINHO,


Relator.

RELATÓRIO
DES. ANDRÉ LUIZ PLANELLA VILLARINHO (RELATOR)
Trata-se de agravo de instrumento interposto por Luiz Gustavo
C. F. contra a decisão de fls. 94 que, nos autos da ação de reconhecimento
e dissolução de união estável cumulada com oferta de alimentos, guarda
compartilhada de menores e indenização por dano moral, proposta pelo
agravante em face de Renata F.K., entre outras deliberações, determinou a
permanência da guarda do menor, Renan, na posse da genitora, ora
recorrida.
Nas razões recursais, o agravante busca a reforma da decisão,
discorrendo, em suma, sobre o histórico do relacionamento amoroso
mantido com a agravada desde que eles se conheceram. Relata o
recorrente a ocorrência de episódios marcados por intensa paixão e brigas
entre o casal, até o instante em que considerou que não havia mais
possibilidade de reconciliação e ajuizou a presente demanda. Insurge-se no
que diz com a permanência do filho sob a guarda exclusiva do filho, ao
argumento de que a guarda compartilhada atenderá melhor aos interesses
do menor, ainda que haja litígio entre os pais. Pugna pela reforma da
decisão ao efeito de que seja determinada a guarda compartilhada do filho,
Renan. Junta documentos.
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Recebido o agravo de instrumento, o pleito liminar restou


indeferido (fls. 100).
Apresentadas as contra-razões (fls. 105/107), juntando a
recorrida cópia da reconvenção ajuizada contra o agravante.
O Ministério Público, neste grau, através da eminente
Procuradora de Justiça, Dra. Ida Sofia S. da Silveira, emitiu parecer pelo
desprovimento do recurso.
Vieram os autos conclusos para julgamento.
É o sucinto relatório.

VOTOS
DES. ANDRÉ LUIZ PLANELLA VILLARINHO (RELATOR)
Cuida-se de agravo de instrumento interposto por Luiz Gustavo
C. F. contra a decisão de fls. 94 que, nos autos da ação de reconhecimento
e dissolução de união estável cumulada com oferta de alimentos, guarda
compartilhada de menores e indenização por dano moral, proposta pelo
agravante em face de Renata F.K., entre outras deliberações, determinou a
permanência da guarda do menor, Renan, na posse da genitora, ora
recorrida.
Pretende o agravante, por meio deste recurso, reformar o
decisium que considerou ser adequada a permanência do filho comum dos
litigantes sob a guarda exclusiva da genitora. Sustenta, para tanto, ser
possível a instituição da guarda compartilhada, ainda que os progenitores
não possuam relacionamento harmônico.
Mencionou o agravante, em suas razões de agravo, que a
guarda compartilhada vinha sendo aceita pelos tribunais pátrios e indicada

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pela doutrina, tendo o projeto de lei, que regulamenta sua instituição, sido
aprovado.
A guarda compartilhada está prevista no ordenamento vigente
a partir da alteração dos artigos 1583 e 1584 do Código Civil dada pela Lei
11.698, de 2008, in verbis:

“Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada.


(Redação dada pela Lei nº 11.698, de 2008).
§ 1o Compreende-se por guarda unilateral a atribuída
a um só dos genitores ou a alguém que o substitua
(art. 1.584, § 5o) e, por guarda compartilhada a
responsabilização conjunta e o exercício de direitos e
deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo
teto, concernentes ao poder familiar dos filhos
comuns. (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).
§ 2o A guarda unilateral será atribuída ao genitor que
revele melhores condições para exercê-la e,
objetivamente, mais aptidão para propiciar aos filhos
os seguintes fatores: (Incluído pela Lei nº 11.698, de
2008).
I – afeto nas relações com o genitor e com o grupo
familiar; (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).
II – saúde e segurança; (Incluído pela Lei nº 11.698, de
2008).
III – educação. (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).
§ 3o A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que
não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos.
(Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).
§ 4o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).
Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada,
poderá ser: (Redação dada pela Lei nº 11.698, de 2008).
I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou
por qualquer deles, em ação autônoma de separação,
de divórcio, de dissolução de união estável ou em
medida cautelar; (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).
II – decretada pelo juiz, em atenção a necessidades
específicas do filho, ou em razão da distribuição de
tempo necessário ao convívio deste com o pai e com a
mãe. (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).
§ 1o Na audiência de conciliação, o juiz informará ao
pai e à mãe o significado da guarda compartilhada, a

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sua importância, a similitude de deveres e direitos


atribuídos aos genitores e as sanções pelo
descumprimento de suas cláusulas. (Incluído pela Lei nº
11.698, de 2008).
§ 2o Quando não houver acordo entre a mãe e o pai
quanto à guarda do filho, será aplicada, sempre que
possível, a guarda compartilhada. (Incluído pela Lei nº
11.698, de 2008).(...)”

Ainda que o processo se encontre em estágio inicial, a leitura


das peças já produzidas, inicial, contestação e reconvenção, evidenciam que
as partes se encontram, lamentavelmente, em manifesta oposição, com
manifestações beligerantes e acusações recíprocas, evidenciando a
absoluta impossibilidade, no momento, de se estipular a guarda compartilha
de Renan entre seus pais, agravante e agravada.
Ademais, não há, ainda no processo, elementos seguros de
informação acerca do modo de viver dos pais de Renan, o tempo que cada
um dispõe em busca de transmitir carinho, segurança e apoio ao menor, e
de suas reais intenções em buscar harmonia na relação, mesmo separados,
em prol dos interesses do filho. Tais condições, somente se materializam no
processo após os exames e laudos necessários, e da constatação, pelo
juízo, que efetivamente há condições de estabelecer a guarda compartilhada
do menor entre seus pais.
No momento, à evidência, tal constatação não se faz presente
no processo.

Isto posto, nego provimento ao agravo de instrumento.

DES. VASCO DELLA GIUSTINA (PRESIDENTE) - De acordo.


DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES - De acordo.

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DES. VASCO DELLA GIUSTINA - Presidente - Agravo de Instrumento nº


70025244955, Comarca de Camaquã: "NEGARAM PROVIMENTO AO
AGRAVO DE INSTRUMENTO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: LUIS OTAVIO BRAGA SCHUCH

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