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APOSTILA ELETRÔNICA GERAL MÓDULO - 3

AMPLIFICADORES DE POTÊNCIA
AULA CLASSES B, AB (etapa de saída)
O amplificador classe B utilizando par casado

2
A distorção cruzada (crossover distortion)
O amplificador classe AB - corrente quiescente
O ajuste da corrente de repouso na classe AB
CIRCUITOS AMPLIFICADORES DE POTÊNCIA alimentação e baixas correntes, o que torna necessário o
uso de transformadores de saída para adequar as
O tipo de amplificador mais comum é o eletrônico, usado impedâncias do amplificador (altas) com as baixas
em transmissores e receptores de rádio e televisão, impedâncias dos alto-falantes. Os aparelhos valvulados
equipamentos estéreo de alta fidelidade (high-fidelity ou podem ser montados em topologia Single-End, onde
hi-fi), microcomputadores e outros equipamentos apenas uma válvula amplifica todo o sinal, mas com
eletrônicos digitais, além de guitarras e outros baixo rendimento (classe A) e com topologia Push-Pull
instrumentos musicais elétricos. Seus componentes onde pares de válvulas são conectadas ao
principais são dispositivos ativos, tais como válvulas ou transformador de saída de forma que cada válvula de
transistores. cada par amplifique apenas um semiciclo (positivo ou
Em alta fidelidade (Hi-Fi), o amplificador é um aparelho negativo) do sinal de áudio. São muito usadas válvulas
eletrônico que eleva os níveis de tensão dos sinais de pêntodo de potência, como elementos de saída tais
áudio, sendo que na etapa final amplifica este sinal em como KT88, KT66, 6550, EL34, EL84,6L6 e 6V6 entre
corrente, para excitar os alto-falantes, com a mínima outras. Neste módulo, apenas comentamos sobre o
distorção possível (dentro de parâmetros pré- amplificador valvulado, mas no módulo 4 teremos os
determinados). É muitas vezes empregado para circuitos e análises em torno dele.
designar o conjunto pré-amplificador e amplificador de
potência ou o amplificador integrado. figura 2
1 - cabeçote valvulado Fender

Pré-amplificadores
Pré-amplificador é o estágio de um amplificador de áudio
que recebe o sinal da fonte sonora, tais como o gravador
cassete, o receptor e o toca-discos de baixo nível, sinal
de áudio de um DVD e corrige-os, entregando em sua
saída um sinal suficientemente elevado para excitar o
amplificador de potência (veja figura 1). Amplificador de
potência é o estágio de um amplificador de áudio ou de
RF (rádio frequência) que eleva o sinal de áudio ou de RF
fornecido pelo pré-amplificador ou oscilador a um nível
de tensão e impedância adequados para funcionar as
caixas acústicas ou antenas transmissoras. Amplificadores operacionais (op amps)
O amplificador integrado possui o pré-amplificador e o Amplificadores Operacionais são amplificadores
amplificador de potência juntos no mesmo aparelho. diferenciais DC de alto desempenho: alto ganho, alta
impedância de entrada, baixa impedância de saída e
Amplificadores valvulados grande resposta em frequência. Sua grande função é
No início do áudio (década de 1920), as válvulas faziam a amplificação de sinais de circuitos como microfones,
atividade de dispositivos ativos. Atualmente ainda são sensores dos mais diversos, e área de instrumentação,
utilizadas em aparelhos High End (equipamento de sendo ainda encontrados nas entradas de diversos
ponta) e em amplificadores para instrumentos, em circuitos. São utilizados ainda como filtros BPF, LPF,
especial a guitarra elétrica, devido à qualidade em HPF, TRAP e schmitt trigger. Caso o aluno necessite de
reprodução de harmônicos (veja a figura 2 - com um informações detalhadas sobre amplificadores
amplificador da marca Fender). Um amplificador operacionais, as verá no módulo 4 ou ainda no volume 8
valvulado geralmente funciona sob altas tensões de do Curso de análise de Defeitos.

figura 1 - pré-amplificador Technics com duplo controle tonal

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AMPLIFICADOR CLASSE B
Depois de vermos alguns detalhes sobre o +B +B=30V figura 4
amplificador de potência classe A, estudaremos
agora o amplificador classe B. Estes amplificadores R1
surgiram da necessidade de termos saídas 1kW

amplificadas de potência com baixo consumo, já


que os amplificadores classe A (antigos), eram pré- Q1

polarizados e de baixo rendimento (apenas 25%),


ou seja, para fornecerem uma determinada
15V
potência teriam que dispor de 60 a 80% em 15V
dissipação de calor, considerada perda de energia. C2 C1
A primeira grande diferença do classe B para o
classe A antigo, é que o amplificador classe B Q2
trabalha com 2 transistores (geralmente par casado AF1
PNP e NPN) enquanto o classe A trabalha somente R2
1kW
com 1 transistor; a segunda diferença é que no
classe A, o transistor, mesmo sem sinal, está
sempre polarizado, ficando em meia condução,
devido a pré-polarização de sua base; já o
amplificador classe B, somente é polarizado com Poderemos afirmar que teremos os transistores
sinal, e caso este não exista, os transistores cortados, não havendo corrente pelos seguintes
permanecem cortados, diminuindo em muito o motivos:
consumo do amplificador. Na figura 3, temos um 1 ° - Estando as bases com o mesmo potencial, e os
exemplo da saída de som de um amplificador classe emissores interligados, não há como formar uma
B. diferença de potencial para que haja circulação de
figura 3 corrente pelos diodos que compõem a junção base-
+B +B=30V
emissor ou emissor-base.
2° - Considerando que o capacitor C1 esteja
R1 carregado com a tensão de +15V, teríamos as
1kW
tensões de base com 15V e de emissores também
com 15V, não havendo nenhuma polarização.
Q1
3° - Na prática, poderemos considerar que o

+B +B=30V figura 5
C2 C1
R1
1kW
Q2
AF1 15V
Q1
R2
1kW

15V
C2 C1
Os amplificadores classe B eram utilizados para
saídas de potência de áudio e podiam excitar Q2
15V
diretamente o alto-falante, com capacitor de AF1
acoplamento ou não (fonte simétrica). Ainda R2
podiam excitar um transformador e no secundário 1kW
dele um alto-falante, ou com o mesmo
transformador com secundário com impedância
maior, um sistema de som ambiente. Começando a
analisar o amplificador, podemos ver que a tensão eletrolítico apresenta uma fuga residual, comum
intermediária de polarização é obtida a partir de dois nestes componentes (acima de 100k), o que
resistores de mesmo valor, formando um divisor de produziria uma pequeníssima circulação de
tensão. Considerando que a alimentação é de corrente por base-emissor de Q1, colocando o
+30V, podemos dizer que no centro do divisor de emissor de Q1 com um potencial mais baixo.
tensão resistivo teremos a tensão de +15V, tensão Apesar disso, desconsideraremos esta corrente
esta que será aplicada às bases, que ficariam curto- residual e continuaremos afirmando que os dois
circuitadas, como mostra a figura 4. transistores estão cortados, como mostra a figura 5;
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Lâmpada
série
6W ou
40W

BC338
C

B
E BC328
E
B
C

tomada figura 6
série
ligar este plug na
rede de 110Vac
transformador
15Vac + 15Vac 15Vdc ~ 20Vdc

Lâmpada
série R1
6W ou 1kW
40W D1
1N4007
Q1
100uF
x 25V

C2 C1
1000uF
ligar este plug na x 25V
Q2
rede de 110Vac
D2 AF1
1N4007
R2
1kW
figura 7

logo, a primeira conclusão sobre o amplificador sinal senoidal que será acoplado pelo capacitor C2;
classe B é que os transistores permanecerão inicialmente vamos analisar o semiciclo positivo do
cortados na falta de sinal e seu consumo nesta sinal e considerando então que temos uma
condição será muito baixo (corrente apenas através excitação proveniente de C2 (figura 8), vemos que
dos resistores que encontram-se nas bases, chega do lado esquerdo um potencial positivo, que
circulando corrente do potencial positivo para o durante a carga transfere este potencial positivo
negativo por eles). para o lado direito (durante a carga, o capacitor C2
será um curto). Teremos em consequência disto,
É DE FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA QUE O uma elevação do potencial das bases dos
ALUNO MONTE NA PRÁTICA O CIRCUITO transistores, provocada pela maior queda de tensão
M E N C I O N A D O , I N T E R L I G A N D O S E U S em R2 (corrente proveniente do capacitor); isto
TERMINAIS COMO MOSTRADO NA FIGURA 6 também provocará uma polarização para o
(ESQUEMA ELÉTRICO COMPLETO NA FIGURA transistor Q1; fluindo corrente pela base até o
7), E APÓS MEÇA AS TENSÕES COM A PONTA capacitor C1 e com isto maior corrente fluirá pelo
PRETA DO MULTÍMETRO SEMPRE NO coletor-emissor de Q1, fazendo a carga de C1 e
NEGATIVO DA FONTE. deslocamento do cone do alto-falante para frente.
Para estas montagens, pedimos aos alunos que Como subiu a tensão na base de Q2, ou seja, esta
sempre utilizem o transformador de rede ligado tensão está acima da tensão de emissor deste,
a uma lâmpada em série de baixa potência, 6W podemos dizer que permanece cortado.
ou no máximo 40W, para que em caso de erros Na figura 9, vemos agora que C2 está recebendo
nas interligações, os transistores não queimem um potencial oposto ao anterior (semiciclo negativo
instantaneamente. do sinal), fazendo com que caia a tensão nas bases
dos transistores. Lembre-se que ao carregar-se, o
Agora, vamos analisar o amplificador recebendo um capacitor C1 possui agora uma tensão armazenada

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maior e caso as tensões de base de Q1 e Q2 caiam, +30V +30V figura 9
haverá o corte de Q1 e logo em seguida a
polarização do transistor Q2, que diminuirá
R1
drasticamente sua resistência para a massa 1kW
(coletor-emissor) que irá descarregar o capacitor
C1. Agora, o cone do alto-falante é deslocado para Q1
trás (mantendo agora Q1 cortado). Como o sinal é
feito de semiciclos positivos e negativos sucessivos
e de amplitudes e frequências diferentes, faremos a
excitação do falante, produzindo o som.
C2 C1
C1
figura 8 +30V +30V
Q2
AF1
R1
1kW R2
1kW

Q1

negativo do sinal, a tensão da base dos transistores


irá cair, polarizando o transistor PNP (Q2) e
C2 C1 cortando o transistor NPN (Q1); desta vez a
excitação do alto-falante terá sentido inverso
Q2 descarregando o capacitor C1. Logo, Q1 amplifica o
AF1
semiciclo positivo e Q2 o semiciclo negativo do
R2
1kW
sinal.
Podemos ver que neste amplificador (transistores
de saída), não há amplificação de tensão, mas
somente reforço de corrente; note que o sinal entra
Podemos então concluir com isto que o sinal será pelas bases e sai pelos emissores, sendo que os
acoplado pelo capacitor de entrada (C2) e irá alterar coletores estão um no potencial positivo (NPN) e o
a polarização da base dos transistores (Q1 e Q2). outro no potencial negativo (PNP). Desta forma,
No semiciclo positivo, o transistor NPN (Q1) será esta saída de som exigiria uma amplificação de
polarizado, amplificando em corrente este sinal sinal, para que esta saída faça somente o reforço
(coletor comum), enquanto o transistor PNP em corrente, o que chamamos de saída em baixa
permanece cortado. Isto irá excitar o alto-falante, impedância essencial para a movimentação do
carregando o capacitor de C1; já no semiciclo cone do falante.

A DISTORÇÃO CRUZADA
Apesar de dizermos que o sinal foi amplificado em tensão na base ultrapassar 15,6V e até alcançar a
corrente e houve a excitação do alto-falante, tensão máxima de 16V (variação de 0,4V), acabará
ocorrerá uma pequena distorção no sinal, chamada acontecendo a variação na saída de 15V para
de "distorção cruzada", que é causada pela falta de 15,4V (como mostra a figura 10 e 12 nos pontos
excitação dos transistores em níveis de sinal ou “B”).
volume muito baixos. Esta distorção ocorre a partir figura 10
+30V +30V
do momento que um dos transistores deixa de ser
polarizado, sem que o outro transistor entre em
polarização. Para que possamos entender como R1
1kW
isto se processa, vamos utilizar as figuras 10, 11 e
12 para explicar o processo da distorção. 15,6V
A
Q1
Considerando que a tensão das bases encontra-se
com 15V, surgirá um sinal de 2Vpp que variará no
A
primeiro semiciclo positivo de 15V para 16V, como 15V

mostrado no ponto "A" figuras 10 e 12. C2 B C1


Considerando que a tensão de saída encontra-se
também com 15V, somente haverá a polarização
base-emissor do transistor Q1, quando sua tensão AF1
de base atingir 15,6V; desta forma, podemos R2
1kW
afirmar que ao sinal da entrada variar de 15V a
15,6V não houve variação de sinal na saída. Após a

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Na excitação do semiciclo negativo, como mostrado 15V até 9V (semiciclo negativo). Como haverá
na figura 11 e 12, teremos uma queda na tensão das distorção, o sinal na saída dos transistores,
bases de 15V para 14V; se considerarmos que a mostrada na figura 13b, atingirá 20,4V no semiciclo
tensão de saída está em 15V, uma variação na positivo (no total temos 0,6V a menos do que sem
tensão de bases de 15V até 14,4V não terá nenhum distorção), enquanto que no semiciclo negativo
efeito na alteração da tensão de saída, e somente 9,6V (0,6V a mais do que sem distorção). Perdeu-se
após a queda ainda maior de 14,4V até 14V portanto 1,2Vpp na amplitude total. Apesar de
(variação de 0,4V para menos) que ocorrerá a quase não visível (ou audível), haverá uma
variação para a saída como mostra em "B". distorção cruzada, que pode ser vista na ampliação
do sinal da saída na região hachurada, que
+30V +30V figura 11 corresponde a região de distorção do sinal, que está
ampliada na figura 13c.
R1
1kW
21V
A
Q1

A B
14,4V
15V
15,6V
C2 C1
A 15V
14,4V
REGIÃO
Q2 SEM
DISTORÇÃO
AF1
R2
1kW

9V
figura 13a
Este corte de sinal ou distorção é chamada de
distorção cruzada ou "crossover" que é uma Quando na reparação de um amplificador, devemos
distorção no cruzamento das excitações dos estar atentos ao detalhe da distorção cruzada, pois
transistores. Esta distorção é mais perceptível em nestes casos, não adiantará testar o amplificador
baixos níveis de volume, pois se aumentarmos em alto volume, sendo o problema perceptível
consideravelmente o nível de sinal na saída somente em baixos níveis. O correto para testes é
(10Vpp), continuará havendo distorção que utilizar o gerador de sinais (gerador de funções)
praticamente não será notada, pois a distorção será utilizando uma onda senoidal de 1 kHz e ajustando
somente uma pequena porção do total do sinal o nível de saída do gerador ou do amplificador, para
amplificado. o mínimo possível, permitindo somente que o sinal
figura 12 t0 t1 t2 t3 t4 t5 t6 t7 t8 possa ser visualizado pelo osciloscópio, e assim
observar se existe ou não a distorção. Veremos
+16V adiante como deve ser feita a polarização de um
amplificador para atenuar ou eliminar a distorção
A +15V
cruzada.
+14V

+15,4V
21V
B +15V 20,4V
+14,6V

+16V

A +15V

+14V

+15,4V B 15V

B +15V REGIÃO
COM
+14,6V DISTORÇÃO

A figura 13a, mostra-nos um sinal de grande 9,6V


amplitude chegando às bases dos transistores, 9V
variando de 15V até 21V (semiciclo positivo) e de figura 13b

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CONCLUINDO: Vimos que o amplificador de saída
classe B, manifesta-se pela amplificação do sinal, sendo
um dos transistores responsáveis pelo semiciclo
positivo, e o outro pelo semiciclo negativo. Nunca os
transistores estarão conduzindo ao mesmo tempo, o
que acaba causando a distorção cruzada; é um
amplificador de baixa qualidade sonora, sendo utilizado
em equipamentos que requerem pouco consumo em
repouso (rádios a pilha por exemplo). Apesar disso,
alguns fabricantes colocam seus amplificadores de
rádio (que funcionam à pilha) para trabalharem quase
figura 13c atingindo a pré polarização dos transistores de saída,
diminuindo a distorção cruzada, mas não eliminando-a.
Os detalhes disso veremos na sequência.

AMPLIFICADOR CLASSE AB
Este tipo de amplificador é uma mistura do classe A diodos, mas mantendo a queda de tensão sobre Rx
com o classe B, tendo transistores de saída de 1,2V, como se os diodos estivessem lá. Se temos
polarizados na condição de repouso (sem sinal de o resistor R1 com o mesmo valor que R2, sendo que
excitação), mas após excitado, cada transistor de estes já possuem o valor definido em 1k, e agora
saída trabalhará com seu semiciclo de sinal. A sabemos também a queda de tensão sobre Rx que
estrutura do amplificador classe AB é quase é de 1,2V, basta calcular a corrente circulante por
idêntica do amplificador classe B, diferindo somente R1 ou R2, ou ainda dividir o valor da tensão sobre
quanto a uma pré-polarização feita entre bases dos R1 que é de 14,4V pelo valor de queda sobre Rx que
transistores de saída, como mostra a figura 14, é de 1,2V, teremos uma relação de 12 vezes mais
onde podemos ver o resistor Rx, colocado entre a tensão sobre R1 que em Rx. Isto significa dizer que
base do transistor Q1 e base do transistor Q2. se dividirmos o valor de R1 por 12 vezes, teremos
como resultante o valor de 83,3 ohms.
+30V +30V figura 14 Poderemos optar agora por um valor comercial de
82 ohms ou 100 ohms (ou ainda colocar um resistor
R1 de 100 ohms em paralelo com 1k - resultando em 91
1kW ohms). O "optar" não é tão simples, pois se
IN colocarmos um valor de 82 ohms, sabemos que a
tensão será pouquíssima coisa abaixo de 1,2V, o
que provavelmente não polarizará os transistores
de saída, apesar de “quase” polarizá-los. Já com o
Rx
100W
valor de 100 ohms, gerará uma tensão pouco maior
C1 que 1,2V. Mas ao ligarmos as junções “dos diodos”
base-emissor, ocorrerá novamente a tensão de
Q2 figura 15a figura 15b
AF1
R2 +30V +30V
1kW

R1
1kW R1
14,4V
1kW
Vamos começar a nossa análise deste amplificador A
calculando as tensões de base dos transistores B A=15,6V
para sabermos a condição de pré-polarização. Q1
E
Como temos dois transistores com suas junções RX Rx
base-emissor e emissor-base colocadas em 100W 1,2V
100W
B
paralelo com um resistor Rx (ainda não Q2
conhecemos o valor), vamos substituir estes E
B=14,4V
transistores por diodos que simbolizarão estas
B
junções dos transistores, como pode ser visto na 14,4V
R2
R2 1kW
figura 15a. 1kW
Uma tensão de 30V será dividida entre R1, R2 e Rx,
sendo que primeiro calcularemos a malha sem os

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1,2V sobre a junção (forçada pelos dois diodos em dizer qual valor do resistor Rx para manter uma
série). Para sabermos quanto circulará de corrente queda mínima de 1,2V aproximadamente, e se ele
para as junções, bastará calcular a queda de 1,2V conseguirá controlar a pré-polarização dos
sobre um valor de 100 ohms, que dará 0,012A ou transistores de saída, sem causar distorção ou
12mA (12 miliamperes). Calculando também a ainda aquecimento excessivo. Há de se notar
queda de tensão sobre R1 que é de 14,4V e também que a simples substituição dos transistores
sabendo de seu valor, que é de 1k, onde teremos de saída pelos mesmos tipos, não garantiria o
0,0144Aou 14,4mA circulando por ele. Como há mesmo trabalho anterior de polarização que se
uma diferença de 0,0024A ou 2,4mA, na corrente tinha entre base e emissor (considerando a grande
que circula por R1 e que circula por Rx, a diferença variação de ganho entre os transistores de mesma
irá para a base e emissor de Q1 e também por codificação).
emissor e base de Q2. Apesar de parecer uma A figura 16a, mostra-nos que devido às várias
corrente muito baixa, apenas 0,0024A, se o dificuldades apresentadas acima, torna-se
transistor tiver ganho de 100, a corrente entre necessário um ajuste na polarização de base,
coletor e emissor destes será de 0,24A ou 240mA. chamada de controle da CORRENTE DE
Considerando ainda que temos uma tensão de 30V REPOUSO, também chamada de CORRENTE
polarizando o amplificador e com uma corrente de QUIESCENTE. Assim, colocando um trimpot de
repouso circulante de 0,24A, teremos uma potência 180 ohms e ajustando-o para próximo do centro,
total dissipada de 7W nos transistores de saída. conseguiremos a resistência adequada para a pré-
Esta potência indicada é somente para o repouso polarização dos transistores.
dos transistores, ou seja, sem sinal, e fatalmente Este circuito da figura 16b é um circuito clássico de
fará os transistores aquecerem, o que causa um amplificador de potência classe AB, onde o sinal
consumo desnecessário. Quanto a ser um poderá ser acoplado à saída, tanto pela base de Q1
aquecimento excessivo ou não, veremos mais como pela base de Q2. O trimpot P1 irá ajustar a
adiante, onde criaremos um controle muito corrente de repouso de acordo com as
interessante para conter esse aquecimento. Agora, características dos transistores Q1 e Q2.
usando aqueles resistores em paralelo, 100 ohms
com 1k, obtivemos um valor de 91 ohms, que
permitirá a metade da corrente pelos transistores de +30V +30V figura 16a
saída e com isso gerará uma dissipação de potência
de 3,5W. Vemos então que utilizar um valor de 82 R1
ohms, que deixaria os transistores quase 1kW
polarizados (ou cortados), ou usar um valor de 100
ohms, que criaria uma baixíssima corrente base- Q1

emissor, mas que amplificada chegaria a 7W de


dissipação de potência é algo muito complicado e
crítico. Faremos a seguir maiores considerações P1
180W
sobre esta corrente de repouso. C1

O CONTROLE DA CORRENTE DE REPOUSO Q2


AF1
Vimos até agora que o amplificador AB tem uma R2
pré-polarização e que esta pré-polarização irá 1kW

impedir a distorção cruzada na saída dos sinais


amplificados. Utilizando o circuito anterior como
exemplo, podemos dizer que utilizando um resistor
Rx de 82 ohms, há distorção, mas muito pequena, CASO VOCÊ QUEIRA COLOCAR O TRIMPOT
devido aos transistores já estarem quase no ponto (RESISTOR AJUSTÁVEL) ENTRE AS BASES
de polarização. Já para o resistor Rx com 100 ohms, DOS TRANSISTORES DO CIRCUITO PRÁTICO
não haverá distorção cruzada, mas a saída do QUE VOCÊ MONTOU, DEVERÁ ESCOLHER
amplificador aquecerá e haverá uma considerável VALORES QUE ESTEJAM ENTRE 180 OHMS
perda de potência em repouso. Como as (IDEAL) E 220 OHMS. CASO SEJA DIFÍCIL
características de polarização de transistores ENCONTRAR TRIMPOTS DESTE VALOR,
variam muito, pois quando afirmamos que um PODERÁ COLOCAR VALORES PRÓXIMOS A
transistor é polarizado entre base e emissor com 1K. NÃO COLOQUE ESTE AJUSTE DE
uma tensão de 0,6V, queremos dizer que ele CORRENTE DE REPOUSO CASO VOCÊ NÃO
começará a ser polarizado à partir de 0,55V ESTEJA UTILIZANDO A LÂMPADA SÉRIE. VEJA
aplicados a sua junção base e emissor, indo à OS DETALHES NA FIGURA 17.
máxima polarização com 0,75V. Assim, fica difícil

ELETRÔNICA AMPLIFICADORES A, B, C, AB - OSCILADORES - SISTEMAS DE TRANSMISSÃO E RECEPÇÃO 23


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Lâmpada
série
6W ou
40W

BC338
10
C0k

B
E BC328
E
B
C

tomada figura 17
série
ligar este plug na
rede de 110Vac
transformador 15Vdc ~ 20Vdc
15Vac + 15Vac
Lâmpada R1
série 1kW
6W ou D1
40W 1N4007
Q1
ajustar
inicialmente 100uF
x 25V
o trimpot
para a R1
180 W
mínima
C2 resistência C1
ligar este plug na 1000uF
rede de 110Vac x 25V
Q2
D2 AF1
1N4007
R2
1kW
figura 16b

AJUSTE DA CORRENTE DE REPOUSO polarização para os transistores de saída e em


A figura 18a, mostra-nos o que aconteceria se consequência disto haveria uma elevação na
ajustássemos a resistência do trimpot para menos dissipação de potência dos transistores (muito
de 82 ohms, sendo esse valor, o mínimo para que a aquecimento). A polarização deles pode chegar a
queda de tensão ainda seja de 1,2V mesmo sem os um ponto de provocar ripple na fonte (ondulação na
transistores (diodos de base e emissor); apesar de tensão de fonte) e esta ondulação acabar sendo
haver uma tensão de base que praticamente seria a audível, provocando no alto-falante um som com
ideal para a pré-polarização (1,2V) dos transistores frequência baixa de 120Hz (ripple da retificação em
não haveria corrente circulante por eles, e apesar onda completa).
de ser mínima, haveria uma distorção que poderia +30V +30V figura 18a
ser perceptível aos ouvidos mais sensíveis e
também ao osciloscópio, quando ele estiver R1
conectado na saída de som para a observação do 1kW
sinal final. Como dissemos anteriormente, este mau
ajuste faria com que pudesse ser ouvida uma Q1 Ajuste da corrente
de repouso
pequena distorção no sinal, principalmente nos causando distorção
baixos níveis de volume.
Res. aj. P1
Ajustando-se agora o trimpot para uma resistência <82W 180W
maior que 82 ohms (figura 18b), faríamos com que a C1

queda sobre este resistor aumentasse, mas quando


chegasse aos 1,2V de queda, os diodos da junção Q2
AF1
de base e emissor, não permitiriam a alteração da
R2
tensão (passam a ser polarizados), dando uma 1kW
falsa ilusão que nada está mudando. Assim um
aumento na resistência de P1, produziria maior
24 AMPLIFICADORES A, B, C, AB - OSCILADORES - SISTEMAS DE TRANSMISSÃO E RECEPÇÃO ELETRÔNICA
APOSTILA ELETRÔNICA GERAL MÓDULO - 3
Devemos ficar atentos se o esquema indica qual deformações no sinal senoidal e que gere
deveria ser a corrente de repouso do amplificador, frequências de 20Hz a 20kHz, sem alteração de seu
em que teríamos a eliminação da distorção cruzada nível de saída. Para o ajuste da corrente de
e ao mesmo tempo não teríamos o risco de deixar a repouso, vamos usar somente a frequência de
corrente de repouso muito alta, provocando 1kHz, mas para outras verificações como banda
aquecimento excessivo. A figura 19a, mostra-nos passante, necessitaremos das qualidades do
uma forma de medir a corrente de repouso que gerador acima indicado.
circula pelos transístores de saída. Devemos
posicionar o multímetro na escala de corrente (até +30V +30V
200 mA), e após abrir o circuito, como indicado na figura 19a
figura; ajustar P1 até que a corrente chegue ao valor Ajuste de corrente
recomendado pelo fabricante. OBSERVAÇÃO: R1 conforme indicado
pela fábrica
1kW
Todos os ajustes devem ser feitos com o volume

V/W

m
A

m
fechado, ou com o amplificador em repouso (sem

A
CO
M
UM
Q1
excitação de sinal). Após ajustada a corrente de MULTÍMETRO NA
repouso, o aparelho deverá ficar ligado pelo menos ESCALA DE mA

30 minutos, tempo que permite observar se houve P1


aquecimento excessivo no dissipador. 180W
C1

+30V +30V
figura 18b Q2
AF1
R1 Alta dissipação R2
1kW de calor em Q1 1kW

Q1

Além disto, necessitaremos de um osciloscópio


Res. aj. P1 básico, que servirá não só para este serviço, bem
>>82W 180W
C1
como para uma infinidade de outros e em outras
áreas da eletrônica. Injetaremos o gerador de
Q2
funções ajustado em onda senoidal de 1kHz com
AF1 uma amplitude de saída de 0,5Vpp na entrada do
R2 amplificador (via capacitor), o que dará 5 divisões
Alta dissipação
1kW de calor em Q2 no osciloscópio, na escala de 0,1 V/div e com tempo
de 0,2ms/div; desta forma poderemos observar
bem se está havendo distorção do sinal na saída.
Monitorando a forma de onda na saída de áudio (no
Uma outra forma de ajustar a corrente de repouso é falante), devemos ajustar agora o trimpot para a
utilizar-se de um resistor de valor baixo (em torno de menor corrente de repouso possível sem que haja
0,1 ohm), onde em poder de um milivoltímetro de distorção na forma de onda visualizada no
precisão, poderemos monitorar a queda de tensão osciloscópio (figura 20). Esperar cerca de 30
no resistor e com isto ajustar o potenciômetro P1 minutos com o aparelho ligado, conferindo se não
(veja figura 19b). No exemplo da figura, podemos
dizer que se houver uma queda de tensão de 10mV +30V +30V figura 19b
sobre o resistor (0,01 V), significando que há uma
corrente circulante no repouso de 0,1 A. Para se R1
fazer o ajuste como indicado na figura 19a ou 19b, 1kW
devemos ter as informações de fábrica, dizendo
qual deveria ser a corrente de repouso (no caso do Q1
circuito aberto) ou qual deveria ser a tensão medida
(no caso da queda de tensão no resistor). Muitas
vezes estas indicações só aparecem no manual P1
180W MULTÍMETRO NA
técnico do aparelho, não fazendo parte do esquema ESCALA DE MILIVOLTS

elétrico. Sendo assim existem outras formas de


ajustar a corrente de repouso e obter os valores que
m
V

Q2
possam tomar a manutenção e ajustes seguros,
V/W

conferindo ainda qualidade final ao serviço


A

R2
CO
M
UM

R3
executado. 1kW
0,1W
Para fazer este ajuste necessitaremos de um
gerador de padrões ou sinais, que não apresente
ELETRÔNICA AMPLIFICADORES A, B, C, AB - OSCILADORES - SISTEMAS DE TRANSMISSÃO E RECEPÇÃO 25
APOSTILA ELETRÔNICA GERAL MÓDULO - 3
houve aquecimento acima do normal no dissipador.
figura 20 +30V +30V
Caso haja necessidade de ajuste, observe sempre
com muito cuidado a passagem do semiciclo
positivo para o negativo (e vice e versa) ajustando R1
1kW
P1 para um aumento da resistência até que a
Q1
distorção desapareça. VOLT/DIV TIME/DIV

É bom lembrar que todos os ajustes e medições 0,2mS

devem ser feitos a uma temperatura ambiente de 0,1V

cerca de 25°C, para que tudo funcione a contento.


P1
Caso o amplificador tenha sua corrente de repouso 180W
ajustada em dias frios (entre 5 e 15°C), fica claro C1
Q2
que quando tiver que funcionar em temperaturas
superiores a 30°C (normal no Brasil), acabará tendo
aquecimento excessivo. Para evitar isso, utilizamos AF1

dissipadores de calor. O dissipador de calor, como a R2


1kW
própria palavra diz, serve para dissipar calor
produzido pelos transistores de saída; é um material
geralmente de alumínio, de tamanho variado que
será preso junto aos transistores de potência para
absorver, espalhar e dissipar o calor para o meio em um ponto muito pequeno (corpo metálico do
ambiente (ar). Devido à sua grande área, impede transistor) e que venha a "queimar" por não haver
que o calor do corpo do transistor seja concentrado tempo e área suficientes para dissipação do calor.

Amplificador de baixa potência


com controle de corrente de
repouso feito por dois diodos,
que equilibram a corrente
circulante pelos transistores
de saída

Atenção: caso o aluno queira saber detalhes sobre cálculos de acoplamentos de capacitores
entrar no link: http://blogdopicco.blogspot.com/2009/03/capacitores.html
detalhes sobre corrente de repouso na internet:
http://forum.cifraclub.com.br/forum/10/139579/
http://audiolist.org/forum/viewtopic.php?t=489
http://autoforum.com.br/index.php?showtopic=82361
http://br.dir.groups.yahoo.com/group/audio_list/message/2731
http://www.htforum.com/vb/showthread.php/22752-Como-se-Calcula-Corrente-Bias
http://eletronica2002.forumeiros.com/forum-de-reparacao-de-aparelhos-
eletronicos-f1/como-ajustar-a-corrente-de-repouso-do-amplificador-
cygnus-pa-1800xresolvido-t13023.htm
http://eletronica2002.forumeiros.com/frum-de-reparao-de-aparelhos-eletrnicos-f1/
som-philips-ah-621-ajuste-de-corrente-de-repouso-resolvido-t2695.htm

Atenção: após a leitura e/ou estudo detalhado desta aula, parta para a feitura dos
blocos de exercícios M3-05 à M3-08. Não prossiga para a aula seguinte sem ter
certeza que seu resultado nos blocos é acima de 85%. Lembre-se que o verdadeiro
aprendizado, com retenção das informações desta aula, somente será alcançado com
todos os exercícios muito bem feitos. Portanto, tenha paciência pois será no dia-a-dia
da feitura dos blocos alcançará um excelente nível em eletrônica.
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