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Piratas do Gol D.

Roger Tradutores

RECADO DO REI DOS PIRATAS

O texto a seguir é apenas um fragmento do livro ‘Ordem Espontânea”.


O livro aborda mais de uma dezena de temas a respeito de possíveis dúvidas
de “como funcionaria” um ambiente libertário.

Chase Rachels se esforça em trazer aos libertários, tudo o que ele


consegue pensar sobre cuidado ao meio ambiente. Atualmente no Brasil é
comum ver partidos verdes e socialistas, que querem atrair pessoas por apelos
emocionais se auto intitularem defensores da natureza. Rachels apresenta de
forma simples como acreditar que ladrões se importam com a natureza é
absurda.

No momento em que liberaremos este livro para download gratuito,


uma verdadeira tragédia ocorreu há pouquíssimo tempo no Brasil. Uma
barragem utilizada por uma mineradora de capital aberto e simultaneamente
financiada por órgãos ligados ao estado se rompeu, e fez dezenas de vítimas
fatais, além de desabrigar um povo completamente. Atualmente é comum
culpar o setor privado e gritar se deseja justiça por danos ao ambiente, porém
as pessoas são tão poucas instruídas sobre o assunto que sequer fazem ideia
de como seria possível compensar pessoas pelo ocorrido, sem soarem
arbitrárias, ou citar métodos que não garantem justiça, apenas ‘vingancinha
barata’.

Ordem Espontânea:
Sem estado quem vai proteger o Meio Ambiente? - 2
Piratas do Gol D. Roger Tradutores

Esse capítulo é uma diretriz.

Desejo que você leia, com todos os seus ‘pés atrás’ ou ‘sem esperança’
e tire suas próprias conclusões.

Por último e não menos importante, desejo que você curta e


acompanhe nossa página no Facebook PIRATAS DO GOL D. ROGER e se
possível DOE AQUI em nosso website (https://piratasdoroger.com/doacoes)
para que nosso trabalho, site, aquisições e distribuição de conteúdo,
continuem com todo o empenho e dedicação.

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de reais anualmente contra nós para impressionar as pessoas sobre como o
estado é bonzinho e funciona. O que temos para rivalizar é uma ideia concreta,
libertadora e consistente. Contamos com seu apoio.

Ordem Espontânea:
Sem estado quem vai proteger o Meio Ambiente? - 3
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SEM ESTADO, QUEM VAI

PROTEGER O MEIO AMBIENTE?

Ordem Espontânea:
Sem estado quem vai proteger o Meio Ambiente? - 4
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QUEM VAI PROTEGER O MEIO AMBIENTE?

É pensamento comum que o mercado livre está de alguma forma


contra a preservação ambiental. O argumento é de que para se ter lucros é
necessário consumir, esgotar e exaurir a Terra e seus recursos preciosos. Essa
filosofia é aplicada a todas as áreas das preocupações ambientais, desde a
integridade da atmosfera à preservação das inumeráveis espécies do reino
animal. Os principais suspeitos pela falta de cuidado da Terra têm muitos
nomes, mas supostamente envolvem os mesmos conceitos: capitalismo,
dinheiro, lucro, ganância, indústrias e a própria propriedade privada. O
consenso tende a ser acenar para que o estado regule e interfira nas ações
destrutivas dessas empresas através da imposição de taxas, regulações,
impostos, licenciamento e até mesmo a própria proibição. Pensa-se que,
apenas ao suspender o direito à propriedade privada de outros, a Terra e suas
espécies poderão ser protegidas da busca de nossos interesses míopes e
nocivos.

Entretanto, o mercado livre e a sua atividade não são os principais


culpados da degradação e destruição ambiental. Na verdade, é através de seus
mecanismos que os homens podem melhor coexistir em harmonia com a
Terra.

Ordem Espontânea:
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A TRAGÉDIA DOS BENS COMUNS

Um dos conceitos mais importantes a se entender quando discutindo


sobre o tema ambiental é a tragédia dos bens comuns - uma situação em que
o uso público desimpedido de um recurso reduz o seu valor para cada usuário.
Para ilustrar isso vamos supor que uma professora decide fazer uma festa para
a sua turma e compra para cada estudante uma mini-pizza e uma latinha de
refrigerante. Presumivelmente, as crianças consumirão a pizza e o
refrigerante vagarosamente, baseando-se primariamente na sua fome.

Em outro caso, em vez da professora oferecer para cada um dos


estudantes sua própria pizza e refrigerante, ela compra três pizzas grandes,
seis litros de refrigerante e não coloca restrições em quanto eles podem
comer ou beber. As crianças consumirão a pizza mais vagarosamente, na
mesma velocidade ou mais rapidamente? Não é necessário ser um economista
para responder essa pergunta; as crianças tenderão a consumir esses
produtos mais rapidamente. Sally sabe que para cada pedaço de pizza e copo
de refrigerante que os outros consumirem, haverá menos pizza e refrigerante
para ela. Entretanto, não só a Sally pensará desse jeito. A maioria dos outros
na festa estarão cientes dos custos em oportunidade ao comer e beber de
forma vagarosa. O resultado será uma sala de aula cheia de crianças que
consumirão a comida de forma muito mais rápida do que eles iriam se
tivessem sido servidos individualmente. Tragicamente, isso poderá
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impossibilitar que muitos deles aproveitem a pizza e o refrigerante da forma


que em outras condições iriam.

Ludwig Von Mises descreve a tragédia dos bens comuns usando


propriedades públicas como exemplo:

“Se a terra não pertence a alguém, embora o


formalismo legal possa chamá-la de
propriedade pública, ela é usada sem qualquer
consideração às desvantagens resultantes.
Aqueles que estão em posição de apropriar-se
dos rendimentos — Madeira e caça das florestas,
peixe das áreas aquáticas e depósitos minerais
do subsolo — não se preocupam com os efeitos
posteriores de seu modo de exploração. Para
eles, erosão do solo, decréscimo dos recursos
esgotáveis e outros danos ao uso futuro são
custos externos que não entram em seus
cálculos. Eles cortam árvores sem qualquer
consideração por mudas ou reflorestamento. Ao
caçar e pescar, não abrem mão de usar
métodos que evitam o repovoamento dos locais
de caça e pesca”1

1 Mises, ibid, 652.


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Proprietários têm o incentivo direto de manter e aumentar o valor


capital de seus bens, já que eles irão pessoal e diretamente ser beneficiados
pelos valores que os bens retêm. Por exemplo, normalmente manter a casa
em boa qualidade está nos melhores interesses do proprietário, para caso ele
deseje vendê-la ou passá-la para seus filhos. A casa será mais benéfica se ela
estiver com a sua integridade intacta.

Por outro lado, um político que tem o controle temporário sobre alguns
recursos - mas não tem nem o direito de vendê-los para ganhos pessoais e nem
sofre as consequências pelo abuso dos mesmos - será mais propenso à
explorar esses recursos o quanto for possível para o ganho político imediato,
com quase nenhum cuidado pelo valor capital no futuro.

SERVIDÃO

Quando alguém se apropria de uma terra sem dono, ele não está
meramente se dando o direito exclusivo de ocupar um certo espaço, mas
também ao usar a terra, ele está adquirindo o direito de fazer o que quiser com
ela, desde que a atividade realizada não interfira fisicamente com as
propriedades dos outros.

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Para ilustrar isso, vamos supor que John se apropria ou compra um lote
de terra e decide começar uma banda de rock que, até então, não causa
interferência com a propriedade de outros.

Ele está, digamos, muito distante para ter qualquer efeito sobre seus
vizinhos. Ao fazer isso, ele ganha o direito de produzir o nível de ruído
associado à sua banda em sua propriedade, apesar do fato de que o ruído
pode atravessar além dos limites físicos da propriedade em que é emitido. Tal
direito é comumente referido como uma servidão.

Agora, suponha que Sue compre uma propriedade próxima a de John


e se queixe do ruído excessivo. Logicamente, Sue está livre para pedir que
John faça menos barulho ou que ele se limite a certos momentos. Mas do
ponto de vista libertário, ela não teria nenhum fundamento legal para forçar
John e sua banda produzir menos ruído.

Como John estava dentro do seu direito de tocar música quando não
tinha vizinhos, isto fez com que essa propriedade desenvolvesse um direito de
servidão, dado que ele conseguia produzir tal ruído com sua banda de rock
antes de Sue se mudar.

A mesma metodologia pode ser aplicada com ar, água, ou qualquer


outra forma de poluição. Se uma fábrica poluísse o ar de uma área circundante
antes de estabelecer uma comunidade residencial em sua vizinhança, os
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moradores da comunidade não teriam justificativas legais para forçar o


proprietário da fábrica a interromper as práticas de sua fábrica.

No entanto, no caso de John e Sue ou do proprietário da fábrica e da


comunidade residencial, se John começar a produzir mais ruído do que antes
de Sue se mudar para a porta ao lado ou se a fábrica produzir mais poluição
depois que a comunidade residencial for estabelecida, então tanto a Sue
quanto a comunidade residencial teriam bases legais sólidas para adquirir uma
liminar contra John e a fábrica, respectivamente, pela quantidade de ruído e
poluição do ar que está sendo gerada além de suas servidões originais. Hoppe
repete o conceito de uma maneira um pouco diferente:

“Outro equívoco igualmente comum a respeito


da ideia da propriedade privada se refere à
classificação de ações como sendo admissíveis
ou inadmissíveis baseando-se exclusivamente em
seus efeitos físicos - isto é, sem levar em
consideração que cada direito de propriedade
tem uma história (gênese temporal).

Se A danificar fisicamente a propriedade de B


(por exemplo, através de poluição do ar ou
sonora), a situação deve ser julgada de modo
diferente, dependendo de quais direitos de
propriedade foram estabelecidos primeiro. Se a
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propriedade de A foi estabelecida primeiro, e se


ele já vinha efetuando suas atividades
problemáticas antes de a propriedade vizinha
de B ser fundada, então A pode continuar suas
atividades. O indivíduo A estabeleceu um tipo
de servidão. Desde o início, B adquiriu e sabia
que estava adquirindo uma propriedade suja e
barulhenta, e se B quiser que sua propriedade
seja limpa e silenciosa ele deve pagar A por esse
benefício. Inversamente, se a propriedade de B
tiver se estabelecido primeiro, então A deverá
parar suas atividades; e se ele não quiser fazer
isso, então deverá pagar B por esse privilégio.
Qualquer outra sentença é impossível e
indefensável porque, estando uma pessoa viva e
acordada, não tem como ela não agir. Uma
pessoa que se estabeleceu primeiro (o precursor)
não pode, mesmo se ela quisesse, esperar que
um retardatário dê seu aval para que ela
comece a agir. A ela deve ser permitida a ação
imediata. E se nenhuma propriedade - além da
do precursor - existe (porque um retardatário
obviamente ainda não chegou), então o raio de

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ação desse precursor está limitado apenas pelas


leis da natureza.”2

TRESPASSE E INCÔMODO

Muitos ambientalistas não têm o conhecimento, mas muita da poluição


que ocorre hoje em dia seria proibida em uma sociedade com um mercado
realmente livre, já que os poluentes seriam considerados uma violação ao
direito de propriedade, com base na ideia de trespasse e incômodo. William
Prosser faz a distinção:

“Trespasse é uma invasão ao interesse do


querelante de manter a possessão exclusiva de
sua propriedade, enquanto incômodo é uma
interferência com seu uso e aproveitamento
dela. É a diferença entre derrubar uma árvore
além da sua propriedade ou manter outro
acordado com o barulho da serra elétrica.”3

2 Hoppe, ibid, 8.
3William Prosser e Werdner Keeton, Prosser e Keeton em Law of Torts
(St. Paul: West Publishing Company, 1984), 595
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De fato, tanto o incômodo quanto o trespasse causam interferência


física com o direito de propriedade dos outros. A simples sustentação dos
direitos de propriedade privada é o suficiente para se fazer um caso defensivo
contra muita da poluição depreciada pelos ambientalista.

É a monopolização do sistema legal e a negação em defender os


direitos de propriedade que causam a maior parte da destruição ambiental
vista hoje. Um exemplo comumente citado para essa negação é o
favorecimento do “bem comum maior, que poderia ser diminuído se esses
direitos à propriedade fossem sustentados absolutamente” - i.e., no caso da
desapropriação.

Murray Rothbard explica o porquê dos trespasses e incômodos serem


violações dos direitos à propriedade e por outro lado, o porquê de que certas
outras invasões a propriedades por partículas ou energias, que são
indetectáveis pelos sentidos e não causam danos, não são:

“Primeiramente um trespasse direto: A estaciona


o seu carro no quintal de B ou coloca um objeto
pesado no chão de B. Por que isso é uma
invasão e ilegal por si só? Parcialmente porque,
nas palavras de um antigo caso Inglês, ‘a ação
infere algum dano; se nada mais, a destruição
de grama ou de plantas.’ Mas não é só a

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destruição; uma invasão tangível à propriedade


de B interfere com seu uso exclusivo da
propriedade. Se A caminhar sobre ou colocar
um objeto na terra de B, então B não pode usar
o espaço que A ou seu objeto tomou. Uma
invasão por uma massa tangível é per se uma
interferência à propriedade de alguém e,
portanto, ilegal.

Em contraste, considere o caso das ondas de


rádio, que são uma forma de trespasse invisível e
insensível para o dono da propriedade invadida.
Nós somos bombardeados o tempo todo por
ondas de rádios que atravessam nossa
propriedade sem o nosso consentimento ou
conhecimento. Elas são invasivas e, portanto,
deveriam ser ilegais agora que nós temos os
aparelhos científicos necessários para detectar
essas ondas? Nós então devemos proibir todas
as transmissões de rádio? E se não, por que não?

O porquê não é que esses trespasses não


interferem com a possessão, uso ou
aproveitamento exclusivo da propriedade de
ninguém. Elas são invisíveis, não podem ser

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detectadas pelos sentidos humanos e não


machucam. Elas, portanto, não são realmente
invasões de propriedade, já que precisamos
refinar o nosso conceito de invasão para que
não signifique apenas a passagem de limites
estabelecidos, mas a passagem que de alguma
forma interfere com o uso ou aproveitamento da
propriedade. O que conta é se há ou não
interferência com os sentidos do proprietário.

Mas vamos supor que mais tarde é descoberto


que as ondas de rádio causam mal, que elas
causam câncer ou outra doença, aí então elas
estariam interferindo com o uso da propriedade
e deveriam ser ilegais e proibidas, contanto que,
essa prova de dano e a conexão causal entre os
invasores e vítimas específicas sejam
estabelecidas de forma que não permita
dúvidas”4

4Murray N. Rothbard, “Law, Property Rights, and Air Pollution,” Cato Journal 2, No.
1 Spring (1982): 55-99.
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Essa explicação fornece uma compreensão mais refinada sobre as


delimitações do direito à propriedade e como os indivíduos podem ser
capazes de internalizar algumas externalidades comuns.

RESPONSABILIDADE OBJETIVA

A responsabilidade objetiva é o conceito legal onde o dono de uma


propriedade é legalmente responsabilizado pelos danos causados à outros
por sua propriedade, que não são nem causados por negligência quanto culpa
do proprietário. O advogado libertário Stephan Kinsella fornece uma crítica
convincente à ideia da responsabilidade objetiva:

“Muitos libertários parecem validar algum tipo de


“responsabilidade objetiva”. Eles dizem isso com
respeito à propriedade, quando assumem que o
proprietário “é responsável” por danos causados
por ou com a sua propriedade.

Eu acredito que essa é uma suposição


injustificada e é baseada na carência de uma
análise cuidadosa dos direitos de propriedade.
Propriedade é o direito de usar ou controlar um
recurso escasso. Não é imediatamente claro o
porquê o direito de usar implicaria obrigações.
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Pensar desse jeito obscurece outros assuntos


relacionados à propriedade como o da
Propriedade Intelectual. Por exemplo, as pessoas
dizem que a PI não é problemática só porque
ela limita o que você pode fazer com sua
propriedade - afinal de contas, seus direitos em
sua propriedade não são ilimitados, já que não
pode usar a sua propriedade para cometer
agressão contra os outros.

Essa última frase é dita repetidamente por


libertários. Eu não consigo contar quantas vezes
eu a ouvi nos últimos anos. O problema é que
ela inapropriadamente conecta a proibição de
agressão com o domínio da propriedade, assim
implicando que os direitos de propriedade são
limitados. Mas um crime é simplesmente uma
ação e ações emprega meios. Mas o autor não
precisa possuir os meios. Se eu roubar a arma de
A para atirar em B, eu sou o assassino, não A. Eu
violei o direito de A de controlar a arma; mas o
direito de A de ter uma arma não faz dele o
assassino. Nós podemos ver que a ideia da
responsabilidade objetiva como ela se aplica à

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“responsabilidade por coisas possuídas” é


profundamente falha.

Em outras palavras, só porque você não tem


nenhum direito de cometer agressão (via
quaisquer meios, sendo os meios propriedades
possuídas ou não) não significa que os direitos de
propriedade são “limitados”. O Princípio de Não
Agressão apenas limita quais ações você tem
permissão de iniciar. E já que propriedades
inanimadas não agem por si só, então elas
nunca podem cometer crimes. Se o dono
comete um crime, ele é responsável, tendo ele
usado sua propriedade ou a de outro. Se outra
pessoa usa a minha propriedade para cometer
um crime, por que eu deveria ser
responsabilizado? Não foi a minha ação.
Portanto, podemos ver que a suposição de que
“propriedade implica responsabilidade” é
relativamente irracional, estúpida e inútil.”5

5 Stephan Kinsella, "The Libertarian Approach to Negligence, Tort, and Strict


Liability: Wergeld and Partial Wergeld" (publicado como post no blog
stephankinsella.com, em 1 de setembro de 2009),
<http://www.stephankinsella.com/2009/09/the-libertarian-approach-to-
negligence-tort-and-strict-liability-wergeld-and-partial-wergeld/>
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NEGLIGENCIA E DANOS

Os danos são relevantes no contexto da poluição e de outras


preocupações ambientais, especialmente em uma sociedade caracterizada
por um sistema legal libertário. 6Kinsella fornece uma visão sobre a tarefa de
analisar a abordagem libertária a delitos negligentes em geral:

Um malfeitor é alguém que intencionalmente causa dano ou faz algo


que dá à vítima ou ao destinatário da ação o direito de responder com força.
Isso é verdade no caso de agressão; ameaças (a ação de tentar causar dano,
ou fazer alguém temer ser agredido, dá origem ao direito de usar a força em
resposta); fraude (o fraudador intencionalmente e conscientemente assume
a propriedade da vítima sem o consentimento genuíno da vítima) ...

Então, como devemos ver negligência? Acredito que deva ser visto
como estando em um espectro entre: a não ação ou o mero comportamento;

6 A Cornell University Law School define torts (danos) como 'erros de civis
reconhecidos pela lei como base para uma ação judicial. Esses erros resultam em
uma lesão ou dano que constitui a base para uma reivindicação da parte lesada.
Embora alguns delitos também sejam crimes puníveis com prisão, O principal
objetivo da lei de dano é promover alívio para os delitos incorridos e dissuadir os
outros de cometerem os mesmos delitos. A pessoa lesada pode pedir uma medida
cautelar para impedir a continuação da conduta delituosa, ou por danos
monetários.
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e a ação totalmente intencional (crime). É 'parcialmente' intencional. Como


observei em Causalidade e Agressão²:7

“... quando perguntamos se alguém foi a causa


de uma certa agressão, estamos perguntando
se o ator escolheu e usou meios para obter o
resultado proibido. A intencionalidade também
é um fator, porque a ação tem que ser
intencional para ser uma ação (os meios são
escolhidos e empregados intencionalmente; pois
o agente procura alcançar um determinado
fim).

Observe que essa análise ajuda a explicar por


que os danos ou a punição são maiores para
crimes intencionais do que para ações
negligentes que resultam em danos semelhantes.
Por exemplo, a punição é uma ação: é
intencional e visa punir o corpo do agressor ou
do causador do dano. Ao punir um criminoso, a
punição justifica-se porque o próprio criminoso
violou de forma intencional os limites criados

7Nota do Rei dos Piratas: Casualidade e Agressão é a tradução livre de Causation


and Aggression. Uma publicação de Kinsella
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pela vítima; a punição é, portanto, simétrica, por


também ser intencional...

No entanto, ao punir um simples causador de


dano, a punição é também totalmente
intencional, mesmo quando a ação negligente
que levou ao dano foi apenas 'parcialmente'
intencional.

Portanto, punir um criminoso pode ser


desproporcional; seria simétrico apenas se a
punição fosse também 'parcialmente'
intencional. Mas a punição não pode ser
parcialmente intencional; portanto, os danos
infligidos (ou extraídos) devem ser reduzidos para
tornar a punição mais proporcional³”8

A interpretação de Kinsella dos fatos cria uma justificativa para a


punição no caso de uma violação de direitos de propriedade 'parcialmente
intencional'. Além disso, demonstra porque uma punição 'olho por olho' é
inadequada quando aplicada a casos onde a negligência é a causa da violação
dos direitos de propriedade. Por exemplo, se Pedro fosse, com grande

8 Kinsella, “The Libertarian Approach to Negligence, Tort, and Strict Liability:


Wergeld and Partial Wergeld.”
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intenção, atropelar e matar Bill, a execução de Pedro seria uma punição


justificável devido à sua simetria com o crime. No entanto, se Pedro
atropelasse e matasse Bill sem intenção, a execução de Pedro como punição
seria injustificada, porque o ato de executar Pedro não é simétrico com o ato
de homicídio involuntário de Pedro.

A ação é definida como o uso deliberado de meios destinados a atingir


determinado(s) fim(ns). Uma ação voltada para a execução não é compatível
com uma ação que vise evitar o ato de matar, mesmo que ela gere esse infeliz
resultado. Embora a ação de Pedro não visasse explicitamente matar Bill, seu
ato ainda é considerado “parcialmente intencional” para esse fim, pois
envolvia o uso deliberado de meios para alcançar um fim que necessariamente
colocava Bill em risco (caso contrário, Bill não poderia ter morto, como
resultado da ação.) Assim, seria mais apropriado reduzir a punição de Peter,
para um nível compatível com o grau de risco que ele colocava na vida de Bill.
Se o ato de Peter colocasse a vida de Bill a 25% de chance de se extinguir, então
a punição de Peter deveria pelo menos ser reduzida em 75% com relação à
penalidade máxima de execução. Como o nível de intencionalidade de um
indivíduo será determinado, qual a porcentagem de risco que suas ações
estabeleceram em outros, e quais punições correspondem às reduções
relacionadas a negligência não podem ser conhecidas ao certo com

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antecedência, e, como tal, seriam determinadas por arbitragem, por evidência


disponível e por caso precedente.

É claro que existem outros fatores atenuantes a serem considerados


onde Pedro poderia atropelar e matar Bill, mas ele poderia ser considerado
menos responsável ou não ser responsabilizado. Por exemplo, se Bill pulasse
na frente do carro de Pedro, Pedro provavelmente não seria legalmente
responsabilizado, pois Bill seria avaliado como a causa de sua própria morte.
Alternativamente, se Charlie fizesse Pedro sair da estrada, fazendo Pedro
correr acabando em matar Bill, então Charlie seria responsabilizado pela
morte de Bill, e não Pedro, apesar do fato de Pedro ter sido o responsável por
derrubar Bill. Finalmente, se Pedro sofrer um ataque imprevisível enquanto
dirige, e isso o levar a desviar e esmagar Bill, então ele não deve ser
responsabilizado, pois isso seria um comportamento completamente
involuntário de Pedro, que resultou no contrário de seu comportamento
intencional. Assim, a responsabilidade criminal ou extracontratual de uma
pessoa depende de suas ações serem ou não julgadas como a causa de uma
violação dos direitos de propriedade.

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EXTERNALIDADES

Muitas vezes, os danos ambientais, como a poluição e o esgotamento


da camada de ozônio, são referidos como externalidades: efeitos externos das
ações particulares. Muitos argumentam que externalidades ambientais
negativas justificam a intervenção do estado, já que sua própria existência
supostamente reflete déficits de mercados livres (isto é, “falhas de
mercado”). Em suma, a teoria das externalidades refere-se aos…

“...casos em que alguns dos custos ou benefícios


das atividades chegam até terceiros. Quando é
um custo que alcança a terceiros, é chamado
de externalidade negativa. Quando terceiros se
beneficiam de uma atividade na qual não estão
diretamente envolvidos, o benefício é chamado
de externalidade positiva.”9

Assim, a justificativa comum para a intervenção do Estado é usar seus


poderes legislativos com o objetivo de restringir externalidades negativas,
como a poluição, e promover externalidades positivas por meio de subsídios,
como a educação pública. No entanto, o que é frequentemente negligenciado
são os meios necessários para tomar tais medidas, e as externalidades que
esses meios produzem. O verdadeiro custo (ou benefício) de qualquer ação

9 Gene Callahan, "What Is an Externality?" The Free Market 8th ser. 19 (2001).
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dada a outro indivíduo é impossível de determinar objetivamente; isso decorre


do fato de que não se pode comparar valor interpessoalmente. Pode-se
determinar que os agentes envolvidos em um comércio voluntário devem vê-
lo como mutuamente benéfico, mas não se pode determinar o grau exato de
benefício que cada parte ganhou, muito menos os efeitos negativos ou
positivos que a transação teve sobre terceiros não envolvidos. Portanto,
promover soluções estatais agressivas para remediar externalidades
negativas é impor uma atividade concretamente destrutiva e injustificada para
a busca de um resultado cujos efeitos líquidos benéficos ou destrutivos não
possam ser conhecidos.10

No entanto, ironicamente os mecanismos legais de direito comum que


foram usados como defesa efetiva contra externalidades negativas foram
restringidos pelo estado há séculos atrás em busca do 'maior bem público'. Os
mecanismos legais anteriores eram simples, consistentes, justificados e
eficazes, pois eram guiados pelo que havia de mais conhecido a respeito sobre
a defesa dos direitos de propriedade privada. Walter Block descreve a solução:

10 Para uma visão mais avançada sobre a perspectiva austríaca sobre valor e
utilidade, veja Jeffrey Herbener, "Further Explorations in Austrian Value and Utility
Theory" (Palestra apresentada no Mises University, Ludwig Von Mises Institute,
Auburn, Alabama, Agosto de 2005).
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“Havia uma maneira de forçar os poluidores


privados a arcar com o custo social de suas
operações: processá-los, fazê-los pagar por suas
transgressões passadas e obter uma ordem
judicial que os proibisse de tais transgressões no
futuro.

A manutenção dos direitos de propriedade


dessa maneira teve vários efeitos salutares.
Primeiro de tudo, havia um incentivo para se
acostumarem a uma queima mais limpa, mas
carvão antracito era ligeiramente mais caro do
que a outra opção com teor de enxofre mais
barata, porém mais suja; porém usar o carvão
“limpo” diminuía o risco de ações judiciais. Em
segundo lugar, pagaram para instalar
purificadores e usaram outras técnicas para
reduzir a emissão de poluição. Terceiro,
impulsionou-se o engajamento em pesquisas
para desenvolvimento de novos e melhores
métodos para a internalização de
externalidades: isto é, manter os poluentes nas
próprias empresas. Quarto, houve um
movimento em direção ao uso de melhores
chaminés e outros dispositivos de prevenção de
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fumaça. Quinto, uma indústria de poluição


forense iniciante estava em processo de
desenvolvimento. Sexto, as decisões de
localização das empresas manufatureiras foram
intimamente afetadas. A lei implicava que seria
mais lucrativo estabelecer uma fábrica em uma
área com muito poucas pessoas, ou
nenhuma.”11

PRESERVANDO OS TESOUROS NATURAIS DO PLANETA

Quando se discute a privatização de qualquer serviço socializado


atualmente, uma das objeções mais comuns é que isso diminuiria a capacidade
de preservar e manter os recursos envolvidos para a posteridade. O que está
implícito nessa objeção é a premissa não comprovada de que o estado é de
fato mais adequado para cuidar desses recursos do que qualquer proprietário
privado poderia ser. Como ilustrado pela tragédia dos bens comuns, a
estrutura de incentivo para os agentes do Estado cuidarem de terras e
propriedades públicas simplesmente não é tão convincente quanto a
estrutura de incentivos da propriedade privada, na qual o proprietário se

11Walter Block, “Environmentalism and Economic Freedom: The Case for Private
Property Rights,” em Journal of Business Ethics 17 (1998): 1887-99.
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beneficia diretamente da manutenção e construção da propriedade e também


do valor de capital desses bens. Por exemplo, digamos que um rico empresário
adquire o Parque Nacional de Yellowstone. Nos mercados liberados, os
incentivos que ele enfrenta apoiam um uso mais produtivo desses recursos.
Talvez o turismo para uma preservação ecológica é menos gratificante para
todas as partes do que transformar a terra em um centro espacial, um parque
de diversões, um estádio de esportes, vendendo parcelas para fins
residenciais, etc. Enquanto a manutenção de Yellowstone como um sítio
ecológico é visível sob o cuidado do Estado, não está claro que tal propósito
seja o fim mais produtivo para o qual ele pode ser colocado - apenas as
interações entre os indivíduos em um mercado podem tender a chegar ao uso
mais produtivo. Como o dinheiro é capaz de comprar todo um espectro de
bens e serviços, transformar a terra – ou mantê-la cuidadosamente como uma
área de preservação - tenderá a seguir seu desejo de agir de maneira que ele
acredita que lhe renderá os maiores lucros monetários. Assim, se o
proprietário avalia que o uso mais rentável da terra é preservá-la para uso
recreativo e valorização, então ele pode gastar recursos para preservar sua
integridade e pode cobrar dos visitantes a admissão.

Também é importante lembrar que, na maioria dos casos, para alguém


adquirir a riqueza necessária para comprar uma massa de terra como
Yellowstone, ele primeiro precisaria vender bens ou serviços que as pessoas
Ordem Espontânea:
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valorizassem mais do que o preço que ele pedia. Os desejos dos outros na
sociedade já teriam desempenhado um grande fator nas decisões dessa
pessoa sobre como alocar seus recursos. Isto é devido aos efeitos do livre
comércio; organizar sua propriedade de uma maneira que beneficie a
sociedade é como ele teria gerado sua grande riqueza em primeiro lugar. Em
caso alternativo, quando alguém simplesmente herda riqueza ou a ganha na
loteria, se tais pessoas não alocarem seus recursos com sabedoria, elas virão
a ter perdas e progressivamente perderão o controle sobre uma gama maior
de recursos, a menos que, e até que, eles comecem a levar em conta as
preferências dos outros em sua alocação. Essa mesma análise pode ser
aplicada a lagos, rios e qualquer outra coisa que seja de sua propriedade.

Walter Block ilustra isso com seu exemplo do lago. Se o dono acredita
que seu lago é mais lucrativo quando usado para despejo, ele provavelmente
converterá o lago de acordo e cobrará os clientes para despejar. Por outro
lado, se ele considerar o uso mais lucrativo do lago como recreação, ele o
utilizará para esse fim, cobrando a entrada das pessoas para sua diversão. Ao
decidir entre os dois usos, o proprietário provavelmente também levará em
conta que ele pode trocar seu lago de um uso recreativo para outro, mas que
seria mais difícil fazer o inverso. Na superfície, alguns podem achar isso
perturbador, pois indubitavelmente resultaria em alguns lagos sendo usados
para despejo. No entanto, as forças de oferta e demanda do mercado irão
Ordem Espontânea:
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direcionar os proprietários de lagos para longe da criação de muitos lagos de


despejo por meio do sistema de lucro / prejuízo. Quanto mais lagos fossem
usados para despejo, haveria relativamente menos lagos para recreação.
Devido à escassez, os proprietários de lagos de recreio podem cobrar preços
mais altos pelas admissões, gerando mais lucros, fazendo com que futuros
proprietários de lagos ajam em direção à preferir ter lagos recreativos, e o
preço cairia ainda mais convencendo os donos de despejos e outros não-
proprietários a se juntarem ao mercado de lagos recreativos.¹ 12Isso, é claro,
também é igual e simultaneamente verdadeiro em relação aos lagos para a
pesca, para a exploração, para testes científicos e para qualquer fim ao qual
os lagos possam ser colocados.

O motivo para manter o valor do capital da propriedade de uma pessoa


também servirá para evitar uma colheita excessiva de árvores de uma floresta
ou peixe do mar. Se uma massa de terra é valiosa devido à sua madeira, então
a pessoa tem um incentivo natural para não colher mais do que ele é capaz de
reabastecer, para que ele possa manter seu fluxo de caixa futuro. Da mesma
forma, se uma parte do oceano ou lago deriva do número de seus habitantes,
será do interesse financeiro do proprietário, não consumir mais deles do que
ele é capaz de reabastecer.

12Walter Block, “Environmentalism and Economic Freedom: The Case for Private
Property Rights,” em Journal of Business Ethics 17 (1998): 1887-99.
Ordem Espontânea:
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MECANISMO DE PREÇOS

O assunto sobre um mecanismo de preços não regulamentado merece


uma menção específica, já que ele tem grandes implicações quanto à
advocacia de controle privado. Como os preços refletem a relativa escassez,
demanda e custos de oportunidade de usar recursos de maneira específica,
eles representam uma métrica quantitativa pela qual é possível avaliar
facilmente o valor de uma ação realizada - através dos ganhos e perdas
monetárias.

Um empreendedor que não está conseguindo lucrar tem a indicação de


que a sociedade não está aprovando a forma com que ele está empregando
seus recursos. O oposto é verdadeiro quanto à lucros. Um empreendedor que
está conseguindo lucrar com a forma com que emprega recursos, está
transformando os recursos existentes de um jeito que os membros do
mercado valorizam mais do que quando se tratava do caso anterior.

Naturalmente então, a existência de preços e de mecanismos de preço


permite o cálculo econômico racional; os empreendedores possuem um fator
real pelo qual podem medir sua performance. O norteador dos
empreendedores é o desejo de criar valor e dar a outros uma razão para se
desfazer do seu dinheiro. Ele terá sucesso se ganhar mais do que gastou para
iniciar o projeto - se não, ele falhará.

Ordem Espontânea:
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Com preços derivados da propriedade privada, é possível examinar a


configuração econômica dos recursos de um indivíduo. Ele pode não apenas
examinar o que produzir, mas também como produzir. Portanto, o erro
central com a propriedade pública ou estatal é que não existe um mecanismo
de preço ou de ação capaz de guiar as ações do estado para que ele encontre
a forma mais eficiente de empregar os recursos sob o seu comando, ou seja,
de uma maneira que gere o menor custo de oportunidade para esses recursos.
Isto é porque a renda do estado não é gerada de forma voluntária; é gerada
via mandatos coercitivos e agressivos.

Quando as pessoas são forçadas a pagar por algo, se torna impossível


determinar as suas preferências reais, uma vez que a quantidade do
rendimento recebido não é proporcional ao nível de “desejabilidade” de um
determinado bem ou serviço.

Contraste isso com os empreendedores em um mercado livre onde as


contribuições são puramente voluntárias e portanto, refletem a
“desejabilidade”. Quando os políticos regulam o uso dos recursos públicos,
eles são compelidos à empregá-los de uma forma que maximize o seu ganho
político e não que maximize o seu valor capital. Isso é claro, resulta em excesso
de consumo e má alocação, já que o comando sob tais recursos é temporário,
mas sua posição não permite colher os benefícios diretos de seu valor capital.

Ordem Espontânea:
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Isso deixa os políticos com apenas um curso de ação pessoalmente


benéfico: explorar e consumir os recursos sob o seu comando o mais rápido
possível.

PRIVATIZAÇÃO DA ÁGUA

Hoje, infelizmente, a maioria dos recursos aquáticos é de propriedade


do Estado:

“Primeiro os rios. Os rios e os oceanos também


são geralmente propriedade do governo;
certamente uma completa propriedade privada
completa não foi permitida na água. Em
essência, então, o governo é dono dos rios. Mas
a propriedade do governo não é propriedade
verdadeira, porque os funcionários do governo,
embora capazes de controlar o recurso, não
podem colher o seu valor de capital no
mercado. Oficiais do governo não podem
vender os rios ou vender ações neles. Portanto,
eles não têm incentivo econômico para
preservar a pureza e o valor dos rios. Os rios são
então, no sentido econômico, 'sem dono';
portanto, funcionários do governo permitiram
Ordem Espontânea:
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sua corrupção e poluição; sendo assim, qualquer


um é habilitado de despejar lixo e resíduos
poluentes nas águas.”13

Como muitos recursos aquáticos não são de propriedade privada, a


tragédia dos comuns afeta seu uso e integridade. Excesso de pesca, despejos,
derramamentos de petróleo e outras formas de poluição são abundantes, pois
ninguém tem meios diretos e exclusivos para privatizar os benefícios de tomar
medidas para manter a integridade da água. Isso contrasta com os incentivos
que os proprietários privados têm para impedir que outros despejem
injustamente lixo ou que poluam a água de outra maneira. Quanto mais limpos
forem os recursos hídricos, maior o valor de mercado que eles têm. Os
proprietários privados teriam um interesse mais direto e investido em
preservar a qualidade do recurso aquático para qualquer fim que considerem
mais lucrativo a longo prazo.

Além disso, as coordenadas geográficas podem servir como barreiras


para recursos hídricos adjacentes e contíguos. Apesar da água entrar e sair do
território de uma pessoa, é possível apropriar-se do espaço marítimo e
estabelecer normas que governem a poluição desse espaço. Se Sarah comprar

13Murray N. Rothbard, "Conservation, Ecology, and Growth," in For a New Liberty:


The Libertarian Manifesto (New York: Macmillan, 1973), 317-18.
Ordem Espontânea:
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uma propriedade com um rio que a atravesse com nível poluente X e seu
vizinho rio acima começa a despejar no rio de tal forma que o nível de
poluentes excede X, ela terá motivos legais para impor atividades poluentes
do seu vizinho. Naturalmente, esses meios legais só seriam necessários se
Sarah e seu vizinho não tivessem ou não conseguissem elaborar algum acordo
voluntário, como o pagamento pela queda de qualidade.

Quanto à questão de como alguém pode criar fronteiras em tais


recursos aquáticos, isso é meramente um problema técnico. Walter Block
sugere que a lei deve considerar abertamente cenários futuros:

Esse cenário pressupõe, é claro, que os


necessários avanços tecnológicos
complementares e descobertas ocorram, como
por exemplo a marca genética, ou talvez melhor
ainda, as cercas elétricas que podem manter os
habitantes das profundezas onde os criadores de
peixes de águas profundas os querem. Sim, isso
parece improvável no momento, dado que sob
a lei atual não haveria nenhum benefício
econômico para tais invenções. Mas isso se
deve, por sua vez, não a qualquer fato
primordial da natureza ou da lei. Pelo contrário,
é porque a lei ainda não foi alterada, de modo

Ordem Espontânea:
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a reconhecer até mesmo o possível cenário


futuro em que a privatização do oceano seria
econômica. A recomendação de política
pública decorrente desta análise é meramente
que a lei deve ser alterada para reconhecer a
posse de peixe em uma determinada área
cúbica do oceano quando e se tal ato se tornar
tecnicamente viável. Então, se realmente ocorre
ou não, é apenas uma questão empírica. Será,
se e somente se, a tecnologia complementar for
disponibilizada para torná-la viável. Mas sob esse
estado ideal de coisas, não haveria nenhum
impedimento legal, como agora existe, nessa
direção. Isto é, suponha que as inovações
necessárias nunca ocorram, ou sejam sempre
muito caras, comparadas com os ganhos a
serem obtidos ao agrupar peixes em vez de
caçá-los. Então, é claro, não pode haver direitos
de propriedade privada usados dessa maneira
no oceano, na verdade. Mas, por uma questão
de direito, as coisas ainda seriam diferentes sob
a presente proposta. Sempre haveria o contrário
do fato condicional em operação de que se a
tecnologia fosse tal, então seria legal cercar em
Ordem Espontânea:
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partes do oceano para esses propósitos. Sob


esse estado de coisas, não haveria
impedimentos legais para o desenvolvimento da
tecnologia necessária.14

Um outro benefício da privatização dos recursos hídricos é que isso


criaria um incentivo para implementar e inventar atividades e tecnologias
industriais não poluidoras da água. Não apenas isso, mas também o
desenvolvimento de uma melhor perícia que averigua poluição da água
também teria lugar para ajudar as partes danificadas a estabelecer provas
sobre quem exatamente está causando danos a propriedades de quem. Estes
andam de mãos dadas; à medida que técnicas forenses mais efetivas são
desenvolvidas, o mesmo acontece com os incentivos para os supostos
poluidores não poluírem, para que possam evitar qualquer responsabilidade
legal em potencial.

No que diz respeito aos derrames de petróleo, as pessoas que detêm


certas partes das rotas marítimas podem cobrar mais pela passagem de
petroleiros de casco simples do que de cascos duplos, uma vez que as
primeiras apresentam um risco maior de derrames que terão um impacto

14 Walter Block, “Water Privatization,” (manuscrito não publicado)


http://thelibertycaucus.com/wp-content/uploads/2014/01/waterprivate.pdf
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direto no valor de sua seção possuída do oceano. Desta forma, terríveis


externalidades ambientais, como vazamentos de petróleo, podem ser
mitigadas pelas forças do mercado.

POLUIÇÃO DO AR

Rothbard escreve de Robert Poole, que ele:

“Convincentemente define a poluição como a


transferência de matéria ou energia nociva de
uma propriedade à outra, sem o consentimento
da última. A solução libertária - e a única
solução completa - para o problema é usar as
cortes e estruturas legais para combater esse
tipo de invasão.”15

Muito do mesmo raciocínio aplicado à poluição da água pode ser


aplicado à poluição do ar. Poluir a propriedade de outro é considerado ou uma
invasão ou um incômodo nocivo (posto que uma servidão para poluir não foi
obtida previamente), e, portanto, pode ser parada ou intimada por uma
ordem judicial. Assim como no caso da poluição da água, defender os direitos
de propriedade privada irá desencorajar companhias sujas de se estabelecer

15 Rothbard, For a New Liberty


Ordem Espontânea:
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em áreas residenciais, incentivar tais companhias a conceber maneiras de


mitigar a sua poluição e criar maior demanda pelo desenvolvimento de novas
técnicas forenses para identificar os causadores da poluição. Rothbard
sumariza os critérios a serem cumpridos antes que alguém possa
justificavelmente ser responsabilizado por poluição do ar:

“Demonstramos que todos podem fazer o que


quiserem, contanto que não iniciem um ato
explícito de agressão contra a pessoa ou a
propriedade de outrem. Qualquer pessoa que
iniciar tal agressão tem de ser objetivamente
responsável pelos danos sobre a vítima, ainda
que sua ação seja "razoável" ou acidental.
Finalmente, essa agressão pode tomar a forma
de poluição do ar de outrem, inclusive do efetivo
espaço aéreo possuído por ele, de danos contra
sua pessoa ou de uma turbação interferindo na
posse ou no uso de sua terra.

Nesse caso, contanto que:

1) o poluidor não tenha estabelecido antes uma


servidão por apropriação original;

2) embora poluentes visíveis e odores nocivos


sejam uma agressão per se, no caso de
Ordem Espontânea:
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poluentes invisíveis e insensíveis, o demandante


tem de provar o dano real;

3) o ônus da prova de tal agressão recai sobre o


demandante;

4) o demandante tem de provar a causalidade


objetiva entre as ações do réu e seu prejuízo;

5) o demandante tem de provar tal causalidade


e agressão para além de qualquer dúvida
razoável; e

6) não há responsabilidade por atos de terceiros,


mas apenas responsabilidade daqueles que
efetivamente realizam o ato.”16

Muitos podem se opor à essa metodologia citando as limitações


técnicas de hoje em dia em determinar quais emissores são responsáveis por
poluição e em que medida eles são responsáveis. Isso é, obviamente, uma
preocupação genuína, porém, apenas uma preocupação técnica e limitações
técnicas não justificam a imposição de medidas agressivas. Mesmo de um
ponto de vista utilitário, tais medidas agressivas criam uma enorme
quantidade de efeitos que contribuem para a deterioração em geral dos
padrões de vida da sociedade e não pode ser dito, sem um decreto arbitrário,

16 Rothbard, “Law, Property Rights, and Air Pollution.”


Ordem Espontânea:
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que irão consertar mais problemas do que criarão. Empregá-las também


estabelece um precedente perigoso pelo qual mais pode ser imposto para
fins similares.17

Rothbard também adverte sobre tomar esse caminho aparentemente


fácil:

“A prevalência de múltiplas fontes de emissões


de poluição é um problema. Como podemos
culpar o emissor A se há outros emissores ou se
há fontes naturais de emissão?
Independentemente da resposta, ela não pode
vir às custas de jogar fora os padrões adequados
de prova e de conferir privilégios especiais
injustos a demandantes e ônus especiais sobre os
réus.”18

ANIMAIS EM EXTINÇÃO

Os animais, como todos os outros bens escassos, estão sujeitos aos


efeitos destrutivos da tragédia dos comuns. Se eles são proibidos de serem de

17 O sistema legal positivista que apoia o estado é o principal exemplo do que pode
resultar desta linha de pensamento.
18 Rothbard, ibid.

Ordem Espontânea:
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propriedade privada, então os seres humanos invariavelmente tendem a


consumi-los de forma antieconômica. Walter Block usa a analogia da vaca e do
búfalo para expressar este conceito:

“Faz parte do senso comum, pelo menos dentro


da comunidade ambientalista do livre mercado,
que a espécie da vaca prosperou, devido aos
direitos de propriedade privada que poderiam
evitar a tragédia dos comuns, enquanto o bisão
quase pereceu como espécie devido à falta do
mesmo. Hoje em dia, felizmente, este problema
foi remediado em relação ao búfalo. Mas a
baleia, o boto, os peixes comestíveis e outras
espécies marinhas são tratados, no presente,
precisamente da mesma maneira que quase
explicaram o desaparecimento do bisonte.”19

É claro, certas espécies podem ser extintas se forem vistas como um


incômodo para a grande maioria dos seres humanos, por exemplo,
gafanhotos, mosquitos, etc. Porém isto é um trabalho sobre economia
ambiental e não biologia, não haverá tentativa de identificar quais espécies
possuem potencial para beneficiar a humanidade na rede e quais não. No
entanto, para as espécies avaliadas como tendo algum valor de mercado,

19 Block, ibid.
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haverá uma demanda para manter suas populações. Talvez as universidades


possam querer adquirir certas espécies de répteis ou insetos para pesquisas
médicas, ou alguém pode querer preservar populações de veados para o
esporte, etc. Há também, é claro, a oportunidade para preservacionistas
rigorosos juntarem seu dinheiro ou recursos e comprar terras apenas para
impedir que outros humanos o usem de uma forma que considerem
destruidora de sua integridade natural. Este método pode ser usado para
preservar terras, águas, certas espécies de animais, recursos minerais e muito
mais. Algumas pessoas preferem abster-se de consumir certos animais ou
outros recursos e, por essa razão, podem receber a maior quantidade de lucro
psíquico do estabelecimento de tais reservas. Nada sobre a criação dessas
reservas seria de qualquer forma incompatível com os direitos de propriedade
privada ou a livre iniciativa.

LIXÕES

As externalidades negativas associadas ao descarte de resíduos


também podem ser internalizadas se pessoas livres tiverem permissão para
realizar esses serviços e possuírem lotes para despejos particulares. Privado,
neste contexto, não se destina a referir-se à relação fascista das empresas de
gestão de resíduos que estão sendo contratadas para uso público, pagas com

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impostos. Essa configuração cria um risco moral para o consumidor ao decidir


que tipos de itens comprar - e como se desfazer de seus produtos indesejados
- já que a conta para descartá-los já foi paga, apesar do quanto ele ou ela
despeja. Proprietários de locais de despejo realmente privados podem estar
inclinados a cobrar mais por materiais que são cientificamente comprovados
como mais tóxicos ou prejudiciais. Tais cobranças mais altas podem ser usadas
para compensar o proprietário por possíveis custos de responsabilidade ou
pela mitigação do valor de sua propriedade pela contaminação. Da mesma
forma, os consumidores podem pagar mais caro para descartar itens que
contenham isopor ou plástico, e eles podem se tornar mais inclinados a
comprar produtos embalados em materiais menos destrutivos para reduzir os
custos de descarte. Isto, é claro, não significa que as pessoas pararão de usar
plástico e isopor por completo, mas sim que tais materiais só seriam usados
quando se determina subjetivamente que os benefícios exclusivos de seu uso
excedem os altos custos de seu descarte, pois a partir de agora o consumidor
suportará todos os seus custos. Desta forma, o interesse próprio do dono do
local de despejo de ganhar tanto dinheiro quanto possível coincide com o
desejo do consumidor de economizar tanto dinheiro quanto possível, eles
estão harmonizados com as ações necessárias para manter a integridade
ambiental da Terra. Isso não quer dizer que tal paradigma criará uma utopia
ambientalmente pura, mas meramente que as estruturas de incentivo

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estariam muito mais apropriadamente alinhadas para promover um


comportamento que seja mais favorável ao meio ambiente do que a estrutura
de incentivo presente no modelo atual administrado pelo estado. Andrea
Santoriello explica em termos concretos:

“No caso da gestão de resíduos sólidos, as


empresas de plástico e seus clientes escapam
do custo de descarte do plástico depois que o
consumidor termina de usá-lo. Isso ocorre porque
a maior parte da coleta de lixo é organizada por
meio do setor público. O custo do descarte do
plástico e dos outros resíduos é realizado pelo
governo, e um cidadão é normalmente
tributado sem levar em conta a quantidade de
lixo que gera. Uma vez que o cidadão paga seus
impostos, ele não tem incentivo para escolher
bens ambientalmente saudáveis, porque os
custos de descarte são de fato gratuitos para
ele. Se, em vez disso, houvesse privatização
completa da indústria de coleta de lixo, aqueles
que geram lixo pagariam diretamente pelos
custos de descarte. O proprietário de um lixão
privado tende a cobrar taxas de depósito que
variam com diferentes tipos de lixo. O preço será

Ordem Espontânea:
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significativamente maior para o material que cria


lixo tóxico, porque o dono do depósito será
responsável por qualquer vazamento prejudicial
do seu terreno. A empresa de transporte, que
coleta o lixo do proprietário, repassará o preço
aos consumidores. Os consumidores, sabendo
que terão que pagar mais pelo descarte de mais
plástico, tenderão a preferir recipientes que lhes
custarão menos, portanto, mais ecologicamente
corretos. No jargão dos economistas, a
externalidade negativa desaparecerá; o custo
do descarte de lixo será internalizado, aplicado
às partes responsáveis.”20

Libertar os mercados e proteger o meio ambiente não são mutuamente


exclusivos, na verdade, ambos operam sob os mesmos princípios e são
gerenciados da mesma maneira orgânica e descentralizada. Não há burocrata,
tecnocrata ou político que administre efetivamente todas as funções da
Natureza, nem existe um único componente da Natureza que lide com essa

20 Andrea Santoriello, "Externalities and the Environment," em The Freeman


(Foundation for Economic Education: Nov. 1996.
<http://www.fee.org/the_freeman/detail/externalities-and-the-environment>
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tarefa sozinho. O que existe são agrupamentos voluntários de animais com


relações simbióticas cujos membros têm a capacidade de se separarem de tais
relacionamentos tão logo julguem prudentes. Também há predador e presa.
Embora esses animais não estejam limitados por conceitos como o Princípio
da Não-Agressão - como eles têm pouca ou nenhuma capacidade de
reconhecer e entender seu significado - nós podemos ainda testemunhar a
beleza e a complexidade da ordem espontânea que resulta na ausência de um
diretor central com o único poder legal de impor violentamente sua vontade
sobre todos os outros. Se a população de uma espécie predadora crescer
muito, sua oferta de alimentos diminuirá, o que irá, por sua vez, diminuir a
população das ditas espécies predadoras, e até as plantas que sobrevivem
harmoniosamente com o meio ambiente irão prosperar e multiplicar-se, e as
que não se harmonizarem, darão lugar a vegetação mais adequada. Assim, a
natureza não é a antítese de uma sociedade de livre mercado; é, ao contrário,
um reflexo de sua eficácia no reino não humano. A natureza não tem opinião
ou vontade. Ela opera de acordo com suas próprias leis, onde o sistema que
resulta é aquele que é de baixo para cima, não de cima para baixo, e que
responde imediatamente e perpetuamente às variáveis em constante
mudança de seus habitantes. Nenhum indivíduo ou grupo de indivíduos jamais
poderia esperar replicar artificialmente um sistema tão eficiente e adaptável.
Assim, os proponentes de um livre mercado não procuram arrogantemente

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substituir a Natureza por um sistema superior feito pelo homem, mas sim
operar sob um conjunto de princípios cujo protótipo é a própria Natureza.
Deve ser dito que a única suposição que aqueles que defendem os mercados
libertos fazem com relação aos seres humanos é que eles agem de maneira a
garantir satisfação, utilidade e lucro. O conceito de mercado livre não é uma
teoria para os idealistas, mas uma perspectiva que se reconhece e se orienta
de acordo com o que se conhece sobre a natureza humana, contrariamente
aos pressupostos que os defensores da gestão estatal fazem, que assumem
que sua imagem de autoridade têm uma maior consciência econômica ou
intenções mais benevolentes do que os cidadãos sobre os quais eles presidem.
Rothbard ilustra belamente a confusão:

“Assim, quando descolamos as confusões e a


filosofia infundada dos ecologistas modernos,
encontramos um importante fundamento contra
o sistema existente; mas o caso não é contra o
capitalismo, a propriedade privada, o
crescimento ou a tecnologia em si. É um caso
contra o fracasso do governo em permitir e
defender os direitos da propriedade privada
contra a invasão. Se os direitos de propriedade
fossem defendidos integralmente, contra invasão
governamental, nós encontraríamos aqui, como

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em outras áreas de nossa economia e


sociedade, que a iniciativa privada e a
tecnologia moderna viriam para a humanidade
não como uma maldição, mas como sua
salvação.”21

21 Rothbard,For a New Liberty, 327


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FICHA TÉCNICA
PIRATAS DO GOL D. ROGER

TRADUÇÃO

ALEFE SILVA

DOMINIQUI ALVES

REVISÃO

MARCO OTÁVIO

EDIÇÃO E ARTE DA CAPA

DOMINIQUI ALVES

ORIGINAL

SPONTANEOUS ORDER

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