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CAPÍTULO 1

As atividades económicas afetam o ambiente, contudo o ambiente e os recursos naturais


também acabam por afetar a economia. Por exemplo, a produção pode gerar problemas
ambientais; mas um problema ambiental por vezes também constitui uma oportunidade para
inovar a indústria, com novos produtos, mercados ou formas de produzir (ver exemplos nos
slides). Assim, concluímos que o ambiente e a economia influenciam-se mutuamente.

Mechanical Behavior/ Economia Linear: conceção de que a o processo económico está isolado
do ambiente, não o afetando, nem se deixando afetar por ele. Assume que se reduz um esquema
linear entre produção e consumo:

Contudo, não podemos ignorar que o meio ambiente fornece os inputs necessários ao sistema
económico:

Sabemos ainda, que as atividades económicas geram resíduos (resíduos sólidos urbanos,
emissões atmosféricas (dióxido de carbono, enxofre, efluentes líquidos, ….). Segundo a 1º Lei da
Termodinâmica, num sistema fechado, a matéria não pode ser criada nem destruída. Tudo se
transforma! Assim, a matéria proveniente da natureza (R) deve igualar à matéria que lá será
depositada (W):

P – Produção
C – Consumo
U – Utilidade
R – Recursos Naturais
W – Resíduos (Waste)
Então, será este sistema sustentável?

Kenneth Boulding dizia que devíamos ver a Terra como um sistema fechado (comparou-a a
uma nave espacial), onde os recursos são limitados. Assim, haveria uma preocupação com a
manutenção desses recursos e, deste modo, o progresso técnico evoluiria no sentido de
manter os recursos e diminuir a produção/consumo.

Por outro lado, ele admite ainda a ideia de uma cowboy economy (economia aberta), onde as
atividades de consumo e produção são vistas como positivas. Para fechar este círculo, uma das
formas é utilizar a reciclagem dos resíduos, permitindo que parte dos resíduos possa voltar ao
sistema económico. Reciclagem é, portanto, uma oportunidade em termos económicos,
trazendo benefícios ambientais e pode ainda trazer benefícios sociais.

Nota: Parte dos resíduos podem ser


reciclados, mas nem todos. Ex: queima
de carvão, o recurso é carvão, mas o
resíduo é dióxido de carbono, e este não
se consegue reciclar de forma a usá-lo
depois no processo produtivo.

2ª Lei da Termodinâmica/ Lei da Entropia: existe um limite para a possibilidade de reciclagem


dentro de um sistema fechado, pois, nele, a entropia aumenta. Portanto, a reciclagem pode não
ser suficiente para manter a sustentabilidade num sistema fechado.

(Entropia: quantidade de energia ou materiais que não estão disponíveis para uso)

Georgescu Roegen vê a humanidade como o maior responsável do aumento da entropia.

Nota
Recursos naturais: Recursos de baixa entropia
Resíduos: Recursos de alta entropia
Recursos de baixa entropia passam a ser resíduos de alta entropia. Ex: petróleo é um recurso
natural, mas quando o queimamos ele forma resíduo (emissões atmosféricas) que, por sua vez,
são de alta entropia.

Porém, o ambiente é tão equilibrado que consegue absorver os próprios resíduos que cria (ex:
lava, folhas das arvores, …). Já o sistema económico não tem essa capacidade de absorver os
próprios resíduos que cria. O nível de capacidade assimilativa do ambiente não é constante ao
longo do tempo, depende do stock atual de poluição ou dos fluxos passados de poluição.
Amenidades: nível de conforto, de bem-estar, beleza de uma paisagem, etc, que o ambiente
pode causar.

Amenidades podem ser positivas (paisagem agradável que traz conforto) ou negativas (aterro
sanitário). Quando a quantidade de resíduos for dentro da capacidade de absorção do sistema
natural está tudo bem. O problema é quando é de tal tamanho que o ambiente não consegue
assimilar tanto, formando amenidades negativas.

Como podemos ver, então, a utilidade não advém só do consumo. Não é necessário haver um
consumo, pode bastar eu saber que um recurso existe para que me traga conforto, uma
amenidade positiva. Ou seja, os recursos têm uma relação direta com a utilidade.

Resumindo, fomos capazes de identificar as Funções do Ambiente:

• Fornecer serviços de suporte à vida


• Fornecer inputs
• Absorver resíduos
• Fornecer amenidades
• Espaço de localização de atividades económicas de consumo e produção

Quando é ultrapassada a capacidade assimilativa do meio (W>A), surge a poluição.

Os poluentes podem ser categorizados segundo:


• a zona de influência
(i) locais
(ii) regionais (chuvas ácidas, incêndios florestais)
(iii) globais (emissão de gases efeito de estufa)
• a frequência da ocorrência
(i) contínuos (estação de tratamento de águas residuais)
(ii) esporádicos (derrames petrolíferos. Pode haver uma periodicidade, mas não ser
contínuo.)
• a natureza dos poluentes
(i) cumulativos (resíduos radioativos, plástico. O sistema natural tem uma
capacidade para os absorver, mas é tao lenta que se considera cumulativos.)
(ii) não cumulativos (poluição sonora, só existe enquanto a fábrica está a trabalhar,
depois desaparece.)
• o tipo/mobilidade da fonte
(i) fonte fixa (origem relativamente bem identificável)
(ii) fonte difusa (automóveis. Não existe ponto fixo de descarga, são fontes moveis)

Os globais com certeza acabarão por ter impactos locais e regionais.

Os globais são os de mais difícil resolução porque exige consenso entre países e cooperação e
porque vários países tem leis diferentes.

Exercício Slides – Solução:

1. Regionais, esporádico, cumulativo, fonte fixa


2. Regional (porque se infiltra nas massas de água, chegando a todas as regiões do rio
douro), esporádico (pode haver uma frequência sazonal ou assim mas não é continuo),
cumulativo, fonte difusa (é espalhado por um terreno que pode ter 0,5 hectares ou 60
hectares, não é como se fosse uma chaminé ou um ponto de descarga específico)
3. Local, contínuo, não cumulativo, fonte fixa
4. Local, regional e global, contínuo, cumulativo, fonte difusa

Por vezes as respostas podem ser ambíguas, por exemplo a zona de influência é difícil de
definir.

Os recursos (R) podem ser renováveis (RR) ou não renováveis (ER). Dentro dos recursos
renováveis, existem recursos cuja taxa de extração (h) supera a taxa de regeneração (y), mas
também o contrário, ou seja, bens que h<y. Já ao nível dos recursos não renováveis, em tempo
de vida útil, a taxa de extração tende a ser sempre superior à de regeneração (h>y).

Ex: Pesca pode ter h>y. Para gerir estes recursos de forma sustentável terei que ter h<y. Com o
Sol este problema não se coloca.
Desta forma, conseguimos construir o conceito de Economia Circular (visão holística), o qual
permite eliminar os resíduos e a poluição do processo económico, manter em uso os produtos
e materiais e, consequentemente, regenerar os sistemas naturais.

O objetivo será deixar o sistema económico com base num modelo linear (TAKE -> MAKE ->
DISPOSE; cradle to grave) em que se pressupõe que os recursos são abundantes e, portanto,
após a produção e o consumo, o mais “barato” é deitar fora (resíduos). O ideal a adotar é o
modelo de economia circular (cradle to cradle) no qual os resíduos voltam a entrar no sistema
produtivo. Este sistema mantém o valor acrescentado dos produtos durante tanto tempo
quanto possível e tenta eliminar ao máximo os resíduos. A mudança para um sistema destes
implica transformações a muitos níveis (novas cadeias de valor, produtos, mercados, modelos
empresariais bem como novos padrões de comportamento e de transformação de resíduos),
consagrando-se numa alteração sistémica completa (políticas, sociedade, financiamento,
inovação, tecnologias...). Em economia circular, há uma preferência pelo termo utilizador, em
vez de consumidor, porque o que está em causa é o uso do recurso e não a sua posse.

Cradle-to-Cradle: berço ao berço (modelo de economia circular)

Cradle-to-Grave: berço ao tumulo (modelo linear) <- atual

A Comissão Europeia identifica os seguintes aspetos de uma economia circular:

• A redução da quantidade de materiais necessários/aligeiramento;


• O prolongamento da vida útil dos produtos (durabilidade);
• A redução da utilização de energia e de materiais (eficiência);
• A redução do usso de materiais perigosos ou difíceis de reciclar (substituição);
• A criação de mercados para as matérias primas secundárias (produtos
reciclados);
• A conceção de produtos que sejam mais fáceis de manter, reparar, modernizar,
transformar ou reciclar (conceção ecológica);
• O desenvolvimento dos serviços de manutenção/reparação...;
• O incentivo e o apoio à redução dos resíduos e à triagem de alta qualidade por
parte dos consumidores;
• O incentivo à triagem, sistemas de recolha que minimizem os custos de
reciclagem e reutilização;
• Agrupamento de atividades (simbiose industrial – associação entre duas ou
mais empresas entre as quais os resíduos de umas são as “matérias primas” de
outras);
• Encorajamento a um maior leque de escolhas aluguer, empréstimo ou partilha
de serviços.

Benefícios, Problemas e Desafios da Economia Circular: explicado extensivamente nos slides


CAPÍTULO 2
Introdução à abordagem dos dilemas sociais

Aplicação do dilema do prisioneiro à economia do ambiente tem por conclusão que a decisão
racional de X é a de não pagar pois o indivíduo X tem os benefícios sem participar nos respetivos
custos (free-riding). Isto só é possível porque o bem é não exclusivo.

Mas, então, se a decisão racional de X é não pagar, a dos outros também será. Se nenhum
pagar (situação em comum com o dilema dos prisioneiros), ninguém contribui, o que prejudica
todo o grupo e o projeto que tenha como objetivo melhorar o meio ambiente.

Tragédia dos comuns

Bem comum: rivalidade (quando eu consumo uma parte, o outro deixa de poder consumir essa
parte) e não exclusão (impossível ou extremamente caro negar o acesso a esse recurso); todos
têm acesso pois não existem direitos de propriedade bem definidos.

Hardin foi um dos primeiros autores a abordar esta questão com o exemplo da pastagem
(slides).

Este exemplo mostra-nos que com este tipo de bens a tragédia é inevitável, pois cada
produtor tinha interesse em adquirir mais uma cabeça de gado, contudo, a degradação da
pastagem, decorrente da sobre-exploração, chegaria a um nível tal que ocorreria uma rutura
para todos.
O resultado desse exemplo é que todos se decidem pela melhor estratégia individual, o que
constitui um pior resultado para todos, ou seja, o comportamento racional individual resulta
num comportamento coletivo não racional.

Exercício Slides – Solução:

a) Comum
b) Público
c) Público
d) Clube
e) Privado
Hardin propôs duas soluções para a Tragédia dos Comuns:

(i) Privatização

(ii) Intervenção estatal

Mais tarde, Elinor Ostrom propôs uma terceira solução após verificar que, empiricamente,
existia muitos recursos de bases comuns que eram bem geridos:

(iii) Política de bottom-up através de acordos entre as partes (as pessoas colaboram e
organizam-se de modo a chegar a um consenso, uma solução, sem ser necessário a privatização
ou a intervenção estatal).

Common Pool Resource (fundo comum de recursos): Não exclusão devido à dificuldade em
excluir agentes do seu uso; Rivalidade, o uso de um (grupo de) indivíduo(s) implica que há
menos recursos disponíveis para outro(s) (Ex: Pesca, Pastagens, …)

Elinor Ostrom apresenta uma thick rationality uma vez que reconhece a importância do
conhecimento local e da diversidade de formas de gestão dos recursos (exemplo dos sistemas
de irrigação que se forem cosntruídos por agricultores locais serão mais eficientes do que se
forem feitos por agências internacionais, visto que os primeiros têm maior conhecimento dos
costumes locais).

A autora não rejeita as soluções de Hardin, mas propõe alterações profundas não só na forma
de agir como de pensar com o propósito de se alcançar uma gestão sustentável dos recursos:

1. Fronteiras claramente definidas dos recursos assim como dos utilizadores que estão
autorizados a usá-los;
2. Regras comunitárias de exploração dos recursos relacionadas com as condições locais;
3. Participação da maior parte dos indivíduos na fixação e alteração das regras do uso dos
recursos;
4. É realizada a monitorização pelos próprios participantes;
5. Penalizações graduais aos transgressores das regras comunitárias (dependendo do grau
da ofensa);
6. Mecanismos efetivos de resolução de conflitos entre os utilizadores dos recursos (fácil
acesso e a baixo custo);
7. Reconhecimento das regras comunitárias por autoridades externas;
8. Ligação da gestão de recursos de menor com os de maior escala, no sentido ascendente
(bottom-up).

Externalidades

Economia do Ambiente é neoclássica, apresentando-se como uma tentativa para determinar as


diferenças entre os custos privados e os custos sociais e desenhar instrumentos que corrijam
essa externalidade.
De acordo com Pigou, externalidade decorre de um agente (A) que presta serviços a um
agente B e que no processo, acidentalmente, presta também serviços ou causa prejuízos a
terceiros (C), de forma a que o valor desses serviços ou prejuízos não podem ser mensurados.
Ou seja, não pode ser exigido pagamento da parte beneficiada, mas também não se consegue
obrigar à compensação da parte prejudicada.

Neste cenário, A é um agente causador e C um agente recetor da externalidade.

As externalidades não passam pelo mercado, pelo que não estão refletidas nos preços,
distorcendo, assim, a tomada de decisão dos agentes económicos, bem como, reduzindo o bem-
estar da sociedade.

Como sabemos, as externalidades podem ser positivas ou negativas. Porém, nesta UC, o estudo
incidirá mais sobre as externalidades ambientais negativas:
➢ Atividade do emitente causa perda no bem-estar de outro agente;
➢ Influência direta, via função utilidade ou de produção;
➢ Independente da escolha do afetado;
➢ Emissão não intencional;
➢ Contexto de atividade económica legítima;
➢ Falha de mercado.

Classificação de Externalidades Ambientais:


• Externalidades de produção – (empresa (A) polui o solo e uma outra empresa (C)
necessita do solo para produzir cereais)
• Externalidades de consumo – (empresa (A) polui o ar com emissões e um
cidadão comum (C) respira esse ar)
• Formas mistas – (indivíduo (A) a provocar ruído e o vizinho (C) sofre com esse
ruído enquanto está a produzir um relatório).

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