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Como Marcos Willians Herbas Camacho, o órfão de 9 anos que cheirava cola
na Praça da Sé, se tornou o líder da maior organização criminosa do Brasil.
(Zé Otávio/Superinteressante)
Mais organizado e temido, o PCC dominou de vez o sistema prisional de São Paulo
– o maior do Brasil, com 231 mil detentos. Focado no tráfico de drogas, o Partido
do Crime estendeu suas operações a novos lugares do país e se internacionalizou,
convertendo-se no maior grupo criminoso do Brasil. Apesar de estar no topo do
organograma do PCC, Marcola sempre negou a posição de líder máximo.
Gosto apurado
O pequeno Marcos estava predestinado a uma vida no crime. Órfão aos 9 anos, ele
perambulava pelas ruas de São Paulo batendo carteiras e roubando toca-fitas na
região do Glicério, Zona Central. O apelido de Marcola vem do tempo em que
cheirava cola na Praça da Sé. Teve diversas idas e vindas da Febem até que, aos
18 anos, acabou preso por roubo a banco. Foi parar no Carandiru, mas a
passagem por outro presídio seria crucial para sua carreira. Em 1993, Marcola
cumpria pena no anexo da Casa de Custódia de Taubaté, o Piranhão, quando o
PCC estava sendo criado. Não deu outra: ao lado de Sombra, ele integrou o grupo
dos primeiros bandidos batizados pelo Partido do Crime.
Fã de Nietzsche
Condenado a 232 anos e 11 meses por formação de quadrilha, roubo, tráfico de
drogas e homicídio, Marcola rechaça a posição de chefe do PCC. Na CPI do
Tráfico de Armas, em 2006, declarou: “Não existe um ditador. Embora a imprensa
fale, romanticamente, que existe um cara, o líder do crime. Existem pessoas
esclarecidas dentro da prisão, que com isso angariam a confiança de outros
presos”.
Perspicaz, ele sabe o que pode acontecer quando o poder sobe à cabeça. Seus
antecessores foram depostos da facção justamente por conta dos excessos de uma
hierarquia abusiva. E Marcola sempre teve a sabedoria de se colocar entre os
insatisfeitos – especialmente depois da morte de sua ex-mulher, Ana Olivatto.
Durante a CPI, Marcola se manteve sereno e, muitas vezes, foi irônico. Em certo
momento, disse que a sua relação com o PCC era apenas ideológica, sem
envolvimento em qualquer tipo de crime. Noutro diálogo, sorriu quando um
deputado perguntou se o seu livro predileto era A Arte da Guerra, de Sun Tzu –
conforme uma reportagem da época. “Nem gosto muito. Meu preferido é Assim
Falou Zaratustra, do Nietzsche.”