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Viçosa (MG)
2019
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Com o advento da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) inaugurou-se um novo momento
de proteção à integridade da mulher dentro de seu ambiente doméstico, sendo previsto em suas
normas um aparato legal para dar assistência às vítimas destes tipos de crime e coibir a prática
dos crimes trazidos na lei.
Dessa forma, houve durante muitos anos no ordenamento jurídico brasileiro uma lacuna
legal que permitisse a atuação do Poder Público em face deste tipo de problema, o que resultou
em milhares de casos de violência, como o caso de Maria da Penha Maia Fernandes que,
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irreversivelmente paraplégica, foi vítima não de um desconhecido, mas de seu próprio marido,
que lhe deixou as marcas físicas e psicológicas derivadas da violência, marcas que foram
agravadas por um segundo fator: a impunidade. Passaram-se dezenove anos da instauração do
processo penal, sem que houvesse qualquer decisão definitiva dos tribunais brasileiros.
‘Sobrevivi, posso contar’. É este o título da obra autobiográfica de Maria da Penha, vítima de
duas tentativas de homicídio cometidas por seu então companheiro, em seu próprio domicílio,
em Fortaleza, em 1983. (PIOVESAN, 2012, p. 80).
A partir deste e de tantos casos semelhantes, passou o Poder Público a atuar com
políticas especiais para o combate deste tipo de crime, por ser um crime praticado por aquele
que se encontra no mesmo ambiente íntimo da vítima e precisa de uma estrutura de denúncia e
apoio diversa, pois a vítima muitas vezes se sente temerosa em ter que denunciar alguém de seu
próprio ciclo de convivência.
Diante deste novo momento legislativo e o surgimento cada vez mais de trabalhos que
relacionam a Geografia do Crime com espaços geográficos determinados, este trabalho se
propõe a fazer uma análise estatística e espacial das denúncias de casos de violência doméstica
em Viçosa, para que se possa acompanhar dentro do espaço delimitado a incidência dos
mesmos. Infelizmente, apesar da Lei Maria da Penha ter trazido grandes avanços em relação
aos casos de abusos, ainda há muito trabalho de conscientização a ser feito e muitas famílias
que ainda não denunciam por medo ou por desconhecimento. Conhecendo estes pontos de
vulnerabilidade, uma maior proteção a mulher será alcançada.
2. JUSTIFICATIVA
Ainda hoje a violência doméstica é a forma mais frequente de violência sofrida pelas
mulheres. São atos e comportamentos dirigidos contra a mulher que correspondem a agressões
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Pela relevância da questão, a Lei Maria da Penha preconiza que os estados devem
promover estudos e pesquisas estatísticas sobre o assunto, e, tendo em vista o fato de que o
tema é atual e como a Lei é recente, existem poucos estudos sobre a matéria, fato que reveste
esta empreitada de caráter estratégico (DOS SANTOS, 2011, p. 22).
Apesar das dificuldades, é importante ressaltar que Viçosa, um munícipio que possui o
número de habitantes estimado em 77.863 (setenta e sete mil oitocentos e sessenta e três)1 ocupa
a segunda posição no ranking de municípios com maior número de denúncias de violência
doméstica, à frente de munícipios que compõe o Estado de Minas Gerais que possuem mais que
o dobro de sua população, como por exemplo, Betim (terceiro colocado), com 422.354
habitantes, Uberlândia, (quarto colocado) com 669.672 habitantes e Juiz de Fora, (quinto
colocado) com 559.636 habitantes (SILVA, 2016, p. 67). Ou seja, percebe-se que em Viçosa é
realizado um trabalho modelo em relação a realização de denúncias, de modo que mais vítimas
deste tipo de violência procuram ajuda em comparação com municípios maiores de Minas
Gerais.
Grande parte deste êxito2 deve ser atribuído à Casa das Mulheres, projeto criado em
2009, pelo Conselho Municipal de Direitos da Mulher de Viçosa, em parceria com a Defensoria
Pública do Estado de Minas Gerais, a Universidade Federal de Viçosa e a Prefeitura Municipal
de Viçosa. Ele foi pensado com o intuito de superar lacunas existentes para o enfrentamento à
violência contra a mulher na microrregião de Viçosa que, devido à sua dimensão populacional,
ainda carece de serviços especializados para o atendimento às mulheres em situação de
violência.
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Dados fornecidos pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan (2014)
2 É importante pontuar que uma das maiores dificuldades no combate a violência doméstica é o incentivo a
denúncia, uma vez que, por ser um crime que ocorre na intimidade familiar, há que se fazer um trabalho de apoio
à vítima, para que esta denuncie o abuso e siga adiante com o processo criminal, para que haja investigação e
punição. Somente com a denúncia o crime poderá ser reportado e o Estado poderá atuar.
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Frisa-se também que, a partir deste e demais trabalhos que vão sendo elaborados ao
longo do tempo sobre a temática da violência doméstica, nos aproximamos da plena
concretização dos direitos fundamentais que envolvem a questão. Podemos citar o direito à
vida, à igualdade, à efetividade, à uma saudável qualidade de vida e à integridade física, direitos
estes que são colocados em risco em casos de violência doméstica.
Assim,
Direitos fundamentais são direitos inerentes aos seres humanos pelo simples fato de
seres humanos serem. Dessa forma, é fundamental que busquemos resguardar esse direito e
concretizá-los.
3. PROBLEMA
A violência doméstica, por ser um crime praticado dentro do ambiente íntimo da vítima
e do agressor, levanta pontos importantes a serem conhecidos, como a situação financeira de
vítima e agressor, cor, local de habitação, escolaridade, entre outros fatores, que determinarão
pontos de maior vulnerabilidade.
Cabe destacar que, nos termos da Lei, o autor do tipo penal deve ter um dos tipos de
relação com a vítima, entre eles: cônjuge, ex-cônjuge, pais/responsável legal, filho, irmão,
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Destarte, tem-se como problema a percepção de grupos mais vulneráveis a essa prática
criminal e os locais em que os mesmos estão localizados, tais quais suas caracterizantes.
4. OBJETIVOS
5. METODOLOGIA
Para uma abordagem teórica da questão, far-se-á uma análise de obras e trabalhos
científicos de autores a respeito da Geografia do Crime trazendo inicialmente uma discussão
sobre violência, criminalidade e algumas teorias criminais, sob a ótica de pesquisadores que
abordaram esses temas em suas pesquisas. Há também, que buscar respaldo na legislação
referente aos crimes de violência doméstica e nas obras doutrinárias daqueles que escrevem
sobre o assunto.
Serão usadas também outros artigos, dissertações e teses e autores que trabalharam com
outros tipos penais ou localidades diversas, relacionando a criminalidade com a análise
geográfica.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BATELLA, Wagner Barbosa; DINIZ, Alexandre Magno Alves. Análise espacial dos
condicionantes da criminalidade violenta no estado de Minas Gerais. Sociedade & Natureza,
p. 151-163, 2010.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016.
PIOVESAN, Flávia. A Proteção Internacional dos Direitos Humanos das Mulheres. Revista da
EMERJ. Rio de Janeiro. V. 15, n. 57, 2012. Pág. 70 a 89.
RIBEIRO, Maria Ivanilse Calderon; SILVA, Maria das Graças Silva Nascimento.
Geotecnologias, Geografia e Crime: Espacialização da violência doméstica contra a
mulher na área urbana de Porto Velho-Rondônia. Dissertação (dissertação em geografia) –
Fundação Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, 2014.