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Um Casamento Milionário

Blind-Date Bride

Lori Herter

De garçonete a milionária... Cheri Weatherwax acabara de receber uma proposta


irrecusável. Tudo que tinha a fazer era casar-se com Jake Derring, um cientista brilhante,
apenas por um ano, para receber um milhão de dólares! Mas quando subiu ao altar e
deparou-se com aquele noivo alto, moreno, bonito e atraente, ela subitamente esqueceu o
que deveria dizer. O que era mesmo?... Não sei? Talvez? Sim?!

Digitalização: Nina
Revisão: Samuka
Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

Um Casamento Milionário
Blind-Date Bride
Lori Herter

Editora Nova Cultural 1998


Publicação original: 1996

Nota: Esse livro faz parte da Série Million-Dollar Marriages:

1) Lori Herter - Casados por Uma Semana (How Much Is That Couple In The Window?)
Sabrina Noivas 65.
2) Lori Herter - Um Casamento Milionário (Blind-Date Bride) Sabrina Noivas 83.
3) Lori Herter - Eu? Casar com Você? (Me? Marry You?) Bianca Especial de Férias 33.

Eu, Cheri Weatherwax,


fiz esta lista para me certificar dos itens
que não podem ser esquecidos durante
meu rápido casamento:

Algo velho
•O pai de Jake. O doce e querido velhinho foi quem fez esse arranjo.

Algo novo
•Bem, terei um milhão de dólares em minha conta bancária.

Algo emprestado
•O noivo. Preciso devolvê-lo daqui a um ano.

Algo triste
•Eu. Se cometer o erro de me apaixonar por Jake.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

Capítulo 1

Pelo presente, deixo como herança, à minha mui amada esposa Beatrice,
cinquenta por cento de toda a minha riqueza. Para meus filhos, lego o restante, que deve
ser dividido em partes iguais, sob uma condição. Cada um deles deve se casar e
permanecer casado com a mesma esposa, ou com o mesmo marido, por no mínimo um
ano, antes de tomar posse da herança. Quem não cumprir essa condição pode
considerar-se deserdado.
Jasper Derring leu a nova cláusula do testamento, que o advogado incluíra a seu
pedido. O documento, registrado e datado, havia chegado pelo correio.
Ele o levou ao solário, em frente ao lago de sua mansão, em Chicago, onde
Beatrice, sua esposa havia mais de quarenta anos, estava separando meias.
Começou a se sentir irritado, sem saber o motivo.
— Por que não deixa que Mabel faça isso? — perguntou, enraivecido, referindo-se
à governanta da casa.
Sentou-se numa cadeira de vime, em frente à esposa. Acomodada num sofazinho
também de vime, ela separava com gestos elegantes as meias do marido, colocando-as
sobre um acolchoado florido.
— Prefiro fazer isso eu mesma. É uma atividade que me deixa tranquila.
Havia divertimento no olhar que Beatrice lançou a Jasper. Seus cabelos grisalhos,
cortados na altura dos ombros, estavam presos por um laço, ao estilo antigo.
— Separar meias é tranquilizador? Interessante...
— Enquanto eu conseguir distinguir a cor preta da azul-marinho, saberei que meus
olhos estão saudáveis. Coisas pequenas como esta são importantes para alguém que já
passou dos sessenta e cinco anos e logo chegará aos setenta — ela respondeu, e
continuou calmamente a tarefa. — Que novidades o trouxeram até aqui?
— O novo testamento acabou de chegar.
— E mesmo?
— Com a nova cláusula, exatamente como a discutimos.
— Tudo legalmente arranjado? — ela indagou, como se estivesse pouco
interessada.
— Isso mesmo. Nenhum dinheiro antes que eles se casem. A partir de agora é
assim, quer as crianças queiram, quer não.
— Ou quer eu queira, quer não — murmurou Beatrice, enfiando um dedo num furo
que encontrou numa das meias.
Colocou a peça e a que lhe fazia par de lado.
— Já discutimos isso, querida.
— Você discutiu. Eu só escutei.
— Você concordou.
— Eu assenti. É diferente.
— Fiz o que achei melhor para nossos filhos.
— Sei disso. E, quando você acha que alguma coisa é "melhor", ninguém mais tem
direito a opinião alguma. A não ser, claro, que você mude de ideia quanto ao que é...
ahn... "melhor". Admito que às vezes use de bom senso, meu caro, e então dou meu
consentimento. Não quero que sofra outro ataque cardíaco. Só espero que viva o
suficiente para perceber a tolice que está cometendo. Espero também que tire essa
cláusula do testamento, e depressa. Se morrer amanhã, será esse o legado que deixará a
seus filhos.

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Ele se endireitou e respondeu, num tom doutrinal:


— O casamento traz maturidade e estabilidade aos jovens. Qualidades que nossos
cabeçudos filhos precisam adquirir antes de pôr as mãos na herança. Tudo o que quero é
obrigá-los a pensar seriamente sobre o casamento. Veja Jake, por exemplo. Da última
vez que falamos com ele, estava na Índia, estudando as monções. Esse garoto precisa
começar a pensar em ter uma vida estável e casar-se. Já tem vinte e nove anos. Fará
trinta daqui a alguns meses.
— Como o pobrezinho está velho... — comentou Beatrice com bom humor.
— Está mesmo, e olhe que é nosso filho mais novo! Parece que não tem nem
namorada. Vive ocupado, viajando e dando aulas na universidade. Ao menos nossas
outras crianças demonstram interesse pelo sexo oposto.
— Eu diria que demonstram muito interesse no sexo — Bea corrigiu. — E estão tão
pouco inclinadas quanto Jake a ter uma vida estável.
— Pelo menos Charles deu o bom exemplo. Casou-se, finalmente.
— Depois de um, digamos, superempurrão do pai...
— Vi que era minha vez de mexer os pauzinhos e assim fiz. — Jasper adorara
bancar o cupido para o filho. — Além disso, Charles e Jenny nos deram nosso primeiro
neto.
Beatrice sorriu e pôs de lado as meias.
— Estou tão preocupada com Leslie Ann quanto você. E sei que foi por esse
motivo que você mexeu no testamento. Quer ter mais netos antes de sair desta vida.
— E se for isso? Não é uma coisa normal?
— Muito. Mas a maioria dos pais não ameaça deserdar os filhos só para vê-los
casar-se e procriar.
Jasper deu de ombros.
— Talvez meus métodos sejam... diferentes dos da maioria. Sempre fiz as coisas
acontecerem. Nunca esperei que ocorressem. Foi assim que me tornei multimilionário.
— Pois não devia interferir na vida de seus filhos. Eles não são "negócios".
— Não estou interferindo — Jasper objetou, levantando-se. — Estou simplesmente
estabelecendo parâmetros.
— Sente-se. Não precisa ficar zangado. Relaxe. Faça um pouco do seu trabalho
manual.
Jasper tornou a acomodar-se na cadeira e pegou a sacola, que continha seu mais
novo projeto: uma pintura em tecido que simbolizava a celebração do matrimônio.
Mostrava um coração feito de flores, e dentro dele um espaço para a colocação dos
nomes dos noivos e da data do casamento. Embora ainda não houvesse data alguma,
Jasper já vinha pensando nos nomes que poria ali.
Começara a fazer aquele trabalho depois do infarto, para manter-se ocupado
durante a recuperação. Descobrira naquele passatempo algo muito relaxante. Mas, à
medida que olhava para a pintura, cada vez mais avançada, dava-se conta de que seus
benefícios terapêuticos não o ajudariam naquele momento. Por isso, tornou a colocá-la na
sacola. Não queria que a esposa reparasse no que estava fazendo.
Bea o observou pôr o trabalho de lado.
— Não vou discutir com você — disse ela num tom sincero.
— Simplesmente tenho outro ponto de vista. Como já lhe falei, o dinheiro é seu. Foi
você que o ganhou. Por isso, faça com ele o que quiser.
— Você é minha companheira nesta vida, Bea. O dinheiro também é seu.
— Quando o conheci, você era pobre. Eu me casei com Jasper Derring, não com
sua conta bancária. Claro que aprecio nossa bela casa, as roupas que posso comprar, o
fato de ter mandado nossos filhos às melhores escolas. Mas acumular riqueza e investi-la
é habilidade sua. Por isso, faça o que achar melhor. Tenho certeza de que, com o tempo,
você acabará usando o bom senso. — Fitou-o, como se fosse falar mais alguma coisa.

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Ficou quieta, porém.


— Se eu viver o bastante, você quer dizer. Então acredita que um dia eu tenha o
"bom senso" de tirar essa cláusula do testamento, hein?
— Espero que sim. Mas posso estar enganada. Nesses quarenta e tantos anos em
que estamos juntos, o bom senso sempre prevaleceu. Às vezes você leva anos para
reconhecê-lo, mas no final sempre acaba descobrindo onde ele está.
Jasper mudou de posição, sentindo-se tão pouco à vontade como quando chegara
ali. Beatrice costumava acertar quando se referia à família e a seu relacionamento. Mas
ele não admitiria isso naquele momento. Ainda queria acreditar que seu ponto de vista
sobre o assunto era correto.
— Bem, então vamos esperar para ver — limitou-se a comentar. — Será
interessante observar a reação de cada uma das crianças quando eu contar a novidade.
— Certamente — respondeu Bea, levantando cinicamente uma das sobrancelhas.
— Por quê? Como acha que eles irão reagir?
— Não tenho certeza. Com exceção de Jake. Acho que ele vai lhe dizer o que fazer
com a nova cláusula. Lembre-se de que nosso filho não aprova a riqueza. Fica
embaraçado com o dinheiro que a família tem.
— Ele pode mudar de ideia quando descobrir que não herdará coisa alguma se não
arrumar uma esposa — disse Jasper, sentindo-se finalmente otimista. — Tudo bem
zombar da fortuna quando ela está ao alcance da mão e quando não se precisa de
dinheiro. Mas tire-a de perto dele e verá o que Jake pensará do assunto.
Beatrice apenas balançou a cabeça.
— Você nunca compreenderá nosso filho.

Jake Derring estava em sua casinha, perto do campus de Madison da universidade


de Wisconsin. Concentrava-se na elaboração do exame final que daria aos alunos de
meteorologia quando o telefone tocou. Pegou-o no canto da escrivaninha. No mesmo
instante reconheceu a voz do pai.
— Papai! Como estão as coisas em Chicago? A tempestade de neve castigou
muito a cidade?
— Ficou alguns centímetros acima do nível do solo. Mas hoje o dia está claro.
— Ainda frio, porém. Agasalhe-se bastante se tiver que sair e não fique muito
tempo fora de casa. Se não se cuidar, poderá ter hipotermia.
— Ei, quem é o pai aqui? Você ou eu? — rosnou Jasper.
Jake sorriu. O pai tivera o infarto há mais de um ano e a família continuava a tratá-
lo como a uma criança.
— Sinto muito. Sei que mamãe cuida bem de você.
— Posso discernir perfeitamente quando devo colocar um casaco de lã e um
cachecol.
— Só queremos vê-lo bem — respondeu Jake. — Não aja como se eu tivesse
ferido seu orgulho, papai.
— Se quer cuidar de alguém, por que não se casa e tem um filho?
Jake semicerrou os olhos, paciente.
— Talvez algum dia eu faça isso.
— Espero que sim, porque é por esse motivo que estou telefonando. Decidi ligar a
meus filhos para informá-los sobre uma mudança no testamento.
Jake franziu a testa. O que seria aquilo agora?
— Mudança?
— Vou ler-lhe a nova cláusula.
Ele permaneceu em silêncio, à escuta, enquanto o pai fazia a leitura do texto.
Quando assimilou tudo direitinho, recostou-se e soltou um suspiro impaciente.

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— Entende o que isso significa? — indagou Jasper ao terminar.


— Acho que sim. Se eu permanecer solteiro, não recebo minha parte da herança
— Jake respondeu, girando o globo sobre sua mesa.
— Exatamente. — Fez-se um longo silêncio, pois o filho não disse nada.
Finalmente, Jasper prosseguiu: — Bem, o que acha disso?
— Nada.
— O que quer dizer com "nada"?
— Que não me importo nem um pouco com o seu dinheiro — Jake respondeu com
orgulho e irritação. — Portanto, você não pode usá-lo para me ameaçar ou para me
obrigar ao casamento.
— É uma bonita atitude — comentou o pai, irônico.
— Como minha irmã e meus irmãos reagiram?
— Além de você, só telefonei a Charles.
— Imagino que tenha sido uma ligação sem problemas, uma vez que ele já
preencheu o requisito. Está casado há mais de um ano com a mesma mulher —
respondeu Jake com sarcasmo. — Que foi que o maninho falou?
— Simplesmente comentou que ainda vou viver muito.
— Acredito que os outros vão dizer exatamente isso.
— Mas agora estamos falando em você.
— Papai, as cláusulas de seu testamento mudam ao longo do tempo, mas eu
permaneço o mesmo. Estou pensando em dar noventa por cento de minha parte para
financiar pesquisas ambientais. Assim, deserdar-me é tirar dinheiro do conhecimento
científico do mundo do futuro. Espero que isso o ajude a dormir melhor esta noite.
— Veja a coisa por outro ângulo, meu filho. Se encontrar uma esposa, então terá
esse dinheiro e poderá doá-lo à ciência. Os dez por cento que sobrarem serão suficientes
para torná-lo, e a seus filhos, milionários. Isso não fará com que você durma melhor?
Jake olhou para o teto. O pai sempre fora especialista em torcer as coisas para que
ficassem de acordo com seus objetivos.
— Por que é tão importante que todos os seus filhos se casem?
— O casamento é uma instituição estabilizadora, e quero que meus filhos ganhem
maturidade. Desse modo, usarão a herança com sabedoria.
— Pois eu acho que tudo o que você quer é um monte de netos.
A voz de Jasper tornou-se mais autoritária e forte:
— Engano seu. Quero meus filhos estabelecidos e seguros antes que eu vá
embora daqui. Fico preocupado ao lembrar que vocês todos, com exceção de Charles,
ainda estão despreocupados, desorientados e solteiros.
Jake levantou-se, furioso. Não admitia ser chamado de despreocupado e
desorientado, não importava quão frágil fosse a saúde do pai.
— Enquanto você se preocupa com o que vai acontecer a seu dinheiro, sr. Derring,
eu me interesso pelo que poderá ocorrer com a atmosfera da Terra. Meu objetivo é
contribuir o máximo possível para a pesquisa sobre a camada de ozônio e o efeito-estufa.
Existem muitas coisas acontecendo neste planeta para que eu me preocupe com o
casamento e com quem vai herdar os milhões de dólares da família!
— Você sempre coloca as coisas desse modo grandioso?
— Estou pondo o tema numa perspectiva. Para mim, estudar a Terra é o maior
projeto da ciência — respondeu Jake com sarcasmo.
— Nunca se preocupa consigo mesmo?
— Estou feliz com a vida que levo.
— Jamais se sente sozinho?
— Não tenho tempo para isso — retrucou ele, aborrecido com a pergunta do pai. —
Quando este semestre terminar, irei até a Antártida. Faço parte de um grupo de cientistas
que viajarão num avião especialmente equipado para medir os gases atmosféricos e para

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monitorar o buraco na camada de ozônio.


— Grande. Algum desses cientistas é mulher?
Jake suspirou.
— Não sei. Mas acho que não.
— Você não gosta de mulheres?
— Claro que sim! Mas há coisas mais importantes às quais me dedicar, em
especial agora, enquanto sou jovem e tenho capacidade física para aguentar climas duros
e projetos extenuantes. Posso me casar e ter filhos quando estiver com cinquenta anos.
— Cinquenta? — Houve uma longa pausa. — Não estarei mais aqui, e não poderei
ir à cerimônia. — A voz de Jasper soou triste e envelhecida.
Uma pontada de emoção ardeu no peito de Jake.
— Sinto muito, papai, mas não posso planejar minha vida de acordo com seus
desejos. Tenho muito a fazer.
— Quer dizer que salvar o planeta é mais importante do que fazer seu pai feliz?
Jake encostou o cotovelo na mesa e colou a testa numa das mãos.
— Por que você tem de entender as coisas desse jeito?
— Já tentei todas as táticas com você. O sentimento de culpa é minha última
cartada. Você não pode salvar a Terra e casar-se?
— Uma esposa atrapalharia meus projetos. As mulheres gostam de atenção. Além
disso, procurar alguém é gastar um tempo precioso. Na maioria das vezes, são
necessários vários encontros para conhecer uma mulher que esteja interessada em mim
e no que faço, não no dinheiro da minha família. E, mesmo que eu venha a conhecer
alguma que não esteja atrás de fortuna, e que aceite minha peripatética vida, então talvez
seja apenas uma questão de meses, ou anos, para descobrir que somos incompatíveis.
Não pretendo me meter nesse tipo de encrenca. E não quero assumir outras obrigações.
Já me dedico integralmente aos meus alunos e às conferências que tenho feito, sobre os
estudos atmosféricos, à comunidade científica internacional. Não tenho tempo para sair
por aí escolhendo candidatas a esposas. — Jake passou os dedos por entre os cabelos
pretos, procurando palavras que convencessem o pai da importância de seus objetivos de
vida, perguntando-se se algum argumento faria alguma diferença àquele velho teimoso.
Desistiu, e tentou uma abordagem mais leve: — Vamos entender a coisa deste modo: se
quer mesmo me ver casado, por que não procura uma esposa para mim? Não vou perder
tempo com isso.
Fez-se silêncio absoluto por um segundo. Quase sentindo o cérebro do pai
trabalhando, Jake experimentou a desconfortável sensação de que nunca deveria ter dito
aquilo.
Na recepção do casamento de Charles, o irmão lhe contara como o patriarca fora a
extremos para desempenhar seu papel de cupido. Chegara a trancar Charles e Jenny na
loja de departamentos da família, em Chicago, por uma noite inteira, na esperança de que
um finalmente se interessasse pelo outro.
Ao que tudo indicava, tinha conseguido. Jake afirmou a si mesmo que, ali em
Wisconsin, estaria fora do alcance do pai.
— É um bom desafio — disse Jasper por fim, quebrando o silêncio e usando um
tom curiosamente jovem, otimista.
— Ouça, fiz uma brincadeira. Só queria mostrar como minha situação ficaria
impossível caso...
— Nada é impossível para quem deseja realmente alguma coisa. Pode ficar com
seus buracos de ozônio. Eu vou tratar de lhe arrumar uma esposa. É um compromisso
agradável.
— Papai, eu estava só brincando!
Jasper riu.
— Sei disso. Agora pare de se preocupar com o assunto, meu filho. Quando irá à

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Antártida?
— Na próxima semana.
— Quanto tempo ficará lá?
— Duas semanas.
— Bom. Ouça, cuide-se para não ter uma hipotermia, certo? E para não cair nas
garras de algum urso polar.
— Os ursos vivem no Ártico, papai. No Polo norte.
— Ah, sei. E que tipo de animal vive na Antártida?
— Pinguins.
— Perfeito. Gosto deles. Parecem sempre vestidos a caráter para um casamento!
Faça uma boa viagem e ligue-me quando voltar.
— Claro que sim, mas... — Antes que Jake pudesse lembrar mais uma vez o pai de
que estava apenas zombando quando lhe sugerira procurar uma esposa, Jasper desligou.
— Seu grande estúpido! — censurou-se ele. — Por que foi dizer aquilo?
Sentou-se e recostou-se na cadeira. Talvez tivesse reagido de maneira exagerada.
O pai ainda daria telefonemas para o resto da família e sem dúvida receberia um monte
de críticas por causa da cláusula testamentária. Isso o distrairia. Quando terminasse de
falar com os filhos, na certa já teria esquecido da piada de Jake.
Além disso, onde Jasper Derring encontraria uma esposa para o filho? Que outros
tipos conheceria, em Chicago, além de debutantes? Não acharia ninguém que quisesse
aborrecer-se com um meteorologista em Wisconsin. Até mesmo a logística de um
encontro, por causa da distância, apresentaria dificuldades.
Começou a rir. Aquela ideia era mesmo um despropósito.

— Quer sair para jantar, Bea? — Jasper indagou, feliz, correndo para o solário
assim que desligou o telefone.
— Claro — ela respondeu, surpresa. — Como foi sua conversa com Jake?
— Grande!
Bea pareceu ainda mais surpresa. Piscou.
— Funcionou?
— Bem, ele me pediu que lhe arranjasse uma esposa.
— O quê?
Jasper levou dois dedos à testa.
— Palavra de escoteiro como vou achar.
A mulher o observou atentamente.
— Tenho a impressão de que você não está me contando tudo... ---Viu o marido
sorrir e ouviu um resumo da conversa. — Ora, Jake estava apenas brincando.
— Sim, estava. — Fitou-a. — E por que isso iria me deter?
— Jasper!
— Encontrei uma esposa para Charles, não foi? — Juntou as mãos, como numa
prece. — Será um desafio e tanto, mas estou pronto para enfrentá-lo.
— Você não pode estar falando sério. O que o faz pensar que... Como pode
imaginar que nosso filho... Jake não é tão fácil de lidar como Charles, e você sabe disso.
— Serei capaz de cruzar montanhas para conseguir alguém para ele. Primeiro
tenho de garantir-lhe uma esposa. E por isso que pretendo jantar fora. Que tal uma pizza
no Tucci's?
Bea mal podia conter o divertimento. Formaram-se rugas em volta de seus olhos, e
um sorriso quase se desenhou em seus lábios.
— Pizza? É algum tipo de charada?
Jasper assentiu:
— É.

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— Se você está pensando naquela garçonete, Cheri...


— Acertou!
— Mas...
— Sei que ela não foi educada como Jake, mas o fato é que a moça é espirituosa,
tem energia e um excelente coração. Gosto do modo suave como ela diz "sr. Jasper". E
sempre para o que está fazendo para indicar alguma pizza especial para minha dieta.
Posso até vê-la ao lado de Jake...
— Querido...
Ele levantou um dedo, num sinal de admoestação.
— Não diga que a garota não é boa o bastante por causa da profissão que exerce.
Quero que meus filhos se casem com mulheres que conheçam o valor do trabalho duro e
do dinheiro.
— Concordo. Mas, da última vez que estivemos lá, Cheri mencionou que planejava
casar-se. Lembra?
O comentário teve nele o efeito de um soco.
— Lembro. Droga! — Havia se esquecido desse detalhe.
Recostou-se à soleira e baixou a cabeça, momentaneamente vencido. Não gostara
de escutar a moça falar do noivo. Levantou a cabeça.
— Ela já marcou o casamento?
Bea ponderou a pergunta.
— Se não me engano, Cheri me disse que ambos estavam preocupados com os
negócios e que primeiro queriam abrir um café juntos. O casamento viria depois.
— Tenho o mau pressentimento de que ela porá a cabeça a prêmio. Pensei em
alertá-la, mas... não fiz isso. — Coçou o queixo enquanto recordava os detalhes. — Não
pude. Ela ficou muito ocupada por causa de um grupo enorme que chegou e... — Sorriu e
murmurou: — Talvez seja obra do destino. Acho que vou começar a bordar o nome dela
junto ao de Jake, na pintura.
— Pintura? O nome dela? Mas de que você está falando?
— Bem...
Jasper baixou o olhar, ciente de que fora longe demais. Nunca conseguira
esconder nada da esposa por muito tempo.
— Vai me dizer que está pintando outra capa de almofada? Como aquela que fez
para Charles e Jenny antes que os dois ficassem juntos?
Jasper levantou as mãos.
— Preciso iniciar um novo projeto depois que terminar as almofadas de Leslie
Ann...
— Então foi por isso que andou escondendo esse trabalho de mim, certo? E eu
pensando que fosse alguma surpresa para nosso aniversário de casamento! Ouça, só
porque Charles e Jenny se casaram, não significa que todo casal para quem você fizer
uma capa de almofada irá terminar aos pés do altar!
— É o pensamento positivo que move o mundo, querida.
A almofada faz com que a ideia de uma nova união feliz passe a existir no
universo. Os céus, depois, se encarregam do resto... com uma pequena ajuda de minha
parte, claro.
— Eu não queria dizer-lhe isso, mas as pessoas andam comentando que você vem
se tornando excêntrico. E estou começando a acreditar nelas!
— Nunca leve os boatos a sério, meu bem. Podem atrapalhar sua mente e sua
vida. — Suspirou pausadamente e levantou os ombros, com uma expressão saudável e
bem-humorada. — Bem, o que me diz? Faz algumas semanas que não vamos ao Tuccfs.
Por que não damos um pulinho lá, para ver o que Cheri tem feito?
— Escute, se ela estiver de casamento marcado, não tente acabar com o romance
apenas para...

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— Não, não, prometo não ir tão longe. Mas quero ter certeza de que ela ainda não
se casou. Se ainda estiver solteira, será a esposa perfeita para Jake.
Bea balançou a cabeça, em muda resignação.
— Como sabe disso?
— O sobrenome da moça é Weatherwax, que significa "servir ao tempo". Quer algo
mais adequado para a futura esposa de um meteorologista?

Capítulo 2

Na pizzaria, localizada a um quarteirão da rua Rush, Cheri Weatherwax procurava


parecer simpática enquanto saía da cozinha com um prato de pizza à Chicago. Sua conta
bancária estava vazia. Na verdade, sua vida estava vazia. Naquele momento, tudo o que
tinha era o trabalho. Assim, sorria para os clientes e tentava manter-se feliz ao menos
enquanto executava o serviço.
Colocou a forma na mesa e tirou uma mecha rebelde que lhe caíra nos olhos. Os
cabelos castanhos, cortados à altura dos ombros, estavam presos atrás da cabeça por
uma fivela comprida, colocada na vertical. Enquanto manuseava a pesada espátula de
ferro para cortar a massa, sentia que os olhos dos clientes daquela mesa, todos com
cerca de vinte anos, não a deixavam.
Cheri tinha a sorte de possuir um corpo voluptuoso, que outras mulheres
invejavam. Mas preferiria ser mais magra. Costumava usar camisetas largas, para
esconder as curvas. Infelizmente, o avental amarrado na cintura acentuava as formas que
ela preferia ocultar. Odiava o modo como os homens a fitavam. Mas isso acontecia com
tanta frequência que ela chegara a desenvolver um meio de fingir ignorar o fato.
— Serviço de primeira! — disse um dos clientes, com admiração, quando ela
colocou-lhe um pedaço de pizza no prato.
— Obrigada.
— Que mais você faz assim tão bem? — ele perguntou com um sorriso travesso.
Ela deu a resposta de sempre:
— Respiração boca-a-boca.
— Pode me dar uma demonstração? — um dos rapazes indagou, os olhos
brilhando.
— Ah, mas primeiro você precisa estar sufocado. Façamos assim: empurro um
pedaço inteiro de pizza por sua garganta, você se afoga e lhe dou uma demonstração,
certo?
Os jovens riram.
— Em vez disso, que tal nos trazer mais algumas cervejas? — sugeriu outro.
— Rapaz sensato — ela respondeu, afastando-se.
Quando se dirigia ao bar, viu Sam, o gerente, conduzindo um casal idoso a uma
mesa calma, de canto. O cliente usava um chapéu de tweed, enfeitado com uma pluma.
Cheri sorriu ao reconhecer o sr. Jasper e sua esposa, Bea. Gostava muito deles. Eram
simpáticos e a tratavam bem.
Os olhos escuros do velho senhor revelavam energia, e os cabelos brancos lhe
davam dignidade. Não muito alto, parecia ser aposentado. Mencionara, certa vez, ter
sofrido um infarto. A esposa, da altura dele, tinha um corpo esbelto e elegante.
Cheri o viu ajudá-la a tirar o sobretudo. Como sempre, Beatrice vestia-se com bom
gosto. Usava uma blusa branca e saia na altura dos tornozelos.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

— Eu sirvo esta mesa, Sam —- disse Cheri, aproximando-se.


— Seria perfeito — respondeu o sr. Jasper, enquanto Bea dava um de seus
sorrisos francos.
— Está bem, então — concordou Sam, entregando-lhes os cardápios antes de se
afastar. — Bom apetite.
— Olá! Faz tempo que não os vejo! — Cheri sorriu para o casal. — Foi o frio do
inverno que os afastou daqui?
— Na verdade, costumamos ficar em casa quando neva ou faz muito frio —
respondeu Bea. — Mas Jasper insistiu em comer fora esta noite.
Cheri não sabia se Jasper era o nome ou o sobrenome do simpático velhinho. A
esposa sempre o tratava daquela maneira, e ele mesmo lhe pedira que o chamasse
assim. Para ser educada, ela colocava a palavra "senhor" antes do nome. Algo que o
homem parecia apreciar.
— Estou realmente encantada em vê-los. Querem consultar o cardápio ou
preferem o de sempre?
— Para mim, o de sempre, se o cozinheiro não se importar — respondeu Jasper.
— Claro. — Cheri anotou o pedido em sua comanda: sem mussarela, sem
salsichas, sem pimenta, com tomates extra-frescos e cogumelos. — Para você a Chicago
Especial, Bea?
— Sim. Traga também duas saladas e chá de ervas.
— Está bem.
— Você ainda pensa em abrir seu próprio café? — Jasper quis saber.
Cheri forçou um sorriso.
— Não. Essa ideia... não existe mais.
Os olhos escuros do velho fixaram-se nos dela.
— Sinto muito por ter tocado num assunto tão infeliz.
A garçonete riu.
— Não é preciso sentir nada. Minha vida inteira, atualmente, é um assunto infeliz.
— Oh, querida... E quanto aos planos do casamento?
— Também viraram fumaça.
Foi com surpresa que Cheri viu um brilho nos olhos de Jasper. Quase percebeu
neles um traço de alegria.
— Tive a impressão, quando você nos contou seus projetos, de que essa situação
não teria um desfecho exatamente animador — declarou ele, a voz cheia de simpatia. —
Acaso seu jovem noivo tornou-se indigno de confiança?
— Esse é um termo leve para descrevê-lo. Quando estávamos prestes a montar o
bar, ele sugeriu, para tornar mais fácil o setor financeiro, que abríssemos uma conta
conjunta. Como estivéssemos noivos, concordei.
— Oh, não! — comentou o casal, em uníssono, adivinhando o que acontecera.
— Ingenuidade, não acham? Ontem fui ao banco para tirar dinheiro e me
informaram que a conta fora encerrada. Por meu noivo. Que, por coincidência,
desapareceu. Estou quebrada. Meu sonho de abrir o café acabou. Tenho que começar do
zero outra vez.
— Por que confiou tanto nele? Estava apaixonada?
Cheri colocou o caderninho de pedidos sobre a mesa e sopesou as emoções, para
verificar se conseguiria falar naquilo sem que a voz falhasse.
— Ele parecia diferente dos outros. Eu estava acostumada com homens que se
derretiam aos meus pés. No colegial, por exemplo, chegaram a grafitar meu nome na
cantina.
— Oh!
Beatrice pareceu um pouco chocada, e Jasper balançou a cabeça, em sinal de
desagrado.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

— Acreditem, nunca fui uma garota fácil ou vulgar. Depois da história do grafite,
passei a usar roupas muito sérias. Minha autoestima afundou. Meus planos de ir para a
faculdade também. Pensei que houvesse aprendido a lição. O fato de um homem agir
como um cavalheiro não significa que seja um deles. Às vezes, só quer tirar vantagens da
gente.
— Seu... ex-noivo... a tratava com respeito? — indagou Bea.
— Sim. — Cheri deu um longo suspiro. — Foi o primeiro que nunca tentou ir além
de um beijo. Até concordou em esperar que nos casássemos para... para... oh, vocês
sabem. Esse era o meu teste em relação aos homens. Aquele que topasse aguardar até a
noite de núpcias seria confiável. E ele foi o único que concordou com essa condição. Por
isso me apaixonei. Descobri tarde demais que tudo o que o canalha queria eram as
economias de toda a minha vida. Quinze mil dólares, que eu vinha guardando desde a
adolescência, às vezes trabalhando em dois empregos para conseguir fazer a poupança.
— Mas isso é terrível! Há algum meio legal de você conseguir de volta o que é
seu? — quis saber Bea.
— Acredito que não. Afinal, concordei em abrir a conta com ele, que chegou a
depositar alguma coisa também. Conseguimos até um empréstimo junto ao banco.
Quando estávamos prestes a assinar o contrato de compra de um pequeno restaurante,
num subúrbio, ele sumiu com o dinheiro. Não tenho a menor ideia de onde está, nem
possuo um centavo para contratar um detetive ou um advogado que possa localizá-lo.
Tudo o que quero é esquecer este episódio.
— O que pretende fazer? — indagou Jasper.
Cheri deu de ombros.
— Tentar a sorte na loteria. Quem sabe assim eu ganhe um milhão de dólares.
Sabem, nunca mais vou confiar em ninguém. Quer dizer, em homem nenhum. — Sorriu
para o velho. — A única exceção é você. Bem, preciso levar o pedido à cozinha. Volto
mais tarde.
E apressou-se em meio às mesas, cada vez mais cheias. Quando passou pelo
lugar onde se encontravam os rapazes que servira, um deles perguntou:
— Ei, docinho, e a cerveja?
Ela esquecera. Mas odiava ser chamada de "docinho".
— Oh, vocês queriam para hoje?
— Acha que pode consegui-la?
Cheri foi até o bar e voltou com quatro garrafas. Depois seguiu para a cozinha.
Usou seu charme e flertou um pouco com o pizzaiolo, para conseguir que o homem
fizesse uma pizza especial, fora do cardápio, para Jasper. Depois preparou dois pratos de
salada temperada com limão, como o casal gostava, e levou até a mesa, juntamente com
o chá.
— Estou tão aborrecida com o que lhe aconteceu... — disse Bea, com tristeza no
olhar.
— Grata pela solidariedade. Não falei a quase ninguém sobre isso. Não tenho
família e, se contasse o caso para meus colegas do restaurante, suponho que iriam rir de
mim.
— Você mencionou ganhar na loteria, não foi? — atalhou Jasper.
— Sim. Com a sorte que me acompanha atualmente, acho que tiraria a sorte
grande — ela ironizou.
— Bem — continuou ele, dando-lhe um tapinha camarada na mão —, acho que
posso ajudar sua sorte a mudar.
Cheri o encarou com curiosidade.
— Como?
— Em primeiro lugar, deixe-me contar-lhe quem sou. Quando entrei aqui, meses
atrás, disse que meu nome era Jasper. Meu sobrenome é Derring. Soa familiar?

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

Cheri refletiu por um momento.


— Conheço as Lojas Irmãos Derring, na avenida Michigan.
— Isso mesmo! Meu irmão e eu fundamos a empresa há quarenta anos. Meu filho
Charles toca os negócios desde que me aposentei. Sou presidente-honorário agora. Mas,
como cuido dos outros investimentos da família, não estou totalmente parado.
Vários pensamentos cruzaram a mente de Cheri. Aquele homem fundara a Irmãos
Derring? A loja tornara-se uma grande rede, com unidades em quase todos os bairros de
Chicago. Jasper Derring devia ser... inacreditavelmente rico.
Ela começou a se sentir pouco à vontade.
— Sabe, nunca imaginei estar servindo a uma pessoa tão famosa — disse, com
embaraço.
— Não seja tola, querida — censurou-a Bea. — Escovamos os dentes, penteamos
o cabelo e comemos pizza como todo mundo. Não se intimide. E continue a nos tratar por
Bea e Jasper.
Ela deu um riso nervoso.
— Está bem. Vou tentar.
— Minha esposa tem razão. Mas temo que você vá ficar um tanto surpresa com o
que vou lhe propor. Não quer se sentar um pouco? — Jasper indicou a cadeira vazia ao
lado de Bea.
— Não posso. O gerente não aprovaria. E tenho que servir outras mesas...
— Eles podem esperar. Estou em condições de ajudá-la.
— Emprestando dinheiro? Obrigada, mas não poderei pagar.
— Oh, não. Tenho um negócio a propor. Vai lhe render um milhão de dólares, se
concordar.
— Um milhão de dólares? — Atônita, Cheri sentou-se. — Que tipo de negócio?
— Eu lhe darei um milhão de dólares em troca de um casamento de conveniência
com meu filho.
— Casamento de conveniência? — ela repetiu, insegura quanto a ter entendido
direito. — Com o filho que toma conta da loja?
— Não. Com Jake, um meteorologista.
— Um homem do tempo? Como os que aparecem na televisão?
— Não. Um cientista. Dá aulas na universidade de Wisconsin e faz pesquisas
sobre a atmosfera terrestre.
Cheri assentiu lentamente, sentindo-se confusa.
E a que se deve esse casamento de conveniência? Jasper coçou o queixo.
— É que eu fiz algo que talvez não devesse ter feito. Ao menos Beatrice acha isso.
— Fez uma pausa e sorriu para a esposa. — Inseri uma nova cláusula em meu
testamento, estabelecendo que nossos filhos precisam estar casados por no mínimo um
ano, e com a mesma pessoa, para ter direito à herança. Talvez minha saúde precária... —
Interrompeu-se, lançando a Bea um olhar de reconhecimento. — Bem, o desejo de ter
netos me levou a tomar essa medida drástica. Talvez eu esteja enganado, mas gostaria
de testá-la antes de modificar de novo o testamento.
Nada daquilo fazia muito sentido a Cheri, que no entanto continuou ouvindo:
— Nosso filho Jake reclama que é muito ocupado para sair por aí, procurando uma
esposa. Acredito que possa ajudá-lo, mediante um pacto entre você, ele e eu.
— Um pacto? — Cheri repetiu, quase sem fôlego.
— Exatamente. É muito simples. Sou dono de uma ilha em Puget Sound.
— Onde fica isso?
— Na Costa Oeste, perto de Seattle, Washington. Há uma casa lá. Um pouco
rústica, mas charmosa. Planejo enviar meu filho à ilha, para fazer pesquisas, durante um
ano. Também pretendo que ele passe esse ano casado. Se concordar em ser esposa de
Jake por um ano inteiro, eu lhe darei um milhão de dólares. No final desse período, se

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você quiser se separar de meu filho, terá o divórcio. E o dinheiro, claro.


Cheri arregalou os olhos.
— E seu filho vai concordar com essa ideia?
— Espero que veja nisso uma maneira de respeitar o que estabeleci no
testamento. Terá a oportunidade de conhecer o casamento e, mesmo que não dê certo,
herdará sua parte da fortuna.
— Parece um pouco maluco... — comentou ela. Realmente, os ricos costumavam
fazer as coisas de um modo diferente.
— Entendo por que disse isso — interveio Bea. — E concordo com sua opinião, se
quer saber. Mas Jasper é teimoso, e insiste nessa história.
Cheri sentiu-se aliviada ao saber que a mulher concordava com ela.
—Acha que seu filho vai topar?
Jasper deu de ombros.
— Não sei. Ainda não conversei com ele sobre isso. Primeiro gostaria de saber se
você está de acordo. Imagino que, a princípio, Jake vá ter essa mesma reação... a de
achar a ideia maluca. Mas foi ele que me disse que, se eu quisesse vê-lo casado, que lhe
arranjasse uma esposa. Por isso, creio que não deve ficar muito surpreso. Mas talvez
passar um ano na ilha o aborreça.
A palavra esposa chamou a atenção de Cheri.
— Um casamento de conveniência é igual a um casamento normal? Quero dizer, o
marido e a esposa... bem, eles...
— Se está se referindo ao aspecto conjugal, minha cara, saiba que isso está fora
da minha alçada.
— Ainda bem! — murmurou Bea.
Jasper ignorou o comentário irônico.
— O que vocês dois decidirem fazer quando estiverem juntos não é problema meu.
Um novo pensamento invadiu a mente de Cheri. Algo que talvez explicasse toda
aquela história.
— Acaso Jake é... quer dizer... homossexual?
Jasper balançou a cabeça, em negativa.
— Não. Simplesmente está tão interessado em seu trabalho que esquece o resto.
É um cientista dedicado, mais preocupado em salvar o planeta do que em seduzir
mulheres.
— Bem, mas se eu me casar com ele e nada acontecer entre nós, então você não
terá o neto que tanto deseja.
Jasper pareceu ficar um pouco decepcionado.
— Sim, é verdade. Mas ao menos meu filho vai ter a experiência de viver com uma
mulher, e poderá fazer jus à sua parte na herança. A despeito de minha exigência, quero
que meus filhos herdem a fortuna da família. No momento, Jake nem sequer pensa na
possibilidade do casamento, e quero que ele viva esse processo, mesmo que seja apenas
no papel. Será enriquecedor. E, para você, será um meio de conseguir o dinheiro de que
precisa para recomeçar a vida.
Cheri teve de admitir que a última frase soava muitíssimo sedutora. Mas aquela era
uma proposta despropositada demais para ser levada a sério. Casar-se com alguém que
nunca vira? Viver no que parecia uma ilha deserta com essa pessoa? Por um ano inteiro?
— E uma ideia interessante — respondeu, balançando a cabeça devagar. —
Obrigada pela oferta, mas...
Jasper levantou o indicador.
— Não dê sua resposta ainda, por favor. Precisa de um tempo para pensar. Não
tome nenhuma decisão esta noite. Reflita. Faça perguntas, se quiser. Vou dar-lhe meu
número de telefone. Pode me ligar sempre que quiser. Para mim, isso é muito importante.
Sou um homem velho. Leve minha proposta a sério. Lembre-se de que sua conta

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bancária, daqui a um ano, pode ter um milhão de dólares. Você abrirá o tal café sem
problemas. E será sua própria patroa.
Bem, ele sabia ser persuasivo. Usara as palavras certas para manter uma oferta
que ela quase recusara. Na verdade, o que Cheri queria era exatamente isso: ser uma
mulher independente, bem-sucedida nos negócios, sem homens por perto para virar de
novo seu mundo pelo avesso. Um milhão de dólares, na certa, resolveria suas
dificuldades para sempre.
Mas primeiro teria de viver um ano com Jake. E era esse o xis da questão.
— O que acha que seu filho esperará de mim, enquanto estivermos na ilha?
— Provavelmente que você não o aborreça muito — respondeu Jasper.
Parecia o ideal, concluiu Cheri. Caso se tratasse de um casamento platônico, então
talvez não fosse tão ruim.
Naquele momento, o gerente da pizzaria deu-lhe um olhar de advertência. Ela se
levantou de imediato.
— Preciso trabalhar. Voltarei quando a pizza estiver pronta.
— Tudo bem — respondeu Jasper. — Não há pressa.
Cheri parou à mesa dos rapazes e começou a retirar os pratos, distraída.
— Sobremesa?
— O que há para comer? — um deles indagou num tom sugestivo. A cerveja os
deixara mais relaxados.
— Torta na cara de pessoas impertinentes — ela respondeu, aborrecida. Estava
preocupada demais para relevar aquele tipo de brincadeira.
— Que rabugenta! — exclamou outro jovem.
O gerente, que parecia ter visto toda a cena, aproximou-se.
— Algum problema?
— Eles querem, como sobremesa, pratos que não constam do cardápio — ela
explicou, tentando fazer a voz soar bem-humorada.
— O que vocês querem? Torta de limão? De maçã?
— Nada, obrigado — respondeu um deles, pegando a carteira. — Vamos a algum
outro lugar, onde o ambiente seja mais cordial.
Furiosa, Cheri se afastou a passos largos, levando os pratos sujos. Depositou-os
na cozinha e voltou para falar com Sam.
— O que você disse aos rapazes? — quis saber o gerente.
— Que havia torta na cara para os impertinentes. Eles pareciam achar que eu
poderia servir de sobremesa...
— Você pode lidar com gente assim sem ser rude.
— Eles foram rudes comigo. Talvez eu esteja farta desse tipo de piadinha.
— Não tem senso de humor?
— Quando uma mulher é insultada e não gosta disso, por que os homens dizem
que lhes falta senso de humor? Acha que é agradável ser tratada como coisa, não como
pessoa?
— Daqui a pouco você vai querer me dar lições sobre o relacionamento entre os
sexos — disse Sam, irritado. — Se não pode lidar com homens que beberam algumas
cervejas, então deve mudar de profissão. Entendeu o recado?
— Sim.
Outro casal entrava e acomodava-se a uma mesa que Cheri servia. Enquanto
caminhava naquela direção, para anotar os pedidos, ela relanceou o olhar para a porta da
frente, que acidentalmente fora deixada aberta. Dirigiu-se até lá, para fechá-la. Assim que
o fez, percebeu alguma coisa se movendo na neve, junto à calçada.
— Ei, gatinha!
Era uma filhote já meio crescidinha, marrom, que vinha rodeando a pizzaria na
última semana, à procura de comida. Cheri e outra garçonete a alimentavam nos fundos

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do estabelecimento. Quando a bichana a avistou, pulou para perto dela e atravessou a


soleira. Cheri foi atrás. De acordo com a lei, não era permitida a presença de animais em
restaurantes.
Pegou o animalzinho no colo, abraçou-o de maneira protetora e atravessou
rapidamente a pizzaria, rumo à cozinha. Jasper e Bea sorriram ao vê-la. Infelizmente,
Sam também a viu. Olhou para o felino com ar desgostoso.
— Já lhe disse para não aparecer mais com essa gata por aqui! O que ela está
fazendo aqui dentro?
— Correu para dentro do salão antes que eu pudesse detê-la. Está faminta.
— Garota, sei que você trabalha aqui há três anos, mas não pode quebrar as
regras. Não deve sentar-se com os clientes, ser rude com eles ou proteger um gato
faminto.
Se continuar assim, vou ter de demiti-la.
Com lágrimas nos olhos, Cheri correu para a cozinha, colocou a gatinha para fora e
procurou um prato limpo. Pôs nele pedacinhos de queijo, de hambúrguer cozido e sobras
de pizza. Depôs tudo diante da bichana de olhos verdes, que avançou para a comida.
Cheri sentia um afeto verdadeiro pelo animalzinho. Ela e a gata estavam na mesma
situação naquele momento, inseguras quanto ao futuro, sem amigos, sem ninguém com
quem contar.
A cada segundo o milhão de dólares que Jasper lhe oferecera parecia mais e mais
interessante. No entanto, ela sabia que não devia tomar nenhuma decisão precipitada.
Era melhor seguir o conselho do simpático velhinho e refletir melhor sobre o assunto.
Assim, endireitou-se, lavou as mãos e voltou ao trabalho.
Pouco depois, levava a pizza dos Derring para a mesa. Bea pareceu estudar-lhe a
expressão, como se lhe tivesse notado as preocupações.
— Tudo bem com você?
— Oh, sim. Apenas um dia rotineiro, como todos os outros. Francamente, a
sugestão de Jasper, nesse instante, me parece maravilhosa.
Os olhos dele acenderam-se.
— Acha mesmo?
— Mas antes vou pensar nisso, como você disse.
Ele sorriu.
— Claro, claro. Mas fico feliz em saber que você vai considerar a proposta.
— Posso lhe fazer uma pergunta? Por que escolheu a mim? Não fui educada do
modo como ele deve ter sido. Sou apenas uma garçonete.
Jasper inclinou-se para ela.
— Minha cara, você é maravilhosa. Sempre me deu atenção, mesmo sem saber
quem eu era. É honesta, sincera. E quer vencer com seus próprios esforços. Admiro sua
dignidade. Infelizmente, está passando por um momento difícil.
Mas tem muita energia. Não conheço nenhuma outra jovem que possa ser uma
esposa à altura de meu filho.
Lágrimas encheram os olhos de Cheri. Os comentários de Jasper eram
reconfortantes, em especial quando comparados com as coisas que Sam e outros clientes
haviam lhe dito naquela noite. Ela piscou, para espantar o choro.
— Como Jake é?
Jasper relaxou e sorriu.
— Deixe-me ver... Tem cabelos pretos. É mais alto que eu. Bem, todos os meus
filhos são. Usa óculos com frequência. Sempre foi do tipo estudioso.
— Tem alguma foto dele? — pediu Cheri.
Se ia considerar o fato de viver com um estranho por um ano, era importante saber
como ele era. Bea pegou a bolsa.
— Eu tenho. Espere um pouco. — Abriu o zíper e pouco depois apanhava um

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

pequeno álbum. Virando as páginas, estendeu-o a Cheri. — Esta foi batida quando ele
completou vinte e cinco anos. Agora, tem vinte e nove. Quando anos tem você?
— Vinte e três.
Enquanto Bea comentava que seis anos de diferença não era muito tempo, Cheri
estudava a foto. Não podia dizer que Jake era feio. Não gostava daqueles cabelos curtos,
mas os óculos davam-lhe uma aparência charmosa, séria, intelectual. Era muito mais
atraente do que os homens com quem ela costumava lidar, na pizzaria. E parecia bem
mais digno que seu ex-noivo. Mordeu o lábio ao entregar o álbum para Bea.
— Ele é bonito.
Os olhos da mulher brilharam, orgulhosos.
— Jake é um homem especial. Tão inteligente que se tornou doutor aos vinte anos.
Quer salvar o mundo, não pensa muito em si mesmo. Muito altruísta. Você não
encontrará pessoas como ele facilmente.
Cheri sorriu um pouco e inclinou-se para Bea, fingindo ignorar Jasper.
— De mulher para mulher... o que pensa da proposta de seu marido? Quer mesmo
que eu me case com seu filho?
Bea sorriu.
— Eu gostaria que as circunstâncias fossem, digamos, mais... normais. Que vocês
dois tivessem se conhecido e decidido se casar porque se amavam. Não sou como
Jasper. Mas vou falar honestamente, querida. Tenho certeza de que você seria uma
esposa adorável para qualquer um de meus filhos.
Cheri corou ante o cumprimento.
— Obrigada — sussurrou.
— Lembre-se de que só precisará ficar casada durante um ano — Jasper reiterou.
Ela assentiu.
— Vou pensar no assunto. Prometo.
Na certa seu bom senso voltaria no dia seguinte, quando não se sentisse tão
fragilizada pelos últimos acontecimentos. De todo modo, Jasper fora inacreditavelmente
gentil, e por esse motivo ela lhe seria grata para sempre. O mínimo que poderia fazer pelo
velhinho era pensar com carinho em sua proposta.

Capítulo 3

— Como estava a Antártida? — perguntou com um sorriso o dr. Eisler, chefe do


departamento de meteorologia.
— Gelada — respondeu Jake, entrando no escritório. O velho professor de cabelos
brancos levantou-se, e ambos apertaram-se as mãos. — Trouxe um monte de dados. Foi
uma viagem proveitosa.
— É bom tê-lo de volta. Preciso lhe contar algumas novidades. A Fundação
Summerwind de Estudos Atmosféricos, que no ano passado providenciou a verba para a
compra do nosso sistema de computadores, está oferecendo outra doação ao
departamento. Dessa vez, financiará um ano de estudos do microclima das ilhas San
Juan, em Puget Sound.
"Puget Sound?", pensou Jake, em alerta.
— Se a pesquisa for completada em quatorze meses, a partir da data desta carta
— continuou o dr. Eisler, voltando a sentar-se atrás da escrivaninha —, receberemos uma
verba adicional de quinhentos mil dólares, para aplicar onde quisermos. Como você

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mencionou diversas vezes que tem um interesse especial na área, pensei que talvez
pudesse assumir esse estudo.
— Que ótimo! É inacreditável! — Jake sorriu e sentou-se na cadeira em frente ao
dr. Eisler. — É um verdadeiro presente! Sou fascinado pelo microclima da região desde a
adolescência. Viajei para lá com meu pai, anos atrás, quando ele decidiu comprar uma
das ilhotas, como investimento.
— Interessei-me em saber por que o clima das ilhas pode ser seco se elas estão
localizadas numa região chuvosa. Mas que coincidência que essa pesquisa tenha caído
em nossas mãos! — De repente, uma ideia cruzou-lhe o pensamento, e ele começou a se
sentir pouco à vontade. Talvez não fosse coincidência. Hesitou por um momento, e então
fitou o professor. — Alguém da equipe conhece o pessoal da fundação? Você sabe de
onde vem esse dinheiro? Quem decide a que projetos devem ser destinadas as verbas?
O dr. Eisler baixou os olhos.
— É uma fundação relativamente nova. Por isso, não temos muitas informações
sobre ela. — Sorriu. — Mas é um dinheiro bom. Sempre chega na data prometida. E você
sabe: a cavalo dado não se olham os dentes.
A resposta vaga fez aumentar as suspeitas de Jake.
— É mesmo?
O dr. Eisler logo prosseguiu:
— Se você se encarregar dessa pesquisa, terá uma licença especial. E lembre-se
de que isso renderá pontos em seu currículo, além de fornecer dados importantes para
nosso trabalho.
— Sei disso. Vou pensar no assunto.
— Não demore muito para dar a resposta. Se resolver ir para Puget Sound,
precisaremos providenciar alguém para substituí-lo no próximo semestre.
— Esse estudo é assim tão urgente?
— É. Pelo menos foi o que a carta da fundação disse. Talvez precisem dos
resultados para algum projeto importante. Seja como for, não é de nossa conta. Eles vêm
nos ajudando muito. E os quinhentos mil dólares podem pagar nosso novo programa de
treinamento.
— Eu sei. Mesmo assim, preciso pensar no assunto.
Jake se despediu e saiu para o corredor, rumo à sua sala. Aproximou-se da janela
e contemplou os edifícios do campus, construídos em tijolo e pedra.
Não conseguia parar de pensar que a Fundação Summerwind poderia ser invenção
de algum magnata excêntrico. Seu pai, por exemplo. Perguntou-se se a instituição tinha
alguma ilha específica em mente, como a que Jasper comprara anos antes. O pai
acalentara o sonho de transformá-la num hotel de luxo, exclusivo, mas nunca dera o
primeiro passo nessa direção.
Bem, em vez de fazer outras perguntas ao dr. Eisler, ele decidiu cortar caminho.
Pegou o telefone e ligou diretamente para a casa do pai. Foi logo ao ponto:
— Você tem alguma coisa a ver com a pesquisa que foi oferecida a meu
departamento, e que deve ser realizada em Puget Sound?
— Mas que boa notícia! Alguém lhe ofereceu uma dotação? — Jasper comentou
com voz inocente.
— Papai, seja sincero. Tem alguma ligação com a Fundação Summerwind?
— Bem, parece que você descobriu — ele respondeu, em tom divertido.
— Então é verdade?
— Inicialmente, foi ideia de sua mãe. Ela queria ajudar sua carreira, e sugeriu que
fizéssemos algumas doações a seu departamento. Montei a fundação com esse objetivo.
Jake sentiu-se intrigado.
— O dr. Eisler sabe disso?
— Descobriu quando investigou a Summerwind, antes de aceitar a primeira verba.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

Desde então, mantivemos contatos agradáveis por telefone. Quando sugeri a pesquisa
em Puget Sound, nem sequer mencionei seu nome. O dr. Eisler e eu nos entendemos
perfeitamente. Ele aprecia o que a fundação vem fazendo pelo departamento.
"Posso imaginar", pensou Jake.
— Por que, exatamente, você decidiu financiar uma pesquisa meteorológica em
Puget Sound? Pretende ressuscitar a ideia do hotel?
— Oh, não. É que me lembrei de que você se interessa pela ilha desde menino.
— Então tudo o que quer é me fazer feliz?
— Digamos que sim, meu filho.
— Pois tenho a impressão de que existe muito mais por trás dessa história.
— Tem razão. Existe mesmo — Jasper concedeu num tom brincalhão. — Acontece
que encontrei uma esposa para você.
— Oh, não! — Jake prendeu a respiração. — Você ficou maluco!
— Ainda não.
— Eu lhe disse que estava só brincando!
— Mas não devia, porque me deu uma excelente ideia.
— Papai, ninguém neste planeta vai me convencer a ir para o altar.
— Lembre, filho, dos novos termos de meu testamento. Tudo o que você tem a
fazer é permanecer casado por um ano.
— Mas isso é ridículo!
— Por que não experimenta passar a temporada em Puget Sound com sua
esposa? Seriam dois coelhos com uma só cajadada. Você daria uma excelente
contribuição à ciência e o departamento ganharia uma verba adicional de quinhentos mil
dólares. Além, claro, de cumprir o estipulado no testamento. Aí, quando pegar sua parte
na herança, poderá oferecê-la à pesquisa. Veja a coisa por este ângulo. Você estará
prestando um grande benefício à humanidade.
Jake contemplou, pela janela, o campus coberto de neve. Era difícil discutir quando
o pai patrocinava causas tão importantes.
— Isso é suborno. Invasão de privacidade. Você está tentando controlar minha
vida!
— Apenas por um ano.
— Já é muito.
— A garota é sensacional, filho.
— Se for verdade, por que ela concordou em se casar com alguém que não
conhece? — Jake indagou, tentando usar a lógica, algo que vinha faltando a seu pai.
— O fato é que ela tem alguns problemas pessoais para resolver. E eu lhe ofereci
um milhão de dólares.
— Ah, agora estamos chegando ao ponto! Um milhão?
Conheço centenas de mulheres que topariam ficar casadas por um ano, com quem
quer que fosse, por essa quantia!
— Talvez seja verdade. Mas esta jovem é especial. Acredito que você vá querer
dividir uma casa com ela.
— Quer dizer que a moça já concordou?
— Não, ainda não. Pedi-lhe que pensasse a respeito. Ela, no entanto, vai me ligar
para fazer perguntas. Gostaria de obter uma resposta final de meu filho.
Na certa, concluiu Jake, Jasper encontrara-lhe uma pretendente caça-dotes. O pai
talvez a julgasse especial, mas ele... Bem, talvez fosse melhor fazer com que a garota se
expusesse, para mostrar-lhe quão vulgar era.
— Se devo me casar com essa... mulher, por que não me dá o telefone dela?
Assim, poderemos conversar, conhecer um ao outro. É justo, não acha? Afinal, para todos
os efeitos, devo viver um ano com a garota.
Fez-se silêncio por um longo momento.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

— Está bem — concordou Jasper. — Ela me deu o número. Certamente gostará de


falar com você. Tem uma caneta?
Jake tomou nota.
— Obrigado, papai — disse com ironia. — Ligarei agora.
— Não, agora ela está trabalhando. Telefone depois das nove da noite. Ou no
domingo. É seu dia de folga.
Jake ficou perplexo.
— O que ela faz?
— É garçonete.
— Ora, papai! Pode me dizer o que uma garçonete é um meteorologista têm em
comum?
— Vocês dois precisam de um pouco de luz em suas vidas.
Jake fazia ideia do que o pai queria dizer com isso.
— E essa garçonete vai criar as faíscas que acenderão a luz?
— Você não a conhece. Já vi homens salivarem quando ela lhes serve um simples
copo com água.
— É mesmo? — Jake começava a se divertir. — Se a garota é tão desejável, por
que pretende se casar com um professor universitário rabugento, com ou sem o tal milhão
de dólares? Ela provavelmente teria capacidade de seduzir um milionário por conta
própria.
— A moça não é o que você está pensando. Não anda atrás de dinheiro. Tem um
bom coração.
Jake soltou uma risada alta.
— Ah, quer dizer então que essa jovem concorda em ganhar um milhão de dólares,
em troca de um casamento com um estranho, por altruísmo?
— Telefone e converse com ela. Tire suas próprias conclusões.
A admoestação paterna o surpreendeu.
— Tudo bem. Farei isso. Como é o nome dela?
— Cheri Weatherwax.
Jake hesitou depois de anotar o nome.
— Ei, é uma brincadeira? O sobrenome significa "submissa ao tempo"!
— Não é uma brincadeira. E esse mesmo o sobrenome dela. Foi o que me fez
acreditar que Cheri nasceu para você.

Naquela noite, ele sentou-se no sofá de casa, com Dude, o gatinho preto e branco,
enrolado a seus pés. Assistia ao noticiário da televisão, mas sua mente estava longe dali.
Quando os ponteiros do relógio passaram das nove horas, olhou para o telefone. Deveria
ligar para a tal moça?
Às nove e meia, decidiu pôr um fim rápido naquela dúvida. Tirou da carteira o papel
com o número que o pai lhe dera. Enquanto Dude bocejava e alongava o corpo, ele
pegava o aparelho e discava.
— Sim? — respondeu uma voz feminina. Parecia cansada.
— Cheri Weatherwax?
— Ela mesma.
— Quem me deu seu telefone foi meu pai... Jasper Derring.
— Oh, claro. Você está querendo dizer que é...
— Jake Derring.
— Olá. Eles me mostraram uma foto sua. Prazer em conhecê-lo... isto é... em ouvi-
lo.
— Eu gostaria de saber o que você pensa dessa ideia doida de meu pai.
Ela riu.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

— Essa foi minha primeira reação, sabe? Achar a ideia doida, quero dizer. É como
se ele tivesse me pedido para casar às cegas. Não sei... talvez eu esteja maluca, mas a
verdade é que... cada vez mais me sinto disposta a ir adiante.
Jake franziu as sobrancelhas. Não gostou do que ouviu.
— Posso saber por quê?
— Claro que pode. Fico satisfeita pela oportunidade de ter essa conversa. Eu ia
perguntar a Jasper se poderia ligar para você. — Hesitou por um momento. — Acho que
essa ideia começou a me seduzir porque minha vida está uma confusão. Perdi todo o
meu dinheiro. Ou melhor, ele foi roubado.
— Roubado? Mas isso é terrível! — Jake exclamou, relutantemente solidário à
causa da garota.
— Meu noivo... ex-noivo... e eu entramos juntos num negócio. Abrimos uma conta
conjunta no banco. Coloquei ali todas as minhas economias. Poucos dias depois, meu
noiv... ex-noivo sumiu. O dinheiro também.
— E você ia se casar com esse sujeitinho?
— Ia. Ele... se parecia com Brad Pitt.
Jake fez uma careta. Cheri mostrava-se tola e superficial.
— Entendi. Você resolveu levar a sério este casamento de conveniência porque
está em dificuldades. Mas ouça: eu não gosto de Brad Pitt nem de nenhum outro astro de
cinema. Sou um aborrecido professor universitário. Você pode se desapontar comigo.
— Eu sei. Vi sua foto.
"Ela não devia ter concordado tão depressa", pensou ele, desapontado.
— Mas você não me pareceu aborrecido — prosseguiu Cheri. — Jasper me contou
que voltou há pouco da Antártida... Assim, sua vida deve ser emocionante. Além disso, o
casamento não será de verdade. Só por um ano, disse seu pai. Decidi que não pretendo
me casar. Quero permanecer solteira. Assim, a situação não é de todo grave. Só estou
considerando a possibilidade porque esse será um casamento temporário.
— Imagino que a quantia que meu pai lhe prometeu também contribua para tornar
a ideia sedutora, não? —retrucou Jake, decidido a ir logo ao que interessava.
Houve um breve silêncio.
— Bem, discuti isso com Jasper por telefone. Quando ele falou no milhão de
dólares, mal pude acreditar. Claro que me pareceu maravilhoso, em especial para alguém
que, como eu, está quebrada. No entanto, quanto mais penso nisso, mais ansiosa fico.
Tenho medo de fazer algo errado e perder esse dinheiro, assim como perdi minhas
economias. Assim, disse a seu pai que ficaria contente com quinze mil dólares, que foi
exatamente a quantia que meu ex-noivo levou. Isso já me ajudaria a recomeçar. Eu
realmente tenho receio de receber um milhão.
Jake ficou atônito. Sabia que era ilógico, mas o pensamento de valer apenas
quinze mil dólares funcionou como uma espécie de soco em seu ego. Endireitou-se no
assento e procurou manter a dignidade. Ao menos, a recusa da moça em relação à
quantia inicial indicava que ela não era uma mercenária.
— Quer dizer que você topa dar um ano de sua vida por quinze mil dólares? —
perguntou ele, divertido.
— Não vejo as coisas dessa maneira. Já lhe disse, minha vida está uma encrenca.
Não tenho dinheiro. Odeio meu trabalho. Adotei uma gatinha, mas o proprietário do
apartamento onde moro já avisou que não posso ficar com ela. De todo modo, acho que
não vou ter mais como pagar o aluguel. Como vê, um ano inteiro numa bela ilha me
parece maravilhoso. Sinceramente.
Jake sentiu-se novamente solidário à garota. Começava a entender de onde ela
vinha e por que a ideia do casamento a seduzira. Só esperava que fosse uma mulher
atraente.
— Planejo montar um pequeno restaurante, um café — ela prosseguiu. — Era esse

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

o negócio que meu ex-noivo e eu íamos abrir. Eu poderia usar o ano do casamento para
estudar como se administra esse ramo. Talvez fazer alguns cursos por correspondência.
Parei de estudar no colegial, e por isso tenho muito a aprender. Também posso usar esse
tempo para desenvolver um cardápio. Desse modo, viver na ilha se torna cada vez mais
interessante. Quando tudo acabar, terei dinheiro e condições de abrir meu restaurante.
— Você vai precisar de mais de quinze mil dólares para isso.
— Eu sei. Na verdade, seu pai não quer reduzir a quantia.
Insiste em me oferecer um milhão de dólares. Diz que foi o que me prometeu, e
que sempre cumpre suas promessas. — Riu. — Falou também que, por viver com você
durante um ano, mereço um milhão.
— Falou, é? — Jake tentou soar divertido. — Bem, ele pode estar certo. Só penso
no meu trabalho. Fico louco da vida quando me interrompem. E, como você, prefiro a vida
de solteiro.
— Para mim, é ótimo que cada um de nós tenha muito a fazer. Preciso estudar um
bocado, experimentar receitas... Poderíamos viver em quartos separados.
— Não se preocupe — ele respondeu, bem-humorado. — Se formos em frente com
essa história de casamento, teremos nossos próprios aposentos.
— Quer dizer que... — Ela hesitou antes de continuar:
— Bem, então será um relacionamento platônico, certo? Prefiro assim.
— Eu também. Mas temo que a ideia do casamento não me atraia tanto quanto a
você.
— Oh... — Cheri não conseguiu esconder o desapontamento.
— Não gosto do modo como meu pai procura manipular minha vida — explicou,
decidido a ser honesto e direto. — Ele fez uma doação à universidade, para que eu
pudesse passar um ano estudando o microclima das ilhas. Escolheu você para se casar
comigo. Se um dia eu tiver que ir para o altar, será porque quero e com quem desejo, não
porque meu pai decretou que assim fosse.
— Entendo — ela respondeu com simpatia. — Jasper me contou sobre a nova
cláusula no testamento. Mas disse que está procurando ajudá-lo porque realmente deseja
que você herde sua parte.
Jake comprimiu os lábios. O pai a enganara direitinho, assim como procurava
esconder também do filho seus verdadeiros motivos.
— O que Jasper quer mesmo, Cheri, é que nos apaixonemos. Acredita,
aparentemente porque seu sobrenome é Weatherwax, que você seria a esposa perfeita
para alguém como eu. Julga que, se passarmos um ano juntos na ilhota, iremos nos amar
e permanecer casados.
— Oh! — A voz feminina tremeu. — Sabe, eu já imaginava isso. Jasper mencionou
que parte do motivo pelo qual incluiu a nova cláusula é porque deseja mais netos antes
de... bem, antes de partir deste mundo. Então me perguntei: se é assim, por que ele se
satisfaria com apenas um ano de casamento? Não é um bom arranjo para conseguir ser
avô outras vezes. Você acha mesmo que ele espera que, uma vez casados, nós... quer
dizer... gostemos um do outro?
— Exatamente — respondeu Jake, aliviado por ela ter entendido. A moça parecia
confiável. E doce, tinha de admitir.
— Isso significa que seu pai ficará muito desapontado se isso não acontecer...
— Problema dele. O fato é que nunca descobriremos o que aconteceria se
ficássemos juntos, porque não estou disposto a aceitar essa palhaçada.
— Compreendo — ela respondeu. — Afinal, tem sua carreira. Um casamento
atrapalharia sua vida, seu trabalho.
— Não necessariamente — ele admitiu, relutante. — Meu pai armou uma cilada
inteligente. Ofereceu uma verba para uma pesquisa que sempre desejei fazer. De todo
modo, tenho um ano sabático pela frente.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

— O que é isso?
— A cada seis anos, o professor recebe um ano de licença para fazer pesquisas,
escrever artigos para jornais científicos. É como dizem no meio acadêmico: publique ou
morra.
— Entendo. Então, por que pretende deixar a oportunidade passar?
— Porque não aceito ser manipulado.
— Oh, claro. — Cheri suspirou, e o som causou nele um certo estremecimento. —
De todo modo, acho simpático o interesse que seu pai demonstra por você e por seu
futuro. Meu pai abandonou a família quando eu tinha dois anos. Nunca mais deu notícias.
Jamais se incomodou comigo. Parece-me que Jasper é exatamente o oposto. Bem, talvez
seja preocupado em demasia. Mas eu gostaria de ter um pai assim. Ninguém é perfeito,
afinal.
Jake sentiu-se triste por Cheri. Ao que tudo indicava, era do tipo de pessoa a quem
a vida não abençoara.
— E sua mãe?
— Morreu há dois anos.
— Sinto muito.
"Além de doce e ingênua, a garota é órfã!", pensou ele.
— Obrigada. É difícil, porque só ela me compreendia. Me deu o maior apoio
quando, no colégio, tive de enfrentar...um grande problema. Sinto falta dela.
Jake ficou curioso, mas não perguntou qual fora o problema enfrentado por Cheri.
A moça tinha uma voz agradável e uma forma amigável de se expressar. Ele, porém, não
pretendia se envolver em seus dramas pessoais. O comentário acerca de desejar ter um
pai como Jasper o enternecera. Cheri e os Derring deviam admirar-se. Jake quase se
sentiu excluído desse aconchego.
— Acho que vi a oferta de Jasper como um modo de começar de novo e ter um
futuro melhor — ela continuou. — Mas, para você, as coisas são diferentes. Compreendo.
Sua voz soava mais meiga do que nunca. Cheri seria real? Existiria mesmo?
— Você concordaria em viver comigo, um estranho, numa ilhota?
— Bem, terei de procurar um novo apartamento, por causa da gatinha, e encontrar
alguém com quem dividir as despesas da casa. Essa pessoa também será uma estranha.
Eu veria você da mesma maneira... Seríamos como "colegas de casa". Eu faria a comida,
sou boa nisso. Lavaria a louça, a roupa. Se decidíssemos manter o jardim, talvez
pudéssemos dividir as tarefas. Mas na maior parte do tempo você se dedicaria à pesquisa
científica.
Jake passou as mãos no rosto.
— Você quase consegue fazer a ideia parecer boa — disse com bom humor.
— Tive algumas semanas para pensar no assunto. E, quanto mais reflito, mais
percebo que seria uma oportunidade e tanto. Com ou sem o milhão de dólares.
— Mas estaremos sozinhos na ilha. E não me parece que tenhamos muito em
comum. Nossas experiências de vida são completamente diferentes.
— Como garçonete, aprendi a tolerar vários tipos de pessoas. Se você se
comportar como um cavalheiro, não haverá problemas. Talvez ache irritantes alguns
aspectos de minha personalidade. Mas, se me disser o que o incomoda, tentarei mudar
ou ficar fora do seu caminho. Não precisamos nem mesmo fazer as refeições juntos, se
não quisermos. Posso deixar-lhe a comida na mesa e sair. Sou ótima na tarefa de
carregar pratos numa bandeja.
Ele riu.
—É, você realmente faz tudo isso parecer palatável. Desculpe, mas não pretendo ir
adiante.
Ela sorriu.
— Não se esqueça de que isso faria seu pai feliz. E um homem tão gentil, tão

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

amável... Temo que possa ter outro infarto.


Jake não respondeu. Não queria que o sentimento de culpa o influenciasse. Mas
não podia negar que a saúde do pai era precária. E não queria nem pensar na
possibilidade de Jasper morrer infeliz. Se concordasse com o casamento, ao menos ele
não teria mais por que insistir em vê-lo amarrado a alguém.
Outra vantagem seria passar um ano fazendo pesquisas interessantíssimas. Teria
dois pássaros na mão, concluiu. E, precisava reconhecer, seria bom ter alguém por perto
para cuidar da cozinha.
— Ei, você ainda está aí? — Cheri perguntou, preocupada com o silêncio.
— Sim. Estive pensando...
— A ideia começa a lhe parecer melhor?
— Temo que sim — Jake respondeu, perguntando-se o que havia de errado com
ele.
— Não pretendo convencê-lo, mas gostaria que considerasse todos os aspectos do
arranjo. E não se preocupe comigo. Contei parte de minha história para mostrar-lhe por
que esse casamento me seria útil, não para influenciá-lo. Quanto a seu pai, pode estar
manipulando a cena, mas faz isso por amor. Acredita estar agindo para o nosso bem.
— Está bem, então. Vou pensar no assunto.
— Ótimo. Diga-me, como estava a Antártida?
Ele descreveu-lhe a base onde o avião pousara, vindo da Nova Zelândia, e o
equipamento especial lançado na estratosfera para medir os gases.
— Você é corajoso — comentou Cheri. — Eu teria medo de fazer uma coisa
dessas.
O comentário o interessou. Principalmente porque ela era corajosa, sim.
Conseguira sobreviver, apesar das dificuldades, e ainda fora capaz de manter a ternura, a
generosidade. Quanto a Jake, nunca sofrera com a falta de dinheiro ou com a ausência
de um lugar para morar.
— Pois eu acho que você seria capaz de lidar muito bem com aquilo. Com
qualquer coisa, aliás. Saber tratar com meu pai já é um desafio e tanto.
— Oh, Jasper não passa de um ursinho. Só tem tamanho. Eu não sabia que ele
era rico até algumas semanas atrás. Tampouco sabia que seu sobrenome era Derring.
Seus pais mais parecem um casal comum, que sai de casa de vez em quando para
comer pizza.
— Eu achava que meu pai fosse comum. Mas, ultimamente, ele parece andar com
a cabeça nas nuvens. E o que pretende, comendo pizza? Deve manter uma dieta
rigorosa.
— Na primeira vez em que ele foi ao salão, pediu salada. Mas contou-me sobre a
dieta e solicitei ao cozinheiro que tirasse o máximo de gordura da pizza, colocando
somente vegetais. Jasper gostou e agora só pede esse prato.
— Um belo gesto de sua parte. Papai me exaspera, mas mesmo assim quero vê-lo
saudável. Bem, vou pensar mais no assunto do casamento e telefono depois. Acho justo
contar-lhe sobre a decisão antes de falar com meu pai.
— Seja qual for ela, eu o apoiarei.
— Grato pela compreensão — ele respondeu, sincera mente comovido. — Até
logo.

Três dias depois, após pensar no assunto até quase ficar doente, e depois de
suportar sorrisos impacientes e olhares questionadores do dr. Eisler, Jake discou o
número de Cheri.
— Decidi concordar com o casamento — foi logo dizendo, sentindo que, por algum
motivo desconhecido, o ar lhe faltava. — Isto é, se você ainda quiser levar a ideia adiante.

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— Oh, que ótimo! Será a chance de mudar minha vida! Mas sinceramente espero
que também seja um ano muito bom para você. E, quando os doze meses passarem,
voltaremos a ser solteiros.
— Certo — respondeu ele, desejando poder ver a coisa de modo tão positivo
quanto Cheri. — Então, estamos de acordo. Quem telefona a meu pai? Você ou eu?
— Imagino que ele prefira ouvir as novidades do filho. Oh, por falar nisso... Poderei
levar minha gatinha para a ilha?
— Claro. Também levarei o meu gato. Talvez eles se deem bem.
— Você tem um gato? — Ela mal conteve a surpresa. — Como se chama?
— Dude.
— Gostei. Sabe, ainda não decidi que nome dar à minha gatinha. E pequena,
ainda. Nasceu na rua, e ia à pizzaria em busca de comida. O gerente não gostava disso,
e então resolvi trazê-la para casa.
— Se nossos gatos não se entenderem, ela pode ficar fora da casa, então. Dude
não gosta de sair. Dorme a maioria do tempo. Está ficando gordo.
Ela riu.
— Vamos obrigá-lo a uma dieta.
— Isso mesmo — respondeu Jake, inseguro quanto ao que dizer a seguir. —
Combinado. Tenho certeza de que entraremos em contato antes de... de ir para Puget
Sound.
Nervoso, despediu-se e desligou, perguntando-se por que se sentia tão aturdido. Ia
fazer muita gente feliz: Cheri, o dr. Eisler, seu pai. Talvez a grande dificuldade fosse saber
que ele não ficaria tão alegre assim. Mais parecia um tiro no escuro do que um projeto de
pesquisa científica.
Ligou para Jasper.
— Papai? Você venceu.
— Quer dizer que concorda em se casar com Cheri?
— Você fez uma proposta muito boa a nós dois. Não poderíamos recusá-la.
— Que maravilha! Farei todos os arranjos, fique sossegado.
— Não quero uma grande cerimônia. Tive uma longa conversa com Cheri. Nenhum
de nós pretende permanecer casado. Assim, esqueça a igreja, a festa e o bolo.
— Certo. Que tal uma celebração particular na sala de um juiz de paz?
— Tudo bem, mas prefiro um "casamento" sem alarde. Procure algum juiz em
Seattle.
— Você o terá!

Capítulo 4

Cheri observava o ambiente enquanto Jasper a conduzia para uma das salas do
palácio da Justiça de Seattle. Um tapete enorme cobria o carpete. Um tecido pomposo
cobria a escrivaninha. As paredes haviam sido parcialmente repintadas. A antiga cor
marfim fora substituída por um pálido tom de azul. As janelas amplas estavam abertas.
Fazia frio ali. Cheri fechou o zíper do casaco.
Jasper a acompanhara desde Chicago. Ela nunca visitara Seattle. Bea, que não
gostava de voar, ficara em casa. Deixaram a gatinha, sedada, com o pessoal da
companhia aérea.
— Esta é a sala do juiz? — ela sussurrou.

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O velho parecia abatido enquanto contemplava o lugar. Finalmente, um homem


calvo, aparentando quarenta e cinco anos e vestido com um terno sofisticado, entrou.
— Jasper Derring? — indagou com um sorriso.
— Juiz Akins? Prazer em conhecê-lo. — Apertaram-se as mãos. — Houve algum
engano em relação à data da cerimônia?
— Desculpe. Os pintores deviam ter terminado o trabalho ontem. Mas houve um
atraso, e por isso estão aqui hoje. Mas isso não afetará o aspecto legal do casamento —
brincou. — Esta é a noiva?
Cheri sorriu enquanto o juiz lhe estendia a mão.
— Sim, sou Cheri Weatherwax.
— Não por muito tempo — o homem atalhou. — E onde está o noivo? A menos
que... Será que me enganei? Você vai se casar com Jasper Derring?
— Claro que não! — o velho respondeu, irritado. — O noivo é meu filho. Seu avião
deve ter pousado meia hora depois do nosso. Paramos no caminho, para almoçar.
Imaginei que ele fosse chegar na nossa frente.
— Talvez o rapaz esteja preso no trânsito — supôs Akins. — Os pintores vão voltar
a trabalhar à uma hora. Devo estar na corte à uma e meia. Espero que até lá seu filho já
tenha chegado.
— Se isso não acontecer, torcerei o pescoço dele!
Alguns minutos mais tarde, um homem alto, de cabelos pretos e óculos, entrou na
sala. Quando Jasper foi cumprimentá-lo, recuou um pouco.
— Onde diabos você se meteu? — perguntou ele.
— Não consegui um voo direto. Tive de pegar dois aviões, e um deles atrasou —
Jake explicou, limpando as gotas de chuva dos óculos com a ponta da capa. Usava um
suéter preto sobre a camisa. — Para completar, o táxi ficou parado no trânsito.
— Exatamente como pensei — disse o juiz, sorrindo, enquanto apertava a mão de
Jake. — Meu nome é Akins. Desculpe ter que apressá-lo, mas os pintores vão voltar
daqui a pouco. Bem, o noivo e a noiva já se encontram aqui. E as testemunhas?
— Eu lhe pedi para providenciar isso — Jasper lembrou ao homem. — Você deve
ter um ajudante, uma secretária...
— Estão almoçando. Esqueci desse detalhe. — Enquanto o juiz coçava a cabeça,
buscando uma solução, dois rapazes com a roupa toda manchada de tinta entraram na
sala. — Que sorte! Talvez eles possam servir como testemunhas. — Foi até ambos, para
conversar.
Cheri olhou para Jasper, que continuava impaciente, e para Jake, que parecia
confuso com tudo aquilo. Mas captou-lhe o olhar e sua expressão mudou. Ao que tudo
indicava, só agora se dava conta de quem era ela. Aproximou-se.
— Cheri?
— Jake? — ela respondeu com um sorriso de hesitação. — Ambos sorriram. — As
coisas não saíram exatamente como Jasper planejara — sussurrou. — O juiz parece ter
feito alguma confusão.
Jake balançou a cabeça, rindo baixinho.
— Pensei em vestir um terno. Ainda bem que não o fiz — Encarou Cheri, os olhos
escuros avaliando-lhe os traços.
— Ainda bem — ela respondeu. — Do contrário, ficaria manchado de tinta...
— Tudo acertado! — exclamou o juiz, voltando para perto deles com os dois
pintores. — Temos nossas testemunhas. Agora podemos dar início à cerimônia.
Cheri mordeu um lábio enquanto Jasper entregava a Akins a licença de casamento.
Os resultados dos exames de sangue dos noivos já haviam seguido para Seattle. Cada
um, separadamente, assinara a licença. Ela viu Jasper retirar um anel do paletó e
entregá-lo ao filho.
O juiz tirou um livrinho de uma prateleira e pediu aos noivos que ficassem em pé à

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sua frente. Jasper e os dois pintores postaram-se ao lado. Antes que Cheri pudesse
perceber o que estava acontecendo, ouviu-se repetindo os votos do matrimônio, e
escutou Jake fazer o mesmo. Não o fitou uma única vez, nem reparou nos olhares de
soslaio que ele lhe lançava. As palavras "até que a morte os separe" ainda ecoavam em
seus ouvidos quando o juiz sorriu e proclamou:
— Pelo poder que me foi conferido pelo Estado de Washington, eu os declaro
marido e mulher.
Cheri tentou sorrir. Encarou Jake pela primeira vez. Ele apresentava um sorriso
vago.
— Podem se beijar agora — disse o juiz Akins, estudando-os com ar divertido.
A expressão de Jake mudou. Suas sobrancelhas se uniram de modo sombrio. Era
como se estivesse farto da situação. Cheri sentiu-se embaraçada.
— Talvez mais tarde — respondeu ao juiz.
— Certo. Afinal, o casamento é de vocês — tornou Akins. — Meus parabéns. —
Depois de cumprimentá-los, tirou do bolso dois broches de campanha e os entregou. —
Por falar nisso, este ano tentarei me reeleger. Preciso de seus votos! Espero que se
lembrem de mim no dia da eleição! — discursou, aparentemente esquecido de onde se
encontrava. Consultou o relógio. — Tenho de ir. Podem ficar mais alguns minutos, se
quiserem. Apenas fiquem fora do caminho dos pintores.
Apertou a mão de Jasper e saiu da sala.
Enquanto guardava o broche dentro da bolsa, Cheri sentiu uma pontada
desagradável no peito. Pela expressão de Jake, podia apostar como ele se sentia do
mesmo modo, ou pior. Observou-o colocar a peça de campanha sobre a mesa da sala.
Jasper os fitou.
— Bem, acabou-se. Tenho um presentinho para vocês — anunciou, caminhando
até um nicho entre a estante e a porta, onde colocara sua maleta.
— Mas os broches do juiz já foram tão especiais... — zombou Jake, e seus olhos
adquiriram mais malícia ao fitar o pai. — Eu lhe disse que não queria presentes, papai.
— Oh, não é nada importante. Só uma pequena lembrança. Bea a embrulhou. —
Deu a Cheri um pacote de papel branco, amarrado com fita prateada. — Este eu mesmo
fiz, especialmente para você. Abra.
Ela sorriu ao pegar o presente, que pesava muito pouco. Jasper parecia tão feliz
que seria terrível desapontá-lo. Cheri abriu o embrulho rapidamente, tentando parecer
ansiosa, curiosa. Ao tirar o papel, surpreendeu-se ao encontrar uma belíssima almofada,
coberta de renda feita a mão. Um coração, formado por flores multicoloridas, fora bordado
sobre o tecido. Dentro dele havia seu nome e o de Jake, bem como a data da cerimônia.
— Obrigada — disse Cheri, comovida. — É lindo. Foi você mesmo quem fez?
— Sim, enquanto me recuperava. Espero que as cores combinem com sua mobília.
— Tenho certeza de que ficará bom com qualquer tipo de decoração — murmurou
Cheri.
— Quanta atenção, papai.
A voz de Jake tinha um acento nada amigável. Cheri perguntou-se por que ele
reagia daquela maneira.
— Vamos sair daqui. Temos de tomar nossos aviões.
No aeroporto de Seattle, uma hora depois, Jake ainda parecia furioso e tinha
dificuldade até mesmo em dizer até-logo ao pai, que voltaria a Chicago. Cheri, por sua
vez, deu em seu sogro temporário um abraço terno.
Depois que o avião de Jasper levantou voo, ela e Jake caminharam, para outra
seção do aeroporto, a fim de tomar o jatinho particular que Jasper providenciara e que os
levaria até Anacortes.
A almofada lembrara a Jake uma história que seu irmão Charlie contara durante a
recepção de seu casamento com Jenny, sobre uma outra almofada de renda que o pai

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confeccionara para ambos. A Jake o presente parecera apenas uma curiosidade, talvez
uma excentricidade, até o momento em que Charlie lhe explicara que Jasper bordara seu
nome e o de Jenny muito antes de os dois pensarem em se casar.
— Você está... preocupado com o casamento? — Cheri perguntou num tom tímido,
meio hesitante.
Jake percebeu então que praticamente se esquecera de que ela se encontrava a
seu lado, tão envolvido estava com a própria raiva.
— Bem, digamos que não foi a melhor experiência de minha vida — ele respondeu
num tom seco, tentando demonstrar um pouco de humor.
— Eu sei. Sabe, senti até um mal-estar durante a cerimônia. Talvez por causa do
cigarro dos pintores.
A observação fez Jake rir.
— A cena toda mais pareceu uma comédia de pastelão, filme de o Gordo e o
Magro. Fiquei surpreso por nada ter caído e acertado a cabeça de alguém.
Cheri também começou a rir.
— E o juiz, tentando cabalar votos para a próxima eleição? Espero nunca mais
tornar a vê-lo. — Fez uma pausa momentânea. — Mas nada disso aconteceu por culpa
dele. Talvez eu tenha me sentido mal porque me senti desonesta ao dizer os votos... "até
que a morte nos separe" e tudo o mais.
— Não fique assim. Olhe as coisas de outro modo. Esse casamento nunca será
consumado. Jamais vai ser real, e assim os votos não valerão para nada. Poderemos
anular o compromisso quando este ano terminar, e então será como se ele nunca
houvesse acontecido. Então, por que não começar a fingir, agora, que ele jamais existiu?
Procure convencer-se de que faz parte de uma comédia que você um dia viu no cinema e
da qual não pode se lembrar.
Cheri o fitou e sorriu. Tinha um sorriso lindo, que fazia os olhos ganharem brilho.
Jake notou que eles eram de um radiante azul-claro.
— Parece uma boa ideia — ela respondeu. — Não devo me preocupar com um
casamento de mentira. Sua sugestão faz sentido. Obrigada por pensar assim. — Admirou
a almofada, em suas mãos. — Pobre Jasper... Queria tanto que as coisas fossem
diferentes...
— Pobre Jasper? Ele pretende fazer mais por seu maldito sonho do que podemos
imaginar. Prometeu, por exemplo, nos visitar de tempos em tempos.
— Apenas para o jantar — Cheri interveio. — E eu não me importo.
— Ele vai é nos vigiar. Ver como estamos indo.
— Por mim, tudo bem. Nós dois estaremos trabalhando duro.
— Mas não é com o trabalho que ele estará preocupado!
— Oh! — Cheri pareceu encabulada quando percebeu o que Jake queria dizer. —
Ele espera que trabalhemos na... concepção de um filho.
— Só espero que papai não me apareça com outras almofadas, com os nomes de
crianças bordados nelas...
Cheri franziu as sobrancelhas.
— Na sala do juiz, você pareceu aborrecido com o presente que seu pai nos deu.
Por acaso almofadas cobertas de renda têm algum significado especial em sua família?
— Antes, não — respondeu Jake. — Agora, sim. — E contou-lhe sobre o que
acontecera a seu irmão Charlie.
— O quê? Uma almofada-vodu? — Cheri exclamou, dando uma gargalhada. — E a
coisa mais engraçada que já ouvi! Oh, o fato de ele ter dado presentes iguais para você e
para seu irmão foi apenas coincidência. Não pode levar a sério. Principalmente por ser
um cientista.
O tom divertido fez com que Jake se desse conta de que exagerara mesmo.
Começou a rir.

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— Obrigado por dizer isso. Agora eu me sinto melhor. — Deu-lhe um olhar de


aprovação. — Quer saber de uma coisa? Você é ótima. Acho que seremos bons
companheiros.
— Concordo.
Alguém tocou o ombro de Jake, que se voltou e viu um homem uniformizado.
— Sr. Derring? O jato já está pronto. Pronto para partir?
— Você manda! — disse Jake, sentindo-se bem-disposto pela primeira vez desde
que aquilo tudo começara.
O curto voo até o pequeno aeroporto de Anacortes foi tranquilo. Cheri nunca
estivera num jato particular, e passou a viagem toda grudada à janela.
Quando desembarcaram e entraram no veículo que os levaria até o hidroavião,
outro piloto se aproximou.
— Sr. Derring? Sou Ken Pulsifer, mas todos me chamam de Pulse. Já voei com
seu pai dezenas de vezes. — Estendeu a mão. — Prazer em conhecê-lo.
Jake respondeu ao cumprimento.
— Papai me contou que você trabalhou durante anos com os Miller.
— Verdade. Um casal bem simpático. Elsie sempre me dá um pedaço de torta feita
em casa.
O rapaz, que parecia ter cerca de quarenta anos, tinha um rosto bonito. Usava
jaqueta de couro e um lenço branco em volta do pescoço.
— Quem são os Miller? — Cheri quis saber.
Pela primeira vez desde que a conversa tivera início, os dois homens a fitaram.
Imediatamente, os olhos do piloto brilharam, demonstrando interesse.
— Os Miller foram caseiros da casa que meu pai construiu na ilha — Jake explicou.
— Decidiram se aposentar e ir viver na cidade.
— Vou trazê-los para cá quando voltar da ilha — completou o piloto, e estendeu a
mão para Cheri. — Sou Pulse. E você?
— Cheri Weatherwax — ela respondeu, apertando-lhe a mão.
— Prazer em conhecê-la. É bom ver um rosto bonito por aqui! Jasper Derring me
orientou a levar mantimentos à ilha todas as semanas. Assim, você me verá sempre.
— Ótimo — Cheri disse, retirando a mão que o piloto começara a afagar. — Farei o
possível para lhe dar tortas caseiras em cada ocasião.
— Na verdade, o nome dela agora é Cheri Derring — Jake interveio, um tanto
friamente.
— Vocês são recém-casados? — perguntou Pulse.
— Casamo-nos há cerca de duas horas. Desse modo, acho que você pode dizer
que somos recém-casados — explicou Cheri, incapaz de evitar um estranho sarcasmo na
voz.
O piloto assentiu, ainda a encarando, como se sentisse que havia algo de incomum
naquela situação.
— Podemos ir para a ilha? — Jake sugeriu, impaciente.
— Claro!
Logo sobrevoavam Puget Sound, em direção às ilhas que se viam mais adiante.
Não demorou muito para que a chuva parasse e o sol retornasse.
— O tempo sempre melhora quando se voa para as ilhas — Pulse comentou com
Cheri, a voz soando acima do barulho do motor.
— Jake está aqui exatamente para estudar o clima — ela respondeu. — É
meteorologista.
— Então vocês dois terão uma lua de mel idílica e longa.
Cheri captou o termo lua de mel e começou a sentir calor.
— Espero que sim — murmurou.
— Você espera? — O piloto sorriu. — Pois saiba que está indo ao lugar ideal. Pode

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ficar nua na praia. Não verá ninguém. Pode fazer aquilo em todos os locais, a qualquer
momento. Por aquilo ele se referia, evidentemente, a sexo.
— Duvido que tenhamos tempo para praticar nudismo, Sr. Pulsifer.
— Pulse, por favor. Todo mundo me chama assim. Sabe por quê?
— Porque é uma abreviação de seu sobrenome.
— Exato. Mas também porque reflete minha personalidade. Sou um cara impulsivo.
Meu pulso começa a acelerar sob... certas circunstâncias.
Cheri se sentia cada vez menos à vontade com a conversa. Voltou-se e olhou para
Jake, que admirava as nuvens e aparentemente não ouvira nada. Um pouco aborrecida
com aquela indiferença, ela se virou para a frente. Como começasse a suar, abriu o
blazer.
Sentiu que o olhar de Pulse a devorava e o encarou. Ele fitava-lhe diretamente os
seios, apesar de a blusa vitoriana ter pescoço alto. Mas o laço de seda descia pela curva
generosa, chamando a atenção.
O piloto a estudou como se a estivesse vendo num top. Cheri depressa fechou o
blazer, com uma expressão enfezada. Mas nem esse recado óbvio pareceu aborrecer
Pulse.
— Você é uma garota e tanto! Caso se chateie na ilha, me avise. Posso mostrar-
lhe lugares maravilhosos enquanto seu marido trabalha.
— Não terei tempo para excursões — ela respondeu num tom firme e penetrante.
— Também tenho muito trabalho a fazer.
— Algo errado? — indagou Jake, ao notar-lhe a voz alterada. Antes que ela
pudesse responder, Pulse disse baixinho, só para Jake ouvir:
— Não há nada errado. Estou apenas tentando conversar com sua noiva. — O tom
era brincalhão e amigável.
Cheri virou-se e deu a Jake um olhar significativo, tentando demonstrar sua
insatisfação.
Ele percebeu-lhe a expressão zangada, mas não pareceu saber o que fazer com
isso. Deu de ombros e balançou a cabeça, como quem pergunta "que você quer de mim?"
Desanimada, Cheri olhou de novo para a frente. Procurou acalmar-se e lembrou a
si mesma que Jake, ao que tudo indicava, não ouvira a insinuante conversa do piloto.
Felizmente, chegaram à ilha menos de dez minutos depois. O hidroavião baixou à
água, parando junto ao píer.
Todos desceram. Cheri pôde ver uma pequena e rústica casa de madeira por entre
os pinheiros. Um caminho de pedras levava até a construção. De repente a porta se abriu
e um casal de cabelos brancos desceu para o píer.
Abe e Elsie Miller apresentaram-se, levando Cheri e Jake para a casa. Pulse ficou
do lado de fora, descansando num banco, deliciando-se com um pedaço de torta que a
velhinha lhe dera.
Depois de mostrar aos recém-casados a construção de dois quartos, com uma
ampla cozinha e uma sala aconchegante, Abe conduziu Jake para o jardim. Elsie
permaneceu lá dentro, conversando com Cheri.
— Às vezes a secadora fica superaquecida. Por isso, nos dias bonitos, levo a
roupa para fora — disse a senhora baixinha e esperta. — Há um varal nos fundos, que vai
da casa até uma das árvores. Quanto ao fogão, os acendedores nem sempre funcionam.
Então você terá de usar fósforos. Pulse trouxe-nos um forno novo.
— Ele gosta de você — comentou Cheri, curiosa para saber o ponto de vista de
Elsie sobre o piloto. — Disse que sempre ganhava um pedaço de torta caseira...
— Oh, sim. A de framboesa é a sua favorita.
— Ele é... de confiança?
— De muita confiança. Há outra coisa que você precisa saber. Existem um
armazém e uma loja de informática em Anacortes. Você pode fazer seus pedidos por

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

telefone, e eles os mandam a Pulse, nas docas. Então ele vem até aqui.
Também há um arranjo com o correio. Pulse costuma vir às segundas-feiras, mas,
se vocês precisarem, pode vir em outros dias da semana.
— O que ele faz? Como vive?
— Trabalha por conta própria. Foi empregado de Jasper Derring durante anos.
Hoje, também costuma levar os turistas a sobrevoar Puget Sound e as montanhas.
— Entendo. — Decidiu mudar de assunto — Ouvi dizer que vão se mudar da ilha.
Espero que não esteja pensando que vamos segui-los.
Elsie balançou a cabeça.
— Não. De modo algum. Me senti aliviada ao ouvir quando Jasper telefonou para
nos contar do filho e a esposa virem morar na ilha. Preocupou-se em pedir para mudar
após 12 anos morando aqui. Mas lhe dissemos para nos chamar quando quisesse. Abe
completou setenta e cinco anos e achamos que estava na hora de nos mudarmos para a
cidade. Na idade dela não é muito prudente morar num lugar isolado. Nunca se sabe
quais problemas de saúde podem surgir.
— Pode nos visitar quando quiser.
— Obrigada. Se sentirmos muitas saudades, iremos. Assim que chegarmos na
casa nova lhe telefonaremos. Poderá nos perguntar qualquer coisa sobre como cuidar
daqui da horta e da casa.
Foi até o balcão, onde já preparava um guisado.
— A propósito, tomei a liberdade de preparar um jantar para vocês. Imagino que se
encontram cansados após tantas horas de voo. E começar a cozinhar num lugar novo é
estranho. Logo após às cinco e meia estará pronto.
— É muito amável de sua parte. — Cheri agradeceu pela atenção dispensada. —
Estava mesmo perdida sem saber o que preparar para o jantar.
Menos de uma hora depois, Abe e Elsie já queriam partir para chegar antes do
escurecer. Jake e Cheri acenaram-lhes ao vê-las partir no hidroavião com Pulse.
— São muito simpáticas, não acha? — indagou Cheri.
— Muito — concordou Jake. — Mas vamos dar uma olhada nos nossos gatinhos.
Talvez estejam adormecidos após a medicação.
Voltaram para a casa e abriram os carregadores na sala. Os gatos de Jake e de
Cheri estavam acordados. Percebia-se ainda a sonolência e a letargia dos pobres
bichinhos. Depois de agradá-los e mimá-los, decidiram deixar os bichanos dentro dos
carregadores com as portas abertas. Assim, poderiam sair na hora que quisessem. A
tigela foi enchida de água e a ração que tirada da bagagem.
— Muito bom. Uso a mesma ração para alimentar Dude. Espero que quando
estiverem realmente alertas, não se odeiem ao se verem.
— Temos que esperar para ver.

Capítulo 5

Enquanto o bolo esfriava em cima do balcão, Cheri observou que a horta recém
plantada encontrava-se vazia. Sentiu-se um pouco aborrecida por não ver Jake. Mas, em
seguida, lembrou-se de que não devia se preocupar. Cerca de uma hora antes vira-o
trabalhando sem camisa, e notara, surpresa, a forma física perfeita.
Acostumada à aparência tranquila, atenciosa e reservada do cientista, sempre
vestido de modo conservador, ficara surpresa. Jake parecia outra pessoa. Passava a
sensação de alguém vigoroso e forte. Ombros largos, quadris estreitos, peito coberto de

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pelos escuros, braços musculosos e rijos...


Não imaginava que professores ou cientistas pudessem ter uma aparência física
tão interessante. Até mesmo os óculos, que não se enquadravam bem em seu rosto,
davam-lhe um charme especial quando estava de peito nu. Acentuava-lhe a simplicidade
e dava-lhe alguma semelhança com o Super-homem, o famoso Clark Kent.
A gatinha marrom pulou sobre a mesa próxima da janela. Cheri a pegou e
acariciou-a. Ouviu-a ronronar. Então deu-se conta que ainda não lhe tinha dado um nome.
Pensou em chamá-la de Marronzinha, mas lhe pareceu muito comum. Cogitou em Theia,
Serena ou Dachia. Mas nenhum desses nomes combinava com a gata.
Caminhou até a pia para contemplar as montanhas. Estava anoitecendo e o céu
tingia-se de um tom rosado. A gata pulou para o chão e fixou os olhos verdes em algo no
céu.
Cheri acompanhou-lhe o movimento e, quando avistou o estranho objeto, gelou. De
cor branca, arredondado e um tanto grande, pairava no ar, girando de um lado para outro.
Nenhuma aeronave que vira parecia-se com aquilo.
— Jake! — gritou, enquanto corria para fora da casa, em pânico. — Jake!
Não houve resposta. Procurou-o por todos os cantos, e nada. Quando se
aproximou da cozinha novamente, quase tropeçou numa figura alta, que surgiu de
repente. Assustada, reagiu com um grito.
— Q que foi? — perguntou Jake. — Qual é o problema?
— É você? — perguntou ela, as pernas fraquejando. — Pensei... Senti medo... —
Riu de si mesma. Mas aí lembrou-se do objeto. — Jake, há um disco voador sobre a ilha!
— Um o quê?
— Um disco voador! Tem forma arredondada e é branco. Não exatamente como
um disco. Mas está se aproximando da casa.
Ele começou a rir.
— É mesmo?
— Verdade! Eu vi!
— O "disco voador" é, na verdade, um balão meteorológico. Fui até o topo do
morro e o soltei. Carrega uma caixa de metal com instrumentos que transmitem, pelo
rádio, algumas informações sobre temperatura, umidade do ar, pressão atmosférica e
velocidade do vento.
— Um balão? Mas era grande e movia-se lateralmente, como um ONVI!
— Um balão meteorológico é grande. E o vento o empurra de um lado para outro.
Venha comigo. Vou mostrar como acontece. — Conduziu-a para os fundos da casa e
apontou para o céu. — Lá vai ele. Flutua até seis mil metros de altura. Logo vai ficar
quase invisível. — Olhou Cheri por um segundo. — Tudo bem agora? Desculpe, eu devia
tê-la avisado. Enviarei balões meteorológicos duas vezes por dia.
Faz parte do meu estudo sobre o microclima.
— Agora estou bem, obrigada.
— Está esfriando. — Lançou um olhar rápido para as roupas de Cheri. — Deve
estar com frio... Vista algo mais quente, senão vai pegar um resfriado — sugeriu,
retornando a casa.
Ao chegar, foi até o canto da sala, onde mantinha uma estação de trabalho. Cheri
vestiu uma malha cor-de-rosa e voltou para a cozinha. Colocou glacê no bolo recém-saído
do forno.
Uma hora mais tarde, chamou Jake para jantar.
O marido vestia uma camiseta, calça de tweed e um pulôver bem folgado. Exalava
a colônia de banho.
Sentou-se. Cheri colocou o frango assado sobre a mesa e acomodou-se na
cadeira. Naquele momento, a gata pulou sobre o tampo.
— Não, gatinha. — Ela apanhou o animalzinho e o acariciou. — Desça, docinho.

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— Parece que a bichana vai aprender muito, se você continuar a falar nesse tom —
observou Jake, desaprovando a atitude da esposa.
— O que quer dizer?
— "Desce, docinho"... — disse, imitando-a. — Esse jeito não funciona. Parece
encorajar a gata em vez de ensiná-la. Ela entenderá o "não" como um "vá em frente,
sirva-se à vontade".
Cheri colocou a gata no chão.
— Acho que gritar ou bater o jornal no pobre animal também não ajuda.
— Não é necessário fazer isso. Mas precisa falar com firmeza. Nunca viu Dude
pular sobre a mesa, viu?
Cheri ficou sem graça.
— Ele é muito gordo para isso. Mas, já que vai me ensinar disciplina, diga-me...
Que método usa para obrigar Dude a seguir uma dieta?
Jake suspirou.
— Certo. Dessa vez você venceu. Bem, não pretende cortar este frango? Ou posso
arrancar a coxa?
"Que mau humor!", pensou ela enquanto servia a ambos.
— Aqui está.
Ele colocou os óculos sobre a mesa, como sempre fazia antes das refeições. Até
aquele momento Cheri não se incomodara com o gesto, mas naquele instante irritou-se.
— Por que sempre tira os óculos quando vai comer? O frango que preparei não lhe
parece apetitoso?
Ele pareceu surpreso.
—Tiro os óculos para comer porque sou míope. Posso ver o prato sem usá-los.
Eles me ajudam a ver a distância, mas atrapalham a visão de perto.
— A que distância consegue enxergar sem os óculos? Pode me ver aqui, do outro
lado da mesa?
Jake fitou-a de modo penetrante.
— Sim, posso, porque a mesa é pequena. Mas não tente fazer nada só por achar
que eu não vou enxergá-la.
— O que acha que eu poderia fazer? — perguntou ela, brincando.
— Muita coisa. Esse seu jeito travesso não me engana.
— Jeito travesso? Eu?
— Muitas vezes me tira do sério.
Cheri riu.
— E o que mais?
Jake mudou de assunto, disfarçando o constrangimento.
—Como está seu curso por correspondência?
— Já li o primeiro capítulo e comecei a fazer os exercícios do caderno de
atividades. Conheço contabilidade básica, então fui em frente. Mas aí apareceram
algumas dificuldades.
— Faça um capítulo de cada vez. Não tente pular etapas.
— É bom em matemática?
— Sempre fui.
— Se eu tiver problemas, pode me ajudar?
— Somente se for absolutamente necessário. Deve aprender sozinha.
— Certo — concordou ela, embaraçada. — Desculpe.
Jake continuou comendo em silêncio. A tensão crescia, e Cheri não sabia por quê.
Após um longo silêncio, recomeçou a falar:
— Ainda estou tentando encontrar um nome para minha gatinha. Tem alguma
sugestão?
Jake relaxou um pouco e deu de ombros.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

— Que tal Chocolate?


— Parece uma boa ideia, mas não combina com uma gata. — Cheri pousou a
ponta dos dedos sobre os lábios, pensando em outro nome. — Já sei! Posso chamá-la de
Tiramisu. Coloco um apelido curto, como Tira, e está resolvido.
— O que quer dizer Tiramisu? É um nome japonês?
— Nada disso. É uma sobremesa italiana, preparada com queijo cremoso, com se
fosse ambrósia. No topo, coloca-se uma cobertura de chocolate em pó e chantilly. Nunca
comeu?
— Ainda não.
— Posso preparar, qualquer dia desses. Mas preciso encontrar um queijo do tipo
mascarpone para fazer esse doce.
Jake sorriu e, satisfeito, empurrou o prato vazio de lado.
— Parece saboroso. Mas, falando em sobremesa...
Cheri levantou-se.
— Tenho algo especial para esta noite. — Recolheu os pratos e colocou-os na
máquina de lavar.
— O frango estava ótimo. Gosto do seu tempero. A carne ficou leve e tenra — ele
comentou, ajudando-a.
A expressão de Jake mudou ao vê-la colocar o bolo na mesa. Tinha o formato de
um coração, coberto com glacê rosa. Examinou-o minuciosamente, com uma incontida
surpresa.
— O que vem a ser isso?
— Hoje é dia dos namorados — respondeu ela com um sorriso. — Então fiz um
bolo diferente.
— Dia dos namorados?
— Por que não verifica o calendário?
Jake coçou o queixo.
— Por que estamos celebrando o dia dos namorados? Há alguma mensagem
nisso?
— Uma mensagem?
— Esperava que eu lhe desse corações de chocolate e flores? Só porque somos
casados, pensa que eu devia ser mais romântico? Nosso relacionamento é apenas
platônico e...
— Jake, é apenas um bolo. Estou só treinando. Quando montar o bar, servirei
bolos especiais nas datas especiais.
Ele hesitou.
— Então não é para... Você não está...
— Não! Em absoluto! — afirmou ela, indignada. — Porque é tão correto o tempo
todo? Acha que estou querendo me aproximar de você apenas porque fiz um bolo com
formato de coração?
— Não sabia que era dia dos namorados. Parecia... não é comum... — continuou
Jake, reticente.
— Por acaso gravei nossos nomes no glacê? Coloquei alguma flecha entre eles?
Escrevi "seja meu namorado"? Não.
— Certo. Dê-me um pedaço.
Enquanto o servia, ela resolveu perguntar:
— Por que pensou que tentei lhe enviar uma mensagem romântica?
Ele balançou a cabeça.
— Eu... não sei dizer.
— Alguma vez insinuei algo?
— Pediu-me para ajudá-la com os estudos.
— Não há nada romântico em aprender matemática.

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— Não mesmo? Uma vez, ajudei uma garota a resolver problemas matemáticos.
Quando dei por mim, estava na cama com ela.
Cheri o encarou, perplexa.
— Verdade?
Jake se mexeu na cadeira.
— Já lhe disse. Dormi com ela.
— E o que aconteceu depois disso?
— Bem, não durou muito tempo. Foi apenas um... momento.
— Uma viagem à lua sobre as asas de uma borboleta?— brincou Cheri.
— Vamos esquecer o assunto, está bem? — ele propôs, irritado. — Não lhe fiz
nenhuma pergunta sobre relacionamentos anteriores, certo?
— Grande coisa. Não tive nenhum.
Jake a encarou, cético.
— Não mesmo? E seu noivo? Alguma coisa deve ter acontecido.
— Nada aconteceu. Eu lhe disse que queria esperar até a noite de núpcias e ele
concordou.
— Então, está me dizendo que nunca... Oh, não. Você não pode ser virgem.
Cheri sentiu o rosto ruborizar-se. Ficou brava e constrangida.
— Por que não? Só porque os homens acham que qualquer garota começa a ter
vida sexual aos treze anos? — ela explodiu. — No ginásio, os meninos grafitavam meu
nome nas paredes. As fofocas correram soltas, e todo mundo acreditou. Minha mãe teve
que ir à escola para limpar meu nome e reprimir os garotos. Foi nessa época que comecei
a usar roupas largas. Quis me esconder. Minhas notas baixaram, porque minha
autoestima estava lá embaixo. Não cheguei a cursar a faculdade. É por isso que sou
virgem. Odeio os homens em geral e os de olhares sujos em particular. Nunca desejei
dormir com eles. — Tentou conter as lágrimas. — Mas não se preocupe! Também não
tenho interesse em dormir com você!
Levantou-se e foi até a sala. Jake a seguiu.
— Desculpe-me — disse-lhe enquanto sentava no sofá, a seu lado. — Sinto muito
por sua terrível experiência na escola.
— Obrigada. Desculpe-me pelo discurso a respeito dos homens e do meu passado.
Já tentei moderar, mas isso volta à tona algumas vezes.
— Todos nós temos nossos problemas. — Sorriu e continuou: — Deixe que eu
enxugue a louça. Onde está o pano?
Cheri riu.
— Embaixo da pia.
Enquanto secava os pratos, Jake olhava pela janela, perdido em pensamentos.
Cheri possuía uma beleza delirante. Era sincera, ingênua. Uma mulher rara. O
velho pai merecia crédito. Jake estava sozinho numa ilha com uma mulher sedutora... O
engenhoso plano de Jasper criara o clima certo.
"Aquele velho manipulador!", pensou com carinho. "Será que acredita que vou
fraquejar?"
Seus pensamentos foram interrompidos pelo telefone.
— Eu atendo! — gritou enquanto ia até o balcão da cozinha. — Alô!
— Olá, Jake. É o papai. Liguei apenas para saber como estão os jovens recém-
casados.
— Engraçado. Eu estava pensando em você. Como vão as coisas? Mamãe está
bem?
— Muito bem, obrigado. Acabamos de chegar de um jantar para comemorar o dia
dos namorados. E vocês?
— Cheri fez um bolo em forma de coração. Delicioso e adorável — respondeu
Jake, perguntando-se por que as pessoas davam tanta importância ao dia dos

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namorados. Inclusive os pais, há tanto tempo casados.


— Que amável! — Jasper comentou, com verdadeiro entusiasmo. — Ela é uma
graça de pessoa.
— Ela é... legal.
— É só isso que você diz?
— É fácil conviver com ela.
— E o que mais, filho?
— Escute, sei o que quer que aconteça. Mas saiba que não vai acontecer. Ela
deixou bem claro que não quer ter um relacionamento comigo. Eu tampouco desejo algo
assim. Se há um acordo, temos que respeitá-lo. Nós nos damos bem como amigos.
— Mas... e quanto àquilo?
— Ora, papai. Com que direito acha que pode manipular minha vida sexual?
— Parece que você nunca teve uma. Pensei que essa situação pudesse facilitar as
coisas.
— Tenho idade suficiente para discernir o que quero mim.
Não preciso da sua ajuda.
— Certo. Tudo bem. Já que mencionou a idade, vai completar trinta anos daqui a
seis semanas. Eu talvez possa ir até a ilha, para celebrar a data.
Jake suspirou. Desejava que as pessoas esquecessem seu aniversário, mas
acontecia sempre o contrário.
— Isso é ótimo. Mamãe virá?
— Verei o que posso fazer. Ela não gosta de aviões, você sabe. Mas tentarei
convencê-la. Agora deixe-me falar com Cheri, por favor.
O pedido pegou-o de surpresa.
— Claro.
Foi até a sala chamá-la. Ela sorriu, satisfeita, e correu para a cozinha. Jake tomou
seu lugar no sofá e levou as mãos ao rosto, massageando-o para aliviar a tensão.
Ouviu-a falando ao telefone. Não conseguia entender tudo o que a esposa dizia,
mas lhe pareceu alegre e brincalhona. Gostava de escutar-lhe a risada.
Cheri desligou e retornou à sala.
— Ele vem para o seu aniversário! — disse, eufórica.
— Mal posso esperar — comentou Jake, sem entusiasmo.
— Não se sente feliz por chegar aos trinta? — perguntou ela sentando-se à
poltrona.
— Para lhe dizer a verdade, a idade não me incomoda. Mas a vinda de meu pai,
sim. Ele vem para nos espiar — comentou ele num tom áspero. Apontou a almofada perto
de Cheri. — Quer ver se o vodu funcionou.
— Vai ser divertido. Vamos provocá-lo.
Jake balançou a cabeça.
— Gostaria que fosse simples assim.
— Ele só quer o seu bem.

As semanas passaram. Jake entregou-se inteiramente aos estudos


meteorológicos. Dedicou-se a analisar as informações obtidas com o balão.
Cheri continuou a mostrar suas habilidades na cozinha, sempre preparando pratos
deliciosos.
Havia outro complicador. A vinda semanal de Pulse irritava-o profundamente.
Percebia-lhe o olhar fixo no corpo de Cheri. Aborrecia-o ver aquele don-juan saborear as
deliciosas sobremesas que a esposa preparava.
Pulse ficava à vontade na cozinha, comendo e tomando café, servido por Cheri.
Era um atrevido por flertar tão descaradamente com a mulher do próximo.

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Com exceção desses pequenos aborrecimentos, o casal seguia uma rotina suave.
Trabalhavam em separado, ao longo do dia. A noite jantavam juntos.
Pela manhã, Jake corria por uma trilha com cerca de quinze quilômetros. Quando
voltava, encontrava Cheri sempre de pé. Isso evitava algum encontro acidental, no qual
pudessem estar nus. No almoço, ela lhe levava sanduíches, saboreados em frente ao
computador.
Naquele dia, Jake havia comido o seu lanche duas horas antes e estava prestes a
levar o prato de volta à cozinha. Depois, faria um pouco de jardinagem. Encontrou a
esposa em roupas esportivas. Usava jeans, uma malha bem folgada e tênis. Tinha os
cabelos presos numa fivela.
— Aonde vai? — quis saber Jake.
— Estou cansada de ficar trancada. Decidi dar um passeio. Estarei de volta antes
do anoitecer. O que acha?
— Aparentemente não há problema. Mas, se deparar com algum obstáculo, volte
pelo mesmo caminho. E cuidado para não torcer o tornozelo.
— Ficarei bem. Até mais tarde.
Ao dirigir-se ao depósito de ferramentas, Jake olhou pára o céu cheio de nuvens.
Uma grande tempestade se armava, vinda da direção do Pacífico.
Em vez de abrir o depósito, virou-se e retornou para a casa. Abriu o mapa do radar
Doppler na tela do computador e pôde localizar onde já estava chovendo. Observou o
aumento da velocidade do vento, a queda do barômetro e a mudança de temperatura. Era
um daqueles momentos em que os meteorologistas tinham que bancar os adivinhos, para
poder prever o futuro. Jake previu que havia cinquenta por cento de chances de começar
a chover dali a uma hora.
Saiu e escalou o morro, para ver melhor. Ao alcançar o ponto mais alto, seus
instintos lhe disseram que seria melhor ir atrás de Cheri e pedir-lhe para voltar. Caso
contrário, poderia ficar ensopada.
Desceu e avançou para a trilha. Levou vinte minutos para alcançá-la.
— Cheri! — chamou.
Ela virou-se, surpresa.
— Jake! Você decidiu dar uma volta também?
— Não. Vim para avisá-la de que uma grande tempestade está a caminho. Você
vai se encharcar em poucos instantes. Acho que devemos voltar. Programe a caminhada
para outro dia.
Cheri sorriu. Ergueu a mão para o alto, indicando o sol.
— Com um céu desses, você acha que pode chover?
— Vire-se e veja o que a espera do outro lado.
Ela virou-se e olhou.
— A chuva não vai nos alcançar. Lembra? Foi você mesmo quem disse que as
montanhas eram barreiras naturais para o mau tempo.
— Nem sempre funciona assim. Esse temporal será forte. Portanto, vamos embora.
Ela tentou se conter e olhou em direção ao sudeste.
— Não acho que vá chover.
— Vi a tempestade pelo radar. Conheço mais sobre o tempo do que você.
Cheri fez uma careta.
— Está bem. Espero que esteja certo. Porque, se não chover, você não comerá
sobremesa esta noite.
Jake riu.
— Minhas possibilidades de ganhar são grandes.
— É o doce italiano. Preparei esta manhã. Melhor não errar.
— Vamos logo! — disse ele com firmeza, conduzindo-a pelo braço.
— Quanta gentileza!

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Jake soltou-a prontamente.


— Então, me acompanhe. Certo?
— Sim, senhor.
Em dez minutos o céu escureceu consideravelmente. A temperatura caiu vários
graus. Em vinte minutos, a atmosfera tornou-se ameaçadora, com nuvens pesadas e
negras.
Alcançaram o píer e avistaram a casa. Naquele momento, foram apanhados pelo
aguaceiro.
— Nós vamos ficar encharcados! — exclamou ela, e começou a correr.
Jake a acompanhou, colocando o braço nos ombros femininos, com o intuito de
protegê-la.
— Já teríamos chegado em casa se você não tivesse discutido comigo.
— Tem razão. Pode comer dois pedaços da sobremesa — comentou ela quando
alcançaram a porta. Entraram pela cozinha. As roupas ensopadas respingaram pelo chão,
deixando rastros. — Como está frio!
Jake rapidamente tirou a jaqueta.
—Tire suas roupas molhadas!
Quando ela puxou a malha pesada e úmida sobre a cabeça, deixou ver um top
bem justo, delineando o corpo. Permaneceu ali, tremendo, com o cabelo molhado, de
braços cruzados sobre os seios.
Cheri olhou para o próprio corpo seminu, como um animalzinho abandonado em
busca de calor e conforto. Havia um apelo em seus olhos.
Antes que pudesse perceber, Jake a tomou nos braços. Cheri também o enlaçou,
retribuindo-lhe o carinho. Ele sentiu os seios firmes contra seu peito. Desejava-a
ardentemente.
Cheri virou o rosto para encará-lo, e num instante seus lábios se tocaram. Ambos
se deixaram levar pelas sensações.
De repente, uma intensa energia apoderou-se de Jake. Teve a impressão de que
poderia ir em frente. Cheri não o rejeitaria.
Ela puxou a alça do top, e a pele sedosa dos seios ficou à mostra. Era muito mais
do que Jake esperava ver. Quis cobrir de beijos os bicos rosados, rijos e salientes. A
carícia ousada fez com que Cheri desse um pequeno grito de alegria.
— Você é virgem e não tem controle sobre si mesma! — exclamou ele, com a
respiração entrecortada. — Está tentando me seduzir?
A expressão dela mudou. Tomou consciência de seu comportamento. O sorriso
desapareceu. Arrumou a alça do top.
— Foi você quem me beijou — atalhou, confusa.
— Tudo bem. Nós beijamos. Mas você parece querer mais do que um simples
beijo.
— Pensei... que você quisesse...
— Perdi a cabeça por um minuto — desculpou-se ele e recuou um passo, ainda
sem fôlego. — Mas qual foi nosso acordo antes de chegar à ilha?
— Que manteríamos um relacionamento platônico.
— Certo. Beijar e tirar sua roupa faz uma relação parecer platônica?
— Não.
— Então por que puxou o top?
— Porque você queria beijar-me os seios. E depois queria mais e mais.
— Foi você quem disse "não pare, quero mais". Como poderemos manter o acordo
desse modo? Sou apenas um ser humano. Reajo! Se acabarmos nos envolvendo, o que
faremos? Jogamos todos os nossos planos pela janela?
Ela levantou o queixo, indignada.
— Você começou. Se quer que as coisas permaneçam platônicas, então não se

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aproxime de mim com faíscas nos olhos. Não comece a me beijar nem a me tocar. Sou
humana também. — Olhou-o com raiva. — Vocês, homens, nunca admitem a própria
culpa!
Deu-lhe as costas abruptamente, correu ao quarto e fechou a porta.

Capítulo 6

Certa manhã, após algumas semanas, Cheri vestiu uma das roupas que comprara
através de um catálogo especializado. Pulse a entregara um dia depois do episódio do
beijo.
Com o dinheiro do último pagamento da Tucci's, ela comprara peças simples,
juvenis, coloridas e justas. Os itens incluíam tops de tricô bem cavados na frente e alguns
shorts. A estação quente se aproximava e seria ideal para o calor. Por que haveria de
suar dentro de roupas folgadas, como sempre fizera?
Escolheu um top de manga curta, listrado de azul e branco, e um macacão bem
justo na cintura, azul-escuro. Ao vestir-se, olhou no espelho e achou-se elegante. Havia
anos não se vestia assim.
Depois de pentear os cabelos, rumou à cozinha, para o café da manhã. Quando
começou a lavar a louça, Jake entrou, voltando dos exercícios matinais. Resmungou um
bom-dia, ao qual Cheri respondeu da mesma forma.
A conduta de ambos tinha se modificado após o episódio do beijo. Agiam com*
indiferença, embora mantivessem um polido respeito.
Mal olhou para ela, Jake parou no meio da cozinha e disse:
— Por que acordou cedo hoje?
— Tira me acordou. Estava miando muito. Achei que havia algo errado. Mas ela
parece bem.
— Tem razão. Tira me acordou também. Deixou Dude agitado. Ele pulou da minha
cama e começou a arranhar a porta. — Reparou na roupa da esposa. — Onde conseguiu
isso?
— Num catálogo. Gostou?
— Parece que quer se mostrar.
— É mesmo?
— Sim.
— E então?
— Então, por que está usando? Por que a comprou? Gosta de usar roupas que
cobrem o corpo.
— Gosto mesmo?
— E não?
— Não. Nunca gostei. Fazia isso para os homens não pensarem que eu queria me
mostrar. Esta roupa é normal. Já deve ter visto milhares de jovens usando modelos assim
no campus da Universidade.
Ele a estudou, desconfiado.
— Você está querendo ser inoportuna.
Cheri sentiu-se ofendida.
— Inoportuna? Simplesmente porque coloquei uma roupa nova?
— Acho que está bolando algum plano. Decidiu vestir-se de modo provocante para
tentar me atrair.

39
Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

— Em primeiro lugar, esta roupa não é provocante. Não é uma saia curta, ou
agarrada.
— Contorna o seu corpo inteirinho!
— Acha que me visto assim para chamar sua atenção? Pode desistir dessa
fantasia. Sinto muito. Acabou de provar que é igual ao restante dos homens. Por que eu
iria querer você?
— Não quero comprar esta briga.
— O que quer dizer?
— Acho que você decidiu que esse casamento temporário deve se tornar
permanente. Foi por isso que pediu roupas sensuais. Imaginou que, se conseguisse me
seduzir, então me teria na palma da mão. Talvez tenha decidido que permanecer casada
com o filho de um milionário não seja um mau negócio. Teria dinheiro o resto da vida. Não
precisaria abrir nenhum café.
— Como ousa dizer isso? Acha que sou do tipo que está atrás de uma mina de
ouro?
— Não parece ser assim? Concordou com este casamento porque meu pai
ofereceu-lhe um milhão de dólares, e aí está a prova. De fato, é um preço alto! Aquele
comentário a feriu.
— Disse a Jasper que não queria um milhão. Só repor o que me roubaram. A partir
de então me organizaria para abrir meu próprio negócio. Não quero ficar legalmente
ligada a você ou a algum outro homem. Nunca foi nem será o meu verdadeiro objetivo.
— Claro — respondeu ele com sarcasmo, tenso.
Saiu da cozinha rumo ao quarto e bateu a porta. Logo entrou no banho.
A raiva a dominou. Piscou, para afugentar as lágrimas. O que mais poderia
esperar? Não existiam príncipes encantados como nos contos de fada. Por que ainda
esperava encontrar um?
Tira entrou na cozinha e deu um longo miado. Cheri agachou-se para falar com a
gata.
— O que há de errado?
A gatinha esfregou-se em suas pernas e continuou miando. Parecia agitada e aflita.
Cheri ergueu-se e procurou estudar a reação de Tira, preocupada. Dude apareceu
e começou a cheirar a gatinha. De repente pulou em cima dela.
— Dude, desça já!
— O que está acontecendo?
Ao virar-se, ela viu o marido de volta à cozinha. Jake dobrou as mangas da camisa
que acabara de vestir, combinando com o jeans.
— Dude está esmagando minha gatinha! O que ele tem?
— Sua gata já foi castrada?
— Não. É muito nova para isso.
— Sua gata está no cio. Você tem que castrá-la.
— O quê?
— Não sabe nada sobre felinos? Ela tentou conquistar Dude. Não sabia que ele se
comportaria assim.
— Se Dude fosse castrado, ela não teria filhotes, certo? Então, por que Tira tem
que ser operada? — indagou, preocupada.
— É rotina. Os veterinários executam essas cirurgias o tempo todo. Quer ficar
ouvindo-a miar sem parar todo dia? Quer que ela deixe o pobrezinho maluco?
— Mas Tira é muito pequena para ser operada.
— Quantos anos tinha quando você a pegou?
— Era uma gata de rua. Não tenho nem ideia de onde veio ou de quando nasceu.
— Telefone para os Miller e peça indicação de um veterinário — sugeriu ele num
tom professoral e direto. — Providencie para que Pulse a leve na próxima vez que vier.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

Ele poderá levá-la até o veterinário. Ofereça-lhe bastante bolo.


Aquela atitude incomodou Cheri. Ele estava se revelando um homem insensível.
Como pudera tê-lo achado atraente?
— Mas Tira vai se sentir insegura. Será necessário dar-lhe um tranquilizante...
— Não chore. Trata a gata como se fosse um bebê. Ela vai sobreviver.
Dito isso, saiu da casa, rumo ao depósito. Cheri foi até a porta.
— Pensei que fosse um homem decente. Você é insensível, um excêntrico imbecil.
Como todos os homens!
Jake virou-se e olhou-a por um instante. Parecia querer dizer-lhe algo. No entanto,
continuou a caminhar até a cabana.

Horas depois, ao lhe levar um sanduíche, Cheri pediu desculpas.


— Sinto muito por tê-lo chamado de excêntrico imbecil.
Ele assentiu, sentado ao computador, sem olhar em sua direção. Fixou os olhos
sobre a tela e falou, num tom firme:
— Tudo bem. Sinto muito ter ficado bravo. Mas deve operar sua gata.
— Eu sei. Vou ligar para os Miller e encontrar um veterinário.
— Ótimo.
Cheri saiu e voltou à cozinha para lanchar, embora não estivesse com muita fome.
Aquele início de ano na ilha começou a lhe parecer promissor. Aos poucos, as coisas
tomavam rumo.
No entanto, entre ela e Jake tudo parecia complicar-se. Era difícil manterem uma
conversa educada.
Jake olhou pela janela da sala e viu o hidroavião planando. Foi até a cozinha.
— Pulse chegou. Melhor colocar Tira no carregador.
Cheri estava em pé à frente da pia, ansiosa.
— Tudo bem.
Jake reparou na calça bem justa e na camiseta rosa, grudada de modo sublime em
Gada curva.
— Talvez seja melhor você colocar uma malha. Está um pouco frio lá fora.
Ficou surpreso ao ver Cheri seguir o conselho. Ela foi até o quarto e voltou com
uma malha bem folgada sobre a camiseta. Aquilo lhe pareceu um indício de que a revolta
contra os homens estava mais ligada à figura dele.
Quando viu Pulse se aproximar do píer, Jake foi ao seu encontro. Cheri também.
Como sempre, o piloto a saudou com muita cordialidade. Jake seguiu atrás deles,
levando sacolas de plástico.
Uma vez dentro da casa, Cheri serviu a Pulse um pedaço de torta, com cafezinho.
O piloto sentou-se à mesa e continuou a conversar animadamente.
— Que delícia! Como você não fica gordo, Jake?
— Eu corro todo dia — respondeu ele com extrema paciência. Não gostava nem
um pouco daquele ar de conquistador do outro.
Pulse fixou os olhos em Cheri.
— Suponho que quer que eu leve sua gatinha ao veterinário — comentou,
indicando o carregador.
Cheri colocava as coisas na geladeira.
— Sim. — Fechou a porta e caminhou de volta à mesa. — Se ela começar a se
assustar ou tremer, abra a porta da caixa e agrade-a um pouquinho. Fique tranquilo, ela
não arranha. Aparei-lhe as garras ontem. Não temos tranquilizante para dar a ela e...
Pulse estendeu o braço e segurou a mão de Cheri.
— Fique sossegada. Farei o que for preciso. E não se preocupe. A gatinha não vai
me arranhar. Cuidarei bem dela.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

O piloto continuou a segurar-lhe a mão. Jake sentiu-se incomodado com isso.


Queria que a esposa se afastasse.
— Esqueceu-se de colocar as maçãs na geladeira — lembrou-a.
— Você mesmo pode guardá-las, se não se incomodar — respondeu ela, distraída,
fitando Pulse. — Então, assim que aterrissar levará Tira ao veterinário?
— Sim.
— Não vai deixá-la sozinha?
— De modo algum — ele prometeu num tom terno, mas que pareceu falso aos
ouvidos de Jake.
Mas Cheri, ao que tudo indicava, acreditava nele.
— Obrigada. Sei que parece tolo, mas...
— Quem disse que é tolice? — observou Pulse, solidário.
— Jake — respondeu ela.
O marido contemplou o teto.
— Bem, acho que você é uma pessoa muito carinhosa.
A gatinha deve significar muito para você.
— Você já terminou de comer a torta, Pulse? — indagou Jake, apoiando-se na
geladeira.
— Sim, claro.
— Então vamos levar a gatinha ao avião.
— Vamos lá! — concordou o piloto, levantando-se.
Jake apanhou o carregador. Cheri abaixou-se e colocou dois dedos através das
barras de metal, tentando acariciar Tira.
— Seja uma boa menina — disse suavemente. — Mamãe te ama.
Ergueu-se, e Jake notou lágrimas em seus olhos. Uma ponta de culpa fez com que
baixasse a vista. Sabia que Cheri tomara aquela decisão por insistência dele. Sentiu-se
um canalha.
Pulse também notara os olhos marejados de lágrimas. Aproveitou a situação para
colocar os braços ao redor de Cheri e aninhá-la.
— Não se preocupe — falou, enquanto batia em suas costas. — Sua gatinha
voltará logo.
— Não vai se atrasar, Pulse? — perguntou Jake.
Queria que o piloto partisse. Ou então lhe daria um soco.
Pulse percebeu a situação e soltou Cheri. Os três caminharam até o píer. Ele
colocou a gatinha no avião e, minutos depois, partiu.
Cheri não disse uma palavra. Secou as lágrimas e foi para casa. Jake a seguiu.
Tentava pensar em alguma coisa para lhe dizer.
— Sinto muito por Tira. Mas é o melhor a fazer. Será uma gata mais mansa,
quando voltar.
Ela assentiu.
— Eu sei.
Dirigiu-se à cozinha e tirou a malha pesada. Arrumou a camiseta. Aquele
movimento provocou um arrepio em Jake, que lhe fitou o seio. Como continuar a viver
com ela dessa forma?
— Já que estamos tendo esta maravilhosa conversa, quero lhe fazer uma
pergunta.
Ele notou-lhe o sarcasmo, mas respondeu, pacientemente:
— Pode perguntar o que quiser.
— Jasper chega amanhã para comemorar seu aniversário, certo?
— Correto.
— Então, se eu fizer um bolo, não pensará que estou querendo algo com você?
Não quero repetir o episódio do dia dos namorados. E Jasper pode achar estranho não

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

haver um bolo.
Jake deu de ombros.
— Claro. Mas não precisa me dar nenhum presente.
— Nem ousaria fazê-lo. E quanto ao bolo... se eu escrever Feliz Aniversário com
glacê cor-de-rosa, não vai pensar que estou querendo seduzi-lo, vai?
Jake pensou que não merecia aquele humor mordaz.
— Não vou. Obrigado. Acho uma ótima ideia e acredito que meu velho irá gostar,
também.
— Qual bolo você prefere? De coco? Chocolate?
— Chocolate.
— E o glacê? De chocolate, também?
— Por que não? — disse ele com um sorriso.
Cheri sorriu também.
— Sou viciada em chocolate — admitiu.

Assim que Jasper acomodou-se no assento da frente do hidroavião, ao lado de


Ken Pulsifer, observou a beleza da ilha de Puget Sound. Era um domingo ensolarado.
Longe, a distância, podia ver a pequena fileira das ilhas San Juan.
— Tem levado mantimentos para a ilha? — perguntou ao piloto, esperando colher
alguma informação. Tinha que elevar o tom de voz, para ser ouvido além do barulho dos
motores.
— Sim, senhor. Cheri é uma doçura de pessoa. Como Elsie Miller, sempre me
serve um pedaço de doce caseiro. Cá entre nós, acho que ela cozinha melhor! Não posso
reclamar das tortas de Elsie, mas Cheri parece ter um toque especial, se é que me
entende.
— Verdade? Estou indo para o aniversário de meu filho. Mal posso esperar pelo
jantar. E prometo guardar-lhe um pedaço do bolo.
— Agradeço, sr. Derring.
— E... — Jasper fez uma pausa, pensando em como fazer a pergunta. — E como
está o casal? Você sabe, são recém-casados. Os pais sempre se preocupam. Estão
felizes?
O piloto limpou a garganta e hesitou.
— Bem...
— Por favor. Fale honestamente. Ficará só entre nós.
— Tudo bem. Na verdade, tenho a impressão de que existe alguma tensão por lá.
— Não me diga!
— Receio que sim. Cheri é realmente muito meiga, carinhosa e atenciosa. Não
acredito que Jake saiba quem está a seu lado. Sinto muito falar assim do seu filho...
— Não, não. Quero honestidade. Acredite-me, estou ciente da falta de
reconhecimento de meu filho. Mas o que o leva a pensar assim?
— Outro dia, pediram-me para levar a gatinha ao veterinário, em Anacortes. Ia ser
operada. Cheri não parava de chorar por causa disso. E Jake parecia... bem, nada
solidário. Eu até abracei a moça, para lhe transmitir um pouco de ânimo.
Jasper riu. Conhecia a reputação de Pulse com as mulheres. No fundo achava
ótimo que o piloto participasse das idas e vindas, levando mantimentos para o casal.
Esperava que o rapaz pudesse despertar ciúme em Jake.
— Fez bem em confortá-la. Como Jake reagiu?
— Me mandou embora logo. Sempre é muito educado.
— Eu sei.
Sobrevoaram a ilha. Jasper prestou atenção na manobra do piloto e ao pouso
suave. Logo depois, estavam no píer. Jake correu para ajudar Pulse a amarrar o

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

aeroplano.
Jasper desceu rapidamente e o avião decolou.
— Prazer em revê-lo, meu filho. Seu cabelo cresceu.
— Não há muitos barbeiros na ilha — respondeu Jake com um sorriso. — Irei até
Anacortes um dia desses, e farei um corte.
— Peça a Cheri que faça isso — sugeriu o pai enquanto seguiam até a casa.
Jake soltou a respiração e assentiu, educadamente.
— É uma ideia.
Jake abriu a porta da frente. Cheri correu para dar um abraço caloroso no sogro.
Jake sentiu-se pouco à vontade. Agiam como se fossem membros de uma família.
Será que não se lembravam mais de que aquele era apenas um casamento temporário,
de conveniência, para preencher as exigências legais do testamento? Será que Jasper se
esquecera de que teria que pagar à nora um milhão de dólares? Por que tratavam as
aparências como algo verdadeiro?
— Sente-se, papai. Vamos beber algo. O que podemos tomar, Cheri?
— Limonada. Mas também há chá de ervas em saquinho.
— Quanta atenção! Quero o chá.
— Como vai Bea? Que pena ela não ter vindo...
— Está ótima. Mas não gosta de andar de avião. Prometi ligar.
— Vai deixá-la tranquila — Cheri comentou.
— A vida aqui faz bem a vocês. Ao menos não estão tão pálidos como em
Chicago. — Percebeu a roupa da nora. — E que modelo adorável!
Cheri sorriu e olhou para o conjunto
— Obrigada.
— Ela não está radiante, filho?
— Está — respondeu ele, sem ânimo. — Sente-se, papai. Que tal aquele chá,
Cheri?
— Imediatamente — disse ela, rumo à cozinha.
Sentou-se e começou a conversar com Jasper, Cheri entrou com o chá e
desculpou-se, por ter de voltar à cozinha.
Depois de algum tempo, Jake levou o pai para fora da casa, a fim de lhe mostrar o
equipamento meteorológico. Foram à horta, também, onde fileiras de plantas brotavam.
Jake achava que a ilha era tão próspera que sugeriu a Jasper transformá-la numa
estação particular.
— Mas, se está tão feliz aqui, conserve-a. Vocês podem desfrutar dela.
Ele respirou fundo.
— Papai, eu e minha esposa queremos voltar à nossa vida de solteiros. Não pense
que esse casamento vai durar a vida toda, porque não vai.
Jasper ergueu a mão, num gesto de concordância.
— É você quem diz, filho. Não estou aqui para interferir. Apenas quero jantar e
celebrar o seu aniversário. Está completando trinta anos, não é? Como o tempo passa
depressa! Quando se é mais idoso, percebemos isso melhor.
— Tenho muitos anos pela frente, e posso realizar meus sonhos.
— Espero que saiba o que realmente quer da vida, meu filho.
Jake suspirou. O pai era mais atento do que imaginava.
Sentaram-se para jantar por volta de cinco horas da tarde. Cheri havia preparado
salmão ao forno com batatas e salada mista. Jasper elogiou-a bastante. Jake aproveitou a
oportunidade para dizer:
— Cheri vai ter o melhor café de Chicago. Tem jeito para isso.
O velho apenas sorriu.
— Com certeza.
— Tem aproveitado o tempo para preparar vários pratos. E eu provo todos —

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

acrescentou Jake, tentando ser agradável. Olhou de relance para Cheri, que manteve-se
ocupada e fingiu não ouvir.
— Como vão os gatinhos? — perguntou Jasper, mudando de assunto. — Vi Dude
dormindo na sala: Onde está a sua gata, Cheri?
— Entrou no... cio — disse ela com um traço de embaraço. — Miava sem parar e
Dude tentou... tentou...
Jasper riu com gosto.
— Dude? Quando íamos visitar Jake, em Winsconsin, tudo o que ele sabia fazer
era dormir!
Cheri riu também.
— Foi engraçado. O bichano mal sabia o que fazer a respeito.
— Ninguém lhe mostrou o caminho?
Conhecendo o humor do pai, Jake sabia que a alfinetada era dirigida a ele. Sentiu
raiva, mas continuou cortando a batata como se nada houvesse acontecido.
— Jake sugeriu que Tira fosse castrada. Está no veterinário, mas passa bem.
— Cheri liga todos os dias para a clínica.
— Só quero acompanhar o pós-operatório.
— Claro. Quando ela virá para casa?
Cheri suspirou, preocupada.
— Em duas semanas. Os pontos devem cicatrizar-se em dez dias. Jake achou
melhor deixá-la no veterinário.
— E você, o que queria?
— Eu preferia que a pobrezinha viesse para casa, mas Jake estava certo.
Jasper sorriu.
— Apenas porque está casada com Jake, não significa que tenha que concordar
com tudo o que ele disser. Pode agir à sua maneira.
— O que o faz pensar que ela não age? — perguntou Jake num tom agudo, fitando
Cheri. — Você não disse que a queria de volta depois da cirurgia.
Ela, sensatamente, resolveu não discutir na frente do sogro.
— Mas, como você sugeriu que a mantivéssemos na clínica, eu...
— Poderia ter me dito que a queria aqui antes da retirada dos pontos!
— Mas, nesse caso, Pulse teria que levá-la várias vezes à clínica. Como sei que
você não gosta dele, imaginei que fosse melhor evitar que viesse muito até aqui.
Um brilho iluminou os olhos do sr. Derring.
— Você não gosta de Pulse?
— É um bom piloto. Mas não tem muito escrúpulo.
— Verdade? — admirou-se o pai, num tom sério. — Como ele se comporta?
— Bem, Pulse sabe que eu e Cheri somos casados. Mas sempre que pode ele a
devora com os olhos, e chega até mesmo a tocá-la. Na minha frente!
— Ora, meu filho, isso é muito ruim. Mas já vi sua esposa servindo mesas na
Tuccfs e sei que ela sabe lidar com homens assim.
Jake ergueu o olhar.
— Sabe? — Riu. — Acha que sou bobo?
— O que quer dizer? — perguntou Cheri.
— Deixa-o apertar sua mão, abraça-o...
— Ele me abraçou uma vez. Eu estava chorando por causa da gatinha. Ele só
demonstrou solidariedade, algo que você não fez.
— Antes, você não era assim receptiva. Lembro-me de como o encarou quando ele
nos trouxe.
— Finalmente você notou alguma coisa! Mas agora é tarde.
— O que está querendo dizer?
— Naquele dia, você só se preocupava com as nuvens. Eu que me virasse com

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

Pulse! Hoje percebo que ele é um cavalheiro.


— Hoje você percebe que ele é um cavalheiro? O que foi que ele lhe disse naquele
primeiro dia?
— Não importa.
— Eu quero saber.
— Por quê? Você se importa mesmo? — Sua raiva diminuiu. Fitou o sogro. —
Desculpe. Não é assim tão sério. Pulse vem aqui uma vez por semana.
— Não fique desconcertada — disse-lhe Jasper com um sorriso complacente. —
Isso me lembra quando Bea e eu nos casamos. Recém-casados sempre brigam.
— Principalmente se são recém-casados por conveniência! — Jake arrematou.
Pôde perceber um brilho no olhar do pai. Talvez ele estivesse tirando conclusões
erradas acerca daquele relacionamento. Sentiu-se furioso. Por que a discussão a respeito
de Pulse? Aparentemente, isso levara Jasper a concluir que estava com ciúme do piloto.
Ridículo! Mas Jake o desprezava, e não porque flertasse abertamente com Cheri.
— Se todos já terminaram, vou lavar a louça e pegar o bolo — anunciou ela num
tom leve.
No entanto, havia outra coisa. Por que Cheri se mostrava furiosa com ele? E por
que não queria contar o que Pulse lhe dissera?
Um minuto depois, ela apareceu com o bolo de chocolate, no qual brilhavam trinta
velas acesas. Colocou o doce à frente do marido. Em seguida, cantaram o "parabéns a
você". Quando viu Jake prestes a assoprar as velinhas, sugeriu:
— Faça um pedido.
Jake a olhou de soslaio. As tradições eram tão banais... Que tipo de pedido iria
fazer?
"Espero viver este ano sem me perder."
As palavras pareceram brotar em sua mente. Soavam bem. Assoprou todas as
velas de um fôlego só.
Cheri pegou a espátula e a faca. Perguntou:
— Você quer cortar?
— Não sou bom para cortar bolos. Faça isso você. Leve para o seu lado da mesa.
Há mais espaço.
Sem dizer uma só palavra, ela o atendeu.
— Parece delicioso — observou o sogro.
Cheri cortou-lhe um pedaço bem fino, e outro, maior, para Jake.
— A propósito, prometi levar um pedaço para o piloto.
— Claro. Pode deixar que providenciarei isso.
— Tudo bem para você, filho? Não imaginei que tivesse alguma coisa contra o
moço.
Jake agarrou com mais força a faca e cortou um pedaço de bolo, tentando manter
a calma. Percebeu que o pai, ligadíssimo, poderia colocá-lo à prova.
— Pode levar o bolo ao piloto.
— Vai colocar uma cereja? — Jasper brincou.
Cheri riu. Aparentemente, gostava da brincadeira.
— Muito engraçado, papai. Essa é muito boa — comentou Jake num tom
sarcástico.
— Também acho — Jasper riu.
— Pode fazer piadas e nutrir todas as esperanças que quiser, mas, se quer a
verdade, seu plano não vai funcionar. Minha esposa quer dar a impressão de que está
tudo bem, mas não ligo nem um pouco. Desculpem-me por desapontá-los.
Jasper franziu a testa, preocupado.
— Não liga? Mas... ficará aqui por um ano, não é? Terminará o projeto de pesquisa
e o departamento ganhará quinhentos mil dólares, certo?

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

— Sim, ficarei. Você conseguiu me prender aqui. Não quero estragar tudo. E Cheri
precisa do dinheiro.
Jasper fitou a nora.
— E você? Está muito infeliz?
— Não muito infeliz. Estou executando minha parte. Se meu marido quer ir em
frente, e esperar um ano, ficarei a seu lado. Não há nada para fazer em Chicago no
momento.
— Sinto muito. — As sobrancelhas do sogro ergueram-se rapidamente. — Devo ter
cometido um engano. Reconheço que Bea sabia que não era uma boa ideia. Mas agora é
um pouco tarde para voltar atrás. Contento-me que queiram ir até o fim. Quando
chegarem lá, vão se sair bem. Ponham isso na cabeça.
— Certo — concordou Jake, mais calmo. — Mas espero que aprenda a lição. Não
pode manipular a vida das pessoas dessa maneira. Não pode sair por aí arranjando
casamentos e esperar que funcionem. Sei que Charles e Jenny se dão bem, mas isso foi
sorte. Cheri e eu... bem, não vai funcionar.
— Sinto muito se causei algum aborrecimento — disse Jasper, um tanto trêmulo, e
enxugou os olhos.
— Não se preocupe. Vamos nos acostumar. Ou melhor, vamos nos dar bem o
bastante para viver o restante do ano. Não fique transtornado, sr. Derring, por favor.
— Você está bem, papai? — Jake nunca o havia visto à beira das lágrimas.
— Estou apenas decepcionado por tê-los colocado nessa situação.
— Somos durões. Não vamos perder a parada. Sei que agiu pensando em nosso
bem.
Jasper assentiu e pareceu se recompor. Depois de alguns instantes, telefonou para
Bea. Jake e Cheri também falaram com ela.
Eram sete horas. O hidroavião apareceu, como combinado. Cheri embrulhou um
pedaço de bolo num pedaço de papel-alumínio.
Despediram-se, e Jasper partiu.
Pulse levou Jasper a Anacortes. O sr. Derring sentia uma ponta de alegria. Seus
planos estavam funcionando! Podia sentir isso. Mas tinha de esconder suas impressões.
Até fingira remorso na frente do casal. Mas, no fundo, sabia que Jake queria Cheri. Podia
perceber pelo modo como o filho se comportara na hora do bolo. Sentiu também que ela
queria Jake.
Riu. Aquilo era maravilhoso. Se aqueles dois não fizessem amor, e logo, ambos
simplesmente explodiriam!

Capítulo 7

Uma semana depois, Cheri olhou pela janela ao ouvir os motores do hidroavião.
Pulse havia se programado para fazer uma viagem especial e trazer Tira de volta. A
gatinha já tinha tirado os pontos. Cheri mal conseguia conter a alegria de revê-la.
Jake entrou. Aparentemente, também escutara o barulho do avião.
— Irei até lá e trarei sua gatinha.
— Pode deixar que eu vou.
— Assim? — Ele observou-lhe a camiseta e o short.
— Assim.
— Pulse vai adorar. Sempre a devora com os olhos.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

— Sei de que maneira ele me olha. Mas é inofensivo. E trouxe minha gata para
casa. — Viu o avião planando até atingir o píer. — Vamos, me acompanhe!
— É melhor eu ir, mesmo. Antes que aquele piloto se aproveite da situação.
Ela riu do comentário. Cada vez mais o marido demonstrava os sentimentos.
Sentia ciúme, embora negasse isso. Fitava a esposa com ansiedade, mas, quando ela lhe
percebia o olhar, ficava constrangido e saía da saía. Desde o beijo o pobre homem vinha
lutando contra o desejo. Cheri sentia-se um tanto envaidecida por atrair alguém com
tamanha capacidade. Cientista. Professor. Perguntou-se se algum dia ele desceria
daquela torre de marfim.
Por outro lado, se não tinham um futuro juntos, talvez fosse melhor ficar onde
estavam. Ela começara a se cansar das brigas, embora soubesse que eram produto da
tensão provocada pelo desejo.
Quando alcançaram o píer, Pulse já tinha saído do avião. Acenou para os dois e
voltou-se para apanhar o carregador.
— Vejam o que tenho aqui! — disse com um prazer enorme.
Cheri correu até ele. Quando o piloto bateu os olhos nela, pôde-se perceber
encantamento e admiração.
Ela o ignorou. Estava mais interessada em ver a gata, que miava atrás das barras.
Pegou o carregador, colocou-o no chão e abriu a portinhola. Tira saiu e foi abraçada.
Cheri notou que o pelo, perto da região do estômago, tinha sido cortado. Havia uma
pequena cicatriz.
— Pobrezinha! — falou num tom abafado, quase chorando.
Tira ficou um pouco agitada. Então Cheri a colocou de novo no carregador. Virou-
se para Pulse e estendeu a mão.
— Obrigada.
O piloto tomou-lhe a mão e sorriu, impaciente. Deslizou o braço ao redor de Cheri e
deu-lhe um aperto.
— Estou à disposição. Posso ajudá-la quando quiser. Você é uma pessoa meiga e
merece.
Cheri sentia-se muito grata por tudo aquilo.
— Quer um pedaço de torta?
— Não, obrigado — agradeceu Pulse, soltando-a. — Tenho que voltar para
Anacortes. Há alguns turistas me esperando para um passeio.
Ela percebeu o olhar que o piloto lançou na direção de Jake. Virou-se para ver o
marido e o viu encarar Pulse com ferocidade.
— Fica para a próxima vez, então.
— Certo — concordou o piloto. — Aguardarei com prazer. — E caminhou para o
avião.
Jake ajudou-o a desamarrar o aeroplano. Pulse entrou, evitando fitá-lo. Acenou
para Cheri e decolou.
Jake levou o carregador até a casa, fervilhando de raiva.
— Alguma coisa errada? — perguntou ela com delicadeza, tentando irritá-lo.
— Ele a abraçou e você agradeceu!
— Bem, Pulse tomou conta de Tira.
— E ainda lhe ofereceu torta!
— Sempre faço isso. Mas você praticamente o expulsou. Não sabia que teria essa
atitude.
— O que quer dizer?
— Você parece um homem ciumento.
Entraram na casa, e Jake colocou o carregador no chão. Não fez nenhum
comentário a respeito da última observação da esposa.
Ela abaixou-se para abrir a portinhola. Tira saiu, cautelosa. Cheri pegou-a no colo e

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notou que Jake a fitava.


— O que foi?
— Você estava flertando com o piloto — acusou num tom impiedoso.
— Ora! Só porque chorei um pouquinho, ou por estender a mão e cumprimentá-lo?
— Foi mais simpática do que o necessário.
A voz brava assustou Tira. A gata pulou do colo de Cheri e saiu correndo da sala.
— Veja o que você fez!
Jake olhou para a gatinha e depois para a esposa. Estava exacerbado.
— Desculpe. Você me deixa irritado ao agir assim com aquele piloto. Alega saber
que ele a engole com os olhos e nada faz para mudar isso. Comporta-se com mais
simpatia perto dele.
— Pulse me fez um favor.
— Quais outros favores espera que ele lhe faça?
— O que está querendo insinuar? Não quero nada com esse homem.
— Não penso assim. Desde aquele beijo, mudou de comportamento. Não se veste
mais com recato, e me olha com uma expressão diferente.
— Diferente como?
— Com vontade de continuar... de onde o beijo parou.
Ela pensou um momento. Como responder àquela observação? Tinha que ser
honesta.
— Talvez sim.
Jake fitou-a, perplexo.
— Então por que foi simpática com Pulse? Qualquer homem serve?
Dessa vez, ela ficou mais brava ainda.
— E por que não?
— E isso que quer? — perguntou Jake, aproximando-se.
Cheri não recuou.
— Tenho vinte e três anos e sou saudável. E tenho necessidades, como qualquer
outra mulher.
— E por isso flerta com qualquer homem? Com aquele que estiver a seu alcance?
— Não.
— Está sendo seletiva?
— Sim. — O coração de Cheri começava a acelerar.
— Acaso está interessada em Pulse?
— Não.
— Não? — A voz tinha uma suavidade sinistra. — Então está interessada em mim.
— Você é bom nesse jogo.
— Mas me disse claramente que não queria ir para a cama comigo.
Ela o encarou, os olhos brilhando, mas permaneceu em silêncio, esperando.
— Não foi o que disse? — repetiu ele.
— Sim.
— Bem, e então?
— Eu estava enganada.
— Você está se tornando perita em sedução. Já avisei: sou apenas um ser
humano. Deve tomar cuidado.
— O que quer dizer?
-— Que não consigo mais suportar isso. Parece que tudo o que você deseja é
sexo. E é isso que vai ganhar.
— É uma promessa? — perguntou ela, tremula.
— Está me seduzindo. Admita!
— Tentando. Mas parece que não tenho muita prática.
Jake franziu a testa, indefeso e confuso.

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— Você se insinua o tempo todo. Nunca conheci alguém assim.


— Como assim? — perguntou ela, intrigada.
— Você é muito... sensual. Encantadora. Eu gostaria de abraçá-la e saciar o meu
desejo. Por um momento, tive vontade de levá-la para o meu quarto.
Cheri sorriu, hesitante.
— Você me acha encantadora?
A expressão de Jake mudou.
— Não importa — disse-lhe, como se desejasse não ter feito o elogio.
— Tudo bem, então vamos voltar ao ponto em que você queria me carregar para o
quarto.
Ele a olhou fixamente.
— Penso nisso pelo menos umas cinco vezes por dia.
— Eu também.
Houve um momento de silêncio.
— Você também?
— Sim. — Encarou-o, esperando. Pairou um suspense no ar. — Somos legalmente
casados. Não há nada ilícito nisso.
— Pode acabar com todos os nossos planos.
— Por quê?
— Porque sim. Teríamos um relacionamento... pesado.
— Não necessariamente. Poderíamos fazer apenas uma vez. Só uma. Para ver
como é. Saciar nossa curiosidade. Aí saberíamos como é e... bem...
— Desejaríamos continuar.
— Acha?
— Você é mesmo ingênua, não?
Ela assentiu.
— Isso é porque eu... bem, quero ter minha primeira vez. Sinto-me segura a seu
lado. Tenho atração por você. Somos casados, pelo menos por enquanto. Por que não
fazer amor? Por que não me leva para a cama?
— Sexo pode mudar tudo. Não teremos como voltar atrás.
— As coisas não têm sido nada agradáveis. Talvez deva mesmo haver uma
mudança. Aliviaria a tensão. Poderíamos parar de brigar. Temos que fazer algo.
— Eu a quero tanto... Não consigo nem raciocinar mais — falou ele num tom rouco
e baixo. — Você é tão desejável... — sussurrou, beijando-a ardentemente.
A cabeça de Cheri girava. Feliz, beijou-o com a mesma intensidade. Começou a
desabotoar a camisa do marido. No mesmo instante, ele parou de beijá-la e arrancou a
camisa. Tirou também os óculos e colocou-os na mesa da cozinha.
Cheri não hesitou. Livrou-se da camiseta e a jogou de lado.
Colocou as mãos por trás das costas e abriu o sutiã, deixando-o cair pelos braços,
e atirou-o ao chão. Jake a fitou com veneração. Ela se sentia orgulhosa do próprio corpo.
Sorrindo, deu um passo à frente e comprimiu os seios contra o peito nu do marido.
Jake murmurou um som ininteligível. Segurou a esposa nos braços e beijou-lhe o
ombro. Depois deslizou a mão sobre os seios, massageando-os. Mordiscou-os. Cheri
gemeu de prazer ao sentir-se tocada.
De repente, Jake a pegou no colo. Ela levou as mãos ao pescoço firme, beijando-
lhe o rosto e os cabelos até chegarem ao quarto. Lá, ele a deitou sobre a cama e
começou a tirar-lhe o short.
Cheri ficou nua. Nunca estivera sem roupa na frente de um homem.
Instintivamente, dobrou os joelhos, tentando se esconder.
Depois de jogar as roupas ao chão, Jake abriu o zíper da calça. Despiu-se num
segundo. Ela suspirou ao vê-lo.
Jake a fitou e sorriu.

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— Vai machucar um pouco porque você ainda é virgem.


— Sei disso. Outras mulheres que você conheceu eram virgens?
— Não. Esta será uma experiência nova para nós dois — falou-lhe, encarando-a
intensamente. — Estou um pouco nervoso.
Ela sorriu, trêmula.
— Serei dócil com você.
Jake riu de novo.
— Você e suas brincadeiras... Aqui, o professor sou eu.
Cheri percorreu com as mãos todos os músculos fortes do tórax masculino. Sentiu
cada centímetro coberto de pelos. Tocou-lhe os mamilos, deixando-os rijos.
— Então me ensine alguma coisa...
Jake semicerrou os olhos ao beijar-lhe a boca. Acariciava a pele da esposa,
tocando com os lábios cada ponto erótico. Segurava-lhe o corpo ardente, afagando os
seios.
Cheri sentiu os olhos encherem-se de lágrimas. Esperara tanto para que aquilo
acontecesse com o homem certo... E, finalmente, podia desfrutar daquele momento com
muito prazer.
— Oh, Jake... — sussurrou ao sentir uma lágrima rolar.
— Pode fazer isso comigo para sempre!
Os lábios de Jake deixaram os seios fartos.
— Não vou conseguir me segurar por mais tempo, Cheri.
— Então, vá em frente — concedeu ela com voz rouca.
Ele a fitou nos olhos e colocou-a sobre seu corpo. A boca feminina abriu-se,
ofegante, ao sentir os dedos do marido em seu ponto mais íntimo. Uma onda de prazer
invadiu-lhe os sentidos e a respiração acelerou-se.
— Oh, Jake!
— Cheri...
— Estou ficando fora de mim! — Instintivamente, dobrou os joelhos e os quadris, e
começou a balançar-se. Queria saciar o desejo que a dominava. — É assim que
funciona? — perguntou com voz entrecortada.
— Sim...
Jake moveu-se, para ficar sobre Cheri. Penetrou-a. Uma leve dor fez com que ela
soltasse um pequeno soluço. Jake se deteve.
— Você está bem?
— Sim. Quero que continue.
Gentilmente, ele recomeçou os movimentos. Cheri sorriu e outra lágrima rolou por
sua pele.
— Não está machucando mais — sussurrou. — Vá em frente.
Ele beijou-lhe os lábios e murmurou:
—Você é a mais doce das mulheres, a mais adorável...
E a beijou com agressividade, enquanto a esposa o agarrava intensamente.
A dor aplacou-se no momento em que se tornaram um só. Jake movimentava-se
sem parar. Cheri arquejava enquanto o marido lhe beijava o pescoço.
Começou a ofegar com cada movimento acelerado de Jake. Seu corpo, em
sintonia com o dele, pulsava no mesmo ritmo.
De repente, sentiu uma mudança no corpo. Um espasmo. A reação fez com que
soltasse um gemido. Sentiu-se transcender, suspensa no ar. Depois, deu um pequeno
grito, ao sentir o corpo romper em convulsões de tórrido prazer.
Após um intenso alívio, Cheri relaxou e suspirou. Mas Jake continuou a segurá-la.
Ainda pulsava dentro dela. Percebeu, um pouco tarde, que o sêmen devia ter se instalado
na esposa. Havia esquecido de proteger-se.
Seria provável que Cheri ficasse grávida logo na primeira vez?

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Decidiu não se preocupar com isso. Fazer amor tinha sido tão magnífico... Não iria
estragar tudo com preocupações tolas.
Permaneceu ao lado dela e beijou-lhe os cabelos.
— Eu não sabia que poderia ser assim. Atingi um ponto que não imaginava existir.
Cheri riu e percorreu-lhe o peito com a mão.
— Você foi maravilhoso. Fez da minha primeira vez algo muito especial — disse,
sentindo os olhos encherem-se de lágrimas.
Quase declarou que o amava. Encostou a cabeça no ombro largo. Sentia-se
confusa.
— Machuquei você? — perguntou Jake, percorrendo-lhe docemente o braço.
— Não. Foi como... se eu tocasse o céu.
Com a cabeça reclinada no ombro do marido, Cheri não podia ver-lhe o rosto.
Sentia-se mais segura assim. Receava que a emoção pudesse incomodá-lo. Queria vê-lo
feliz com a experiência. Não desejava que acabasse. Aquele ato tornara claro seu amor
por aquele homem.
Oh, não! E agora?
"Foi como se eu tocasse o céu", Jake repetiu silenciosamente ao acariciar a pele
da companheira.
Que maneira diferente de sentir-se! Nunca imaginou que sexo pudesse fazer com
que alguém fosse levado ao... mundo espiritual. Cheri tinha lhe despertado algo muito
importante. Dali por diante, iria querer cada vez mais.
E era exatamente esse o problema. Uma vez começada aquela história, não
desejariam interrompê-la. Teve a impressão que Cheri não se importaria, que não se
preocupava com o futuro ou com o que estava acontecendo. Era impulsiva. Fez com que
Jake agisse com impulsividade também. Foi inevitável resistir.
Mas... e a partir daquele momento?
O desejo o levara longe demais. Todos os seus planos poderiam ruir. O que
aconteceria a seguir? O que deveria fazer para pôr um fim naquilo?

Capítulo 8

Naquela noite, Cheri chamou o marido para jantar, como de costume. Não se viam
desde a manhã, quando trocaram um rápido beijo depois de deixar a cama. Cada um
então se entregara às atividades de rotina.
Agora, Cheri se perguntava como Jake iria se comportar. Arrepender-se-ia por
terem feito amor?
Ele entrou e sentou-se. Quando a esposa serviu o prato principal, pimentões
preparados à moda da Hungria, sorriu-lhe e comentou que o cheiro estava uma delícia.
A reação fez com que ela se sentisse aliviada. Receava que o marido agisse
injustamente e a acusasse de seduzi-lo, como já acontecera.
Sentou-se à mesa depois de servi-lo. Antes de começar a comer, disse:
— Não sei quanto a você, mas senti uma energia extra o dia todo. Não sabia que
fazer amor revigorava tanto assim!
O comportamento de Jake mudou um pouco. Mastigava mais devagar e mantinha
o olhar preso ao prato. Depois de engolir, observou:
— O que compartilhamos juntos foi uma experiência inesquecível, mas vamos ter
que encarar o fato como um incidente isolado.

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— O que quer dizer?


— Acho que precisamos fazer um juramento para que não aconteça de novo.
A decisão unilateral fez com que ela se sentisse magoada.
— Por quê?Acho que saímos dos trilhos. Perdemos nossos objetivos de vista.
Ambos decidimos utilizar esta oportunidade, que foi planejada por meu pai, a fim de
enriquecer nossa vida profissional. Prometemos não fazer sexo, lembra-se?
— Sim, mas... isso foi antes. Não sabíamos que iríamos sentir atração um pelo
outro.
Ele assentiu com severidade.
— Exatamente o que meu pai queria. Um homem e uma mulher juntos numa ilha
isolada... o que você queria que acontecesse? Mas temos que pensar em nossas metas
profissionais. Assim, Jasper não vencerá este jogo. Ele está brincando com nossas vidas.
Cheri permaneceu calada e mordeu o lábio. Não sabia o que dizer. Os olhos
ficaram úmidos. Sentiu-se como se o mundo maravilhoso que acabara de descobrir
estivesse sendo roubado.
Jake fitou-a por um instante e percebeu-lhe a tristeza.
— Não se sinta mal com isso. Não estou culpando você. Sei que algumas vezes a
acusei de tentar me seduzir, mas foi apenas uma desculpa para camuflar meu próprio
dilema. Refleti sobre isso a tarde toda. A culpa foi minha. Conheço meu pai. Devia ter sido
mais zeloso, e não cair numa armadilha.
— Então, o que sou? Uma isca?
— E uma mulher muito bonita. Adorável. Mas um pouco ingênua. Receio que meu
pai a tenha realmente usado como isca. Tudo o que ele quer são netos. Sabia que você
estava numa situação financeira difícil e aproveitou-se disso.
Cheri balançou a cabeça.
— Você fala de seu pai de um modo tão negativo e cínico... Não acho que ele seja
manipulador, como diz.
— Ele não é tão frio assim. De fato, o método adequado é encontrar maneiras de
acender o fogo entre as pessoas. Agiu assim com meu irmão, e agora comigo.
— Mas seu irmão está bem casado.
— Pura sorte.
Cheri podia ler pelas entrelinhas que o mesmo não aconteceria com eles. Um
sentimento de solidão a dominou. Estava sozinha com seu amor. Para Jake,
aparentemente, tudo não passara de um encontro casual, que devia ter sido evitado.
— Então acha que foi um erro?
Ele hesitou, procurando pelas palavras certas.
— Um lindo erro. Mas aconteceu. Ambos perdemos a cabeça.
— E muito racional de sua parte enxergar as coisas com tanta frieza.
Ele se sentiu pouco à vontade.
— Você é jovem. Foi sua primeira experiência. Mas é muito inteligente. Mais do
que imagina. Vai superar isso. Poderá fazer muito mais do que cuidar de um café. Mas,
se for o que deseja, vá em frente. Não valorize tanto a hora de sexo que teve comigo.
— Mas... sexo é algo normal. As pessoas precisam disso. Elas não podem lutar por
seus objetivos e fazer sexo?
Jake esfregou os olhos.
— Sim, claro que podem. Mas se distraem e consomem tempo com isso. Existem
muitas outras coisas importantes a fazer. É bobagem perder tempo alimentando um
relacionamento. Isso nos leva a pensar na conversa do começo. Cada um de nós queria
levar uma vida de solteiro. Certo?
Cheri assentiu, relutante. Sim, dissera isso. Supunha que o marido estivesse certo.
Droga!
— Correto. Se é assim que você quer...

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— Não é também o que quer? — perguntou ele num tom professoral. — Pense
antes de responder.
Ela pressionou os lábios. Jake parecia racional ao extremo, mas agira com
impulsividade ao levá-la para a cama. Fora devorado pelo desejo. Talvez pudesse
acontecer de novo. Precisava de um pouco de paciência.
— Acho que quero tudo. Não gosto de fazer escolhas.
Ele ergueu as sobrancelhas. Não gostou da resposta.
— Mas, quando estava noiva, colocou o sexo de lado. Não foi?
A pergunta pegou-a de surpresa. Tinha até se esquecido. Mas sabia a razão: não
amava o ex-noivo. Talvez, no fundo, não confiasse nele. Mas com Jake era diferente.
Faria qualquer coisa por aquele homem.
Molhou o lábio, enquanto refletia como responder.
— Eu tinha uma regra básica: sexo, só depois do casamento. E nunca me casei.
Mas agora... estou casada com você!
— Foi um casamento imposto. Ambos sabemos que terminará em um ano.
— Mas somos legalmente casados. Se é um casamento por conveniência, por que
não fazer sexo por conveniência também?
Jake desviou o olhar, surpreso com a lógica da esposa.
—Está tão ansiosa assim para deitar-se de novo comigo?
—Acertou! Você é um amante magnífico. Quero mais!
Dessa vez foi Jake quem corou. Mas tentou manter a compostura.
— Foi isso que lhe falei, lembra? Que iríamos querer mais.
— E por que não? Não é mais fácil ter concentração no trabalho se as
necessidades sexuais estiverem satisfeitas?
Ele balançou a cabeça. Sentia-se muito pouco à vontade.
— Não acho. Gostaria de ir para a cama com você constantemente. Não faria mais
nada. Desequilibraria minha vida. Completamente.
— Isso aconteceu nos relacionamentos que teve antes?
— Não. As outras mulheres entendiam minhas prioridades. Não sei por que, mas
isso não era um problema. Aqueles relacionamentos não duravam muito. No nosso caso,
ficaremos aqui um ano inteiro.
— Entendo. Mas não compartilho essa sua... prioridade.
Ele respirou fundo e levantou a cabeça.
— Percebo que não compartilha. Aparentemente, ainda não aprendeu. Isso vem
com a maturidade.
— Mas você sempre foi tão maduro! Mesmo quando mais novo, tudo o que fazia
era estudar. Portanto, acho que nasceu assim.
Jake riu e coçou o queixo.
— Pode-se dizer que você está certa. Mas eu não queria que fosse desse modo.
Temos pontos de vista diferentes sobre a vida. Estabeleço meus próprios parâmetros.
Você deve fazer o mesmo, acho. Mas, depois, pula fora.
Cheri percebeu que tinha de levar as coisas no ritmo de Jake, se quisesse atingir
sua nova meta. Ele já a acusara de querer permanecer casada... o que, naquele
momento, era a mais pura verdade. Apaixonara-se pelo marido de conveniência. Queria
continuar a viver com ele, e fazer amor todos os dias.
—Obrigada por ser direto comigo. Ambos queremos continuar amantes, mas, se
você não estiver se sentindo à vontade com isso, então não seremos. Irei atrás de meus
interesses, e você faz o que quiser dos seus.
Ela sabia que, se quisesse ter alguma esperança, era melhor fazer com que Jake
se sentisse o menos manipulado possível. Se a procurasse de novo, deveria ser por livre
e espontânea vontade.
Jake a encarou por um momento, tentando verificar se escutara direito. Parecia

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aliviado.
— Fico contente em ver que você entende. No fim, vai ficar feliz por retornar ao
acordo original.
— Espero que esteja certo.
Conversaram sobre outros assuntos. Decidiram quais mantimentos comprar, como
progredia a horta, se o entupimento da pia do banheiro não voltaria.
— Como vão indo suas corridas matinais? Já percorreu toda a ilha? — perguntou
ela.
— Não. Sempre corro dois quilômetros e depois volto.
— Eu também não conheço o percurso todo. Como começou a esquentar, eu
queria encontrar a prainha que há por aqui.
— A água ainda deve estar fria. Só melhora no verão.
— Tudo bem. Estou mais interessada em me bronzear. Já que temos uma praia
particular, poderei tomar sol nua. — Observou-o. — Posso levar o material do curso por
correspondência e estudar. Assim, não perderei tempo.
Ele assentiu. Manteve o olhar fixo no prato e murmurou:
— Boa ideia.
Cheri pensou em convidá-lo para ir junto, mas decidiu não tomar a iniciativa.
Esperava que ele já estivesse pensando nisso, e pudesse imaginá-la nua na areia...
No dia seguinte, Cheri acordou cedo e caminhou por toda a ilha. Descobriu que a
praia não era muito longe da casa. A trilha que levava até lá escondia-se por entre uma
fileira de árvores. Seguindo o estreito caminho, chegaria à praia em dez minutos.
No jantar daquela noite, avisou ao marido da descoberta e comunicou-lhe sobre a
intenção de tomar banho de sol no dia seguinte.
Do topo do morro, Jake observava o balão meteorológico que acabara de soltar. O
objeto subia, carregando uma caixa de sensores. Ele lançava aos céus dois balões por
dia, sem falhar. Pegou o binóculo e estudou a formação de nuvens acima das montanhas,
a oeste do horizonte.
Abaixou o binóculo e percorreu com os olhos parte da ilha. Não conseguia vê-la
toda. Localizara alguns morros no lado sudeste, mas não conseguira divisar a área
completa.
Com a chegada da primavera, ele podia avistar flores selvagens no prado acima do
morro. Um pouco além, enxergava a margem do lago Puget Sound e suas águas
cintilantes. Pensou ver algo se movimentando, e ergueu o binóculo para focalizar melhor.
Ao fazê-lo, pôde ver uma mancha entre as árvores. Parecia haver um movimento
na areia. Ao centrar mais o foco, viu Cheri, os cabelos longos esvoaçando enquanto
caminhava à beira da água, olhando para baixo, talvez procurando conchinhas.
As nádegas estavam descobertas, e Jake apreciou-lhes a beleza. Ao se virar, viu
os seios bonitos em contraste com a cintura delicada e fina. Notou que a esposa se
abaixava para pegar algo no chão, e que os cabelos cobriram os bicos dos seios antes de
a brisa os soprar.
Sentiu-se observando uma adorável ninfa, de inacreditável beleza... Abaixou o
binóculo, desejando não ter vislumbrado a esposa. Nem mesmo sabia que a praia ficava
naquele ponto. Esforçou-se para esquecer a cena que vira e começou a descer o morro.
Ao se aproximar da base, olhou para a fileira de árvores, situadas a uma pequena
distância da casa, e pela primeira vez notou uma trilha estreita. Na certa Cheri a
percorrera para chegar à praia.
Viu-se parado em frente à picada, embora sua intenção fosse voltar para casa. Não
podia ultrapassar o caminho atrás das árvores. Era proibido. Fora de seus limites. Se
fosse até lá, não teria força de vontade para retornar.
Mas a imagem de Cheri não saía de sua mente. Mais de uma semana se passara
desde o dia em que a levara para a cama. Era difícil esquecer os detalhes eróticos que

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compartilhara com a esposa. Vê-la nua na praia ia além daquilo que poderia suportar.
Começou a caminhar pela trilha em meio à mata. A cada passo, dizia a si mesmo
que estava cometendo um erro, que devia voltar, que tinha trabalho a fazer. Que havia um
projeto científico a ser elaborado e uma carreira a seguir. Mas não deu ouvidos à teimosa
voz da consciência.
A picada o conduziu a uma área cheia de sol. A praia ficava a pouca distância, no
interior de uma enseada. Ele parou na encruzilhada e perguntou-se onde Cheri poderia
estar.
De repente a viu deitada sobre uma toalha, o ventre liso voltado para cima. Lia o
livro de contabilidade. Não o vira. Ele poderia voltar sem ser notado. Mas, ao fitar-lhe os
quadris e as curvas atraentes, deixou a ideia de lado. Caminhou em direção à praia.
Jake estava a três metros quando Cheri ouviu o barulho dos sapatos pisando a
areia. Olhou para cima, surpresa, e derrubou o livro. Em seguida, instintivamente, cobriu-
se com a toalha.
— Jake! — Sorriu. — Que surpresa!
Ele retribuiu o sorriso, mas não soube o que dizer. Enfiou as mãos no bolso e fez
uma reverência.
— Você está passeando? — indagou Cheri.
— Não. Fui até o morro e a vi pelo binóculo — explicou, com o coração batendo
mais rápido. Observou-lhe os cabelos, que caíam sobre os ombros, as pernas bem
torneadas. — Você... é tão bonita...
Ela sorriu e desviou o olhar, tímida.
— Então veio me ver? Que bom. Eu esperava que viesse até aqui, para desfrutar
essa praia comigo. E um lugar delicioso.
Jake teve a impressão de que a esposa tinha certeza de sua ida até lá. Sim, ele
fora atraído pela isca. Mas, àquela altura, o corpo lhe pedia para ser saciado.
— Estou morrendo de vontade de fazer amor com você — admitiu com voz rouca.
Os olhos de Cheri brilharam. Soltou um suspiro.
— Eu também. — Retirou a toalha de cima dos seios.
— Sonhei em fazer amor com você aqui... — Deitou-se e olhou para o marido,
ansiosa por recebê-lo, estendendo-lhe os braços. — Oh, Jake... Venha...
Como se estivesse vivendo um sonho erótico, ele tirou a camisa, os óculos, puxou
o zíper das calças e atirou-se sobre Cheri. Beijou-lhe os lábios ardentemente,
acariciando-lhe os seios e acomodando-se por entre suas coxas. Colocou as mãos entre
elas, sentindo-a ansiosa. Cheri gemeu de prazer.
A suavidade com que envolvia o marido fazia com que ele vivesse um momento de
intensa emoção. Não havia possibilidade de se manter afastado dela. Não importava
quanto tivesse tentado. Suas prioridades que fossem para o inferno. Não se incomodava
mais com elas. A esposa fazia com que se sentisse vivo como nunca.
Levado pelo desejo, recuou e deu uma investida mais forte. Cheri arquejou e atirou
a cabeça para trás, gritando-lhe o nome. Contorceu-se, os seios pressionados contra o
peito largo. Jake acariciou-a e beijou-lhe o pescoço, enquanto movimentava-se dentro
dela.
— Estou machucando? — perguntou.
— Eu quero você... E como! E tão forte... tão viril... — falou ela, ofegante, enquanto
o apertava.
Seu corpo estremeceu violentamente. A reação fez com que ele sorrisse. No ápice
daquele momento, fora de si, Jake explodiu de prazer. Ficaram alguns minutos agarrados,
prolongando aquele doce instante.
Aos poucos, suavemente, soltaram-se. Jake deitou-se ao lado dela, mantendo-a
abraçada. Quando recuperou o fôlego, disse:
— Devo ter delirado, pensando que podíamos nos manter distantes.

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Ela riu e percorreu com a mão o tórax musculoso.


— Com certeza.
— Você me seduziu. Parece uma sereia. Veio tomar sol nua para me atrair de
novo.
— Acertou — admitiu ela. — Estava começando a me perguntar se você viria até
mim. Senti sua falta.
— Você estava certa. Já que temos um casamento por conveniência, podemos
fazer sexo por conveniência.
Ela sorriu, os olhos brilhando de alegria.
— Quando quisermos? A partir de hoje?
Jake assentiu.
— De hoje em diante. Estarei disponível quando quiser. Sente-se melhor assim?
Cheri suspirou, feliz.
— Muito melhor! — sussurrou.
Jake sentiu-se hipnotizado por sua expressão doce.
— Mas há um senão: você não pode engravidar. Suponho que não tomasse
pílulas, certo?
— Não, nunca tomei.
— Vamos ter que pedir alguns preservativos na farmácia.
— Tudo bem. Eu coloco na lista de compras.
Ficaram na praia durante mais algumas horas e fizeram amor de novo. Depois
caminharam até a casa. Jake não se arrependera. Estava satisfeito. Mesmo sabendo que
se encontrava ali por causa de um capricho do pai, reconhecia que aquilo era um paraíso.
Estava vivendo em sua própria ilha com uma mulher linda, que o desejava e fazia com
que se sentisse um herói. Por que desistir daquilo?
Cheri propusera continuar os estudos e fazer sexo. Talvez estivesse certa. Ele
nunca tentara agir assim, mas tinha a sensação de que, se experimentasse, iria gostar.
Poderia funcionar. Sim, aquele ano seria glorioso!

Capítulo 9

Quatro meses depois, Jake sentia-se contente consigo mesmo e com o mundo.
Fazer amor com Cheri lhe dava uma satisfação indescritível, o trabalho científico estava
em dia e o estudo do microclima caminhava bem.
Algumas vezes, como naquele momento em que se deitara com a esposa na praia
e fizera amor, ficava ouvindo o barulho das ondas, observando as nuvens imensas, e
começava a pensar que tudo na Terra era perfeito.
Isso o assustava um pouco. Em menos de seis meses a temporada na ilha
terminaria. Quando refletia a respeito seriamente, sentia-se pouco à vontade,
transtornado. Seria capaz de ajustar-se a sua antiga vida em Wisconsin? Sozinho e
ensinando na universidade?
Claro que organizaria algumas expedições científicas, que poderiam dar mais
emoção à sua vida. Mas a rotina diária talvez pudesse tornar-se vazia.
Mas tinha metas a seguir. Não poderia deixar que o relacionamento com uma
mulher maravilhosa atrapalhasse seu caminho. Às vezes, em momentos mais eróticos,
quando não refletia com tanta clareza, pensava em pedir a Cheri para morar com ele em
Madison. Mas o bom senso lhe dizia que, mesmo sendo esse seu desejo, não funcionaria.

57
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Ela mexera com um novo lado de sua personalidade, e que lhe era desconhecido.
Jake deixara o cabelo crescer. Podia andar seminu quando quisesse, porque a esposa
apreciava vê-lo à vontade. Faziam sexo quando e onde quisessem.
Muitas vezes, quando Cheri lhe levava sanduíche no almoço, amavam-se na
cadeira, em frente ao computador.
Não poderia voltar para Madison e comportar-se dessa maneira entre os colegas
acadêmicos. Havia perdido toda a disciplina. Provavelmente leriam em seu rosto, ou nas
atitudes, que se tornara um viciado. Poderiam até pensar em drogas, mas nunca
adivinhariam que o professor Derring estava hipnotizado por uma linda sereia que lhe
satisfazia todas as fantasias.
Não havia dúvida de que tudo aquilo deveria parar. No final do ano deixaria Cheri,
como haviam planejado, ou nunca teria de volta a vida antiga.
Sabia que enfrentaria um período de abstinência. Não previa quanto tempo duraria.
Não seria fácil afastar-se de Cheri. Pensava nela como uma companheira de verdade, o
que era um erro. Mas acontecera.
Haviam estabelecido um relacionamento intenso, um vínculo íntimo, sedutor. Ele
estava preso àquela mulher num nível muito mais profundo do que realmente pretendia.
Fitou a esposa. Era tão especial e bonita! Seria melhor que a deixasse logo, antes
de se envolver ainda mais. A ponto de não haver mais retorno.
Um sentimento de caos se apoderou dele. Desviou o olhar e fitou o azul do céu.
Esperava encontrar determinação suficiente para agir. Teria que ser duro consigo mesmo
se quisesse encontrar o caminho de volta para sua velha e verdadeira vida.
Cheri estudava o pequeno calendário na cozinha. Contava as semanas e sentia-se
um pouco tensa. Não prestara atenção às últimas menstruações. Percebeu que não
menstruava havia dois meses. Algumas vezes sentia enjoo pela manhã, notou os seios
um pouco inchados.
Pensou em contar a Jake a respeito, mas decidiu não fazê-lo. O marido andava um
pouco diferente, distante. Mas ainda faziam amor. Era melhor não comentar nada até ter
certeza. Telefonou para a farmácia em Anacortes e pediu uma embalagem de teste de
gravidez.
Naquela noite, quando sentaram-se à mesa da cozinha para jantar, ela perguntou:
— Jasper vem nos visitar na próxima semana?
— Até onde eu sei, virá. Melhor ligar para ele hoje à noite.
Jake continuou a comer, sem ao menos fitá-la. Cheri experimentou mais uma vez
aquela sensação de frieza e distância. O marido parecia alheio, preocupado com alguma
coisa.
Estranho. Poucas semanas atrás, ela até começara a sentir-se segura quanto ao
amor que compartilhavam. Os últimos meses tinham sido muito felizes. A tensão e as
indefinições do relacionamento haviam se dissipado. Dividiam as preocupações e os
sucessos. Cheri aprendera meteorologia e achara fascinante. Jake a ajudara nos
problemas de Matemática. Tudo funcionava como se estivessem mesmo casados.
E então, de repente, Jake começou a se comportar como se não tivesse nenhum
interesse nela. Com o passar dos dias, conversava cada vez menos. Também comia
menos.
— Você acredita que Jasper ainda tenha alguma esperança de nos ver casados?
Você o desencorajou, quando ele veio nos visitar no aniversário...
— Meu pai nunca desiste.
Ela umedeceu o lábio, tentando preparar-se para uma resposta que não gostaria
de ouvir.
— O que dirá a ele?
O marido a fitou com intensidade, como se quisesse entender melhor a pergunta.
— Direi que estamos mantendo nosso acordo.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

A resposta foi pungente. Cheri baixou os olhos e assentiu.


— Certo.
— Continuamos a cumprir o combinado, não é?
Cheri não soube como responder. Diria que queria ficar casada?
— Se é o que você quer...
— Não venha com evasivas. Não é o que também quer?
Ela forçou um sorriso.
— Gosto de estar casada com você. Parece... triste ter que acabar. Temos que
terminar mesmo?
Houve uma mudança sutil na expressão masculina. Parecia confuso, mas as
palavras soavam como se fossem transmitir algo positivo quando respondeu:
— Foi nosso acordo. Tem sido bom, mas não foi o que planejei para o futuro. Nem
você.
— Os planos podem mudar.
— Se tiver um objetivo em mente, é melhor não pisar em areia movediça só porque
a areia lhe parece atraente. Não posso mudar minha vida. — Estudou-a por alguns
instantes e perguntou: — Não está tentando romper nosso contrato, está?
— Não sei. Tenho de admitir que meus sentimentos mudaram. Gosto de viver com
você e compartilhar tudo.
— Sim. Sexo é prazeroso, mas não essencial. Há muitas outras coisas importantes
a fazer. Principalmente os planos de vida.
— Pensei que nosso relacionamento fosse além do plano físico.
— Ah! Agora vai me dizer que está apaixonada! Que conveniente! Uma vez
suspeitei que quisesse ficar casada comigo para nunca mais ter de se preocupar com
dinheiro.
— Jake!
— O que diz aquele velho ditado? "E fácil se apaixonar por homem rico." — Ele
pegou o guardanapo e atirou-o sobre a mesa. — E isso, não é? É o que quer. Seduziu-me
e agora quer manter o casamento.
Lágrimas inundaram os olhos de Cheri.
— Como pode dizer um absurdo desses?
— Oh, agora também temos lágrimas! Sinto muito. Mas me recuso a ser
manipulado por emoções femininas!
Saiu, furioso, deixando-a sozinha na casa. Ela permaneceu à mesa, enxugando as
lágrimas, perguntando-se como conseguira conviver tanto tempo com um homem
insensível. Não passara de um objeto nas mãos dele. Jake nunca lhe dera valor. O que
iria fazer se estivesse mesmo grávida?

Poucos dias depois, Pulse chegou à ilha com os suprimentos da semana.


Percebeu que Cheri estava triste, mas nada disse.
Depois que o piloto se foi, Cheri pegou a caixa do teste de gravidez e foi ao
banheiro. Minutos depois sabia o resultado.
De fato, estava grávida.
Naquele momento, arrependeu-se das ocasiões em que não usara preservativo.
Tinha que contar a Jake. Mas ele agia com tanta frieza... Pensaria que Cheri
engravidara de propósito. E a última coisa que queria era que o marido se sentisse
obrigado a ficar a seu lado.
Decidiu fugir. Assim, Jake não descobriria a verdade. Não suportaria ouvir-lhe as
acusações injustas.
Tinha que partir, e logo. Antes de a barriga começar a crescer.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

Jake caminhava do lado de fora da casa, fitando o céu. Esperava pelo hidroavião,
que levaria o pai à ilha.
O casamento tornara-se péssimo. Ele e Cheri mal conversavam. Esperava se
afastar gradualmente, com dignidade. Mas fizera acusações graves e tolas.
Não sabia como se desculpar. Temia que isso o levasse de volta aos braços de
Cheri. Decidiu manter distância, já que o relacionamento físico havia acabado.
Ela vinha agindo de maneira estranha. Chorava, ou ficava isolada. Passava horas
no quarto. Naquele dia teriam que colocar as cartas na mesa.
Em poucos minutos, avistou o avião. Foi até o píer. Ajudou o pai a descer da
aeronave e o conduziu à casa.
— Nunca mais cortou o cabelo, meu filho? — perguntou Jasper.
Jake baixou o olhar. A esposa gostava de cabelo comprido.
— Vou até Anacortes qualquer dia desses e resolvo isso.
Naquele momento, Cheri apareceu e apressou-se em cumprimentar o sogro.
Abraçou-o calorosamente e começou a chorar.
— Estou tão feliz em vê-lo... — falou, secando as lágrimas.
— Comeremos dentro de uma hora. Por que vocês não vão até a horta?
Assim que pai e filho sentaram-se num banco sob uma árvore frondosa, com suas
xícaras de chá, Jake resolveu abrir-se.
— Receio que as coisas tenham acabado, papai. E ruim, mas avisei que não daria
certo. E por isso que ela está transtornada.
— As coisas acabaram? Até que ponto?
— Até o fosso. Na verdade, não há nem mesmo diálogo.
— Isso é péssimo — observou Jasper, balançando a cabeça. — Vocês pareciam
se dar tão bem...
— Na verdade, não. Ela é jovem e tem um estilo de vida diferente do meu. E...
confusa. Viver junto a Cheri é muito difícil.
— Tem certeza de que viver com você é que não é fácil?
— Talvez. Não fui talhado para o casamento.
Jasper processou a informação e ficou curioso. Jake ignorou o pai e mudou de
assunto. Falou-lhe sobre o progresso nos estudos de meteorologia. Assim, evitava
comentar sobre o destino daquele casamento.
Jasper bocejava quando Cheri os chamou para jantar. Fizeram a refeição em
silêncio. Jake notou que o pai os olhava, como se estivesse medindo cada gesto. De
repente, elogiou Cheri pela comida.
— Esse carneiro assado está uma delícia. Saboroso e tenro. Como o preparou?
Ela parecia distraída. Mas tentou responder:
— Eu... marinei no vinho e coloquei temperos diferentes. Depois cozinhei durante
horas. É por isso que está tenro.
— É uma pena não poder usar esse método com Jake — disse o sogro, brincando.
Pela primeira vez naquele dia, Cheri sorriu.
— É uma pena. Mas talvez não funcione. Ele tem um couro duro.
Jake ficou em silêncio, cortando a carne. Não sabia ao certo a que ponto aquela
conversa chegaria. Nunca ouvira a esposa falar assim.
— Jasper... -— disse ela, colocando o garfo com gravidade sobre a mesa —, quero
lhe pedir um favor.
— Claro.
— Não consigo mais ficar aqui. Você já deve ter percebido que eu e Jake não...
ahn... nos damos bem. Não posso manter esse casamento por mais tempo. Sei que ainda
não passou um ano, mas prefiro perder o dinheiro que me ofereceu. Eu... eu... só quero
ficar fora disso.

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Jake começou a sentir o ar faltar. Ficou tonto, mas recuperou o fôlego, recostando-
se na cadeira. Nunca esperava que Cheri fosse agir com tanta franqueza. Seria alguma
nova estratégia?
— Você sabe que, se deixar a ilha agora, a universidade também não receberá a
verba — lembrou Jasper gentilmente.
Os olhos dela encheram-se de lágrimas.
— Mas fui eu que decidi sair deste casamento. Por que puni-lo?
Jake sentiu-se embaraçado ao ouvi-la argumentar a seu favor. Suas palavras eram
tão sinceras... Estava até assumindo a culpa! E ele a havia acusado de querer manter o
relacionamento pelo dinheiro...
Sentiu-se um monstro.
— A culpa é minha — falou. — Sou eu que não quero continuar casado.
Transformei a vida de Cheri em algo desagradável. Por que não guarda seu dinheiro,
papai, e deixa cada um seguir seu caminho? É a melhor solução.
Fitou a esposa e notou lágrimas correndo por seu rosto. Ela parecia triste. Por quê?
Será que no fundo sentia vontade de viver a seu lado?
A ideia de vê-la partir deixava-o inquieto. Ele também experimentaria uma perda.
Por que Cheri tinha tanta pressa?
Jasper deu um lenço à nora.
— Não chore. Não fique aflita. Não é bom para você. Vamos superar isso juntos.
Só tem que conservar sua força.
Ela pegou o lenço e enxugou as lágrimas.
— Não vamos superar. Já acabou.
— É só o que parece.
— Não. Acabou mesmo. Tenho que sair dessa ilha agora.
Jasper pareceu um pouco incomodado.
— Sinto muito. Não estava tentando fazer com que ficasse. Claro que pode ir
comigo esta noite. E espero que possa ser feliz um dia. Quero ajudá-la.
O jantar terminou. Cheri avisou ao sogro que sua bagagem estava pronta. Jasper
garantiu-lhe que a levaria no mesmo voo, ou faria uma reserva para os dois no próximo
avião.
— Posso levar minha gatinha?
— Claro que sim — Jasper respondeu. — Faremos uma reserva para ela.
Cheri sorriu, aliviada. Jake sentiu-se incrivelmente perdido e confuso.
— Então... o que quer que eu faça? — perguntou ao pai.
— Que fique aqui? Que volte para Madison?
— Isso é com você — Jasper respondeu friamente. — O que quer fazer?
— Terminar meus estudos na ilha.
Mais do que isso, ele sentiu que precisava de um tempo sozinho, para se
recompor, antes de retornar à vida na universidade.
— Então permaneça aqui até o final do ano. Já providenciei a maior parte do
dinheiro para subsidiar a pesquisa. Continuarei até o fim. Fui eu que lhe pedi para vir.
Então, devo-lhe isso. Está bem assim?
— Está.
— Ótimo. — Jasper olhou para o relógio. — O hidroavião estará de volta em meia
hora, Cheri. Melhor levar suas coisas para o píer. — Dirigiu um olhar de descrédito ao
filho. — Deixe a louça suja para Jake lavar.
Mais tarde, quando o avião chegou, Cheri virou-se para Jake e estendeu a mão.
— Adeus. Sinto muito que tenha acabado dessa forma. — Seu rosto tinha uma
expressão tensa.
— Eu também sinto. Gostaria que tivesse discutido o assunto comigo em vez de
partir bruscamente.

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— Você estava tão bravo... Nós mal conversávamos. Como eu poderia lhe falar?
Ele não tinha uma boa resposta para dar.
— Vai me telefonar de Chicago? Não me sinto bem em deixar as coisas como
estão.
Ela o encarou por um longo momento. O olhar transmitia dúvida.
— Talvez eu ligue.
— Quero saber onde está e aonde vai — falou enquanto a acompanhava até o
avião.
— Entro em contato com você — assegurou ela, engolindo em seco. — Adeus.
Pulse fechou a porta do hidroplano. Momentos depois, sobrevoava a água e
planava pelos ares. Logo transformou-se num ponto pequeno no horizonte e
desapareceu.
Jake caminhou para a casa vazia, sentindo-se desolado, chocado e... roubado.
Parecia-lhe que a vida tinha acabado.

Na manhã seguinte, sentado à mesa da cozinha, comendo o que sobrara do


carneiro, ouviu o telefone tocar. Pulou da cadeira para atender. Esperava que fosse Cheri,
mas ouviu a voz do pai.
— Alô! Oi, papai.
— Você não me parece muito animado.
— Como vai Cheri? Onde ela está?
— Num hotel. Bea e eu oferecemos para que ficasse em nossa casa. Ela, porém,
não aceitou. Achei-lhe um apartamento. Telefonou agora há pouco e disse que retornou
ao seu velho emprego. Ofereci-me para lhe arranjar trabalho num escritório, mas Cheri
não aceitou.
— Em que hotel ela está?
— Jurei que não lhe diria.
— Não pode me contar mesmo?
— Não. Não posso quebrar minha palavra. Você teve sua chance e a jogou fora,
meu filho. Deve ser muito solitário ficar sozinho aí na ilha.
— Vou superar.
— Se conseguir, será péssimo.
— O que quer dizer?
— Encontrar uma mulher que o ame de verdade não é fácil. Teve-a nas mãos e
deixou-a partir.
— Como sabe? Ela lhe disse que me amava?
— Não. Mas no voo só falava em você. Em como iria se virar para comer, para se
cuidar.
— Então, por que partiu?
— Você é um cientista brilhante, um homem que tem um dom inato para
matemática. Por que não sabe somar dois mais dois?
Jake cerrou os dentes.
— Certo. Qual é a questão que não estou entendendo?
— Ela partiu porque achou que você não a amava.
— Talvez esteja certa.
— Mesmo?
De alguma maneira, as palavras "sim, ela está certa" não saíram dos lábios de
Jake.
— Mesmo que eu a ame, não significa que temos que ficar casados. Tenho meus
próprios projetos para o futuro. Se não tivesse interferido, estaria no meu caminho.
— Respeito sua posição, filho, mas devo dizer que é um tanto estreita. Você só vê

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suas próprias metas. Tudo o mais, inclusive a beleza, a sinceridade de uma mulher que o
ama, acha irrelevante. — Jasper suspirou. — Se é assim que quer viver, não vou interferir
mais. Tenho até que admirar sua resolução. Você se parece comigo. Tenho certeza de
que fará uma carreira brilhante. Mas, no final da vida, o que vai ganhar?
— Só vou me casar e ter filhos aos cinquenta anos — Jake argumentou, ignorando
o modo como o pai descrevia seu futuro.
— Até lá, Cheri estará casada com outro homem.
A previsão do pai provocou-lhe um arrepio. Foi como se tivessem lhe atirado um
balde de água fria. Os homens venderiam suas almas para se casar com ela.
— Espera que haja outra mulher esperando por você nos próximos vinte anos? —
Jasper indagou. — Será que alguém vai querer se casar com um homem de meia-idade,
viciado em trabalho? Por dinheiro ou por amor?
— Nunca serei rico. Não permaneci casado o tempo necessário para preencher os
requisitos da cláusula do testamento.
Houve um momento de silêncio.
— Bem lembrado. Chamarei meu advogado e eliminarei a cláusula. Bea nunca a
aprovou. Você vai herdar sua parte. Será sempre um milionário. E, quando estiver com
cinquenta anos, espero que se lembre bem da esposa que deixou escapar. Que gosta de
você do jeito como é. Devo dizer que tentei convencê-la a receber o dinheiro, mas Cheri
se recusa a isso. Paguei o aluguel do apartamento dela só depois de prometer-lhe que
aceitaria de volta cada centavo. Ela tem integridade. Não é fácil encontrar uma pessoa
assim. E, em duas décadas, ficará mais difícil ainda.
Jake sentia-se entorpecido. Calou-se.
— Ainda está na linha? — perguntou Jasper, sem receber resposta.
— Estou. É só um pouco de dor de cabeça.
— Bom sinal. Espero que seja um indício de que começou a pensar.
Jasper desligou o telefone sentindo-se frustrado. A teimosia de Cheri em continuar
sua vida sozinha o deixava preocupado. A seu ver, Jake também não desgrudaria do
trabalho científico.
E havia ainda outro assunto para resolver. Precisaria da ajuda de Bea. Mas sabia
que a esposa ficaria aborrecida com ele.
Caminhou em direção à cozinha, onde ela se encontrava, ocupada em colocar os
ingredientes na máquina de fazer pão.
— Conversei com Jake.
— Como vai ele?
— Solitário. — Sentou-se no banquinho perto do balcão e abriu um sorriso. —
Disse-lhe que tirarei aquela cláusula do testamento.
Bea olhou para o marido.
— Finalmente! Pena que tenha chegado a essa conclusão depois de ter estragado
as vidas de Cheri e de Jake. Espero que tenha aprendido a não interferir mais no destino
alheio.
— Você está certa, como sempre.
Ela o encarou, desconfiada.
— Não seja tão prestimoso. Por trás de um agrado sempre há alguma coisa. O que
está querendo?
— Eu? Nada. Já aprendi a lição. Trata-se de Cheri. Acredito haver alguma coisa
importante por trás dessa partida súbita. Pode ser uma boa notícia...
Bea inclinou-se sobre o balcão, esquecendo-se da massa.
— Continue! — falou, animada.
Jasper fez suspense, certo de que iria revelar algo que só ele supunha saber.
— Suspeito que Cheri esteja grávida.
Bea arregalou os olhos e endireitou-se.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

— Quando você a trouxe aqui, na vinda do aeroporto, achei-a mais magra, não
grávida.
— Ainda é cedo para saber. Talvez daqui a um ou dois meses...
— Ela já foi ao médico?
— Duvido.
— Como sabe que está grávida? Cheri falou alguma coisa?
Jasper coçou o queixo. Essa era .a parte que talvez Bea não gostasse de ouvir.
— Não. Em meus arranjos para os estudos científicos na ilha, concordei em pagar
todas as despesas deles lá, incluindo as compras do supermercado e... da farmácia.
— E...? — indagou Bea, como se já soubesse o que viria a seguir.
— Então pedi que as lojas me enviassem as listas de compras dos dois.
— Verdade, querido? Está me dizendo que bancou o espião?
— Sim, querida. Seja o que for, eu... bem, alguns meses atrás vi pedidos de
preservativos na lista. Então supus que eles tivessem começado... ah, você sabe.
— Imagino. E então?
— E então... cerca de uma semana atrás, havia um pedido de um teste de
gravidez. E logo depois disso, coincidentemente, eu os visitei. Cheri quis vir para Chicago.
Suspeito que esteja grávida e que não queira contar para Jake. Acha que ele não a ama e
está tentando enfrentar a situação sozinha. Dessa forma, Bea, espero que converse com
ela. Sabe como é, as mulheres se entendem. Eu não me sentiria no direito de...
— Não se sentiria no direito? Você os obrigou a esse casamento, esperando que
lhe dessem netos, e, agora que a pobre garota pode estar grávida, quer que eu ajude a
arrumar a confusão?
— Sei que a culpa é minha. Eu devia ter lhe dado ouvidos.
— Tarde demais, querido.
— Fico preocupado com Jake.
— Nosso filho saberá das notícias no tempo certo. Espero que consiga organizar-
se para assumir a paternidade.
Bea bateu com a colher de madeira no balcão.
— Jasper, Jasper! O que vou fazer com você? Coloca nosso filho em julgamento!
— Prefiro a palavra desafio, Bea. Eu os desafio a ver a vida de maneira diferente.
— Manobrando a situação e colocando uma jovem no caminho dele!
— E deixando a natureza tomar seu curso — Jasper falou, convicto. — E suspeito
que a natureza já deu conta do recado. Só espero que os dois fiquem juntos de novo.
— Eu também — Bea observou, balançando a cabeça, um tanto preocupada. —
Eu também.

Capítulo 10

Cheri sentou-se com Bea e Jasper na linda sala da mansão. Nunca estivera numa
casa como aquela e sentiu-se intimidada. Preferia ter ficado em seu apartamento, por ser
sua noite de folga do trabalho. Mas acabara aceitando o convite para jantar.
Jasper levantou-se, disse que tinha uma ligação para fazer e piscou para a esposa
ao sair da sala. Bea suspirou e sentou-se mais perto de Cheri, no sofá.
— É um tanto embaraçoso, mas eu gostaria de conversar com você sobre um
assunto.

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— Claro — concordou Cheri.


— Jasper tem um palpite. Bem, ele acha que talvez você esteja a caminho de...
ahn... formar uma família.
— Formar uma família? — perguntou Cheri, vacilante.
Bea riu.
— É uma maneira antiga de abordar o assunto. Significa gravidez.
Cheri fitou as próprias mãos pousadas sobre o colo, sem saber o que dizer. Ainda
não havia contado a ninguém. Lágrimas encheram-lhe os olhos.
— É verdade. Estou grávida. Sinto muito.
Bea sorriu e estendeu o braço.
— Não se lamente. Você não fez nada de errado. Está legalmente casada com
meu filho. Estou muito feliz por ter outro neto a caminho. Jasper tem se sentido feliz com
isso há dias.
— Como ele soube?
Bea hesitou.
— Meu marido tem um sexto sentido.
Cheri sorriu e enxugou as lágrimas.
— Bem, agora que já sabe, me sinto mais aliviada.
— Já foi ao médico?
— Sim. Ele disse que estou bem. Prescreveu algumas vitaminas. Felizmente, não
tenho muitos enjoos matinais. Não me atrapalha no trabalho.
Jasper reapareceu. Seu olhar brilhava.
— Alguma coisa aconteceu? Vocês estão sorrindo?
— Oh, querido, não finja que não ouviu!
Jasper ficou só um pouco constrangido.
— Tudo bem. Eu ouvi. Então podemos aguardar a vinda de outro neto?
Cheri assentiu.
— Eu desejaria poder continuar casada com Jake.
— Vocês ainda estão casados. Não desista de esperar que...
— Eu pedi o divórcio. Jake deve receber os papéis em poucos dias.
— Não! — O sogro pareceu perturbado e sentou-se.
— Seu filho vai pensar que engravidei de propósito, para obrigá-lo a permanecer
casado. Não quero que pense assim.
— Você realmente o ama, não é?
— Sim. Mas ele nunca me amou. Sentiu só... uma atração física. Sempre disse que
não queria um relacionamento permanente. Fui tola em esperar que mudasse de ideia.
Jake tem seus próprios planos. — Fez uma pausa e, num tom mais claro, prosseguiu: —
Criarei o bebê sozinha. Podem vê-lo quando quiserem. Jake também poderá visitá-lo. Se
desejar, é óbvio.
— Deve nos deixar pagar as despesas médicas. Queremos o melhor para nosso
neto. Abrirei uma conta para a educação da criança.
Cheri não gostava de pegar dinheiro de ninguém, mas sabia que o bebê traria
despesas altas. Queria o melhor para ele, assim como os sogros.
Jake caminhava pelo morro quando viu o hidroavião planando sobre o mar. Foi em
direção ao píer, encontrar o piloto.
— Como vai indo, Jake? — Pulse perguntou ao descer do avião.
— Bem.
— Deve estar se sentindo solitário sem Cheri por perto. Eu me surpreendi quando
ela partiu.
— Eu também.
— Ela vai voltar?
— Provavelmente, não. Por que não deixa os mantimentos aqui no píer?

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— Como quiser. — Depois de transferir as caixas e sacolas de compras do


hidroavião para as docas, o piloto entregou a Jake um pacote de cartas, amarrado com
um barbante.
— Aqui está o que o correio mandou para você.
Quando Pulse decolou, Jake permaneceu no píer procurando, entre as cartas,
alguma que fosse de Cheri. Ainda não tivera uma única notícia dela.
Não encontrou nada, porém. Mas havia um envelope de um escritório de advocacia
de Chicago. Curioso, abriu a carta e começou a ler. Sua reação foi de espanto. Como a
esposa ousava sair de casa e pedir o divórcio sem mesmo tocar no assunto?
Mas então lembrou-se de que sempre lhe dissera que não queria permanecer
casado. Sem dúvida, ela julgara não ser preciso discutir a questão. Em todo caso, a carta
deixava bem claro que Cheri não tinha nenhuma consideração por ele ou por seus
sentimentos.
Bem, e por que deveria ter?, perguntou-se Jake, levando as caixas para casa.
Negligenciara os sentimentos dela. Naquele momento, desejava ter demonstrado mais
sensibilidade. Mas tudo o que fizera fora colocar-se na defensiva, para manter longe as
próprias emoções.
Sentia-se exilado na ilha. Solitário. Construíra o próprio desterro. Não a queria em
sua vida, mas percebeu que não fora sábio o bastante para reconhecer o valor da esposa.
Desejou que Cheri voltasse. Mas não sabia como contatá-la.
Quase caiu ao colocar as compras em cima da mesa da cozinha. Não poderia
continuar assim. Nem se dedicava mais aos estudos do microclima. Nada parecia ter
significado. Sentia um enorme vazio em sua vida, um vácuo que só poderia ser
preenchido por Cheri.
A dor fez com que percebesse quanto estava envolvido com aquela mulher. O que
sentia chamava-se amor. Nunca amara ninguém. Não era de admirar que não houvesse
reconhecido o sentimento de imediato.
Tinha que dizer a Cheri. Devia haver uma forma de encontrá-la...
Teve uma ideia. Sentou-se e endireitou o corpo. Lembrou-se que o pai lhe dissera
que ela voltara a trabalhar na Tucci's.
Foi até o telefone e ligou para o serviço de informações. Pediu o número da
pizzaria e discou, esperando encontrá-la.
— Tucci's — uma voz masculina respondeu.
— Cheri está?
— Quem quer falar?
Jake hesitou.
— O marido dela.
— Ela é casada?
— Diga-lhe que Jake quer lhe falar.
— Ah! — disse o homem, como se estivesse reconhecendo o nome. — Ela nos
pediu que, se Jake telefonasse, era para avisá-lo de que não o atenderia.
Ele ficou boquiaberto. Por que Cheri tomara tantas precauções para evitá-lo?
— Deixe-me falar com o gerente.
— Eu sou o gerente. Não tolero que minhas garçonetes atendam telefonemas
particulares durante o horário de trabalho. Acho que fui claro, não fui?
— Espere...
Um clique encerrou a conversa.
— Droga! — exclamou Jake.
Dude estava sentado perto da porta, observando-o. Os olhos do felino abriram-se
um pouco ao ouvir a voz irada do patrão.
— Ela não vai se sair dessa tão facilmente! Não pode sair correndo desse jeito! Eu
a amo, mas recebo os papéis do divórcio sem nenhuma explicação. Cheri poderia ter

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

esperado mais um pouco e me dar uma chance! O que há de errado com essa mulher? —
gritou.
Assustado, Dude correu para a sala.

Dois dias depois, Cheri estava sentada atrás da caixa registradora da Tucci’s. Era
uma nova função. O gerente, ciente da gravidez, que já se tornava visível, começou a
tratá-la com mais cuidado.
A preocupação de Sam a surpreendeu. Ele sempre agira de maneira rude. Mas, ao
saber de sua ligação com a família Derring, decidira respeitá-la.
Eram quatro horas da tarde e ela acabara de abrir o caixa, dando início ao turno da
noite. O restaurante ainda se encontrava vazio. Ia começar a contar as cédulas quando
alguém surgiu à sua frente.
— Como estava seu jantar? — perguntou automaticamente, sem levantar o olhar.
— Não como uma refeição decente há semanas.
A voz era familiar.
— Jake!
Seus olhares se encontraram. Os corações aceleraram-se.
— Como vai?
Os olhos castanhos a encaravam de uma forma acusadora. Cheri sentiu a tensão.
Jake tremia.
— O que está fazendo em Chicago?
— Vim vê-la. Você nem mesmo tentou se comunicar comigo. Então resolvi vir até
aqui.
— Por quê?
— Por quê? Porque você simplesmente... desapareceu! Sem explicação, sem
adeus. E agora pede o divórcio!
— Não era isso que você queria?
— Não necessariamente.
— Mas sempre disse que não queria permanecer casado.
— Bem, você poderia ter me perguntado antes de sair correndo! — exclamou Jake,
desapontado.
Sam se aproximou.
— Alguma coisa errada por aqui? — perguntou, encarando o outro.
Cheri colocou as cédulas no caixa.
— Este é meu ex-marido...
— Ainda não! — Jake corrigiu.
— Este é Jake Derring.
Sam mudou instantaneamente ao ouvir o sobrenome.
— Por que não se sentam? Vou ver se há alguém que possa ficar no caixa.
Cheri aborreceu-se com a atitude do gerente, mas não protestou. Levantou-se e
caminhou até o balcão.
Jake percorreu com o olhar a roupa longa, em cuja blusa estavam bordadas as
letras do alfabeto, em rosa e azul.
— Decidiu mudar de estilo?
Cheri ignorou o comentário e conduziu-o a uma mesa de canto.
— Por que veio me ver? Por que está aqui?
Ele passou as mãos desajeitadamente pelos cabelos pretos, ainda compridos e
despenteados.
— Queria conversar e pedir-lhe que reconsiderasse a decisão do divórcio.
— Está me dizendo que quer permanecer casado?
— Sim. Acho que devemos nos dar uma outra chance.

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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter

— Mas por quê? Você não me ama.


— É claro que amo! Você é que não me ama. Do contrário não teria fugido assim!
— Isso é ridículo! — protestou Cheri. — Sempre o amei. Mas não pensei que fosse
algo que gostaria de ouvir!
Trocaram olhares, assimilando o que tinham acabado de dizer. Jake sorriu.
— Fui um bobo. Não reconheci o que tinha comigo. Não sabia que você me amava.
Ela o estudou por um longo momento, hesitando. Parecia bom demais para ser
verdade. Devia estar interpretando as palavras do marido de forma errada.
— Você me ama mesmo?
— Sim! E imploro para que volte comigo. Vou me ajoelhar a seus pés, se preciso.
— Jake...
Inesperadamente, ele se abaixou aos pés da esposa.
— Volta comigo? — perguntou, pegando-lhe a mão. — O que quer que eu faça?
Como posso convencê-la? Eu a amo! Volte para a ilha. Depois quero que vá para
Wisconsin comigo. Poderá ficar perto do campus. Pode frequentar a universidade. Não
precisará mais ser garçonete. Poderá fazer o que quiser. Apenas venha viver comigo e
me amar. Vou morrer sem você.
Lágrimas encheram os olhos femininos.
— Obrigada por me dizer tudo isso, mas...
— Não acredita em mim?
— Sim, acredito. Pode se sentar de novo? Há algo que precisa saber.
A expressão do marido transtornou-se novamente. Levantou-se e disse:
— Conheceu outro homem? Tem um relacionamento com Pulse?
Ela riu.
— Não. Mas posso dizer que... encontrei alguém novo.
Jake ficou pálido.
— Quem é ele?
— Deve ser uma menina. Vou ter um bebê. Seu, é claro.
Ele a encarou, boquiaberto.
— Você está grávida? — Abriu um enorme sorriso. — Mas isso é maravilhoso! Por
que queria se divorciar, então?
— Nunca quis me divorciar. Apenas receava que você achasse que eu havia
engravidado para manter o casamento. Não queria que pensasse isso de mim.
Jake franziu a testa, como se estivesse sentindo uma dor aguda.
— Como fui tolo! Fiz acusações injustas. Foi por isso que sentiu-se insegura em se
aproximar de mim?
Ela assentiu. As lágrimas encheram-lhe os olhos novamente. Olhou para baixo,
sentindo uma dor por dentro.
— Talvez estivesse me segurando em você. Queria seu bebê. Não tentei evitar a
gravidez.
Jake inclinou-se por sobre a mesa e enxugou uma lágrima de seu rosto.
— Também não fui muito cauteloso em relação à contracepção. Talvez,
inconscientemente, quisesse ter um filho. Assim ficaria ligado a você para sempre. —
Seus olhos brilharam. — Amei-a desde o começo. Não consigo viver sem você.
Ela sorriu.
— E quanto a seu objetivo de salvar o planeta?
— Com você, poderei salvá-lo com mais energia.
Cheri apertou-lhe a mão.
— Você é um homem brilhante. Pode fazer o que quiser.
— Deixe-me confessar algo. Lembra-se do desejo do meu aniversário? Não
acredito muito nessas bobagens, mas pedi, em silêncio: "quero passar o ano sem me
perder". Bem, encontrei a mim mesmo e muito mais. Por sua causa encontrei o amor, a

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alegria e a riqueza de viver. Você é minha vida. — Com a voz rouca de emoção, ele olhou
ao redor. — Podemos sair daqui?
Cheri piscou e sorriu.
— Claro. Acho que vou voltar para a ilha com você. Abandonarei meu trabalho de
novo.
— Abandone! Podemos ir ao seu apartamento?
— Claro.
— Vamos! Quero fazer amor com você, ajudá-la a empacotar as coisas e pegar o
primeiro avião para Seattle.
— Parece perfeito! Amo-o tanto...
— Eu também a amo. Não a perderia sem lutar. Não quero perdê-la jamais. —
Ergueu-se e a abraçou. — Vamos logo. Nossa ilha nos espera!
Jasper abriu a janela do Mercedes-Benz ao estacionar em frente à pizzaria.
— Não acredito!
— O que foi, querido? — perguntou Bea, tirando a fivela do cinto de segurança.
— Olhe lá! — exclamou Jasper, indicando o casal.
— Parecem Cheri... e Jake! Quase não o reconheci. O cabelo está muito comprido.
— Funcionou! — Jasper falou, maravilhado. — Na verdade, funcionou!
— O que funcionou?
— Meu plano. Ele voltou para Cheri. Estão saindo do restaurante de mãos dadas.
Provavelmente vão para o apartamento.
Bea sorriu.
— Espero que sim. Acho melhor não incomodá-los agora. Talvez mais tarde
passemos por lá, para vê-los.
— Eu consegui, consegui, consegui! — Jasper cantarolou, todo alegre. — Estou
ficando bom nisso!
Bea apoiou o cotovelo na abertura da janela.
— Nosso filho voltou por vontade própria. Ambos se esforçaram sozinhos. Como
acha que pode ter algum crédito nisso?
— Mas foi a energia que apliquei no bordado da almofada, Bea! Uma vez que
coloco a ideia em prática, o universo conspira a meu favor. Parece que prendi bem os
pontos! Dois filhos se casaram. Temos uma neta, e outra está a caminho. Como sou bom
nisso!
Bea fitou o marido e respirou fundo.
— Querido, antes que comece a pensar na próxima vítima, vamos comer. Preciso
manter minha força, se tiver que acompanhá-lo.
— Sou um cupido e tanto!
— Um verdadeiro casamenteiro. Agora, vamos. A pizza nos espera.

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