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Blind-Date Bride
Lori Herter
Digitalização: Nina
Revisão: Samuka
Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter
Um Casamento Milionário
Blind-Date Bride
Lori Herter
1) Lori Herter - Casados por Uma Semana (How Much Is That Couple In The Window?)
Sabrina Noivas 65.
2) Lori Herter - Um Casamento Milionário (Blind-Date Bride) Sabrina Noivas 83.
3) Lori Herter - Eu? Casar com Você? (Me? Marry You?) Bianca Especial de Férias 33.
Algo velho
•O pai de Jake. O doce e querido velhinho foi quem fez esse arranjo.
Algo novo
•Bem, terei um milhão de dólares em minha conta bancária.
Algo emprestado
•O noivo. Preciso devolvê-lo daqui a um ano.
Algo triste
•Eu. Se cometer o erro de me apaixonar por Jake.
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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter
Capítulo 1
Pelo presente, deixo como herança, à minha mui amada esposa Beatrice,
cinquenta por cento de toda a minha riqueza. Para meus filhos, lego o restante, que deve
ser dividido em partes iguais, sob uma condição. Cada um deles deve se casar e
permanecer casado com a mesma esposa, ou com o mesmo marido, por no mínimo um
ano, antes de tomar posse da herança. Quem não cumprir essa condição pode
considerar-se deserdado.
Jasper Derring leu a nova cláusula do testamento, que o advogado incluíra a seu
pedido. O documento, registrado e datado, havia chegado pelo correio.
Ele o levou ao solário, em frente ao lago de sua mansão, em Chicago, onde
Beatrice, sua esposa havia mais de quarenta anos, estava separando meias.
Começou a se sentir irritado, sem saber o motivo.
— Por que não deixa que Mabel faça isso? — perguntou, enraivecido, referindo-se
à governanta da casa.
Sentou-se numa cadeira de vime, em frente à esposa. Acomodada num sofazinho
também de vime, ela separava com gestos elegantes as meias do marido, colocando-as
sobre um acolchoado florido.
— Prefiro fazer isso eu mesma. É uma atividade que me deixa tranquila.
Havia divertimento no olhar que Beatrice lançou a Jasper. Seus cabelos grisalhos,
cortados na altura dos ombros, estavam presos por um laço, ao estilo antigo.
— Separar meias é tranquilizador? Interessante...
— Enquanto eu conseguir distinguir a cor preta da azul-marinho, saberei que meus
olhos estão saudáveis. Coisas pequenas como esta são importantes para alguém que já
passou dos sessenta e cinco anos e logo chegará aos setenta — ela respondeu, e
continuou calmamente a tarefa. — Que novidades o trouxeram até aqui?
— O novo testamento acabou de chegar.
— E mesmo?
— Com a nova cláusula, exatamente como a discutimos.
— Tudo legalmente arranjado? — ela indagou, como se estivesse pouco
interessada.
— Isso mesmo. Nenhum dinheiro antes que eles se casem. A partir de agora é
assim, quer as crianças queiram, quer não.
— Ou quer eu queira, quer não — murmurou Beatrice, enfiando um dedo num furo
que encontrou numa das meias.
Colocou a peça e a que lhe fazia par de lado.
— Já discutimos isso, querida.
— Você discutiu. Eu só escutei.
— Você concordou.
— Eu assenti. É diferente.
— Fiz o que achei melhor para nossos filhos.
— Sei disso. E, quando você acha que alguma coisa é "melhor", ninguém mais tem
direito a opinião alguma. A não ser, claro, que você mude de ideia quanto ao que é...
ahn... "melhor". Admito que às vezes use de bom senso, meu caro, e então dou meu
consentimento. Não quero que sofra outro ataque cardíaco. Só espero que viva o
suficiente para perceber a tolice que está cometendo. Espero também que tire essa
cláusula do testamento, e depressa. Se morrer amanhã, será esse o legado que deixará a
seus filhos.
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Antártida?
— Na próxima semana.
— Quanto tempo ficará lá?
— Duas semanas.
— Bom. Ouça, cuide-se para não ter uma hipotermia, certo? E para não cair nas
garras de algum urso polar.
— Os ursos vivem no Ártico, papai. No Polo norte.
— Ah, sei. E que tipo de animal vive na Antártida?
— Pinguins.
— Perfeito. Gosto deles. Parecem sempre vestidos a caráter para um casamento!
Faça uma boa viagem e ligue-me quando voltar.
— Claro que sim, mas... — Antes que Jake pudesse lembrar mais uma vez o pai de
que estava apenas zombando quando lhe sugerira procurar uma esposa, Jasper desligou.
— Seu grande estúpido! — censurou-se ele. — Por que foi dizer aquilo?
Sentou-se e recostou-se na cadeira. Talvez tivesse reagido de maneira exagerada.
O pai ainda daria telefonemas para o resto da família e sem dúvida receberia um monte
de críticas por causa da cláusula testamentária. Isso o distrairia. Quando terminasse de
falar com os filhos, na certa já teria esquecido da piada de Jake.
Além disso, onde Jasper Derring encontraria uma esposa para o filho? Que outros
tipos conheceria, em Chicago, além de debutantes? Não acharia ninguém que quisesse
aborrecer-se com um meteorologista em Wisconsin. Até mesmo a logística de um
encontro, por causa da distância, apresentaria dificuldades.
Começou a rir. Aquela ideia era mesmo um despropósito.
— Quer sair para jantar, Bea? — Jasper indagou, feliz, correndo para o solário
assim que desligou o telefone.
— Claro — ela respondeu, surpresa. — Como foi sua conversa com Jake?
— Grande!
Bea pareceu ainda mais surpresa. Piscou.
— Funcionou?
— Bem, ele me pediu que lhe arranjasse uma esposa.
— O quê?
Jasper levou dois dedos à testa.
— Palavra de escoteiro como vou achar.
A mulher o observou atentamente.
— Tenho a impressão de que você não está me contando tudo... ---Viu o marido
sorrir e ouviu um resumo da conversa. — Ora, Jake estava apenas brincando.
— Sim, estava. — Fitou-a. — E por que isso iria me deter?
— Jasper!
— Encontrei uma esposa para Charles, não foi? — Juntou as mãos, como numa
prece. — Será um desafio e tanto, mas estou pronto para enfrentá-lo.
— Você não pode estar falando sério. O que o faz pensar que... Como pode
imaginar que nosso filho... Jake não é tão fácil de lidar como Charles, e você sabe disso.
— Serei capaz de cruzar montanhas para conseguir alguém para ele. Primeiro
tenho de garantir-lhe uma esposa. E por isso que pretendo jantar fora. Que tal uma pizza
no Tucci's?
Bea mal podia conter o divertimento. Formaram-se rugas em volta de seus olhos, e
um sorriso quase se desenhou em seus lábios.
— Pizza? É algum tipo de charada?
Jasper assentiu:
— É.
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— Não, não, prometo não ir tão longe. Mas quero ter certeza de que ela ainda não
se casou. Se ainda estiver solteira, será a esposa perfeita para Jake.
Bea balançou a cabeça, em muda resignação.
— Como sabe disso?
— O sobrenome da moça é Weatherwax, que significa "servir ao tempo". Quer algo
mais adequado para a futura esposa de um meteorologista?
Capítulo 2
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— Acreditem, nunca fui uma garota fácil ou vulgar. Depois da história do grafite,
passei a usar roupas muito sérias. Minha autoestima afundou. Meus planos de ir para a
faculdade também. Pensei que houvesse aprendido a lição. O fato de um homem agir
como um cavalheiro não significa que seja um deles. Às vezes, só quer tirar vantagens da
gente.
— Seu... ex-noivo... a tratava com respeito? — indagou Bea.
— Sim. — Cheri deu um longo suspiro. — Foi o primeiro que nunca tentou ir além
de um beijo. Até concordou em esperar que nos casássemos para... para... oh, vocês
sabem. Esse era o meu teste em relação aos homens. Aquele que topasse aguardar até a
noite de núpcias seria confiável. E ele foi o único que concordou com essa condição. Por
isso me apaixonei. Descobri tarde demais que tudo o que o canalha queria eram as
economias de toda a minha vida. Quinze mil dólares, que eu vinha guardando desde a
adolescência, às vezes trabalhando em dois empregos para conseguir fazer a poupança.
— Mas isso é terrível! Há algum meio legal de você conseguir de volta o que é
seu? — quis saber Bea.
— Acredito que não. Afinal, concordei em abrir a conta com ele, que chegou a
depositar alguma coisa também. Conseguimos até um empréstimo junto ao banco.
Quando estávamos prestes a assinar o contrato de compra de um pequeno restaurante,
num subúrbio, ele sumiu com o dinheiro. Não tenho a menor ideia de onde está, nem
possuo um centavo para contratar um detetive ou um advogado que possa localizá-lo.
Tudo o que quero é esquecer este episódio.
— O que pretende fazer? — indagou Jasper.
Cheri deu de ombros.
— Tentar a sorte na loteria. Quem sabe assim eu ganhe um milhão de dólares.
Sabem, nunca mais vou confiar em ninguém. Quer dizer, em homem nenhum. — Sorriu
para o velho. — A única exceção é você. Bem, preciso levar o pedido à cozinha. Volto
mais tarde.
E apressou-se em meio às mesas, cada vez mais cheias. Quando passou pelo
lugar onde se encontravam os rapazes que servira, um deles perguntou:
— Ei, docinho, e a cerveja?
Ela esquecera. Mas odiava ser chamada de "docinho".
— Oh, vocês queriam para hoje?
— Acha que pode consegui-la?
Cheri foi até o bar e voltou com quatro garrafas. Depois seguiu para a cozinha.
Usou seu charme e flertou um pouco com o pizzaiolo, para conseguir que o homem
fizesse uma pizza especial, fora do cardápio, para Jasper. Depois preparou dois pratos de
salada temperada com limão, como o casal gostava, e levou até a mesa, juntamente com
o chá.
— Estou tão aborrecida com o que lhe aconteceu... — disse Bea, com tristeza no
olhar.
— Grata pela solidariedade. Não falei a quase ninguém sobre isso. Não tenho
família e, se contasse o caso para meus colegas do restaurante, suponho que iriam rir de
mim.
— Você mencionou ganhar na loteria, não foi? — atalhou Jasper.
— Sim. Com a sorte que me acompanha atualmente, acho que tiraria a sorte
grande — ela ironizou.
— Bem — continuou ele, dando-lhe um tapinha camarada na mão —, acho que
posso ajudar sua sorte a mudar.
Cheri o encarou com curiosidade.
— Como?
— Em primeiro lugar, deixe-me contar-lhe quem sou. Quando entrei aqui, meses
atrás, disse que meu nome era Jasper. Meu sobrenome é Derring. Soa familiar?
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bancária, daqui a um ano, pode ter um milhão de dólares. Você abrirá o tal café sem
problemas. E será sua própria patroa.
Bem, ele sabia ser persuasivo. Usara as palavras certas para manter uma oferta
que ela quase recusara. Na verdade, o que Cheri queria era exatamente isso: ser uma
mulher independente, bem-sucedida nos negócios, sem homens por perto para virar de
novo seu mundo pelo avesso. Um milhão de dólares, na certa, resolveria suas
dificuldades para sempre.
Mas primeiro teria de viver um ano com Jake. E era esse o xis da questão.
— O que acha que seu filho esperará de mim, enquanto estivermos na ilha?
— Provavelmente que você não o aborreça muito — respondeu Jasper.
Parecia o ideal, concluiu Cheri. Caso se tratasse de um casamento platônico, então
talvez não fosse tão ruim.
Naquele momento, o gerente da pizzaria deu-lhe um olhar de advertência. Ela se
levantou de imediato.
— Preciso trabalhar. Voltarei quando a pizza estiver pronta.
— Tudo bem — respondeu Jasper. — Não há pressa.
Cheri parou à mesa dos rapazes e começou a retirar os pratos, distraída.
— Sobremesa?
— O que há para comer? — um deles indagou num tom sugestivo. A cerveja os
deixara mais relaxados.
— Torta na cara de pessoas impertinentes — ela respondeu, aborrecida. Estava
preocupada demais para relevar aquele tipo de brincadeira.
— Que rabugenta! — exclamou outro jovem.
O gerente, que parecia ter visto toda a cena, aproximou-se.
— Algum problema?
— Eles querem, como sobremesa, pratos que não constam do cardápio — ela
explicou, tentando fazer a voz soar bem-humorada.
— O que vocês querem? Torta de limão? De maçã?
— Nada, obrigado — respondeu um deles, pegando a carteira. — Vamos a algum
outro lugar, onde o ambiente seja mais cordial.
Furiosa, Cheri se afastou a passos largos, levando os pratos sujos. Depositou-os
na cozinha e voltou para falar com Sam.
— O que você disse aos rapazes? — quis saber o gerente.
— Que havia torta na cara para os impertinentes. Eles pareciam achar que eu
poderia servir de sobremesa...
— Você pode lidar com gente assim sem ser rude.
— Eles foram rudes comigo. Talvez eu esteja farta desse tipo de piadinha.
— Não tem senso de humor?
— Quando uma mulher é insultada e não gosta disso, por que os homens dizem
que lhes falta senso de humor? Acha que é agradável ser tratada como coisa, não como
pessoa?
— Daqui a pouco você vai querer me dar lições sobre o relacionamento entre os
sexos — disse Sam, irritado. — Se não pode lidar com homens que beberam algumas
cervejas, então deve mudar de profissão. Entendeu o recado?
— Sim.
Outro casal entrava e acomodava-se a uma mesa que Cheri servia. Enquanto
caminhava naquela direção, para anotar os pedidos, ela relanceou o olhar para a porta da
frente, que acidentalmente fora deixada aberta. Dirigiu-se até lá, para fechá-la. Assim que
o fez, percebeu alguma coisa se movendo na neve, junto à calçada.
— Ei, gatinha!
Era uma filhote já meio crescidinha, marrom, que vinha rodeando a pizzaria na
última semana, à procura de comida. Cheri e outra garçonete a alimentavam nos fundos
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pequeno álbum. Virando as páginas, estendeu-o a Cheri. — Esta foi batida quando ele
completou vinte e cinco anos. Agora, tem vinte e nove. Quando anos tem você?
— Vinte e três.
Enquanto Bea comentava que seis anos de diferença não era muito tempo, Cheri
estudava a foto. Não podia dizer que Jake era feio. Não gostava daqueles cabelos curtos,
mas os óculos davam-lhe uma aparência charmosa, séria, intelectual. Era muito mais
atraente do que os homens com quem ela costumava lidar, na pizzaria. E parecia bem
mais digno que seu ex-noivo. Mordeu o lábio ao entregar o álbum para Bea.
— Ele é bonito.
Os olhos da mulher brilharam, orgulhosos.
— Jake é um homem especial. Tão inteligente que se tornou doutor aos vinte anos.
Quer salvar o mundo, não pensa muito em si mesmo. Muito altruísta. Você não
encontrará pessoas como ele facilmente.
Cheri sorriu um pouco e inclinou-se para Bea, fingindo ignorar Jasper.
— De mulher para mulher... o que pensa da proposta de seu marido? Quer mesmo
que eu me case com seu filho?
Bea sorriu.
— Eu gostaria que as circunstâncias fossem, digamos, mais... normais. Que vocês
dois tivessem se conhecido e decidido se casar porque se amavam. Não sou como
Jasper. Mas vou falar honestamente, querida. Tenho certeza de que você seria uma
esposa adorável para qualquer um de meus filhos.
Cheri corou ante o cumprimento.
— Obrigada — sussurrou.
— Lembre-se de que só precisará ficar casada durante um ano — Jasper reiterou.
Ela assentiu.
— Vou pensar no assunto. Prometo.
Na certa seu bom senso voltaria no dia seguinte, quando não se sentisse tão
fragilizada pelos últimos acontecimentos. De todo modo, Jasper fora inacreditavelmente
gentil, e por esse motivo ela lhe seria grata para sempre. O mínimo que poderia fazer pelo
velhinho era pensar com carinho em sua proposta.
Capítulo 3
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mencionou diversas vezes que tem um interesse especial na área, pensei que talvez
pudesse assumir esse estudo.
— Que ótimo! É inacreditável! — Jake sorriu e sentou-se na cadeira em frente ao
dr. Eisler. — É um verdadeiro presente! Sou fascinado pelo microclima da região desde a
adolescência. Viajei para lá com meu pai, anos atrás, quando ele decidiu comprar uma
das ilhotas, como investimento.
— Interessei-me em saber por que o clima das ilhas pode ser seco se elas estão
localizadas numa região chuvosa. Mas que coincidência que essa pesquisa tenha caído
em nossas mãos! — De repente, uma ideia cruzou-lhe o pensamento, e ele começou a se
sentir pouco à vontade. Talvez não fosse coincidência. Hesitou por um momento, e então
fitou o professor. — Alguém da equipe conhece o pessoal da fundação? Você sabe de
onde vem esse dinheiro? Quem decide a que projetos devem ser destinadas as verbas?
O dr. Eisler baixou os olhos.
— É uma fundação relativamente nova. Por isso, não temos muitas informações
sobre ela. — Sorriu. — Mas é um dinheiro bom. Sempre chega na data prometida. E você
sabe: a cavalo dado não se olham os dentes.
A resposta vaga fez aumentar as suspeitas de Jake.
— É mesmo?
O dr. Eisler logo prosseguiu:
— Se você se encarregar dessa pesquisa, terá uma licença especial. E lembre-se
de que isso renderá pontos em seu currículo, além de fornecer dados importantes para
nosso trabalho.
— Sei disso. Vou pensar no assunto.
— Não demore muito para dar a resposta. Se resolver ir para Puget Sound,
precisaremos providenciar alguém para substituí-lo no próximo semestre.
— Esse estudo é assim tão urgente?
— É. Pelo menos foi o que a carta da fundação disse. Talvez precisem dos
resultados para algum projeto importante. Seja como for, não é de nossa conta. Eles vêm
nos ajudando muito. E os quinhentos mil dólares podem pagar nosso novo programa de
treinamento.
— Eu sei. Mesmo assim, preciso pensar no assunto.
Jake se despediu e saiu para o corredor, rumo à sua sala. Aproximou-se da janela
e contemplou os edifícios do campus, construídos em tijolo e pedra.
Não conseguia parar de pensar que a Fundação Summerwind poderia ser invenção
de algum magnata excêntrico. Seu pai, por exemplo. Perguntou-se se a instituição tinha
alguma ilha específica em mente, como a que Jasper comprara anos antes. O pai
acalentara o sonho de transformá-la num hotel de luxo, exclusivo, mas nunca dera o
primeiro passo nessa direção.
Bem, em vez de fazer outras perguntas ao dr. Eisler, ele decidiu cortar caminho.
Pegou o telefone e ligou diretamente para a casa do pai. Foi logo ao ponto:
— Você tem alguma coisa a ver com a pesquisa que foi oferecida a meu
departamento, e que deve ser realizada em Puget Sound?
— Mas que boa notícia! Alguém lhe ofereceu uma dotação? — Jasper comentou
com voz inocente.
— Papai, seja sincero. Tem alguma ligação com a Fundação Summerwind?
— Bem, parece que você descobriu — ele respondeu, em tom divertido.
— Então é verdade?
— Inicialmente, foi ideia de sua mãe. Ela queria ajudar sua carreira, e sugeriu que
fizéssemos algumas doações a seu departamento. Montei a fundação com esse objetivo.
Jake sentiu-se intrigado.
— O dr. Eisler sabe disso?
— Descobriu quando investigou a Summerwind, antes de aceitar a primeira verba.
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Desde então, mantivemos contatos agradáveis por telefone. Quando sugeri a pesquisa
em Puget Sound, nem sequer mencionei seu nome. O dr. Eisler e eu nos entendemos
perfeitamente. Ele aprecia o que a fundação vem fazendo pelo departamento.
"Posso imaginar", pensou Jake.
— Por que, exatamente, você decidiu financiar uma pesquisa meteorológica em
Puget Sound? Pretende ressuscitar a ideia do hotel?
— Oh, não. É que me lembrei de que você se interessa pela ilha desde menino.
— Então tudo o que quer é me fazer feliz?
— Digamos que sim, meu filho.
— Pois tenho a impressão de que existe muito mais por trás dessa história.
— Tem razão. Existe mesmo — Jasper concedeu num tom brincalhão. — Acontece
que encontrei uma esposa para você.
— Oh, não! — Jake prendeu a respiração. — Você ficou maluco!
— Ainda não.
— Eu lhe disse que estava só brincando!
— Mas não devia, porque me deu uma excelente ideia.
— Papai, ninguém neste planeta vai me convencer a ir para o altar.
— Lembre, filho, dos novos termos de meu testamento. Tudo o que você tem a
fazer é permanecer casado por um ano.
— Mas isso é ridículo!
— Por que não experimenta passar a temporada em Puget Sound com sua
esposa? Seriam dois coelhos com uma só cajadada. Você daria uma excelente
contribuição à ciência e o departamento ganharia uma verba adicional de quinhentos mil
dólares. Além, claro, de cumprir o estipulado no testamento. Aí, quando pegar sua parte
na herança, poderá oferecê-la à pesquisa. Veja a coisa por este ângulo. Você estará
prestando um grande benefício à humanidade.
Jake contemplou, pela janela, o campus coberto de neve. Era difícil discutir quando
o pai patrocinava causas tão importantes.
— Isso é suborno. Invasão de privacidade. Você está tentando controlar minha
vida!
— Apenas por um ano.
— Já é muito.
— A garota é sensacional, filho.
— Se for verdade, por que ela concordou em se casar com alguém que não
conhece? — Jake indagou, tentando usar a lógica, algo que vinha faltando a seu pai.
— O fato é que ela tem alguns problemas pessoais para resolver. E eu lhe ofereci
um milhão de dólares.
— Ah, agora estamos chegando ao ponto! Um milhão?
Conheço centenas de mulheres que topariam ficar casadas por um ano, com quem
quer que fosse, por essa quantia!
— Talvez seja verdade. Mas esta jovem é especial. Acredito que você vá querer
dividir uma casa com ela.
— Quer dizer que a moça já concordou?
— Não, ainda não. Pedi-lhe que pensasse a respeito. Ela, no entanto, vai me ligar
para fazer perguntas. Gostaria de obter uma resposta final de meu filho.
Na certa, concluiu Jake, Jasper encontrara-lhe uma pretendente caça-dotes. O pai
talvez a julgasse especial, mas ele... Bem, talvez fosse melhor fazer com que a garota se
expusesse, para mostrar-lhe quão vulgar era.
— Se devo me casar com essa... mulher, por que não me dá o telefone dela?
Assim, poderemos conversar, conhecer um ao outro. É justo, não acha? Afinal, para todos
os efeitos, devo viver um ano com a garota.
Fez-se silêncio por um longo momento.
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Naquela noite, ele sentou-se no sofá de casa, com Dude, o gatinho preto e branco,
enrolado a seus pés. Assistia ao noticiário da televisão, mas sua mente estava longe dali.
Quando os ponteiros do relógio passaram das nove horas, olhou para o telefone. Deveria
ligar para a tal moça?
Às nove e meia, decidiu pôr um fim rápido naquela dúvida. Tirou da carteira o papel
com o número que o pai lhe dera. Enquanto Dude bocejava e alongava o corpo, ele
pegava o aparelho e discava.
— Sim? — respondeu uma voz feminina. Parecia cansada.
— Cheri Weatherwax?
— Ela mesma.
— Quem me deu seu telefone foi meu pai... Jasper Derring.
— Oh, claro. Você está querendo dizer que é...
— Jake Derring.
— Olá. Eles me mostraram uma foto sua. Prazer em conhecê-lo... isto é... em ouvi-
lo.
— Eu gostaria de saber o que você pensa dessa ideia doida de meu pai.
Ela riu.
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— Essa foi minha primeira reação, sabe? Achar a ideia doida, quero dizer. É como
se ele tivesse me pedido para casar às cegas. Não sei... talvez eu esteja maluca, mas a
verdade é que... cada vez mais me sinto disposta a ir adiante.
Jake franziu as sobrancelhas. Não gostou do que ouviu.
— Posso saber por quê?
— Claro que pode. Fico satisfeita pela oportunidade de ter essa conversa. Eu ia
perguntar a Jasper se poderia ligar para você. — Hesitou por um momento. — Acho que
essa ideia começou a me seduzir porque minha vida está uma confusão. Perdi todo o
meu dinheiro. Ou melhor, ele foi roubado.
— Roubado? Mas isso é terrível! — Jake exclamou, relutantemente solidário à
causa da garota.
— Meu noivo... ex-noivo... e eu entramos juntos num negócio. Abrimos uma conta
conjunta no banco. Coloquei ali todas as minhas economias. Poucos dias depois, meu
noiv... ex-noivo sumiu. O dinheiro também.
— E você ia se casar com esse sujeitinho?
— Ia. Ele... se parecia com Brad Pitt.
Jake fez uma careta. Cheri mostrava-se tola e superficial.
— Entendi. Você resolveu levar a sério este casamento de conveniência porque
está em dificuldades. Mas ouça: eu não gosto de Brad Pitt nem de nenhum outro astro de
cinema. Sou um aborrecido professor universitário. Você pode se desapontar comigo.
— Eu sei. Vi sua foto.
"Ela não devia ter concordado tão depressa", pensou ele, desapontado.
— Mas você não me pareceu aborrecido — prosseguiu Cheri. — Jasper me contou
que voltou há pouco da Antártida... Assim, sua vida deve ser emocionante. Além disso, o
casamento não será de verdade. Só por um ano, disse seu pai. Decidi que não pretendo
me casar. Quero permanecer solteira. Assim, a situação não é de todo grave. Só estou
considerando a possibilidade porque esse será um casamento temporário.
— Imagino que a quantia que meu pai lhe prometeu também contribua para tornar
a ideia sedutora, não? —retrucou Jake, decidido a ir logo ao que interessava.
Houve um breve silêncio.
— Bem, discuti isso com Jasper por telefone. Quando ele falou no milhão de
dólares, mal pude acreditar. Claro que me pareceu maravilhoso, em especial para alguém
que, como eu, está quebrada. No entanto, quanto mais penso nisso, mais ansiosa fico.
Tenho medo de fazer algo errado e perder esse dinheiro, assim como perdi minhas
economias. Assim, disse a seu pai que ficaria contente com quinze mil dólares, que foi
exatamente a quantia que meu ex-noivo levou. Isso já me ajudaria a recomeçar. Eu
realmente tenho receio de receber um milhão.
Jake ficou atônito. Sabia que era ilógico, mas o pensamento de valer apenas
quinze mil dólares funcionou como uma espécie de soco em seu ego. Endireitou-se no
assento e procurou manter a dignidade. Ao menos, a recusa da moça em relação à
quantia inicial indicava que ela não era uma mercenária.
— Quer dizer que você topa dar um ano de sua vida por quinze mil dólares? —
perguntou ele, divertido.
— Não vejo as coisas dessa maneira. Já lhe disse, minha vida está uma encrenca.
Não tenho dinheiro. Odeio meu trabalho. Adotei uma gatinha, mas o proprietário do
apartamento onde moro já avisou que não posso ficar com ela. De todo modo, acho que
não vou ter mais como pagar o aluguel. Como vê, um ano inteiro numa bela ilha me
parece maravilhoso. Sinceramente.
Jake sentiu-se novamente solidário à garota. Começava a entender de onde ela
vinha e por que a ideia do casamento a seduzira. Só esperava que fosse uma mulher
atraente.
— Planejo montar um pequeno restaurante, um café — ela prosseguiu. — Era esse
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o negócio que meu ex-noivo e eu íamos abrir. Eu poderia usar o ano do casamento para
estudar como se administra esse ramo. Talvez fazer alguns cursos por correspondência.
Parei de estudar no colegial, e por isso tenho muito a aprender. Também posso usar esse
tempo para desenvolver um cardápio. Desse modo, viver na ilha se torna cada vez mais
interessante. Quando tudo acabar, terei dinheiro e condições de abrir meu restaurante.
— Você vai precisar de mais de quinze mil dólares para isso.
— Eu sei. Na verdade, seu pai não quer reduzir a quantia.
Insiste em me oferecer um milhão de dólares. Diz que foi o que me prometeu, e
que sempre cumpre suas promessas. — Riu. — Falou também que, por viver com você
durante um ano, mereço um milhão.
— Falou, é? — Jake tentou soar divertido. — Bem, ele pode estar certo. Só penso
no meu trabalho. Fico louco da vida quando me interrompem. E, como você, prefiro a vida
de solteiro.
— Para mim, é ótimo que cada um de nós tenha muito a fazer. Preciso estudar um
bocado, experimentar receitas... Poderíamos viver em quartos separados.
— Não se preocupe — ele respondeu, bem-humorado. — Se formos em frente com
essa história de casamento, teremos nossos próprios aposentos.
— Quer dizer que... — Ela hesitou antes de continuar:
— Bem, então será um relacionamento platônico, certo? Prefiro assim.
— Eu também. Mas temo que a ideia do casamento não me atraia tanto quanto a
você.
— Oh... — Cheri não conseguiu esconder o desapontamento.
— Não gosto do modo como meu pai procura manipular minha vida — explicou,
decidido a ser honesto e direto. — Ele fez uma doação à universidade, para que eu
pudesse passar um ano estudando o microclima das ilhas. Escolheu você para se casar
comigo. Se um dia eu tiver que ir para o altar, será porque quero e com quem desejo, não
porque meu pai decretou que assim fosse.
— Entendo — ela respondeu com simpatia. — Jasper me contou sobre a nova
cláusula no testamento. Mas disse que está procurando ajudá-lo porque realmente deseja
que você herde sua parte.
Jake comprimiu os lábios. O pai a enganara direitinho, assim como procurava
esconder também do filho seus verdadeiros motivos.
— O que Jasper quer mesmo, Cheri, é que nos apaixonemos. Acredita,
aparentemente porque seu sobrenome é Weatherwax, que você seria a esposa perfeita
para alguém como eu. Julga que, se passarmos um ano juntos na ilhota, iremos nos amar
e permanecer casados.
— Oh! — A voz feminina tremeu. — Sabe, eu já imaginava isso. Jasper mencionou
que parte do motivo pelo qual incluiu a nova cláusula é porque deseja mais netos antes
de... bem, antes de partir deste mundo. Então me perguntei: se é assim, por que ele se
satisfaria com apenas um ano de casamento? Não é um bom arranjo para conseguir ser
avô outras vezes. Você acha mesmo que ele espera que, uma vez casados, nós... quer
dizer... gostemos um do outro?
— Exatamente — respondeu Jake, aliviado por ela ter entendido. A moça parecia
confiável. E doce, tinha de admitir.
— Isso significa que seu pai ficará muito desapontado se isso não acontecer...
— Problema dele. O fato é que nunca descobriremos o que aconteceria se
ficássemos juntos, porque não estou disposto a aceitar essa palhaçada.
— Compreendo — ela respondeu. — Afinal, tem sua carreira. Um casamento
atrapalharia sua vida, seu trabalho.
— Não necessariamente — ele admitiu, relutante. — Meu pai armou uma cilada
inteligente. Ofereceu uma verba para uma pesquisa que sempre desejei fazer. De todo
modo, tenho um ano sabático pela frente.
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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter
— O que é isso?
— A cada seis anos, o professor recebe um ano de licença para fazer pesquisas,
escrever artigos para jornais científicos. É como dizem no meio acadêmico: publique ou
morra.
— Entendo. Então, por que pretende deixar a oportunidade passar?
— Porque não aceito ser manipulado.
— Oh, claro. — Cheri suspirou, e o som causou nele um certo estremecimento. —
De todo modo, acho simpático o interesse que seu pai demonstra por você e por seu
futuro. Meu pai abandonou a família quando eu tinha dois anos. Nunca mais deu notícias.
Jamais se incomodou comigo. Parece-me que Jasper é exatamente o oposto. Bem, talvez
seja preocupado em demasia. Mas eu gostaria de ter um pai assim. Ninguém é perfeito,
afinal.
Jake sentiu-se triste por Cheri. Ao que tudo indicava, era do tipo de pessoa a quem
a vida não abençoara.
— E sua mãe?
— Morreu há dois anos.
— Sinto muito.
"Além de doce e ingênua, a garota é órfã!", pensou ele.
— Obrigada. É difícil, porque só ela me compreendia. Me deu o maior apoio
quando, no colégio, tive de enfrentar...um grande problema. Sinto falta dela.
Jake ficou curioso, mas não perguntou qual fora o problema enfrentado por Cheri.
A moça tinha uma voz agradável e uma forma amigável de se expressar. Ele, porém, não
pretendia se envolver em seus dramas pessoais. O comentário acerca de desejar ter um
pai como Jasper o enternecera. Cheri e os Derring deviam admirar-se. Jake quase se
sentiu excluído desse aconchego.
— Acho que vi a oferta de Jasper como um modo de começar de novo e ter um
futuro melhor — ela continuou. — Mas, para você, as coisas são diferentes. Compreendo.
Sua voz soava mais meiga do que nunca. Cheri seria real? Existiria mesmo?
— Você concordaria em viver comigo, um estranho, numa ilhota?
— Bem, terei de procurar um novo apartamento, por causa da gatinha, e encontrar
alguém com quem dividir as despesas da casa. Essa pessoa também será uma estranha.
Eu veria você da mesma maneira... Seríamos como "colegas de casa". Eu faria a comida,
sou boa nisso. Lavaria a louça, a roupa. Se decidíssemos manter o jardim, talvez
pudéssemos dividir as tarefas. Mas na maior parte do tempo você se dedicaria à pesquisa
científica.
Jake passou as mãos no rosto.
— Você quase consegue fazer a ideia parecer boa — disse com bom humor.
— Tive algumas semanas para pensar no assunto. E, quanto mais reflito, mais
percebo que seria uma oportunidade e tanto. Com ou sem o milhão de dólares.
— Mas estaremos sozinhos na ilha. E não me parece que tenhamos muito em
comum. Nossas experiências de vida são completamente diferentes.
— Como garçonete, aprendi a tolerar vários tipos de pessoas. Se você se
comportar como um cavalheiro, não haverá problemas. Talvez ache irritantes alguns
aspectos de minha personalidade. Mas, se me disser o que o incomoda, tentarei mudar
ou ficar fora do seu caminho. Não precisamos nem mesmo fazer as refeições juntos, se
não quisermos. Posso deixar-lhe a comida na mesa e sair. Sou ótima na tarefa de
carregar pratos numa bandeja.
Ele riu.
—É, você realmente faz tudo isso parecer palatável. Desculpe, mas não pretendo ir
adiante.
Ela sorriu.
— Não se esqueça de que isso faria seu pai feliz. E um homem tão gentil, tão
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Três dias depois, após pensar no assunto até quase ficar doente, e depois de
suportar sorrisos impacientes e olhares questionadores do dr. Eisler, Jake discou o
número de Cheri.
— Decidi concordar com o casamento — foi logo dizendo, sentindo que, por algum
motivo desconhecido, o ar lhe faltava. — Isto é, se você ainda quiser levar a ideia adiante.
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— Oh, que ótimo! Será a chance de mudar minha vida! Mas sinceramente espero
que também seja um ano muito bom para você. E, quando os doze meses passarem,
voltaremos a ser solteiros.
— Certo — respondeu ele, desejando poder ver a coisa de modo tão positivo
quanto Cheri. — Então, estamos de acordo. Quem telefona a meu pai? Você ou eu?
— Imagino que ele prefira ouvir as novidades do filho. Oh, por falar nisso... Poderei
levar minha gatinha para a ilha?
— Claro. Também levarei o meu gato. Talvez eles se deem bem.
— Você tem um gato? — Ela mal conteve a surpresa. — Como se chama?
— Dude.
— Gostei. Sabe, ainda não decidi que nome dar à minha gatinha. E pequena,
ainda. Nasceu na rua, e ia à pizzaria em busca de comida. O gerente não gostava disso,
e então resolvi trazê-la para casa.
— Se nossos gatos não se entenderem, ela pode ficar fora da casa, então. Dude
não gosta de sair. Dorme a maioria do tempo. Está ficando gordo.
Ela riu.
— Vamos obrigá-lo a uma dieta.
— Isso mesmo — respondeu Jake, inseguro quanto ao que dizer a seguir. —
Combinado. Tenho certeza de que entraremos em contato antes de... de ir para Puget
Sound.
Nervoso, despediu-se e desligou, perguntando-se por que se sentia tão aturdido. Ia
fazer muita gente feliz: Cheri, o dr. Eisler, seu pai. Talvez a grande dificuldade fosse saber
que ele não ficaria tão alegre assim. Mais parecia um tiro no escuro do que um projeto de
pesquisa científica.
Ligou para Jasper.
— Papai? Você venceu.
— Quer dizer que concorda em se casar com Cheri?
— Você fez uma proposta muito boa a nós dois. Não poderíamos recusá-la.
— Que maravilha! Farei todos os arranjos, fique sossegado.
— Não quero uma grande cerimônia. Tive uma longa conversa com Cheri. Nenhum
de nós pretende permanecer casado. Assim, esqueça a igreja, a festa e o bolo.
— Certo. Que tal uma celebração particular na sala de um juiz de paz?
— Tudo bem, mas prefiro um "casamento" sem alarde. Procure algum juiz em
Seattle.
— Você o terá!
Capítulo 4
Cheri observava o ambiente enquanto Jasper a conduzia para uma das salas do
palácio da Justiça de Seattle. Um tapete enorme cobria o carpete. Um tecido pomposo
cobria a escrivaninha. As paredes haviam sido parcialmente repintadas. A antiga cor
marfim fora substituída por um pálido tom de azul. As janelas amplas estavam abertas.
Fazia frio ali. Cheri fechou o zíper do casaco.
Jasper a acompanhara desde Chicago. Ela nunca visitara Seattle. Bea, que não
gostava de voar, ficara em casa. Deixaram a gatinha, sedada, com o pessoal da
companhia aérea.
— Esta é a sala do juiz? — ela sussurrou.
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sua frente. Jasper e os dois pintores postaram-se ao lado. Antes que Cheri pudesse
perceber o que estava acontecendo, ouviu-se repetindo os votos do matrimônio, e
escutou Jake fazer o mesmo. Não o fitou uma única vez, nem reparou nos olhares de
soslaio que ele lhe lançava. As palavras "até que a morte os separe" ainda ecoavam em
seus ouvidos quando o juiz sorriu e proclamou:
— Pelo poder que me foi conferido pelo Estado de Washington, eu os declaro
marido e mulher.
Cheri tentou sorrir. Encarou Jake pela primeira vez. Ele apresentava um sorriso
vago.
— Podem se beijar agora — disse o juiz Akins, estudando-os com ar divertido.
A expressão de Jake mudou. Suas sobrancelhas se uniram de modo sombrio. Era
como se estivesse farto da situação. Cheri sentiu-se embaraçada.
— Talvez mais tarde — respondeu ao juiz.
— Certo. Afinal, o casamento é de vocês — tornou Akins. — Meus parabéns. —
Depois de cumprimentá-los, tirou do bolso dois broches de campanha e os entregou. —
Por falar nisso, este ano tentarei me reeleger. Preciso de seus votos! Espero que se
lembrem de mim no dia da eleição! — discursou, aparentemente esquecido de onde se
encontrava. Consultou o relógio. — Tenho de ir. Podem ficar mais alguns minutos, se
quiserem. Apenas fiquem fora do caminho dos pintores.
Apertou a mão de Jasper e saiu da sala.
Enquanto guardava o broche dentro da bolsa, Cheri sentiu uma pontada
desagradável no peito. Pela expressão de Jake, podia apostar como ele se sentia do
mesmo modo, ou pior. Observou-o colocar a peça de campanha sobre a mesa da sala.
Jasper os fitou.
— Bem, acabou-se. Tenho um presentinho para vocês — anunciou, caminhando
até um nicho entre a estante e a porta, onde colocara sua maleta.
— Mas os broches do juiz já foram tão especiais... — zombou Jake, e seus olhos
adquiriram mais malícia ao fitar o pai. — Eu lhe disse que não queria presentes, papai.
— Oh, não é nada importante. Só uma pequena lembrança. Bea a embrulhou. —
Deu a Cheri um pacote de papel branco, amarrado com fita prateada. — Este eu mesmo
fiz, especialmente para você. Abra.
Ela sorriu ao pegar o presente, que pesava muito pouco. Jasper parecia tão feliz
que seria terrível desapontá-lo. Cheri abriu o embrulho rapidamente, tentando parecer
ansiosa, curiosa. Ao tirar o papel, surpreendeu-se ao encontrar uma belíssima almofada,
coberta de renda feita a mão. Um coração, formado por flores multicoloridas, fora bordado
sobre o tecido. Dentro dele havia seu nome e o de Jake, bem como a data da cerimônia.
— Obrigada — disse Cheri, comovida. — É lindo. Foi você mesmo quem fez?
— Sim, enquanto me recuperava. Espero que as cores combinem com sua mobília.
— Tenho certeza de que ficará bom com qualquer tipo de decoração — murmurou
Cheri.
— Quanta atenção, papai.
A voz de Jake tinha um acento nada amigável. Cheri perguntou-se por que ele
reagia daquela maneira.
— Vamos sair daqui. Temos de tomar nossos aviões.
No aeroporto de Seattle, uma hora depois, Jake ainda parecia furioso e tinha
dificuldade até mesmo em dizer até-logo ao pai, que voltaria a Chicago. Cheri, por sua
vez, deu em seu sogro temporário um abraço terno.
Depois que o avião de Jasper levantou voo, ela e Jake caminharam, para outra
seção do aeroporto, a fim de tomar o jatinho particular que Jasper providenciara e que os
levaria até Anacortes.
A almofada lembrara a Jake uma história que seu irmão Charlie contara durante a
recepção de seu casamento com Jenny, sobre uma outra almofada de renda que o pai
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confeccionara para ambos. A Jake o presente parecera apenas uma curiosidade, talvez
uma excentricidade, até o momento em que Charlie lhe explicara que Jasper bordara seu
nome e o de Jenny muito antes de os dois pensarem em se casar.
— Você está... preocupado com o casamento? — Cheri perguntou num tom tímido,
meio hesitante.
Jake percebeu então que praticamente se esquecera de que ela se encontrava a
seu lado, tão envolvido estava com a própria raiva.
— Bem, digamos que não foi a melhor experiência de minha vida — ele respondeu
num tom seco, tentando demonstrar um pouco de humor.
— Eu sei. Sabe, senti até um mal-estar durante a cerimônia. Talvez por causa do
cigarro dos pintores.
A observação fez Jake rir.
— A cena toda mais pareceu uma comédia de pastelão, filme de o Gordo e o
Magro. Fiquei surpreso por nada ter caído e acertado a cabeça de alguém.
Cheri também começou a rir.
— E o juiz, tentando cabalar votos para a próxima eleição? Espero nunca mais
tornar a vê-lo. — Fez uma pausa momentânea. — Mas nada disso aconteceu por culpa
dele. Talvez eu tenha me sentido mal porque me senti desonesta ao dizer os votos... "até
que a morte nos separe" e tudo o mais.
— Não fique assim. Olhe as coisas de outro modo. Esse casamento nunca será
consumado. Jamais vai ser real, e assim os votos não valerão para nada. Poderemos
anular o compromisso quando este ano terminar, e então será como se ele nunca
houvesse acontecido. Então, por que não começar a fingir, agora, que ele jamais existiu?
Procure convencer-se de que faz parte de uma comédia que você um dia viu no cinema e
da qual não pode se lembrar.
Cheri o fitou e sorriu. Tinha um sorriso lindo, que fazia os olhos ganharem brilho.
Jake notou que eles eram de um radiante azul-claro.
— Parece uma boa ideia — ela respondeu. — Não devo me preocupar com um
casamento de mentira. Sua sugestão faz sentido. Obrigada por pensar assim. — Admirou
a almofada, em suas mãos. — Pobre Jasper... Queria tanto que as coisas fossem
diferentes...
— Pobre Jasper? Ele pretende fazer mais por seu maldito sonho do que podemos
imaginar. Prometeu, por exemplo, nos visitar de tempos em tempos.
— Apenas para o jantar — Cheri interveio. — E eu não me importo.
— Ele vai é nos vigiar. Ver como estamos indo.
— Por mim, tudo bem. Nós dois estaremos trabalhando duro.
— Mas não é com o trabalho que ele estará preocupado!
— Oh! — Cheri pareceu encabulada quando percebeu o que Jake queria dizer. —
Ele espera que trabalhemos na... concepção de um filho.
— Só espero que papai não me apareça com outras almofadas, com os nomes de
crianças bordados nelas...
Cheri franziu as sobrancelhas.
— Na sala do juiz, você pareceu aborrecido com o presente que seu pai nos deu.
Por acaso almofadas cobertas de renda têm algum significado especial em sua família?
— Antes, não — respondeu Jake. — Agora, sim. — E contou-lhe sobre o que
acontecera a seu irmão Charlie.
— O quê? Uma almofada-vodu? — Cheri exclamou, dando uma gargalhada. — E a
coisa mais engraçada que já ouvi! Oh, o fato de ele ter dado presentes iguais para você e
para seu irmão foi apenas coincidência. Não pode levar a sério. Principalmente por ser
um cientista.
O tom divertido fez com que Jake se desse conta de que exagerara mesmo.
Começou a rir.
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ficar nua na praia. Não verá ninguém. Pode fazer aquilo em todos os locais, a qualquer
momento. Por aquilo ele se referia, evidentemente, a sexo.
— Duvido que tenhamos tempo para praticar nudismo, Sr. Pulsifer.
— Pulse, por favor. Todo mundo me chama assim. Sabe por quê?
— Porque é uma abreviação de seu sobrenome.
— Exato. Mas também porque reflete minha personalidade. Sou um cara impulsivo.
Meu pulso começa a acelerar sob... certas circunstâncias.
Cheri se sentia cada vez menos à vontade com a conversa. Voltou-se e olhou para
Jake, que admirava as nuvens e aparentemente não ouvira nada. Um pouco aborrecida
com aquela indiferença, ela se virou para a frente. Como começasse a suar, abriu o
blazer.
Sentiu que o olhar de Pulse a devorava e o encarou. Ele fitava-lhe diretamente os
seios, apesar de a blusa vitoriana ter pescoço alto. Mas o laço de seda descia pela curva
generosa, chamando a atenção.
O piloto a estudou como se a estivesse vendo num top. Cheri depressa fechou o
blazer, com uma expressão enfezada. Mas nem esse recado óbvio pareceu aborrecer
Pulse.
— Você é uma garota e tanto! Caso se chateie na ilha, me avise. Posso mostrar-
lhe lugares maravilhosos enquanto seu marido trabalha.
— Não terei tempo para excursões — ela respondeu num tom firme e penetrante.
— Também tenho muito trabalho a fazer.
— Algo errado? — indagou Jake, ao notar-lhe a voz alterada. Antes que ela
pudesse responder, Pulse disse baixinho, só para Jake ouvir:
— Não há nada errado. Estou apenas tentando conversar com sua noiva. — O tom
era brincalhão e amigável.
Cheri virou-se e deu a Jake um olhar significativo, tentando demonstrar sua
insatisfação.
Ele percebeu-lhe a expressão zangada, mas não pareceu saber o que fazer com
isso. Deu de ombros e balançou a cabeça, como quem pergunta "que você quer de mim?"
Desanimada, Cheri olhou de novo para a frente. Procurou acalmar-se e lembrou a
si mesma que Jake, ao que tudo indicava, não ouvira a insinuante conversa do piloto.
Felizmente, chegaram à ilha menos de dez minutos depois. O hidroavião baixou à
água, parando junto ao píer.
Todos desceram. Cheri pôde ver uma pequena e rústica casa de madeira por entre
os pinheiros. Um caminho de pedras levava até a construção. De repente a porta se abriu
e um casal de cabelos brancos desceu para o píer.
Abe e Elsie Miller apresentaram-se, levando Cheri e Jake para a casa. Pulse ficou
do lado de fora, descansando num banco, deliciando-se com um pedaço de torta que a
velhinha lhe dera.
Depois de mostrar aos recém-casados a construção de dois quartos, com uma
ampla cozinha e uma sala aconchegante, Abe conduziu Jake para o jardim. Elsie
permaneceu lá dentro, conversando com Cheri.
— Às vezes a secadora fica superaquecida. Por isso, nos dias bonitos, levo a
roupa para fora — disse a senhora baixinha e esperta. — Há um varal nos fundos, que vai
da casa até uma das árvores. Quanto ao fogão, os acendedores nem sempre funcionam.
Então você terá de usar fósforos. Pulse trouxe-nos um forno novo.
— Ele gosta de você — comentou Cheri, curiosa para saber o ponto de vista de
Elsie sobre o piloto. — Disse que sempre ganhava um pedaço de torta caseira...
— Oh, sim. A de framboesa é a sua favorita.
— Ele é... de confiança?
— De muita confiança. Há outra coisa que você precisa saber. Existem um
armazém e uma loja de informática em Anacortes. Você pode fazer seus pedidos por
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telefone, e eles os mandam a Pulse, nas docas. Então ele vem até aqui.
Também há um arranjo com o correio. Pulse costuma vir às segundas-feiras, mas,
se vocês precisarem, pode vir em outros dias da semana.
— O que ele faz? Como vive?
— Trabalha por conta própria. Foi empregado de Jasper Derring durante anos.
Hoje, também costuma levar os turistas a sobrevoar Puget Sound e as montanhas.
— Entendo. — Decidiu mudar de assunto — Ouvi dizer que vão se mudar da ilha.
Espero que não esteja pensando que vamos segui-los.
Elsie balançou a cabeça.
— Não. De modo algum. Me senti aliviada ao ouvir quando Jasper telefonou para
nos contar do filho e a esposa virem morar na ilha. Preocupou-se em pedir para mudar
após 12 anos morando aqui. Mas lhe dissemos para nos chamar quando quisesse. Abe
completou setenta e cinco anos e achamos que estava na hora de nos mudarmos para a
cidade. Na idade dela não é muito prudente morar num lugar isolado. Nunca se sabe
quais problemas de saúde podem surgir.
— Pode nos visitar quando quiser.
— Obrigada. Se sentirmos muitas saudades, iremos. Assim que chegarmos na
casa nova lhe telefonaremos. Poderá nos perguntar qualquer coisa sobre como cuidar
daqui da horta e da casa.
Foi até o balcão, onde já preparava um guisado.
— A propósito, tomei a liberdade de preparar um jantar para vocês. Imagino que se
encontram cansados após tantas horas de voo. E começar a cozinhar num lugar novo é
estranho. Logo após às cinco e meia estará pronto.
— É muito amável de sua parte. — Cheri agradeceu pela atenção dispensada. —
Estava mesmo perdida sem saber o que preparar para o jantar.
Menos de uma hora depois, Abe e Elsie já queriam partir para chegar antes do
escurecer. Jake e Cheri acenaram-lhes ao vê-las partir no hidroavião com Pulse.
— São muito simpáticas, não acha? — indagou Cheri.
— Muito — concordou Jake. — Mas vamos dar uma olhada nos nossos gatinhos.
Talvez estejam adormecidos após a medicação.
Voltaram para a casa e abriram os carregadores na sala. Os gatos de Jake e de
Cheri estavam acordados. Percebia-se ainda a sonolência e a letargia dos pobres
bichinhos. Depois de agradá-los e mimá-los, decidiram deixar os bichanos dentro dos
carregadores com as portas abertas. Assim, poderiam sair na hora que quisessem. A
tigela foi enchida de água e a ração que tirada da bagagem.
— Muito bom. Uso a mesma ração para alimentar Dude. Espero que quando
estiverem realmente alertas, não se odeiem ao se verem.
— Temos que esperar para ver.
Capítulo 5
Enquanto o bolo esfriava em cima do balcão, Cheri observou que a horta recém
plantada encontrava-se vazia. Sentiu-se um pouco aborrecida por não ver Jake. Mas, em
seguida, lembrou-se de que não devia se preocupar. Cerca de uma hora antes vira-o
trabalhando sem camisa, e notara, surpresa, a forma física perfeita.
Acostumada à aparência tranquila, atenciosa e reservada do cientista, sempre
vestido de modo conservador, ficara surpresa. Jake parecia outra pessoa. Passava a
sensação de alguém vigoroso e forte. Ombros largos, quadris estreitos, peito coberto de
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— Parece que a bichana vai aprender muito, se você continuar a falar nesse tom —
observou Jake, desaprovando a atitude da esposa.
— O que quer dizer?
— "Desce, docinho"... — disse, imitando-a. — Esse jeito não funciona. Parece
encorajar a gata em vez de ensiná-la. Ela entenderá o "não" como um "vá em frente,
sirva-se à vontade".
Cheri colocou a gata no chão.
— Acho que gritar ou bater o jornal no pobre animal também não ajuda.
— Não é necessário fazer isso. Mas precisa falar com firmeza. Nunca viu Dude
pular sobre a mesa, viu?
Cheri ficou sem graça.
— Ele é muito gordo para isso. Mas, já que vai me ensinar disciplina, diga-me...
Que método usa para obrigar Dude a seguir uma dieta?
Jake suspirou.
— Certo. Dessa vez você venceu. Bem, não pretende cortar este frango? Ou posso
arrancar a coxa?
"Que mau humor!", pensou ela enquanto servia a ambos.
— Aqui está.
Ele colocou os óculos sobre a mesa, como sempre fazia antes das refeições. Até
aquele momento Cheri não se incomodara com o gesto, mas naquele instante irritou-se.
— Por que sempre tira os óculos quando vai comer? O frango que preparei não lhe
parece apetitoso?
Ele pareceu surpreso.
—Tiro os óculos para comer porque sou míope. Posso ver o prato sem usá-los.
Eles me ajudam a ver a distância, mas atrapalham a visão de perto.
— A que distância consegue enxergar sem os óculos? Pode me ver aqui, do outro
lado da mesa?
Jake fitou-a de modo penetrante.
— Sim, posso, porque a mesa é pequena. Mas não tente fazer nada só por achar
que eu não vou enxergá-la.
— O que acha que eu poderia fazer? — perguntou ela, brincando.
— Muita coisa. Esse seu jeito travesso não me engana.
— Jeito travesso? Eu?
— Muitas vezes me tira do sério.
Cheri riu.
— E o que mais?
Jake mudou de assunto, disfarçando o constrangimento.
—Como está seu curso por correspondência?
— Já li o primeiro capítulo e comecei a fazer os exercícios do caderno de
atividades. Conheço contabilidade básica, então fui em frente. Mas aí apareceram
algumas dificuldades.
— Faça um capítulo de cada vez. Não tente pular etapas.
— É bom em matemática?
— Sempre fui.
— Se eu tiver problemas, pode me ajudar?
— Somente se for absolutamente necessário. Deve aprender sozinha.
— Certo — concordou ela, embaraçada. — Desculpe.
Jake continuou comendo em silêncio. A tensão crescia, e Cheri não sabia por quê.
Após um longo silêncio, recomeçou a falar:
— Ainda estou tentando encontrar um nome para minha gatinha. Tem alguma
sugestão?
Jake relaxou um pouco e deu de ombros.
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— Não mesmo? Uma vez, ajudei uma garota a resolver problemas matemáticos.
Quando dei por mim, estava na cama com ela.
Cheri o encarou, perplexa.
— Verdade?
Jake se mexeu na cadeira.
— Já lhe disse. Dormi com ela.
— E o que aconteceu depois disso?
— Bem, não durou muito tempo. Foi apenas um... momento.
— Uma viagem à lua sobre as asas de uma borboleta?— brincou Cheri.
— Vamos esquecer o assunto, está bem? — ele propôs, irritado. — Não lhe fiz
nenhuma pergunta sobre relacionamentos anteriores, certo?
— Grande coisa. Não tive nenhum.
Jake a encarou, cético.
— Não mesmo? E seu noivo? Alguma coisa deve ter acontecido.
— Nada aconteceu. Eu lhe disse que queria esperar até a noite de núpcias e ele
concordou.
— Então, está me dizendo que nunca... Oh, não. Você não pode ser virgem.
Cheri sentiu o rosto ruborizar-se. Ficou brava e constrangida.
— Por que não? Só porque os homens acham que qualquer garota começa a ter
vida sexual aos treze anos? — ela explodiu. — No ginásio, os meninos grafitavam meu
nome nas paredes. As fofocas correram soltas, e todo mundo acreditou. Minha mãe teve
que ir à escola para limpar meu nome e reprimir os garotos. Foi nessa época que comecei
a usar roupas largas. Quis me esconder. Minhas notas baixaram, porque minha
autoestima estava lá embaixo. Não cheguei a cursar a faculdade. É por isso que sou
virgem. Odeio os homens em geral e os de olhares sujos em particular. Nunca desejei
dormir com eles. — Tentou conter as lágrimas. — Mas não se preocupe! Também não
tenho interesse em dormir com você!
Levantou-se e foi até a sala. Jake a seguiu.
— Desculpe-me — disse-lhe enquanto sentava no sofá, a seu lado. — Sinto muito
por sua terrível experiência na escola.
— Obrigada. Desculpe-me pelo discurso a respeito dos homens e do meu passado.
Já tentei moderar, mas isso volta à tona algumas vezes.
— Todos nós temos nossos problemas. — Sorriu e continuou: — Deixe que eu
enxugue a louça. Onde está o pano?
Cheri riu.
— Embaixo da pia.
Enquanto secava os pratos, Jake olhava pela janela, perdido em pensamentos.
Cheri possuía uma beleza delirante. Era sincera, ingênua. Uma mulher rara. O
velho pai merecia crédito. Jake estava sozinho numa ilha com uma mulher sedutora... O
engenhoso plano de Jasper criara o clima certo.
"Aquele velho manipulador!", pensou com carinho. "Será que acredita que vou
fraquejar?"
Seus pensamentos foram interrompidos pelo telefone.
— Eu atendo! — gritou enquanto ia até o balcão da cozinha. — Alô!
— Olá, Jake. É o papai. Liguei apenas para saber como estão os jovens recém-
casados.
— Engraçado. Eu estava pensando em você. Como vão as coisas? Mamãe está
bem?
— Muito bem, obrigado. Acabamos de chegar de um jantar para comemorar o dia
dos namorados. E vocês?
— Cheri fez um bolo em forma de coração. Delicioso e adorável — respondeu
Jake, perguntando-se por que as pessoas davam tanta importância ao dia dos
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Com exceção desses pequenos aborrecimentos, o casal seguia uma rotina suave.
Trabalhavam em separado, ao longo do dia. A noite jantavam juntos.
Pela manhã, Jake corria por uma trilha com cerca de quinze quilômetros. Quando
voltava, encontrava Cheri sempre de pé. Isso evitava algum encontro acidental, no qual
pudessem estar nus. No almoço, ela lhe levava sanduíches, saboreados em frente ao
computador.
Naquele dia, Jake havia comido o seu lanche duas horas antes e estava prestes a
levar o prato de volta à cozinha. Depois, faria um pouco de jardinagem. Encontrou a
esposa em roupas esportivas. Usava jeans, uma malha bem folgada e tênis. Tinha os
cabelos presos numa fivela.
— Aonde vai? — quis saber Jake.
— Estou cansada de ficar trancada. Decidi dar um passeio. Estarei de volta antes
do anoitecer. O que acha?
— Aparentemente não há problema. Mas, se deparar com algum obstáculo, volte
pelo mesmo caminho. E cuidado para não torcer o tornozelo.
— Ficarei bem. Até mais tarde.
Ao dirigir-se ao depósito de ferramentas, Jake olhou pára o céu cheio de nuvens.
Uma grande tempestade se armava, vinda da direção do Pacífico.
Em vez de abrir o depósito, virou-se e retornou para a casa. Abriu o mapa do radar
Doppler na tela do computador e pôde localizar onde já estava chovendo. Observou o
aumento da velocidade do vento, a queda do barômetro e a mudança de temperatura. Era
um daqueles momentos em que os meteorologistas tinham que bancar os adivinhos, para
poder prever o futuro. Jake previu que havia cinquenta por cento de chances de começar
a chover dali a uma hora.
Saiu e escalou o morro, para ver melhor. Ao alcançar o ponto mais alto, seus
instintos lhe disseram que seria melhor ir atrás de Cheri e pedir-lhe para voltar. Caso
contrário, poderia ficar ensopada.
Desceu e avançou para a trilha. Levou vinte minutos para alcançá-la.
— Cheri! — chamou.
Ela virou-se, surpresa.
— Jake! Você decidiu dar uma volta também?
— Não. Vim para avisá-la de que uma grande tempestade está a caminho. Você
vai se encharcar em poucos instantes. Acho que devemos voltar. Programe a caminhada
para outro dia.
Cheri sorriu. Ergueu a mão para o alto, indicando o sol.
— Com um céu desses, você acha que pode chover?
— Vire-se e veja o que a espera do outro lado.
Ela virou-se e olhou.
— A chuva não vai nos alcançar. Lembra? Foi você mesmo quem disse que as
montanhas eram barreiras naturais para o mau tempo.
— Nem sempre funciona assim. Esse temporal será forte. Portanto, vamos embora.
Ela tentou se conter e olhou em direção ao sudeste.
— Não acho que vá chover.
— Vi a tempestade pelo radar. Conheço mais sobre o tempo do que você.
Cheri fez uma careta.
— Está bem. Espero que esteja certo. Porque, se não chover, você não comerá
sobremesa esta noite.
Jake riu.
— Minhas possibilidades de ganhar são grandes.
— É o doce italiano. Preparei esta manhã. Melhor não errar.
— Vamos logo! — disse ele com firmeza, conduzindo-a pelo braço.
— Quanta gentileza!
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aproxime de mim com faíscas nos olhos. Não comece a me beijar nem a me tocar. Sou
humana também. — Olhou-o com raiva. — Vocês, homens, nunca admitem a própria
culpa!
Deu-lhe as costas abruptamente, correu ao quarto e fechou a porta.
Capítulo 6
Certa manhã, após algumas semanas, Cheri vestiu uma das roupas que comprara
através de um catálogo especializado. Pulse a entregara um dia depois do episódio do
beijo.
Com o dinheiro do último pagamento da Tucci's, ela comprara peças simples,
juvenis, coloridas e justas. Os itens incluíam tops de tricô bem cavados na frente e alguns
shorts. A estação quente se aproximava e seria ideal para o calor. Por que haveria de
suar dentro de roupas folgadas, como sempre fizera?
Escolheu um top de manga curta, listrado de azul e branco, e um macacão bem
justo na cintura, azul-escuro. Ao vestir-se, olhou no espelho e achou-se elegante. Havia
anos não se vestia assim.
Depois de pentear os cabelos, rumou à cozinha, para o café da manhã. Quando
começou a lavar a louça, Jake entrou, voltando dos exercícios matinais. Resmungou um
bom-dia, ao qual Cheri respondeu da mesma forma.
A conduta de ambos tinha se modificado após o episódio do beijo. Agiam com*
indiferença, embora mantivessem um polido respeito.
Mal olhou para ela, Jake parou no meio da cozinha e disse:
— Por que acordou cedo hoje?
— Tira me acordou. Estava miando muito. Achei que havia algo errado. Mas ela
parece bem.
— Tem razão. Tira me acordou também. Deixou Dude agitado. Ele pulou da minha
cama e começou a arranhar a porta. — Reparou na roupa da esposa. — Onde conseguiu
isso?
— Num catálogo. Gostou?
— Parece que quer se mostrar.
— É mesmo?
— Sim.
— E então?
— Então, por que está usando? Por que a comprou? Gosta de usar roupas que
cobrem o corpo.
— Gosto mesmo?
— E não?
— Não. Nunca gostei. Fazia isso para os homens não pensarem que eu queria me
mostrar. Esta roupa é normal. Já deve ter visto milhares de jovens usando modelos assim
no campus da Universidade.
Ele a estudou, desconfiado.
— Você está querendo ser inoportuna.
Cheri sentiu-se ofendida.
— Inoportuna? Simplesmente porque coloquei uma roupa nova?
— Acho que está bolando algum plano. Decidiu vestir-se de modo provocante para
tentar me atrair.
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— Em primeiro lugar, esta roupa não é provocante. Não é uma saia curta, ou
agarrada.
— Contorna o seu corpo inteirinho!
— Acha que me visto assim para chamar sua atenção? Pode desistir dessa
fantasia. Sinto muito. Acabou de provar que é igual ao restante dos homens. Por que eu
iria querer você?
— Não quero comprar esta briga.
— O que quer dizer?
— Acho que você decidiu que esse casamento temporário deve se tornar
permanente. Foi por isso que pediu roupas sensuais. Imaginou que, se conseguisse me
seduzir, então me teria na palma da mão. Talvez tenha decidido que permanecer casada
com o filho de um milionário não seja um mau negócio. Teria dinheiro o resto da vida. Não
precisaria abrir nenhum café.
— Como ousa dizer isso? Acha que sou do tipo que está atrás de uma mina de
ouro?
— Não parece ser assim? Concordou com este casamento porque meu pai
ofereceu-lhe um milhão de dólares, e aí está a prova. De fato, é um preço alto! Aquele
comentário a feriu.
— Disse a Jasper que não queria um milhão. Só repor o que me roubaram. A partir
de então me organizaria para abrir meu próprio negócio. Não quero ficar legalmente
ligada a você ou a algum outro homem. Nunca foi nem será o meu verdadeiro objetivo.
— Claro — respondeu ele com sarcasmo, tenso.
Saiu da cozinha rumo ao quarto e bateu a porta. Logo entrou no banho.
A raiva a dominou. Piscou, para afugentar as lágrimas. O que mais poderia
esperar? Não existiam príncipes encantados como nos contos de fada. Por que ainda
esperava encontrar um?
Tira entrou na cozinha e deu um longo miado. Cheri agachou-se para falar com a
gata.
— O que há de errado?
A gatinha esfregou-se em suas pernas e continuou miando. Parecia agitada e aflita.
Cheri ergueu-se e procurou estudar a reação de Tira, preocupada. Dude apareceu
e começou a cheirar a gatinha. De repente pulou em cima dela.
— Dude, desça já!
— O que está acontecendo?
Ao virar-se, ela viu o marido de volta à cozinha. Jake dobrou as mangas da camisa
que acabara de vestir, combinando com o jeans.
— Dude está esmagando minha gatinha! O que ele tem?
— Sua gata já foi castrada?
— Não. É muito nova para isso.
— Sua gata está no cio. Você tem que castrá-la.
— O quê?
— Não sabe nada sobre felinos? Ela tentou conquistar Dude. Não sabia que ele se
comportaria assim.
— Se Dude fosse castrado, ela não teria filhotes, certo? Então, por que Tira tem
que ser operada? — indagou, preocupada.
— É rotina. Os veterinários executam essas cirurgias o tempo todo. Quer ficar
ouvindo-a miar sem parar todo dia? Quer que ela deixe o pobrezinho maluco?
— Mas Tira é muito pequena para ser operada.
— Quantos anos tinha quando você a pegou?
— Era uma gata de rua. Não tenho nem ideia de onde veio ou de quando nasceu.
— Telefone para os Miller e peça indicação de um veterinário — sugeriu ele num
tom professoral e direto. — Providencie para que Pulse a leve na próxima vez que vier.
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haver um bolo.
Jake deu de ombros.
— Claro. Mas não precisa me dar nenhum presente.
— Nem ousaria fazê-lo. E quanto ao bolo... se eu escrever Feliz Aniversário com
glacê cor-de-rosa, não vai pensar que estou querendo seduzi-lo, vai?
Jake pensou que não merecia aquele humor mordaz.
— Não vou. Obrigado. Acho uma ótima ideia e acredito que meu velho irá gostar,
também.
— Qual bolo você prefere? De coco? Chocolate?
— Chocolate.
— E o glacê? De chocolate, também?
— Por que não? — disse ele com um sorriso.
Cheri sorriu também.
— Sou viciada em chocolate — admitiu.
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aeroplano.
Jasper desceu rapidamente e o avião decolou.
— Prazer em revê-lo, meu filho. Seu cabelo cresceu.
— Não há muitos barbeiros na ilha — respondeu Jake com um sorriso. — Irei até
Anacortes um dia desses, e farei um corte.
— Peça a Cheri que faça isso — sugeriu o pai enquanto seguiam até a casa.
Jake soltou a respiração e assentiu, educadamente.
— É uma ideia.
Jake abriu a porta da frente. Cheri correu para dar um abraço caloroso no sogro.
Jake sentiu-se pouco à vontade. Agiam como se fossem membros de uma família.
Será que não se lembravam mais de que aquele era apenas um casamento temporário,
de conveniência, para preencher as exigências legais do testamento? Será que Jasper se
esquecera de que teria que pagar à nora um milhão de dólares? Por que tratavam as
aparências como algo verdadeiro?
— Sente-se, papai. Vamos beber algo. O que podemos tomar, Cheri?
— Limonada. Mas também há chá de ervas em saquinho.
— Quanta atenção! Quero o chá.
— Como vai Bea? Que pena ela não ter vindo...
— Está ótima. Mas não gosta de andar de avião. Prometi ligar.
— Vai deixá-la tranquila — Cheri comentou.
— A vida aqui faz bem a vocês. Ao menos não estão tão pálidos como em
Chicago. — Percebeu a roupa da nora. — E que modelo adorável!
Cheri sorriu e olhou para o conjunto
— Obrigada.
— Ela não está radiante, filho?
— Está — respondeu ele, sem ânimo. — Sente-se, papai. Que tal aquele chá,
Cheri?
— Imediatamente — disse ela, rumo à cozinha.
Sentou-se e começou a conversar com Jasper, Cheri entrou com o chá e
desculpou-se, por ter de voltar à cozinha.
Depois de algum tempo, Jake levou o pai para fora da casa, a fim de lhe mostrar o
equipamento meteorológico. Foram à horta, também, onde fileiras de plantas brotavam.
Jake achava que a ilha era tão próspera que sugeriu a Jasper transformá-la numa
estação particular.
— Mas, se está tão feliz aqui, conserve-a. Vocês podem desfrutar dela.
Ele respirou fundo.
— Papai, eu e minha esposa queremos voltar à nossa vida de solteiros. Não pense
que esse casamento vai durar a vida toda, porque não vai.
Jasper ergueu a mão, num gesto de concordância.
— É você quem diz, filho. Não estou aqui para interferir. Apenas quero jantar e
celebrar o seu aniversário. Está completando trinta anos, não é? Como o tempo passa
depressa! Quando se é mais idoso, percebemos isso melhor.
— Tenho muitos anos pela frente, e posso realizar meus sonhos.
— Espero que saiba o que realmente quer da vida, meu filho.
Jake suspirou. O pai era mais atento do que imaginava.
Sentaram-se para jantar por volta de cinco horas da tarde. Cheri havia preparado
salmão ao forno com batatas e salada mista. Jasper elogiou-a bastante. Jake aproveitou a
oportunidade para dizer:
— Cheri vai ter o melhor café de Chicago. Tem jeito para isso.
O velho apenas sorriu.
— Com certeza.
— Tem aproveitado o tempo para preparar vários pratos. E eu provo todos —
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acrescentou Jake, tentando ser agradável. Olhou de relance para Cheri, que manteve-se
ocupada e fingiu não ouvir.
— Como vão os gatinhos? — perguntou Jasper, mudando de assunto. — Vi Dude
dormindo na sala: Onde está a sua gata, Cheri?
— Entrou no... cio — disse ela com um traço de embaraço. — Miava sem parar e
Dude tentou... tentou...
Jasper riu com gosto.
— Dude? Quando íamos visitar Jake, em Winsconsin, tudo o que ele sabia fazer
era dormir!
Cheri riu também.
— Foi engraçado. O bichano mal sabia o que fazer a respeito.
— Ninguém lhe mostrou o caminho?
Conhecendo o humor do pai, Jake sabia que a alfinetada era dirigida a ele. Sentiu
raiva, mas continuou cortando a batata como se nada houvesse acontecido.
— Jake sugeriu que Tira fosse castrada. Está no veterinário, mas passa bem.
— Cheri liga todos os dias para a clínica.
— Só quero acompanhar o pós-operatório.
— Claro. Quando ela virá para casa?
Cheri suspirou, preocupada.
— Em duas semanas. Os pontos devem cicatrizar-se em dez dias. Jake achou
melhor deixá-la no veterinário.
— E você, o que queria?
— Eu preferia que a pobrezinha viesse para casa, mas Jake estava certo.
Jasper sorriu.
— Apenas porque está casada com Jake, não significa que tenha que concordar
com tudo o que ele disser. Pode agir à sua maneira.
— O que o faz pensar que ela não age? — perguntou Jake num tom agudo, fitando
Cheri. — Você não disse que a queria de volta depois da cirurgia.
Ela, sensatamente, resolveu não discutir na frente do sogro.
— Mas, como você sugeriu que a mantivéssemos na clínica, eu...
— Poderia ter me dito que a queria aqui antes da retirada dos pontos!
— Mas, nesse caso, Pulse teria que levá-la várias vezes à clínica. Como sei que
você não gosta dele, imaginei que fosse melhor evitar que viesse muito até aqui.
Um brilho iluminou os olhos do sr. Derring.
— Você não gosta de Pulse?
— É um bom piloto. Mas não tem muito escrúpulo.
— Verdade? — admirou-se o pai, num tom sério. — Como ele se comporta?
— Bem, Pulse sabe que eu e Cheri somos casados. Mas sempre que pode ele a
devora com os olhos, e chega até mesmo a tocá-la. Na minha frente!
— Ora, meu filho, isso é muito ruim. Mas já vi sua esposa servindo mesas na
Tuccfs e sei que ela sabe lidar com homens assim.
Jake ergueu o olhar.
— Sabe? — Riu. — Acha que sou bobo?
— O que quer dizer? — perguntou Cheri.
— Deixa-o apertar sua mão, abraça-o...
— Ele me abraçou uma vez. Eu estava chorando por causa da gatinha. Ele só
demonstrou solidariedade, algo que você não fez.
— Antes, você não era assim receptiva. Lembro-me de como o encarou quando ele
nos trouxe.
— Finalmente você notou alguma coisa! Mas agora é tarde.
— O que está querendo dizer?
— Naquele dia, você só se preocupava com as nuvens. Eu que me virasse com
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— Sim, ficarei. Você conseguiu me prender aqui. Não quero estragar tudo. E Cheri
precisa do dinheiro.
Jasper fitou a nora.
— E você? Está muito infeliz?
— Não muito infeliz. Estou executando minha parte. Se meu marido quer ir em
frente, e esperar um ano, ficarei a seu lado. Não há nada para fazer em Chicago no
momento.
— Sinto muito. — As sobrancelhas do sogro ergueram-se rapidamente. — Devo ter
cometido um engano. Reconheço que Bea sabia que não era uma boa ideia. Mas agora é
um pouco tarde para voltar atrás. Contento-me que queiram ir até o fim. Quando
chegarem lá, vão se sair bem. Ponham isso na cabeça.
— Certo — concordou Jake, mais calmo. — Mas espero que aprenda a lição. Não
pode manipular a vida das pessoas dessa maneira. Não pode sair por aí arranjando
casamentos e esperar que funcionem. Sei que Charles e Jenny se dão bem, mas isso foi
sorte. Cheri e eu... bem, não vai funcionar.
— Sinto muito se causei algum aborrecimento — disse Jasper, um tanto trêmulo, e
enxugou os olhos.
— Não se preocupe. Vamos nos acostumar. Ou melhor, vamos nos dar bem o
bastante para viver o restante do ano. Não fique transtornado, sr. Derring, por favor.
— Você está bem, papai? — Jake nunca o havia visto à beira das lágrimas.
— Estou apenas decepcionado por tê-los colocado nessa situação.
— Somos durões. Não vamos perder a parada. Sei que agiu pensando em nosso
bem.
Jasper assentiu e pareceu se recompor. Depois de alguns instantes, telefonou para
Bea. Jake e Cheri também falaram com ela.
Eram sete horas. O hidroavião apareceu, como combinado. Cheri embrulhou um
pedaço de bolo num pedaço de papel-alumínio.
Despediram-se, e Jasper partiu.
Pulse levou Jasper a Anacortes. O sr. Derring sentia uma ponta de alegria. Seus
planos estavam funcionando! Podia sentir isso. Mas tinha de esconder suas impressões.
Até fingira remorso na frente do casal. Mas, no fundo, sabia que Jake queria Cheri. Podia
perceber pelo modo como o filho se comportara na hora do bolo. Sentiu também que ela
queria Jake.
Riu. Aquilo era maravilhoso. Se aqueles dois não fizessem amor, e logo, ambos
simplesmente explodiriam!
Capítulo 7
Uma semana depois, Cheri olhou pela janela ao ouvir os motores do hidroavião.
Pulse havia se programado para fazer uma viagem especial e trazer Tira de volta. A
gatinha já tinha tirado os pontos. Cheri mal conseguia conter a alegria de revê-la.
Jake entrou. Aparentemente, também escutara o barulho do avião.
— Irei até lá e trarei sua gatinha.
— Pode deixar que eu vou.
— Assim? — Ele observou-lhe a camiseta e o short.
— Assim.
— Pulse vai adorar. Sempre a devora com os olhos.
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— Sei de que maneira ele me olha. Mas é inofensivo. E trouxe minha gata para
casa. — Viu o avião planando até atingir o píer. — Vamos, me acompanhe!
— É melhor eu ir, mesmo. Antes que aquele piloto se aproveite da situação.
Ela riu do comentário. Cada vez mais o marido demonstrava os sentimentos.
Sentia ciúme, embora negasse isso. Fitava a esposa com ansiedade, mas, quando ela lhe
percebia o olhar, ficava constrangido e saía da saía. Desde o beijo o pobre homem vinha
lutando contra o desejo. Cheri sentia-se um tanto envaidecida por atrair alguém com
tamanha capacidade. Cientista. Professor. Perguntou-se se algum dia ele desceria
daquela torre de marfim.
Por outro lado, se não tinham um futuro juntos, talvez fosse melhor ficar onde
estavam. Ela começara a se cansar das brigas, embora soubesse que eram produto da
tensão provocada pelo desejo.
Quando alcançaram o píer, Pulse já tinha saído do avião. Acenou para os dois e
voltou-se para apanhar o carregador.
— Vejam o que tenho aqui! — disse com um prazer enorme.
Cheri correu até ele. Quando o piloto bateu os olhos nela, pôde-se perceber
encantamento e admiração.
Ela o ignorou. Estava mais interessada em ver a gata, que miava atrás das barras.
Pegou o carregador, colocou-o no chão e abriu a portinhola. Tira saiu e foi abraçada.
Cheri notou que o pelo, perto da região do estômago, tinha sido cortado. Havia uma
pequena cicatriz.
— Pobrezinha! — falou num tom abafado, quase chorando.
Tira ficou um pouco agitada. Então Cheri a colocou de novo no carregador. Virou-
se para Pulse e estendeu a mão.
— Obrigada.
O piloto tomou-lhe a mão e sorriu, impaciente. Deslizou o braço ao redor de Cheri e
deu-lhe um aperto.
— Estou à disposição. Posso ajudá-la quando quiser. Você é uma pessoa meiga e
merece.
Cheri sentia-se muito grata por tudo aquilo.
— Quer um pedaço de torta?
— Não, obrigado — agradeceu Pulse, soltando-a. — Tenho que voltar para
Anacortes. Há alguns turistas me esperando para um passeio.
Ela percebeu o olhar que o piloto lançou na direção de Jake. Virou-se para ver o
marido e o viu encarar Pulse com ferocidade.
— Fica para a próxima vez, então.
— Certo — concordou o piloto. — Aguardarei com prazer. — E caminhou para o
avião.
Jake ajudou-o a desamarrar o aeroplano. Pulse entrou, evitando fitá-lo. Acenou
para Cheri e decolou.
Jake levou o carregador até a casa, fervilhando de raiva.
— Alguma coisa errada? — perguntou ela com delicadeza, tentando irritá-lo.
— Ele a abraçou e você agradeceu!
— Bem, Pulse tomou conta de Tira.
— E ainda lhe ofereceu torta!
— Sempre faço isso. Mas você praticamente o expulsou. Não sabia que teria essa
atitude.
— O que quer dizer?
— Você parece um homem ciumento.
Entraram na casa, e Jake colocou o carregador no chão. Não fez nenhum
comentário a respeito da última observação da esposa.
Ela abaixou-se para abrir a portinhola. Tira saiu, cautelosa. Cheri pegou-a no colo e
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Decidiu não se preocupar com isso. Fazer amor tinha sido tão magnífico... Não iria
estragar tudo com preocupações tolas.
Permaneceu ao lado dela e beijou-lhe os cabelos.
— Eu não sabia que poderia ser assim. Atingi um ponto que não imaginava existir.
Cheri riu e percorreu-lhe o peito com a mão.
— Você foi maravilhoso. Fez da minha primeira vez algo muito especial — disse,
sentindo os olhos encherem-se de lágrimas.
Quase declarou que o amava. Encostou a cabeça no ombro largo. Sentia-se
confusa.
— Machuquei você? — perguntou Jake, percorrendo-lhe docemente o braço.
— Não. Foi como... se eu tocasse o céu.
Com a cabeça reclinada no ombro do marido, Cheri não podia ver-lhe o rosto.
Sentia-se mais segura assim. Receava que a emoção pudesse incomodá-lo. Queria vê-lo
feliz com a experiência. Não desejava que acabasse. Aquele ato tornara claro seu amor
por aquele homem.
Oh, não! E agora?
"Foi como se eu tocasse o céu", Jake repetiu silenciosamente ao acariciar a pele
da companheira.
Que maneira diferente de sentir-se! Nunca imaginou que sexo pudesse fazer com
que alguém fosse levado ao... mundo espiritual. Cheri tinha lhe despertado algo muito
importante. Dali por diante, iria querer cada vez mais.
E era exatamente esse o problema. Uma vez começada aquela história, não
desejariam interrompê-la. Teve a impressão que Cheri não se importaria, que não se
preocupava com o futuro ou com o que estava acontecendo. Era impulsiva. Fez com que
Jake agisse com impulsividade também. Foi inevitável resistir.
Mas... e a partir daquele momento?
O desejo o levara longe demais. Todos os seus planos poderiam ruir. O que
aconteceria a seguir? O que deveria fazer para pôr um fim naquilo?
Capítulo 8
Naquela noite, Cheri chamou o marido para jantar, como de costume. Não se viam
desde a manhã, quando trocaram um rápido beijo depois de deixar a cama. Cada um
então se entregara às atividades de rotina.
Agora, Cheri se perguntava como Jake iria se comportar. Arrepender-se-ia por
terem feito amor?
Ele entrou e sentou-se. Quando a esposa serviu o prato principal, pimentões
preparados à moda da Hungria, sorriu-lhe e comentou que o cheiro estava uma delícia.
A reação fez com que ela se sentisse aliviada. Receava que o marido agisse
injustamente e a acusasse de seduzi-lo, como já acontecera.
Sentou-se à mesa depois de servi-lo. Antes de começar a comer, disse:
— Não sei quanto a você, mas senti uma energia extra o dia todo. Não sabia que
fazer amor revigorava tanto assim!
O comportamento de Jake mudou um pouco. Mastigava mais devagar e mantinha
o olhar preso ao prato. Depois de engolir, observou:
— O que compartilhamos juntos foi uma experiência inesquecível, mas vamos ter
que encarar o fato como um incidente isolado.
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— Não é também o que quer? — perguntou ele num tom professoral. — Pense
antes de responder.
Ela pressionou os lábios. Jake parecia racional ao extremo, mas agira com
impulsividade ao levá-la para a cama. Fora devorado pelo desejo. Talvez pudesse
acontecer de novo. Precisava de um pouco de paciência.
— Acho que quero tudo. Não gosto de fazer escolhas.
Ele ergueu as sobrancelhas. Não gostou da resposta.
— Mas, quando estava noiva, colocou o sexo de lado. Não foi?
A pergunta pegou-a de surpresa. Tinha até se esquecido. Mas sabia a razão: não
amava o ex-noivo. Talvez, no fundo, não confiasse nele. Mas com Jake era diferente.
Faria qualquer coisa por aquele homem.
Molhou o lábio, enquanto refletia como responder.
— Eu tinha uma regra básica: sexo, só depois do casamento. E nunca me casei.
Mas agora... estou casada com você!
— Foi um casamento imposto. Ambos sabemos que terminará em um ano.
— Mas somos legalmente casados. Se é um casamento por conveniência, por que
não fazer sexo por conveniência também?
Jake desviou o olhar, surpreso com a lógica da esposa.
—Está tão ansiosa assim para deitar-se de novo comigo?
—Acertou! Você é um amante magnífico. Quero mais!
Dessa vez foi Jake quem corou. Mas tentou manter a compostura.
— Foi isso que lhe falei, lembra? Que iríamos querer mais.
— E por que não? Não é mais fácil ter concentração no trabalho se as
necessidades sexuais estiverem satisfeitas?
Ele balançou a cabeça. Sentia-se muito pouco à vontade.
— Não acho. Gostaria de ir para a cama com você constantemente. Não faria mais
nada. Desequilibraria minha vida. Completamente.
— Isso aconteceu nos relacionamentos que teve antes?
— Não. As outras mulheres entendiam minhas prioridades. Não sei por que, mas
isso não era um problema. Aqueles relacionamentos não duravam muito. No nosso caso,
ficaremos aqui um ano inteiro.
— Entendo. Mas não compartilho essa sua... prioridade.
Ele respirou fundo e levantou a cabeça.
— Percebo que não compartilha. Aparentemente, ainda não aprendeu. Isso vem
com a maturidade.
— Mas você sempre foi tão maduro! Mesmo quando mais novo, tudo o que fazia
era estudar. Portanto, acho que nasceu assim.
Jake riu e coçou o queixo.
— Pode-se dizer que você está certa. Mas eu não queria que fosse desse modo.
Temos pontos de vista diferentes sobre a vida. Estabeleço meus próprios parâmetros.
Você deve fazer o mesmo, acho. Mas, depois, pula fora.
Cheri percebeu que tinha de levar as coisas no ritmo de Jake, se quisesse atingir
sua nova meta. Ele já a acusara de querer permanecer casada... o que, naquele
momento, era a mais pura verdade. Apaixonara-se pelo marido de conveniência. Queria
continuar a viver com ele, e fazer amor todos os dias.
—Obrigada por ser direto comigo. Ambos queremos continuar amantes, mas, se
você não estiver se sentindo à vontade com isso, então não seremos. Irei atrás de meus
interesses, e você faz o que quiser dos seus.
Ela sabia que, se quisesse ter alguma esperança, era melhor fazer com que Jake
se sentisse o menos manipulado possível. Se a procurasse de novo, deveria ser por livre
e espontânea vontade.
Jake a encarou por um momento, tentando verificar se escutara direito. Parecia
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aliviado.
— Fico contente em ver que você entende. No fim, vai ficar feliz por retornar ao
acordo original.
— Espero que esteja certo.
Conversaram sobre outros assuntos. Decidiram quais mantimentos comprar, como
progredia a horta, se o entupimento da pia do banheiro não voltaria.
— Como vão indo suas corridas matinais? Já percorreu toda a ilha? — perguntou
ela.
— Não. Sempre corro dois quilômetros e depois volto.
— Eu também não conheço o percurso todo. Como começou a esquentar, eu
queria encontrar a prainha que há por aqui.
— A água ainda deve estar fria. Só melhora no verão.
— Tudo bem. Estou mais interessada em me bronzear. Já que temos uma praia
particular, poderei tomar sol nua. — Observou-o. — Posso levar o material do curso por
correspondência e estudar. Assim, não perderei tempo.
Ele assentiu. Manteve o olhar fixo no prato e murmurou:
— Boa ideia.
Cheri pensou em convidá-lo para ir junto, mas decidiu não tomar a iniciativa.
Esperava que ele já estivesse pensando nisso, e pudesse imaginá-la nua na areia...
No dia seguinte, Cheri acordou cedo e caminhou por toda a ilha. Descobriu que a
praia não era muito longe da casa. A trilha que levava até lá escondia-se por entre uma
fileira de árvores. Seguindo o estreito caminho, chegaria à praia em dez minutos.
No jantar daquela noite, avisou ao marido da descoberta e comunicou-lhe sobre a
intenção de tomar banho de sol no dia seguinte.
Do topo do morro, Jake observava o balão meteorológico que acabara de soltar. O
objeto subia, carregando uma caixa de sensores. Ele lançava aos céus dois balões por
dia, sem falhar. Pegou o binóculo e estudou a formação de nuvens acima das montanhas,
a oeste do horizonte.
Abaixou o binóculo e percorreu com os olhos parte da ilha. Não conseguia vê-la
toda. Localizara alguns morros no lado sudeste, mas não conseguira divisar a área
completa.
Com a chegada da primavera, ele podia avistar flores selvagens no prado acima do
morro. Um pouco além, enxergava a margem do lago Puget Sound e suas águas
cintilantes. Pensou ver algo se movimentando, e ergueu o binóculo para focalizar melhor.
Ao fazê-lo, pôde ver uma mancha entre as árvores. Parecia haver um movimento
na areia. Ao centrar mais o foco, viu Cheri, os cabelos longos esvoaçando enquanto
caminhava à beira da água, olhando para baixo, talvez procurando conchinhas.
As nádegas estavam descobertas, e Jake apreciou-lhes a beleza. Ao se virar, viu
os seios bonitos em contraste com a cintura delicada e fina. Notou que a esposa se
abaixava para pegar algo no chão, e que os cabelos cobriram os bicos dos seios antes de
a brisa os soprar.
Sentiu-se observando uma adorável ninfa, de inacreditável beleza... Abaixou o
binóculo, desejando não ter vislumbrado a esposa. Nem mesmo sabia que a praia ficava
naquele ponto. Esforçou-se para esquecer a cena que vira e começou a descer o morro.
Ao se aproximar da base, olhou para a fileira de árvores, situadas a uma pequena
distância da casa, e pela primeira vez notou uma trilha estreita. Na certa Cheri a
percorrera para chegar à praia.
Viu-se parado em frente à picada, embora sua intenção fosse voltar para casa. Não
podia ultrapassar o caminho atrás das árvores. Era proibido. Fora de seus limites. Se
fosse até lá, não teria força de vontade para retornar.
Mas a imagem de Cheri não saía de sua mente. Mais de uma semana se passara
desde o dia em que a levara para a cama. Era difícil esquecer os detalhes eróticos que
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compartilhara com a esposa. Vê-la nua na praia ia além daquilo que poderia suportar.
Começou a caminhar pela trilha em meio à mata. A cada passo, dizia a si mesmo
que estava cometendo um erro, que devia voltar, que tinha trabalho a fazer. Que havia um
projeto científico a ser elaborado e uma carreira a seguir. Mas não deu ouvidos à teimosa
voz da consciência.
A picada o conduziu a uma área cheia de sol. A praia ficava a pouca distância, no
interior de uma enseada. Ele parou na encruzilhada e perguntou-se onde Cheri poderia
estar.
De repente a viu deitada sobre uma toalha, o ventre liso voltado para cima. Lia o
livro de contabilidade. Não o vira. Ele poderia voltar sem ser notado. Mas, ao fitar-lhe os
quadris e as curvas atraentes, deixou a ideia de lado. Caminhou em direção à praia.
Jake estava a três metros quando Cheri ouviu o barulho dos sapatos pisando a
areia. Olhou para cima, surpresa, e derrubou o livro. Em seguida, instintivamente, cobriu-
se com a toalha.
— Jake! — Sorriu. — Que surpresa!
Ele retribuiu o sorriso, mas não soube o que dizer. Enfiou as mãos no bolso e fez
uma reverência.
— Você está passeando? — indagou Cheri.
— Não. Fui até o morro e a vi pelo binóculo — explicou, com o coração batendo
mais rápido. Observou-lhe os cabelos, que caíam sobre os ombros, as pernas bem
torneadas. — Você... é tão bonita...
Ela sorriu e desviou o olhar, tímida.
— Então veio me ver? Que bom. Eu esperava que viesse até aqui, para desfrutar
essa praia comigo. E um lugar delicioso.
Jake teve a impressão de que a esposa tinha certeza de sua ida até lá. Sim, ele
fora atraído pela isca. Mas, àquela altura, o corpo lhe pedia para ser saciado.
— Estou morrendo de vontade de fazer amor com você — admitiu com voz rouca.
Os olhos de Cheri brilharam. Soltou um suspiro.
— Eu também. — Retirou a toalha de cima dos seios.
— Sonhei em fazer amor com você aqui... — Deitou-se e olhou para o marido,
ansiosa por recebê-lo, estendendo-lhe os braços. — Oh, Jake... Venha...
Como se estivesse vivendo um sonho erótico, ele tirou a camisa, os óculos, puxou
o zíper das calças e atirou-se sobre Cheri. Beijou-lhe os lábios ardentemente,
acariciando-lhe os seios e acomodando-se por entre suas coxas. Colocou as mãos entre
elas, sentindo-a ansiosa. Cheri gemeu de prazer.
A suavidade com que envolvia o marido fazia com que ele vivesse um momento de
intensa emoção. Não havia possibilidade de se manter afastado dela. Não importava
quanto tivesse tentado. Suas prioridades que fossem para o inferno. Não se incomodava
mais com elas. A esposa fazia com que se sentisse vivo como nunca.
Levado pelo desejo, recuou e deu uma investida mais forte. Cheri arquejou e atirou
a cabeça para trás, gritando-lhe o nome. Contorceu-se, os seios pressionados contra o
peito largo. Jake acariciou-a e beijou-lhe o pescoço, enquanto movimentava-se dentro
dela.
— Estou machucando? — perguntou.
— Eu quero você... E como! E tão forte... tão viril... — falou ela, ofegante, enquanto
o apertava.
Seu corpo estremeceu violentamente. A reação fez com que ele sorrisse. No ápice
daquele momento, fora de si, Jake explodiu de prazer. Ficaram alguns minutos agarrados,
prolongando aquele doce instante.
Aos poucos, suavemente, soltaram-se. Jake deitou-se ao lado dela, mantendo-a
abraçada. Quando recuperou o fôlego, disse:
— Devo ter delirado, pensando que podíamos nos manter distantes.
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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter
Capítulo 9
Quatro meses depois, Jake sentia-se contente consigo mesmo e com o mundo.
Fazer amor com Cheri lhe dava uma satisfação indescritível, o trabalho científico estava
em dia e o estudo do microclima caminhava bem.
Algumas vezes, como naquele momento em que se deitara com a esposa na praia
e fizera amor, ficava ouvindo o barulho das ondas, observando as nuvens imensas, e
começava a pensar que tudo na Terra era perfeito.
Isso o assustava um pouco. Em menos de seis meses a temporada na ilha
terminaria. Quando refletia a respeito seriamente, sentia-se pouco à vontade,
transtornado. Seria capaz de ajustar-se a sua antiga vida em Wisconsin? Sozinho e
ensinando na universidade?
Claro que organizaria algumas expedições científicas, que poderiam dar mais
emoção à sua vida. Mas a rotina diária talvez pudesse tornar-se vazia.
Mas tinha metas a seguir. Não poderia deixar que o relacionamento com uma
mulher maravilhosa atrapalhasse seu caminho. Às vezes, em momentos mais eróticos,
quando não refletia com tanta clareza, pensava em pedir a Cheri para morar com ele em
Madison. Mas o bom senso lhe dizia que, mesmo sendo esse seu desejo, não funcionaria.
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Sabrina Noivas 83 — Um Casamento Milionário — Lori Herter
Ela mexera com um novo lado de sua personalidade, e que lhe era desconhecido.
Jake deixara o cabelo crescer. Podia andar seminu quando quisesse, porque a esposa
apreciava vê-lo à vontade. Faziam sexo quando e onde quisessem.
Muitas vezes, quando Cheri lhe levava sanduíche no almoço, amavam-se na
cadeira, em frente ao computador.
Não poderia voltar para Madison e comportar-se dessa maneira entre os colegas
acadêmicos. Havia perdido toda a disciplina. Provavelmente leriam em seu rosto, ou nas
atitudes, que se tornara um viciado. Poderiam até pensar em drogas, mas nunca
adivinhariam que o professor Derring estava hipnotizado por uma linda sereia que lhe
satisfazia todas as fantasias.
Não havia dúvida de que tudo aquilo deveria parar. No final do ano deixaria Cheri,
como haviam planejado, ou nunca teria de volta a vida antiga.
Sabia que enfrentaria um período de abstinência. Não previa quanto tempo duraria.
Não seria fácil afastar-se de Cheri. Pensava nela como uma companheira de verdade, o
que era um erro. Mas acontecera.
Haviam estabelecido um relacionamento intenso, um vínculo íntimo, sedutor. Ele
estava preso àquela mulher num nível muito mais profundo do que realmente pretendia.
Fitou a esposa. Era tão especial e bonita! Seria melhor que a deixasse logo, antes
de se envolver ainda mais. A ponto de não haver mais retorno.
Um sentimento de caos se apoderou dele. Desviou o olhar e fitou o azul do céu.
Esperava encontrar determinação suficiente para agir. Teria que ser duro consigo mesmo
se quisesse encontrar o caminho de volta para sua velha e verdadeira vida.
Cheri estudava o pequeno calendário na cozinha. Contava as semanas e sentia-se
um pouco tensa. Não prestara atenção às últimas menstruações. Percebeu que não
menstruava havia dois meses. Algumas vezes sentia enjoo pela manhã, notou os seios
um pouco inchados.
Pensou em contar a Jake a respeito, mas decidiu não fazê-lo. O marido andava um
pouco diferente, distante. Mas ainda faziam amor. Era melhor não comentar nada até ter
certeza. Telefonou para a farmácia em Anacortes e pediu uma embalagem de teste de
gravidez.
Naquela noite, quando sentaram-se à mesa da cozinha para jantar, ela perguntou:
— Jasper vem nos visitar na próxima semana?
— Até onde eu sei, virá. Melhor ligar para ele hoje à noite.
Jake continuou a comer, sem ao menos fitá-la. Cheri experimentou mais uma vez
aquela sensação de frieza e distância. O marido parecia alheio, preocupado com alguma
coisa.
Estranho. Poucas semanas atrás, ela até começara a sentir-se segura quanto ao
amor que compartilhavam. Os últimos meses tinham sido muito felizes. A tensão e as
indefinições do relacionamento haviam se dissipado. Dividiam as preocupações e os
sucessos. Cheri aprendera meteorologia e achara fascinante. Jake a ajudara nos
problemas de Matemática. Tudo funcionava como se estivessem mesmo casados.
E então, de repente, Jake começou a se comportar como se não tivesse nenhum
interesse nela. Com o passar dos dias, conversava cada vez menos. Também comia
menos.
— Você acredita que Jasper ainda tenha alguma esperança de nos ver casados?
Você o desencorajou, quando ele veio nos visitar no aniversário...
— Meu pai nunca desiste.
Ela umedeceu o lábio, tentando preparar-se para uma resposta que não gostaria
de ouvir.
— O que dirá a ele?
O marido a fitou com intensidade, como se quisesse entender melhor a pergunta.
— Direi que estamos mantendo nosso acordo.
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Jake caminhava do lado de fora da casa, fitando o céu. Esperava pelo hidroavião,
que levaria o pai à ilha.
O casamento tornara-se péssimo. Ele e Cheri mal conversavam. Esperava se
afastar gradualmente, com dignidade. Mas fizera acusações graves e tolas.
Não sabia como se desculpar. Temia que isso o levasse de volta aos braços de
Cheri. Decidiu manter distância, já que o relacionamento físico havia acabado.
Ela vinha agindo de maneira estranha. Chorava, ou ficava isolada. Passava horas
no quarto. Naquele dia teriam que colocar as cartas na mesa.
Em poucos minutos, avistou o avião. Foi até o píer. Ajudou o pai a descer da
aeronave e o conduziu à casa.
— Nunca mais cortou o cabelo, meu filho? — perguntou Jasper.
Jake baixou o olhar. A esposa gostava de cabelo comprido.
— Vou até Anacortes qualquer dia desses e resolvo isso.
Naquele momento, Cheri apareceu e apressou-se em cumprimentar o sogro.
Abraçou-o calorosamente e começou a chorar.
— Estou tão feliz em vê-lo... — falou, secando as lágrimas.
— Comeremos dentro de uma hora. Por que vocês não vão até a horta?
Assim que pai e filho sentaram-se num banco sob uma árvore frondosa, com suas
xícaras de chá, Jake resolveu abrir-se.
— Receio que as coisas tenham acabado, papai. E ruim, mas avisei que não daria
certo. E por isso que ela está transtornada.
— As coisas acabaram? Até que ponto?
— Até o fosso. Na verdade, não há nem mesmo diálogo.
— Isso é péssimo — observou Jasper, balançando a cabeça. — Vocês pareciam
se dar tão bem...
— Na verdade, não. Ela é jovem e tem um estilo de vida diferente do meu. E...
confusa. Viver junto a Cheri é muito difícil.
— Tem certeza de que viver com você é que não é fácil?
— Talvez. Não fui talhado para o casamento.
Jasper processou a informação e ficou curioso. Jake ignorou o pai e mudou de
assunto. Falou-lhe sobre o progresso nos estudos de meteorologia. Assim, evitava
comentar sobre o destino daquele casamento.
Jasper bocejava quando Cheri os chamou para jantar. Fizeram a refeição em
silêncio. Jake notou que o pai os olhava, como se estivesse medindo cada gesto. De
repente, elogiou Cheri pela comida.
— Esse carneiro assado está uma delícia. Saboroso e tenro. Como o preparou?
Ela parecia distraída. Mas tentou responder:
— Eu... marinei no vinho e coloquei temperos diferentes. Depois cozinhei durante
horas. É por isso que está tenro.
— É uma pena não poder usar esse método com Jake — disse o sogro, brincando.
Pela primeira vez naquele dia, Cheri sorriu.
— É uma pena. Mas talvez não funcione. Ele tem um couro duro.
Jake ficou em silêncio, cortando a carne. Não sabia ao certo a que ponto aquela
conversa chegaria. Nunca ouvira a esposa falar assim.
— Jasper... -— disse ela, colocando o garfo com gravidade sobre a mesa —, quero
lhe pedir um favor.
— Claro.
— Não consigo mais ficar aqui. Você já deve ter percebido que eu e Jake não...
ahn... nos damos bem. Não posso manter esse casamento por mais tempo. Sei que ainda
não passou um ano, mas prefiro perder o dinheiro que me ofereceu. Eu... eu... só quero
ficar fora disso.
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Jake começou a sentir o ar faltar. Ficou tonto, mas recuperou o fôlego, recostando-
se na cadeira. Nunca esperava que Cheri fosse agir com tanta franqueza. Seria alguma
nova estratégia?
— Você sabe que, se deixar a ilha agora, a universidade também não receberá a
verba — lembrou Jasper gentilmente.
Os olhos dela encheram-se de lágrimas.
— Mas fui eu que decidi sair deste casamento. Por que puni-lo?
Jake sentiu-se embaraçado ao ouvi-la argumentar a seu favor. Suas palavras eram
tão sinceras... Estava até assumindo a culpa! E ele a havia acusado de querer manter o
relacionamento pelo dinheiro...
Sentiu-se um monstro.
— A culpa é minha — falou. — Sou eu que não quero continuar casado.
Transformei a vida de Cheri em algo desagradável. Por que não guarda seu dinheiro,
papai, e deixa cada um seguir seu caminho? É a melhor solução.
Fitou a esposa e notou lágrimas correndo por seu rosto. Ela parecia triste. Por quê?
Será que no fundo sentia vontade de viver a seu lado?
A ideia de vê-la partir deixava-o inquieto. Ele também experimentaria uma perda.
Por que Cheri tinha tanta pressa?
Jasper deu um lenço à nora.
— Não chore. Não fique aflita. Não é bom para você. Vamos superar isso juntos.
Só tem que conservar sua força.
Ela pegou o lenço e enxugou as lágrimas.
— Não vamos superar. Já acabou.
— É só o que parece.
— Não. Acabou mesmo. Tenho que sair dessa ilha agora.
Jasper pareceu um pouco incomodado.
— Sinto muito. Não estava tentando fazer com que ficasse. Claro que pode ir
comigo esta noite. E espero que possa ser feliz um dia. Quero ajudá-la.
O jantar terminou. Cheri avisou ao sogro que sua bagagem estava pronta. Jasper
garantiu-lhe que a levaria no mesmo voo, ou faria uma reserva para os dois no próximo
avião.
— Posso levar minha gatinha?
— Claro que sim — Jasper respondeu. — Faremos uma reserva para ela.
Cheri sorriu, aliviada. Jake sentiu-se incrivelmente perdido e confuso.
— Então... o que quer que eu faça? — perguntou ao pai.
— Que fique aqui? Que volte para Madison?
— Isso é com você — Jasper respondeu friamente. — O que quer fazer?
— Terminar meus estudos na ilha.
Mais do que isso, ele sentiu que precisava de um tempo sozinho, para se
recompor, antes de retornar à vida na universidade.
— Então permaneça aqui até o final do ano. Já providenciei a maior parte do
dinheiro para subsidiar a pesquisa. Continuarei até o fim. Fui eu que lhe pedi para vir.
Então, devo-lhe isso. Está bem assim?
— Está.
— Ótimo. — Jasper olhou para o relógio. — O hidroavião estará de volta em meia
hora, Cheri. Melhor levar suas coisas para o píer. — Dirigiu um olhar de descrédito ao
filho. — Deixe a louça suja para Jake lavar.
Mais tarde, quando o avião chegou, Cheri virou-se para Jake e estendeu a mão.
— Adeus. Sinto muito que tenha acabado dessa forma. — Seu rosto tinha uma
expressão tensa.
— Eu também sinto. Gostaria que tivesse discutido o assunto comigo em vez de
partir bruscamente.
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— Você estava tão bravo... Nós mal conversávamos. Como eu poderia lhe falar?
Ele não tinha uma boa resposta para dar.
— Vai me telefonar de Chicago? Não me sinto bem em deixar as coisas como
estão.
Ela o encarou por um longo momento. O olhar transmitia dúvida.
— Talvez eu ligue.
— Quero saber onde está e aonde vai — falou enquanto a acompanhava até o
avião.
— Entro em contato com você — assegurou ela, engolindo em seco. — Adeus.
Pulse fechou a porta do hidroplano. Momentos depois, sobrevoava a água e
planava pelos ares. Logo transformou-se num ponto pequeno no horizonte e
desapareceu.
Jake caminhou para a casa vazia, sentindo-se desolado, chocado e... roubado.
Parecia-lhe que a vida tinha acabado.
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suas próprias metas. Tudo o mais, inclusive a beleza, a sinceridade de uma mulher que o
ama, acha irrelevante. — Jasper suspirou. — Se é assim que quer viver, não vou interferir
mais. Tenho até que admirar sua resolução. Você se parece comigo. Tenho certeza de
que fará uma carreira brilhante. Mas, no final da vida, o que vai ganhar?
— Só vou me casar e ter filhos aos cinquenta anos — Jake argumentou, ignorando
o modo como o pai descrevia seu futuro.
— Até lá, Cheri estará casada com outro homem.
A previsão do pai provocou-lhe um arrepio. Foi como se tivessem lhe atirado um
balde de água fria. Os homens venderiam suas almas para se casar com ela.
— Espera que haja outra mulher esperando por você nos próximos vinte anos? —
Jasper indagou. — Será que alguém vai querer se casar com um homem de meia-idade,
viciado em trabalho? Por dinheiro ou por amor?
— Nunca serei rico. Não permaneci casado o tempo necessário para preencher os
requisitos da cláusula do testamento.
Houve um momento de silêncio.
— Bem lembrado. Chamarei meu advogado e eliminarei a cláusula. Bea nunca a
aprovou. Você vai herdar sua parte. Será sempre um milionário. E, quando estiver com
cinquenta anos, espero que se lembre bem da esposa que deixou escapar. Que gosta de
você do jeito como é. Devo dizer que tentei convencê-la a receber o dinheiro, mas Cheri
se recusa a isso. Paguei o aluguel do apartamento dela só depois de prometer-lhe que
aceitaria de volta cada centavo. Ela tem integridade. Não é fácil encontrar uma pessoa
assim. E, em duas décadas, ficará mais difícil ainda.
Jake sentia-se entorpecido. Calou-se.
— Ainda está na linha? — perguntou Jasper, sem receber resposta.
— Estou. É só um pouco de dor de cabeça.
— Bom sinal. Espero que seja um indício de que começou a pensar.
Jasper desligou o telefone sentindo-se frustrado. A teimosia de Cheri em continuar
sua vida sozinha o deixava preocupado. A seu ver, Jake também não desgrudaria do
trabalho científico.
E havia ainda outro assunto para resolver. Precisaria da ajuda de Bea. Mas sabia
que a esposa ficaria aborrecida com ele.
Caminhou em direção à cozinha, onde ela se encontrava, ocupada em colocar os
ingredientes na máquina de fazer pão.
— Conversei com Jake.
— Como vai ele?
— Solitário. — Sentou-se no banquinho perto do balcão e abriu um sorriso. —
Disse-lhe que tirarei aquela cláusula do testamento.
Bea olhou para o marido.
— Finalmente! Pena que tenha chegado a essa conclusão depois de ter estragado
as vidas de Cheri e de Jake. Espero que tenha aprendido a não interferir mais no destino
alheio.
— Você está certa, como sempre.
Ela o encarou, desconfiada.
— Não seja tão prestimoso. Por trás de um agrado sempre há alguma coisa. O que
está querendo?
— Eu? Nada. Já aprendi a lição. Trata-se de Cheri. Acredito haver alguma coisa
importante por trás dessa partida súbita. Pode ser uma boa notícia...
Bea inclinou-se sobre o balcão, esquecendo-se da massa.
— Continue! — falou, animada.
Jasper fez suspense, certo de que iria revelar algo que só ele supunha saber.
— Suspeito que Cheri esteja grávida.
Bea arregalou os olhos e endireitou-se.
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— Quando você a trouxe aqui, na vinda do aeroporto, achei-a mais magra, não
grávida.
— Ainda é cedo para saber. Talvez daqui a um ou dois meses...
— Ela já foi ao médico?
— Duvido.
— Como sabe que está grávida? Cheri falou alguma coisa?
Jasper coçou o queixo. Essa era .a parte que talvez Bea não gostasse de ouvir.
— Não. Em meus arranjos para os estudos científicos na ilha, concordei em pagar
todas as despesas deles lá, incluindo as compras do supermercado e... da farmácia.
— E...? — indagou Bea, como se já soubesse o que viria a seguir.
— Então pedi que as lojas me enviassem as listas de compras dos dois.
— Verdade, querido? Está me dizendo que bancou o espião?
— Sim, querida. Seja o que for, eu... bem, alguns meses atrás vi pedidos de
preservativos na lista. Então supus que eles tivessem começado... ah, você sabe.
— Imagino. E então?
— E então... cerca de uma semana atrás, havia um pedido de um teste de
gravidez. E logo depois disso, coincidentemente, eu os visitei. Cheri quis vir para Chicago.
Suspeito que esteja grávida e que não queira contar para Jake. Acha que ele não a ama e
está tentando enfrentar a situação sozinha. Dessa forma, Bea, espero que converse com
ela. Sabe como é, as mulheres se entendem. Eu não me sentiria no direito de...
— Não se sentiria no direito? Você os obrigou a esse casamento, esperando que
lhe dessem netos, e, agora que a pobre garota pode estar grávida, quer que eu ajude a
arrumar a confusão?
— Sei que a culpa é minha. Eu devia ter lhe dado ouvidos.
— Tarde demais, querido.
— Fico preocupado com Jake.
— Nosso filho saberá das notícias no tempo certo. Espero que consiga organizar-
se para assumir a paternidade.
Bea bateu com a colher de madeira no balcão.
— Jasper, Jasper! O que vou fazer com você? Coloca nosso filho em julgamento!
— Prefiro a palavra desafio, Bea. Eu os desafio a ver a vida de maneira diferente.
— Manobrando a situação e colocando uma jovem no caminho dele!
— E deixando a natureza tomar seu curso — Jasper falou, convicto. — E suspeito
que a natureza já deu conta do recado. Só espero que os dois fiquem juntos de novo.
— Eu também — Bea observou, balançando a cabeça, um tanto preocupada. —
Eu também.
Capítulo 10
Cheri sentou-se com Bea e Jasper na linda sala da mansão. Nunca estivera numa
casa como aquela e sentiu-se intimidada. Preferia ter ficado em seu apartamento, por ser
sua noite de folga do trabalho. Mas acabara aceitando o convite para jantar.
Jasper levantou-se, disse que tinha uma ligação para fazer e piscou para a esposa
ao sair da sala. Bea suspirou e sentou-se mais perto de Cheri, no sofá.
— É um tanto embaraçoso, mas eu gostaria de conversar com você sobre um
assunto.
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esperado mais um pouco e me dar uma chance! O que há de errado com essa mulher? —
gritou.
Assustado, Dude correu para a sala.
Dois dias depois, Cheri estava sentada atrás da caixa registradora da Tucci’s. Era
uma nova função. O gerente, ciente da gravidez, que já se tornava visível, começou a
tratá-la com mais cuidado.
A preocupação de Sam a surpreendeu. Ele sempre agira de maneira rude. Mas, ao
saber de sua ligação com a família Derring, decidira respeitá-la.
Eram quatro horas da tarde e ela acabara de abrir o caixa, dando início ao turno da
noite. O restaurante ainda se encontrava vazio. Ia começar a contar as cédulas quando
alguém surgiu à sua frente.
— Como estava seu jantar? — perguntou automaticamente, sem levantar o olhar.
— Não como uma refeição decente há semanas.
A voz era familiar.
— Jake!
Seus olhares se encontraram. Os corações aceleraram-se.
— Como vai?
Os olhos castanhos a encaravam de uma forma acusadora. Cheri sentiu a tensão.
Jake tremia.
— O que está fazendo em Chicago?
— Vim vê-la. Você nem mesmo tentou se comunicar comigo. Então resolvi vir até
aqui.
— Por quê?
— Por quê? Porque você simplesmente... desapareceu! Sem explicação, sem
adeus. E agora pede o divórcio!
— Não era isso que você queria?
— Não necessariamente.
— Mas sempre disse que não queria permanecer casado.
— Bem, você poderia ter me perguntado antes de sair correndo! — exclamou Jake,
desapontado.
Sam se aproximou.
— Alguma coisa errada por aqui? — perguntou, encarando o outro.
Cheri colocou as cédulas no caixa.
— Este é meu ex-marido...
— Ainda não! — Jake corrigiu.
— Este é Jake Derring.
Sam mudou instantaneamente ao ouvir o sobrenome.
— Por que não se sentam? Vou ver se há alguém que possa ficar no caixa.
Cheri aborreceu-se com a atitude do gerente, mas não protestou. Levantou-se e
caminhou até o balcão.
Jake percorreu com o olhar a roupa longa, em cuja blusa estavam bordadas as
letras do alfabeto, em rosa e azul.
— Decidiu mudar de estilo?
Cheri ignorou o comentário e conduziu-o a uma mesa de canto.
— Por que veio me ver? Por que está aqui?
Ele passou as mãos desajeitadamente pelos cabelos pretos, ainda compridos e
despenteados.
— Queria conversar e pedir-lhe que reconsiderasse a decisão do divórcio.
— Está me dizendo que quer permanecer casado?
— Sim. Acho que devemos nos dar uma outra chance.
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alegria e a riqueza de viver. Você é minha vida. — Com a voz rouca de emoção, ele olhou
ao redor. — Podemos sair daqui?
Cheri piscou e sorriu.
— Claro. Acho que vou voltar para a ilha com você. Abandonarei meu trabalho de
novo.
— Abandone! Podemos ir ao seu apartamento?
— Claro.
— Vamos! Quero fazer amor com você, ajudá-la a empacotar as coisas e pegar o
primeiro avião para Seattle.
— Parece perfeito! Amo-o tanto...
— Eu também a amo. Não a perderia sem lutar. Não quero perdê-la jamais. —
Ergueu-se e a abraçou. — Vamos logo. Nossa ilha nos espera!
Jasper abriu a janela do Mercedes-Benz ao estacionar em frente à pizzaria.
— Não acredito!
— O que foi, querido? — perguntou Bea, tirando a fivela do cinto de segurança.
— Olhe lá! — exclamou Jasper, indicando o casal.
— Parecem Cheri... e Jake! Quase não o reconheci. O cabelo está muito comprido.
— Funcionou! — Jasper falou, maravilhado. — Na verdade, funcionou!
— O que funcionou?
— Meu plano. Ele voltou para Cheri. Estão saindo do restaurante de mãos dadas.
Provavelmente vão para o apartamento.
Bea sorriu.
— Espero que sim. Acho melhor não incomodá-los agora. Talvez mais tarde
passemos por lá, para vê-los.
— Eu consegui, consegui, consegui! — Jasper cantarolou, todo alegre. — Estou
ficando bom nisso!
Bea apoiou o cotovelo na abertura da janela.
— Nosso filho voltou por vontade própria. Ambos se esforçaram sozinhos. Como
acha que pode ter algum crédito nisso?
— Mas foi a energia que apliquei no bordado da almofada, Bea! Uma vez que
coloco a ideia em prática, o universo conspira a meu favor. Parece que prendi bem os
pontos! Dois filhos se casaram. Temos uma neta, e outra está a caminho. Como sou bom
nisso!
Bea fitou o marido e respirou fundo.
— Querido, antes que comece a pensar na próxima vítima, vamos comer. Preciso
manter minha força, se tiver que acompanhá-lo.
— Sou um cupido e tanto!
— Um verdadeiro casamenteiro. Agora, vamos. A pizza nos espera.
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