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Marriage Vows
Rosalie Ash
Eles não imaginavam que o casamento era o passo mais importante na vida de
duas pessoas!
CAPÍTULO I
voz mais suave: — Não há com que se preocupar. Será apenas uma conversa amigável.
Aquelas palavras a tiraram da paralisia provocada pelo medo. Ela resolveu agir:
— Não me trate como criança. Amadureci bastante desde que nós... nos
separamos.
— Talvez você tenha mesmo amadurecido — ele falou, com uma expressão
pensativa. — Mas talvez não.
Os olhos de Matt tinham novamente um brilho enigmático, mas em algum lugar, em
meio às profundezas azuis, havia uma certa emoção. Isso fez o coração de Becky
acelerar mais uma vez.
Era isso que ela temia. Era por isso que escrevera aquela carta. Para não ter mais
que adiar a decisão. Sabia que aquele homem era capaz de tocar o íntimo de seu ser, e
esse sempre fora o maior problema.
Num silêncio apreensivo, seguiu-o lentamente pelo chão de pedras. Contemplou o
céu, àquela altura inteiro em tons de violeta e púrpura, e teve de se concentrar para não
cair.
— Você está bem? — A voz fria e profunda de Matt denunciou uma ponta de
preocupação.
— Ótima, obrigada. E só um vírus que contraí.
Esse, aliás, era o único motivo que a fazia permanecer na Grécia. Do contrário,
estaria do outro lado do mundo, num lugar onde nem o poderoso Matt Hawke poderia
encontrá-la.
— Um vírus? Há quanto tempo?
Haviam chegado à orla, onde os cafés se estendiam, lado a lado. Era até difícil
visualizar onde começava um e terminava outro, tal o movimento de turistas.
— Até parece que você está preocupado... — A resposta foi calma, mas em tom de
desafio.
Pararam num café com mesas baixas de vidro, cercadas por cadeiras rústicas. Uma
belíssima fonte decorativa refrescava o ambiente. Escolheram um local perto da fonte e
sentaram-se frente a frente.
— Estou começando a ficar confuso. Você me abandonou há dois anos e desde
então evitou todos os contatos. Como pode saber se estou preocupado ou não?
Ela o encarou por um longo momento, antes de desviar o olhar.
— Não quero falar nisso. Eu sabia que seria assim. A maneira como você se
defende, a maneira como manipula tudo, tratando nosso relacionamento como mais um
de seus negócios...
— Becky...
— Não, não é verdade — ela continuou, incapaz de esconder a amargura. — Seus
negócios sempre foram muito mais importantes.
Um jovem garçom aproximou-se, lançando um discreto olhar de admiração para o
corpo bronzeado de Rebecca.
— Querem fazer o pedido agora?
— Uma garrafa de água mineral e dois ouzo, por favor — Matt respondeu, sem,
consultá-la.
— Arrogante como sempre? — comentou ela quando o jovem grego se afastou da
mesa.
— Naturalmente.
Um sorriso se abriu no rosto de Matt. As linhas nos cantos dos olhos haviam se
aprofundado desde a última vez que Becky o vira, acentuando o ar de prepotência e
dando-lhe até um certo cinismo. Sem querer, ela começou a lembrar aquela boca sensual
sobre a sua, a paixão e a força daquele homem, que a deixava sem defesas e aguçava
todos os seus sentidos...
— Não me acuse de ter evitado contatos. Você sabia onde me encontrar.
CAPÍTULO II
— Divórcio? — O rosto de Matt ganhou a expressão tensa que Becky conhecia tão
bem. O olhar cínico a impedia de captar os sentimentos escondidos por trás da máscara
impenetrável. — E isso que quer? Divórcio?
— Que acha? Não vejo nenhum motivo para permanecer amarrada legalmente a
você por mais tempo. E presumo que é exatamente esse o motivo que o trouxe a
Skopelus. Não recebeu minha carta?
Ele balançou lentamente a cabeça, num gesto negativo.
— Não, não recebi. Mas, se quer o divórcio, você o terá, minha querida. — Havia
uma toque divertido naquela voz.
Becky sentiu o sangue correr mais rápido nas veias. Por que estava reagindo
daquela maneira? Esperava que ele contra-argumentasse, discutisse? Seria mesmo uma
tola se achasse que Matt encararia o assunto de outra maneira.
— Obrigada — ela conseguiu dizer friamente.— E não se preocupe. Já que não há...
nenhuma criança envolvida, não vou precisar de um tostão de seu precioso dinheiro.
Tudo o que quero é minha liberdade.
— Você... conheceu outra pessoa?
— Não é de sua conta.
— Tenho certeza de que não permaneceu sozinha durante esses dois anos,
querida.
— Não queira me rebaixar a seu nível.
Matt teve uma reação imediata e segurou-a pelos ombros. Ela tentou se defender,
mas, antes que pudesse fazer isso, foi abraçada com violência.
— Meu nível? E você? Sempre foi a Miss Perfeição? E quanto a Ted Whiteman?
Becky ficou perplexa. Ted era o diretor da agência de modelos onde trabalhava, e
nada houvera entre eles além da relação profissional. Qualquer outra ideia era absurda.
— Ora, sua arrogância é simplesmente...
Matt impediu que Becky terminasse a sentença.
Seus lábios cobriram os dela, firmes e quentes, fazendo-a reagir no mesmo instante.
Quanto mais tentava se libertar, mais Matt aprofundava o beijo; rompendo-lhe as defesas.
Ela tremia da cabeça aos pés. De raiva. E de desejo.
Num gesto possessivo, ele pressionou-lhe o corpo, devorando a boca macia,
explicitando que queria mais e mais. Seus dedos acariciavam-lhe as costas, e, quando os
seios roçaram o peito musculoso, provocaram reações inesperadas. Becky ficou em
chamas. Fazia tanto tempo que não se sentia assim, com o coração pulsando forte, a
cabeça girando...
Com um gesto violento, ela conseguiu se soltar. Ofegante, encarou o homem a sua
frente. Mas ele a agarrou outra vez, acariciando seus braços, hipnotizando-a com o azul
Tinha apenas dezenove anos quando conheceu Matt. O verão mal começara e ela
estava naquela mesma casa, naquele mesmo quarto, em férias, depois de viajar pelas
Ilhas Gregas para uma série de fotos. Mas sentia-se muito diferente naquela época.
Sentia-se feliz com seu trabalho e com sua vida de estudante de psicologia na
Universidade de Londres.
Lembrou-se da maneira vertiginosa como as coisas aconteceram em sua vida. Um
dia, trabalhava como garçonete num pequeno restaurante na cidade de Camden. E no dia
seguinte era procurada por uma estilista da famosa agência Ted Whiteman. Saiu da
obscuridade para o sucesso, para o mundo das revistas, da moda, da beleza. E logo
tratou de fazer cursos especializados, que a tornaram uma profissional do mais alto nível.
Naquele verão, Matt Hawke tinha acabado de fechar um contrato com uma empresa
de navegação de Atenas. E fora convidado para se juntar a dois outros diretores da
empresa num cruzeiro pelas ilhas.
Ele levara os diretores ao Velho Moinho. Becky estava lá, ocupada em servir as
mesas. Quando se aproximou para retirar os pratos de sopa, houve o acidente fatal:
derramou tudo no colo de Matt.
— Ainda bem que estava fria — ele brincara, afastando a cadeira com um sorriso. —
É melhor deixar que eu limpe isso, não acha?
Ela já estava com o guardanapo na mão, mas entendeu o comentário quando
percebeu a localização da sopa na calça. Encarou-o pela primeira vez.
— Sinto muitíssimo — conseguiu dizer, hipnotizada pelo olhar daquele homem
incrivelmente atraente.
O sorriso de Matt se abriu, e ele estendeu uma das mãos.
— Sou Matt Hawke. E você deve ser a irmã mais nova de Sofie, Becky. Não se
lembra de mim?
— Matt Hawke? O padrinho de Richard?
O rapaz vestido de maneira esportiva, com jeans e uma camisa informal, não se
parecia em nada com o homem sofisticado que ela conhecera há sete anos, no
casamento da irmã.
Lembrou-se daquela tarde chuvosa de junho, do champanhe, dos convidados bem-
vestidos e da sensação de desconforto causada por seu vestido cor-de-pêssego. Tinha
apenas doze anos; seus seios apenas despontavam. Sentia-se tão pequena e
insignificante diante daquelas mulheres maravilhosas...
— Sim, o padrinho de Richard. Você era uma das damas de honra. Lembra-se?
— Claro. Bem, sete anos é muito tempo. Você tem uma memória boa. Parabéns.
— Vi uma foto sua no jornal de domingo, há algumas semanas.
— Viu?
— Usava um sutiã. Mas tenho certeza de que não precisava dele — comentou Matt,
com um bom humor que a fez cair na gargalhada, apesar de levemente ruborizada com o
comentário.
— Com certeza sou melhor como modelo do que como garçonete.
— Não há a menor sombra de dúvida quanto a isso.
Matt prendia sua atenção, parecia levá-la a um universo invisível, onde só existiam
os dois. Seu coração acelerou, e as mãos começaram a suar, quando os olhos azuis, de
brilho arrogante, examinaram com curiosidade seu corpo esguio.
Depois desse encontro, Matt decidiu ficar mais alguns dias em Skopelus. Hospedou-
se num hotel luxuoso em frente à baía, alugou um jipe e procurou a companhia de Becky
com insistência.
Durante três dias, os dois passearam, fizeram piqueniques sob as árvores, nadaram
nas águas límpidas e percorreram todos os lugares interessantes da região, incluindo
noitadas em boates e bares, regadas a vinho branco e ouzo.
Sofie contou a Becky sobre a carreira meteórica de Matt e sobre as fofocas em
relação a sua vida amorosa. Avisou-a para não levá-lo a sério. Ele tinha somente vinte e
oito anos, mas já trabalhara num banco de investimentos em Nova York e fora diretor
financeiro de um grupo internacional poderoso. Sua reputação com as mulheres não era
das melhores. Dizia-se que conquistava e abandonava todas as que cruzassem seu
caminho.
Mas depois daqueles três dias, falando sobre todos os assuntos, da vida
universitária à ópera, de barcos e iates a rock, do curso de psicologia de Becky à sede de
poder e riqueza de Matt, ela percebeu que desejava muito que aquele homem a tocasse,
beijasse, demonstrasse fisicamente o que seus olhos pareciam dizer a cada segundo.
A timidez e a inexperiência, deixavam-na tensa sempre que a mão de Matt roçava
seu braço. E por dentro Becky se via envolvida num turbilhão de emoções.
Na quarta noite, ele estacionou o carro em frente à casa de Sofie e, em vez de
despedir-se, virou-se para analisá-la. Contemplou-a por um longo momento antes de,
lentamente, acariciá-la no ombro.
Ela sentiu-se incapaz de respirar. Permaneceu imóvel enquanto Matt acarinhava seu
braço e os contornos dos ombros, o pescoço, o queixo delicado, a orelha. Em seguida ele
fez com que a mão forte deslizasse para os seios, roçando-os delicadamente, e segurou-
lhe as mãos, examinando-as com olhos brilhantes, unindo os dedos, pressionando as
palmas nas dele com uma intimidade inacreditável.
— Boa noite, Becky. — A voz profunda soou mais rouca do que o normal.
— Não vá ainda — ela conseguiu murmurar.
E, numa fração de segundos, viu-se envolvida pelos braços firmes.
— Você é tão jovem... — ele sussurrou, acariciando-lhe o rosto suave. — Sofie vai
querer me estrangular.
— Minha irmã não tem nada com isso — ela respondeu antes que seus lábios se
unissem e que as mãos masculinas se movessem por seu corpo, famintas, deixando-a
ardendo de desejo.
— E, de qualquer maneira... desde quando um beijo é crime?
— O problema é que este beijo levará a algo que quero fazer com você neste
minuto. — A voz era desejo puro, incontrolável.
— Não sou tão jovem assim — ela argumentou, encarando-o, revelando tudo o que
Matt precisava saber sobre sua falta de experiência, sua vulnerabilidade.
— Não, você não é.
Mas ele parecia preocupado. E de repente se despediu, acompanhando-a até a
casa. Na manhã seguinte, Sofie lhe contou que ele havia partido.
Becky sentiu-se só e desamparada. Sequer conseguiu desfrutar o resto das férias,
apesar do céu azul e dos dias ensolarados. E a vida permaneceu assim até Matt
reaparecer, em Hampstead, oito semanas depois, levemente embriagado, anunciando
que não conseguia ficar longe dela.
Agora, deitada no pequeno quarto da casa de Sofie, em meio à escuridão da noite,
Becky tremia, apesar do calor. Nunca esqueceria aquela noite. Deprimida, tapou o rosto
com o travesseiro, tentando apagar as lembranças. De nada adiantou. Então sentou-se e
acendeu a luz, insone. Pulou da cama e colocou uma camiseta branca com um short
preto. Penteou o cabelo e prendeu-o num rabo-de-cavalo. Antes de sair do quarto,
colocou na tomada o repelente e contemplou os mosquitos que voavam livremente.
— Sumam daqui! — falou com ênfase antes de abandonar o calor do aposento e
sair para o frescor da noite. Fechou sorrateiramente a porta, para que Sofie e Richard não
a repreendessem.
As primeiras horas da madrugada pareciam magicamente calmas, apesar das
sombras nas ruas estreitas repletas de construções antigas. Rebecca caminhou pelo cais
lentamente, passando pelos cafés fechados. Uma brisa refrescante vinha do mar.
Será que o veleiro luxuoso de Matt estava ancorado lá? Ela percorreu com os olhos
CAPÍTULO III
— Não sei o que deu errado em nosso casamento — Matt começou a falar enquanto
a acomodava numa das cabines do luxuoso veleiro —, mas nossa separação não lhe
parece ter feito muito bem.
— Não seja tão condescendente.
— Você está pálida — ele continuou, sentando-se à sua frente e examinando-lhe o
rosto.
— Obrigada pelo elogio — Becky conseguiu dizer.
Estava furiosa, mas a verdade era que se sentia frágil, pouco atraente. Correndo
daquela maneira, ficara sem forças.
deitada de costas, ainda um pouco sonolenta, tentava descobrir onde estava. Afinal,
aquele curioso sonho havia terminado, e um novo dia começava.
A lembrança da noite anterior voltou de repente. Ela dormira no veleiro de Matt. E
agora o sol batia no vidro fume, enquanto a embarcação balançava suavemente. Será
que estavam navegando?
Becky se lançou para fora da cama e tirou o elástico que prendia o rabo-de-cavalo.
Foi até o minúsculo banheiro e lavou o rosto. Depois, ainda meio tonta, abriu a porta da
cabine.
Através da sala com mesas de madeira e um sofá azul-marinho, pôde ver a escada
que levava ao timão. Lá estava Matt, tranquilo, controlando os movimentos do barco. Com
tênis e camiseta branca, o vento batendo no cabelo preto, ele parecia relaxado,
despreocupado.
Como se atrevia? Quase cega de raiva, Rebecca atravessou a cabine e subiu os
degraus que levavam ao passadiço, pronta para enfrentá-lo. Mas, quando a viu, Matt
simplesmente continuou seus movimentos suaves ao comando do veleiro, o que a deixou
mais furiosa ainda.
— Que está fazendo? — ela conseguiu perguntar, controlando-se ao máximo para
não gritar.
— Velejando.
— Já percebi. — Becky saiu para o passadiço.
O veleiro já ganhara o em mar aberto.
— Talvez tenha se esquecido de que eu estava a bordo.
— Não esqueci.
O rosto de Matt era uma máscara indecifrável. Mas havia algo naquela expressão
que Becky era capaz de reconhecer. Algo suave, penetrante e envolvente.
— Então quer fazer o favor de dar meia-volta e me levar para Skopelus?
— Não. — Ele balançou a cabeça, com um sorriso.
— Matt, isso não tem graça!
— Não é uma piada.
— Para onde estamos indo?
— Fiquei com vontade de dar uma volta pelas ilhas.
— E quanto a mim? Não estou com vontade de dar uma volta pelas ilhas, se está
interessado em minha opinião.
— Fique quieta e tome seu café da manhã.
— Não vou ficar quieta! E tome você o café da manhã! Se esse barco não voltar
agora mesmo, eu...
— Você o quê? — Ele abriu o sorriso, arrogante, deixando-a à beira do desespero.
— Eu voltarei sozinha! — ela disparou, antes de descer para a cabine com pernas
trêmulas.
Ainda tremia quando tirou as roupas e entrou no chuveiro. Pegou o xampu e aspirou
o aroma fresco, misto de limão e ervas, um perfume que lembrava as montanhas gregas
banhadas de sol.
Apressou-se em se ensaboar e lavar o cabelo. Apesar da raiva, sentiu-se bem ao
envolver-se nas toalhas brancas. Enxugou-se e, ao escovar os dentes, percebeu que
tinha sido sequestrada. Sim, era isso. E sequestro era crime, não era? Será que Matt
poderia ir para a cadeia por isso? A ideia de vê-lo arrastado para a prisão a deixou um
pouco consolada. Mas sabia que ele se livraria em poucos segundos, pois era amigo de
todas as pessoas importantes da região.
Vestiu-se e se preparou para sair da cabine. Então percebeu que o ritmo do veleiro
mudara. A aceleração do motor havia cessado. Na verdade, estavam quase parados.
Será que Matt se preparava para voltar?
Com toda a dignidade que foi capaz, saiu para investigar o que estava acontecendo.
No passadiço, evitando friamente o olhar de Matt, reparou que ele havia jogado a âncora.
Estavam em frente a uma praia deserta, uma pequena ilha rochosa a poucos metros
de distância. A única vegetação existente eram algumas oliveiras selvagens. O vento
soprava na direção de Becky, que admirava a água azul, cristalina.
— Um bom local para o café da manhã — Matt explicou calmamente, com uma
frigideira nas mãos. — Você não parece bem o suficiente para cozinhar. Então deixe isso
comigo. Está com fome? Eu me sinto faminto!
—Não tenho vontade de comer. Ouça, isso já foi longe demais. Leve-me de volta.
Agora!
Ele a encarou. O brilho nos olhos era bem-humorado, mas determinado.
— De forma alguma. Encare isso como uma terapia de choque. Você não voltará à
civilização até engordar um pouco e ficar corada.
— Está maluco? Não pode me sequestrar, me obrigar a comer...
Naquele momento ela quase riu da situação absurda. Matt Hawke preocupado com
sua saúde e bem-estar? Colocando-se como responsável por sua recuperação? Devia
estar sonhando. Ou tendo um pesadelo!
— A alimentação forçada pode ser um problema — ele admitiu, com uma voz
divertida. — Mas o sequestro foi fácil. Aceite esse fato, querida.
— Prefiro morrer! Espere até eu contar a meus advogados...
— Divórcio é um negócio cansativo — Matt salientou, colocando quatro tiras de
bacon numa frigideira. O aroma invadiu o ar e só então Becky se deu conta de que estava
faminta.
— De que está falando?
— Você precisa estar bem-disposta para enfrentá-lo. E no momento não está em
condições nem de cozinhar um ovo.
Ela se sentou num degrau e olhou para o mar. Matt Hawke, seu marido, o homem
de quem fugira, a havia sequestrado e recusava-se a levá-la de volta à civilização.
— Espere um pouco! Você não disse que tinha que ir a Atenas, tratar de negócios?
— Adiei o compromisso. Um ou dois ovos?
Becky tapou o rosto com as mãos e fechou os olhos. Será que aquilo estava mesmo
acontecendo?
— Nenhum — ela respondeu. Mas, quando ergueu a cabeça, viu que Matt quebrara
quatro ovos na frigideira.
— Sofie vai ficar preocupada.
— Já cuidei disso. Mandei uma mensagem pelo rádio. O capitão do porto vai
telefonar a ela.
— Quanta eficiência! E então, quanto tempo está planejando bancar este jogo?
— Quanto tempo for necessário. Chá ou café?
— Sempre tomo chá pela manhã. Mas não espero que você se lembre disso.
— Leite? Açúcar? — Ele a provocava de propósito, e Becky não conseguia evitar a
indignação.
— Ainda tomo chá com leite. E sem açúcar.
Ele apagou o fogo e colocou dois ovos em cada prato.
— Se você desaparece e fica fora durante dois anos, não pode esperar que eu me
lembre de como toma seu chá.
— O passado já se foi. Não há motivo para falar sobre o que já acabou.
— Talvez você tenha razão. Venha tomar seu café da manhã.
Ela pensou em recusar, mas a fome venceu o orgulho. Não estava apenas faminta
quando caminhou lentamente na direção da mesa. Sentia-se como se não comesse nada
há semanas. Sentou-se em frente a Matt e começou a saborear sua primeira refeição com
o marido depois de dois anos.
— Conte-me o que tem feito — ele pediu enquanto saboreavam os ovos com bacon.
— Magra demais, mas maravilhosa. Ainda é o corpo mais desejável que já conheci.
Matt também tremia. Mas com certeza suas emoções estavam sob controle, porque
ele estava no comando da situação e sabia muito bem disso.
O ressentimento e o orgulho ferido não impediram que Becky ficasse ainda mais
excitada quando ele a fez deitar no chão. Tudo em que ela conseguia pensar era no
perfume daquele homem, nas sensações que seu corpo másculo provocava, no peso e
na força de seus quadris.
Matt Hawke era incrivelmente atraente. A maneira decisiva e direta com que lidava
com os negócios era comparável a seu estilo de fazer amor. Agarrou-a com decisão
enquanto abria a boca para receber os seios, primeiro explorando um, depois outro,
excitando-a até vê-la gritar, implorar, pedir mais, cada vez mais.
Mas havia um brilho de raiva nos olhos azuis. Ou seria de vingança? Envolvida
demais nas ondas de prazer, ela não se preocupou com isso.
Matt apressou-se em tirar-lhe o short. A pequena peça desceu com facilidade,
expondo o ventre sedoso, o umbigo bem-desenhado, o início dos pelos encaracolados.
— Oh, Becky... Passei os dois últimos anos querendo senti-la em meus braços.
Exatamente assim...
Aquele tom suave e perigoso aguçou os sentidos dela. Vendo-o preparar-se para o
golpe final, Rebecca sentiu o autocontrole voltar, para salvá-la. Tinha conseguido ficar
longe daquele homem durante dois anos, e não ia deixá-lo tomar conta da situação
daquela maneira.
Num segundo começou a reagir, a proteger-se ferozmente. Apesar de tomada pelo
desejo, afastou-o com violência.
— Pare com isso!
— Parar? E isso mesmo que quer?
— Sim!
— Tudo bem. — Lentamente, com os olhos fechados, ele se afastou. Becky não
tinha certeza se estava aliviada ou chocada quando se sentiu livre. — Se quer mesmo
que eu pare...
— Sim, eu quero — ela confirmou, com lágrimas nos olhos.
Mas por que estava chorando? As lágrimas quentes brotaram antes que ela pudesse
controlá-las.
— Antes que eu pare...
Ele deslizou a mão com intimidade até tocar o sexo de Becky, por dentro da calcinha
de renda branca. Ela sentiu o coração acelerar quando aqueles dedos penetraram a
suave feminilidade, tocando cada ponto com movimentos sensuais indescritíveis.
— Seu monstro! — ela gritou, tentando se proteger do olhar devastador.
— Você ainda é minha esposa, lembra? — Havia um toque de cinismo na voz rouca
de desejo. — E para ser honesto, Sra. Hawke, sei que não quer que eu pare.
— Você não tem um pingo de decência! Usa as pessoas como bem entende! Não
pode querer ganhar tudo, a qualquer preço! Bem, essa batalha você perderá. Se pensa
que eu me deixarei levar outra vez por seu charme, está muito enganado!
CAPÍTULO IV
Matt reclinou-se para apreciar os raios de sol. Fechou um pouco os olhos e falou,
lentamente:
— Podemos levar este jogo de duas maneiras: ou brigamos como cão e gato ou
tentamos amadurecer e manter um comportamento civilizado.
— Não se esqueça de citar a terceira opção: você me leva de volta a Skopelos, me
deixa lá e continua seu programa sozinho.
Sentada do outro lado do passadiço, ela contemplava as ondas que batiam no casco
e refletia sobre sua situação. Era prisioneira de Matt, tinha só uma camiseta para usar...
Não podia sequer nadar, pois a última coisa que queria era ficar nua na presença
perturbadora daquele homem.
Tinha dito a Matt que amadurecera durante os dois anos em que ficaram separados.
E precisava provar isso. Ainda se sentia humilhada com a forma como ele a tratava, mas
devia pensar num modo de lidar com o problema que não fosse se esconder na cabine.
Talvez devesse aguardar um momento mais adequado para contra-atacar.
— Ultimamente não tenho feito muitos "programas", como você deve imaginar — ele
disse num tom alegre. Os óculos escuros tornavam sua expressão indecifrável.
— Não mesmo? Bem, você tirou algumas semanas de folga, como todo mundo, mas
isso não quer dizer que tenha se tornado um pacato cidadão comum, desses que se
sentam à frente da lareira numa noite de sábado.
— Foi por isso que se afastou de mim? — ele ergueu a cabeça, fitando-a por trás
das lentes escuras. — Porque não sentamos em frente à lareira, de mãos dadas?
Ela se levantou. Manter a raiva sob controle seria uma tarefa árdua demais. Mas,
caso se descontrolasse, seria uma presa fácil.
— Francamente, acho que você tem uma visão distorcida do que deve ser um
relacionamento. Não entendo o que pretende ganhar com isso, mas...
— Tempo — ele disse simplesmente. — É o que pretendo ganhar.
Becky sentiu a garganta seca.
— Tempo? Para quê?
— Para vê-la comportar-se como mulher, não como uma refugiada de guerra. Já lhe
disse, estou preocupado com você.
Ela passou as mãos no cabelo, nervosa.
— Se me mantiver nesse barco, prometo que perderei mais peso — ela respondeu,
mantendo a voz firme. — E... provavelmente sucumbirei a uma série de doenças
relacionadas ao estresse. Isso, se não morrer de tédio antes. Ou for comida pelos
tubarões quando me atirar ao mar para tentar fugir.
— Não exagere. Não há tubarões no mar Egeu. De qualquer forma, acho que já é
hora de partir — Matt anunciou, erguendo-se. — Vou mudar de roupa. Está cada vez mais
quente.
— Esse é outro problema. E quanto a mim? Tudo o que tenho são as roupas do
corpo!
Ele lançou um meio-sorriso provocador.
— Para mim você está ótima, Sra. Hawke.
— Estou falando sério!
— Bem, devo ter algo que lhe sirva. Uma moça que ficou comigo por uns tempos
deixou algumas roupas. Vou dar uma olhada.
Quase sem fala, Rebecca observou Matt desaparecer na cabine. Era inacreditável.
— É você quem está dizendo. — Apertou a caneca com tanta força que seus dedos
doeram.
Matt levantou-se de repente e tirou-lhe a caneca das mãos. Segurando-a pelos
braços, ergueu-a. Ela tentou empurrá-lo. Mas era pura perda de tempo, claro. O espaço
entre os dois corpos foi diminuindo milímetro a milímetro.
— Por que não me disse que ia partir? Por que simplesmente desapareceu sem
uma palavra, sem mesmo deixar um bilhete? Acha que sou feito de aço? Não percebe
que quase perdi a cabeça?
— Você está me machucando...
— Nem um décimo do que você me machucou, Becky!
— Você, machucado? Essa é boa!
— Então acha que não tenho sentimentos?
A raiva em seu rosto, a fúria repentina nos olhos, eram assustadoras e confusas.
Becky começou a tremer outra vez.
— Que está dizendo, afinal? Que não me queria, mas que não admitia que eu fosse
de outra pessoa?
— Mas você não se entregou a nenhum outro homem, não é mesmo? Homens
como Ted Whiteman? Ele vivia a seu lado em Hampstead.
Até sua correspondência era endereçada para a agência.
— Não seja ridículo!
— O gentil e simpático Ted, com um ombro pronto para acolher as lágrimas
provocadas por um marido cruel, que tinha ido para a cama com outras mulheres em
Hong Kong...
As palavras cortaram o coração de Rebecca como faca afiada.
— Pare com isso!
Com um gemido, Matt perdeu o controle. Puxou-a com um movimento brusco e
segurou-a por alguns segundos. Mas logo em seguida, parecendo arrependido, soltou-a.
— Sinto muito.
— Não, você não sente. — A voz era trêmula, um tremor provocado pela presença
perturbadora de Matt.
— Becky... — Lentamente, ele se afastou. — Pode ser que nossa história acabe em
divórcio, mas merecemos uma conversa séria. Até agora, tudo o que tive foi um diálogo
com Sofie, quando a estava procurando.
— Eu não lhe devo nada.
— Claro que não me deve nada! Era meu filho também, sabia? Acha que não sofri?
Ou pais também não têm sentimentos?
Ela sentiu a garganta seca. O que Matt estava tentando fazer? Quem esperava
atingir, fingindo que tinha sentimentos profundos?
— Quando perdi a criança, você passou uma noite comigo, em casa. Depois pegou
um avião e foi para Hong Kong, onde outra o esperava. Uma garota que já estava em sua
vida muito antes de eu engravidar. Havia fotos de vocês dois juntos nas colunas sociais.
Todos sabiam. E essa a verdade.
— E alguma vez neguei isso?
— Não, nunca. Esse seu... plano de ter uma conversa amigável comigo é a proposta
mais indecente que já escutei. Por que não para de me provocar e admite que nosso
casamento foi um engano? Dê meia-volta nesse veleiro e me leve a Skopelus.
— Sabe, suspeito que há muitos pontos obscuros em nosso relacionamento. E estou
disposto a esclarecê-los antes que os advogados entrem na história e arruínem tudo. —
Sem avisar, tomou-a nos braços com determinação. — E um desses pontos, querida Sra.
Hawke, é a maneira como você treme quando eu a beijo.
CAPÍTULO V
Becky sentiu um calor tão intenso que ficou tonta. Mas teve forças para resistir.
Conseguiu afastar as emoções e se libertou com violência, empurrando-o com
determinação.
Sem dizer uma palavra, Matt virou-se para o mar. Ela observou as costas vigorosas
daquele homem, que respirava a brisa vinda das águas límpidas, tentando se acalmar.
Ainda estava sob o efeito do beijo. E percebeu que ele também fora afetado. Não
tinha sido um gesto simulado, uma atitude de vingança. Matt a queria... fisicamente. E
agora, furioso e frustrado, decidira manter silêncio.
— Matt, ouça... nunca fomos realmente casados. Então não há o que reparar. Se
quer saber o que penso, acho que você está querendo provar a si mesmo que pode ter
tudo o que quiser. Está se sentindo mal porque perdeu o controle da situação quando
desapareci de sua vida. Está interessado em se divorciar sob suas condições. E seu
orgulho que está em jogo. Estou certa?
— Nesse exato instante estou tentando controlar minha vontade de atirá-la ao mar.
— E típico de homens como você. Ameaças, raiva. Por que não pode ter uma visão
racional das coisas?
— Pare de agir como uma mulher insensível! — ele exclamou, retomando o controle
do barco. — Você não me engana com essas palavras. Elas só servem para quem só
passou uma noite a seu lado.
— Pare com isso. Quando vai perceber que não quero estar aqui? Que não quero
ficar com você?
— Que tal me ajudar com este veleiro? — ele disse enquanto procurava controlar o
timão. O vento tornara-se muito forte.
— Se você queria um marinheiro, devia ter contratado um. De qualquer forma,
pensei que já estivesse acostumado a essas águas. Não foi aqui que navegou durante
algumas semanas?
— Alguns meses, para ser franco.
— Meses? — Becky arregalou os olhos. Será que ouvira bem?
— Três meses, para ser mais preciso.
— Que aconteceu? Você era viciado em trabalho!
— Se não consegue falar nada sem ser irônica, pode ficar calada.
— Estou falando sério. Que aconteceu?
— Todos precisam de um tempo para pensar — foi a resposta evasiva.
O barco se aproximava da costa. O meltemi, o famoso vento do verão, levava-os na
direção de uma ilha, soprando forte nas velas brancas içadas.
A areia dourada começou a aparecer na paisagem, protegida por pedras e cercada
por uma vegetação abundante. Matt desceu para desligar o motor.
Becky continuava surpresa. Pensar na vida? Que Matt quisera dizer com aquilo?
Que mudara de carreira? E quanto à viagem de negócios que afirmara ter que fazer a
Atenas?
O veleiro foi se aproximando da ilha, e parou a alguns metros da praia deserta. Matt
jogou a âncora ao mar.
— Vou nadar um pouco. Quer vir? — Sem esperar, tirou a bermuda branca e se
colocou junto à escadinha que dava na água. Seu maio minúsculo, de um azul brilhante,
contrastava com o bronzeado da pele. — Não fique envergonhada. Sou seu marido,
lembra? Tem permissão de olhar, minha querida...
Quando os corpos finalmente se uniram, ela sentiu uma onda de prazer indescritível.
E então todos os seus sentidos voltaram-se para o ritmo sensual, masculino e feminino,
macho e fêmea, paixão e raiva explodindo num momento de intimidade, de felicidade,
supremas. Os movimentos foram tão intensos que a levaram a um êxtase selvagem,
completo.
O mar estava agitado, mas o final da tarde era quente e agradável. Nua,
abandonada como uma sereia, Becky continuava deitada à beira da água, com Matt a seu
lado.
Tentou conter a euforia. Naquele momento, não importava o fato de ter quebrado o
juramento que fizera, de que nunca mais se deixaria envolver pelo charme de Matt. Seu
frio e desinteressado marido ainda a considerava desejável, e esse pequeno consolo,
talvez irrelevante, a enchia de alegria.
Virou-se para contemplá-lo. Os olhos azuis, abertos, focalizavam o horizonte. E
tinham uma expressão hostil. Com o coração acelerado, ela limpou a garganta e falou,
num tom sarcástico:
— Suponho que o pagamento não tenha sido suficiente.
Com um gesto rápido, ele se levantou e colocou o maio. Encarou-a com uma ponta
de raiva.
— Você tem razão. Não foi suficiente.
CAPÍTULO VI
E então, que vamos fazer agora? Becky arriscou-se a olhar para Matt. Tinham
acabado de lanchar pão, queijo e frutas. O clima entre os dois era tão gelado que ela
achou difícil acreditar que estavam sentados à luz do sol, na beira da praia, com o som
das ondas ao fundo. Ele olhou no relógio, com uma expressão implacável.
— Vamos examinar as opções — disse, sem emoção. — E tarde demais para andar.
E não há garantia de encontrar alguém antes de escurecer. Seu estado de saúde é
precário, e isso deve ser levado em conta quando procurarmos um local...
— Não sou inválida! — ela protestou, mas Matt a ignorou.
— Está ventando demais para colocar o bote no mar. Vamos acampar aqui esta
noite. Antes disso, porém, pretendo dar uma breve explorada na ilha.
Ela o encarou, atônita. Sabia que não havia alternativa, mas no fundo tinha
esperanças de encontrar uma saída.
— Passar a noite aqui não pode ser pior do que dormir numa rede, cercada de
mosquitos, na Etiópia — disse Becky. — Mas, se você for a algum lugar, irei junto.
— Você fica.
Ela enfiou as mãos nos bolsos do short e ergueu o queixo para encará-lo.
— Eu vou.
— Um de nós precisa ficar. Se algum barco passar por perto, é preciso atrair-lhe a
atenção. Será que pode fazer o que estou pedindo?
— Como quiser, patrão. Aliás, onde estamos?
— Skyros.
— Tem certeza?
Matt sorriu, relutante.
— Sim, tenho certeza. Até algumas horas atrás eu me orgulhava em possuir um
continuar os estudos. Tudo o que queria era o amor de Matt. Mas seu casamento não
passara de uma mentira.
Além disso, havia a carta da família de Su-Lin, que confirmara seus temores. Matt e
a garota tinham planejado se casar antes de Becky atrapalhar tudo, ficando grávida.
Assim, a melhor coisa que pôde fazer, quando a gravidez teve seu fim trágico, foi
desaparecer da vida dele.
Fechou os olhos, sentindo a depressão tomar conta de suas emoções outra vez. Se
ao menos Matt não tivesse voltado... Conseguira manter distância durante dois anos,
incapaz de enfrentar a luta pelo divórcio ou encarar Su-Lin como o verdadeiro amor do
marido.
A sensação do êxtase apaixonado que vivera a invadiu. Becky tentou afastar as
imagens dos momentos íntimos, que revelavam uma sensualidade exuberante.
Matt era o vencedor daquele jogo. Mas só porque ela se sentira culpada demais por
ter afundado o veleiro. Aquela relação sexual fora mecânica, sem sentido, uma atividade
para aliviar a tensão. Nada além disso.
Becky sentiu um cansaço repentino. Não significara nada, repetiu para si mesma,
pegando no sono. Não fazia diferença. Não sentia mais nada por Matt. Nada mesmo...
Ela abriu os olhos, um pouco desorientada. Tinha adormecido, e as primeiras
sombras da noite cobriam a praia. Levantou-se, esfregou os olhos e olhou em volta.
Nenhum sinal de Matt.
Fitou a mata escura com uma certa ansiedade. Os mantimentos ainda estavam
empilhados na areia. O vento havia cessado, como sempre acontecia ao cair da noite.
Uma lua imensa refletia sua luz no azul-marinho do mar calmo.
A vegetação perdera o ar paradisíaco. Que teria acontecido a Matt? Ela começou a
se sentir alarmada e ansiosa. Será que houvera algum acidente? Tentou se convencer de
que isso era improvável, mas não conseguia evitar a imagem de Matt jogado ao chão,
ferido, inconsciente...
Como verificar se estava tudo em ordem? Sua mente começou a trabalhar
freneticamente, e seu coração acelerou. O silêncio parecia se intensificar a cada segundo.
Ela tentou respirar fundo, e abriu a boca para chamar Matt. Nesse instante, mãos firmes
cobriram-lhe os lábios.
— Não se preocupe. Sou eu.
Becky sentiu um calor subir às faces e começou a tremer incontrolavelmente.
— Eu... estava muito preocupada e... você... aparece de repente e...
— Pobre Becky... Bem, estou comovido por saber que se preocupou comigo. Achei
que nem se importaria se eu estivesse morto.
— Na verdade, não ligo — ela corrigiu, dando um passo atrás e cruzando os braços.
— Mas até sairmos dessa confusão prefiro que você viva.
— Até que eu deixe de lhe ser útil, certo?
— Precisamente.
— Será que já se esqueceu que foi você que nos colocou nesta confusão?
Ela respirou fundo.
— Indiretamente, admito que...
— Indiretamente? Que quer dizer com isso?
— Foi você que me forçou a essa viagem estúpida, lembra-se?
— E foi você que resolveu destruir nosso casamento, lembra-se?
Houve uma longa pausa. Só o cantar dos pássaros quebrava o silêncio da noite.
— Pare de ser hipócrita e dizer que se preocupa comigo. Tudo não passa de
vingança, não é mesmo? Você me forçou a velejar para demonstrar que ainda podia
assumir o comando da minha vida!
— Neste exato momento não me sinto tão poderoso assim — ele brincou. — Não
com meu veleiro no fundo do mar.
O beijo foi gentil, diferente da maneira como tinham feito amor, pouco antes.
— Matt... Oh, Matt...
Ele a tomou nos braços e a levou até perto do fogo. Deitou-a na superfície macia do
saco de dormir, as mãos acariciando o corpo esguio com uma espécie de desespero
contido.
Becky sentiu-se transportada para outra dimensão. Nada mais importava. Q
passado, o futuro, os problemas insolúveis daquele relacionamento, tudo havia
desaparecido. Sua única preocupação era o calor, a urgência que a levava a buscar o
prazer vindo daquele corpo másculo. Sua única necessidade era o toque de Matt.
— Eu ainda a quero — falou ele num tom rouco, como se admitir o fato lhe fosse
doloroso.
— Faça amor comigo mais uma vez. Mas não me puna desta vez.
— Oh, Becky...
O gemido de Matt a fez sentir-se nas nuvens. Rebecca tocou-lhe o rosto o cabelo,
os ombros. Com um gemido de desejo, amoldou-se a ele, as mãos ávidas percorrendo a
pele bronzeada por baixo da camiseta.
— Isso é tão gostoso...
Com certa impaciência, Matt tirou a bermuda, o maio e a camiseta. Depois despiu
Becky por inteiro. Então fez com que ficasse por cima de seu corpo. Ela gemeu de prazer,
e Matt deu um sorriso triunfante.
— Podemos ter gênios diferentes e incompatíveis, querida, mas fisicamente nos
encaixamos com perfeição. Nada se compara a isso.
— Nem mesmo Su-Lin?
O murmúrio trêmulo foi involuntário. Rebecca não tinha ideia de por que se sentira
compelida a tocar no assunto. Matt ficou paralisado. Foi como uma ducha de água fria,
que transformou a ternura em raiva contida outra vez.
— Não tenho como responder a essa pergunta. Nunca fiz amor com Su-Lin.
A noite quente, a escuridão aveludada e a lua pareciam girar ao redor de Becky,
envolvida num mundo de sensualidade e prazer. Foram momentos maravilhosos,
indescritíveis, após os quais Matt a fez descansar em seus braços.
— Tem que fazer isso?
— Fazer o quê, querida?
— Fazer amor comigo como se me odiasse.
Matt ficou em silêncio. Na escuridão, suas feições pareciam sombrias.
— Machuquei você?
— Não fisicamente, mas...
— Eu não a odeio. — A voz agora era suave.
— Pois é assim que eu sinto.
— Então está enganada.
Becky se afastou dele e entrou no saco de dormir, fechando-o até as orelhas.
Sentiu-se terrivelmente humilhada, e mais sozinha do que durante os dois anos em que
estivera longe de Matt.
CAPÍTULO VII
eu era desapareceu quando minha querida esposa foi embora. Agora, ela deve me ajudar
a colocar a vida em ordem. — Havia um toque de amargura na voz profunda. — Que
mulher, poderosa você é, Sra. Hawke.
— Eu não entendo — ela falou lentamente, abrindo uma das malas e pegando um
vestido de seda verde.
Os dois estavam na suntuosa suíte do hotel em Atenas. Matt, estendido num sofá
em frente às janelas, com um gim-tônica nas mãos, já tomara banho e se preparara para
o jantar, Estava devastador num paletó creme e numa camisa de seda. A fragrância do
perfume másculo se espalhava pelo ambiente, fazendo Becky se lembrar do passado.
— Que é que você não entende?
—- Que acha que vai conseguir com isso?
— Uma bela esposa para me acompanhar ao jantar.
— Claro. Que tolice da minha parte. — Rebecca, que acabara de sair do banheiro,
vestia um robe e uma minúscula calcinha de seda. — Se me der licença, vou me vestir.
— Um momento. — A voz profunda de Matt tinha um tom de comando. — Esposas
devotadas não se escondem na hora de trocar de roupa. Especialmente quando seus
maridos gastam uma fortuna para lhes dar um guarda-roupa novinho em folha.
Ela se sentiu paralisada, mas decidiu não permitir que Matt jogasse sujo, magoando-
a. Não se deixaria intimidar.
— Oh, entendo — murmurou, respirando fundo.
— Quer um show de strip-tease, querido?
— Naturalmente. Um marido tem o direito de observar sua mulher se vestir,
concorda?
— Segundo me lembro, esse detalhe não fazia parte dos juramentos. Mas, se é
assim que alimenta suas perversões, quem sou eu para discutir?
Num impulso, arrancou o robe e atirou-o no rosto de Matt. Aquela presença
poderosa e a expressão enigmática dos olhos azuis eram enervantes. Com mãos
trêmulas, Rebecca colocou o sutiã de seda branca, e tentou fechá-lo nas costas. Mas
tremia tanto que não conseguiu.
—- Quer ajuda?
— Não. Posso me vestir sem o auxílio de quem quer que seja — ela conseguiu
dizer, ouvindo o clique do fecho e sentando-se para colocar a meia de seda. Em seguida,
pôs o vestido.
— Use os brincos de esmeralda — ele sugeriu.
— Como quiser — ela começou a dizer com calma. Depois parou para encará-lo,
furiosa. — Imagina que me tratando dessa maneira, como mulher vulgar, conseguirá fazer
com que eu o ame outra vez?
— Está me dizendo que um dia me amou? —Havia uma ponta sutil de emoção na
voz.
— Você sabe que amei! Estava tão apaixonada que nem consegui raciocinar direito!
Matt se levantou, determinado, e caminhou na direção dela.
— Não foi o que pareceu — disse calmamente.
Ergueu o queixo de Becky com a ponta do dedo, forçando-a a encará-lo. — Achei
que nosso casamento lhe foi conveniente durante a gravidez, mas um obstáculo para sua
carreira e seus estudos. Seu amigo Ted Whiteman deixou bem claro como você se
ressentia por ter que abandonar a liberdade. Su-Lin foi apenas uma desculpa, não foi?
Uma desculpa para você se afastar de mim?
Ela mal conseguia respirar. O toque dos dedos, a proximidade, as palavras, tudo
fazia sua mente girar.
— Se você acredita nisso... Se acha que me comportei assim, por que está se
importando com esta noite estúpida? É alguma espécie de charada?
— Sempre gostei de charadas. — Ele a largou, e acariciou-lhe o cabelo. O toque
— Bem, eu...
— A culpa foi minha — Matt interveio, salvando-a daquela situação. — Não baixei
direito a âncora. O vento soprou, eu e Becky estávamos na praia, ocupados com outras
coisas....
— Ah... — A troca de olhares masculinos a deixou furiosa.— Agora entendo! —
exclamou Alexis, analisando as curvas perfeitas de Becky. — Com uma distração desse
tipo, acidentes podem acontecer a qualquer momento.
— Você estão deixando Rebecca sem graça — Elisavet intercedeu, ao reparar o
desconforto de Becky. — Vejam, os Chang acabaram de chegar.
Rebecca seguiu o olhar de Elisavet. Na entrada do restaurante, um homem baixo,
de cabelo grisalho, com traços orientais, era cumprimentado pelo garçom, que apontava
para a mesa deles.
A seu lado caminhava uma moça, também oriental, de grande beleza. Todos se
viraram para admirá-la. Pequena, com as curvas incrivelmente bem-proporcionadas, um
vestido dourado agarrado ao corpo, o cabelo preto, brilhante, quase batendo na cintura,
ela parecia uma boneca de porcelana ao lado do pai.
Becky ficou em estado de choque, e sentiu o coração disparar. Su-Lin dirigia-se à
mesa, com um sorriso sedutor e os olhos voltados para Matt.
CAPÍTULO VIII
Rebecca virou-se para encará-lo. A expressão era mais cínica do que o normal. Os
olhos brilhavam. Ele parecia um estranho. Su-Lin ergueu-se com graça, e lançou um olhar
charmoso para Matt.
— Meu querido — murmurou, com voz sensual —, foi adorável vê-lo esta noite.
Quanto tempo vai ficar em Atenas?
— Apenas o suficiente para resolver um negócio. — Becky e eu estamos ansiosos
para voltar ao ar fresco das ilhas, não é mesmo, querida?
A expressão de Su-Lin endureceu. Rebecca ficou sem ar. Seria esse o motivo pelo
qual ele fizera questão de levá-la àquele jantar? Para apresentar a falsa imagem de um
casamento perfeito, e livrar-se de Su-Lin sem entrar em choque com o rico Sr. Chang?
Ela nunca se sentira tão usada, tão manipulada. Levantou-se e pegou a pequena
bolsa preta de veludo. Tentou ao máximo manter as emoções sob controle, mas seu
coração acelerava a cada instante. Que se danassem Matt e seus planos! Ele já tinha ido
longe demais.
— Queiram me desculpar, mas preciso de ar fresco agora.
— Compreendo — Su-Lin devolveu, com malícia na voz. — Simular um
relacionamento perfeito dever ser exaustivo.
— Quem falou em simulação? — perguntou Matt enquanto segurava o braço de
Becky, impedindo que ela se afastasse. — Nosso casamento é maravilhoso. Não é,
querida?
— Matt... eu...
— Após dois anos de separação? — Su-Lin provocou. Seus olhos negros
estampavam raiva. — Não acho que se amem tanto assim.
— Mas eu amo minha mulher. Muito.
A declaração foi tão calma e afirmativa que Becky sentiu uma pontada no coração.
Que grande fraude ele era! Como conseguia ser tão cínico? Como podia usar as pessoas
daquela maneira?
Começou a sentir-se zonza, como se o mundo a sua volta se tornasse irreal. Os
violinos ao fundo, o ritmo sensual dos dançarinos, os murmúrios e risadas, nada mais
parecia verdadeiro. Apenas Matt, e o brilho intenso em seus olhos, existiam agora.
— Você e Su-Lin devem ter muito o que conversar — disse ela num tom frio. Então
deu um passo atrás e tentou escapar das mãos de Matt. — Além disso, estou farta deste
jogo.
Percebeu que Alexis e Elisavet observavam a cena, e caminhou depressa na
direção da saída. Não importava que sua partida brusca provocasse transtornos nos
negócios de Matt. O futuro de Sofie se tornara secundário diante de sua necessidade de
escapar daquela dor insuportável. Não podia ficar mais um segundo diante de Su-Lin.
Ao sair do clube, respirou o ar quente da noite de verão. Dos bares e cafés
elegantes que se espalhavam pelas ruas vinham músicas típicas.
Becky não sabia para onde estava indo. As lágrimas encobriam sua visão. Chorar
por Matt era algo que, jurara, nunca mais aconteceria. Por que ele tinha que surgir
novamente em sua vida? Por que tinha que ser tão egoísta e maldoso?
— Becky!
Ela virou para trás rapidamente e avistou a figura imponente de Matt. Sem pensar,
começou a correr. Mas alguns segundos depois ele já a tinha alcançado e a segurava
pelo braço, fazendo-a parar.
— Nós não estamos vestidos adequadamente para uma corrida — falou, o paletó
aberto e o nó da gravata totalmente desfeito. — Que tal parar de fugir quando as coisas
não saem exatamente da forma como deseja?
— Então a culpa é minha, não é? Isso é bem típico de você! — ela exclamou, quase
sem fôlego por causa da corrida. — Fez chantagem para que eu fingisse que nosso
casamento era feliz, me tratou como prostituta barata, "esqueceu" de me contar que sua
precisei de você... quando eu realmente precisei de sua força... você pegou o primeiro
avião e partiu.
— Acha que não sei que a decepcionei?
Aquela declaração fez o coração de Becky acelerar mais ainda.
— Bem, então...
— Eu lhe disse, na praia de Skyros, que na época não estava preparado para um
compromisso sério. — Um sorriso discreto surgiu em seus lábios. — Se quer mesmo
saber a verdade, fiquei bastante assustado.
— Por quê?
— Imaginei que você julgasse estar cometendo um grande engano. Pensei que Ted
Whiteman tivesse razão.
— Quer parar de falar em Ted Whiteman? Ao menos ele ficou a meu lado depois do
aborto, coisa que você foi incapaz de fazer.
— Não é bem assim. Eu a conheci, eu a engravidei, e nós nos casamos. Que mais
você queria? — Foi tudo tão rápido...
Um profunda dor tomou conta do coração de Becky.
— Não foi você que me engravidou — ela corrigiu. — É preciso haver duas pessoas
para conceber uma criança. E descobrir que eu estava grávida foi a coisa mais... — Bem,
a melhor coisa que me aconteceu.
— Mas de repente você perdeu a criança — ele acrescentou, num tom seco. Deu
um longo gole no uísque e colocou o copo na mesa com certa violência. — Então a
melhor coisa de sua vida foi embora. Estou certo?
Ela se sentiu atingida por uma emoção intensa.
— Sinto, mas não posso vencer esse argumento. Seu eu disser que o amava, você
vai falar de novo em Ted Whiteman. Se eu disser que estava encantada com a ideia de
ter um filho, você me acusará de ter me casado apenas porque o bebê precisava de um
pai. O que não admite, com toda a sua arrogância, é que, quando eu precisava
desesperadamente de ajuda, você desapareceu. Afastou-se de mim. Foi a boates em
Hong Kong com Su-Lin, e suas fotos saíram nas colunas sociais. Que tipo de marido se
comporta assim?
— Um marido que está tão ferido quanto sua esposa.
Aquelas palavras pareciam vir de um Matt Hawke que ela desconhecia.
— Está tentando me dizer que também ficou magoado quando perdi o bebê?
— Não posso responder a essa pergunta. — Seu olhar resignado fixou-se na
paisagem noturna de Atenas. — O que estou tentando dizer é que queria nosso filho. Eu
realmente queria. Até você me surpreender com a notícia, admito que não tinha pensado
em ser pai. Mas achei uma grande ideia casar, constituir família... Então você perdeu o
bebê, e pareceu desmoronar. Achei que não me quisesse mais. Você me afastou...
— Não tive essa intenção — ela disse, quase sem pensar. — Fiquei arrasada, senti
um abismo entre nós. Um abismo invisível. Você compreende?
Houve um longo silêncio.
— Quando eu tinha doze anos, minha mãe abandonou meu pai, que não suportou o
golpe e caiu em depressão. Jurei que nunca deixaria uma mulher fazer isso comigo. Acho
que senti... que você me abandonava... emocionalmente.
Era a primeira vez que Matt falava sobre sua mãe. Sofie tinha-lhe contado a
tragédia, mas ele nunca tinha conversado sobre isso.
— Então resolveu me deixar.
— Eu não a deixei. Tive que viajar a negócios. Foi você que me abandonou.
— Eu o abandonei porque não tinha outra opção. — Ela tremeu quando pronunciou
essas palavras. Era como se seu divórcio estivesse cada vez mais próximo.
— E, agora, cá estamos, causando ao outro tanta dor como antes.
— Oh, não. Se eu ainda o amasse, estaria magoada. Mas eu não...
— Você não...?
— Nesses últimos dois anos eu... amadureci muito. Nunca vou deixar que outro
relacionamento me ameace, como aconteceu com o nosso. Nunca vou participar de seu
mundo ambicioso outra vez.
Houve então outro prolongado silêncio. O rosto de Matt parecia coberto por uma
máscara irreconhecível.
— Outra vez meu "mundo ambicioso"... Mas ele pode dar bons frutos. Essa noite, a
não ser que sua partida dramática tenha estragado tudo, fechei um acordo com Alexis e
seu grupo, e que não ocupará todo o meu tempo. Se eu decidir investir no Velho Moinho,
acho que meu novo estilo de vida vai manter minha mente ambiciosa a distância.
Podemos ir, Sra. Hawke?
Ele não a tocou enquanto desciam, no bondinho. Becky segurou firme a bolsa,
mantendo as mãos ocupadas. Os centímetros que os separavam pareciam quilômetros. O
casamento estava morto. Era um destino inevitável, e ela devia saber desde o início.
— Se decidir investir no Velho Moinho? — Rebecca perguntou de repente. — Você
disse que, caso eu viesse a Atenas, ajudaria Sofie e Richard.
— É verdade. Mas isso dependeria de sua atuação como minha devotada esposa.
— O olhar de Matt tornou-se perigoso. — Alexis e Elisavet ficaram um pouco surpresos
ao vê-la desaparecer sem se despedir polidamente.
— Então eu deveria ficar lá, sentada, e aguentar os desaforos de Su-Lin? Está me
acusando de arruinar seu precioso negócio? — Havia uma fúria quase incontrolável nas
palavras de Becky. — Ora, você está realmente decidido a me provocar!
— Pare de tirar conclusões precipitadas. É esse seu maior erro, Sra. Hawke: tirar
conclusões precipitadas.
Ela respirou fundo. Tinha que parar de se alterar. Matt deveria ter prazer ao vê-la
reagir assim àquele jogo estúpido.
— A conclusão era óbvia demais, e estava bem na minha frente. Isso só comprovou
que você se casou comigo, e não com Su-Lin, porque eu estava grávida.
— Lá vamos nós outra vez!
— Pare de me tratar como criança. E pare de falar como se fosse o único
responsável pelo bebê.
Matt sorriu sutilmente.
— Falando nisso, Sra. Hawke, há alguma chance de a história se repetir? Quero
dizer... Os acontecimentos dos dois últimos dias podem ter gerado uma criança?
— Não — ela conseguiu responder, com toda a dignidade que foi capaz. — Se acha
que vou cair nesse erro outra vez, não acredita mesmo em minha inteligência.
Ela não soube dizer se a expressão de Matt foi de alívio ou decepção.
— Então está tomando anticoncepcionais? — O tom era aveludado e cínico.
— Claro que estou.
Tinham chegado a uma avenida movimentada, e Becky engoliu em seco. Havia
tomado a pílula, era verdade, mas já fazia algum tempo. Seria possível ter concebido uma
criança?
— Então os anticoncepcionais têm sido uma precaução necessária em sua vida
desde que me abandonou? — Matt agora a segurava pelo braço, num gesto possessivo.
— Qual o problema, Becky? Lembrou-se de algo?
Rebecca sentiu que corava. Ele sabia... Claro que ele sabia! Como podia ser tão
ingênua? Envolvida num mundo de emoções, nem pensara em evitar a gravidez.
— Sei o que está tentando fazer — disse, com voz trêmula. — Mas não vai
conseguir.
— Quer dizer que está fora de questão conversar sobre outros relacionamentos?
Prefere me acusar de adultério? Quanto a mim, não posso acusá-la de coisa alguma?
— Vamos falar bem claro: nunca cometi adultério. Nem com Ted Whiteman, nem
CAPÍTULO IX
agredi-lo outra vez. Foi até a varanda e ficou lá, tremendo, sem saber o que fazer. —
Encare os fatos, Becky. Talvez o que aconteceu na praia tivesse que acontecer de
qualquer maneira. Talvez seja algo que não possamos controlar...
A voz suave de Matt a deixou sem defesas. Ela virou-se lentamente. De repente,
sentiu que uma emoção nova tomava o lugar da fúria. Algo que abalava todas as suas
certezas... Com um sorriso involuntário, passou os dedos pelo cabelo sedoso e olhou
para o lado.
— Eu não sei. Honestamente, não sei.
— Então somos dois.
Ela respirou fundo.
— Mesmo se for este o caso, só prova que ainda nos sentimos sexualmente
atraídos.
— E verdade. Pelo menos de uma coisa já temos certeza.
— Estou tão confusa...
— Você trouxe sua carteia de pílulas?
Ela fez que não com um gesto de cabeça. Começou a rir e deixou-se cair numa
poltrona, perto da janela.
— A verdade é que parei de tomar pílulas quando peguei aquele vírus. Até você
levantar a questão no café, confesso que tinha esquecido tudo sobre anticoncepcionais.
Não desempenhavam um papel importante em minha vida, se quer saber. Eram apenas
precaução... depois do que aconteceu conosco.
— Querida, venha cá. — Como se fosse um autômato, ela se viu caminhar
lentamente na direção de Matt. — Vai deixar que eu a toque esta noite? — Não sou muito
bom em implorar, mas preciso de você. Nesse exato minuto preciso desesperadamente
de você.
— Tenho tanto medo... — A voz de Becky quase não saiu.
— Medo de ficar grávida outra vez?
— Não. Medo de me aproximar de você.
— Becky... — Ele a abraçou com um movimento delicado e preciso. — Sabe, prefiro
cortar a garganta a magoá-la de novo.
Ela mal conseguia respirar.
— Você está... — gaguejou, e tentou outra vez — ... está tentando conceber outro
bebê?
— Você é tão desconfiada... — ele murmurou, num tom mais rouco e profundo.
Rebecca tremeu ao ser beijada de leve no rosto, no pescoço. — Ainda não entendeu? —
ele suspirou, levando-a para a suavidade da cama, aprisionando-a delicadamente. —
Tudo o que quero é você. Se quiser, posso usar camisinha esta noite, e em todas as
noites. Posso supervisionar pessoalmente cada pílula que tomar. Apenas admita que
sente algo por mim.
— Eu... sinto algo por você.
Era verdade. E nada mais importava. Naquela noite, não era possível fingir. Ainda o
amava. Nunca deixara de amá-lo.
Seu coração batia com tanta força que ela teve medo de explodir. Ergueu a mão
trêmula e acariciou o rosto de Matt.
— E... não use camisinha. Você ainda é meu marido, não é? — Mordeu o lábio com
um sorriso trêmulo e acrescentou, com voz rouca: — E eu quero você... Quero senti-lo
dentro de mim.
— Querida... Oh, querida...
O que restava do controle de Matt se foi com as últimas palavras de Becky. Com um
gesto impaciente, ele arrancou a gravata, o paletó e a camisa antes de começar a
explorar as aberturas no vestido de seda verde. Despiu-a com tensão e urgência.
Rebecca agarrou-se a ele com todas as suas forças. Matt começou a tirar-lhe lenta e
sensualmente o sutiã. Ela ficou ofegante quando o viu afastar a seda fina, revelando os
seios perfeitos.
— Você é especial — ele gemeu, e percorreu com os lábios sedentos o pescoço, os
bicos dos seios, amoldando as mãos a eles, acariciando cada curva com a ponta dos
dedos.
— Matt... por favor...
Cada movimento era intensamente erótico, excitante. Becky implorou que ele a
tocasse, que explorasse seu ventre, sentisse o líquido quente entre suas pernas. Estava
em fogo, queimando, queimando...
Com um sorriso tímido e sensual, agarrou-se aos ombros de Matt, fincando as
unhas nos músculos firmes.
— Faça amor comigo agora... Agora...
— Agora? — Ele já se abaixava para tocar a calcinha de seda branca, os dedos
experientes prontos para descobrir o mel da delicada feminilidade. — Agora, Sra. Hawke?
Antes mesmo de explorar tudo a que tenho direito?
— Matt! — Rebecca, fora de si, pronta para recebê-lo, via-se perdida em sensações
maravilhosas. — Pare de me provocar... Pode me levar a sério ao menos uma vez?
— Sempre a levei a sério, querida. E vou continuar a levá-la a sério. Tanto que você
nunca mais vai me abandonar.
A suavidade de Matt a atingiu como uma tempestade, fazendo-a tremer
convulsivamente. Rebecca agarrou-se a ele, no auge da excitação, e sentiu o poderoso
corpo másculo penetrando-a com potência devastadora.
O ato foi muito mais intenso do que ela poderia ter imaginado. As sensações que os
movimentos de Matt provocavam eram tudo que o que queria, tudo o que sempre quis. O
prazer, violento, espalhou-se em ondas por todo o corpo feminino.
— Amanhã voltaremos a Skopelus — ele murmurou, horas depois.
Sonolenta, lânguida, abandonada nos braços firmes de Matt, Rebecca agarrava-se
àquele momento como se fosse um sonho, que terminaria a qualquer momento. Logo se
deixou envolver por um sono profundo e tranquilo.
Amanhã... Amanhã teriam muito o que conversar. Mas o amanhã parecia estar tão
longe...
—Recebi a carta de seu advogado esta manhã.
De bermuda jeans e camiseta preta, Matt pilotava a pequena lancha que tinha
alugado. A velocidade fazia com que a água salgada espirrasse no maio e no short
branco de Rebecca, que admirava a costa de Skopelus.
— Como a carta chegou até você? — Ela se levantou e foi para junto de Matt. —
Podemos ir mais devagar?
Com um sorriso, ele desacelerou.
— Minha governanta em Hampstead enviou para meu endereço de correspondência
em Atenas. O escritório de Alexis, para ser mais exato.
— Oh... — Ela tentou dizer algo, mas não conseguiu.
Perto da praia, a embarcação parou. Becky procurou adivinhar os pensamentos do
marido. Desde aquela manhã, ambos estavam envolvidos por uma atmosfera
estranhamente calma. Emocionada demais, ela não conseguia raciocinar direito. Matt era
tão gentil... Mesmo assim, não tinha ideia do que se passava em sua mente.
— Eis a taverna — disse ele, desligando o motor. — Você a reconhece?
Becky olhou para a praia. Lá estava a taverna ao ar livre, e, nela, uma dúzia de
pessoas saboreava uma deliciosa refeição sob um abrigo de bambu. Na parte de trás
havia uma gruta, cercada por oliveiras. Mais além, as colinas. O azul do céu brilhava por
entre a vegetação. A paz do lugar era inacreditável.
— Sim, reconheço. Viemos aqui há três anos.
Os dois caminharam pela praia, lado a lado.
— Matt, eu,..
— Deixe-me terminar. Ainda sou dono da casa em Hampstead. Pretendo passar
algum tempo em Londres, a cada ano. Estou planejando alugar uma residência em
Skopelus enquanto penso no lar que quero construir neste local. Financeiramente, estou
bem. Vendi as empresas para ter um futuro tranquilo, e ainda receberei boas quantias
como consultor. Precisarei estar em Atenas uma vez por semana, no máximo.
— Como conseguiu isso?
— Ajudei Alexis em alguns negócios complicados. Mas tenho outros interesses por
aqui. Pretendo cuidar dessas oliveiras e da pequena taverna lá na praia, e talvez alugar
alguns veleiros para turistas. Mas na verdade pretendo devotar noventa por cento de meu
tempo a minha esposa. Serei um marido dedicado. Que me diz?
Ela se levantou. Á perspectiva de salvar seu casamento estava tão próxima que
parecia irreal, inesperada. Rebecca não sabia o que dizer.
— Podemos voltar para Skopelus e tomar um café? — conseguiu falar, evitando o
olhar de Matt. — Estou ficando tostada nesse sol.
— Claro. Não quero que me culpe por ter arrumado uma insolação. Já bastam as
acusações que tem contra mim.
A viagem de volta foi feita em silêncio. Mas, quando ancoraram e subiram até a
calçada, ela o encarou. Era sua vez de jogar. Matt tinha mostrado as cartas. Agora,
bastava romper a barreira e correr mais uma vez o risco de amar aquele homem.
— Você... já tem algum projeto para a casa?
— Apenas algumas ideias preliminares. Os esboços estavam no veleiro. Mas meu
arquiteto tem uma maquete. Quer tomar café no Velho Moinho?
— Sim. Não haverá ninguém lá a essa hora, mas tenho a chave da cozinha.
Rebecca manteve uma distância formal enquanto caminhavam pelo cais cercado de
cafés e árvores, emoldurado pelos iates coloridos. Estava quase sem fôlego quando
chegaram ao terraço vazio do restaurante e pararam para admirar a vista. Era a hora da
siesta. O silêncio cobria as paredes brancas, e as plantas agitavam-se lentamente à brisa
suave.
Becky entrou na pequena cozinha e fez café.
Depois juntou-se a Matt, que, sentado à mesa, tinha uma ampla visão do cais. A
paisagem era típica da Grécia, com os telhados cinzentos e as janelas vermelhas sob um
sol incrivelmente quente.
Ela fechou os olhos, e logo os abriu outra vez. Tinha a sensação de estar se
afastando de Matt. Era como se nada do que dissesse pudesse chegar até ele. Um
sentimento assustador, que a fez pegar a caneca de café com mãos trêmulas. Seria
orgulho? Cautela? Bem, não importava o que fosse, tratava-se de uma muralha invisível,
que a distanciava de uma reconciliação completa.
— Eu gostaria tanto que Sofie e Richard pudessem manter o restaurante aqui...
— Está insinuando algo, Sra. Hawke?
— Se quiser entender assim...
— Acho que não há dúvida de que eles ficarão aqui. Agora têm um novo sócio: eu.
— Você? Oh, Matt, que notícia maravilhosa!
— Richard e eu acertamos as formalidades na manhã em que voltamos de Skyros.
Ela ficou surpresa, e deixou a pequena colher cair sobre a mesa.
— Antes de irmos para Atenas?
— Exato. — A expressão de Matt era serena.
— Então aquela armadilha foi apenas um...
— Um pretexto? Sim.
— Matt! — Ela começou a se levantar, irritada. — Primeiro o veleiro, agora isto!
Como posso confiar em você, se usa truques o tempo todo? Que tipo de casamento é
este?
FIM