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VOTOS DE CASAMENTO

Marriage Vows

Rosalie Ash

Eles não imaginavam que o casamento era o passo mais importante na vida de
duas pessoas!

Passado: Becky e Matt se casaram porque não tinham outra saída...


Presente: Becky busca sua liberdade, mas Matt tem outros planos. Está disposto a
persuadir a esposa de que eles nasceram um para o outro, para viver juntos para sempre.
E a arma de Matt são seus beijos: só eles podem mostrar a Becky que a vida não será
igual sem o calor dos lábios de Matt.
Futuro: Um casamento às pressas pode durar uma eternidade!

Digitalização e correção: Nina


Revisão: Ale Ramos
Sabrina Noivas 43 - Votos de Casamento - Rosalie Ash

Título: Votos de Casamento


Autor: Rosalie Ash
Título original: Marriage vows
Dados da Edição: Editora Nova Cultural 1996
Publição original: 1995
Gênero: Romance contemporâneo

CAPÍTULO I

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Rebecca debruçou-se na varanda, olhou para baixo e sentiu um arrepio.


Era ele. Impossível confundir com outra pessoa a figura imponente e carismática de
Matt Hawke. Mesmo a distância, com o sol da tarde ofuscando-lhe a visão, Rebecca sabia
que era ele. Alto, confiante, bronzeado, de camiseta branca e bermuda jeans desbotada.
Ela quase derrubou a bandeja que carregava, espatifando os seis pratos sujos no
chão do terraço lotado do restaurante. Forçou-se a caminhar, mesmo com as pernas
trêmulas, até a pequena cozinha, e depositou com cautela a bandeja em cima do balcão.
— Você parece chocada! — Sofie exclamou, enquanto dava o toque final em quatro
pratos. — Eu disse que não devia se esforçar tanto, Becky. Ainda está em recuperação.
— Ele está aqui — Rebecca sussurrou. A voz quase não saiu, tal era a tensão que a
dominava.
— Ele? — a irmã perguntou, curiosa. — Quem é ele? Algum artista famoso?
— Matt.
— Oh! — Sofie ergueu os olhos e passou a bandeja para o garçom. — Bem, se for
como nos velhos tempos, é o fim de nossa tranquilidade.
Becky cruzou os braços, mais nervosa ainda. Adorava a irmã, mas algumas vezes
ficava irritada com suas atitudes. Será que Sofie não tinha ideia de como ela se sentia?
Afinal, teria que enfrentar Matt depois de dois anos de separação!
Saiu da cozinha e deu mais uma olhadela discreta no terraço do restaurante.
Parecia que um mal terrível a abatera de repente, tal era seu sentimento de apreensão.
Examinou lentamente mesa por mesa. Eram quase nove e meia da noite e o céu acabara
de tornar-se violeta, como sempre acontecia, nesse horário, nas Ilhas Gregas. Em quinze
minutos escureceria por completo, e as luzes do cais de Skopelus dariam um toque
especial àquele mundo mágico e envolvente.
Será que Matt teria entrado no restaurante? Será que era mesmo ele? Ou tudo não
passava de alucinação? Na verdade, Becky tinha sonhado com aquele homem nos
últimos meses, sonhos amargos e doces, sonhos confusos que transformavam suas
noites em pesadelos.
Seu longo cabelo liso, cor-de-mel, caiu sobre os olhos, e Rebecca ergueu a mão
para ajeitá-lo atrás da orelha. Nesse instante um toque em seu braço a fez tremer com
tanta violência que ela quase perdeu o equilíbrio.
— Olá, Becky — soou uma voz firme e melodiosa. — Assustada, como sempre?
Ela tentou respirar fundo.
— Matt! Que veio fazer aqui?
— Espero conseguir jantar. Que mais poderia ser? Este é o famoso restaurante
Velho Moinho, não é? Ouvi dizer que serve a melhor comida francesa da região.
— Como vê, estamos lotados — observou ela, tentando esconder o tremor na voz.
— Então terei de aguardar — Matt devolveu, gentil.
Ainda perplexa, Rebecca sentiu que os olhos azuis, penetrantes, examinavam-na de
cima a baixo. Em volta, os clientes conversavam e riam enquanto saboreavam delícias
em pratos maravilhosamente decorados. Turistas alemães tiravam fotos. Uma família
inglesa aproveitava a última noite de viagem.
Mas essa atmosfera descontraída parecia fazer parte de outro mundo, de outra
dimensão. O clima entre Becky e Matt era denso e pesado. A tensão crescia a cada
segundo. Ela se sentiu sufocada, apesar de estar apenas de short e camiseta preta, com
decote em V. O cabelo, lavado havia pouco, caia suavemente sobre os ombros. Rebecca
era uma mulher atraente, mas andava magra demais, sabia que Matt examinava as
mudanças em seu corpo, e suspeitou que as estivesse desaprovando.

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— Esta é a última palavra no mundo da moda? Estilo faminto? — ele perguntou em


voz baixa. O sorriso irônico fez o coração de Rebecca acelerar. Mas por trás da ironia
dele havia uma certa raiva. Ora, por quê? O que lhe dava o direito de sentir raiva?
Rebecca, afinal, fizera-lhe um favor: rompera o relacionamento antes que Matt
tomasse a inconveniente iniciativa de fazê-lo.
Um misto de desafio, orgulho e confusão brotou no coração de Becky, que colocou
as mãos trêmulas nos bolsos, num gesto de proteção.
— Não trabalho mais como modelo.
— Não? Mas você tem apenas vinte e dois anos... Sua carreira deveria estar no
auge!
— Você sabe muito bem por que parei de desfilar.
— E verdade. Mas pensei que fosse voltar.
— Bem, não voltei.
Ela observou com atenção o cabelo preto encaracolado cobrindo o pescoço largo.
Matt parecia ter saído de um iate, um dos muitos que pontilhavam pelas Ilhas Gregas.
Parecia mesmo um pirata vindo do passado, pronto para invadir terras recém-
descobertas.
Rebecca sentiu um aperto no peito ao fitar os devastadores olhos azuis. Matt Hawke
possuía um carisma irresistível, feições rígidas e uma impressionante estrutura muscular.
— E essa é a última moda para empresários? — ela devolveu, com um toque de
aspereza. — Camiseta, jeans e dois dias sem se pentear?
— Estou em férias — Matt respondeu num tom casual, e sorriu. — Não gosta dessa
aparência selvagem?
Ela sentiu que, se respondesse, seria agressiva. Então, virou-se para Vangelis, um
dos garçons.
— Pode trazer um ouzo para este senhor, por favor?
Nesse instante Sofie caminhou na direção dos dois, com uma bandeja vazia nas
mãos.
— Que bom vê-lo outra vez! — Para fúria de Becky, a irmã se apressou em beijar o
rosto de Matt, sorrindo. — Onde esteve nos dois últimos anos? Richard e eu sentimos sua
falta.
— É bom saber que alguém sentiu minha falta. — O sorriso de Matt foi indecifrável.
— Estive a maior parte do tempo em Hong Kong.
— Salvando alguma empresa da falência?
— Mais ou menos. — A resposta foi enigmática, e ele não deu outras explicações.
— É mais provável que tenha enterrado de vez algum negócio, e ficado com os
lucros — Becky acrescentou, num tom falsamente doce.
— Essa deve ser uma descrição mais precisa — Matt concordou, bem-humorado.
— Ouçam, se vocês vão discutir, façam-me um favor. Saiam do meu restaurante —
Sofie pediu, preparando-se para voltar à cozinha. — A última coisa que quero por aqui é
um bate-boca.
— Sofie! — Becky reprimiu a vontade de gritar.
— Ela está certa. — Matt balançou a cabeça. Seu bom humor havia desaparecido.
— Temos muitas coisas a acertar. Venha tomar um drinque comigo na beira do cais.
— Prefiro morrer de sede.
— Ora, não seja infantil.
— Estou trabalhando — ela avisou, virando-se para a irmã. — Não tenho tempo.
— Tire a noite de folga — Sofie aconselhou no mesmo segundo, num tom grave. —
Vá e converse com Matt. Até que decidam o que fazer, ele ainda é seu marido.
Houve uma breve pausa, e os três permaneceram calados por alguns instantes.
— Sim, ainda sou seu marido. — O tom de Matt foi levemente provocador. Becky
sentiu a garganta seca, e Matt notou que ela logo entraria em pânico. Então usou uma

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voz mais suave: — Não há com que se preocupar. Será apenas uma conversa amigável.
Aquelas palavras a tiraram da paralisia provocada pelo medo. Ela resolveu agir:
— Não me trate como criança. Amadureci bastante desde que nós... nos
separamos.
— Talvez você tenha mesmo amadurecido — ele falou, com uma expressão
pensativa. — Mas talvez não.
Os olhos de Matt tinham novamente um brilho enigmático, mas em algum lugar, em
meio às profundezas azuis, havia uma certa emoção. Isso fez o coração de Becky
acelerar mais uma vez.
Era isso que ela temia. Era por isso que escrevera aquela carta. Para não ter mais
que adiar a decisão. Sabia que aquele homem era capaz de tocar o íntimo de seu ser, e
esse sempre fora o maior problema.
Num silêncio apreensivo, seguiu-o lentamente pelo chão de pedras. Contemplou o
céu, àquela altura inteiro em tons de violeta e púrpura, e teve de se concentrar para não
cair.
— Você está bem? — A voz fria e profunda de Matt denunciou uma ponta de
preocupação.
— Ótima, obrigada. E só um vírus que contraí.
Esse, aliás, era o único motivo que a fazia permanecer na Grécia. Do contrário,
estaria do outro lado do mundo, num lugar onde nem o poderoso Matt Hawke poderia
encontrá-la.
— Um vírus? Há quanto tempo?
Haviam chegado à orla, onde os cafés se estendiam, lado a lado. Era até difícil
visualizar onde começava um e terminava outro, tal o movimento de turistas.
— Até parece que você está preocupado... — A resposta foi calma, mas em tom de
desafio.
Pararam num café com mesas baixas de vidro, cercadas por cadeiras rústicas. Uma
belíssima fonte decorativa refrescava o ambiente. Escolheram um local perto da fonte e
sentaram-se frente a frente.
— Estou começando a ficar confuso. Você me abandonou há dois anos e desde
então evitou todos os contatos. Como pode saber se estou preocupado ou não?
Ela o encarou por um longo momento, antes de desviar o olhar.
— Não quero falar nisso. Eu sabia que seria assim. A maneira como você se
defende, a maneira como manipula tudo, tratando nosso relacionamento como mais um
de seus negócios...
— Becky...
— Não, não é verdade — ela continuou, incapaz de esconder a amargura. — Seus
negócios sempre foram muito mais importantes.
Um jovem garçom aproximou-se, lançando um discreto olhar de admiração para o
corpo bronzeado de Rebecca.
— Querem fazer o pedido agora?
— Uma garrafa de água mineral e dois ouzo, por favor — Matt respondeu, sem,
consultá-la.
— Arrogante como sempre? — comentou ela quando o jovem grego se afastou da
mesa.
— Naturalmente.
Um sorriso se abriu no rosto de Matt. As linhas nos cantos dos olhos haviam se
aprofundado desde a última vez que Becky o vira, acentuando o ar de prepotência e
dando-lhe até um certo cinismo. Sem querer, ela começou a lembrar aquela boca sensual
sobre a sua, a paixão e a força daquele homem, que a deixava sem defesas e aguçava
todos os seus sentidos...
— Não me acuse de ter evitado contatos. Você sabia onde me encontrar.

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— Quer dizer que desejava que eu a procurasse?


— Não. Afinal, não havia nenhum motivo para isso.
Matt ficou em silêncio. Becky tentou desviar o olhar quando o garçom chegou com
os drinques, mas não conseguiu. A camiseta branca ressaltava os músculos firmes dos
ombros e do peito. A bermuda jeans desbotada alongava as pernas vigorosas, tão
bronzeadas quanto os braços. Os mocassins esportivos davam-lhe um toque ao mesmo
tempo jovial e refinado.
— Quando terminar de me analisar, experimente seu drinque — Matt observou num
tom frio.
Ela saboreou a bebida à base de anis, tentando controlar a raiva. Encostou-se na
cadeira e cruzou as pernas, preparando-se para mudar de assunto.
— Você tem um ferimento na coxa. Que aconteceu?
— Escorreguei no veleiro durante uma tempestade, há três semanas. O vento
chegou de repente e me pegou de surpresa.
— Esteve velejando por três semanas?
— Um pouco mais do que isso — Matt respondeu, recostando-se e dando um
sorriso sutil.
— Mas eu pensei... — ela começou, calando-se em seguida.
Que havia pensado? Que Matt aparecera por causa da carta? Presumiu que talvez
fosse esse o motivo, embora o texto, direto e objetivo, não solicitasse a presença dele. De
mais a mais, com Matt velejando há tanto tempo, era impossível saber se a carta lhe
havia chegado às mãos.
— Em que você pensou? — ele insistiu, num tom incrivelmente suave.
— Eu... pensei que você não fosse capaz de ficar tanto tempo de folga — Becky
respondeu, numa voz pouco convincente.
— Eu estava de folga há três anos, quando a conheci — ele lembrou com calma. —
Ou já esqueceu?
— Não são recordações muito frequentes. — Becky forçou um sorriso para se
manter calma.
— Não? Posso imaginar. — Havia um traço de amargura na voz de Matt.
Becky deu mais um gole no drinque e fechou os olhos. O álcool parecia aquecê-la
por dentro.
— Por que está aqui? Por que veio me ver?
Houve um breve silêncio.
— Eu tinha alguns negócios para resolver em Atenas, e pensei em visitar Sofie e
Richard. Então tive a surpresa de vê-la no terraço do restaurante, bancando a garçonete.
Logo quem! Minha querida esposa desaparecida!
— Não me trate como criança!
— Tudo bem. Onde se escondeu todos esses anos?
— Eu não me escondi. Estive trabalhando em outro país.
— Como modelo?
— Não.
— Você não esteve por aqui. Chequei isso com Sofie. Falava com ela de tempos em
tempos.
— Por quê?
— Por quê? Porque queria notícias de minha esposa!
— Ah, sei. E você precisa saber tudo o que acontece com aquilo que lhe pertence,
certo?
— Exatamente — ele concordou, com uma expressão enigmática.
— Conte-me uma coisa — continuou Rebecca, um pouco trêmula. — Esteve
velejando sozinho todo esse tempo?
— Não todo o tempo.

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— E suas companhias foram masculinas ou femininas?


— Ambas.
Becky sentiu um calor no rosto, apesar dos esforços em se manter calma.
— Não posso imaginá-lo passando o mês no mar sem uma mulher na cabine —
comentou em tom ácido.
— Se não quer me ver nos braços de outra, por que abandonou minha cama?
— Você sabe muito bem por que fui embora!
— Sei que tivemos uma conversa ridícula por telefone, quando eu estava fora do
país. Sei que me fez acusações baseadas em boatos...
Nervosa, Becky balançava a cabeça, com os olhos fechados.
— Pare com isso! Você estava se divertindo, flertando em Hong Kong! Ia se casar
com Su-Lin antes de eu entrar em cena! Fui apenas um... desvio temporário na rota!
Matt a encarou por um longo momento, com uma expressão indecifrável. Finalmente
balançou a cabeça.
— Diante de uma certeza tão grande, como um homem pode se defender?
Ela o fitou com uma fúria quase incontrolável.
— Ouça, não sei o que você quer, não entendo por que está aqui...
— E eu nunca soube o que você queria — ele cortou friamente. — Nunca entendi o
que se passa em sua mente, Rebecca.
— Nada, claro. Não se lembra? Você se casou com uma boneca pela simples razão
de ela ser estúpida o suficiente para ficar grávida, quando você queria apenas se divertir.
— Por que sempre faz isso?
— Faço o quê?
— Está se menosprezando. Fingindo ser apenas uma boneca sem ideias próprias
quando, na verdade, é inteligente e tem um potencial ilimitado.
— Muito obrigada pelo voto de confiança! —exclamou ela, dando mais um gole no
ouzo. Desde que o vírus a atacara, e durante o longo período de recuperação, evitara
bebidas alcoólicas. — Desculpe — falou, afastando a cadeira e levantando-se. — Estou
cansada. Preciso ir para casa.
— Becky... espere! — Matt atirou o dinheiro na mesa e a seguiu. A mão firme
segurou-a pelo braço, e a voz grave, embora impaciente, não tinha sinal de raiva. — Não
se afaste de mim — pediu quando ela conseguiu soltar-se.
— Não me dê ordens.
Ele estava tão perto que Rebecca pôde sentir-lhe o calor. Sua pulsação acelerou
quando Matt se aproximou lentamente.
— Vou levá-la. — O tom foi seco. — Presumo que esteja hospedada na casa de
Sofie e Richard...
— Posso muito bem ir sozinha — ela replicou num tom ácido, mas Matt continuou a
caminhar a seu lado. Pior do que isso, colocou um braço em seu ombro. Aquele gesto
trouxe lembranças dolorosas do passado.
Tudo voltou à sua memória. A maneira como seu coração vibrara na primeira vez
em que ele a tocara, a timidez e o excitamento de ser tomada pelas mãos com uma
intimidade e uma sensualidade que nunca sonhara haver num ato simples como aquele...
Fechou ligeiramente os olhos, dizendo a si mesma que não sentia mais nada por
aquele homem. Tinha conseguido escapar daquela presença magnética, tinha se
escondido durante dois longos anos. Mas não se libertara do fascínio de Matt. E agora, ao
lado dele, sentia-se em perigo.
— Matt... — começou, ao chegar à casa de Sofie e Richard.
— Sim?
— Por favor... — Fez com que ele tirasse a mão de seu ombro.
— Que quer me pedir?
Havia um toque sensual nos olhos de Matt, e isso a deixou mais perturbada ainda.

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Mas havia também um ar de divertimento que a deixou furiosa.


— Por favor, não torne as coisas mais difíceis do que já são.
— Que é difícil, Becky? Levar minha mulher para a cama, como nos velhos tempos?
É disso que está falando?
Trêmula, ela se forçou a sorrir.
— Não. Estou me referindo a nosso divórcio.

CAPÍTULO II

— Divórcio? — O rosto de Matt ganhou a expressão tensa que Becky conhecia tão
bem. O olhar cínico a impedia de captar os sentimentos escondidos por trás da máscara
impenetrável. — E isso que quer? Divórcio?
— Que acha? Não vejo nenhum motivo para permanecer amarrada legalmente a
você por mais tempo. E presumo que é exatamente esse o motivo que o trouxe a
Skopelus. Não recebeu minha carta?
Ele balançou lentamente a cabeça, num gesto negativo.
— Não, não recebi. Mas, se quer o divórcio, você o terá, minha querida. — Havia
uma toque divertido naquela voz.
Becky sentiu o sangue correr mais rápido nas veias. Por que estava reagindo
daquela maneira? Esperava que ele contra-argumentasse, discutisse? Seria mesmo uma
tola se achasse que Matt encararia o assunto de outra maneira.
— Obrigada — ela conseguiu dizer friamente.— E não se preocupe. Já que não há...
nenhuma criança envolvida, não vou precisar de um tostão de seu precioso dinheiro.
Tudo o que quero é minha liberdade.
— Você... conheceu outra pessoa?
— Não é de sua conta.
— Tenho certeza de que não permaneceu sozinha durante esses dois anos,
querida.
— Não queira me rebaixar a seu nível.
Matt teve uma reação imediata e segurou-a pelos ombros. Ela tentou se defender,
mas, antes que pudesse fazer isso, foi abraçada com violência.
— Meu nível? E você? Sempre foi a Miss Perfeição? E quanto a Ted Whiteman?
Becky ficou perplexa. Ted era o diretor da agência de modelos onde trabalhava, e
nada houvera entre eles além da relação profissional. Qualquer outra ideia era absurda.
— Ora, sua arrogância é simplesmente...
Matt impediu que Becky terminasse a sentença.
Seus lábios cobriram os dela, firmes e quentes, fazendo-a reagir no mesmo instante.
Quanto mais tentava se libertar, mais Matt aprofundava o beijo; rompendo-lhe as defesas.
Ela tremia da cabeça aos pés. De raiva. E de desejo.
Num gesto possessivo, ele pressionou-lhe o corpo, devorando a boca macia,
explicitando que queria mais e mais. Seus dedos acariciavam-lhe as costas, e, quando os
seios roçaram o peito musculoso, provocaram reações inesperadas. Becky ficou em
chamas. Fazia tanto tempo que não se sentia assim, com o coração pulsando forte, a
cabeça girando...
Com um gesto violento, ela conseguiu se soltar. Ofegante, encarou o homem a sua
frente. Mas ele a agarrou outra vez, acariciando seus braços, hipnotizando-a com o azul

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dos olhos indecifráveis.


— Becky... nós precisamos conversar — ele murmurou com voz rouca. — Isso é
uma loucura.
— Você tem razão. É uma loucura. Não estou interessada em conversar. E não
estou interessada em ir para a cama com você.
— Imagino que não, pois quer o divórcio. —O tom sarcástico a fez corar. — Mas nós
precisamos falar. Você saiu de casa sem me dar uma explicação. Não acha que me deve
no mínimo uma conversa civilizada?
— Não são os advogados que costumam acertar os detalhes? — ela replicou,
rezando para que Matt não percebesse quanto sua presença a abalava.
O casamento não durara mais de seis meses, e metade desse período Matt passara
viajando pelo mundo, a negócios.
— Não estou vendo nenhum advogado por aqui — ele brincou, olhando para os
lados. — Janta comigo amanhã?
— Prefiro um almoço. Jantar tem... outras conotações.
Ele estudou o rosto corado por alguns segundos.
— Não confia em mim? Ou não confia em você mesma?
Becky percebeu que não confiava nela mesma nem para responder àquela
pergunta.
— Quer almoçar ou não?
— Tenho que ir a Atenas amanhã — Matt disse lentamente. — Mas voltarei a tempo
para o jantar.
— Negócios, suponho — Becky comentou com sarcasmo.
— Naturalmente. — O brilho nos olhos azuis era perigoso.
— Tudo bem, então. Podemos jantar. — Ela forçou um tom casual e deu dois
passos para trás.
Era melhor manter um clima cordial, para não provocá-lo. Quanto mais protestasse,
mais Matt perceberia sua vulnerabilidade. E Rebecca não pretendia sucumbir ao charme
daquele homem mais uma vez. Caso se sentisse tentada a isso, bastava lembrar os
últimos momentos que tinham vivido juntos.
— Vou reservar uma mesa no Velho Moinho para as nove. Está bem para você? —
Becky perguntou, como quem marca um compromisso profissional.
— Sim. Encontro-a lá.
— E mesmo? — ela perguntou com ironia. — Pois se você não aparecer, se estiver
ocupado demais com seus negócios, não ficarei nem um pouco surpresa. Será
exatamente como nos velhos tempos. Boa noite, Matt.
Entrou e fechou a porta, deixando-o do lado de fora. Teve de reunir todas as suas
energias para caminhar, pelo hall, até o quarto, tirar as roupas e se preparar para deitar.
Se já estava exausta antes de ver Matt, agora sentia que suas forças se esvaíam
velozmente. Só esperava que, dessa vez, a recuperação fosse mais rápida do que na
África, onde tinha contraído o vírus.
Na noite seguinte, jantaria com Matt. Por que tinha concordado? Porque ele a
encurralara, como sempre. E porque, também como sempre, ela cedera aos caprichos
daquela personalidade poderosa.
Deitada na cama, agitada, nua sobre os lençóis de algodão, Rebecca fechou os
olhos com força para tentar apagar a imagem de Matt e a dor do passado. Mas não
funcionou. Conseguia até vê-lo em detalhes. Como ele podia parecer tão bem, tão
relaxado, tão autoconfiante, enquanto ela se sentira num inferno naqueles dois últimos
anos?
Abriu os olhos outra vez, na escuridão. As paredes brancas do quarto pareciam
mostrar cenas de seu passado. Cenas que, ela desejava ardentemente, fossem apagadas
para sempre.

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Tinha apenas dezenove anos quando conheceu Matt. O verão mal começara e ela
estava naquela mesma casa, naquele mesmo quarto, em férias, depois de viajar pelas
Ilhas Gregas para uma série de fotos. Mas sentia-se muito diferente naquela época.
Sentia-se feliz com seu trabalho e com sua vida de estudante de psicologia na
Universidade de Londres.
Lembrou-se da maneira vertiginosa como as coisas aconteceram em sua vida. Um
dia, trabalhava como garçonete num pequeno restaurante na cidade de Camden. E no dia
seguinte era procurada por uma estilista da famosa agência Ted Whiteman. Saiu da
obscuridade para o sucesso, para o mundo das revistas, da moda, da beleza. E logo
tratou de fazer cursos especializados, que a tornaram uma profissional do mais alto nível.
Naquele verão, Matt Hawke tinha acabado de fechar um contrato com uma empresa
de navegação de Atenas. E fora convidado para se juntar a dois outros diretores da
empresa num cruzeiro pelas ilhas.
Ele levara os diretores ao Velho Moinho. Becky estava lá, ocupada em servir as
mesas. Quando se aproximou para retirar os pratos de sopa, houve o acidente fatal:
derramou tudo no colo de Matt.
— Ainda bem que estava fria — ele brincara, afastando a cadeira com um sorriso. —
É melhor deixar que eu limpe isso, não acha?
Ela já estava com o guardanapo na mão, mas entendeu o comentário quando
percebeu a localização da sopa na calça. Encarou-o pela primeira vez.
— Sinto muitíssimo — conseguiu dizer, hipnotizada pelo olhar daquele homem
incrivelmente atraente.
O sorriso de Matt se abriu, e ele estendeu uma das mãos.
— Sou Matt Hawke. E você deve ser a irmã mais nova de Sofie, Becky. Não se
lembra de mim?
— Matt Hawke? O padrinho de Richard?
O rapaz vestido de maneira esportiva, com jeans e uma camisa informal, não se
parecia em nada com o homem sofisticado que ela conhecera há sete anos, no
casamento da irmã.
Lembrou-se daquela tarde chuvosa de junho, do champanhe, dos convidados bem-
vestidos e da sensação de desconforto causada por seu vestido cor-de-pêssego. Tinha
apenas doze anos; seus seios apenas despontavam. Sentia-se tão pequena e
insignificante diante daquelas mulheres maravilhosas...
— Sim, o padrinho de Richard. Você era uma das damas de honra. Lembra-se?
— Claro. Bem, sete anos é muito tempo. Você tem uma memória boa. Parabéns.
— Vi uma foto sua no jornal de domingo, há algumas semanas.
— Viu?
— Usava um sutiã. Mas tenho certeza de que não precisava dele — comentou Matt,
com um bom humor que a fez cair na gargalhada, apesar de levemente ruborizada com o
comentário.
— Com certeza sou melhor como modelo do que como garçonete.
— Não há a menor sombra de dúvida quanto a isso.
Matt prendia sua atenção, parecia levá-la a um universo invisível, onde só existiam
os dois. Seu coração acelerou, e as mãos começaram a suar, quando os olhos azuis, de
brilho arrogante, examinaram com curiosidade seu corpo esguio.
Depois desse encontro, Matt decidiu ficar mais alguns dias em Skopelus. Hospedou-
se num hotel luxuoso em frente à baía, alugou um jipe e procurou a companhia de Becky
com insistência.
Durante três dias, os dois passearam, fizeram piqueniques sob as árvores, nadaram
nas águas límpidas e percorreram todos os lugares interessantes da região, incluindo
noitadas em boates e bares, regadas a vinho branco e ouzo.
Sofie contou a Becky sobre a carreira meteórica de Matt e sobre as fofocas em

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relação a sua vida amorosa. Avisou-a para não levá-lo a sério. Ele tinha somente vinte e
oito anos, mas já trabalhara num banco de investimentos em Nova York e fora diretor
financeiro de um grupo internacional poderoso. Sua reputação com as mulheres não era
das melhores. Dizia-se que conquistava e abandonava todas as que cruzassem seu
caminho.
Mas depois daqueles três dias, falando sobre todos os assuntos, da vida
universitária à ópera, de barcos e iates a rock, do curso de psicologia de Becky à sede de
poder e riqueza de Matt, ela percebeu que desejava muito que aquele homem a tocasse,
beijasse, demonstrasse fisicamente o que seus olhos pareciam dizer a cada segundo.
A timidez e a inexperiência, deixavam-na tensa sempre que a mão de Matt roçava
seu braço. E por dentro Becky se via envolvida num turbilhão de emoções.
Na quarta noite, ele estacionou o carro em frente à casa de Sofie e, em vez de
despedir-se, virou-se para analisá-la. Contemplou-a por um longo momento antes de,
lentamente, acariciá-la no ombro.
Ela sentiu-se incapaz de respirar. Permaneceu imóvel enquanto Matt acarinhava seu
braço e os contornos dos ombros, o pescoço, o queixo delicado, a orelha. Em seguida ele
fez com que a mão forte deslizasse para os seios, roçando-os delicadamente, e segurou-
lhe as mãos, examinando-as com olhos brilhantes, unindo os dedos, pressionando as
palmas nas dele com uma intimidade inacreditável.
— Boa noite, Becky. — A voz profunda soou mais rouca do que o normal.
— Não vá ainda — ela conseguiu murmurar.
E, numa fração de segundos, viu-se envolvida pelos braços firmes.
— Você é tão jovem... — ele sussurrou, acariciando-lhe o rosto suave. — Sofie vai
querer me estrangular.
— Minha irmã não tem nada com isso — ela respondeu antes que seus lábios se
unissem e que as mãos masculinas se movessem por seu corpo, famintas, deixando-a
ardendo de desejo.
— E, de qualquer maneira... desde quando um beijo é crime?
— O problema é que este beijo levará a algo que quero fazer com você neste
minuto. — A voz era desejo puro, incontrolável.
— Não sou tão jovem assim — ela argumentou, encarando-o, revelando tudo o que
Matt precisava saber sobre sua falta de experiência, sua vulnerabilidade.
— Não, você não é.
Mas ele parecia preocupado. E de repente se despediu, acompanhando-a até a
casa. Na manhã seguinte, Sofie lhe contou que ele havia partido.
Becky sentiu-se só e desamparada. Sequer conseguiu desfrutar o resto das férias,
apesar do céu azul e dos dias ensolarados. E a vida permaneceu assim até Matt
reaparecer, em Hampstead, oito semanas depois, levemente embriagado, anunciando
que não conseguia ficar longe dela.
Agora, deitada no pequeno quarto da casa de Sofie, em meio à escuridão da noite,
Becky tremia, apesar do calor. Nunca esqueceria aquela noite. Deprimida, tapou o rosto
com o travesseiro, tentando apagar as lembranças. De nada adiantou. Então sentou-se e
acendeu a luz, insone. Pulou da cama e colocou uma camiseta branca com um short
preto. Penteou o cabelo e prendeu-o num rabo-de-cavalo. Antes de sair do quarto,
colocou na tomada o repelente e contemplou os mosquitos que voavam livremente.
— Sumam daqui! — falou com ênfase antes de abandonar o calor do aposento e
sair para o frescor da noite. Fechou sorrateiramente a porta, para que Sofie e Richard não
a repreendessem.
As primeiras horas da madrugada pareciam magicamente calmas, apesar das
sombras nas ruas estreitas repletas de construções antigas. Rebecca caminhou pelo cais
lentamente, passando pelos cafés fechados. Uma brisa refrescante vinha do mar.
Será que o veleiro luxuoso de Matt estava ancorado lá? Ela percorreu com os olhos

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os barcos sofisticados, imaginando em qual deles o marido estaria naquele exato


momento, dormindo...
O mar ganhava tons de azul e prata à medida que as horas iam passando. De
repente, ela ouviu alguns passos ao longe e sentiu um arrepio. Forçou-se a sair dali.
Talvez caminhar sozinha de madrugada não fosse uma boa ideia. Talvez devesse voltar
para casa.
Alguém a seguia. As passadas eram suaves, mas o som se tornava cada vez mais
alto. Ela resolveu se virar e viu uma figura alta, masculina, aproximando-se. Seu coração
acelerou. Provavelmente o homem acabara de sair de um dos iates, após uma noitada
animada. E talvez quisesse continuar o programa, obrigando-a a ir para a cama.
Sentindo-se em perigo, ela pensou em correr. Mas a doença lhe tirara boa parte das
energias.
O pânico começou a tomar o lugar do raciocínio. Ela se virou de novo, sem parar de
andar, e percebeu que o homem se aproximava cada vez mais. Começou a correr. O
homem também. Ficou aterrorizada quando mãos firmes seguraram-na pelo braço.
Tentou se soltar, como um animal selvagem.
— Acalme-se. Que está tentando fazer?
Então viu Matt.
— Você! — Becky quase gritou, furiosa por perceber que ele mantinha o controle. —
Acha melhor me matar do coração do que me dar o divórcio?
— Isso não me passou pela cabeça — disse ele, um sorriso cruel nos lábios. — Vi
você andando sozinha e me senti na obrigação de saber o que estava acontecendo.
— Bem, muito obrigada pela gentileza. Não entendo como consegui sobreviver,
nesses dois anos, sem você. Afinal, não sei tomar conta de mim, não é mesmo?
Matt ignorou o sarcasmo.
— Não conseguiu dormir? — perguntou com voz suave.
— Claro que não. E parece que você também não conseguiu.
Ele inclinou a cabeça lentamente. Parecia pensativo ao examiná-la.
— O que há de errado, querida? Você parece doente.
— Eu estava ótima até você aparecer — ela começou, sentindo-se sem equilíbrio. —
Mas, para dizer a verdade, receio que não esteja tão bem assim...
As palavras foram sumindo, e, para seu horror, Rebecca viu-se prestes a desmaiar.
Matt a pegou no colo com um movimento ágil e decidido. Fez com que ela encostasse a
cabeça no ombro forte e a carregou até o veleiro, como um pirata levando seu tesouro.

CAPÍTULO III

— Não sei o que deu errado em nosso casamento — Matt começou a falar enquanto
a acomodava numa das cabines do luxuoso veleiro —, mas nossa separação não lhe
parece ter feito muito bem.
— Não seja tão condescendente.
— Você está pálida — ele continuou, sentando-se à sua frente e examinando-lhe o
rosto.
— Obrigada pelo elogio — Becky conseguiu dizer.
Estava furiosa, mas a verdade era que se sentia frágil, pouco atraente. Correndo
daquela maneira, ficara sem forças.

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Sentia-se assim de vez em quando desde que voltara da África.


Para ajudá-la a se recuperar, Sofie insistira para que ficasse a seu lado, em
Skopelus. Ela devia relaxar e descansar, mas não conseguia. O passado e o desastre de
sua relação com Matt não a deixavam em paz. Eram esses seus verdadeiros inimigos.
Matt observava cada detalhe de seu corpo. Em pânico, ela se lembrou de que não
estava usando sutiã, pois se vestira às pressas. Cruzou os braços, assustada. A presença
daquele homem ainda a abalava. E muito.
Sentado à sua frente, no silêncio do veleiro, ele parecia ainda mais perturbador. Era
quase impossível acreditar que aquele tinha sido seu marido... e que ambos ainda
estavam legalmente casados. Agora Matt parecia um estranho. Frio, perigoso.
— Sofie não devia deixar que você trabalhasse nesse estado.
— Quer parar de se intrometer em minha vida? — Escolhi ajudar Sofie e Richard.
Eles estão com alguns problemas financeiros neste verão e....
Calou-se, arrependida por ter revelado algo que não tinha o direito de divulgar. Mas
agora era tarde. Viu Matt coçar o queixo lentamente, num gesto todo seu.
— Qual é o problema?
Não havia mais razão para mentir.
— O contrato de locação está prestes a vencer. Eles terão de pagar uma quantia
razoável para renová-lo, ou fechar o restaurante. E logo agora, que conseguiram uma
clientela tão boa... É injusto.
— Qual é o prazo-limite?
— O final da temporada. — Becky sentiu que não conseguiria mais esconder o
pessimismo. A exaustão era forte, e parecia vencê-la.
— Como pretende ajudá-los se mal se aguenta em pé?
— Nunca ouviu falar em apoio moral?
Claro que Matt não podia entender o significado daquelas palavras. Se pudesse,
Becky não teria sentido tanta solidão depois de haver perdido o bebê. Não teria se sentido
tão abandonada, tão pouco amada, apenas um acessório descartável na vida do marido.
— Você está fraca. Precisa de uma longa temporada de descanso. Precisa dormir
cedo, manter uma alimentação saudável...
— Desde quando você se tornou naturalista? — Não é mais adepto das noitadas
animadas, da vida agitada de um homem de negócios?
Matt simplesmente ignorou o comentário.
— Se quiser, pode passar o resto da noite aqui.
— Não!
— Por que não? — Ele a levou, pelo braço, para outra cabine. — Não está em
condições de voltar. Se seu medo é ser seduzida, não se preocupe. Não gosto de fazer
sexo com mortos-vivos.
A expressão jocosa deixou-a irritada.
— Você é mesmo tão gentil... — comentou com amargura. — Sempre pronto para
um comentário doce.
— A cabine é bastante confortável — ele disse, abrindo a porta de madeira escura
para revelar um banheiro bem-equipado. — Vai ser sensata ou terei que trancá-la aí
dentro?
— Matt...
— Tudo bem, não precisa ficar apavorada — ele falou enquanto observava-a sentar-
se na beira da cama. — Durma um pouco. É uma ordem.
Por estar incrivelmente cansada, ela deixou o comentário arrogante sem resposta.
Viu Matt saúda cabine e sentiu que adormeceria assim que encostasse a cabeça no
travesseiro macio.
Acordou desorientada. Nada parecia familiar, ou mesmo identificável. Sonhara que
estava voando, leve e solta, rumo ao céu. Uma rajada de vento a atingira no rosto. Agora,

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deitada de costas, ainda um pouco sonolenta, tentava descobrir onde estava. Afinal,
aquele curioso sonho havia terminado, e um novo dia começava.
A lembrança da noite anterior voltou de repente. Ela dormira no veleiro de Matt. E
agora o sol batia no vidro fume, enquanto a embarcação balançava suavemente. Será
que estavam navegando?
Becky se lançou para fora da cama e tirou o elástico que prendia o rabo-de-cavalo.
Foi até o minúsculo banheiro e lavou o rosto. Depois, ainda meio tonta, abriu a porta da
cabine.
Através da sala com mesas de madeira e um sofá azul-marinho, pôde ver a escada
que levava ao timão. Lá estava Matt, tranquilo, controlando os movimentos do barco. Com
tênis e camiseta branca, o vento batendo no cabelo preto, ele parecia relaxado,
despreocupado.
Como se atrevia? Quase cega de raiva, Rebecca atravessou a cabine e subiu os
degraus que levavam ao passadiço, pronta para enfrentá-lo. Mas, quando a viu, Matt
simplesmente continuou seus movimentos suaves ao comando do veleiro, o que a deixou
mais furiosa ainda.
— Que está fazendo? — ela conseguiu perguntar, controlando-se ao máximo para
não gritar.
— Velejando.
— Já percebi. — Becky saiu para o passadiço.
O veleiro já ganhara o em mar aberto.
— Talvez tenha se esquecido de que eu estava a bordo.
— Não esqueci.
O rosto de Matt era uma máscara indecifrável. Mas havia algo naquela expressão
que Becky era capaz de reconhecer. Algo suave, penetrante e envolvente.
— Então quer fazer o favor de dar meia-volta e me levar para Skopelus?
— Não. — Ele balançou a cabeça, com um sorriso.
— Matt, isso não tem graça!
— Não é uma piada.
— Para onde estamos indo?
— Fiquei com vontade de dar uma volta pelas ilhas.
— E quanto a mim? Não estou com vontade de dar uma volta pelas ilhas, se está
interessado em minha opinião.
— Fique quieta e tome seu café da manhã.
— Não vou ficar quieta! E tome você o café da manhã! Se esse barco não voltar
agora mesmo, eu...
— Você o quê? — Ele abriu o sorriso, arrogante, deixando-a à beira do desespero.
— Eu voltarei sozinha! — ela disparou, antes de descer para a cabine com pernas
trêmulas.
Ainda tremia quando tirou as roupas e entrou no chuveiro. Pegou o xampu e aspirou
o aroma fresco, misto de limão e ervas, um perfume que lembrava as montanhas gregas
banhadas de sol.
Apressou-se em se ensaboar e lavar o cabelo. Apesar da raiva, sentiu-se bem ao
envolver-se nas toalhas brancas. Enxugou-se e, ao escovar os dentes, percebeu que
tinha sido sequestrada. Sim, era isso. E sequestro era crime, não era? Será que Matt
poderia ir para a cadeia por isso? A ideia de vê-lo arrastado para a prisão a deixou um
pouco consolada. Mas sabia que ele se livraria em poucos segundos, pois era amigo de
todas as pessoas importantes da região.
Vestiu-se e se preparou para sair da cabine. Então percebeu que o ritmo do veleiro
mudara. A aceleração do motor havia cessado. Na verdade, estavam quase parados.
Será que Matt se preparava para voltar?
Com toda a dignidade que foi capaz, saiu para investigar o que estava acontecendo.

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No passadiço, evitando friamente o olhar de Matt, reparou que ele havia jogado a âncora.
Estavam em frente a uma praia deserta, uma pequena ilha rochosa a poucos metros
de distância. A única vegetação existente eram algumas oliveiras selvagens. O vento
soprava na direção de Becky, que admirava a água azul, cristalina.
— Um bom local para o café da manhã — Matt explicou calmamente, com uma
frigideira nas mãos. — Você não parece bem o suficiente para cozinhar. Então deixe isso
comigo. Está com fome? Eu me sinto faminto!
—Não tenho vontade de comer. Ouça, isso já foi longe demais. Leve-me de volta.
Agora!
Ele a encarou. O brilho nos olhos era bem-humorado, mas determinado.
— De forma alguma. Encare isso como uma terapia de choque. Você não voltará à
civilização até engordar um pouco e ficar corada.
— Está maluco? Não pode me sequestrar, me obrigar a comer...
Naquele momento ela quase riu da situação absurda. Matt Hawke preocupado com
sua saúde e bem-estar? Colocando-se como responsável por sua recuperação? Devia
estar sonhando. Ou tendo um pesadelo!
— A alimentação forçada pode ser um problema — ele admitiu, com uma voz
divertida. — Mas o sequestro foi fácil. Aceite esse fato, querida.
— Prefiro morrer! Espere até eu contar a meus advogados...
— Divórcio é um negócio cansativo — Matt salientou, colocando quatro tiras de
bacon numa frigideira. O aroma invadiu o ar e só então Becky se deu conta de que estava
faminta.
— De que está falando?
— Você precisa estar bem-disposta para enfrentá-lo. E no momento não está em
condições nem de cozinhar um ovo.
Ela se sentou num degrau e olhou para o mar. Matt Hawke, seu marido, o homem
de quem fugira, a havia sequestrado e recusava-se a levá-la de volta à civilização.
— Espere um pouco! Você não disse que tinha que ir a Atenas, tratar de negócios?
— Adiei o compromisso. Um ou dois ovos?
Becky tapou o rosto com as mãos e fechou os olhos. Será que aquilo estava mesmo
acontecendo?
— Nenhum — ela respondeu. Mas, quando ergueu a cabeça, viu que Matt quebrara
quatro ovos na frigideira.
— Sofie vai ficar preocupada.
— Já cuidei disso. Mandei uma mensagem pelo rádio. O capitão do porto vai
telefonar a ela.
— Quanta eficiência! E então, quanto tempo está planejando bancar este jogo?
— Quanto tempo for necessário. Chá ou café?
— Sempre tomo chá pela manhã. Mas não espero que você se lembre disso.
— Leite? Açúcar? — Ele a provocava de propósito, e Becky não conseguia evitar a
indignação.
— Ainda tomo chá com leite. E sem açúcar.
Ele apagou o fogo e colocou dois ovos em cada prato.
— Se você desaparece e fica fora durante dois anos, não pode esperar que eu me
lembre de como toma seu chá.
— O passado já se foi. Não há motivo para falar sobre o que já acabou.
— Talvez você tenha razão. Venha tomar seu café da manhã.
Ela pensou em recusar, mas a fome venceu o orgulho. Não estava apenas faminta
quando caminhou lentamente na direção da mesa. Sentia-se como se não comesse nada
há semanas. Sentou-se em frente a Matt e começou a saborear sua primeira refeição com
o marido depois de dois anos.
— Conte-me o que tem feito — ele pediu enquanto saboreavam os ovos com bacon.

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— Onde se escondeu de mim?


— Eu não me escondi de você — ela respondeu, já no final da refeição. Matt a
surpreendera. Não sabia que ele cozinhava tão bem. — Não tente me convencer de que
queria saber por onde eu andava. Na verdade, ficarei surpresa se descobrir que notou
minha ausência. Afinal, só o vi algumas poucas vezes enquanto estávamos casados.
Ele fez uma pausa para terminar a refeição, antes de colocar faca e garfo juntos
sobre o prato.
— Isso me parece um certo exagero.
— Não, não é exagero. Nós tivemos nosso caso de amor entre suas viagens a Nova
York, Hong Kong e sei lá para que outro planeta. Fiquei grávida, nós nos casamos. Perdi
o bebê e pronto: meu marido desapareceu.
Um toque de emoção surgiu no olhar de Matt, mas Becky não conseguiu adivinhar
em que ele pensava. E isso a enervava. Nunca sabia quais eram as verdadeiras
intenções de Matt. Jamais compreendera o homem com quem se casara.
— Viajei para o exterior a negócios. Você poderia ter ido comigo.
— Oh, claro que poderia. Ficaria fazendo companhia a você e Su-Lin.
Ele se levantou abruptamente e levou os dois pratos até a pia, trazendo duas
xícaras de chá.
— O problema foi que você escolheu ficar em casa, bancando a esposa neurótica
abandonada.
— Isso não é verdade.
— Não é? Não preferiu permanecer em Hampstead lamentando o fim da carreira no
ombro de Ted Whiteman?
— Isso não é justo. E você sabe que não é. —Tremendo, Rebecca se ergueu e o
encarou com uma expressão que era um misto de amargura, confusão e desespero. —
Sei o que está tentando fazer. Está tentando atirar em mim a culpa pelo fracasso de
nosso casamento. E alguma técnica? Ou uma armadilha legal? Isso significa que não
precisará gastar tanto no acordo final do divórcio? Conte-me, Matt. Não conheço nada
sobre os procedimentos legais, mas tenho certeza de que você está muito bem-
informado. Deve ter consultado os principais advogados, obtido os melhores conselhos.
Ele deu a volta na mesa e agarrou-a pelo ombro.
— Pare com isso! Você está ficando histérica!
— Histérica? Como é conveniente para os homens usar esta palavra quando as
mulheres dizem verdades que eles não querem ouvir! E agora me solte!
Ela lutava para se libertar, mas, com um gesto firme, Matt a aprisionou em seus
braços, inclinou a cabeça e a beijou com desespero.
O contato foi como um raio atingindo o corpo de Becky. Indignada com a própria
reação, ela se perguntava como Matt ainda conseguia provocá-la daquela maneira. Ao
perceber as mãos fortes roçando a camiseta, buscando a suavidade de seus seios, viu
explodir algo que há muito não sentia. Deixou-se abandonar numa excitação quase
incontrolável.
—- Isso não resolverá nada — argumentou. Mas seu corpo exigia cada vez mais.
Matt ergueu a cabeça para encará-la, e os corpos se uniram mais ainda. Foi quando
ela percebeu a ameaça poderosa do desejo dele, roçando seu corpo, deixando-a
alarmada.
— Talvez não — ele concordou, ofegante. — Mas é muito melhor do que perder
tempo discutindo.
— Matt!
Ele cobriu-lhe a boca de novo, e dessa vez a força do desejo foi mais forte. Becky se
sentiu envolvida por uma nuvem de sensualidade, como se ondas de prazer a
carregassem para Matt, que lhe arrancou a camiseta e respirou profundamente. Ela
tremeu de emoção.

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— Magra demais, mas maravilhosa. Ainda é o corpo mais desejável que já conheci.
Matt também tremia. Mas com certeza suas emoções estavam sob controle, porque
ele estava no comando da situação e sabia muito bem disso.
O ressentimento e o orgulho ferido não impediram que Becky ficasse ainda mais
excitada quando ele a fez deitar no chão. Tudo em que ela conseguia pensar era no
perfume daquele homem, nas sensações que seu corpo másculo provocava, no peso e
na força de seus quadris.
Matt Hawke era incrivelmente atraente. A maneira decisiva e direta com que lidava
com os negócios era comparável a seu estilo de fazer amor. Agarrou-a com decisão
enquanto abria a boca para receber os seios, primeiro explorando um, depois outro,
excitando-a até vê-la gritar, implorar, pedir mais, cada vez mais.
Mas havia um brilho de raiva nos olhos azuis. Ou seria de vingança? Envolvida
demais nas ondas de prazer, ela não se preocupou com isso.
Matt apressou-se em tirar-lhe o short. A pequena peça desceu com facilidade,
expondo o ventre sedoso, o umbigo bem-desenhado, o início dos pelos encaracolados.
— Oh, Becky... Passei os dois últimos anos querendo senti-la em meus braços.
Exatamente assim...
Aquele tom suave e perigoso aguçou os sentidos dela. Vendo-o preparar-se para o
golpe final, Rebecca sentiu o autocontrole voltar, para salvá-la. Tinha conseguido ficar
longe daquele homem durante dois anos, e não ia deixá-lo tomar conta da situação
daquela maneira.
Num segundo começou a reagir, a proteger-se ferozmente. Apesar de tomada pelo
desejo, afastou-o com violência.
— Pare com isso!
— Parar? E isso mesmo que quer?
— Sim!
— Tudo bem. — Lentamente, com os olhos fechados, ele se afastou. Becky não
tinha certeza se estava aliviada ou chocada quando se sentiu livre. — Se quer mesmo
que eu pare...
— Sim, eu quero — ela confirmou, com lágrimas nos olhos.
Mas por que estava chorando? As lágrimas quentes brotaram antes que ela pudesse
controlá-las.
— Antes que eu pare...
Ele deslizou a mão com intimidade até tocar o sexo de Becky, por dentro da calcinha
de renda branca. Ela sentiu o coração acelerar quando aqueles dedos penetraram a
suave feminilidade, tocando cada ponto com movimentos sensuais indescritíveis.
— Seu monstro! — ela gritou, tentando se proteger do olhar devastador.
— Você ainda é minha esposa, lembra? — Havia um toque de cinismo na voz rouca
de desejo. — E para ser honesto, Sra. Hawke, sei que não quer que eu pare.
— Você não tem um pingo de decência! Usa as pessoas como bem entende! Não
pode querer ganhar tudo, a qualquer preço! Bem, essa batalha você perderá. Se pensa
que eu me deixarei levar outra vez por seu charme, está muito enganado!

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CAPÍTULO IV

Matt reclinou-se para apreciar os raios de sol. Fechou um pouco os olhos e falou,
lentamente:
— Podemos levar este jogo de duas maneiras: ou brigamos como cão e gato ou
tentamos amadurecer e manter um comportamento civilizado.
— Não se esqueça de citar a terceira opção: você me leva de volta a Skopelos, me
deixa lá e continua seu programa sozinho.
Sentada do outro lado do passadiço, ela contemplava as ondas que batiam no casco
e refletia sobre sua situação. Era prisioneira de Matt, tinha só uma camiseta para usar...
Não podia sequer nadar, pois a última coisa que queria era ficar nua na presença
perturbadora daquele homem.
Tinha dito a Matt que amadurecera durante os dois anos em que ficaram separados.
E precisava provar isso. Ainda se sentia humilhada com a forma como ele a tratava, mas
devia pensar num modo de lidar com o problema que não fosse se esconder na cabine.
Talvez devesse aguardar um momento mais adequado para contra-atacar.
— Ultimamente não tenho feito muitos "programas", como você deve imaginar — ele
disse num tom alegre. Os óculos escuros tornavam sua expressão indecifrável.
— Não mesmo? Bem, você tirou algumas semanas de folga, como todo mundo, mas
isso não quer dizer que tenha se tornado um pacato cidadão comum, desses que se
sentam à frente da lareira numa noite de sábado.
— Foi por isso que se afastou de mim? — ele ergueu a cabeça, fitando-a por trás
das lentes escuras. — Porque não sentamos em frente à lareira, de mãos dadas?
Ela se levantou. Manter a raiva sob controle seria uma tarefa árdua demais. Mas,
caso se descontrolasse, seria uma presa fácil.
— Francamente, acho que você tem uma visão distorcida do que deve ser um
relacionamento. Não entendo o que pretende ganhar com isso, mas...
— Tempo — ele disse simplesmente. — É o que pretendo ganhar.
Becky sentiu a garganta seca.
— Tempo? Para quê?
— Para vê-la comportar-se como mulher, não como uma refugiada de guerra. Já lhe
disse, estou preocupado com você.
Ela passou as mãos no cabelo, nervosa.
— Se me mantiver nesse barco, prometo que perderei mais peso — ela respondeu,
mantendo a voz firme. — E... provavelmente sucumbirei a uma série de doenças
relacionadas ao estresse. Isso, se não morrer de tédio antes. Ou for comida pelos
tubarões quando me atirar ao mar para tentar fugir.
— Não exagere. Não há tubarões no mar Egeu. De qualquer forma, acho que já é
hora de partir — Matt anunciou, erguendo-se. — Vou mudar de roupa. Está cada vez mais
quente.
— Esse é outro problema. E quanto a mim? Tudo o que tenho são as roupas do
corpo!
Ele lançou um meio-sorriso provocador.
— Para mim você está ótima, Sra. Hawke.
— Estou falando sério!
— Bem, devo ter algo que lhe sirva. Uma moça que ficou comigo por uns tempos
deixou algumas roupas. Vou dar uma olhada.
Quase sem fala, Rebecca observou Matt desaparecer na cabine. Era inacreditável.

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A arrogância e a falta de sensibilidade quase a paralisaram. Ela respirou fundo, esperou


que o autocontrole voltasse e sé então entrou na cabine.
— Aqui estão — disse ele, estendendo-lhe algumas peças.
Foi só nesse momento que ela percebeu que Matt estava completamente nu. Sentiu
um tremor incontrolável e não conseguiu tirar os olhos do corpo escultural à sua frente. A
raiva por ele ter lhe oferecido roupas de outra mulher mesclou-se à devastadora
experiência de vê-lo totalmente despido.
O fato de ambos ainda estarem ligados pelos laços do matrimonio não alterava em
nada aquela sensação perturbadora. Ao contrário. Rebecca admirava o poder dos
músculos bem-definidos, a força dos ombros, o abdômen rígido, os pelos negros no peito
com uma certa amargura. Aquele homem nunca mais poderia ser seu.
— Ela era mais ou menos do seu tamanho — dizia ele, muito à vontade,
inspecionando um maio estampado em creme e verde, um short e duas camisetas em
tons de azul. — É bonito, não acha? Foi comprado em Creta.
— Espera que eu use as roupas de uma mulher com quem você teve um caso?
Deve estar louco. E pelo amor de Deus, vista-se!
Matt encarou a expressão afrontada de Becky e caiu na gargalhada.
— Ei, está com ciúme? E ainda por cima envergonhada? Somos marido e mulher,
querida. Ou será que, nesses anos todos, você se tornou puritana?
— Não sou puritana. E não estou com ciúme dessa mulher. Estou... enojada. Mas
não sei por que ainda me surpreendo com suas atitudes.
— Cansei de ouvir seus julgamentos infundados — disse Matt, num tom grave. —
Se isso ajudar a tirá-la desse pedestal de orgulho, estas roupas pertencem a minha irmã
Carrie.
— Oh! — Becky sentiu-se mais envergonhada ainda.
— Estão limpas e são seminovas. Carrie as deixou no veleiro porque ela e o marido
pensaram em se juntar a mim mais tarde. E respeitável o suficiente para seus delicados
sentimentos, Becky?
Com mãos trêmulas, ela pegou as peças.
— Por que não disse logo?
— Desde quando acredita no que digo?
Evitando o olhar atrevido, Rebecca voltou para sua cabine e fechou a porta com
firmeza. A garganta estava seca, e as pernas tremiam. Matt sempre tivera o poder de tirá-
la do sério. Só que ela acreditava já ter superado isso.
Apavorada, deu-se conta de que não superara coisa alguma. Ficar a sós com aquele
homem, confinada a um veleiro, exigiria um autocontrole imenso. E ela tinha de
conseguir. Não podia deixar que Matt se aproximasse. Não queria viver aquela dor outra
vez.
O maio serviu com perfeição. Becky olhou-se ao espelho, distraída. Sua mente
estava em outro lugar. O nome de Carrie trouxera mais lembranças do passado. Alegre e
bonita, com o cabelo negro e os olhos azuis, a moça se parecia muito com o irmão. Vira-a
uma só vez: no casamento.
Imagens daquele dia, em que fizera, com Matt, os juramentos na pequena igreja de
pedras cinzentas, agora lhe pareciam confusas. Mas ainda conseguia lembrar nitidamente
do caminho que percorrera até o altar, radiante no vestido de seda branca. Podia sentir o
aroma da madeira antiga, e dos crisântemos e dálias que enfeitavam o templo.
O sol de final de outubro entrava pelos vitrais, criando desenhos coloridos no chão e
nas paredes. Com o cabelo solto e uma delicada tiara de rosas na cabeça, Becky estava
grávida há oito semanas.
Aquele dia marcara o auge de uma paixão que se desenrolara durante três meses.
O bebê fora concebido no início de agosto, na noite em que Matt aparecera em sua casa,
vindo de Hong Kong... e dos braços de Su-Lin. Mas naquela época Becky desconhecia o

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relacionamento com a rica jovem chinesa.


— Está chovendo muito lá — fora tudo o que dissera sobre Hong Kong. — Deixei as
negociações com um colega. Estou cansado de tempestades violentas. E queria fazer
amor com você.
O olhar penetrante, o desejo estampado na fisionomia marcante, deixaram-na
excitada como nunca. Ele a abraçou, arrancou-lhe as roupas e a levou diretamente para a
cama. Beijou-a e despiu-a lentamente. Toda vez que abria um botão, a cada intimidade
que surgia, Becky sentia que as forças a abandonavam.
— Está tudo bem? — Matt perguntou suavemente, mas ela não percebeu o
significado da pergunta.
Finalmente, tremendo, observou-o tirar o terno de linho bege, a camisa branca, e
lançou-lhe um olhar tímido antes que, completamente possuído pelo desejo, ele clamasse
a virgindade de Becky como conquista.
— Há muito tempo sexo para mim é um ato corriqueiro e sem emoção — comentou
ele, depois de fazer amor. — Mas devo admitir que estou chocado.
— Porque eu era virgem?
— Exato. — A voz profunda tinha um traço sutil de delicadeza. — Por que disse que
estava tudo bem?
— Como poderia saber do que você estava falando?
— Sei que sua mãe faleceu há alguns anos, mas Sofie podia ter lhe falado sobre os
fatos da vida.
— Conheço muito bem os fatos da vida.
— Ora, estou apenas brincando. Você é adorável, desejável, perfeita em cada
detalhe... — ele murmurou, com a voz rouca outra vez, aproximando-se para acariciá-la
nas pernas, nos seios, nos quadris, aconchegando a mão em lugares secretos para que o
prazer de Becky fosse maior a cada segundo, até o momento em que a intensidade fez o
amor explodir no ar.
Rebecca deu mais uma olhadela no visual, no espelho da cabine. A pessoa que
tinha sido há dois anos, irresponsável, apaixonada pelo homem que literalmente a tirava
do sério, desaparecera em algum lugar do passado.
Teve de enfrentar a agonia de descobrir que Matt não a amava, que o desejo que o
levara até sua porta naquela noite estava relacionado a um comportamento comum ao
gênero masculino: a necessidade de conquista, seguida por um forte impulso de passar a
novas conquistas. A sede de poder: este era o vício de Matt Hawke.
Seu maior erro foi permitir que ele a levasse para a cama. Seu segundo maior erro
foi o fato de contar, seis semanas depois, que naquela primeira e Incontrolável noite
concebera uma criança, um filho de Matt.
Em vez de iniciar seu segundo ano na faculdade de psicologia, Becky abandonou os
estudos, as aspirações como modelo, e se tornou a Sra. Matt Hawke. Um paraíso
romântico que não duraria muito.
— Becky? — A voz de Matt a tirou daquele transe. Ele batia à porta. — Você está
bem?
Ela mordeu o lábio e vestiu rapidamente o short.
— Muito bem, obrigada. Que quer?
— Estou apenas verificando se não está enjoada por causa do mar. Que tal se
saísse e tomasse um pouco de café?
— Você é que manda. Afinal, é o sequestrador. — A voz doce, mas sarcástica não
produziu resposta. Rebecca vestiu uma das camisetas e saiu da cabine.
Matt estava outra vez no comando do barco. E tinha se vestido, para alívio de
Becky. Pernas fortes e bronzeadas se destacavam sob a bermuda branca. Mas o torso,
ainda nu, brilhava à luz do sol.
— Puro ou com leite? — ela perguntou.

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Sabrina Noivas 43 - Votos de Casamento - Rosalie Ash

— Puro, e sem açúcar. — O divertimento na voz de Matt registrou a pequena


retaliação. — Eu não esperava que se recordasse de algo tão trivial, querida.
Becky levou duas canecas até o passadiço e se sentou bem longe do timão.
— Deve haver uns óculos de sol por aí.
— Não me diga que é de Carrie!
— Provavelmente. Procure na mesa, perto do mapa.
Ela foi até lá e o achou. De volta ao passadiço, tomou o café com leite, que lhe
pareceu saboroso e lhe deu novas forças. Sentiu então um breve momento de calma. O
ar puro, as ilhas, a paisagem, tudo era incrivelmente belo.
— Não vai me contar por onde andou? — perguntou ele, sentando-se à sua frente.
— Que fez nos últimos dois anos?
— Fui para a África. — Ela deu um longo gole no café e observou o ar surpreso de
Matt.
— E o que foi fazer lá?
— Trabalhar.
— Que tipo de trabalho?
— Trabalho voluntário. Numa região onde havia muita gente passando fome. Fui
ajudar as pessoas, principalmente crianças. E bebês. —Ela sentiu um nó na garganta,
como se as emoções vividas naquele continente distante ainda a atormentassem.
Matt a observava fixamente. Com o céu azul às costas, o tom dos olhos era tão
intenso quanto as profundezas do mar.
— Então foi isso que andou fazendo nesses dois anos... É muito diferente de desfilar
roupas sofisticadas.
— Ou fazer um curso de psicologia.
Houve um silêncio prolongado.
— As crianças passam por dificuldades em vários lugares — ele disse com calma.
— Por que escolheu a África?
— Porque lá os problemas parecem mais dramáticos e urgentes.
— Ou porque a África era o mais longe que poderia ficar de mim?
Ela sentiu um calor no rosto. A raiva voltara, mas procurou não demonstrar.
— Como você é convencido! Acredita mesmo que o mundo gira a sua volta?
— E não é assim? — O tom brincalhão fez com que ela deixasse escapar um sorriso
relutante.
— É provável que não. E o que há de errado em querer ajudar as pessoas?
— Nada. Mas me parece estranho que você tenha ido para a África e esquecido de
deixar o endereço para o homem que lhe jurou amor, honra e fidelidade seis meses antes.
Ajudou algumas pessoas, mas deixou outras desesperadas. Era esse seu plano?
Becky o encarou e balançou lentamente a cabeça.
— Você devia saber. Afinal, é o gênio aqui.
— Ouvi dizer que um aborto pode causar mudanças na personalidade de uma
mulher. Casei com uma garota que possuía um senso de humor adorável, e agora tenho
diante de mim uma mulher rancorosa e desconfiada.
Becky sentiu cada músculo se contrair. A menção à perda do bebê trouxe
lembranças amargas. Era a reação típica de Matt diante da tragédia: mantinha uma frieza
que o afastava. Ela nunca se sentira tão sozinha como naqueles primeiros dias após o
aborto.
— Não quero falar nisso. — E se virou para o mar azul-turquesa.
— Já percebi. Por que outro motivo desapareceria na África durante dois anos, sem
mandar sequer um cartão-postal? — Havia um traço de frieza na voz de Matt.
— Para reconquistar minha autoestima — ela respondeu, no tom mais calmo de que
foi capaz.
— E sua autoestima foi arrasada por um marido rude e cruel, suponho.

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— É você quem está dizendo. — Apertou a caneca com tanta força que seus dedos
doeram.
Matt levantou-se de repente e tirou-lhe a caneca das mãos. Segurando-a pelos
braços, ergueu-a. Ela tentou empurrá-lo. Mas era pura perda de tempo, claro. O espaço
entre os dois corpos foi diminuindo milímetro a milímetro.
— Por que não me disse que ia partir? Por que simplesmente desapareceu sem
uma palavra, sem mesmo deixar um bilhete? Acha que sou feito de aço? Não percebe
que quase perdi a cabeça?
— Você está me machucando...
— Nem um décimo do que você me machucou, Becky!
— Você, machucado? Essa é boa!
— Então acha que não tenho sentimentos?
A raiva em seu rosto, a fúria repentina nos olhos, eram assustadoras e confusas.
Becky começou a tremer outra vez.
— Que está dizendo, afinal? Que não me queria, mas que não admitia que eu fosse
de outra pessoa?
— Mas você não se entregou a nenhum outro homem, não é mesmo? Homens
como Ted Whiteman? Ele vivia a seu lado em Hampstead.
Até sua correspondência era endereçada para a agência.
— Não seja ridículo!
— O gentil e simpático Ted, com um ombro pronto para acolher as lágrimas
provocadas por um marido cruel, que tinha ido para a cama com outras mulheres em
Hong Kong...
As palavras cortaram o coração de Rebecca como faca afiada.
— Pare com isso!
Com um gemido, Matt perdeu o controle. Puxou-a com um movimento brusco e
segurou-a por alguns segundos. Mas logo em seguida, parecendo arrependido, soltou-a.
— Sinto muito.
— Não, você não sente. — A voz era trêmula, um tremor provocado pela presença
perturbadora de Matt.
— Becky... — Lentamente, ele se afastou. — Pode ser que nossa história acabe em
divórcio, mas merecemos uma conversa séria. Até agora, tudo o que tive foi um diálogo
com Sofie, quando a estava procurando.
— Eu não lhe devo nada.
— Claro que não me deve nada! Era meu filho também, sabia? Acha que não sofri?
Ou pais também não têm sentimentos?
Ela sentiu a garganta seca. O que Matt estava tentando fazer? Quem esperava
atingir, fingindo que tinha sentimentos profundos?
— Quando perdi a criança, você passou uma noite comigo, em casa. Depois pegou
um avião e foi para Hong Kong, onde outra o esperava. Uma garota que já estava em sua
vida muito antes de eu engravidar. Havia fotos de vocês dois juntos nas colunas sociais.
Todos sabiam. E essa a verdade.
— E alguma vez neguei isso?
— Não, nunca. Esse seu... plano de ter uma conversa amigável comigo é a proposta
mais indecente que já escutei. Por que não para de me provocar e admite que nosso
casamento foi um engano? Dê meia-volta nesse veleiro e me leve a Skopelus.
— Sabe, suspeito que há muitos pontos obscuros em nosso relacionamento. E estou
disposto a esclarecê-los antes que os advogados entrem na história e arruínem tudo. —
Sem avisar, tomou-a nos braços com determinação. — E um desses pontos, querida Sra.
Hawke, é a maneira como você treme quando eu a beijo.

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CAPÍTULO V

Becky sentiu um calor tão intenso que ficou tonta. Mas teve forças para resistir.
Conseguiu afastar as emoções e se libertou com violência, empurrando-o com
determinação.
Sem dizer uma palavra, Matt virou-se para o mar. Ela observou as costas vigorosas
daquele homem, que respirava a brisa vinda das águas límpidas, tentando se acalmar.
Ainda estava sob o efeito do beijo. E percebeu que ele também fora afetado. Não
tinha sido um gesto simulado, uma atitude de vingança. Matt a queria... fisicamente. E
agora, furioso e frustrado, decidira manter silêncio.
— Matt, ouça... nunca fomos realmente casados. Então não há o que reparar. Se
quer saber o que penso, acho que você está querendo provar a si mesmo que pode ter
tudo o que quiser. Está se sentindo mal porque perdeu o controle da situação quando
desapareci de sua vida. Está interessado em se divorciar sob suas condições. E seu
orgulho que está em jogo. Estou certa?
— Nesse exato instante estou tentando controlar minha vontade de atirá-la ao mar.
— E típico de homens como você. Ameaças, raiva. Por que não pode ter uma visão
racional das coisas?
— Pare de agir como uma mulher insensível! — ele exclamou, retomando o controle
do barco. — Você não me engana com essas palavras. Elas só servem para quem só
passou uma noite a seu lado.
— Pare com isso. Quando vai perceber que não quero estar aqui? Que não quero
ficar com você?
— Que tal me ajudar com este veleiro? — ele disse enquanto procurava controlar o
timão. O vento tornara-se muito forte.
— Se você queria um marinheiro, devia ter contratado um. De qualquer forma,
pensei que já estivesse acostumado a essas águas. Não foi aqui que navegou durante
algumas semanas?
— Alguns meses, para ser franco.
— Meses? — Becky arregalou os olhos. Será que ouvira bem?
— Três meses, para ser mais preciso.
— Que aconteceu? Você era viciado em trabalho!
— Se não consegue falar nada sem ser irônica, pode ficar calada.
— Estou falando sério. Que aconteceu?
— Todos precisam de um tempo para pensar — foi a resposta evasiva.
O barco se aproximava da costa. O meltemi, o famoso vento do verão, levava-os na
direção de uma ilha, soprando forte nas velas brancas içadas.
A areia dourada começou a aparecer na paisagem, protegida por pedras e cercada
por uma vegetação abundante. Matt desceu para desligar o motor.
Becky continuava surpresa. Pensar na vida? Que Matt quisera dizer com aquilo?
Que mudara de carreira? E quanto à viagem de negócios que afirmara ter que fazer a
Atenas?
O veleiro foi se aproximando da ilha, e parou a alguns metros da praia deserta. Matt
jogou a âncora ao mar.
— Vou nadar um pouco. Quer vir? — Sem esperar, tirou a bermuda branca e se
colocou junto à escadinha que dava na água. Seu maio minúsculo, de um azul brilhante,
contrastava com o bronzeado da pele. — Não fique envergonhada. Sou seu marido,
lembra? Tem permissão de olhar, minha querida...

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— Você e tão arrogante! — ela explodiu, empurrando-o.


Matt perdeu o equilíbrio e caiu ao mar com um estrondoso splash. Rebecca ficou
com mais raiva ainda quando ele apareceu na superfície, sorrindo. Nadou até a escada e
subiu ao veleiro, um brilho determinado no olhar.
Assim que se aproximou de Becky, ergueu-a com facilidade.
— Podemos brincar juntos...
— Matt... por favor... — Embora um pouco assustada, ela também riu. — Ainda
estou de short e camiseta.
— Secarão depressa — ele argumentou, levantando-a o mais alto que conseguiu e
atirando-a na água.
Rebecea sempre odiara a sensação de estar com a cabeça embaixo d'água. Por
isso, subiu rapidamente à superfície.
— Seu... bruto! — exclamou, indignada, ao ver Matt a seu lado, com um sorriso
provocante. — Escolha alguém do seu tamanho para esse tipo de brincadeira!
— Foi você que começou, Sra. Hawke.
— Oh, que droga! Odeio você! — ela gritou, vendo que Matt não parava de rir.
Nadou depressa até o veleiro e, ao alcançá-lo, virou-se para o marido. — Vá embora! Vá
para o inferno e me deixe em paz!
— Estou indo... — foi a resposta divertida.
Becky subiu ao barco e deixou-se cair numa espreguiçadeira. Observou Matt nadar
com vigor na direção da praia, afastando-se cada vez mais. Ao chegar, desapareceu atrás
de algumas árvores.
Nesse momento uma ideia surgiu em sua mente: fugir. Aquela era sua chance de
escapar daquela viagem forçada, do homem que ameaçava seus sentimentos mais
profundos. Decidiu assumir o controle do barco e ensinar a Matt Hawke uma lição
inesquecível.
Sem saber como voltar a Skopelus, foi até o timão e encontrou a chave da ignição.
Então hesitou. A âncora. Primeiro, a âncora.
Com habilidade, repetiu os movimentos que Matt fizera há algumas horas e
conseguiu içar a âncora. Olhou para a praia, e depois para o mar. Nenhum sinal de Matt.
Um pouco trêmula, começou a mover lentamente o acelerador de mão. Sentiu um certo
pavor quando viu que o veleiro se afastava da ilha.
O sol da tarde brilhava, refletindo-se no mar imenso, que se abria à sua frente.
Rebecca não tinha ideia do que fazer, de para onde ir, mas não importava. Eram apenas
detalhes. Tudo o que queria era ficar longe de Matt.
Um grito distante ecoou pelo ar. Ela se virou e avistou Matt correr pela praia,
mergulhar e nadar a toda velocidade na direção do veleiro. A sensação de estar sendo
seguida a deixou em pânico.
Ela aumentou a velocidade do barco. O vento, cada vez mais forte, encapelava as
águas, formando ondas que batiam no casco. Assustada, Rebecca não viu a imensa
rocha à sua frente. Apenas sentiu o impacto violento. O motor parou com um estrondo. O
veleiro caiu para um lado e começou a afundar.
O vento forte fez com que uma onda atingisse o passadiço. Metade do barco já
afundara. E agora, que fazer?
Olhou de um lado para outro, desesperada. Que tinha feito? Danificara o veleiro de
Matt! Raiva e vingança eram uma coisa, mas para aquilo não havia desculpa. Matt nunca
a perdoaria.
— Ei, você está bem? — perguntou ele, a alguns metros do veleiro.
— Estou, mas acho que não posso dizer o mesmo a respeito do barco.
Alguns minutos depois Matt alcançava e escadinha, ofegante.
— Você é mesmo maluca! Que estava tentando fazer?
— Velejar, o que mais? Sinto muito, não vi a rocha. Foi tão repentino...

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— Muito engraçado! Exatamente como acontece com os motoristas incompetentes,


que batem no primeiro poste que não veem pela frente.
Becky nunca sentira tanta culpa, tanta raiva. Viu Matt descer até a cabine e
reaparecer com dois salva-vidas. Seu olhar era irônico.
— Será que o veleiro tem conserto? — ela quis saber, preocupada.
— O rádio está fora do ar. O motor não funciona. O melhor que podemos fazer é
nadar até a praia.
— Não podemos usar as velas para procurar uma ilha onde haja sinal de
civilização?
— Com esse vento, estaremos mais seguros em terra do que velejando por aí. —
Estendeu a ela uma sacola térmica, com certa impaciência. — Encha isso com o máximo
de comida que conseguir. E apresse-se.
Becky obedeceu em silêncio. Não era hora de discutir. Quando voltou ao convés,
Matt já estava no bote salva-vidas, para onde levara os sacos de dormir. Tirou a sacola
térmica das mãos de Becky e ajudou-a a descer. Ela se ajeitou e observou-o ligar o motor
com raiva.
A viagem até a baía fora bem-sucedida. Eles puxaram o bote até a praia e retiraram
os suprimentos, colocando-os na areia.
— Sinto muito — ela disse com voz mansa.
— Aposto que sente mesmo. Mas sente pelo fato de ter de passar uma
desconfortável noite na praia.
— Foi um acidente.
— Aposto que foi. — O olhar era sarcástico.
— A culpa foi sua — ela disse, indignada, sentando-se na areia quente. — Se não
tivesse me sequestrado, nada disso teria acontecido.
Ele a encarou por alguns momentos, com uma expressão indecifrável. Depois deu
uma gargalhada.
— Tudo bem, então agora estamos empatados. — Eu a sequestrei e você afundou
meu veleiro.
Becky sentia-se tensa e arrasada, apesar do sol e da beleza à sua volta. Tirou a
camiseta molhada e o short, estendendo-os na areia para que secassem.
Nesse momento, ouviram um barulho vindo do mar. O luxuoso veleiro, jogado pelo
vento e pelas ondas, desaparecia lentamente nas profundezas do oceano.
Ela ficou horrorizada. Não teve coragem de encarar Matt, e tentou usar um pouco de
humor para aliviar a tensão.
— Bem, o seguro pagará o prejuízo. Além disso, três meses no mar já foram
suficientes, não acha?
— Rebecca...
Ela gelou quando ouviu o tom de Matt.
— Sim?
— Estou tentando me conter para não atirá-la ao mar. Não abuse da sorte.
— Assassinato não é solução — ela falou, enquanto se levantava e sacudia a areia
do maio.
— A não ser que compare a perda de seu veleiro à perda de uma vida.
Com uma fúria descontrolada, ele a agarrou pelos braços.
— Você é a boneca mais tola que tive o azar de conhecer!
— Boneca? — ela repetiu, tentando se libertar.
Matt, porém, foi mais rápido. Inclinou-se para beijá-la com uma fúria tão grande que
ela não conseguiu reagir. Era como ser envolvida por uma chama, que aquecia cada
milímetro de sua pele.
— Seu bruto! Solte-me!
Ignorando-a, Matt a ergueu do chão e caminhou na direção do mar. Deitou-a na

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beira da água morna, com os seios expostos.


Ela não conseguiu impedir as carícias. Tampouco foi capaz de evitar que seu corpo
reagisse violentamente à suavidade daquelas mãos.
— Pare... por favor... — pediu com voz fraca, a resistência já no fim.
— Vamos esquecer os jogos, está bem? — A voz era sedenta, agressiva, cheia de
raiva, desejo e outras emoções que ela não conseguiu distinguir. — Eu ainda a quero. E
você ainda me quer. Posso sentir que me quer.
Rebecca estava furiosa, humilhada, mas sedenta de amor. Seu corpo tremia. Matt a
excitava a cada toque. O tempo que passaram separados parecia ter desaparecido. Ó
sentimento era tão intenso como naquela primeira noite.
— E esse o preço pela perda do veleiro? — ela murmurou.
Matt nem se incomodou em responder. Simplesmente abocanhou um dos seios
fartos, fazendo com que Becky se contorcesse. Os movimentos sensuais da língua, que
passavam de um mamilo a outro, quase a impediam de respirar.
Sempre houvera algo irresistível na maneira como Matt amava. Algo que a fazia
sentir-se feminina, desejável, mulher... Agora, no entanto, havia um certo ar selvagem,
uma certa violência controlada que a fez tremer, um misto de medo e fome que a
deixavam em estado de alerta.
— Isso... — ele murmurou, abaixando o maio de Becky, expondo as curvas, a
maciez do ventre, o segredo das partes mais íntimas — ... é o pagamento por dois anos
de inferno.
Ela quase perdeu o fôlego. Matt estava cobrando seus direitos. E queria que Becky
pagasse a dívida.
A raiva cresceu dentro dela, mas pouco havia a fazer. Ao sentir seu corpo explorado
com dedos possessivos, exigindo resposta, ela percebeu que o pânico foi vencido pelo
mais puro desejo.
— Admita... — sussurrou ele, ofegante, sedento com a explosão do próprio desejo.
— Admita que quer isto tanto quanto eu.
— Eu não sei... Pode ser, mas não dessa maneira...
Ela não conseguiu evitar que as lágrimas começassem a rolar por seu rosto. As
emoções eram tantas... Humilhação, agonia, uma dor devastadora no coração. Matt a
odiava. Podia sentir isso no toque áspero, quase rude.
Ele parou de se movimentar por alguns segundos e a encarou. Nesse instante
Rebecca notou um traço de tormento nos olhos azuis. Algo doloroso e forte, bem lá no
fundo, vindo de sua alma. Então sentiu que o compreendia. Pela primeira vez.
Num impulso, puxou-o com toda a força e começou a acariciá-lo nas costas, nos
ombros.
— Mostre-me — ele disse, beijando-a sensualmente nos lábios, excitando-a mais
ainda. — Mostre-me quanto quer que eu a penetre...
Totalmente fora de si, Becky permitiu que suas mãos explorassem o corpo daquele
homem, provocando respostas avassaladoras.
— Faça amor comigo, Matt... — As palavras escaparam num sussurro rouco. Ela
mesma não podia acreditar que tinham saído de sua boca. Não conseguia acreditar que
aquilo estava acontecendo.
— Becky... Oh, Becky...
A força da paixão de Matt a dominou por completo. Ele perdera o controle. Com um
grito de prazer, sentiu as pernas se abrirem e gritou quando ele a segurou com ternura,
invadindo seus sentimentos mais profundos, os dedos experientes acariciando-lhe o sexo,
deixando-a pronta para recebê-lo.
— Oh, Matt!
— Shh... você vai assustar os peixes — ele sussurrou, preparando-se para tomar
posse do território feminino.

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Quando os corpos finalmente se uniram, ela sentiu uma onda de prazer indescritível.
E então todos os seus sentidos voltaram-se para o ritmo sensual, masculino e feminino,
macho e fêmea, paixão e raiva explodindo num momento de intimidade, de felicidade,
supremas. Os movimentos foram tão intensos que a levaram a um êxtase selvagem,
completo.
O mar estava agitado, mas o final da tarde era quente e agradável. Nua,
abandonada como uma sereia, Becky continuava deitada à beira da água, com Matt a seu
lado.
Tentou conter a euforia. Naquele momento, não importava o fato de ter quebrado o
juramento que fizera, de que nunca mais se deixaria envolver pelo charme de Matt. Seu
frio e desinteressado marido ainda a considerava desejável, e esse pequeno consolo,
talvez irrelevante, a enchia de alegria.
Virou-se para contemplá-lo. Os olhos azuis, abertos, focalizavam o horizonte. E
tinham uma expressão hostil. Com o coração acelerado, ela limpou a garganta e falou,
num tom sarcástico:
— Suponho que o pagamento não tenha sido suficiente.
Com um gesto rápido, ele se levantou e colocou o maio. Encarou-a com uma ponta
de raiva.
— Você tem razão. Não foi suficiente.

CAPÍTULO VI

E então, que vamos fazer agora? Becky arriscou-se a olhar para Matt. Tinham
acabado de lanchar pão, queijo e frutas. O clima entre os dois era tão gelado que ela
achou difícil acreditar que estavam sentados à luz do sol, na beira da praia, com o som
das ondas ao fundo. Ele olhou no relógio, com uma expressão implacável.
— Vamos examinar as opções — disse, sem emoção. — E tarde demais para andar.
E não há garantia de encontrar alguém antes de escurecer. Seu estado de saúde é
precário, e isso deve ser levado em conta quando procurarmos um local...
— Não sou inválida! — ela protestou, mas Matt a ignorou.
— Está ventando demais para colocar o bote no mar. Vamos acampar aqui esta
noite. Antes disso, porém, pretendo dar uma breve explorada na ilha.
Ela o encarou, atônita. Sabia que não havia alternativa, mas no fundo tinha
esperanças de encontrar uma saída.
— Passar a noite aqui não pode ser pior do que dormir numa rede, cercada de
mosquitos, na Etiópia — disse Becky. — Mas, se você for a algum lugar, irei junto.
— Você fica.
Ela enfiou as mãos nos bolsos do short e ergueu o queixo para encará-lo.
— Eu vou.
— Um de nós precisa ficar. Se algum barco passar por perto, é preciso atrair-lhe a
atenção. Será que pode fazer o que estou pedindo?
— Como quiser, patrão. Aliás, onde estamos?
— Skyros.
— Tem certeza?
Matt sorriu, relutante.
— Sim, tenho certeza. Até algumas horas atrás eu me orgulhava em possuir um

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mapa, em meu magnífico veleiro.


Ela corou mais uma vez. Ter afundado o veleiro de Matt era um pesadelo.
— Com certeza Skyros tem hotéis, aeroporto...
— Sim, tem. Isso não significa que não estejamos a quilômetros de distância deles.
Esta é uma ilha razoavelmente grande. E a população é pequena. Mas, se avistar algum
avião ou turistas, já sabe o que fazer.
— Não se preocupe.
Matt encerrou a conversa e começou a juntar os pratos que tinham usado, levando-
os até o mar para lavá-los. Depois colocou uma garrafa de água numa das sacolas vazias
e lançou um olhar para Becky, sentada à sombra das árvores.
— Voltarei logo — anunciou antes de iniciar a caminhada.
Rebecca observou-o afastar-se, de short e camiseta, até desaparecer por entre as
árvores. Sozinha, recostou-se num tronco. O meltemi, mais forte, balançava a mata e
provocava ondas brancas em vários pontos do mar. Agora que Matt havia partido, a praia
parecia tranquila.
Ela avistou um grilo numa das árvores próximas. Estudou-lhe os movimentos,
pensando nos insetos da África. Amadurecera muito, depois da temporada que passará
lá. Enfrentara doenças, miséria, condições sub-humanas de vida.
Mas, ao lado de Matt, tinha a nítida impressão de que ainda era a mesma garota de
dois anos atrás. Uma menina envolvida nas inseguranças do passado. Então se lembrou
de algo que Sofie havia dito, algum tempo atrás.
— Você e Matt devem ter muita coisa em comum. Ambos acham que o mundo
conspira contra vocês.
Balançou a cabeça e admirou o azul do mar Egeu. O horizonte começava a tornar-
se violeta, anunciando o final da tarde. A luz do sol era mais dourada do que nunca.
Sombras começavam a aparecer na mata.
Nunca tinha compreendido totalmente aquele comentário de Sofie. Matt vivia como
se não precisasse convencer ninguém de que o mundo estava a seus pés. O único ponto
em comum a ambos parecia ser um exagero no tom de tragédia e trauma, e a ausência
de mães e pais.
Matt nunca falara muito sobre a família, ou sobre o passado. Mas, como estudara
com Richard em Oxford, dera algumas informações a respeito de sua vida. Sua mãe
afastara-se da família quando ele tinha doze anos. O pai sofrera uma depressão nervosa
e ficara ausente até falecer, pouco tempo depois.
Os pais de Becky morreram num acidente automobilístico quando ela tinha
dezesseis anos. Sofie fora maravilhosa, carinhosa. Ela e Richard ajudaram-na a entrar na
faculdade, e apoiaram-na até que se tornasse financeiramente independente. Às vezes,
porém, ela sentia que passava de uma crise emocional a outra. Será que a vida era
assim?
Mas nem todas as crises tinham sido ruins. Houve altos e baixos. A emoção mais
forte foi conhecer Matt, e depois descobrir que estava grávida. A pior foi descobrir que o
bebê tinha sido o único motivo do casamento.
Nas terríveis semanas que se seguiram ao aborto, ela entrou numa depressão
profunda. Além da dor física, não tinha forças para enfrentar a verdade: seu casamento
ruía. Sentia como se tivesse sobrevivido, junto com Matt, a um terremoto. Mas haviam
sido jogados em ilhas distantes, em lados opostos, sem ter como voltar.
Será que tinha fugido de Matt por insegurança?
Não. Ele se afastara. Fora cruel e insensível ao deixá-la sozinha em Hampstead e
tomar o primeiro avião para o exterior. Tinha se casado para dar ao filho uma família,
nada mais. Ao perdê-lo, resolveu voltar para os braços de Su-Lin.
Ted tinha sido um bom amigo. Tentara fazê-la voltar ao trabalho, mas Becky perdera
o desejo de desfilar ou fotografar. Na verdade, perdera também a motivação para

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continuar os estudos. Tudo o que queria era o amor de Matt. Mas seu casamento não
passara de uma mentira.
Além disso, havia a carta da família de Su-Lin, que confirmara seus temores. Matt e
a garota tinham planejado se casar antes de Becky atrapalhar tudo, ficando grávida.
Assim, a melhor coisa que pôde fazer, quando a gravidez teve seu fim trágico, foi
desaparecer da vida dele.
Fechou os olhos, sentindo a depressão tomar conta de suas emoções outra vez. Se
ao menos Matt não tivesse voltado... Conseguira manter distância durante dois anos,
incapaz de enfrentar a luta pelo divórcio ou encarar Su-Lin como o verdadeiro amor do
marido.
A sensação do êxtase apaixonado que vivera a invadiu. Becky tentou afastar as
imagens dos momentos íntimos, que revelavam uma sensualidade exuberante.
Matt era o vencedor daquele jogo. Mas só porque ela se sentira culpada demais por
ter afundado o veleiro. Aquela relação sexual fora mecânica, sem sentido, uma atividade
para aliviar a tensão. Nada além disso.
Becky sentiu um cansaço repentino. Não significara nada, repetiu para si mesma,
pegando no sono. Não fazia diferença. Não sentia mais nada por Matt. Nada mesmo...
Ela abriu os olhos, um pouco desorientada. Tinha adormecido, e as primeiras
sombras da noite cobriam a praia. Levantou-se, esfregou os olhos e olhou em volta.
Nenhum sinal de Matt.
Fitou a mata escura com uma certa ansiedade. Os mantimentos ainda estavam
empilhados na areia. O vento havia cessado, como sempre acontecia ao cair da noite.
Uma lua imensa refletia sua luz no azul-marinho do mar calmo.
A vegetação perdera o ar paradisíaco. Que teria acontecido a Matt? Ela começou a
se sentir alarmada e ansiosa. Será que houvera algum acidente? Tentou se convencer de
que isso era improvável, mas não conseguia evitar a imagem de Matt jogado ao chão,
ferido, inconsciente...
Como verificar se estava tudo em ordem? Sua mente começou a trabalhar
freneticamente, e seu coração acelerou. O silêncio parecia se intensificar a cada segundo.
Ela tentou respirar fundo, e abriu a boca para chamar Matt. Nesse instante, mãos firmes
cobriram-lhe os lábios.
— Não se preocupe. Sou eu.
Becky sentiu um calor subir às faces e começou a tremer incontrolavelmente.
— Eu... estava muito preocupada e... você... aparece de repente e...
— Pobre Becky... Bem, estou comovido por saber que se preocupou comigo. Achei
que nem se importaria se eu estivesse morto.
— Na verdade, não ligo — ela corrigiu, dando um passo atrás e cruzando os braços.
— Mas até sairmos dessa confusão prefiro que você viva.
— Até que eu deixe de lhe ser útil, certo?
— Precisamente.
— Será que já se esqueceu que foi você que nos colocou nesta confusão?
Ela respirou fundo.
— Indiretamente, admito que...
— Indiretamente? Que quer dizer com isso?
— Foi você que me forçou a essa viagem estúpida, lembra-se?
— E foi você que resolveu destruir nosso casamento, lembra-se?
Houve uma longa pausa. Só o cantar dos pássaros quebrava o silêncio da noite.
— Pare de ser hipócrita e dizer que se preocupa comigo. Tudo não passa de
vingança, não é mesmo? Você me forçou a velejar para demonstrar que ainda podia
assumir o comando da minha vida!
— Neste exato momento não me sinto tão poderoso assim — ele brincou. — Não
com meu veleiro no fundo do mar.

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Sabrina Noivas 43 - Votos de Casamento - Rosalie Ash

— Então eu sou a vilã? Muito bem. Que penitência devo cumprir?


— Isso não vai trazer meu veleiro de volta, mas que tal começar a juntar um pouco
de madeira?
— Madeira?
— Para acender o fogo.
— Certo. — Ela deu meia-volta e caminhou na direção das árvores, pegando galhos
secos e fazendo uma pilha alta. Depois, limpou as mãos com ar triunfante. — Aqui está.
Que mais? Quer que eu vá pescar com uma faca entre os dentes?
— Deve ser uma cena bastante interessante. — Ele pegou uma caixa de fósforos e
começou a ajeitar a madeira, para acendê-la, com uma habilidade que a impressionou.
— Não me diga que foi escoteiro!
— Sim, fui. E você? Nunca acampou?
Ela soltou uma gargalhada.
— Bolo de chocolate é o máximo que sei fazer.
— E insuficiente para sobreviver numa praia deserta.
— E verdade. Ah, mas também sei fazer torrada sem queimar os dedos na
torradeira.
— Isso não vale — ele disse, encarando-a. — Esqueci de trazer a torradeira.
Becky riu. Com uma careta engraçada, ele riu também. Uma atmosfera amigável
surgiu entre os dois pela primeira vez.
— Eu... sinto muito sobre seu veleiro. Acredita que foi sem querer?
— Acredito.
Ela respirou fundo, aliviada, e se sentou em frente ao fogo. Matt fez o mesmo,
incrivelmente atraente à luz das chamas.
— Está com fome? — ele perguntou.
— Não muita. E você?
— Não.
Becky olhou para a fogueira, tentando colocar as ideias em ordem.
— É verdade mesmo que ficou velejando durante três meses?
— Sim, é verdade. E passei a maior parte da viagem sozinho.
— E quanto a seu trabalho?
Matt deu de ombros.
— Mesmo viciados em trabalho como eu precisam de um tempo de folga. Para
poder pensar na vida.
— Pensar na vida?
— Digamos que fechei para balanço.
— Mas algo deve ter acontecido. Algo decisivo, para tê-lo afastado do trabalho por
tanto tempo.
— Sim, algo decisivo. Um dia acordei e dei uma olhadela no espelho. E não gostei
do que vi.
— Que havia de errado?
— Enxerguei um homem sem alma. Um sujeito frio, que não dava a devida atenção
à própria esposa.
Becky sentiu o coração apertado e se viu envolvida em emoções intensas.
— Então resolveu ir para o mar?
— Sim. Fiz um circuito por vários locais, mas devo admitir que minha atração maior
era mesmo a Grécia.
— Por causa da paisagem?
— Não. Por causa de algo relacionado a minha esposa desaparecida. Se
esquecermos o casamento de Sofie e Richard, podemos dizer que nos conhecemos aqui,
em Skopelos. Ou não se lembra?
— Claro que me lembro.

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— É impressionante como uma viagem solitária faz o pensamento voar...


— Tem razão.
— E como foi na África?
— Ajudou a colocar minhas ideias em ordem.
— Nosso casamento não foi tão terrível assim, foi?
Ela o fitou com uma expressão confusa. Seu tom era indefinível. Os olhos azuis,
mais indecifráveis do que nunca.
— Não. As primeiras semanas foram... boas.
Era verdade. O começo do casamento tinha sido perfeito. A ponto de ela acreditar,
ingenuamente, que encontrara sua alma gêmea. Tudo era tão excitante... Matt era tão
imprevisível...
A lua de mel começara com uma viagem-surpresa até as ilhas Seychelles, onde eles
aproveitavam o calor nadando e velejando. Mas passavam a maior parte do tempo no
belo quarto de hotel, fazendo amor.
— Eu achava que tínhamos muito em comum. Gosto por viagens, teatro, cinema...
— Opera... — ele lembrou com um sorriso. — No último espetáculo a que fomos,
adormeci.
Becky gargalhou.
— E quase caiu da cadeira. Como eu poderia esquecer?
— Eu estava em outro fuso horário. Tinha acabado de chegar de viagem.
— Você sempre estava em outro fuso horário. — O comentário soou mais frio do
que ela planejara. Houve uma breve pausa. Os risos desapareceram no silêncio da noite.
— Tudo isso é tão estranho... Sinto como se fôssemos as únicas pessoas no mundo,
sentadas aqui, junto ao fogo.
— Parece até letra de música, não? — Havia amargura na voz de Matt, apesar do
sorriso discreto. — Você se casaria comigo de novo? Como se eu fosse o único homem
no mundo?
O coração de Becky disparou.
— Que acha?
— Acho que é praticamente impossível descobrir o que se passa na sua cabecinha.
— Ele se levantou de repente, e começou a caminhar na direção do mar.
Rebecca observou-o afastar-se, sem saber o que fazer. Estava começando a sentir
frio. E medo. Havia algo perturbador, perigoso, naquela conversa. Ela tinha a nítida
impressão de que estava prestes a fazer algo de que se arrependeria amargamente.
Mas não conseguiu conter o impulso de segui-lo até a beira da praia. O único som
audível era o quebrar das ondas na areia escura.
— Matt... que quis dizer?
— Eu quis dizer que não estava preparado para viver com ninguém quando nos
casamos.
— Mas se casou comigo...
— Sim, casei. E estraguei tudo, não foi?
— Por que se casou?
— Você sabe por quê. Já me disse isso várias vezes. Eu me casei porque você
estava grávida..
— Matt...
A dor no coração de Becky foi forte demais. Instintivamente, ela tocou o rosto
daquele homem. E num gesto repentino, ele a enlaçou. Os dois ficaram abraçados,
unidos, por um longo momento. Rebecca fechou os olhos, sentindo o aroma do marido,
que aproximou-se lentamente para beijá-la.
— Becky... — disse ele, acariciando-lhe o rosto. — Não sei como nos metemos
nessa confusão.
— Nem eu.

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O beijo foi gentil, diferente da maneira como tinham feito amor, pouco antes.
— Matt... Oh, Matt...
Ele a tomou nos braços e a levou até perto do fogo. Deitou-a na superfície macia do
saco de dormir, as mãos acariciando o corpo esguio com uma espécie de desespero
contido.
Becky sentiu-se transportada para outra dimensão. Nada mais importava. Q
passado, o futuro, os problemas insolúveis daquele relacionamento, tudo havia
desaparecido. Sua única preocupação era o calor, a urgência que a levava a buscar o
prazer vindo daquele corpo másculo. Sua única necessidade era o toque de Matt.
— Eu ainda a quero — falou ele num tom rouco, como se admitir o fato lhe fosse
doloroso.
— Faça amor comigo mais uma vez. Mas não me puna desta vez.
— Oh, Becky...
O gemido de Matt a fez sentir-se nas nuvens. Rebecca tocou-lhe o rosto o cabelo,
os ombros. Com um gemido de desejo, amoldou-se a ele, as mãos ávidas percorrendo a
pele bronzeada por baixo da camiseta.
— Isso é tão gostoso...
Com certa impaciência, Matt tirou a bermuda, o maio e a camiseta. Depois despiu
Becky por inteiro. Então fez com que ficasse por cima de seu corpo. Ela gemeu de prazer,
e Matt deu um sorriso triunfante.
— Podemos ter gênios diferentes e incompatíveis, querida, mas fisicamente nos
encaixamos com perfeição. Nada se compara a isso.
— Nem mesmo Su-Lin?
O murmúrio trêmulo foi involuntário. Rebecca não tinha ideia de por que se sentira
compelida a tocar no assunto. Matt ficou paralisado. Foi como uma ducha de água fria,
que transformou a ternura em raiva contida outra vez.
— Não tenho como responder a essa pergunta. Nunca fiz amor com Su-Lin.
A noite quente, a escuridão aveludada e a lua pareciam girar ao redor de Becky,
envolvida num mundo de sensualidade e prazer. Foram momentos maravilhosos,
indescritíveis, após os quais Matt a fez descansar em seus braços.
— Tem que fazer isso?
— Fazer o quê, querida?
— Fazer amor comigo como se me odiasse.
Matt ficou em silêncio. Na escuridão, suas feições pareciam sombrias.
— Machuquei você?
— Não fisicamente, mas...
— Eu não a odeio. — A voz agora era suave.
— Pois é assim que eu sinto.
— Então está enganada.
Becky se afastou dele e entrou no saco de dormir, fechando-o até as orelhas.
Sentiu-se terrivelmente humilhada, e mais sozinha do que durante os dois anos em que
estivera longe de Matt.

CAPÍTULO VII

A lancha reduziu a velocidade ao se aproximar do porto de Skopelus. Matt

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contemplou Rebecca com um olhar penetrante antes de dizer:


— Aqui estamos, Sra. Hawke. De volta à civilização.
As palavras frias fizeram com que ela gelasse. Os dois praticamente não
conversaram desde a noite anterior. Na verdade, o clima piorara depois de Becky
descobrir que Matt e os pescadores que os resgataram tinham se encontrado um dia
antes. Isso significava que aquela noite na praia não era necessária. Já podiam ter saído
de lá há muito tempo.
— Bem, na certa você quer que eu pague pelo veleiro — ela dissera ao acordar,
minutos antes de tomar a lancha que os conduziria a Skopelus.
— Pensei que você tivesse gostado da experiência. Uma fogueira, fazer amor sob o
luar... Tudo muito romântico.
— Aquilo não foi fazer amor. Você simplesmente quis mostrar que ainda tinha algum
poder sobre mim. Apenas descarregou sua raiva.
— Está querendo dizer que não sentiu nada? Você não me engana, garota. Estava
tão envolvida quanto eu.
Rebecca lançou-lhe um olhar vago quando saíram do ar-condicionado da lancha
para o sol quente da baía de Skopelus. Matt parecia mesmo um pirata. Um vilão dos
mares.
— Talvez seja pouco realista da minha parte pedir que se comporte como um
cavalheiro — ela começou. — Mas, agora que estamos de volta, poderíamos esquecer
tudo e...
— E acertar as condições do divórcio? — ele completou com ar calmo.
— Exatamente.
Houve uma breve pausa. O olhar de Matt tornou-se indecifrável mais uma vez.
— Você tem razão. — Virando o jipe alugado na direção da casa de Sofie e Richard,
ele sorriu.
— Que quer dizer?
— Que você foi muito pouco realista.
— Matt!
— Conversaremos sobre isso mais tarde, quando tivermos tomado banho e um
maravilhoso café da manhã.
— Mas já é quase hora do almoço! Além disso, que mais temos para conversar?
— Abandono do lar... Destruição da propriedade alheia...
Estacionaram em frente à casa no momento em que Sofie, já alertada da chegada
de ambos, abria a porta. O sorriso cauteloso da irmã fez com que Becky calasse a
resposta que queria dar ao marido.
— Olá. Aproveitaram bem a viagem?
— Ela se divertiu muito — disse Matt, ao ver a expressão de Becky. — Você se
importa se usarmos o banheiro e o telefone?
Com um sorriso largo, Sofie fez que não com um gesto de cabeça e convidou-os a
entrar. Becky usou o banheiro da suíte, enquanto Matt trancou-se no lavabo.
Rebecca não tinha palavras para descrever o que sentia. Por que ele não
compreendia que era indesejado? Por que não aceitava que ela havia tomado uma
decisão definitiva ao abandoná-lo? Será que Matt não percebia que aquela arrogante
invasão de privacidade era imperdoável?
E por que Sofie tinha que tratá-lo como um membro da família?
Tudo bem se Richard o recebesse com entusiasmo, pois os dois eram amigos. Mas
Sofie... Bem, ela era sua irmã. Por que não ficava a seu lado?
— Tenho um compromisso importante em Atenas. Quero que venha comigo — ele
declarou com calma, servindo água mineral para Becky e tomando mais um gole de vinho
tinto.
— Ir com você para Atenas? De jeito nenhum! — Ela afastou a excelente torta de

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queijo, que mal experimentara.


— Não era essa a resposta que eu gostaria de ouvir.
Rebecca ergueu a cabeça e encarou o olhar azul cintilante. E agora? Que Matt
queria?
Barcos de pescadores e iates particulares estavam lado a lado na baía azul-
turquesa, que parecia translúcida sob a luz do sol. Mais além, avistavam-se as paredes
brancas de um antigo monastério.
Becky pensou no veleiro, abandonado em Skyros. Depois examinou o marido, com a
barba feita, o cabelo arrumado, muito à vontade num jeans e numa camiseta branca.
O orgulho e a necessidade de readquirir a autoconfiança inspiraram-na a cuidar da
aparência. Passara colônia após o banho. Deixara o cabelo caído sobre os ombros e
escolhera um vestido de jérsei verde, que lhe realçava as linhas esguias. Como tomara
um pouco de sol no veleiro, a pele estava dourada.
— Talvez, tendo em vista o fracasso de nosso casamento, e meu desejo de levar
avante o divórcio, você pudesse explicar por que devo ir a Atenas — ela começou,
escolhendo bem as palavras.
— Fui convidado para jantar com pessoas para quem vou trabalhar como consultor.
Você é minha esposa. Eu apreciaria muito que me acompanhasse.
Indignada, ela agarrou os braços da cadeira.
— Não posso acreditar! É ridículo!
— Você ainda é minha.
Rebecca sentiu que perderia a cabeça a qualquer instante.
— Entendo. Ou ao menos acho que estou começando a entender. Está tentando me
culpar, certo? Por quê? Por causa do veleiro?
— Encare como o pagamento de uma dívida.
Você me abandonou e destruiu meu barco. Bancar a esposa devotada num jantar de
negócios é o mínimo que pode fazer, minha querida.
Furiosa, Rebecca começou a se levantar, mas os dedos firmes de Matt a seguraram.
— Você fica — ele avisou num tom suave. — Não vai sair de perto de mim outra
vez.
— Agora, que não estou confinada à prisão de seu veleiro, posso ir aonde quiser.
— Foi um acidente? Ou foi sabotagem?
O tom ameaçador fez o coração de Becky acelerar. Ela tentou se libertar, sem
sucesso.
— Foi um acidente — murmurou, tentando conter a raiva.
— Enquanto estivermos em Atenas, eu gostaria de discutir alguns planos com você
— ele continuou, como se Becky nem tivesse respondido. — Planos para investimentos
no restaurante de Sofie e Richard.
— Isso é chantagem!
— Eu já imaginava que você chegaria a essa conclusão. — Soltou os pulsos de
Becky e encostou-se na cadeira. — Relaxe, querida, não vai ser tão ruim. Uma boa
oportunidade de comprar alguns vestidos, de conhecer meus colegas de trabalho e suas
esposas, de salvar o restaurante de Sofie e Richard... O que há de mal nisso?
Afinal, que tipo de amigo você é? Por que não pode ajudá-los simplesmente por
amizade?
— Um homem de negócios nunca faz investimentos se não obtiver lucros, querida.
—- Eu sabia que você era rude e egoísta, mas não tinha percebido até onde ia seu
desejo de manipular as pessoas!
— Anos de prática. — Os cafés chegaram, e Matt pediu a conta. Havia um brilho de
triunfo nos olhos azuis.
— Vamos para Atenas hoje, quer goste ou não. Sabe, é hora de aproveitar a
influência que teve em minha vida. Graças a você, mudei completamente. O homem que

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eu era desapareceu quando minha querida esposa foi embora. Agora, ela deve me ajudar
a colocar a vida em ordem. — Havia um toque de amargura na voz profunda. — Que
mulher, poderosa você é, Sra. Hawke.
— Eu não entendo — ela falou lentamente, abrindo uma das malas e pegando um
vestido de seda verde.
Os dois estavam na suntuosa suíte do hotel em Atenas. Matt, estendido num sofá
em frente às janelas, com um gim-tônica nas mãos, já tomara banho e se preparara para
o jantar, Estava devastador num paletó creme e numa camisa de seda. A fragrância do
perfume másculo se espalhava pelo ambiente, fazendo Becky se lembrar do passado.
— Que é que você não entende?
—- Que acha que vai conseguir com isso?
— Uma bela esposa para me acompanhar ao jantar.
— Claro. Que tolice da minha parte. — Rebecca, que acabara de sair do banheiro,
vestia um robe e uma minúscula calcinha de seda. — Se me der licença, vou me vestir.
— Um momento. — A voz profunda de Matt tinha um tom de comando. — Esposas
devotadas não se escondem na hora de trocar de roupa. Especialmente quando seus
maridos gastam uma fortuna para lhes dar um guarda-roupa novinho em folha.
Ela se sentiu paralisada, mas decidiu não permitir que Matt jogasse sujo, magoando-
a. Não se deixaria intimidar.
— Oh, entendo — murmurou, respirando fundo.
— Quer um show de strip-tease, querido?
— Naturalmente. Um marido tem o direito de observar sua mulher se vestir,
concorda?
— Segundo me lembro, esse detalhe não fazia parte dos juramentos. Mas, se é
assim que alimenta suas perversões, quem sou eu para discutir?
Num impulso, arrancou o robe e atirou-o no rosto de Matt. Aquela presença
poderosa e a expressão enigmática dos olhos azuis eram enervantes. Com mãos
trêmulas, Rebecca colocou o sutiã de seda branca, e tentou fechá-lo nas costas. Mas
tremia tanto que não conseguiu.
—- Quer ajuda?
— Não. Posso me vestir sem o auxílio de quem quer que seja — ela conseguiu
dizer, ouvindo o clique do fecho e sentando-se para colocar a meia de seda. Em seguida,
pôs o vestido.
— Use os brincos de esmeralda — ele sugeriu.
— Como quiser — ela começou a dizer com calma. Depois parou para encará-lo,
furiosa. — Imagina que me tratando dessa maneira, como mulher vulgar, conseguirá fazer
com que eu o ame outra vez?
— Está me dizendo que um dia me amou? —Havia uma ponta sutil de emoção na
voz.
— Você sabe que amei! Estava tão apaixonada que nem consegui raciocinar direito!
Matt se levantou, determinado, e caminhou na direção dela.
— Não foi o que pareceu — disse calmamente.
Ergueu o queixo de Becky com a ponta do dedo, forçando-a a encará-lo. — Achei
que nosso casamento lhe foi conveniente durante a gravidez, mas um obstáculo para sua
carreira e seus estudos. Seu amigo Ted Whiteman deixou bem claro como você se
ressentia por ter que abandonar a liberdade. Su-Lin foi apenas uma desculpa, não foi?
Uma desculpa para você se afastar de mim?
Ela mal conseguia respirar. O toque dos dedos, a proximidade, as palavras, tudo
fazia sua mente girar.
— Se você acredita nisso... Se acha que me comportei assim, por que está se
importando com esta noite estúpida? É alguma espécie de charada?
— Sempre gostei de charadas. — Ele a largou, e acariciou-lhe o cabelo. O toque

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causou-lhe um arrepio. — E talvez seja masoquista.


— Parece mais um sádico.
De repente, com ferocidade, Matt se inclinou e a beijou, segurando-a com firmeza
enquanto devorava-lhe a boca com uma fúria impressionante.
Havia lágrimas nos olhos de Becky quando ele parou.
— Matt, não me odeie. Não posso suportar isso.
— Querida Becky...
Num impulso incontrolável, ele a abraçou. O zíper do vestido, ainda aberto, expunha
o corpo de Rebecca, que reagia violentamente. Ela imaginou estar perdida, à mercê do
marido, quando o telefone tocou.
Matt ficou parado por alguns segundos, ofegante. Então a soltou e atendeu. Quando
desligou, Becky já tinha se recuperado.
— Era da recepção. Alexis e a esposa estão esperando por nós no saguão.
Ela o encarou, ainda tensa, excitada.
— Nesse caso, a não ser que você queira que sua esposa pareça desleixada, é
melhor puxar o zíper do vestido.
Os dedos firmes de Matt tomaram a providência no mesmo instante. Rebecca
fechou os olhos e rezou para que seu autocontrole não a abandonasse.
Alexis e a esposa eram muito simpáticos. Rebecca lembrava-se vagamente dele.
Era um dos gregos com quem Matt estivera no restaurante, no início do caso dos dois.
— A sopa derramada! — Alexis riu, apertando-lhe a mão com tanta franqueza que
ela teve de devolver o sorriso. — Como eu poderia esquecer?
Os dois casais saíram do hotel e pediram um táxi. Foram encontrar o resto do grupo
num clube noturno em Kolonaki, uma área agitada da cidade, aos pés do Monte
Likavetos.
Os ruídos e o caos urbano distraíram Becky. Atenas parecia ter vida própria. As
luzes brilhantes davam um ar glamouroso à grandiosa Acrópole, repleta de turistas.
— Se não fosse pelos negócios, eu não estaria aqui. Odeio este lugar no verão —
Matt confidenciou quando entraram no clube. — É quente demais. Bem, mas quem sabe
seus olhares gélidos consigam me refrescar...
— Claro que os negócios vêm sempre em primeiro lugar — ela comentou,
devolvendo o sorriso cínico.
A esposa de Alexis, Elisavet, apresentou Becky aos outros casais com simpatia.
Todos a receberam tão bem que ela até começou a se sentir à vontade. Mas então
lembrou que as pessoas a tratavam de maneira especial porque a tinham como esposa
de Matt Hawke. Isso tornou as coisas muito piores.
Enquanto estudava o cardápio, Becky sorria e conversava com Elisavet. Logo
reparou que Matt a encarava. Seus dedos trêmulos agarraram-se ao copo.
Sentados à mesa, eles esperavam a chegada de outro casal. De onde estavam,
podiam avistar a pista de dança, no andar de baixo. O ambiente, em tons de verde, tinha
candelabros românticos, plantas e flores. Toda a alta-sociedade ateniense parecia estar
lá. Alexis dizia algo que lhe chamou a atenção,
— Então deram o barco como perdido?
— Foi o que me disseram — Matt respondeu, com um sorriso. — Em todo caso, eu
não pretendia navegar de novo este verão.
Becky sentiu um calor repentino.
— Como o acidente aconteceu?—Alexis continuou.
Rebecca tentou respirar fundo, apreensiva. Foi quando Matt virou-se para ela:
— Como aconteceu, querida?
Ela procurou formular uma resposta. Poderia dizer que Matt a sequestrara e que
estava tentando escapar. Mas isso pareceria inacreditável e não combinaria com seu
papel de esposa devotada. Quase em pânico, balbuciou:

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— Bem, eu...
— A culpa foi minha — Matt interveio, salvando-a daquela situação. — Não baixei
direito a âncora. O vento soprou, eu e Becky estávamos na praia, ocupados com outras
coisas....
— Ah... — A troca de olhares masculinos a deixou furiosa.— Agora entendo! —
exclamou Alexis, analisando as curvas perfeitas de Becky. — Com uma distração desse
tipo, acidentes podem acontecer a qualquer momento.
— Você estão deixando Rebecca sem graça — Elisavet intercedeu, ao reparar o
desconforto de Becky. — Vejam, os Chang acabaram de chegar.
Rebecca seguiu o olhar de Elisavet. Na entrada do restaurante, um homem baixo,
de cabelo grisalho, com traços orientais, era cumprimentado pelo garçom, que apontava
para a mesa deles.
A seu lado caminhava uma moça, também oriental, de grande beleza. Todos se
viraram para admirá-la. Pequena, com as curvas incrivelmente bem-proporcionadas, um
vestido dourado agarrado ao corpo, o cabelo preto, brilhante, quase batendo na cintura,
ela parecia uma boneca de porcelana ao lado do pai.
Becky ficou em estado de choque, e sentiu o coração disparar. Su-Lin dirigia-se à
mesa, com um sorriso sedutor e os olhos voltados para Matt.

CAPÍTULO VIII

O jantar mais parecia um pesadelo. Era como se o passado voltasse, se repetisse a


cada minuto. A única diferença era que, agora, Su-Lin não era mais um fantasma distante.
Estava ali, diante de Rebecca. E isso lhe dava vontade de fugir, penetrar na noite, no
anonimato, e correr, correr até estar a milhares de quilômetros de distância.
Quanto a Matt, não a deixava em paz um só momento. Mantinha os olhos fixos nos
dela, como se quisesse lembrar-lhe a cada instante da promessa feita.
Será que ele desistiria mesmo de ajudar Sofie e Richard caso Rebecca o
abandonasse naquela noite? Era um risco grande demais. Matt já os havia ajudado em
vários momentos. Se aquela noite de sacrifício valesse a pena, por que não tentar?
Os Chang, que tinham negócios de navegação e hotelaria na Grécia, estavam
mudando seu quartel-general para Hong Kong e Atenas. Um prato cheio para a proposta
de Matt, de trabalhar como consultor.
— Então você ainda é a esposa de Matt?
A voz suave de Su-Lin soou nos ouvidos de Becky. O jantar já estava no final, e
alguns dançarinos gregos se apresentavam na pista.
— Sim, sou.
Rebecca forçou um sorriso calmo. Estava consciente de que Matt a observava,
encostado no bar e conversando com Alexis animadamente. Elisavet a fitava com ar
curioso. Becky se sentiu à beira de um abismo: mais um passo e cairia nas profundezas
obscuras.
— Por quanto tempo ainda? — insistiu Su-Lin, com um olhar penetrante.
— Segundo juramos no casamento, até que a morte nos separe.
— Foi exatamente o que juramos. — A voz de Matt cortou a conversa. — Estou
contente que tenha conhecido Su-Lin, Becky. Mas acho que não terão muito o que
conversar.

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Rebecca virou-se para encará-lo. A expressão era mais cínica do que o normal. Os
olhos brilhavam. Ele parecia um estranho. Su-Lin ergueu-se com graça, e lançou um olhar
charmoso para Matt.
— Meu querido — murmurou, com voz sensual —, foi adorável vê-lo esta noite.
Quanto tempo vai ficar em Atenas?
— Apenas o suficiente para resolver um negócio. — Becky e eu estamos ansiosos
para voltar ao ar fresco das ilhas, não é mesmo, querida?
A expressão de Su-Lin endureceu. Rebecca ficou sem ar. Seria esse o motivo pelo
qual ele fizera questão de levá-la àquele jantar? Para apresentar a falsa imagem de um
casamento perfeito, e livrar-se de Su-Lin sem entrar em choque com o rico Sr. Chang?
Ela nunca se sentira tão usada, tão manipulada. Levantou-se e pegou a pequena
bolsa preta de veludo. Tentou ao máximo manter as emoções sob controle, mas seu
coração acelerava a cada instante. Que se danassem Matt e seus planos! Ele já tinha ido
longe demais.
— Queiram me desculpar, mas preciso de ar fresco agora.
— Compreendo — Su-Lin devolveu, com malícia na voz. — Simular um
relacionamento perfeito dever ser exaustivo.
— Quem falou em simulação? — perguntou Matt enquanto segurava o braço de
Becky, impedindo que ela se afastasse. — Nosso casamento é maravilhoso. Não é,
querida?
— Matt... eu...
— Após dois anos de separação? — Su-Lin provocou. Seus olhos negros
estampavam raiva. — Não acho que se amem tanto assim.
— Mas eu amo minha mulher. Muito.
A declaração foi tão calma e afirmativa que Becky sentiu uma pontada no coração.
Que grande fraude ele era! Como conseguia ser tão cínico? Como podia usar as pessoas
daquela maneira?
Começou a sentir-se zonza, como se o mundo a sua volta se tornasse irreal. Os
violinos ao fundo, o ritmo sensual dos dançarinos, os murmúrios e risadas, nada mais
parecia verdadeiro. Apenas Matt, e o brilho intenso em seus olhos, existiam agora.
— Você e Su-Lin devem ter muito o que conversar — disse ela num tom frio. Então
deu um passo atrás e tentou escapar das mãos de Matt. — Além disso, estou farta deste
jogo.
Percebeu que Alexis e Elisavet observavam a cena, e caminhou depressa na
direção da saída. Não importava que sua partida brusca provocasse transtornos nos
negócios de Matt. O futuro de Sofie se tornara secundário diante de sua necessidade de
escapar daquela dor insuportável. Não podia ficar mais um segundo diante de Su-Lin.
Ao sair do clube, respirou o ar quente da noite de verão. Dos bares e cafés
elegantes que se espalhavam pelas ruas vinham músicas típicas.
Becky não sabia para onde estava indo. As lágrimas encobriam sua visão. Chorar
por Matt era algo que, jurara, nunca mais aconteceria. Por que ele tinha que surgir
novamente em sua vida? Por que tinha que ser tão egoísta e maldoso?
— Becky!
Ela virou para trás rapidamente e avistou a figura imponente de Matt. Sem pensar,
começou a correr. Mas alguns segundos depois ele já a tinha alcançado e a segurava
pelo braço, fazendo-a parar.
— Nós não estamos vestidos adequadamente para uma corrida — falou, o paletó
aberto e o nó da gravata totalmente desfeito. — Que tal parar de fugir quando as coisas
não saem exatamente da forma como deseja?
— Então a culpa é minha, não é? Isso é bem típico de você! — ela exclamou, quase
sem fôlego por causa da corrida. — Fez chantagem para que eu fingisse que nosso
casamento era feliz, me tratou como prostituta barata, "esqueceu" de me contar que sua

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amante estaria presente ao jantar...


— Você teria vindo se eu contasse?
— Não sei! Eu me preocupo com Sofie. Mas acho que os negócios de minha irmã
não valem tanta humilhação.
— Ah, sim, a chantagem...
— Você se julga poderoso, esperto. Quanto a mim, quero apenas que saia de minha
vida. Mas tudo o que recebo é provocação!
— Você veio para Atenas porque quis, Becky.
— Deixe de ser mentiroso e arrogante! Sabe, nunca conseguirei odiá-lo o suficiente.
— Vamos sair daqui — ele murmurou, olhando vagamente para os turistas que
observavam a cena. — Vamos até o Monte Likavetos. Lá há um lugar onde podemos
conversar.
Num silêncio tenso, Rebecca sentou-se ao lado de Matt enquanto o bondinho subia
cada vez mais alto. No topo da montanha, ela respirou fundo e entrou no café ao ar livre.
Apesar da angústia, admirou a paisagem, as luzes de Atenas, que pulsavam como um
milhão de estrelas. Uma brisa fresca aliviava o calor da noite.
— Café? — Matt ofereceu. — Ou prefere algo mais forte?
— Não quero nada.
— Dois uísques — ele pediu, dispensando o garçom antes que Becky pudesse
contra-argumentar.
— Você se acha uma espécie de deus, não é? Toma as decisões, manipula as
pessoas...
— Eu não á usei.
— Você me obrigou a fazer aquela viagem de veleiro. Me usou nesta noite, para
facilitar seus negócios. Colocou Su-Lin na minha frente sem me avisar. Tenho vontade de
atirá-lo daqui de cima!
— Não, você não faria isso. É doce demais para cometer uma violência dessas,
querida.
— Não me trate como criança. E eu não sou sua querida!
— E Su-Lin não é minha amante.
Houve uma pausa. Ela tentou respirar fundo.
— Espera que eu acredite nisso?
Os ombros imponentes de Matt se ergueram.
— Pela experiência do passado, não devo ter grandes esperanças.
Ela abriu a boca para falar, mas depois desistiu. Suas ideias estavam confusas e as
emoções, à flor da pele.
— Parece que Su-Lin tem certeza de que é sua amante — conseguiu dizer, com
certa calma.
— Su-Lin sempre teve dificuldade em aceitar a verdade. O problema é que ciúme
doentio e casamento feliz não combinam, não é?
Ela cruzou os braços. A escuridão aveludada descia sobre a montanha, que exalava
um perfume selvagem. Na mesa ao lado, um casal de mãos dadas mantinha uma
conversa íntima. Amantes ao luar, pensou Rebecca. Em outras circunstâncias, Atenas
seria uma cidade perfeita para amantes: a beleza, o calor, a atmosfera sensual...
— Ciúme doentio? — ela finalmente falou. — E só um pequeno detalhe, não é? Ao
menos... Ao menos quem tem ciúme demonstra alguma emoção.
Os uísques chegaram. Becky hesitou, mas depois deu um gole. O líquido forte
aqueceu suas entranhas, dando-lhe forças.
— Se está dizendo que não me importo com você, está enganada — Matt falou com
voz suave, observando-a por sobre o candelabro.
Becky fechou os olhos. Tinha que colocar as ideias em ordem.
— Não adianta falar, simplesmente. E preciso provar. Não percebe? Quando

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Sabrina Noivas 43 - Votos de Casamento - Rosalie Ash

precisei de você... quando eu realmente precisei de sua força... você pegou o primeiro
avião e partiu.
— Acha que não sei que a decepcionei?
Aquela declaração fez o coração de Becky acelerar mais ainda.
— Bem, então...
— Eu lhe disse, na praia de Skyros, que na época não estava preparado para um
compromisso sério. — Um sorriso discreto surgiu em seus lábios. — Se quer mesmo
saber a verdade, fiquei bastante assustado.
— Por quê?
— Imaginei que você julgasse estar cometendo um grande engano. Pensei que Ted
Whiteman tivesse razão.
— Quer parar de falar em Ted Whiteman? Ao menos ele ficou a meu lado depois do
aborto, coisa que você foi incapaz de fazer.
— Não é bem assim. Eu a conheci, eu a engravidei, e nós nos casamos. Que mais
você queria? — Foi tudo tão rápido...
Um profunda dor tomou conta do coração de Becky.
— Não foi você que me engravidou — ela corrigiu. — É preciso haver duas pessoas
para conceber uma criança. E descobrir que eu estava grávida foi a coisa mais... — Bem,
a melhor coisa que me aconteceu.
— Mas de repente você perdeu a criança — ele acrescentou, num tom seco. Deu
um longo gole no uísque e colocou o copo na mesa com certa violência. — Então a
melhor coisa de sua vida foi embora. Estou certo?
Ela se sentiu atingida por uma emoção intensa.
— Sinto, mas não posso vencer esse argumento. Seu eu disser que o amava, você
vai falar de novo em Ted Whiteman. Se eu disser que estava encantada com a ideia de
ter um filho, você me acusará de ter me casado apenas porque o bebê precisava de um
pai. O que não admite, com toda a sua arrogância, é que, quando eu precisava
desesperadamente de ajuda, você desapareceu. Afastou-se de mim. Foi a boates em
Hong Kong com Su-Lin, e suas fotos saíram nas colunas sociais. Que tipo de marido se
comporta assim?
— Um marido que está tão ferido quanto sua esposa.
Aquelas palavras pareciam vir de um Matt Hawke que ela desconhecia.
— Está tentando me dizer que também ficou magoado quando perdi o bebê?
— Não posso responder a essa pergunta. — Seu olhar resignado fixou-se na
paisagem noturna de Atenas. — O que estou tentando dizer é que queria nosso filho. Eu
realmente queria. Até você me surpreender com a notícia, admito que não tinha pensado
em ser pai. Mas achei uma grande ideia casar, constituir família... Então você perdeu o
bebê, e pareceu desmoronar. Achei que não me quisesse mais. Você me afastou...
— Não tive essa intenção — ela disse, quase sem pensar. — Fiquei arrasada, senti
um abismo entre nós. Um abismo invisível. Você compreende?
Houve um longo silêncio.
— Quando eu tinha doze anos, minha mãe abandonou meu pai, que não suportou o
golpe e caiu em depressão. Jurei que nunca deixaria uma mulher fazer isso comigo. Acho
que senti... que você me abandonava... emocionalmente.
Era a primeira vez que Matt falava sobre sua mãe. Sofie tinha-lhe contado a
tragédia, mas ele nunca tinha conversado sobre isso.
— Então resolveu me deixar.
— Eu não a deixei. Tive que viajar a negócios. Foi você que me abandonou.
— Eu o abandonei porque não tinha outra opção. — Ela tremeu quando pronunciou
essas palavras. Era como se seu divórcio estivesse cada vez mais próximo.
— E, agora, cá estamos, causando ao outro tanta dor como antes.
— Oh, não. Se eu ainda o amasse, estaria magoada. Mas eu não...

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Sabrina Noivas 43 - Votos de Casamento - Rosalie Ash

— Você não...?
— Nesses últimos dois anos eu... amadureci muito. Nunca vou deixar que outro
relacionamento me ameace, como aconteceu com o nosso. Nunca vou participar de seu
mundo ambicioso outra vez.
Houve então outro prolongado silêncio. O rosto de Matt parecia coberto por uma
máscara irreconhecível.
— Outra vez meu "mundo ambicioso"... Mas ele pode dar bons frutos. Essa noite, a
não ser que sua partida dramática tenha estragado tudo, fechei um acordo com Alexis e
seu grupo, e que não ocupará todo o meu tempo. Se eu decidir investir no Velho Moinho,
acho que meu novo estilo de vida vai manter minha mente ambiciosa a distância.
Podemos ir, Sra. Hawke?
Ele não a tocou enquanto desciam, no bondinho. Becky segurou firme a bolsa,
mantendo as mãos ocupadas. Os centímetros que os separavam pareciam quilômetros. O
casamento estava morto. Era um destino inevitável, e ela devia saber desde o início.
— Se decidir investir no Velho Moinho? — Rebecca perguntou de repente. — Você
disse que, caso eu viesse a Atenas, ajudaria Sofie e Richard.
— É verdade. Mas isso dependeria de sua atuação como minha devotada esposa.
— O olhar de Matt tornou-se perigoso. — Alexis e Elisavet ficaram um pouco surpresos
ao vê-la desaparecer sem se despedir polidamente.
— Então eu deveria ficar lá, sentada, e aguentar os desaforos de Su-Lin? Está me
acusando de arruinar seu precioso negócio? — Havia uma fúria quase incontrolável nas
palavras de Becky. — Ora, você está realmente decidido a me provocar!
— Pare de tirar conclusões precipitadas. É esse seu maior erro, Sra. Hawke: tirar
conclusões precipitadas.
Ela respirou fundo. Tinha que parar de se alterar. Matt deveria ter prazer ao vê-la
reagir assim àquele jogo estúpido.
— A conclusão era óbvia demais, e estava bem na minha frente. Isso só comprovou
que você se casou comigo, e não com Su-Lin, porque eu estava grávida.
— Lá vamos nós outra vez!
— Pare de me tratar como criança. E pare de falar como se fosse o único
responsável pelo bebê.
Matt sorriu sutilmente.
— Falando nisso, Sra. Hawke, há alguma chance de a história se repetir? Quero
dizer... Os acontecimentos dos dois últimos dias podem ter gerado uma criança?
— Não — ela conseguiu responder, com toda a dignidade que foi capaz. — Se acha
que vou cair nesse erro outra vez, não acredita mesmo em minha inteligência.
Ela não soube dizer se a expressão de Matt foi de alívio ou decepção.
— Então está tomando anticoncepcionais? — O tom era aveludado e cínico.
— Claro que estou.
Tinham chegado a uma avenida movimentada, e Becky engoliu em seco. Havia
tomado a pílula, era verdade, mas já fazia algum tempo. Seria possível ter concebido uma
criança?
— Então os anticoncepcionais têm sido uma precaução necessária em sua vida
desde que me abandonou? — Matt agora a segurava pelo braço, num gesto possessivo.
— Qual o problema, Becky? Lembrou-se de algo?
Rebecca sentiu que corava. Ele sabia... Claro que ele sabia! Como podia ser tão
ingênua? Envolvida num mundo de emoções, nem pensara em evitar a gravidez.
— Sei o que está tentando fazer — disse, com voz trêmula. — Mas não vai
conseguir.
— Quer dizer que está fora de questão conversar sobre outros relacionamentos?
Prefere me acusar de adultério? Quanto a mim, não posso acusá-la de coisa alguma?
— Vamos falar bem claro: nunca cometi adultério. Nem com Ted Whiteman, nem

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com outro homem! — A voz era tensa e carregada de raiva.


— Se pensa que pode continuar a me manipular, me engravidando outra vez, está
muito enganado!
— Parou à entrada do hotel e concluiu: — Caso eu tenha concebido uma criança
nestes dois últimos dias, farei o que puder para que você nunca a veja!

CAPÍTULO IX

— Está me dizendo que... — a voz de Matt soou triunfante, quebrando o silêncio do


elevador — ...existe uma chance de você estar grávida outra vez?
— Ora!
Becky ficou paralisada. Eles não estavam sozinhos. Além do ascensorista, havia
duas senhoras americanas, que pararam de falar assim que ouviram a pergunta de Matt.
— É uma ideia interessante.
O brilho nos olhos azuis a deixou mais furiosa ainda. Olhou-se ao espelho da cabine
e notou que estava pálida. As feições de Matt, ao contrário, pareciam saudáveis e
alegres.
— E você se orgulharia disso? Acharia vantajoso ter me engravidado contra minha
vontade?
— Pensei que essa fosse uma frase errada — ele provocou. — É preciso haver duas
pessoas para conceber uma criança, como você mesma disse.
— E preciso haver duas pessoas que se amem e que queiram conceber uma
criança.
— Está errada outra vez, querida. No início de nosso relacionamento nós nos
amávamos, mas não tínhamos pensado em ter um bebê.
O elevador parou, e as senhoras saíram com certa relutância. Becky sentia-se ferver
por dentro. A suíte que ocupavam ficava no último andar. Tentou manter-se calada até
entrar no quarto.
— Dessa vez não houve amor. E devo dizer que é muito improvável que eu tenha
concebido uma criança com...
— Com o que fizemos na praia? Devo dizer que cumprimos todas as etapas que
envolvem a concepção de um bebê, querida.
— Ter um filho seu é a última coisa que eu pensaria em fazer. E, se eu estiver
grávida outra vez, será por sua culpa!
— Não me lembro de tê-la forçado a nada — ele brincou.
— Você me sequestrou!
— Calma, querida. Se ficar muito nervosa sua pressão vai se elevar. Isso é muito
ruim nos primeiros meses de gravidez.
A provocação de Matt foi o golpe final. Becky teve vontade de agredi-lo fisicamente,
mas ele a abraçou, prendendo suas mãos e braços, e mantendo-a firme junto ao corpo.
— Que tal ir para a cama e conversar sobre isso?
Ela se livrou apenas para encará-lo, sem acreditar no que ouvia. Havia outra vez
aquele brilho perigoso nos olhos azuis.
— Ir para a cama? Se você me tocar esta noite eu... eu telefono para a polícia e digo
que fui raptada!
— Ora, não é minha culpa se você não tem boa memória... — Ela teve vontade de

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agredi-lo outra vez. Foi até a varanda e ficou lá, tremendo, sem saber o que fazer. —
Encare os fatos, Becky. Talvez o que aconteceu na praia tivesse que acontecer de
qualquer maneira. Talvez seja algo que não possamos controlar...
A voz suave de Matt a deixou sem defesas. Ela virou-se lentamente. De repente,
sentiu que uma emoção nova tomava o lugar da fúria. Algo que abalava todas as suas
certezas... Com um sorriso involuntário, passou os dedos pelo cabelo sedoso e olhou
para o lado.
— Eu não sei. Honestamente, não sei.
— Então somos dois.
Ela respirou fundo.
— Mesmo se for este o caso, só prova que ainda nos sentimos sexualmente
atraídos.
— E verdade. Pelo menos de uma coisa já temos certeza.
— Estou tão confusa...
— Você trouxe sua carteia de pílulas?
Ela fez que não com um gesto de cabeça. Começou a rir e deixou-se cair numa
poltrona, perto da janela.
— A verdade é que parei de tomar pílulas quando peguei aquele vírus. Até você
levantar a questão no café, confesso que tinha esquecido tudo sobre anticoncepcionais.
Não desempenhavam um papel importante em minha vida, se quer saber. Eram apenas
precaução... depois do que aconteceu conosco.
— Querida, venha cá. — Como se fosse um autômato, ela se viu caminhar
lentamente na direção de Matt. — Vai deixar que eu a toque esta noite? — Não sou muito
bom em implorar, mas preciso de você. Nesse exato minuto preciso desesperadamente
de você.
— Tenho tanto medo... — A voz de Becky quase não saiu.
— Medo de ficar grávida outra vez?
— Não. Medo de me aproximar de você.
— Becky... — Ele a abraçou com um movimento delicado e preciso. — Sabe, prefiro
cortar a garganta a magoá-la de novo.
Ela mal conseguia respirar.
— Você está... — gaguejou, e tentou outra vez — ... está tentando conceber outro
bebê?
— Você é tão desconfiada... — ele murmurou, num tom mais rouco e profundo.
Rebecca tremeu ao ser beijada de leve no rosto, no pescoço. — Ainda não entendeu? —
ele suspirou, levando-a para a suavidade da cama, aprisionando-a delicadamente. —
Tudo o que quero é você. Se quiser, posso usar camisinha esta noite, e em todas as
noites. Posso supervisionar pessoalmente cada pílula que tomar. Apenas admita que
sente algo por mim.
— Eu... sinto algo por você.
Era verdade. E nada mais importava. Naquela noite, não era possível fingir. Ainda o
amava. Nunca deixara de amá-lo.
Seu coração batia com tanta força que ela teve medo de explodir. Ergueu a mão
trêmula e acariciou o rosto de Matt.
— E... não use camisinha. Você ainda é meu marido, não é? — Mordeu o lábio com
um sorriso trêmulo e acrescentou, com voz rouca: — E eu quero você... Quero senti-lo
dentro de mim.
— Querida... Oh, querida...
O que restava do controle de Matt se foi com as últimas palavras de Becky. Com um
gesto impaciente, ele arrancou a gravata, o paletó e a camisa antes de começar a
explorar as aberturas no vestido de seda verde. Despiu-a com tensão e urgência.
Rebecca agarrou-se a ele com todas as suas forças. Matt começou a tirar-lhe lenta e

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sensualmente o sutiã. Ela ficou ofegante quando o viu afastar a seda fina, revelando os
seios perfeitos.
— Você é especial — ele gemeu, e percorreu com os lábios sedentos o pescoço, os
bicos dos seios, amoldando as mãos a eles, acariciando cada curva com a ponta dos
dedos.
— Matt... por favor...
Cada movimento era intensamente erótico, excitante. Becky implorou que ele a
tocasse, que explorasse seu ventre, sentisse o líquido quente entre suas pernas. Estava
em fogo, queimando, queimando...
Com um sorriso tímido e sensual, agarrou-se aos ombros de Matt, fincando as
unhas nos músculos firmes.
— Faça amor comigo agora... Agora...
— Agora? — Ele já se abaixava para tocar a calcinha de seda branca, os dedos
experientes prontos para descobrir o mel da delicada feminilidade. — Agora, Sra. Hawke?
Antes mesmo de explorar tudo a que tenho direito?
— Matt! — Rebecca, fora de si, pronta para recebê-lo, via-se perdida em sensações
maravilhosas. — Pare de me provocar... Pode me levar a sério ao menos uma vez?
— Sempre a levei a sério, querida. E vou continuar a levá-la a sério. Tanto que você
nunca mais vai me abandonar.
A suavidade de Matt a atingiu como uma tempestade, fazendo-a tremer
convulsivamente. Rebecca agarrou-se a ele, no auge da excitação, e sentiu o poderoso
corpo másculo penetrando-a com potência devastadora.
O ato foi muito mais intenso do que ela poderia ter imaginado. As sensações que os
movimentos de Matt provocavam eram tudo que o que queria, tudo o que sempre quis. O
prazer, violento, espalhou-se em ondas por todo o corpo feminino.
— Amanhã voltaremos a Skopelus — ele murmurou, horas depois.
Sonolenta, lânguida, abandonada nos braços firmes de Matt, Rebecca agarrava-se
àquele momento como se fosse um sonho, que terminaria a qualquer momento. Logo se
deixou envolver por um sono profundo e tranquilo.
Amanhã... Amanhã teriam muito o que conversar. Mas o amanhã parecia estar tão
longe...
—Recebi a carta de seu advogado esta manhã.
De bermuda jeans e camiseta preta, Matt pilotava a pequena lancha que tinha
alugado. A velocidade fazia com que a água salgada espirrasse no maio e no short
branco de Rebecca, que admirava a costa de Skopelus.
— Como a carta chegou até você? — Ela se levantou e foi para junto de Matt. —
Podemos ir mais devagar?
Com um sorriso, ele desacelerou.
— Minha governanta em Hampstead enviou para meu endereço de correspondência
em Atenas. O escritório de Alexis, para ser mais exato.
— Oh... — Ela tentou dizer algo, mas não conseguiu.
Perto da praia, a embarcação parou. Becky procurou adivinhar os pensamentos do
marido. Desde aquela manhã, ambos estavam envolvidos por uma atmosfera
estranhamente calma. Emocionada demais, ela não conseguia raciocinar direito. Matt era
tão gentil... Mesmo assim, não tinha ideia do que se passava em sua mente.
— Eis a taverna — disse ele, desligando o motor. — Você a reconhece?
Becky olhou para a praia. Lá estava a taverna ao ar livre, e, nela, uma dúzia de
pessoas saboreava uma deliciosa refeição sob um abrigo de bambu. Na parte de trás
havia uma gruta, cercada por oliveiras. Mais além, as colinas. O azul do céu brilhava por
entre a vegetação. A paz do lugar era inacreditável.
— Sim, reconheço. Viemos aqui há três anos.
Os dois caminharam pela praia, lado a lado.

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— Lembra dos omeletes?


— Como poderia esquecer? — ela sorriu, pensando no sabor inigualável do prato.
— Matt, por que me trouxe aqui? Disse que tinha algo para me mostrar.
— E tenho. — Ele hesitou, o que não era comum. Becky sentiu o coração acelerar.
— Quer que eu mostre antes ou depois do almoço?
— Agora — ela sugeriu, com certa impaciência.
—- Estou faminto. E teremos uma subida e tanto pela frente. Vamos comer primeiro.
— Matt!
Meio furiosa, meio sorridente, Rebecca seguiu-o até a taverna. Os omeletes
estavam exatamente como ela lembrava: leves, crocantes, com tempero delicado,
irresistíveis. O vinho branco, bem gelado, e a salada grega completavam o cardápio.
A tranquilidade das redondezas formava um contraste com a tensão sutil entre os
dois. A noite de amor não saía da mente de Becky. Cada vez que contemplava Matt,
pensava nas cenas ardentes que vivera e sentia-se levemente excitada.
Quando terminaram a refeição, Matt a levou para uma passagem em meio às
oliveiras. Minutos depois, quase sem fôlego, finalmente chegaram ao topo de uma colina.
Foi quando Matt parou.
— Aqui estamos. Que acha?
— E alguma piada? Não há nada aqui.
Matt tirou os óculos escuros e a encarou. O azul do olhar se intensificou com o brilho
do sol.
— Claro que há. Repare na vista.
Ela virou-se lentamente. A paisagem era mesmo deslumbrante. No azul do mar,
translúcido e emoldurado pela vegetação, um iate navegava lentamente. Ao longe, era
possível avistar a cidade de Skopelus.
— Sim, é uma bela paisagem. Mas que estamos fazendo aqui?
— É minha — ele disse, sem rodeios. — Comprei há um ano e meio, quando ainda
existia uma chance de você voltar.
— Você comprou o quê?
— Este pedaço de terra. Quero construir uma casa aqui. Se desistir do divórcio,
podemos planejá-la juntos.
— Planejá-la?
— Você não gostou do lugar? É calmo demais? Longe das luzes da cidade?
— Não seja tolo.
— Bem, talvez devêssemos construir mais para baixo, perto da gruta. Sou o dono da
gruta, também. E da montanha. E das oliveiras...
— Como assim? — Ela balançou lentamente a cabeça, sem acreditar no que estava
ouvindo.
— Este lugar pertencia a uma família de alemães. Eles não conseguiram extrair
muito lucro das oliveiras, então concordaram em vender.
Becky encarou-o por um longo momento.
— Então... há um ano e meio — ela começou, com a garganta seca — ... você veio
para Skopelus, comprou essa terra...
— Exatamente. — O olhar de Matt era intenso.
— E depois, que fez?
— Vendi minhas empresas. Deixei os cargos de direção. Planejei uma mudança
radical em minha vida.
— Por minha causa?
— Que acha? Eu já não lhe disse que é uma mulher poderosa, Sra. Hawke? Que
mais um homem pode fazer depois que sua esposa o abandona?
Ela sorriu, sentindo-se invadida por uma onda de felicidade. Mesmo assim,
acautelou-se. Confiar em Matt não era tão simples.

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— Bem, ele pode fazer coisas menos drásticas.


Matt sentou-se numa pedra, a poucos passos de Becky. Ela sentiu o coração
disparar quando o joelho forte roçou suas pernas.
— Você pode ter achado que não notei sua partida. Estava convencida de que eu
me divertia com Su-Lin em Hong Kong. Mas se enganou. Ela e a família queriam o
casamento, mas nada foi oficializado.
— Por quê?
— Porque, desde a noite em que fizemos amor pela primeira vez, você se tornou a
única mulher em minha vida. Mas não acreditaria se eu lhe dissesse, pelo telefone, que
aquela foto nos jornais foi o último golpe de Su-Lin. O jantar em Atenas foi a chance que
encontrei para lhe mostrar que não era preciso ter medo dela.
— Ah, é? Pois ela parecia apaixonada.
— Só que nunca correspondi. — Ele fez uma pausa e respirou fundo. — Quando
você partiu, fiquei em estado de choque. Passei por várias fases: raiva, negação, até
finalmente compreender que era um estúpido e...
— Matt...
— Há algo que nunca lhe contei, e que creio ser o responsável pelo fracasso de
nosso relacionamento. Tive uma namorada na universidade. Ambos tínhamos dezoito
anos e nos apaixonamos de maneira muito imatura. Ao final do primeiro ano, ela não
passou nos exames. Tomou uma overdose de calmantes e morreu.
— Oh, não...
— Decidi, com todas as minhas forças, nunca mais me apaixonar.
— Sinto muito.
— Já faz tempo — ele explicou, tomando as mãos de Becky. — De todo modo,
quando percebi que tinha lidado muito mal com nosso relacionamento, me dei conta de
que estava me defendendo de um compromisso verdadeiro. Se eu me apaixonasse por
outra pessoa, teria problemas. Entende?
— Mas, quando lhe contei que estava grávida, você me pediu imediatamente em
casamento.
— Era uma desculpa conveniente. Eu poderia me enganar, dizer a mim mesmo que
estava apenas cumprindo minha obrigação moral. Eu a amava muito, e fiquei atraído pela
ideia. Você era a única mulher que eu realmente queria, e isso me assustou tanto que fugi
em seguida. Quase enlouqueci em Hong Kong, de tanto pensar em você.
— Ainda não compreendo... Matt, se você se importava comigo, por que me deixou
quando eu mais precisava de ajuda? Quando perdi nosso filho... — Lágrimas quentes
interromperam-na, cobrindo-lhe o rosto.
— Estraguei tudo, não é mesmo? Pensei que estivesse ressentida comigo. O motivo
pelo qual nos casamos havia desaparecido. Ted Whiteman me contou que você odiou ter
que largar a profissão de modelo por causa da gravidez.
— Ted disse isso?
— Na nossa festa de casamento, para ser mais exato.
— Mas é ridículo! Adorei a ideia de ter um filho. Parei de trabalhar e de estudar
porque quis. — Talvez... tenha sido um pouco imaturo, um pouco ingênuo, mas tudo o
que eu queria era ser a Sra. Hawke.
— Ted Whiteman pareceu bastante sincero.
— Suspeito que ele tinha algum interesse em mim — ela admitiu com voz lenta. —
Deve ter tentado provocar alguns problemas. Mas eu não sabia. Nunca lhe dei nenhum
encorajamento. Acredita em mim?
— Na época eu era tão inseguro que acreditei nele. E me senti realmente culpado
por você ter abandonado o trabalho, a faculdade. E de repente perdemos também nossa
chance de ter um filho, e nos olhávamos como estranhos. Entrei em pânico. E parti no
primeiro avião.

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Sabrina Noivas 43 - Votos de Casamento - Rosalie Ash

— Matt, eu,..
— Deixe-me terminar. Ainda sou dono da casa em Hampstead. Pretendo passar
algum tempo em Londres, a cada ano. Estou planejando alugar uma residência em
Skopelus enquanto penso no lar que quero construir neste local. Financeiramente, estou
bem. Vendi as empresas para ter um futuro tranquilo, e ainda receberei boas quantias
como consultor. Precisarei estar em Atenas uma vez por semana, no máximo.
— Como conseguiu isso?
— Ajudei Alexis em alguns negócios complicados. Mas tenho outros interesses por
aqui. Pretendo cuidar dessas oliveiras e da pequena taverna lá na praia, e talvez alugar
alguns veleiros para turistas. Mas na verdade pretendo devotar noventa por cento de meu
tempo a minha esposa. Serei um marido dedicado. Que me diz?
Ela se levantou. Á perspectiva de salvar seu casamento estava tão próxima que
parecia irreal, inesperada. Rebecca não sabia o que dizer.
— Podemos voltar para Skopelus e tomar um café? — conseguiu falar, evitando o
olhar de Matt. — Estou ficando tostada nesse sol.
— Claro. Não quero que me culpe por ter arrumado uma insolação. Já bastam as
acusações que tem contra mim.
A viagem de volta foi feita em silêncio. Mas, quando ancoraram e subiram até a
calçada, ela o encarou. Era sua vez de jogar. Matt tinha mostrado as cartas. Agora,
bastava romper a barreira e correr mais uma vez o risco de amar aquele homem.
— Você... já tem algum projeto para a casa?
— Apenas algumas ideias preliminares. Os esboços estavam no veleiro. Mas meu
arquiteto tem uma maquete. Quer tomar café no Velho Moinho?
— Sim. Não haverá ninguém lá a essa hora, mas tenho a chave da cozinha.
Rebecca manteve uma distância formal enquanto caminhavam pelo cais cercado de
cafés e árvores, emoldurado pelos iates coloridos. Estava quase sem fôlego quando
chegaram ao terraço vazio do restaurante e pararam para admirar a vista. Era a hora da
siesta. O silêncio cobria as paredes brancas, e as plantas agitavam-se lentamente à brisa
suave.
Becky entrou na pequena cozinha e fez café.
Depois juntou-se a Matt, que, sentado à mesa, tinha uma ampla visão do cais. A
paisagem era típica da Grécia, com os telhados cinzentos e as janelas vermelhas sob um
sol incrivelmente quente.
Ela fechou os olhos, e logo os abriu outra vez. Tinha a sensação de estar se
afastando de Matt. Era como se nada do que dissesse pudesse chegar até ele. Um
sentimento assustador, que a fez pegar a caneca de café com mãos trêmulas. Seria
orgulho? Cautela? Bem, não importava o que fosse, tratava-se de uma muralha invisível,
que a distanciava de uma reconciliação completa.
— Eu gostaria tanto que Sofie e Richard pudessem manter o restaurante aqui...
— Está insinuando algo, Sra. Hawke?
— Se quiser entender assim...
— Acho que não há dúvida de que eles ficarão aqui. Agora têm um novo sócio: eu.
— Você? Oh, Matt, que notícia maravilhosa!
— Richard e eu acertamos as formalidades na manhã em que voltamos de Skyros.
Ela ficou surpresa, e deixou a pequena colher cair sobre a mesa.
— Antes de irmos para Atenas?
— Exato. — A expressão de Matt era serena.
— Então aquela armadilha foi apenas um...
— Um pretexto? Sim.
— Matt! — Ela começou a se levantar, irritada. — Primeiro o veleiro, agora isto!
Como posso confiar em você, se usa truques o tempo todo? Que tipo de casamento é
este?

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— Nós estamos juntos, não estamos? Eu diria que já é um bom começo.


— Matt!
— Calma. Veja as coisas desse ponto de vista. Tudo o que fiz, nesses dois anos, foi
por você. Eu a queria de volta. Queria salvar nosso casamento. É essa a verdade. Se não
pode entender isso, se não pode perceber como a quero, então terei de continuar a
tentar. Alugar outro veleiro. Seques trá-la de novo...
— Não... eu... Oh, está bem — ela conseguiu dizer. E se sentou. Por trás da
indignação havia uma ponta de orgulho ferido. — Eu compreendo.
— Você compreende?
— Sim. E, falando sobre seu veleiro, ele poderá ser consertado, não?
— Foi o que me disseram.
— Eu me sinto tão mal por isso. Sinto muito...
— Eu também. — Ele se levantou de repente e deu a volta na mesa, fazendo-a
erguer-se. Rebecca sentiu um arrepio quando as mãos bronzeadas deslizaram por suas
costas. — Mas tenho uma confissão a fazer. Aquele veleiro não era meu.
— Quê? — ela quase gritou, sem acreditar no que ouvia. — Então, de quem era?
— Pedi emprestado a Alexis.
— Está querendo dizer que... Todo esse tempo você me fez acreditar que eu tinha
destruído seu precioso veleiro, e ele era emprestado?
— Bem, pelo menos assumi a culpa por você no clube, lembra-se?
— Oh, Matt!
De repente a raiva desapareceu, e Rebecca começou a ver o lado engraçado da
situação. E riu. E não conseguiu mais parar.
Matt também riu, e a abraçou com firmeza. Beijaram-se com uma intensidade que os
deixou ofegantes.
— Nunca me beije assim em público. A não ser que queira me ver preso, por
comportamento indecente.
— Ainda bem que não há nenhum policial por aqui — ela sussurrou.
— O que você quer fazer, Becky? — ele murmurou, roçando os lábios no cabelo
macio. — Diga o que quer, querida, e eu resolvo tudo.
— Eu... gostaria de ajudá-lo a planejar aquela casa na colina e...
— E...?
— E passar a vida como Sra. Matt Hawke.
— E sua carreira?
— Quando eu estava na África, decidi trabalhar com crianças. Mas com um pouco
de sorte poderei trabalhar com as nossas crianças, não é?
— Então podemos rasgar a carta de seu advogado e atirá-la ao mar? Podemos ser
novamente marido e mulher?
— Sim. Oh, sim, é tudo que quero na vida!
— Só mais uma pergunta. Será que Sofie e Richard se importariam se eu invadisse
o quarto deles e fizesse amor com minha esposa nas próximas quarenta e oito horas?
— Na verdade, suspeito que ficariam até contentes.
Os dois então dirigiram-se ao dormitório, lado a lado. Era o início de uma longa
caminhada, em que marido e mulher percorreriam um destino único: até que a morte os
separe!

FIM

Projeto Revisoras xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 48

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