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2019­3­2 Redirecionamento e as garantias processuais da ampla defesa e contraditório ­ JOTA Info

PAUTA FISCAL

Redirecionamento e as garantias processuais da ampla


defesa e contraditório
Como a apuração administrativa da responsabilidade pode ajudar

MIRELLA NAPOLEÃO BALDEZ COELHO DE OLIVEIRA

28/02/2019 17:20

Prédio da PGFN (Foto: PGFN/Reprodução)

A cobrança do crédito tributário é uma das mais importantes funções exercidas pelo
Estado, na medida em que grande parte de seus recursos advém da arrecadação de
tributos.

Do mesmo modo, métodos mais eퟓ�cientes de cobrança tributária vêm ganhando


destaque nos órgãos administrativos e judiciais, uma vez que, diante do enorme
déퟓ�cit público e da inadimplência perante o Fisco, a obtenção de receitas se tornou
uma questão de sobrevivência.

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Nesse contexto, a PGFN vem evoluindo para a antecipação e maior celeridade da


cobrança do crédito, bem como em mecanismos para a identiퟓ�cação e perseguição
dos créditos mais vultuosos e de maior certeza de recebimento, visando a máxima
eퟓ�ciência.

Dentre uma dessas mais eퟓ�cientes formas de se assegurar o adimplemento do


crédito tributário estão os mecanismos de reconhecimento da responsabilidade
tributária (arts. 135 e 124, I do CTN) e a desconsideração da personalidade jurídica.
Esses instrumentos possibilitam que, caso ocorra alguma das hipóteses elencadas
em seus dispositivos legais, a PGFN ou redirecione a execução ퟓ�scal para um dos
responsáveis, o qual se torna parte passiva na relação processual da Execução
Fiscal ou inicie o IDPJ, para a apuração de responsabilidade patrimonial, no caso de
grupos econômicos.

Além das distinções comuns realizadas pela doutrina, um ponto bem explorado e
objeto de crítica do instituto é o da violação da ampla defesa e do contraditório
quando o redirecionamento da execução ퟓ�scal é feito após o encerramento da fase
administrativa.

Isso porque, deferido o redirecionamento, aos devedores solidários não é ofertado


um contencioso administrativo para apresentação de defesa, restando-lhes os
instrumentos processuais de defesa do processo de execução ퟓ�scal.

E, em se tratando do IDPJ, é certo que, além de ele ser previsto exclusivamente para
o contexto da jurisdição, ou seja, após a inscrição em dívida ativa e ajuizamento da
execução ퟓ�scal, nele se abre oportunidade de exercício da ampla defesa e do
contraditório.

Com efeito, no momento em que a PGFN identiퟓ�ca a ocorrência das hipóteses


autorizadoras do redirecionamento e consegue amealhar indícios suퟓ�cientes para
tanto, o feito executivo passa a ser perpetrado também contra o corresponsável, de
forma solidaria, restando-lhe, como meio de defesa, apenas a exceção de pré-
executividade, pouco admitida diante da quase sempre necessária dilação
probatória, ou os embargos à execução, via de defesa que, para a garantia de efeito
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suspensivo, necessita do oferecimento de garantia. . Ou seja, não se permite aos
coobrigados que exerçam, sem qualquer ônus, as garantias processuais, podendo
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se falar em direito de defesa mitigado ,

Nesse contexto, quando tratamos especiퟓ�camente da responsabilidade tributaria


dos grupos econômicos, o instrumento que garante a ampla defesa e contraditório

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plenos é o IDPJ, já que, como acima descrito, por meio dele é possível apresentar
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impugnação, sendo que a sua instauração suspende o processo principal.

Assim, o intento da PGFN para a responsabilização de grupos econômicos via


redirecionamento, no enquadramento da hipótese do art. 124, inciso I, do CTN,
sofrerá as mesmas críticas dos casos de redirecionamento tradicionais, do art. 135,
do CTN, para as pessoas físicas administradoras da pessoa jurídica.

Feitas essas observações, retoma-se o contexto inicial do presente artigo quanto a


evolução da PGFN na constituição de instrumentos para a cobrança do crédito
tributário. Aqui se insere o PARR – procedimento administrativo de reconhecimento
de responsabilidade, trazido pela Portaria PGFN nº948/2015 e que dispõe sobre o
procedimento administrativo de apuração de responsabilidade de terceiros pela
prática da infração à lei consistente na dissolução irregular de pessoa jurídica
devedora de créditos inscritos em dívida ativa administrados pela PGFN.

O PARR trata especiퟓ�camente dos casos de dissolução irregular da pessoa jurídica,


que, conforme já paciퟓ�cado na doutrina e jurisprudência, enquadram-se na hipótese
de redirecionamento do art. 135 consubstanciado na infração de lei.

É certo que todos esses novos mecanismos trazidos pela PGFN carregam consigo
inúmeros questionamentos por parte dos contribuintes, inclusive em caráter de
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inconstitucionalidade . Mas, deixando de lado essas discussões que em nada
enriquecerão a presente re韖�exão, prezamos por evidenciar uma de suas virtudes: a
possibilidade de pleno exercício de ampla defesa e contraditório.

Em outras palavras, ajuizada a execução ퟓ�scal e constatada a dissolução irregular


no curso do processo, o único meio de defesa do corresponsável, após o
deferimento do pedido de redirecionamento era, como já explicado, os embargos à
execução.

Com o PARR, a PGFN abrirá contraditório para a apresentação de documentos e


esclarecimentos, possibilitando que abusos e erros sejam mitigados.

Ou seja, os contribuintes solidários terão a oportunidade de ofertarem subsídios


para que se afaste a dissolução irregular, assegurando o prosseguimento da
execução ퟓ�scal apenas em face da pessoa jurídica, por um meio de defesa que não
necessita de qualquer garantia.

Diante desse cenário, o que aqui se propõe é que, caso a PGFN prossiga com o
entendimento de ser possível o redirecionamento da execução ퟓ�scal no caso de
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grupos econômicos, com base no art.124, inciso I, do CTN, em detrimento da


utilização do IDPJ, o melhor caminho é, certamente, a ampliação das hipóteses do
PARR, permitindo a apuração administrativa da responsabilidade tributaria em todos
os casos, não apenas nos de dissolução irregular.

Seria um enorme avanço, o qual certamente seria questionado, mas que não
perderia a virtude de privilegiar o contraditório e a ampla defesa, em tom de se
converter a evolução da atual relação hostil entre Fisco e Contribuinte para o
paradigma serviço-cliente dos países mais desenvolvidos.

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1 Atualmente apenas o depósito em dinheiro tem sido garantia suퟓ�ciente para a

concessão de efeito suspensivo aos Embargos.

2 FERRAGUT, Maria Rita, Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica e

os Grupos Economicos, in: CONRADO, Paulo Cesar e ARAUJO, Juliana Furtado Costa
(coord). O Novo CPC e Seu Impacto no Direito Tributário. 2ª Ed.. São Paulo: Fiscosoft
2016, 15p.

3 Art. 133, § 3º, CPC

4 Vide https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/parr-uma-analise-economica-

20102017

MIRELLA NAPOLEÃO BALDEZ COELHO DE OLIVEIRA – Especialista em Direito Tributário pela FGV Direito
São Paulo, Aluna do Mestrado Pro ssional da FGV Direito São Paulo e Membro do Núcleo de Direito
Tributário da mesma instituição. Advogada em São Paulo.

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