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escolas-entenda-a-polemica-sobre-a-carta-do-mec

Publicado em NOVA ESCOLA 26 de Fevereiro | 2019

Bola fora

Slogan eleitoral de Bolsonaro nas


escolas: entenda a polêmica sobre
a carta do MEC
Em carta de quatro linhas, o ministro da Educação cita saudações em
referência ao novo governo
Laís Semis

O ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez em cerimônia no MEC, em Brasília Foto:


Luis Forte/MEC

As escolas foram surpreendidas com um pedido do Ministério da Educação (MEC) para a volta às aulas:
ler uma carta do ministro Ricardo Vélez Rodríguez, cantar o Hino Nacional e filmar a execução para
envio ao MEC. O pedido, no entanto, reverberou mal e causou reações negativas por parte de muitos
educadores. O ministério explicou na manhã desta terça (26/02) que “a atividade faz parte da política
de incentivo à valorização dos símbolos nacionais”.

Na manhã desta terça-feira, o ministro afirmou no Senado que o pedido de filmagem dos alunos, sem
a autorização dos pais, foi "um erro" e que já havia sido corrigido. E que o slogan da campanha de Jair
Bolsonaro (PSL), que encerrava a mensagem de Vélez Rodríguez, também já tinha sido retirado.

Entenda:

Qual foi o pedido do MEC?


Um e-mail foi enviado na segunda-feira (26/02) às escolas solicitando que os diretores lessem uma
carta do ministro Ricardo Vélez Rodríguez a toda a comunidade escolar interna (alunos, professores e
demais funcionários) e que fosse executado o Hino Nacional em suas escolas. Na carta, o ministro
pedia para que todos os presentes saudassem “o Brasil dos novos tempos”. A mensagem terminava
com o slogan da campanha de Jair Bolsonaro: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!”. O MEC
solicitava também que a ação fosse filmada e enviada com os dados da escola para a assessoria de
imprensa do MEC e do gabinete da presidência.

Veja abaixo as mensagens na íntegra:

O e-mail
“Prezados Diretores, pedimos que, no primeiro dia de volta às aulas, seja lida a carta que segue em
anexo nesta mensagem, de autoria do Ministro da Educação, Professor Ricardo Vélez Rodríguez, para
professores, alunos e demais funcionários da escola, com todos perfilados diante da bandeira do Brasil
(se houver) e que seja executado o Hino Nacional.

Solicita-se, por último, que um represente da escola filme (pode ser com celular) trechos curtos da
leitura da carta e da execução do Hino Nacional. E que, em seguida, envio o arquivo em vídeo (em
tamanho menos que 25 MB) com dados da escola (nome, cidade, números de alunos, de professores e
de funcionários para os seguintes endereços eletrônicos:

secom.gabinete@presidencia.gov.br
imprensa@mec.gov.br”

A carta
“Brasileiros! Vamos saudar o Brasil dos novos tempos e celebrar a Educação responsável e de
qualidade a ser desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício de vocês, alunos, que
constituem a nova geração. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!

Ricardo Vélez Rodríguez”

Por que a polêmica?

Além do pedido de filmar crianças e adolescentes sem autorização dos pais e sem esclarecer as
finalidades que teriam as imagens enviadas pelas escolas, chamou a atenção a incoerência do pedido
de leitura de uma carta com referências políticas tendo em consideração que uma das bandeiras do
governo de Jair Bolsonaro (PSL) para a Educação é a implementação do Escola Sem Partido. O projeto
do Escola Sem Partido propõe o combate à doutrinação política nas escolas. Na carta de quatro linhas,
o ministro faz duas referências políticas ao governo de Jair Bolsonaro: “Vamos saudar o Brasil dos
novos tempos” e “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!”, lema da campanha presidencial de
Bolsonaro.

Qual foi o desdobramento do pedido do MEC?

Além da repercussão negativa, nesta terça (26/02) pela manhã o MEC reconheceu o equívoco e enviou
uma “carta atualizada a escolas do Brasil”. Entre as alterações está o pedido “voluntário” de que a carta
seja lida no primeiro dia de aula, a retirada do termo “Brasil dos novos tempos” e o slogan da
campanha de Bolsonaro. Também consta agora a orientação de que haja autorização das pessoas
filmadas ou de seus responsáveis, no caso dos menores de 18 anos, e a explicação de que as imagens
serão utilizadas para uso institucional. O MEC explica também que “a atividade faz parte da política de
incentivo à valorização dos símbolos nacionais”.

Confira abaixo a carta com a nova redação:

“Brasileiros! Vamos saudar o Brasil e celebrar a educação responsável e de qualidade a ser


desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício de vocês, alunos, que constituem a nova
geração.”

No e-mail em que a carta revisada será enviada, pede-se, ainda, que, após a sua leitura, professores,
alunos e demais funcionários da escola fiquem perfilados diante da bandeira do Brasil, se houver na
unidade de ensino, e que seja executado o Hino Nacional.
Para os diretores que desejarem atender voluntariamente o pedido do ministro, a mensagem também
solicita que um representante da escola filme (com aparelho celular) trechos curtos da leitura da carta
e da execução do Hino. A gravação deve ser precedida de autorização legal da pessoa filmada ou de
seu responsável.

Em seguida, pede-se que os vídeos sejam encaminhados por e-mail ao MEC (imprensa@mec.gov.br) e
à Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República
(secom.gabinete@presidencia.gov.br). Os vídeos devem ter até 25 MB e a mensagem de envio deve
conter nome da escola, número de alunos, de professores e de funcionários.

Após o recebimento das gravações, será feita uma seleção das imagens com trechos da leitura da carta
e da execução do Hino Nacional para eventual uso institucional.

A atividade faz parte da política de incentivo à valorização dos símbolos nacionais.”

Na manhã desta terça-feira, ao comparecer no Senado, Vélez Rodríguez foi questionado sobre a
questão de filmar os alunos sem a autorização dos pais e reconheceu o erro.

"Eu percebi o erro, tirei essa frase (o slogan eleitoral), tirei a parte correspondente a filmar crianças
sem a autorização dos pais. Evidentemente, se alguma coisa for publicada, será dentro da lei, com
autorização dos pais", afirmou.

Questionado por senadores no início da tarde, o ministro da Educação reafirmou que o "erro" já tinha
sido corrigido: "Slogan de campanha foi um erro. Já tirei, reconheci, foi um engano, tirei
imediatamente. E quanto a filmagem, só será divulgada com autorização da família".

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