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Paulo, o judeu

entendendo as cartas paulinas


em perspectiva judaica
LUCAS E PAULO: CONVERSÃO/VOCAÇÃO

1. Introdução:
• Há diferenças importantes entre ambos, por causa dos
propósitos deferentes;
• Lucas quer retratar o progresso da Igreja: dos judeus
aos gentios;
• Paulo quer justificar sua posição como apóstolo;
• O cristianismo depois de Lucas considera Paulo o
primeiro e mais famoso cristão convertido;
• Nova perspectiva: a fé cristã de Paulo foi consequência
de sua fé judaica, um chamado profético e não uma
conversão;
LUCAS E PAULO: CONVERSÃO/VOCAÇÃO

• Nova perspectiva: minimiza a conversão de Paulo


porque ele não fala dela com a clareza de Lucas;
• mas vários textos paulinos mostram a importância
daquela experiência como fonte da teologia paulina;
• O ponto central em Atos e nas Cartas é a experiência
que Paulo teve com o Cristo ressuscitado ou o êxtase
(o sair de si), a experiência mística.
LUCAS E PAULO: CONVERSÃO/VOCAÇÃO

• 2. Lucas:
• 50 anos depois, longe das controvérsias, escreve
sobre Paulo quando o cristianismo gentílico estava
mais confiante;
• relata 3 vezes a conversão de Paulo para colocar a
missão de Paulo o mais próximo da conversão;
• dramatiza o efeito da conversão ao retratar seu
resultado no caminho para Damasco;
• narra a conversão como um chamado profético: a
revelação do Senhor a Paulo é análoga à visão de
Ezequiel:
LUCAS E PAULO: CONVERSÃO/VOCAÇÃO

• Ezequiel: contemplou a glória de Deus (kavod), numa


figura em forma de homem, caiu no chão e ouviu uma
voz. O Senhor ordenou que ficasse de pé; deu-lhe uma
ordem de ir à nação rebelde;
• Paulo: revelação da glória de Deus (o Ressuscitado),
caiu, ouviu uma voz reveladora, ficou de pé e recebeu
a incumbência de ir às nações rebeldes.
• O movimento de Paulo em direção aos gentios é
interpretado como resultado de uma revelação da
imagem da glória de Deus (o Ressuscitado).
• Paulo é um novo profeta, mas também teve uma
conversão radical.
LUCAS E PAULO: CONVERSÃO/VOCAÇÃO

• experiência de Paulo teria sido uma audição


reveladora, distinta radicalmente das aparições do
Ressuscitado aos apóstolos; faz parte das
experiências no Espírito;
• No tempo de Lucas, a rapidez da conversão enfatiza o
poder do Espírito. Por isso ele retrata o êxtase a
caminho de Damasco como uma conversão súbita,
paradigma de convertido e modelo de missionário;
• O tema principal é o arrependimento dos pecados,
muito apropriado à missão gentílica.
LUCAS E PAULO: CONVERSÃO/VOCAÇÃO

3. Paulo:
• Nunca descreve sua conversão diretamente. Muitos
detalhes de sua vida nunca nos foram informados por
ele (p. 26);
• apenas nos diz ser judeu, circuncidado ao oitavo dia,
da tribo de Benjamim, fariseu irrepreensível e
perseguidor da Igreja (Fl 3,4-8);
• a descrição que faz de si mesmo como fariseu não
deixa espaço para culpa, ele perseguia os cristãos,
mas era por excesso de zelo, e quanto à Torah era
irrepreensível (Fl 3,6);
LUCAS E PAULO: CONVERSÃO/VOCAÇÃO

• ele sempre esteve comprometido com a Torah tanto


antes quanto depois de sua fé cristã. Mas a natureza
desse compromisso mudou radicalmente;
• quando menciona a própria conversão Paulo usa o
termo metamorfosis, transformação de um estado de
ser para outro, ou seja, um processo que terminará em
um corpo glorioso (Fl 3,7-11. 17-21);
• ao contrário, quando fala sobre a conversão dos
gentios usa o termo epistréfo (1Ts 1,9-10; Gl 4,8-9) e
metanóia para se referir à mudança de status tanto de
judeus como de gentios (2Cor 7,9-10; 12,21; Rm 2,4);
LUCAS E PAULO: CONVERSÃO/VOCAÇÃO

• Sempre que menciona sua conversão o aspecto


central é que seu novo status e sua missão provem
diretamente dela;
• ele obtém autoridade diretamente de Deus que revela
a ele o Cristo, portanto sua conversão impele sua
missão;
• a experiência com o Ressuscitado aconteceu sem a
ajuda da carne e do sangue, mas isso não significa
que ele tenha percebido imediatamente todas as
implicações daquela experiência.
LUCAS E PAULO: CONVERSÃO/VOCAÇÃO

• o pensamento e a teologia de Paulo são moldados por


sua experiência religiosa pessoal e pelos ataques de
seus adversários;
• compreendia a si mesmo como alguém que fora
chamado para uma nova missão: converter os gentios
para Cristo, depois de longa caminhada no
cristianismo, reivindica ter recebido sua missão desde
o ventre materno (Gl 1,15);
• mas embora Deus tivesse esse propósito antes do
nascimento de Paulo, a transformação da vida do
apóstolo foi uma ação do Espírito.
LUCAS E PAULO: CONVERSÃO/VOCAÇÃO

• Embora Paulo considere sua missão aos gentios como


um mandato profético, ele nunca chama a se mesmo
de profeta, mas de apóstolo.
• Paulo chama sua experiência de revelação (apocalipse)
e inclui a si próprio na lista daqueles a quem o Cristo se
manifestou (1Cor 9,11; 15,8s), não distinguindo sua
experiência das aparições aos apóstolos.
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• 4. Conclusão:
• Paulo é um convertido, no sentido moderno de quem
passou por uma experiência de transformação, e
chamado para uma missão à maneira dos profetas;
• a conversão não implica numa mudança radical da
experiência de uma pessoa, nenhum profeta se
desviou de sua experiência anterior;
• O tema central das seções autobiográficas nas cartas
de Paulo é o contraste entre sua vida anterior, de
perseguição aos cristãos, e sua vida atual de defensor
dos cristãos;
LUCAS E PAULO: CONVERSÃO/VOCAÇÃO

• A conexão entre a experiência de Paulo com Cristo


ressuscitado e a vocação de evangelizar os gentios
está clara, mas a clareza dessa conexão pode ter sido
percebida por Paulo lentamente depois de anos de
experiência.
• A compreensão que Paulo teve pode ter sido resultado
de sua experiência de sucesso entre os gentios e de
rejeição por parte dos judeus;
• Paulo é certamente o apóstolo dos gentios, como
Lucas o retratou, mas os relatos fragmentados de
Paulo sobre sua missão diferem da descrição de
Lucas.
LUCAS E PAULO: CONVERSÃO/VOCAÇÃO

• Paulo não é um gentio recém-formado, convertido ao


cristianismo; ao contrário, permanece um judeu
versado na Torah, representando, endossando e
promovendo a missão entre os gentios;
• A diferença entre Lucas e Paulo emerge da função
que se dá à experiência de êxtase em seus escritos:
• Para Lucas o êxtase de Paulo é o modelo para a
conversão dos gentios, e diferente das aparições do
ressuscitado aos discípulos e apóstolos.
• Para Paulo, a visão reveladora de Cristo a ele está em
função de uma luta por sua aceitação como apóstolo.
LUCAS E PAULO: CONVERSÃO/VOCAÇÃO

• É provável que a conversão de Paulo não tenha sido


tão repentina quanto Lucas afirma e nem tão isolada
do contato humano;
• a revelação que Paulo recebeu veio de Deus, mas foi a
comunidade que o ajudou a entender o significado
dessa revelação;
• Paulo também aprendeu da comunidade o conteúdo
da revelação (1Cor 15,1-11). Mesmo nesse ponto ele
age como fariseu, pois receber e passar adiante (kibel
e masar) são usados para a tradição oral dos fariseus.
LUCAS E PAULO: CONVERSÃO/VOCAÇÃO

• É infrutífero psicanalisar Paulo, se ele tem sanidade


mental ou se tem consciência culpada, se veio de
uma família autoritária ou não.
• O que deve ser destacado é a dimensão social /
comunitária de sua experiência de conversão.

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