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TCC 1 Parte Corrigida.
TCC 1 Parte Corrigida.
PEDAGOGIA UNIVERSAL.
Leandro Januário Rodrigues de Santana (UFPE).
Orientador: Thiago Aquino
Palavras-chaves: Espírito Objetivo. Ciências do Espírito. Compreensão. Dimensão Histórica.
Indivíduo. Análise Existencial. Hermenêutica. Pedagogia Universal.
1 O termo aqui é usado como acepção psicológica, e não em sentido antropológico acadêmico mais usual,
mas retirada de aspectos importantes da experiência vivida.
elaborado por Hegel. Entretanto, o historicista argucioso buscou descrever e analisar sua
concepção distinguindo-a daquela criada por Hegel. Em Hegel, o progresso do espírito
universal realiza antes uma das etapas da qual se chama espírito objetivo, situado entre o
especulativo e o absoluto. Este espírito objetivo é conceituado por Hegel na concepção do
homem ideal na evolução do intelecto universal. Sendo captado na forma especulativa.
Referindo-se às ligações temporais, empíricas e históricas (Dilthey, 2010, p. 112. Unesp),
como um processo que deve ser superado e retornar para o absoluto. Dilthey rejeita estas
suposições metafísicas de Hegel, pois dissolve as ligações temporais, empíricas e históricas,
removendo destas as características individuais a uma vontade especulativa universal. Será na
vida que ocorrerá toda a ação sobre a universalidade no conjunto psicológico de cada
individuo. Hegel edificou sua concepção de mundo metafisicamente, quando, na verdade, era
necessário fundamentar seu método na descrição e análise das ligações temporais, empíricas e
históricas, a partir das informações, conhecimentos e criações dos sistemas culturais
objetivados. Esta análise existencial psicológica do mundo histórico cheio de vida acaba por
nos revelar a efemeridade e aflição perante a nossa finitude. Para Dilthey, seu conceito de
espírito objetivo não nasce da especulação da razão, mas da compreensão de indivíduos e
sociedades objetivadas condicionadas pelo seu momento histórico:
Todavia, os pressupostos sobre os quais Hegel assentou esse conceito não podem
mais ser mantidos hoje. Ele construiu as comunidades a partir da vontade racional
universal. Nós precisamos partir hoje da realidade da vida; na vida age a totalidade
do nexo psíquico. Hegel constrói metafisicamente; nós analisamos aquilo que é
dado. E a análise atual da existência humana preenche-nos todos com o sentimento
da fragilidade, do poder dos impulsos sombrios, do sofrimento com as obscuridades
e com as ilusões, da finitude em tudo aquilo que a vida é, mesmo onde surgem a
partir dela os mais elevados produtos da vida comunitária (Dilthey, 2010, p. 115;
itálicos não originais. Unesp).
Aqui, Dilthey nos mostra o nascedouro daquilo que ele chama de “concernência vital”,
ou seja, a relação na qual o Eu se inseri nas circunstâncias, descrevendo a mudança que se
repete continuamente na conexão com as coisas e dos homens com estas. Não haverá homem
e coisa alguma funcionando exclusivamente na função de objeto para o Eu, não tendo em si
uma força ou impulso, um limite de sonho ou que torne menor sua vontade, um valor,
inspirações de opiniões feitas logo após um exame e reflexão ou familiaridade interior, ou
submeter-se à vontade de outrem, o que configura a diferença entre indivíduos. Entretanto,
quem não se sente desconfortável com um sujeito diante desta diferença e singularidade?
Esta unidade vital psicofísica em momento restrito e duradouro modifica-se
convertendo os homens e as coisas em mensageiros da felicidade do Eu, em dilatação e
ampliamento de seu horizonte existencial, na valoração de seu vigor ou restringindo por
interesse a área de sua atuação real, pondo em atividade um constrangimento moral e
subtraindo minha vontade. Contudo, esta concernência vital nos traz mudanças dos estados de
nós mesmos, uma mudança oriunda da relação vivificadora ao corresponder à virtude
característica inerente de um ser que, assim sendo, as coisas atingem seu sentido no nexo com
a vida. Sobre a camada mais profunda do Ser, a vida se manifesta em inúmeros matizes ao
modificar-se na conexão do mundo histórico, é o que Dilthey afirma: “uma apreensão
objetiva, uma valoração e um estabelecimento de metas como tipos de comportamento. Esses
tipos de comportamento estão ligados para formar no curso da vida conexões interiores que
abarcam e determinam toda a atividade e todo o desenvolvimento” (Dilthey, 2010, p. 90.
Unesp).
Isto Dilthey nos mostra em um exemplo de seu texto elucidando a vida de um poeta
lírico quando expressa suas experiências vividas, ao partir de sua posição deixando sua marca
nos homens e nas coisas quando acessamos sua singularidade impressa em seu espírito
objetivo, na relação vital psicofísica. Nisso, algum ego se agiganta na própria existência e, no
seio dessa vivência, o lapso de tempo de suas experiências emerge trazendo consigo a
concernência vital do Eu no que lhe concerne à condição de acesso à expressão objetivada em
seu escrito, à veracidade do poeta lírico ao enxergar e observar as expressões dos homens, as
ocupações e ele mesmo. O poeta épico, colocado por Dilthey, também se apresenta em
semelhantes condições às do lírico, nada pode expressar ou falar de outro modo sem aquelas
manifestações oriundas da experiência vivida, no vínculo das unidades psíquicas da vida.
Dentro das concernências vitais, apresenta também as experiências vividas por
indivíduo em suas épocas. É aquilo que Dilthey chama de vivência (Erlebnis) ou um dos
pilares de sustentação do mundo histórico e o mais importante dentro da proposta
hermenêutica a qual se propõe a fundamentar as Ciências do Espírito, na busca da apreensão
objetiva que se apresenta no ritmo contínuo do tempo. Na proporção que a experiência torna-
se mais ampla no contínuo avançar do tempo retirando-se cada vez mais para um lugar mais
afastado, desponta uma recordação no próprio lapso da vivência. Assim, as recordações em
seus estados e representações existenciais das várias condições, elaboram-se no momento da
compreensão. Recordações e representações existenciais surgem na maneira de expressões e
seres equivalentes no mundo histórico. As ocorrências no proceder dessa indução adquirem
estabilidade conclusiva, desenvolve de modo repetido o fluxo da vida; as universalizações
geradas permanecem em contínua correção, ou seja, a constância vinda da experiência
particular de cada pessoa é diferente daquilo que chamamos de validade universal científica
(Dilthey, 2010, p. 91. Unesp), visto que a proposição de caráter geral não se constitui de
acordo com um método e não poderá expressar-se de maneira firme. “O ponto de vista
individual, que se pretende à experiência pessoal de vida, retifica e se amplia na experiência
geral de vida” (Dilthey, 2010, p. 91. Unesp).
Nas palavras do próprio Dilthey, a experiência expressiva de um quadro e sua pintura
podem reunir vários momentos isolados durante o transcurso do tempo e mesmo assim podem
ser considerados como vivência. Um encontro com a experiência romântica entre duas
pessoas não se dará apenas num único evento, mas a soma de acontecimentos ocorridos em
momentos de variados tipos, tempos e lugares: “Por essa experiência de vida compreendo os
princípios que se formam em algum círculo de pessoas ligadas umas às outras e que são
comuns a elas” (Dilthey, 2010, p. 91. Unesp). Esta unidade vital psicofísica eleva-se do fluxo
contínuo da vida na própria experiência vivida.
A experiência da vida não pode ser compreendida como sendo conteúdo de uma
atividade anterior à experiência em sua consciência no poder elaborar cogitações sobre si
mesma, a partir de um imperativo categórico a priori, já que teríamos de estar de posse da
mente, mas a vivência é desempenho e resultado do pensamento histórico da individualidade,
isto é, um bem no qual e pelo qual nos nutrimos. “Trata-se de enunciados sobre o transcurso
da vida, juízos de valor, regras de condução da vida, definições de metas e bens” (Dilthey,
2010, p. 91. Unesp). A experiência à medida que assim é doada na maneira de ser pré-
reflexiva em seu valor, imediatamente esta experiência poderia converter-se no objeto da
reflexão, e se isto acontecer ela deixará de ser o próprio conhecimento direto com a vida, se
tornará conteúdo de encontro em outra vivência. “Sua característica mais marcante é o fato de
elas serem criações da vivência comum e de se referirem tanto à vida dos homens singulares,
quanto à existência das comunidades” (Dilthey, 2010, p. 91. Unesp). A vivência é mais que
um debate, ela é ação da consciência, não poderá ser edificada sobre juízos categóricos a
priori como Kant havia instituído, apresentando uma vivência sem vida, onde o pensamento é
pulverizado, tornando-se rarefeito em seu direito de tornar-se eterno e sua criação contínua na
objetivação da vida, reencontrada na autenticidade e vontades individuais:
O a priori de Kant é rígido e morto; mas as verdadeiras condições da consciência e
os seus pressupostos, como eu os entendo, são um processo histórico vivo, são
desenvolvimento, eles tem a sua história e o curso dessa história é a sua adaptação à
multiplicidade dos conteúdos da sensibilidade que é cada vez mais bem conhecida
de modo indutivo (Dilthey, 2010, págs. 43, 44. Edusp).
Os textos elaborados por Dilthey para a criação de uma “Crítica da Razão Histórica”
são produzidos a partir da Crítica da Razão Pura de Kant. O plano de Dilthey é apresentar
razões fundamentadas filosoficamente no exercício da razão da existência humana, no interior
da consciência histórica, abrindo caminho para uma compreensão da dimensão do
acontecimento da história, na qual nutrimos e nos movemos no fluxo contínuo do tempo. Em
finais do século XIX, Dilthey enfrenta veementemente o positivismo que insistia em
fundamentar as Ciências do Espírito com a rigorosidade das Ciências da Natureza,
substituindo do núcleo formador toda a construção Psicológica Naturalista pela Psicologia
Descritiva e Analítica criando uma Hermenêutica que descreve e analisa as sociedades, na
concepção da vida objetiva, de conceber a característica organizacional das Ciências do
Espírito.
[…] Dilthey critica o positivismo na medida em que não reconhece na sociologia o
estatuto epistemológico que lhe conferia Comte. Deu a prioridade à psicologia, mas
combatentdo vigorosamente o naturalismo que infestava essa disciplina, sem, no
entanto, recair nas armadilhas da introspecção (JAPIASSU, 1982, p. 125).
A importância dada às ciências histórico-sociais não pode ser só de interesse pela alma
humana, pelo procedimento da psiquê do sujeito, mas pelo “espírito” a cultura associada. A
interpretação de uma atividade lúdica independe do caráter do criador. Mesmo que a obra de
arte como um quadro ou escultura exprima gozo e infelicidade, esses não serão estados do
indivíduo, todavia, da “pessoa ideal” projetada pelo criador em sua experiência vivida. A vida
psíquica deste sujeito é compreendida durante a revivência e exteriorização de seu espírito
objetivo. O homem se reconhece na própria história, jamais pelo juízo categórico. A exegese
ou interpretação não compreende a substância humana como regra, mas nos mostra várias
capacidades do gênero humano, soltando-nos dos grilhões do hoje.
Em Dilthey há o debate da separação dos termos em oposição entre “ciências do
espírito” (Geisteswissenschaften) e “ciências da natureza” (Naturwissenschaften),
considerando-as um contraste indispensável entre duas áreas do saber. Compreensão e
explicação estão respectivamente relacionadas às ciências do espírito e ciências da natureza,
nesta última seu método se detém na explanação em sua capacidade de sentir e captar o que
existe no mundo externo, em parte a História ou qualquer área do saber humano operaria na
vinculação à obrigação da compreensão (Verstehen) nos acontecimentos da vida anímica, de
compreendê-los não somente em seu estado manifesto, mas igualmente seu mundo histórico,
penetrando sua intenção, suas ligações figurativas, gnosiológicas, experienciais, ou em outras
palavras, seu sentido, sendo essa ambitude a das ciências do espírito.
Dilthey tocará de maneira profunda na contestação substancial na elaboração da gnose
científica, no tocante as Ciências do Espírito, a complexidade das metodologias teóricas
confere de modo irrefutável, com o desejo que cada um destes procedimentos filosóficos
verifica à eficácia universal. Profusão, circunstâncias históricas, distinção e transformação,
unem-se à investigação feita por Dilthey na relação da cultura. Na conexão de cada visão
formativa de um povo, desse modo, autêntica, em discernimento nas manifestações
predeterminadas pelo universo histórico pertencente, uma fixada porção de vericidade na
especificidade de estar conforme a realidade, estando assim, encoberta ao sujeito do saber que
só conhece quando este toma posse através da indução. Dilthey declarará que em um
magnífico trabalho artístico, parecendo aqui ser uma interpretação daquilo que venha ser uma
obra de arte, não terá nenhuma utopia no tocante a sua expressão espiritual:
Para Dilthey, a vida brota no vínculo das relações sociais com o meio, a vida revela-se
removendo o véu que a encobre sendo ela mesma reveladora do segredo da própria vida, da
mesma as vivências recebendo e agindo em favor da verdade. A unidade vital psicofísica
assinala-se e neste diferenciar a vida brilha, revelando a conexão de vínculos indesatáveis do
eu próprio e da realidade-efetiva do mundo histórico. Neste vínculo vívido, na desordem
sentimental, nos sobrevém a humanidade desenhando o mundo psicológico na relação de
valores como categorias ordenadas. Dilthey procura examinar detalhadamente cada setor da
vida, propondo uma Filosofia profunda a partir da ação reflexiva humana na própria vida.
Inexplicável, secreta e de impossível acesso a um conceito ou pelo conceito. A vida é
substancialmente significativa nas expressões, passagens discordantes nos embates de forças
antagônicas, num modo de mudança e identificação manifestas nas experiências novas. É
característico da vida, manifestar-se e objetivar-se em alegorias, emergindo relações sociais,
pois todo o mundo psicológico busca expressar-se num exterior. Eis ai o motivo pelo qual a
vida se apresenta como uma raiz ao fenômeno histórico.
Dilthey declara com impulso que a experiência vivida e o mundo extrínseco se
conectam a todo o momento numa relação de reciprocidade, nunca se separando. Entretanto,
na concepção de mundo, há possibilidade conectiva em que o meio social é reprodução
humana, ou seja, pertencente a uma ação psicológica, indicação axiológica e teleológica,
como objeto final. Isto significa que o mundo dos fenômenos emocionais, sua grandeza livre,
é pura imaterialidade, pois o conhecimento de si mesmo e os indivíduos em sua volta são
convergentes, mas não exclusivamente em graus de juízos. Esta ligação provoca em nós, seres
viventes, plenas condições de sentir e perceber através dos sentidos, imaginações, sonhos e
capacidade intelectual e prática. Afeição, entendimento, desejo e força, compreendem o tecido
e o construído num enredo. De fato, a compreensão deve ultrapassar o campo da aparência,
uma vez que esta é recíproca ao conhecimento que o indivíduo tem sobre si mesmo e do meio
prático social a qual pertence, em seus dilemas.
Como esclarecer então a expressão de uma construção do mundo histórico? Queremos
esclarecer que o ponto de vista de Dilthey, o pensamento não é um mero produto de
encadeamentos de juízos, não nasce de mecanismos simples do desejo de sentir, já que a ação
de se apropriar do mundo histórico brota da organização de nossa constituição psicológica.