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ÓCULOS PARA TODOS

Serão os óculos um direito humano?

Tendo em conta que existem atualmente aproximadamente 8


bilhões de pessoas a residir no planeta Terra, e que mais de 2 bilhões
usam óculos ou lentes de contacto, é caso para se dizer que vivemos
numa “geração de quatro olhos”. Mas será que estão incluídas todas as
pessoas com problemas de visão nestes 2 bilhões de usuários?.
Trata-se de uma pergunta sem resposta exata, várias pesquisas
apontam haver pelo menos 1 bilhão de pessoas que, por falta de
recursos, não conseguem usufruir nem da utilização de óculos nem de
lentes de contacto.
Neste ensaio, irei de forma clara e concisa tentar provar que os
óculos devem ser gratuitos, pondo em causa o seu preço e importância.
Além disso, irei demonstrar a incoerência dos direitos humanos em
relação a este tópico, que vem ganhando, cada vez mais, espaço para
debate.
É de grande relevância esclarecer, em primeiro lugar, alguns
conceitos: Direitos humanos, importância dos óculos e a que se deve
esta desigualdade na aquisição dos óculos. Relativamente aos direitos
humanos, podemos dizer que são todos os direitos relacionados à
garantia de uma vida digna a todas as pessoas, só pelo facto de serem
humanas( direito à educação, direito à saúde, direito à vida…etc).
Por sua vez, a importância dos óculos consiste na capacidade de
incluir as pessoas que não são capazes de realizar atividades do
quotidiano, como estudar ou trabalhar, devido aos problemas de visão,
na sociedade.
Por último, a desigualdade na aquisição de óculos deve-se,
maioritariamente, às desigualdades sociais e afetam sobretudo países
não desenvolvidos e países em vias de desenvolvimento.
Posto isto, irei falar do principal motivo influenciante da escolha do
tema para este ensaio. A inclusão social. Quer seja na educação ou

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no trabalho, os óculos para além de corrigirem a visão, permitem aos
seus utilizadores uma vida “normal”, isto é, igualam-se com os demais
que por instância do destino, não têm a necessidade de usar óculos.
Bom, um dos vários direitos humanos está relacionado à igualdade no
acesso à educação, no entanto, é factual que os portadores de
problemas visuais, de baixo rendimento econômico, sentem inúmeras
dificuldades ao longo da sua jornada no recinto escolar. A maior parte
dessas vítimas, infelizmente, são vistas como “maus alunos”, isto
porque, os professores muitas vezes acham que o não conseguir ler
algo do quadro, ou por exemplo, não conseguir distinguir cores são
dificuldades escolares, no entanto, são dificuldades visuais. Estas
dificuldades poderiam ser facilmente evitadas se todas as famílias
tivessem acesso à compra de óculos. Se a educação de uma criança é
afetada pela falta de um simples par de óculos, podemos dizer que
realmente existe igualdade no acesso da educação? Bom, acho que
não, e dou o exemplo da China, que para evitar que houvesse barreiras
na aprendizagem, e para garantir a igualdade no acesso à informação,
forneceu a milhares de crianças óculos gratuitos. Este projeto chinês,
conseguiu provar o expectável, quando as crianças têm as condições
necessárias para o estudo, os resultados escolares aumentam
eventualmente.

● A igualdade no acesso à educação, é garantido com as


condições necessárias;(óculos)
● Mas, não existe condições necessárias;
● Logo, não existe igualdade no acesso à educação;

A segurança na condução é algo imprescindível. No entanto,


existem problemas visuais que condicionam a segurança nas
estradas. Todos sabemos que a condução é uma tarefa exigente, pelo
que ter uma boa visão é essencial para não pôr em causa a vida dos
pedestres e a dos próprios condutores.
No início de 2023, ocorreu em Portugal um incidente, entre um
condutor de ambulância, que escolheu não usar óculos graduados
enquanto socorria uma vítima e a transportava ao hospital. Esse ato de
imprudência resultou, para além da multa e prisão do condutor, em uma

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morte que poderia ter sido facilmente evitada. Tendo por base um
estudo feito no Brasil, podemos verificar que quando um condutor
conduz sem os devidos cuidados (utilização de óculos), fica três vezes
mais suscetível a causar ou sofrer um acidente de viação. Os habitantes
de países de baixo rendimento, têm outras prioridades, tais como,
garantir alimentos ou até mesmo uma habitação, consequentemente,
trata-se de uma minoria os que conseguem adquirir óculos. Logo, são
indivíduos que sofrem e/ou causam mais acidentes de viação.
Para além disso, é importante evidenciar que existem várias
complicações provenientes do simples facto de uma pessoa não
usar óculos. Esses problemas podem ir desde uma simples enxaqueca
à perda total ou parcial da visão para o resto da vida. Como já analisei
anteriormente, os Direitos Humanos defendem o direito à vida e à
saúde. Porém várias vidas, essencialmente nos países com condições
precárias, são afetadas diariamente por complicações a nível visual,
colocando em risco a realização das suas tarefas do quotidiano. Será
isto uma vida digna? A resposta é não. Na medida em que estas
complicações podem ser colmatadas com a aquisição de um par de
óculos.
A minha proposta para os óculos gratuitos entrarem em vigor, não
passa de uma entreajuda comunitária, com auxílio do Estado. Para que
a aquisição de óculos seja acessível a todos, defendo os seguintes
ideais:
1. Reutilização das armações, ou seja, as pessoas com
possibilidades financeiras capazes de renovar as armações
anualmente, poderiam doar as suas antigas. Com esta doação,
beneficiaria de pontos para uma eventual compra de armações.
2. Criação de um modelo de óculos “Standard”, que seriam
adquiridos pelas famílias desfavorecidas gratuitamente, conforme
o IRS.
3. Doação de óculos com “erros de fabrico”: como é do
conhecimento de todos, por vezes, os óculos por “erros de fabrico”
mínimos já não são colocados à venda. Assim sendo, defendo
que nestes casos estes óculos poderiam ser doados ou
disponibilizados a pessoas com carência financeira. Sublinho que
esta ideia é fidedigna apenas em casos que os “erros de fabrico”
não coloquem em causa a saúde dos indivíduos.

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4. Para além disso, os óculos sazonais que não são vendidos,
podem assim também ser doados pelas instituições aos mais
necessitados.
Após a apresentação dos meus ideais, é possível que
surgem contra argumentos, nomeadamente:
1. O decréscimo no mercado ótico, uma vez que o fabrico
dos óculos trará mais prejuízo do que lucro para os
produtores. Defendo que este decréscimo vai ser
compensado com uma melhor qualidade de vida dos mais
necessitados.
2. Fornecer óculos gratuitos poderá levar a abusos, como
pessoas encomendando múltiplos pares ou vendendo-os
para obter lucro. Isso poderia levar a ineficiências e poderia
reduzir a eficácia do programa. Para haver este tipo de
reutilização, seria necessário um rígido controle sobre os
consumidores. Exemplo disto seria a aplicação de um termo
de aceitação/compromisso, no qual seria definido as normas
para a adesão a este programa de doação.
3. Fornecer óculos gratuitos poderá levar à discriminação
daqueles que precisam deles, principalmente na faixa etária
mais jovem. Acredito que existirá mais bullying a
crianças/jovens que apresentem deficiência visual do que
propriamente àqueles que adiram ao programa de
doação/reutilização de armações.
4. Existem inúmeras prioridades/necessidades emergentes
na sociedade. No entanto, a saúde visual deverá ser uma
das principais prioridades do estado, pois esta poderá
condicionar o desenvolvimento de tarefas , desde
domésticas a profissionais.
Embora existam argumentos válidos contra a gratuitidade dos
óculos, os benefícios de os tornar gratuitos superam as desvantagens.
Os problemas de caráter visual são, e estão cada vez mais a ser
comuns, e podem ser resolvidos muitas das vezes com uns simples
óculos. Então conclui-se que, para que os Direitos Humanos sejam
respeitados, os óculos devem ser gratuitos na medida em que, a sua
falta condiciona não só a saúde da pessoa mas também a educação ou
trabalho.

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