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A Liberação Do Espírito - Watchman Nee
A Liberação Do Espírito - Watchman Nee
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A Liberação do
Espírito
Watchman Nee
Publicação da
CLC Editora
Caixa Postal 700
12.200 São José dos Campos (SP)
Tradução de
GORDON CHOWN
Publicação da
CLC Editora
Caixa Postal 700
12.200 São José dos Campos (SP)
ÍNDICE
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Introdução ..............................................................................................07
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ache um mínimo de impedimento em nós, e que Ele possa ser plenamente
liberado através do nosso espírito vivificado e controlado.
Certamente é esta a hora em que o campo da batalha está na alma. Ao
passo que o Senhor está procurando trabalhar através do espírito vivificado,
Satanás está procurando trabalhar através da vida natural, a da alma que não
foi submetida ao controle do Espírito.
Durante seus muitos anos de labutar com cooperadores, o Irmão Nee viu
claramente a necessidade total do quebrantamento. É quase como se ele
estivesse pessoalmente aqui em nosso cenário religioso, sentindo a grande
necessidade do quebrantamento entre os cooperadores cristãos. Talvez haja
alguns que são despreparados para uma dose tão amarga de remédio
espiritual, mas cremos que qualquer pessoa com discernimento e fome
concordará que o romper dos poderes da alma é imperativo, se é que o espírito
humano deva expressar a Vida do Senhor Jesus.
Nesta hora presente, em que o cenário religioso está ocupado com o
subjetivismo e as experiências emocionais, parece ainda mais importante que
cada um dos filhos de Deus compreenda sua constituição básica e a função do
seu espírito, da sua alma e do seu corpo. Para aqueles que realmente estio
prosseguindo para o prémio, para a soberana vocação, esta é,
verdadeiramente, uma verdade altamente imperativa. Confiamos, portanto,
que esta mensagem chegará a todas as partes do Corpo de Cristo e leve a
efeito, uma liberação da Sua vida. Que assim seja, para Sua eterna glória,
louvor e honra!
Os Editores
INTRODUÇÃO
Para o leitor apreciar devidamente estas lições, talvez sejam úteis
algumas declarações preparatórias:
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Primeiramente, devemos ficar acostumados com a terminologia que o
Irmão Nee emprega. Escolheu chamar o espírito do homem de "homem
interior"; à alma do homem, chama de "homem exterior" e para o corpo
emprega o termo "homem periférico." No diagrama retraíamos este fato. Será
útil, também, reconhecer que Deus, ao planejar o homem originalmente,
pretendeu que o espírito do homem fosse Seu lar ou Sua residência. Assim, o
Espírito Santo, formando uma união com o espírito humano, deveria governar a
alma, e o espírito e a alma, usariam o corpo como meio de expressão.
Diagrama
corpo Homem
Periférico
alma Homem
Exterior
espírito Homem
Interior
Finalmente, nestas lições, devemos ver por que Watchman Nee insiste
que a alma (o homem exterior) seja quebrantada, dominada, e renovada para
o espírito usá-lo. T. Austin-Sparks disse:
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* (Citações de WHAT IS MAN, de T. Austin-Sparks)
CAPÍTULO 1
A IMPORTÂNCIA DO QUEBRANTAMENTO
Qualquer pessoa que serve a Deus descobrirá, mais cedo ou mais tarde,
que o grande impedimento para a sua obra não são outras pessoas mas, sim,
ela mesma. Descobrirá que seu homem exterior e seu homem interior não
estão em harmonia, pois os dois tendem para direções opostas. Sentirá,
também, a incapacidade do seu homem exterior submeter-se ao controle do
espírito, tornando-o, assim, incapaz de obedecer aos mandamentos mais
sublimes de Deus. Perceberá rapidamente que a maior dificuldade acha-se no
seu homem exterior, pois este o impede de fazer uso do seu espírito.
Muitos dos servos de Deus nem sequer conseguem fazer as obras mais
elementares. Normalmente, devem ser capacitados pelo exercício do seu
espírito a conhecer a palavra de Deus, a discernir a condição espiritual doutra
pessoa, entregar as mensagens de Deus com unção e receber as revelações de
Deus. Mesmo assim, devido às distrações do homem exterior, parece que seu
espírito não funciona apropriadamente. É basicamente porque seu homem
exterior nunca foi tratado. Por esta razão, o reavivamento, o zelo, o implorar e
as atividades não passam de um desperdício de tempo. Conforme veremos, há
apenas um só tratamento que pode capacitar o homem a ser útil diante de
Deus: o quebrantamento.
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igreja, e não podemos esperar que a palavra de Deus seja abençoada através
de nós!
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Muitas pessoas, no entanto, antes mesmo que o Senhor erga Sua mão, já
estão aflitas. Oh! devemos reconhecer que todas as experiências, problemas e
provações que o Senhor nos envia são para nosso bem supremo. Não podemos
esperar que o Senhor nos dê coisas melhores, pois estas são as melhores. Se
alguém se aproximasse do Senhor, e orasse, dizendo: "Ó Senhor, por favor,
deixa-me escolher o melhor," creio que Ele lhe diria: "Aquilo que Eu te dei é o
melhor; tuas provações diárias são para teu máximo proveito." Assim, o motivo
por detrás de toda a providência de Deus é quebrantar nosso homem exterior.
Uma vez que isto ocorre e o espírito pode fluir, então, começamos a exercitá-lo.
O Significado da Cruz
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CAPÍTULO 2
Aventurando-se e Recolhendo-se
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na nossa conversação tanto quanto ao ajoelhar-nos em oração. Cumprir nossas
tarefas diárias não nos a Casta de Deus; logo, não precisamos voltar.
Agora, consideremos um caso extremo para ilustrar este fato. A ira é o
mais violento dos sentimentos humanos. Mas a Bíblia não nos proíbe de
ficarmos zangados, porque nem toda ira, se relaciona com o pecado. "Irai-vos,
mas não pequeis," diz a Bíblia. Mesmo assim, a ira de qualquer tipo é tão forte
que quase chega ao pecado . Não achamos "Amai, mas não pequeis", nem
"Sede meigos, mas não pequeis", na Palavra de Deus, porque o amor e a
meiguice estão removidos a uma grande distância do pecado. A ira, porém, fica
perto do pecado.
Talvez, certo irmão cometeu uma falha séria. Precisa ser severamente
repreendido. Isso não é coisa fácil. Preferíamos exercer nossos sentimentos de
misericórdia do que colocar nossos sentimentos de ira em jogo, pois esta pode
cair em coisa diferente com o mínimo de descuido. Dessa forma, não é fácil ser
corretamente zangado de acordo com a vontade de Meus Mesmo assim, aquele
que conhece o quebrantamento homem exterior pode tratar severamente com
outro irmão sem seu próprio espírito ser perturbado, nem a presença de Deus
interrompida. Permanece em Deus tanto ao lidar com os outros, quanto na
oração. Assim, depois de ter chamado a atenção do seu irmão, pode orar sem
qualquer esforço para recolher-se em Deus. Reconhecemos que isto é um
pouco difícil; quando, porém, o homem exterior é quebrantado, torna-se
possível, sem problemas.
CAPÍTULO 3
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A Força Limitada do Homem Exterior
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Ninguém está equipado para trabalhar simplesmente porque aprendeu
alguns ensinos. A pergunta básica continua sendo: Que tipo de homem é ele?
Aquele cujas operações interiores estão erradas, mas cujo ensino está correto,
pode suprir as necessidades da igreja? A lição básica que devemos aprender e
sermos transformados em vasos apropriados para o uso do Mestre. Isto pode
ser feito somente mediante o quebrantamento do homem exterior.
Deus está operando incessantemente em nossa vida. Muitos anos de
sofrimentos, provações, e impedimentos — trata-se da mão de Deus, que dia
após dia procura levar a efeito Sua obra de nos quebrantar. Você não vê o que
Deus está fazendo neste ciclo interminável de dificuldades? Senão, você deve
pedir a Ele: "Ó Deus, abre os meus olhos a fim de que eu perceba a Tua mão."
Quão frequentemente os olhos de um asno são mais agudos do que os de
alguns que se denominam profetas.
Embora o asno já tivesse visto o Anjo do Senhor, o dono dele não o vira.
O asno reconheceu a mão de Deus que proibia, mas aquele que se chamava de
profeta não a reconheceu. Devemos ter a consciência de que o
quebrantamento é o modo de Deus agir em nossa vida. Quão triste é que
alguns ainda imaginam que se apenas pudessem absorver mais ensino,
acumular mais matéria para pregação, e assimilar mais exposição bíblica,
seriam mais proveitosos para Deus. Esta ideia está totalmente errada. A mão
de Deus está sobre você para quebrantá-lo — não segundo a sua vontade,
mas, sim, a dEle; não segundo os seus pensamentos, mas, sim, os dEle; não
segundo sua decisão, mas a dEle. Nossa dificuldade é que, à medida em que
Deus nos resiste, culpamos a outras pessoas. Reagimos como aquele profeta
que, cego à mão de Deus, culpava o asno por recusar-se a fazer um movimento
sequer.
Tudo quanto vem a nós é ordenado por Deus. Para um cristão, nada é
acidental. Devemos pedir a Deus que abra nossos olhos para vermos que Ele
nos está ferindo em todas as coisas e em todas as áreas da nossa vida. Certo
dia, quando, mediante a Sua graça sobre nós, formos capazes de aceitar a
providência de Deus em nosso meio-ambiente, nosso espírito será liberado e
pronto para funcionar.
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Devemos resolver esta questão de uma vez para sempre. O caminho da
obra espiritual acha-se quando Deus se manifesta através de nós. Este é o
único caminho que Deus ordenou. Para quem está intato, o evangelho está
bloqueado e não pode fluir através da vida. Curvemo-nos totalmente diante de
Deus. Obedecer a lei de Deus é muito melhor do que dizer muitas orações é
muito melhor parar de orar e confessar: "Deus, prostro-me diante de Ti." Sim,
quão frequentemente nossas orações por bênçãos realmente erguem
barreiras. Ansiamos pela bênção, mas parece que achamos a misericórdia de
Deus nas experiências que esmagam. Se apenas procurássemos a iluminação,
aprendêssemos a submeter-nos à Sua mão, e obedecêssemos à Sua lei,
descobriríamos que o resultado seria a própria bênção pela qual ansiamos.
CAPÍTULO 4
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Ao diagnosticar um caso, um médico pode apelar a muitos instrumentos
de medicina. Conosco, não é assim. Não temos termómetros nem raio-x, nem
qualquer outro dispositivo para nos ajudar a discernir a condição espiritual do
homem. Como, pois, discernimos se um irmão está espiritualmente doente, ou
determinamos a natureza do seu distúrbio? É maravilhoso que Deus nos
projetou para sermos "termómetros" para a medição. Mediante a Sua operação
em nossa vida, Ele deseja equipar-nos para discernir o que "aflige" uma
pessoa. Como os "médicos" espirituais do Senhor, devemos ter um preparo
interior eficiente. Devemos ter profunda consciência do peso da nossa
responsabilidade.
Suponhamos que o termómetro nunca fora inventado. O médico teria de
determinar se seu paciente estava com febre pelo mero toque da sua mão. A
mão lhe serviria de termômetro. Quão sensível e acurada sua mão teria de ser!
No trabalho espiritual, é exatamente esta a situação.
Nós somos os termómetros, os instrumentos. Devemos passar por
treinamento eficiente e disciplina rigorosa, pois tudo quanto for deixado
intocado em nós será deixado intocado em outras pessoas. Além disto, não
podemos ajudar outros a aprender lições que nós mesmos não aprendemos
diante de Deus, Quanto mais eficiente for o nosso treinamento, tanto maior
será nossa utilidade na obra de Deus. Semelhantemente, quanto o mais nos
poupamos — nosso orgulho, nossa estreiteza, nossa felicidade — tanto menor
a nossa utilidade. Se encobrirmos estas coisas em nós mesmos, não
poderemos descobri-las nos outros. Uma pessoa orgulhosa não pode lidar com
outra na mesma condição; um hipócrita não pode tocar na hipocrisia de outra
pessoa, nem pode aquele que é desregrado na sua vida ter um efeito útil sobre
quem tem a mesma dificuldade. Como sabemos bem que, se tal coisa ainda
está em nossa natureza, não poderemos condenar exatamente aquele pecado
nos outros! De fato, dificilmente até mesmo o reconhecemos nos outros. Um
médico pode curar a outros sem curar a si mesmo, mas isto dificilmente pode
ocorrer no âmbito espiritual. O obreiro é, em primeiro lugar, ele mesmo um
paciente; ele deve ser curado antes de poder curar os outros. Não pode
mostrar aos outros aquilo que ele mesmo não viu. Não pode guiar os outros por
onde não pisou. Não pode ensinar aos outros o que não aprendeu.
Devemos ver que nós somos os instrumentos preparados por Deus para
conhecermos os homens. Logo, devemos ser fidedignos, qualificados para dar
um diagnóstico acurado. A fim de que meus sentimentos sejam fidedignos,
preciso orar: "Ó Senhor, não me deixa passar intato, sem ser quebrado, e
despreparado." Devo deixar que Deus opere em mim aquilo que nunca sonhei,
de modo que possa tornar-me um vaso preparado que Ele possa usar. Um
médico não faria uso de um termómetro defeituoso. Quanto mais sério é para
nós mexermos em condições espirituais do que doenças físicas, enquanto
ainda retemos nossos próprios pensamentos, emoções, opiniões e modos. Se
ainda quisermos fazer isto, e, de repente, quisermos fazer aquilo, ainda somos
instáveis. Como podemos ser usados quando estamos tão indignos de
confiança? Devemos passar pelo tratamento de Deus, senão, nossos esforços
são em vão.
Assim, outra vez, devemos enfrentar esta pergunta: Temos consciência
real da grandeza da nossa responsabilidade? O Espírito de Deus não opera
diretamente nas pessoas; faz Sua obra através dos homens. As necessidades
das pessoas são supridas, de um lado, pela disciplina do Espírito Santo (ao
ordenar seu meio-ambiente), e, do outro lado, pelo ministério da Palavra. Sem
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o fornecimento do ministério da Palavra, o problema espiritual dos santos não
poderá ser solucionado. Que grande responsabilidade recaiu sobre Seus
obreiros! É seríssimo. O fornecimento que a igreja está recebendo, mostra se a
pessoa é usável ou não.
Suponhamos que é a característica de certa doença chegar a uma
temperatura de, digamos, 39º C. Mas a não ser que você saiba a temperatura
exata, seu diagnóstico não poderá ser certo. Você não pode determinar, ao
tocar o paciente com a mão, que tem uma febre de cerca de 39º C. Assim
também nos assuntos espirituais, seria por demais arriscado procurarmos
ajudar os outros enquanto nossos sentimentos e opiniões estivessem
completamente errados e nossa compreensão espiritual estivesse inadequada.
Somente se formos acurados e fidedignos é que o Espírito de Deus pode ser
liberado através de nós.
O ponto de partida de uma obra espiritual é marcado por muitos
reajustes feitos diante de Deus. Um termómetro é feito de acordo com um
padrão específico, e é cuidadosamente examinado para cumprir especificações
rígidas. Se, pois, nós somos o termómetro, quão severa deve ser a disciplina
para nos levar até o padrão de exatidão que Deus exige! Na obra de Deus,
somos "médicos" bem como "instrumentos médicos." Quão importante é que
passemos no teste dEle.
Uma vez aprendidas estas lições básicas, descobrimos que nosso espírito
é liberto e capaz de definir a verdadeira condição de outras pessoas. Como
podemos colocar isto em prática?
Para tocar o espírito de um homem, devemos esperar até que ele abra
sua boca e fale. Poucos chegam à posição, em qualquer tempo, em que podem
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tocar o espírito do homem sem primeiramente ouvir o que ele tem para dizer. A
Palavra de Deus diz: "Porque a boca fala do que está cheio o coração" (Mateus
12:34). Seja qual for sua intenção real, seu espírito é revelado por aquilo que
sua boca fala. Se for altivo, um espírito altivo se manifestará; se for hipócrita,
um espírito hipócrita ficará em evidência; ou se for invejoso, um espírito de
ciúme. Enquanto você o ouve falar, pode tocar seu espírito. Não preste atenção
àquilo que ele diz, mas note especialmente a condição do seu espírito.
Realmente conhecemos o homem, não meramente pelas suas palavras, mas,
sim, pelo seu espírito.
Em certa ocasião, quando o Senhor Jesus estava viajando em direção a
Jerusalém, dois dos discípulos viram que os samaritanos não O recebiam.
Perguntaram a Ele: "Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os
consumir?" (Lucas 9: 54). Enquanto falavam, seu espírito foi revelado. A
resposta do Senhor foi: "Vós não sabeis de que espírito sois" (9: 55). O Senhor
nos mostra aqui que escutar as palavras de um homem é conhecer seu
espírito. Tão logo as palavras são pronunciadas, o espírito é revelado, "porque
a boca fala do que está cheio o coração."
Há ainda outra consideração a ser levada em conta. Quando você está
escutando uma conversa, não permita que o assunto em discussão distraia
você do espírito. Suponhamos que dois irmãos estejam envolvidos numa
contenda, e cada um culpa o outro. Se esta questão é trazida diante de você,
como agirá? Embora você talvez não tenha nenhum modo objetivo de
averiguar os fatos se apenas os dois estiverem presentes, você certamente
sabe que, tão logo que eles abrem a boca, seus espíritos são revelados. Entre
os cristãos, o certo e o errado é julgado, não somente pela ação, mas também
pelo espírito. Quando um irmão começa a falar, você pode sentir
imediatamente que seu espírito está errado, embora talvez lhe faltem
informações sobre os fatos do caso. Um dos irmãos talvez se queixe que o
outro ralhou com ele, mas imediatamente você sente que seu espírito não está
certo! A questão verdadeira está com o espírito.
Diante de Deus, o certo ou o errado não é determinado tanto pelo ato
quanto pelo espírito. Quão frequentemente na igreja uma ação errada é
acompanhada por um espírito errado. Mas se o julgamento for feito
exclusivamente segundo o ato, arrastamos a igreja para outro âmbito.
Deveríamos estar no âmbito do espírito, não naquele da mera ação exterior.
Uma vez que nosso próprio espírito tenha sido liberado, podemos
detectar a condição do espírito dos outros. Se entrarmos em contato com um
espírito que está fechado, devemos exercer nosso espírito em julgar a questão
e discernir o homem. Que possamos dizer com Paulo: "Daqui por diante, a
ninguém conhecemos segundo a carne" (2 Co 5:16). Não conhecemos o
homem segundo a carne, mas, sim, segundo o espírito. Tendo aprendido esta
lição básica, fornecemos um caminho para Deus operar Seu propósito.
CAPÍTULO 5
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Se realmente entendermos a natureza da obra de Deus, prontamente
reconheceremos que o homem exterior verdadeiramente é um empecilho
formidável. É verdade que Deus é muito impedido pelo homem. O povo de
Deus deve conhecer o propósito supremo da igreja e também seu inter-
relacionamento, o poder de Deus, e a obra de Deus, dentro da igreja.
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Por que a disciplina do Espírito Santo é tão importante? Porque a divisão
entre o espírito e a alma é tão urgente? É porque Deus precisa ter um caminho
através de nós. Que ninguém pense que estamos interessados apenas na
experiência espiritual. Nossa solicitude é o caminho de Deus e Sua obra. Deus
está livre para operar através das nossas vidas? A não ser que sejamos
tratados e quebrantados através da disciplina, restringiremos a Deus. Sem o
quebrantamento do homem exterior, a igreja não pode ser um canal para
Deus.
CAPÍTULO 6
O QUEBRANTAMENTO E A DISCIPLINA
Para o homem exterior ser quebrantado, é imperativo uma plena
consagração. Mesmo assim, devemos entender que este ato de crise por si só,
não resolverá a totalidade do nosso problema no serviço. A consagração é
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meramente uma expressão da nossa disposição para estar nas mãos de Deus,
e pode ocorrer em apenas uns poucos minutos. Não pense que Deus pode
acabar Seus tratos conosco neste tempo tão curto. Embora estejamos
dispostos a oferecer-nos completamente a Deus, estamos apenas no começo
da estrada espiritual. É como entrar pelo portão. Depois da consagração, deve
haver a disciplina do Espírito Santo para nos tornar em vasos dignos para o uso
do Mestre. Sem consagração, o Espírito Santo encontra dificuldade em nos
disciplinar. Mesmo assim, a consagração não pode servir como substituto da
Sua disciplina.
Aqui, pois, há uma distinção vital: nossa consagração somente pode ser
de acordo com a medida do nosso discernimento espiritual e da nossa
compreensão, mas o Espírito Santo disciplina de acordo com Suas próprias
luzes. Realmente não sabemos o quanto a nossa consagração envolve. Nossa
luz é tão limitada que, quando nos parece que está no seu auge, aos olhos de
Deus é negra como breu. A exigência excede a tudo quanto temos a
possibilidade de consagrar — pelo menos, no nosso entendimento limitado. A
disciplina do Espírito Santo, por outro lado, nos é medida conforme nossa
necessidade vista na própria luz de Deus. Ele conhece nossa necessidade
especial e, portanto, pelo Seu Espírito, ordena nossas circunstâncias de tal
maneira que leva a efeito o quebrantamento do homem exterior. Veja até que
ponto a disciplina do Espírito Santo transcende nossa consagração.
Visto que o Espírito Santo opera conforme a luz de Deus, Sua disciplina é
eficiente e completa. Frequentemente estranhamos as coisas que nos
acontecem, mas, se fôssemos deixados por conta própria, poderíamos
enganar-nos com a melhor das nossas escolhas. A disciplina que Ele ordena
transcende nosso entendimento. Quão frequentemente somos apanhados
despreparados e concluímos que, decerto, uma coisa tão drástica não é nossa
necessidade. Muitas vezes, Sua disciplina desce sobre nós repentinamente,
sem recebermos aviso prévio! Talvez insistamos que estamos vivendo "na luz",
mas o Espírito Santo está tratando conosco de acordo com a luz de Deus. A
partir do momento em que O recebemos, Ele tem ordenado nossas
circunstâncias para nosso proveito de acordo com Seu conhecimento de nós.
A operação do Espírito Santo em nossas vidas tem seu lado positivo bem
como negativo — ou seja, há tanto um lado construtivo quanto um destrutivo.
Depois de nascermos de novo, o Espírito Santo habita em nós, mas nosso
homem exterior mui frequentemente O priva da Sua liberdade. É como
procurar andar com um par de sapatos do tamanho errado. Porque nosso
homem exterior e o interior estão em desacordo entre si, Deus tem de
empregar quaisquer meios que considera eficaz em demolir qualquer fortaleza
sobre a qual nosso homem interior não tem controle algum.
Não é mediante o fornecimento de graça ao homem interior que o
Espírito Santo quebranta o exterior. É lógico que Deus quer que o homem
interior seja forte, mas Seu método é utilizar meios externos para diminuir
nosso homem exterior. Seria quase impossível para o homem interior realizar
isto, visto que, os dois são tão diferentes quanto à sua natureza que
dificilmente podem causar qualquer ferida um ao outro. A natureza do homem
exterior e a das coisas externas são semelhantes. Desta maneira, o primeiro
pode ser facilmente afetado por estas últimas. As coisas externas podem ferir o
homem exterior muito dolorosamente. É assim que Deus usa coisas externas
para tratar do nosso homem exterior.
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Você se lembra que a Bíblia diz que dois pardais são vendidos por um
asse (Mt 10: 29) e que cinco pardais são vendidos por dois asses (Lc. 12: 6). O
preço certamente é barato, e o quinto pardal é oferecido de graça. Mesmo
assim, "nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. E
quanto a vós outros, até os cabelos da cabeça estão todos contados" (Mt
10:29, 30). Não somente cada cabelo é contado, como também é numerado.
Podemos, portanto, ter certeza de que todas as nossas circunstâncias são
ordenadas por Deus. Nada é acidental.
A providência de Deus é de acordo com Seu conhecimento das nossas
necessidades, e tem em mira o despedaçar do nosso homem exterior. Sabendo
que uma certa coisa externa nos afetará assim, Ele dispõe a situação a fim de
nos fazer encontrar com ela uma vez, duas vezes, e talvez até mais vezes.
Você não percebe que todos os eventos da sua vida durante os últimos cinco
anos ou dez anos foram ordenados por Deus para sua educação? Se você
murmurou e se queixou, você estava ignorando a disciplina do Espírito Santo.
Lembre-se de que tudo quanto nos acontece é medido pela mão de Deus para
nosso bem supremo. Embora, provavelmente não seja o que escolheríamos,
Deus sabe o que é melhor para nós. Onde estaríamos nós hoje, se Deus não
tivesse nos disciplinado assim por meio de ordenar nossas circunstâncias? É
exatamente isto que nos conserva puros, e andando nos Seus caminhos. Como
são estultos aqueles que têm murmurações na sua boca e rebelião no seu
coração diante das próprias coisas que o Espírito Santo lhes distribuiu sob
medida para seu próprio bem.
Tão logo somos salvos, o Espírito Santo começa a distribuir disciplina;
mas não pode agir livremente até que nossa consagração seja completa.
Depois da pessoa ser salva mas ainda não consagrada, e enquanto ainda ama
a si mesma mais do que a Deus, o Espírito Santo, mesmo assim, está operando
para trazê-la sob controle e quebrantar seu homem exterior, a fim de que, Ele
possa operar sem impedimento.
Finalmente, vem um momento em que você percebe que não pode viver
por si só e para si mesmo. Na luz vaga que você possui, você vem para Deus e
diz: "Consagro-me a Ti. Quer venha a vida, quer venha a morte, entrego-me
nas Tuas mãos." Isto fortalecerá a obra do Espírito Santo na sua vida. Nisto
acha-se a importância da consagração: deixa o Espírito Santo operar sem
restrição. Não ache estranho, portanto, quando muitas coisas inesperadas lhe
acontecem depois da sua consagração.
Você disse ao Senhor: "Senhor! Faz o que achas melhor na minha vida."
Agora, depois de você ter-se colocado assim incondicionalmente nas Suas
mãos, o Espírito Santo pode operar livremente em você. Para resolver de todo
o coração que seguirá ao Senhor, você deve prestar bastante atenção à obra
disciplinar do Espírito Santo.
Deus tem outorgado Sua graça a nós desde o dia em que fomos salvos.
As maneiras pelas quais podemos receber graça da parte de Deus são
chamadas os "meios de graça." A oração e o escutar uma mensagem são dois
exemplos, porque através destes meios, podemos aproximar-nos de Deus e
receber graça. Este termo descritivo: "os meios de graça," têm sido
universalmente aceitos pela Igreja no decurso dos séculos. Recebemos graça
através das reuniões, das mensagens, das orações, e assim por diante. Mas
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decerto o maior meio de graça que não podemos nos dar ao luxo de
negligenciar, é a disciplina do Espírito Santo. Nada pode ser comparado com
este meio de graça — nem a oração, nem as leituras bíblicas, nem as reuniões,
nem as mensagens, nem a meditação, nem o louvor. Entre todos os meios de
graça dados por Deus, parece que este é o mais importante.
Seguir a história deste meio de graça pode mostrar-nos quão longe já
andamos com o Senhor. O que experimentamos diariamente, no lar ou na
escola ou na fábrica ou na estrada, é ordenado pelo Espírito Santo para nosso
máximo benefício. Se não tiramos proveito deste maior meio de graça,
sofremos uma perda terrível. Nenhum dos outros meios pode substituí-lo, por
mais preciosos que sejam. As mensagens nos alimentam, a oração nos
restaura, a Palavra de Deus nos refrigera, e ajudar aos outros libera nosso
espírito. Mas se nosso homem exterior permanecer forte, damos a todos
aqueles que entram em contato conosco, a impressão de sermos mistos e
impuros. As pessoas reconhecerão nosso zelo mas também nossos motivos
mistos, nosso amor para com o Senhor, mas também nosso amor para
conosco. Sentem que somos um irmão precioso, porém difícil, pois nosso
homem exterior não foi quebrantado. Não nos esqueçamos que, embora
sejamos edificados através de mensagens, da oração, e da Bíblia, o maior meio
de edificação é a disciplina do Espírito Santo.
A partir de então deve haver, da nossa parte, uma consagração completa
de modo que devemos submete-nos àquilo que o Espírito Santo ordena.
Semelhante submissa traz bênçãos para nós. Se, ao invés disto, disputamos
com Deus e seguimos nossas próprias inclinações, perderemos o caminho da
Sua bênção. Uma vez que reconhecemos que todas as providências de Deus
são para nosso máximo proveito —até mesmo coisas que nos são
desagradáveis — e estamos dispostos a aceitar estas coisas como medidas
disciplinares da parte d'Ele, veremos como o Espírito Santo fará uso de todas
estas coisas ao lidar conosco.
Sejam quais forem as coisas às quais você está ligado, Deus tratará delas
uma após a outra. Nem seque trivialidades tais como as vestes, o comer e o
beber podem escapar à mão cuidadosa do Espírito Santo. Ele não negligenciará
uma só área na sua vida. Você pode até mesmo ignorar sua afinidade por uma
certa coisa, mas Ele sabe, e trata dela de modo muitíssimo eficiente. Até que
venha o dia em que todas estas coisas são destruídas, você não conhece
liberdade perfeita. Nestes tratamentos, você pode finalmente reconhecer a
eficiência do Espírito Santo. Coisas há mui esquecidas, são trazidas à mente
pelo Senhor. As obras de Deus são perfeitas, e nada menos do que a perfeição
pode satisfazer a Ele. Deus não pode parar no meio do caminho. Às vezes,
tratará com você através d'outras pessoas, planejando para você ficar junto
com uma pessoa com quem está zangado, ou a quem você despreza, ou de
quem tem ciúmes; ou, muito frequentemente, é através daqueles que você
ama. Antes disto, você não sabia quão impuro e misturado você era, mas
depois você reconhece quanto "lixo" havia em você. Você pensava que era
totalmente do Senhor, mas, depois de receber a disciplina do Espírito Santo,
começa a reconhecer os efeitos de longo alcance que as coisas externas
tinham sobre você.
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Além disto, a mão de Deus pode tocar na vida dos nossos pensamentos.
Descobrimos que nossos pensamentos são confusos, independentes,
descontrolados. Fingimos ter mais sabedoria do que outros. É então que o
Senhor nos deixa colidir com um muro ou espatifar-nos até o pó - tudo para nos
mostrar que não devemos ter a ousadia de usar nossos pensamentos
desordenadamente. Uma vez que tenhamos sido iluminados nisto, temeremos
nossos próprios pensamentos como o fogo. Da maneira como se recolhe a mão
imediatamente diante da chama, assim nós também nos recolheremos
instantaneamente quando encontramos nossos pensamentos descontrolados.
Lembraremos a nós mesmos: "Não é assim que devo pensar; estou com medo
de seguir meus próprios pensamentos."
Além disto, Deus assim disporá nossas circunstâncias de modo que possa
lidar com nossas emoções. Algumas pessoas são extremamente emotivas.
Quando estão jubilosas, não podem se conter; quando estão deprimidas, não
podem ser consoladas. A totalidade da vida delas gira em torno das suas
emoções, e seu júbilo resulta em dissipação, e sua depressão em inatividade.
Como Deus retifica esta situação? Coloca-as em situações em que não ousam
ser demasiadamente felizes quando estiverem jubilosas, nem demasiadamente
tristes quando estiverem deprimidas. Somente podem depender da graça de
Deus e viver pela Sua misericórdia, não pelas suas emoções instáveis.
Embora sejam bem comuns as dificuldades com os pensamentos e
emoções, a dificuldade maior e mais prevalecente é com a vontade. Nossas
emoções são desregradas por que nossa vontade não foi tratada. A raiz está
em nossa vontade. A mesma coisa diz respeito a nossos pensamentos. Talvez
possamos pronunciar com a boca as palavras: "Não se faça a minha vontade,
e, sim, a tua," mas quantas vezes realmente deixamos o Senhor assumir o
controle quando as coisas acontecem? Quanto menos você conhece a si
mesmo, tanto mais facilmente pronuncia tais palavras. Quanto menos
iluminado você está, tanto mais fácil a submissão a Deus parece ser. Aquele
que fala com facilidade barata comprovou que nunca pagou o preço.
Somente quando somos tratados por Deus é que realmente vemos quão
endurecidos somos e quão dispostos a termos nossa própria opinião. Deus
precisa tratar conosco para tornar nossa vontade terna e dócil. Pessoas
resolutas estão convictas de que seus sentimentos, modos e julgamentos
sempre estão certos. Considere como Paulo recebeu esta graça registrada em
Filipenses: "Não confiamos na carne" (3:3). Nós, também, devemos ser levados
por Deus a uma situação em que não ousamos confiar em nosso próprio
julgamento. Deus permitirá que cometamos engano após engano até
compreendermos que este será nosso padrão para o futuro, também.
Realmente precisamos da graça do Senhor. Frequentemente o Senhor permite
que ceifemos consequências sérias dos nossos julgamentos.
Finalmente, você ficará tão aflito com seus fracassos que dirá: "Temo
meus próprios julgamentos assim como temo o fogo do inferno. Senhor, tendo
a cometer enganos. A não ser que Tu sejas misericordioso comigo, a não ser
que Tu me apoies, a não ser que Tu me detenhas com Tua mão, errarei mais
uma vez". Este é o começo da destruição do homem exterior: quando você já
não ousa confiar em si mesmo. Suas opiniões usualmente lhe vêm facilmente
até que você tenha sido tratado por Deus repetidas vezes e tenha sofrido
muitos fracassos. Então, você se rende e diz: "Deus, não ouso pensar, não ouso
decidir." Esta é a disciplina do Espírito Santo: quando todos os tipos de coisas e
todos os tipos de pessoas estão fazendo pressões de todas as direções.
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Não pense que haverá qualquer relaxamento desta lição! Muitas vezes, o
fornecimento da palavra de Deus pode estar em falta, ou outro meio de graça
pode ser insuficiente, mas este meio de graça especial — a disciplina do
Espírito Santo - sempre está conosco. Você pode dizer que não tem
oportunidade de escutar a Sua palavra e ser suprido por ela, mas isto nunca
acontecerá no caso da disciplina do Espírito Santo. Dia após dia, Ele está
planejando amplas oportunidades para você aprender.
Uma vez que você se rende a Deus, esta disciplina satisfará sua
necessidade muito mais do que o fornecimento da Sua palavra. Não é apenas
para os cultos, os habilidosos, os dotados; não, é o caminho para todo filho de
Deus. O fornecimento da palavra de Deus, o poder da oração, a comunhão dos
crentes — nenhuma destas coisas pode substituir a disciplina do Espírito Santo.
É porque você precisa não somente ser edificado; precisa também ser
quebrantado, de ser livrado de todas as numerosas coisas na sua vida que não
podem ser levadas para a eternidade.
A Cruz em Operação
A cruz é mais do que uma doutrina; deve ser posta em prática. Não
pense que o caminho para a humildade é lembrando-nos constantemente que
não devemos ser orgulhosos. Devemos ser feridos uma vez após outra — ainda
que chegue a vinte vezes — até que nos rendamos e já não somos orgulhosos.
Nunca suponhamos que isto se realiza meramente por meio de seguir o ensino
de um determinado irmão. Não, é porque nosso orgulho tem sido quebrado
através do tratamento por Deus.
Mediante a operação da cruz, aprenderemos a depender da graça de
Deus, não da nossa memória. Quer lembremos, quer não, permanece o fato de
que Ele está realizando uma obra que é fidedigna e duradoura. Anteriormente,
o homem exterior e o interior não podiam ficar de mãos dadas; mas agora o
homem exterior espera meigamente, com temor e tremor, diante de Deus.
Cada um de nós tem necessidade desta disciplina da parte do Senhor. Ao
passarmos em revista a história do nosso passado, não podemos deixar de ver
a mão de Deus lidando com a independência, o orgulho, e o egoísmo do nosso
homem exterior. Descobrimos o significado das coisas que nos aconteceram.
CAPÍTULO 7
A SEPARAÇÃO E A REVELAÇÃO
Deus deseja não somente quebrantar o homem exterior, como também
separá-lo de tal maneira que o homem interior já não seja emaranhado nas
atividades do homem exterior. Ou podemos simplesmente dizer que Deus quer
dividir nosso espírito da nossa alma.
Quão raro é achar um espírito puro nestes dias. Geralmente quando
nosso espírito aparece, nossa alma aparece também; estão misturados. Assim,
a primeira exigência na obra de Deus é um espírito puro, não um espírito
poderoso. Aqueles que descuidam deste fato, embora sua obra talvez seja feita
com poder, a acharão destruída devido à falta de pureza. Embora possuam
verdadeiramente o poder de Deus, mesmo assim, por causa de ser misto o seu
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espírito, estão destruindo aquilo que edificam. Vamos ver se podemos
compreender como isto acontece.
Alguns podem pensar que, enquanto recebem poder da parte de Deus,
todas as suas habilidades naturais serão reconhecidas por Ele. Não é assim!
Quanto melhor conhecemos a Deus, tanto melhor conhecemos e amamos um
espírito puro — pureza esta que não permite nenhuma mistura entre o exterior
e o interior. Aquele cujo homem exterior não foi tratado não pode esperar que
o poder que flui de dentro dele seja puro. Se o poder espiritual é misturado à
medida em que sai da pessoa, ainda que os resultados pareçam bons, trata-se
de um pecado diante de Deus.
Muitos irmãos jovens, mesmo sabendo que o evangelho é o poder de
Deus, ainda insinuam sua própria habilidade, suas piadas, e seus sentimentos
pessoais na sua pregação do evangelho; deste modo, as pessoas tocam neles e
não somente no poder de Deus. Embora eles mesmos talvez não percebam o
fato, outros que são puros de espírito detectarão instantaneamente tais
impurezas. Quão frequentemente nosso zelo na labuta é misturado com prazer
natural. Estamos fazendo a vontade de Deus porque acontece que coincide
com a nossa. Ao ficarmos firmes por Deus estamos meramente expressando
nossa personalidade forte.
Visto que nosso maior problema é com esta impureza, Deus deve operar
em nossa vida de tal maneira que nosso homem exterior fique quebrantado e
nós fiquemos refinados das nossas impurezas. Enquanto Deus está quebrando
nossa casca exterior, dura, também está fazendo a obra do refinamento. Deste
modo, vemos Seu tratamento duplo da nossa pessoa: quebranta o homem
exterior, e divide-o do espírito. O primeiro é realizado através da disciplina do
Espírito Santo, ao passo que o segundo é através da revelação do Espírito.
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Ao invés de ressaltar o ensino, coloquemos mais ênfase sobre aquilo que
sai de nós. Deus não está nos observando para ver se nosso ensino se torna
mais profundo; quer lidar conosco como indivíduos. Se nossa natureza não for
corretamente tratada, poderemos emitir o assim chamado ensino espiritual,
mas não há qualquer comunicação espiritual. Como é trágico quando
meramente impressionamos o homem exterior mas não transmitimos nada de
impressão viva ao homem interior!
Uma vez após outra, Deus dispõe nossas circunstâncias para quebrantar-
nos em nosso ponto forte. Você poderá ser ferido uma vez, duas vezes, mas
ainda o terceiro golpe terá de vir. Deus não soltará você. Não deterá Sua mão
até que tenha quebrantado aquela característica de destaque em você.
Aquilo que o Espírito Santo realiza quando estamos sendo disciplinados é
totalmente diferente daquilo que acontece quando estamos ouvindo uma
mensagem. Uma mensagem que ouvimos pode frequentemente ficar em nossa
mente por vários meses, possivelmente até durante anos, antes da sua
verdade tornar-se operacional em nós. Deste modo, o ouvir frequentemente
antecede o verdadeiro entrar na vida. Através da disciplina do Espírito Santo,
porém, percebemos a verdade mais rapidamente, e assim a possuímos. Como
é estranho que captamos mero conhecimento através de uma mensagem
muito mais rapidamente do que aprendemos a realidade através da disciplina!
Uma vez que ouvimos, nos lembramos. Podemos, porém, ser disciplinados dez
vezes e ainda ficar querendo saber porque. O dia em que a disciplina realiza
seu propósito é o dia em que você realmente "vê" a verdade e entra na sua
realidade. Assim, a obra do Espírito Santo é demoli-lo de um lado, e reedificá-lo
do outro lado. Assim, seu coração dirá: "Graças ao Senhor! Agora sei que Sua
mão que estava sobre mim durante estes últimos cinco ou dez anos tem sido
precisamente para quebrantar este ponto forte em mim."
CAPÍTULO 9
AMEIGUICE NO QUEBRANTAMENTO
O método de Deus quebrantar nosso homem exterior varia de acordo
com o alvo. Expliquemos o alvo da seguinte maneira: com alguns, é seu amor-
próprio; com outros, é seu orgulho. Há, também, aqueles cuja autoconfiança e
habilidade precisam ser destruídas; tais pessoas se acharão em um
predicamento após outro, derrotadas a cada passo, até que aprendam a dizer:
"Não vivemos na sabedoria da carne, mas, sim, na graça de Deus." Além disto,
aqueles cuja característica destacada e a subjetividade se acharão em
circunstâncias peculiares à sua necessidade. E, além disto, há aqueles que
sempre estão borbulhando com ideias e opiniões. Embora a Bíblia afirma: "Há
coisa que seja maravilhosa demais para o Senhor?" alguns irmãos sustentam
que nada é difícil demais para eles! Jactam-se de que podem fazer tudo, mas,
estranhamente, fracassam em todos os empreendimentos. As coisas que
pareciam tão fáceis desmontam-se nas suas mãos. Perplexos, perguntam "Por
que?" É esta a maneira de o Espírito Santo tratar com eles a fim de atingir o
alvo necessário. Tais ilustrações mostram como o alvo do Espírito varia com o
respectivo indivíduo.
Há, também, uma variação no ritmo dos tratamentos pelo Espírito Santo.
Às vezes, os golpes podem suceder-se um após outro sem folga; ou pode haver
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períodos de calmaria. Mas Deus disciplina todos aqueles a quem ama. Desta
maneira, os filhos de Deus têm feridas infligidas pelo Espírito Santo. Embora a
aflição possa variar, as consequências são as mesmas: o próprio-eu por dentro
está ferido. Assim Deus toca em nosso amor-próprio, nosso orgulho, nossa
habilidade ou nossa subjetividade, seja qual destes se constitui em Seu alvo
exterior. Pretende com cada tiro contra o alvo enfraquecer-nos ainda mais, até
que venha o dia em que somos esmagados e maleáveis nas Suas mios. Quer o
tratamento toque nossa afeição, quer nossos pensamentos, o resultado final é
produzir uma vontade quebrantada. Todos nós somos naturalmente obstinados.
Esta vontade teimosa é apoiada por nossos pensamentos, nosso amor-próprio,
nossa afeição, ou nossa habilidade. Este fato explica as variações nos tratos do
Espírito Santo conosco. Finalmente, é nossa vontade que Deus quer atingir,
pois é ela que representa nosso próprio-eu.
Deste modo, uma característica em comum destaca os que foram
iluminados e disciplinados — tornam-se meigos. A meiguice é o sinal do
quebrantamento. Todos aqueles que são quebrantados por Deus são
caracterizados pela meiguice. Anteriormente, podíamos nos dar ao luxo de
sermos obstinados, porque éramos como uma casa bem apoiada em muitos
pilares. À medida em que Deus remove os pilares, um após outro, a casa
forçosamente há de ruir. Quando os apoios externos são demolidos, o próprio-
eu não pode deixar de cair.
Devemos, no entanto, aprender a reconhecer a verdadeira meiguice. Não
seja enganado ao ponto de pensar que uma voz que fala suavemente indica
uma vontade mansa. Muitas vezes, uma vontade de ferro se esconde por
detrás da voz mais suave. A teimosia é uma questão de caráter, não da voz.
Alguns que aparentam ser mais mansos do que outros são — diante de Deus —
igualmente obstinados e egoístas. Para os tais, somente pode haver a
severidade do Seu tratamento até que não ousem agir com presunção. Pelo
desígnio de Deus, os tratamentos que parecem ser externos tocam-nos até o
âmago; nunca poderemos levantar nossa cabeça nestas questões específicas.
É decidido irrevogavelmente que nestas questões não podemos desobedecer
ao Senhor; não ousamos insistir em nossa opinião. O temor da mão do Senhor
nos refreia. É o temor de Deus que nos torna meigos. Quanto mais somos
quebrantados através dos tratamentos de Deus, tanto mais meigos nos
tornamos. Ver a verdadeira meiguice é contemplar o quebrantamento interior.
Ilustramos o fato da seguinte maneira: Depois de entrar em contato com
certo irmão, você pode sentir que ele verdadeiramente tem dons, mas, mesmo
assim, achar que ele não foi quebrantado. Muitos são assim — dotados, porém,
intatos. Sua falta de quebrantamento pode ser facilmente detectada. Tão logo
que você se encontra com eles, você sente um meio tom neles — você pode
sentir sua teima. Não é assim com quem é quebrantado; há uma meiguice
operada pelo Espírito. Seja em que ponto a pessoa foi tocada por Deus, ali ela
não ousa jactar-se. Aprendeu a temer a Deus neste ponto, e é transformada em
meiguice.
Note, por favor, como a Escritura usa metáforas diferentes para
descrever o Espírito Santo. Ele é como o fogo e como a água. O fogo fala do
Seu poder, a água da Sua purificação. Mas no que diz respeito ao Seu caráter,
diz-se que Ele é como uma pomba, meiga e mansa. O Espírito de Deus
incorporará Sua natureza em nós, pouco a pouco, até que nós, também,
sejamos caracterizados pela pomba. A meiguice, nascida do temor de Deus, é
o sinal do Espírito Santo para o quebrantamento.
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Considerando as Qualidades da Meiguice
(1) Abordável
Há várias qualidades que caracterizam uma pessoa que é meiga: ela é
abordável — é tão fácil ter contato com ela, falar com ela, e fazer perguntas a
ela. Confessa prontamente os seus pecados e derrama lágrimas livremente.
Para alguns, é tão difícil derramar lágrimas. Não é que haja qualquer valor
especial nas lágrimas, mas naquele cujo pensamento, vontade e emoção foram
tratados por Deus, as lágrimas frequentemente denotam sua disposição para
ver e reconhecer sua falta. É fácil conversar com ele, porque sua casca exterior
foi quebrada. Aberto às opiniões dos outros, dá as boas-vindas às instruções, e,
nesta posição nova, pode ser edificado em todas as coisas.
CAPÍTULO 10
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Além disto, há algo bem notável em quem foi quebrantado. Se você for
alguém que realmente é quebrantado, você descobrirá que não somente
poderá prestar socorro, como também, ao assim fazer você também é ajudado.
Alguém lhe faz uma pergunta, e ao respondê-la você é ajudado. Você está
orando com um pecador que está buscando ao Senhor, e, mais uma vez, você
está fortalecido no íntimo. Você pode ser guiado a falar severamente com um
irmão que deslizou; não somente o espírito dele é revificado, mas você
também é edificado. Você pode receber ajuda de todo contato espiritual. Você
fica maravilhado porque o corpo inteiro está suprindo você como membro.
Qualquer membro do corpo pode suprir sua necessidade, e você é ajudado.
Você se torna um recipiente para o suprimento de todo o corpo. Que
maravilha! Verdadeiramente você pode regozijar-se: "A riqueza do Cabeça é do
corpo, e a do corpo é minha." Quão grandemente isto difere do mero aumento
do conhecimento mental!
Esta capacidade de receber ajuda — deixando que o espírito de outra
pessoa toque em nosso espírito — é prova que a pessoa é quebrantada. A
habilidade não impede de receber ajuda; mas é evidência que a casca exterior
é mais dura do que outras. Na misericórdia do Senhor, uma pessoa habilidosa
deve ser tratada drasticamente, quebrantada muitas vezes e de muitas
maneiras até que, um dia, possa receber o suprimento da igreja inteira.
Perguntemos a nós mesmos: "Podemos receber este suprimento de outras
pessoas?" Se não pudermos receber, é provável que nossa casca dura impeça
o encontro com o espírito do nosso irmão que é liberado. Se, porém, formos
quebrantados, somos ajudados tão logo que o espírito dele se movimente. A
pergunta, portanto, não é quão poderosos são os espíritos, mas sim: como os
espírito se tocam um ao outro? É este contato entre os espíritos que revifica e
edifica a pessoa. Quão grande é a necessidade, pois, para o homem exterior
ser quebrantado! Não pode haver dúvida de que isto se constitui em exigência
básica para sermos ajudados e para ajudarmos os outros.
A Comunhão no Espírito
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