Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
TEXTO I
IDEOLGIA E MÚSICA
Música e ideologia sempre andaram lado a lado. Nos anos 50, por exemplo, o rock surgiu nos EUA e se espalhou como
um movimento de liberação de costumes, de atitudes ousadas e rebeldes voltadas para o jovem. Através desse movimento toda
uma indústria foi estruturada, abrangendo desde roupas, cinema e discos, visando o novo mercado consumidor. De olho no
poder de influência dos ídolos do rock, o governo americano inventou uma jogada fenomenal: levar o ídolo-mor, Elvis Presley,
para o exército, sob o patrocínio de seu empresário, Cel Parker. Afinal, eram tempos de guerra fria e o governo angariava ganhar
a simpatia dos jovens americanos na luta a favor da pátria.
No Brasil, a ideologia também temperou a indústria da música, desde a época da ditadura vargas, com os famosos
samba-exaltação, como a linda ” Aquarela do Brasil” do mestre Ary Barroso. Porém, isso fica mais evidente quando focamos
nos anos 60, período de grande polaridade ideológica no Brasil e no mundo.
Era época da ditadura militar, das guerrilhas e movimentos de esquerda. Mas época das siglas também, UNE (União
dos Estudantes), CPC (Centro Popular de Cultura) e sua filha: a MPB (Música Popular Brasileira). Aliás, a MPB surge como uma
busca de arte engajada e política, envolvendo, no início, toda uma ideologia de protesto e busca de uma identidade nacional.
Dessa forma, para muitos críticos e artistas, ou se fazia arte engajada (lê-se contra o regime militar) ou música alienada
(música americanizada). É assim que temos os artistas da dita MPB que brilhavam nos festivais, como Chico Buarque, Elis
Regina, Geraldo Vandré etc e do outro lado os ditos alienados, como os ídolos da jovem guarda, Roberto Carlos, Erasmo,
Wanderléia e afins.
A bem da verdade, grande parte da população brasileira passava a largo dessa discussão, apenas consumindo música,
que não se restringia apenas a esses dois movimentos, é claro.
No entanto, o tom pejorativo que recaiu sobre a jovem guarda denota bem a ideologia característica fruto da visão
militante da época.
Porém, a jovem guarda enquanto um movimento pop não deixou de revolucionar, ainda que de forma restrita, a cultura
jovem com seus costumes e comportamentos (sim, isso também é ideologia), catalisando a revolução cultural da época. E ainda
que se critique as letras banais e açucaradas de suas músicas, elas refletiam toda uma mudança de costumes da cultura jovem
e embalavam bailinhos da moçada.
Mas, por outro lado, mesmo o engajado Chico Buarque, autor da brilhante “Apesar de você“se consagrou através da
simples “A Banda“. Elis Regina, que liderou a passeata contra a guitarra elétrica em 67, alguns anos depois fez propaganda
para a comemoração dos 150 anos de independência do Brasil para os militares. Geraldo Vandré, autor da clássica “Para não
dizer que não falei das flores (caminhando e cantando)“, posteriormente compôs música para as forças armadas.
Gil e Caetano, artistas envolvidos com a MPB, sofreram várias críticas de seus colegas emepebistas pela criação do
movimento tropicalista em fins de 68, onde se procurava um intercâmbio globalista e um contato entre a arte engajada e a cultura
pop, como se a primeira também não precisasse da segunda para existir. Mas, de qualquer forma, só ganharam respeito de
seus colegas politizados quando foram arbitrariamente presos e expulsos do país por um abuso de poder dos militares, em 69.
Roberto e Erasmo, posteriormente a jovem guarda, sobreviveram nos anos seguintes, a despeito dos críticas, porém
mais amadurecidos como artistas e compositores. Escreveram lindas canções poéticas e românticas. Como não se emocionar
com a simplicidade de Roberto em “O portão“: ” Quando vi dois braços abertos / Me abraçaram como antigamente / Tanto quis
dizer e não falei / E chorei“. Ou o grito de liberdade em “Além do Horizonte“: “Aproveitar a tarde sem pensar na vida / Andar
despreocupado sem saber a hora de voltar / Bronzear o corpo todo sem censura / Gozar a liberdade de uma vida sem frescura.
” São letras simples e diretas que envolvem o ouvinte, que o faz sonhar.
Mas, afinal, o que é uma boa música se não aquela que nos faz bem? Seja para fazer pensar, seja para se apaixonar,
contestar ou dançar. Pois, no final das contas, o que importa mesmo não é se Elvis serviu ou não o exército, mas que ainda é
possível se eletrizar com seu rock´n´roll.
Música e ideologia estão lado a lado, mas música não é só ideologia! Música transcende o espírito e o tempo. No fim,
não existe música boa ou ruim, mas música que te agrada e faz bem. Essa é a cultura da música.
(https://culturadamusica.wordpress.com/2016/11/25/ideologia-e-musica/)
TEXTO II
O JOVEM E A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
É o gênero musical rock’n’roll, transformado em música mundial a partir dos anos de 1950, que irá despertar o jovem
musicalmente. A rebeldia, a inquietação e a rejeição aos valores tradicionais embutidos no rock, conquistaram jovens em todo
o mundo, jovens cansados das tradições impostas pela sociedade.
No Brasil, não foi diferente. É a partir dessa revolução musical mundial que irão surgir três frentes de músicas voltadas
essencialmente para o jovem. A Bossa Nova, no Rio de Janeiro; o movimento Rock, seja a Jovem Guarda, seja o movimento
rock paulistano liderado pelos Mutantes; e o Tropicalismo, dos baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Porém, em 1964 o país entra no regime ditatorial e todos os jovens, exceto os aliados à ditadura que passam a compor
um segmento do partido dos ditadores denominado de Arena Jovem, enxergaram entre seus instrumentos para lutar contra os
tiranos, a música. Então, qualquer compositor que criasse ou qualquer intérprete que cantasse contra os algozes eram
imediatamente endeusados e transformados em ídolos. Chico Buarque, Milton Nascimento, Ivan Lins, Geraldo Vandré e outros.
Naquele momento histórico, lotar estádio e outros ambientes para ouvir e cantar as canções desses ídolos era uma forma de
demonstrar repúdio aos militares no poder. As energias e as lágrimas da juventude brasileira estavam voltadas para a
restauração da democracia. Assim, o jovem do Brasil deixou de lado, no período ditatorial, seus interesses e angústia pessoal
e canalizaram todas as suas forças por uma luta coletiva, na qual eles tiveram uma participação essencial.
Com o processo de democratização do país, essa música politicamente engajada perde espaço entre a juventude
brasileira. Os jovens guerreiros contra a ditadura cumpriram suas funções e consequentemente a música popular também. Agora
era hora de voltar-se para o eu, ou seja, as angústias e inseguranças tão caras aos jovens. Por isso, aqueles ídolos das décadas
de 1960 e 1970 perdem espaço, enquanto referência musical. Nenhum desses compositores ou intérpretes conseguiu emplacar
sucessos após a ditadura. A transformação de atitude em relação à música começou a ficar evidente ainda em 1976, com o
sucesso entre os jovens do cantor e compositor cearense Belchior, com o lançamento do antológico álbum Alucinação 1.
Apesar de ainda trazer alguns resquícios de uma música politicamente engajada, como por exemplo, a canção “Não
Leve Flores”, é na faixa que dá nome ao álbum que fica clara essa nova realidade da preferência musical dos jovens.
Não será, contudo, Belchior que irá representar musicalmente a juventude brasileira após a ditadura2. Esse papel coube
a Cazuza e a Renato Russo3. Esses dois compositores e intérpretes conseguiram captar como ninguém o pensamento e desejo
daquela garotada que o próprio Renato Russo denominou de filhos da revolução e burgueses sem religião, na canção “Geração
Coca Cola”. O jovem agora quer falar de sexo, droga, relação com os pais, paixões impossíveis e discriminadas pela sociedade
e da AIDS, doença que se alastrou pelo mundo, vitimando inclusive os seus dois maiores ídolos.
O uso da música como instrumento político, no sentido restrito, tinha ficado para trás, o ponto final foi dado por Cazuza
e Roberto Frejat na canção “Ideologia”, em álbum do mesmo nome.
¹ Para alguns pesquisadores de MPB, essa transformação aconteceu a partir do sucesso “Alegria, Alegria”, música de Caetano Veloso defendida no festival de MPB da TV Record, em 1967.
² Vejo Belchior como o ídolo de transição entre uma música politicamente engajada e a música que iria representar o pensamento do jovem brasileiro nas décadas de 1980 e 1990.
³ Além do grupo Barão Vermelho (início de carreira de Cazuza) e do grupo Legião Urbana, de Renato Russo, outros grupos alcançaram grande aceitação da juventude nesse período: Capital
Inicial, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Titãs, Biquini Cavadão, Os Paralamas do Sucesso, etc.
(https://www.paginasdempb.com.br/index.php/artigos/169-o-jovem-e-a-musica-popular-brasileira.html)