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REDAÇÃO

ESCOLA DO CEPE LEITURA EXTRA 1ª SÉRIE EM


CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS
Prof. DIOGO BRITO ___/__/2019

TEXTO I

IDEOLGIA E MÚSICA

Música e ideologia sempre andaram lado a lado. Nos anos 50, por exemplo, o rock surgiu nos EUA e se espalhou como
um movimento de liberação de costumes, de atitudes ousadas e rebeldes voltadas para o jovem. Através desse movimento toda
uma indústria foi estruturada, abrangendo desde roupas, cinema e discos, visando o novo mercado consumidor. De olho no
poder de influência dos ídolos do rock, o governo americano inventou uma jogada fenomenal: levar o ídolo-mor, Elvis Presley,
para o exército, sob o patrocínio de seu empresário, Cel Parker. Afinal, eram tempos de guerra fria e o governo angariava ganhar
a simpatia dos jovens americanos na luta a favor da pátria.
No Brasil, a ideologia também temperou a indústria da música, desde a época da ditadura vargas, com os famosos
samba-exaltação, como a linda ” Aquarela do Brasil” do mestre Ary Barroso. Porém, isso fica mais evidente quando focamos
nos anos 60, período de grande polaridade ideológica no Brasil e no mundo.
Era época da ditadura militar, das guerrilhas e movimentos de esquerda. Mas época das siglas também, UNE (União
dos Estudantes), CPC (Centro Popular de Cultura) e sua filha: a MPB (Música Popular Brasileira). Aliás, a MPB surge como uma
busca de arte engajada e política, envolvendo, no início, toda uma ideologia de protesto e busca de uma identidade nacional.
Dessa forma, para muitos críticos e artistas, ou se fazia arte engajada (lê-se contra o regime militar) ou música alienada
(música americanizada). É assim que temos os artistas da dita MPB que brilhavam nos festivais, como Chico Buarque, Elis
Regina, Geraldo Vandré etc e do outro lado os ditos alienados, como os ídolos da jovem guarda, Roberto Carlos, Erasmo,
Wanderléia e afins.
A bem da verdade, grande parte da população brasileira passava a largo dessa discussão, apenas consumindo música,
que não se restringia apenas a esses dois movimentos, é claro.
No entanto, o tom pejorativo que recaiu sobre a jovem guarda denota bem a ideologia característica fruto da visão
militante da época.
Porém, a jovem guarda enquanto um movimento pop não deixou de revolucionar, ainda que de forma restrita, a cultura
jovem com seus costumes e comportamentos (sim, isso também é ideologia), catalisando a revolução cultural da época. E ainda
que se critique as letras banais e açucaradas de suas músicas, elas refletiam toda uma mudança de costumes da cultura jovem
e embalavam bailinhos da moçada.
Mas, por outro lado, mesmo o engajado Chico Buarque, autor da brilhante “Apesar de você“se consagrou através da
simples “A Banda“. Elis Regina, que liderou a passeata contra a guitarra elétrica em 67, alguns anos depois fez propaganda
para a comemoração dos 150 anos de independência do Brasil para os militares. Geraldo Vandré, autor da clássica “Para não
dizer que não falei das flores (caminhando e cantando)“, posteriormente compôs música para as forças armadas.
Gil e Caetano, artistas envolvidos com a MPB, sofreram várias críticas de seus colegas emepebistas pela criação do
movimento tropicalista em fins de 68, onde se procurava um intercâmbio globalista e um contato entre a arte engajada e a cultura
pop, como se a primeira também não precisasse da segunda para existir. Mas, de qualquer forma, só ganharam respeito de
seus colegas politizados quando foram arbitrariamente presos e expulsos do país por um abuso de poder dos militares, em 69.
Roberto e Erasmo, posteriormente a jovem guarda, sobreviveram nos anos seguintes, a despeito dos críticas, porém
mais amadurecidos como artistas e compositores. Escreveram lindas canções poéticas e românticas. Como não se emocionar
com a simplicidade de Roberto em “O portão“: ” Quando vi dois braços abertos / Me abraçaram como antigamente / Tanto quis
dizer e não falei / E chorei“. Ou o grito de liberdade em “Além do Horizonte“: “Aproveitar a tarde sem pensar na vida / Andar
despreocupado sem saber a hora de voltar / Bronzear o corpo todo sem censura / Gozar a liberdade de uma vida sem frescura.
” São letras simples e diretas que envolvem o ouvinte, que o faz sonhar.
Mas, afinal, o que é uma boa música se não aquela que nos faz bem? Seja para fazer pensar, seja para se apaixonar,
contestar ou dançar. Pois, no final das contas, o que importa mesmo não é se Elvis serviu ou não o exército, mas que ainda é
possível se eletrizar com seu rock´n´roll.
Música e ideologia estão lado a lado, mas música não é só ideologia! Música transcende o espírito e o tempo. No fim,
não existe música boa ou ruim, mas música que te agrada e faz bem. Essa é a cultura da música.

(https://culturadamusica.wordpress.com/2016/11/25/ideologia-e-musica/)
TEXTO II
O JOVEM E A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

É o gênero musical rock’n’roll, transformado em música mundial a partir dos anos de 1950, que irá despertar o jovem
musicalmente. A rebeldia, a inquietação e a rejeição aos valores tradicionais embutidos no rock, conquistaram jovens em todo
o mundo, jovens cansados das tradições impostas pela sociedade.
No Brasil, não foi diferente. É a partir dessa revolução musical mundial que irão surgir três frentes de músicas voltadas
essencialmente para o jovem. A Bossa Nova, no Rio de Janeiro; o movimento Rock, seja a Jovem Guarda, seja o movimento
rock paulistano liderado pelos Mutantes; e o Tropicalismo, dos baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Porém, em 1964 o país entra no regime ditatorial e todos os jovens, exceto os aliados à ditadura que passam a compor
um segmento do partido dos ditadores denominado de Arena Jovem, enxergaram entre seus instrumentos para lutar contra os
tiranos, a música. Então, qualquer compositor que criasse ou qualquer intérprete que cantasse contra os algozes eram
imediatamente endeusados e transformados em ídolos. Chico Buarque, Milton Nascimento, Ivan Lins, Geraldo Vandré e outros.
Naquele momento histórico, lotar estádio e outros ambientes para ouvir e cantar as canções desses ídolos era uma forma de
demonstrar repúdio aos militares no poder. As energias e as lágrimas da juventude brasileira estavam voltadas para a
restauração da democracia. Assim, o jovem do Brasil deixou de lado, no período ditatorial, seus interesses e angústia pessoal
e canalizaram todas as suas forças por uma luta coletiva, na qual eles tiveram uma participação essencial.
Com o processo de democratização do país, essa música politicamente engajada perde espaço entre a juventude
brasileira. Os jovens guerreiros contra a ditadura cumpriram suas funções e consequentemente a música popular também. Agora
era hora de voltar-se para o eu, ou seja, as angústias e inseguranças tão caras aos jovens. Por isso, aqueles ídolos das décadas
de 1960 e 1970 perdem espaço, enquanto referência musical. Nenhum desses compositores ou intérpretes conseguiu emplacar
sucessos após a ditadura. A transformação de atitude em relação à música começou a ficar evidente ainda em 1976, com o
sucesso entre os jovens do cantor e compositor cearense Belchior, com o lançamento do antológico álbum Alucinação 1.
Apesar de ainda trazer alguns resquícios de uma música politicamente engajada, como por exemplo, a canção “Não
Leve Flores”, é na faixa que dá nome ao álbum que fica clara essa nova realidade da preferência musical dos jovens.

Eu não estou interessado


Em nenhuma teoria,
Em nenhuma fantasia, nem no algo mais.
Nem em tinta pro meu rosto ou oba oba, ou melodia.
Para acompanhar bocejos, sonhos matinais
Eu não estou interessado em nenhuma teoria, nem nessas coisas do oriente, romances astrais.
A minha alucinação é suportar o dia-a-dia. E o meu delírio é experiência com coisas reais.

(BELCHIOR, ÁLBUM ALUCINAÇÃO 1976).

Não será, contudo, Belchior que irá representar musicalmente a juventude brasileira após a ditadura2. Esse papel coube
a Cazuza e a Renato Russo3. Esses dois compositores e intérpretes conseguiram captar como ninguém o pensamento e desejo
daquela garotada que o próprio Renato Russo denominou de filhos da revolução e burgueses sem religião, na canção “Geração
Coca Cola”. O jovem agora quer falar de sexo, droga, relação com os pais, paixões impossíveis e discriminadas pela sociedade
e da AIDS, doença que se alastrou pelo mundo, vitimando inclusive os seus dois maiores ídolos.
O uso da música como instrumento político, no sentido restrito, tinha ficado para trás, o ponto final foi dado por Cazuza
e Roberto Frejat na canção “Ideologia”, em álbum do mesmo nome.

Meu partido é um coração partido


E as ilusões, estão todas perdidas.
Os meus sonhos foram todos vendidos, tão barato que eu nem acredito, ah, que eu nem acredito.
Que aquele garoto que ia mudar o mundo, mudar o mundo, frequenta agora as festas do “grand monde”.
Refrão: meus heróis morreram de overdose meus inimigos estão no poder.
Ideologia eu quero uma para viver.
(CAZUZA E FREJAT, ÁLBUM IDEOLOGIA, 1988).
Após a morte dos seus dois principais ídolos, Cazuza e Renato Russo, os jovens brasileiros, sem deixar de referenciá-
los, buscam se divertir através de outros gêneros e movimentos musicais. Eles se “jogam” no funk carioca, nos ritmos baianos,
no rep e no sertanejo universitário e abre seus potentes sons automotivos nos postos de gasolina de todo país, nova forma de
rebeldia da juventude brasileira após os anos 2000. Comportando-se assim, o jovem traz a música a cumprir seu papel essencial,
entreter as pessoas.
________________

¹ Para alguns pesquisadores de MPB, essa transformação aconteceu a partir do sucesso “Alegria, Alegria”, música de Caetano Veloso defendida no festival de MPB da TV Record, em 1967.
² Vejo Belchior como o ídolo de transição entre uma música politicamente engajada e a música que iria representar o pensamento do jovem brasileiro nas décadas de 1980 e 1990.
³ Além do grupo Barão Vermelho (início de carreira de Cazuza) e do grupo Legião Urbana, de Renato Russo, outros grupos alcançaram grande aceitação da juventude nesse período: Capital
Inicial, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Titãs, Biquini Cavadão, Os Paralamas do Sucesso, etc.

(https://www.paginasdempb.com.br/index.php/artigos/169-o-jovem-e-a-musica-popular-brasileira.html)

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