Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tanto na antiguidade quanto na idade média a fantasia não era irreal, não estava
destinada ao deserto interior da individualidade, ao mundo irreflexivo da patologia
mental ou aos confins do inautêntico. Enfim, a fantasia não era rejeitada, nem temida,
nem oposta à realidade, pelo contrário, tinha um papel fundamental na mediação entre o
mundo sensível e o intelecto, entre o múltiplo e o unitário, o subjetivo e objetivo,
externo e interno, entre um e outro.
Por acaso, o carnaval não trata disso? Se o carnaval ainda tem uma função social
além de encher o bolso de uns poucos e esticar a precariedade da maioria, não é
justamente oferecer a possibilidade da realidade da fantasia? Pelo menos esse é o
carnaval que Chico Buarque captura em “Noite dos Mascarados”. Ali, não há abadás,
senão máscaras, disfarces que ajudam a suspender a impostura insuportável da
identidade individual, que auxiliam as exigências imediatas da paixão com a esperança
que a fantasia aconteça e o encontro amoroso tenha assim alguma chance.
Enfim, fica claro que não estamos objetando o grito de carnaval, apenas tentando
contribuir na sua potência e intervir nos seus ecos. Para isso, achamos necessário
advertir a diferença de níveis existentes entre “não é não”, consigna que chamamos de
pedagógica, e “eu não sou tua fantasia”, própria da psicologia e do carnaval. Pensamos
que esta última perde muito de sua força se for reduzida à tentativa de colocar um limite
no comportamento desviado, desconhecendo que é, na verdade, um correto diagnóstico
da impotência amorosa do homem moderno.
Martín Mezza. Psicólogo (UBA, Arg.). Psicanalista membro de Apertura Bs. As. e
Salvador-Ba; Mestre em SMC (UNL,a. Arg.). Doutorando (ISC-UFBA). Pesquisador
NISAM (ISC-UFBA). martinmezza@hotmail.com