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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE BARREIRAS/BA

Autos processuais n. 0303725-86.2013.8.05.0022

BRUNO SOARES BISPO, já devidamente qualificado nos autos do processo em


epígrafe, vem, por meio da DEFENSORIA PÚBLICA, presentada pelo membro infra-assinado,
com fulcro nos arts. 5º, LIV e LV, da Constituição da República (CR) e 588 do Código de
Processo Penal (CPP), apresentar CONTRARRAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO,
conforme fatos e fundamentos indicados na manifestação em anexo.

Requer sejam as contrarrazões em anexo juntadas aos autos, sendo estes


remetidos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJBA), na expectativa de que
o recurso não seja admitido e, em caso negativo, não seja provido.

Pede deferimento.

Barreiras, 18 de março de 2019.

PAULO MALAGUTTI

Defensor Público do Estado da Bahia

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CONTRARRAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

ORIGEM: 1ª Vara Criminal da Comarca de Barreiras/BA

AUTOS PROCESSUAIS N.: 0303725-86.2013.8.05.0022

RECORRENTE: Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA)

RECORRIDO: BRUNO SOARES BISPO

Egrégio Tribunal,

Colenda Câmara,

Ínclitos Julgadores,

Douto Relator,

Trata-se de recurso em sentido estrito interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO


contra a decisão do juízo a quo que, acolhendo questão de ordem quanto à ausência de
manifestação sobre o recebimento da denúncia, decidiu por rejeitá-la. Sucede que o juízo
a quo identificou que a denúncia ofertada é inepta, pois não descreve todos os elementos
e circunstâncias do crime, o que conduz à sua rejeição na forma dos arts. 395, I, c/c 41 do
CPP. Como se demonstrará, a decisão guerreada não deve ser alterada, pois o juízo a quo
não incorreu em error in procedendo nem em error in judicando.

1. SÍNTESE PROCESSUAL

O recorrente imputou ao recorrido o crime do art. 306 do Código de Trânsito


Brasileiro (CTB) apenas descrevendo o tipo penal, vide fl. 03 dos autos. A imputação
consistiu num breve relato genérico dos fatos e a indicação do dispositivo de lei infringido,
insta mencionar que não foi realizado o teste de alcoolemia.

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Tendo em vista que o art. 306 do CTB, ao tipificar a conduta de dirigir embriagado,
exige que a capacidade psicomotora do agente esteja alterada pelo consumo de álcool, o
juízo a quo considerou que a denúncia é inepta, pois, de fato, não há informação
pertinente à alteração da capacidade psicomotora do agente.

Irresignado, o recorrente alega, em síntese, que o tipo penal descrito no art. 306
do CTB refere-se a crime de perigo abstrato, no qual o perigo é presumido pelo
legislador, de modo a não ser necessário que a imputação indique a alteração da
capacidade psicomotora nem os sinais de embriaguez. Anexa às razões precedentes.

2. MÉRITO RECURSAL

Não merece provimento o recurso, pois, de fato, a denúncia não atende aos
requisitos do art. 41 do CPP, sendo justa a rejeição com base no art. 395, I, do CPP.

Como bem elucidado pelo magistrado a quo, o crime de dirigir embriagado é


crime de perigo abstrato, e não crime de mera conduta. Por conta disso, não basta que a
imputação apenas sinalize que o acusado dirigiu embriagado.

É verdade, ademais, que o crime de perigo abstrato consuma-se tão só com a


prática da conduta nuclear indicada no tipo penal. Isto não se discute. Mas o tipo penal
descrito no art. 306 do CTB tem como conduta dirigir com a capacidade psicomotora
alterada por conta do consumo de álcool ou substâncias de efeitos análogos:

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora


alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância
psicoativa que determine dependência: (...). (destacou-se)
Portanto, não basta que a imputação indique apenas o fato de ingerido álcool
não sabendo a quantidade, até porque não se sabe se a quantidade indicada
(ressalvados os casos de excessos absurdos) é suficiente para alterar a capacidade
psicomotora do agente.

Ou seja, para respeitar fielmente o art. 41 do CPP, deve a imputação indicar que o
sujeito conduzia com a capacidade psicomotora alterada E que a alteração em comento
se deu por influência de álcool.

No caso da denúncia rejeitada, esta apenas indica a concentração de álcool por ar


expirado do recorrido, mas nada diz sobre a alteração da capacidade psicomotora, que
poderia ser demonstrada com os sinais de embriaguez ou com a alta concentração de
álcool por litro de sangue expirado (o que não aconteceu).
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Logo, por mais que o crime seja de perigo abstrato, nem a conduta que,
independentemente de causar o risco já presumido pela norma, foi descrita na denúncia.
Ou seja, o fato de o crime ser de perigo abstrato não dispensa o órgão acusador de
atender aos requisitos da denúncia, descritos no art. 41 do CPP.

Assim se faz necessário, pois, do contrário, não há como o recorrido exercer


plenamente a ampla defesa e o contraditório.

Uma acusação tão genérica como a realizada torna impossível a formulação de


argumentos defensivos, razão pela qual o filtro foi adequadamente feito pelo juízo a quo,
resguardando as garantias processuais do contraditório e da ampla defesa.

A função de garantia do tipo penal, já elucidada pelos clássicos do Direito Penal,


exige que a interpretação da norma seja feita com esse viés: o tipo penal é instrumento
de garantia, e não uma cláusula geral onde pode o operador do Direito inserir qualquer
conduta sem especificar os elementos do fato típico, ilícito e culpável.

3. PREQUESTIONAMENTO

O recorrido prequestiona nesta oportunidade a aplicação de todas as normas


mencionadas nas presentes contrarrazões, considerando o eventual interesse recursal
perante as instâncias excepcionais.

Assim, destaca, para fins de prequestionamento, a ampla defesa e o contraditório,


os requisitos da denúncia, a inépcia da inicial como hipótese de rejeição da denúncia (arts.
5º, LV, CR; 41 e 395, I, do CPP).

4. PEDIDOS

Pelo exposto, requer seja o recurso improvido, tendo em vista que a decisão
guerreada não está eivada de error in procedendo, nem de error in judicando. A inépcia da
denúncia é patente, razão pela qual o recurso não merece provimento, mantendo-se a
rejeição da denúncia com fulcro no art. 395, I, do CPP.

Requer ainda o prequestionamento da aplicação das normas invocadas nas


presentes contrarrazões, na forma do tópico 3 acima.

Pede deferimento.

Barreiras, 18 de março de 2019.


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PAULO MALAGUTTI

Defensor Público do Estado da Bahia

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