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DCII - Sebenta Laura Nunes PDF
DCII - Sebenta Laura Nunes PDF
3.2.
Modelo
do
núcleo
essencial
Aos
órgãos
de
soberania
são
confiadas
funções
materialmente
diferentes,
ou
seja,
as
funções
terão
um
núcleo
essencial
que
será
melhor
exercido
por
um
dado
órgão.
Assim,
este
núcleo
essencial
remete
para
um
campo
de
tarefas
típico
que
não
pode
ser
deslocado
para
outro
órgão,
violando
o
próprio
princípio
da
separação
de
poderes.
Este
modelo
explica
o
motivo
pelo
qual
se
fala
em
“reserva
de
lei”,
“reserva
de
juiz”.
3.3.
Modelo
da
justeza
funcional
Este
modelo
parte
do
princípio
que
a
separação
e
interdependência
de
poderes
exige
uma
estrutura
orgânica
funcionalmente
adequada,
ou
seja,
a
cada
órgão
de
soberania
é
atribuída
a
função
que
ele
pode
desempenhar
de
uma
forma
mais
adequada
–
ou
da
única
forma
adequada.
É
exemplo
a
proibição
de
exercício
da
função
docente
pelo
juiz
com
remuneração,
para
evitar
que
este
seja
sujeito
a
pressões
que
influenciem
o
exercício
da
sua
função
judicial.
4.
Responsabilidade
Para
se
poder
falar
em
responsabilidade
constitucional,
é
necessário
que
(1)
se
reconheça
ao
sujeito
dessa
responsabilidade
uma
margem
de
actuação,
(2)
haja
um
vínculo
funcional
que
exija
a
observância,
por
parte
desse
sujeito,
de
certos
deveres
jurídicos
ou
a
prossecução
de
certas
tarefas,
e
(3)
que
esta
responsabilidade
se
articule
com
a
existência
de
sanções
jurídicas.
Podemos
distinguir
3
tipos
de
responsabilidade,
embora
haja
zonas
isentas
de
responsabilidade,
ou
seja,
actos
ilícitos
que
não
desencadeiam
qualquer
tipo
de
responsabilidade.
4.1.
A
responsabilidade
civil
A
responsabilidade
civil
das
entidades
públicas
gera
um
dever
de
indemnização
por
danos
patrimoniais
ou
morais,
e
é
um
traço
cada
vez
maior
do
direito
público,
impondo
ao
Estado
um
dever
de
indemnização
do
lesado.
Este
dever
cessa,
contudo,
quando
culmina
na
prática
de
um
crime.
Esta
matéria
é
reserva
relativa
da
AR.
4.2.
A
responsabilidade
político-‐criminal
Esta
responsabilidade
é
uma
responsabilidade
dos
titulares
do
poder
político
pela
prática
de
actos
criminais,
tendo
em
conta
a
incidência
destes
comportamentos
no
exercício
do
poder
público.
O
Presidente
da
República
pode
ser
responsabilizado
político-‐criminalmente.
4.3.
A
responsabilidade
política
em
sentido
amplo
A
responsabilidade
política,
aqui
em
sentido
amplo,
é
um
mecanismo
jurídico-‐constitucional
que
incide
sobre
o
desvalor
jurídico
e
constitucional
dos
actos
dos
titulares
do
poder
político.
Assim,
responsabiliza
a
actuação
geral
e
é,
por
isso,
difícil
de
estatuir.
Insere-‐se
aqui
o
mecanismo
da
moção
de
censura
e
de
confiança
–
se
o
Parlamento
aprovar
a
primeira
ou
recusar
a
segunda,
o
Governo
cai.
Quanto
à
destituição
do
PR,
não
existe,
no
nosso
sistema,
um
mecanismo
de
destituição
(ao
contrário
de
outros
regimes,
como
é
exemplo
a
Constituição
de
Weimar).
Assim,
o
PR
não
pode
ser
responsabilizado
politicamente.
5.
Procedimento
Apesar
de
não
existir
uma
definição
acabada,
pode-‐se
definir
procedimento
como
a
prática
de
um
conjunto
de
actos
que
culminarão
num
acto
final
de
grande
importância.
O
poder
só
será
exercido
de
forma
legítima
se
o
procedimento
for
respeitado,
pois
este
será
juridicamente
adequado
à
garantia
dos
direitos
fundamentais
e
á
defesa
dos
princípios
básicos
do
Estado
de
direito
democrático.
6.
Tarefa
A
atribuição
de
poderes
e
competências
é
feita
para
que
os
órgãos
constitucionais
de
soberania
cumpram
certas
missões
–
as
tarefas
-‐,
constitucionalmente
definidas.
7.
Controlo
O
controlo
é
um
correlato
da
responsabilidade,
partindo
da
ideia
de
competência
e
dos
mecanismos
de
responsabilidade
e
sanção.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
Deve
distinguir-‐se
(1)
controlo
primário
ou
subjectivo,
feito
sobre
os
próprios
sujeitos
orgânicos,
e
(2)
controlo
secundário
ou
objectivo,
que
incide
sobre
os
actos
dos
órgãos.
8.
Órgão
O
sentido,
aqui,
de
órgão
é
o
de
órgão
constitucional
em
sentido
amplo.
Importa
aqui
distinguir
entre
(1)
órgãos
constitucionais
de
soberania,
cujas
competências
estão
reguladas
na
CRP,
e
(2)
órgãos
constitucionais
e
autoridades
administrativas
independentes,
que
são
relativamente
recentes
e
existem
para
a
defesa
dos
direitos
fundamentais
ou
para
dados
sectores
de
actividade,
como
é
exemplo
o
provedor
de
justiça.
Desfrutam
de
independência
orgânica,
funcional
e
social.
9.
Representação
A
representação
política,
sob
o
ponto
de
vista
organizatório-‐funcional,
traduz-‐se
num
esuqema
de
selecção
ancorado
na
eleição
dos
governantes,
através
do
qual
(1)
se
institui
o
exercício
do
poder
político
e
(2)
se
institui
o
controlo
exercidos
pelos
representados.
Não
se
confunde
com
representatividade,
que
se
define
como
a
correspondência,
real
ou
efectiva,
entre
a
composição
de
um
colégio
(órgão)
representativo
e
os
indivíduos
ou
grupos
sociais
dos
quais
é
expressão.
O
princípio
da
separação
e
interdependência
dos
órgãos
de
soberania
1.
História
1.1.
Montesquieu
e
Locke
O
princípio
clássico
da
separação
de
poderes,
entendido
no
seu
sentido
estritamente
político,
teve
como
grandes
mentores
Montesquieu
e
Locke.
Estes
autores
desenvolveram
uma
concepção
de
separação
de
poderes
enquanto
“faculdade
de
impedir”,
visando
impedir
o
despotismo
e
assegurar,
através
de
um
“pouvoir
moderé”,
a
possibilidade
concreta
da
liberdade.
Este
princípio
é,
pois,
concebido
no
seu
sentido
negativo,
exprimindo
um
compromisso
pragmático,
constituindo
uma
directa
expressão
da
regra
de
prudência
política
justificada
por
argumentos
de
responsabilização
e
eficácia.
Montesquieu,
partindo
do
princípio
que
todo
o
homem
que
tem
poder
tem
inclinação
para
abusar
dele,
indo
até
onde
encontra
limites
–
“c’est
une
expérience
éternelle
que
toute
homme
qui
a
du
pouvoir
est
porté
à
en
abuser”
–
afirma
que
é
necessário
que,
para
que
não
se
abuse
do
poder,
“le
pouvoir
arrête
le
pouvoir”.
Contudo,
considera
não
bastar
que
o
poder
fosse
apenas
limitado
por
leis,
pois
estas
podem
ser
abolidas,
e,
assim,
visiona
um
sistema
de
pesos
e
contrapesos,
limitando
o
poder
no
interior
do
próprio
poder.
Assim,
o
poder
executivo
deve
ser
confiado
ao
monarca;
o
poder
legislativo
deve
ser
partilhado
pelos
nobres
e
pelo
povo;
e
o
poder
judicial
deve
ser
indivisível
e
nulo.
Já
Locke,
partindo
da
ideia
do
estado
da
natureza,
na
qual
os
homens
possuíam
já
um
conjunto
de
direitos
alienáveis,
como
a
propriedade
privada,
a
vida
e
a
segurança
social,
constrói
um
modelo
de
Estado
liberal
e
eminentemente
limitado,
que
nasce
de
um
contrato
social
na
qual
os
homens
transferem
para
o
Estado
certos
direitos
para
melhor
garantir
esse
outro
conjunto
de
direitos
naturais.
Assim,
é
necessário
que
os
poderes
políticos
do
Estado
não
abusassem
da
sua
função,
atentando
contra
a
liberdade
dos
homens.
Locke
recorre,
pois,
à
teoria
clássica
da
separação
de
poderes
–
os
poderes
deveriam
estar
confiados
a
diferentes
mãos.
O
legislativo
deveria
estar
entregue
à
maioria
dos
representantes
do
povo;
distinguindo-‐se
do
executivo,
pertencente
ao
rei
e
abrangendo
a
administração
e
a
justiça;
e
do
federativo,
relativo
às
relações
externas.
1.2.
Rousseau
e
Kant
Com
Rousseau
e
Kant,
o
princípio
da
separação
de
poderes
torna-‐se
um
corolário
institucional,
livre
de
qualquer
consideração
pragmática,
da
concepção
moderno-‐iluminista
da
lei.
Enquanto
norma
geral
e
abstracta,
a
lei
distingue-‐se
logicamente
tanto
da
execução
concreta
como
da
aplicação
particular,
e
o
poder
legislativo,
que
só
poderá
prescrever
normas
gerais
e
abstractas,
postula,
institucionalmente,
diferentes
poderes
de
execução
e
aplicação
da
sua
lei
–
um
poder
executivo
pertencente
ao
governo
e
à
administração,
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
segundo
um
princípio
de
legalidade;
e
um
poder
judicial
com
a
função
exclusiva
de
aplicação
da
lei
aos
casos
particulares
da
sua
previsão
abstracta.
Em
Rousseau,
a
divisão
tripartida
de
poderes
é
um
corolário
político
da
supremacia
do
poder
legislativo
–
a
lei,
enquanto
expressão
da
vontade
geral
e
instrumento
único
de
racionalidade
e
justiça,
deveria
determinar
o
âmbito
de
actuação
dos
demais
poderes
do
Estado,
o
executivo
e
o
judicial.
Em
Kant,
esta
divisão
justifica-‐
se
em
termos
puramente
racionais-‐formais,
em
nome
do
imperativo
categórico
e
de
um
Estado
ideal
ou
autónomo.
Define
Estado
como
“a
união
de
um
conjunto
de
pessoas
sob
leis
jurídicas”,
que
assume
a
forma
do
“Estado
ideal”,
segundo
os
“puros
princípios
do
Direito”.
Qualquer
Estado
contém
em
si
três
poderes:
o
poder
soberano,
na
pessoa
do
legislador;
o
poder
executivo,
na
pessoa
do
governante,
em
observância
à
lei;
e
o
poder
judicial,
na
pessoa
de
um
juiz,
que
concebe
à
semelhança
de
um
silogismo.
2.
Dimensões
materiais
do
princípio
2.1.
Como
directiva
fundamental
O
princípio
da
separação
constitui
uma
directiva
fundamental
da
organização
do
poder
político,
sendo
possível
a
individualização
de
3
momentos
fundamentais,
(1)
a
separação
de
funções
e
atribuição
das
mesmas
a
diferentes
titulares,
(2)
a
interdependência
de
funções
e
(3)
o
balanço
ou
controlo
das
funções,
com
o
objectivo
de
impedir
o
abuso
do
poder.
2.2.
Como
princípio
histórico
Este
princípio
não
corresponde
a
um
esquema
constitucional
rígido,
mas
sim
a
um
princípio
organizatório
fundamental.
Como
tal,
deve
ser
perspectivado
como
um
princípio
histórico
(K.
Hesse),
em
contacto
com
uma
ordem
constitucional
concreta
e
em
articulação
com
os
princípios
positivos
nela
vigentes.
2.3.
Orgânico-‐institucionalmente
referenciado
A
CRP
refere-‐se
à
separação
e
interdependência
dos
órgãos
de
soberania.
2.4.
Funcionalmente
orientado
O
princípio
da
separação
e
interdependência
de
poderes
é
também
um
princípio
de
ordenação
de
competências
funcionalmente
orientado.
Estas
funções
surgem
como
funções
fundamentais,
sem
qualquer
“carácter
de
exclusividade”
(K.
Hesse),
pois
aos
órgãos
de
soberania
podem
também
caber
outras
funções
constitucionais.
2.5.
Adequação
entre
órgãos
e
funções
Pode-‐se
afirmar
que
a
CRP
adoptou
um
esquema
organizatório
funcionalmente
adequado,
pois,
embora
não
se
exija
uma
equivalência
total
entre
actividade
orgânica
e
funcional,
a
um
órgão
deve
ser
atribuída
principal
ou
prevalentemente
uma
determinada
função.
Fala-‐se,
pois,
de
adequação
funcional,
quando
um
órgão
de
soberania
é
estruturalmente
idóneo
e
adequado
para
o
exercício
de
funções.
Certos
autores
falam
mesmo,
a
este
propósito,
de
“estrutura
orgânica
funcionalmente
justa”.
2.6.
Separação
no
plano
pessoal
Este
princípio
desenha-‐se
também
no
plano
pessoal,
conformando,
neste
plano,
um
estatuto
jurídico-‐
constitucional
específico
tendente
a
evitar
quaisquer
uniões
pessoais
dos
órgãos
de
soberania.
Aqui
as
figuras
das
incompatibilidades
–
dos
deputados,
do
PR
e
do
juiz.
2.7.
Freio,
balanço
e
controlo
Esta
dimensão
corresponde
à
formulação
tradicional
do
princípio
de
separação
de
poderes
teorizado
por
Montesquieu.
A
sua
ideia
de
um
governo
moderado
centrado
no
balanço
e
controlo
recíproco
de
poderes
conhece
refracções
diferentes
em
vários
ordenamentos
constitucionais,
mas
os
seus
esquemas
principais
são:
• Sistema
de
corresponsabilidades
e
interdependências
–
o
exemplo,
no
nosso
constitucionalismo,
da
função
legislativa
a
não
ser
exclusivamente
desempenhada
pela
AR
–
por
um
lado,
certos
actos
normativos
carecem
de
assinatura
e
promulgação
do
PR,
e
de
referenda
ministerial;
e,
por
outro
lado,
o
Governo
também
pode
exercer
a
função
legislativa
através
de
decretos-‐leis.
• Sistema
de
balanço
–
a
escolha,
nomeação
ou
manutenção
do
cargo
de
um
ou
vários
titulares
de
órgãos
depende
da
manifestação
de
vontade
dos
outros
órgãos.
O
exemplo
do
Governo,
cuja
nomeação
depende
da
AR
e
do
PR;
e
da
AR,
que
pode
ser
dissolvida
pelo
PR.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
2. O
poder
executivo
detém
a
função
de
aplicação/execução
das
regras
no
espaço
nacional,
e
cabe
ao
Rei.
3. O
poder
federativo
desenvolve
as
relações
externas
e
de
direito
internacional
e
é
também
detido
pela
Coroa.
4. O
poder
prerrogativo,
também
pertencente
ao
Rei,
é
o
último
dos
poderes
e
consiste
na
tomada
de
decisões
em
casos
de
excepção
constitucional
como
guerra
e
estados
de
emergência.
2.2.
Montesquieu
e
a
separação
dos
poderes
Montesquieu
propõe
uma
classificação
das
formas
de
governo
baseada
numa
trilogia,
de
inspiração
marcadamente
clássica,
de
despotismo,
monarquia
e
república
(democracia
e
aristocracia),
às
quais
faz
associar
um
princípio
ou
valor
próprio.
A
“natureza
do
governo”
seria
“aquilo
que
o
faz
ser
tal”,
enquanto
que
o
“princípio”
é
“aquilo
que
o
faz
agir”.
Assim,
o
princípio
do
governo
monárquico
seria
a
honra;
o
da
aristocracia
seria
a
moderação;
o
da
democracia,
a
virtude;
e
o
do
despotismo,
o
medo.
Contudo,
nenhuma
forma
de
governo
é
assumida
na
sua
radicalidade,
todos
os
tipos
de
governo
albergam,
num
ou
noutro
ponto,
características
ou
traços
provenientes
dos
restantes
tipos
–
o
que
permite
dizer
que,
para
Montesquieu,
a
forma
política
ideal
é
a
politeia,
a
constituição
mista.
• A
democracia
é
definida
como
a
forma
republicana
de
governo
em
que
“o
povo
em
corpo
detém
o
soberano
poder”.
Porém,
em
vez
de
sustentar,
à
semelhança
de
Rousseau,
um
Estado
democrático
baseado
na
igualdade
absoluta,
Montesquieu
defende
a
sua
divisão
em
classes,
advogando
que
o
princípio
da
democracia
se
perde
quando
se
adopta
o
espírito
de
igualdade
extrema,
e
cada
um
quer
ser
igual
àqueles
que
escolheu
para
o
comandarem.
• A
aristocracia,
por
sua
vez,
é
definida
como
a
forma
republicana
de
governo
em
que
“somente
uma
parte
do
povo
tem
o
soberano
poder”.
• A
monarquia
é
a
forma
de
governo
preferida
por
Montesquieu,
na
sua
forma
mista
ou
moderada.
Nela
um
só
governa,
segundo
leis
fundamentais,
e
a
sua
natureza
reside
nos
poderes
intermédios
subordinados
e
dependentes.
• O
despotismo
é
o
governo
em
que
“um
só,
sem
lei
e
sem
regra,
dirige
tudo
pela
sua
vontade
e
pelos
seus
caprichos”.
Mesmo
aí,
há
um
poder
que
se
pode
opor
à
vontade
do
príncipe
–
a
religião.
Na
descrição
de
todas
estas
formas
de
governo,
encontramos
uma
preocupação
com
o
equilíbrio
dos
poderes
sociais,
ou
seja,
com
a
moderação
dos
poderes
políticos
da
constituição
pelo
reconhecimento
e
intervenção
de
actores
sociais.
Mesmo
nas
formas
mais
igualitárias,
a
democracia
e
a
aristocracia,
existe
diferenciação
social,
que
justificará
a
necessidade
de
se
encontrar
esse
equilíbrio.
Contudo,
é
no
quadro
político
da
monarquia
moderada
que
o
ideal
da
constituição
mista
alcança
uma
realização
mais
conseguida.
Apesar
do
que
é
não
escassas
vezes
defendido,
Montesquieu
não
concebeu
uma
rigorosa
e
rígida
separação
dos
poderes,
no
sentido
de
uma
quase
total
independência
recíproca
–
este
advogava,
antes,
uma
necessária
colaboração
dos
poderes,
que
arrumou
numa
trilogia
que
se
tornou
clássica:
1. O
poder
legislativo
consiste
em
fazer
as
leis
e
corrigir
ou
abrogar
aquelas
que
estão
feitas.
Este
pertence
ao
Parlamento,
que
é,
também
em
Montesquieu,
bicameral
–
constituído
pela
Câmara
Baixa,
eleita
do
povo,
e
pela
Câmara
Alta,
nomeada
da
Nobreza
e
do
Clero.
2. O
poder
executivo
engloba
as
funções
de
direcção
política
do
Estado,
incluindo
a
função
federativa,
e
a
de
aplicação
da
lei.
Está
entregue
ao
Monarca,
escolhido
por
sucessão
da
Casa
Real,
e
ao
Governo
e
Administração,
dos
quais
fazem
parte
membros
da
Nobreza
e
do
Clero.
3. O
poder
de
julgar
consiste
na
actividade
de
punição
de
crimes
e
de
julgamento
dos
diferendos
dos
particulares.
É
autonomizado
em
relação
à
teoria
lockiana,
e
confiado
a
tribunais
independentes.
Os
poderes
legislativo
e
executivo
foram
arquitectados
em
profunda
interacção.
O
poder
legislativo
foi
devolvido
a
duas
câmaras,
que
dispunham
da
faculté
de
statuer
e
da
faculté
d’empêcher,
controlando-‐se
mutuamente
pela
sua
recíproca
(1)
faculté
d’empêcher,
a
faculdade
de
veto
recíproco.
Tais
câmaras,
para
além
de
produzirem
leis,
tinham
o
(2)
poder
de
controlar
a
execução
das
mesmas
e
o
poder
de
julgar
os
crimes
políticos
dos
membros
do
Executivo.
Este
poder,
principalmente
a
Câmara
dos
Nobres,
detinha
ainda
o
(3)
poder
moderador.
O
poder
executivo,
interferindo
directamente
com
o
legislativo,
dispunha
do
(4)
poder
de
veto
sobre
as
estatuições
legislativas,
a
par
do
qual
se
assinalava
o
(5)
poder
de
convocar
o
parlamento
e
de
determinar
a
duração
das
suas
assembleias.
Mas
mais
do
que
isto,
Montesquieu
procurou
organizar
um
equilíbrio
entre
potências
ou
corpos
sociais
diversos
–
de
facto,
quando
se
fala
em
separação
de
poderes,
do
que
se
trata
é
repartir
esse
poder
pelos
co-‐titulares
de
soberania,
o
rei,
os
aristocratas
e
o
povo,
os
vários
estratos
sociais
titulares
da
soberania.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
Assim,
quando
nos
fala
em
lei
como
“vontade
geral
do
Estado”,
esta
vontade
não
é
a
volonté
genérale
de
Rousseau,
mas
sim
a
vontade
reunida
das
forças
sociais
que
compõem
o
Estado.
“Tudo
seria
perdido
se
o
mesmo
homem,
ou
mesmo
corpo
dos
notáveis,
ou
dos
nobres,
ou
do
povo,
exercesse
estes
três
poderes”,
ou
seja,
a
ideia
essencial
de
Montesquieu
não
era
a
de
uma
separação
no
plano
orgânico,
funcional
e
jurídico,
mas
sim
no
plano
social,
pois
só
através
do
equilíbrio
das
forças
sociais
se
garantiria
a
liberdade
política.
Contudo,
o
poder
judicial
é
retirado
desta
lógica
de
equilíbrio
das
forças
sociais.
Este
está
cometido
a
dois
complexos
orgânicos
diferentes:
aos
tribunais,
de
extracção
popular;
e
ao
Corpo
dos
Nobres;
pois
os
nobres
devem
ser
julgados
pelos
nobres,
e
o
povo
pelo
povo
(já
o
Rei,
sagrado
e
inviolável,
não
poderá
ser
julgado).
Assim,
os
juízes
têm
de
ser
da
condição
do
acusado
ou
seus
pares.
Pelo
que
se
pode
concluir
que,
na
constituição
inglesa
de
Montesquieu,
coexistem
duas
ordens
de
jurisdição,
um
de
inspiração
radicalmente
democrática
e
outro
de
feição
aristocrática
e
corporativa.
A
primeira
regula
a
actividade
dos
tribunais
populares
e
distingue-‐se
por
uma
vinculação
estrita
à
lei,
enquanto
que
a
segunda
confere
ao
Corpo
dos
Nobres
de
proceder,
nas
matérias
jurisdicionais
que
lhe
estão
confiadas,
segundo
critérios
de
equidade,
dispondo
da
autoridade
para
moderar
a
lei
em
favor
da
lei.
Modelos
3.1.
Dualismo
monárquico
A
forma
de
governo
dualista
monárquica-‐representativa
tem
hoje
valor
histórico,
pois
foi
corresponde
a
uma
fase
transitória,
na
qual
ainda
não
se
tinha
abolido
a
monarquia,
mas
o
poder
executivo
era
já
partilhado
entre
o
monarca
e
os
seus
ministros.
Eram
três
as
suas
dimensões
fundamentais:
1. Responsabilidade
do
primeiro-‐ministro
perante
o
rei
e
irresponsabilidade
do
executivo
ou
do
gabinete
em
face
do
parlamento.
2. Controlo
primário
do
rei
sobre
a
câmara
alta,
nomeadamente
quando
esta
era
fundamentalmente
constituída
por
membros
de
nomeação
régia.
3. Irresponsabilidade
do
rei,
como
chefe
do
executivo,
perante
o
órgão
representativo-‐parlamentar.
Esta
forma
de
governo
está
na
origem
da
responsabilidade
dos
ministros
perante
o
parlamento,
pois
estes
começaram
a
revoltar-‐se
contra
o
facto
de
serem
responsabilizados
por
certos
actos
do
monarca.
Era
este
quem
tinha
o
poder
de
dissolver
o
parlamento
–
a
dissolution
royale
–,
sendo
que
ainda
temos
alguns
vestígios
desta
figura
na
nossa
forma
mista.
3.2.
Parlamentarismo(s)
O
parlamentarismo
tem
origem
no
Reino
Unido
e
nasce
com
a
monarquia
representativa,
que
é
caracterizada
por
uma
dupla
responsabilidade
dos
ministros,
perante
o
parlamento
e
perante
o
rei,
e
pela
irresponsabilidade
deste
último.
Caracteriza-‐se
por
uma
relação
flexível
entre
os
poderes
e
pela
dependência
do
poder
executivo
do
poder
legislativo,
visto
que
o
parlamento
é
indispensável
para
a
subsistência
do
governo.
A
forma
de
governo
parlamentar
assume
várias
expressões
concretas,
contudo
podemos
sistematizar
três
traços
estruturantes:
1. Responsabilidade
do
gabinete
perante
o
parlamento
(e
não
perante
o
chefe
de
estado)
–
o
gabinete
ou
o
primeiro-‐ministro
é
nomeado
pelo
chefe
de
estado,
mas
deve,
antes,
obter
a
confiança
do
parlamento,
havendo
a
obrigação
de
se
demitir
caso
seja
aprovada
uma
moção
de
censura
ou
rejeitada
uma
moção
de
confiança.
2. Dissolução
do
parlamento
pelo
chefe
de
estado,
sob
proposta
do
gabinete
(primeiro-‐ministro).
A
dissolução
é
feita
por
um
decreto
presidencial
ou
real,
mas
trata-‐se
de
um
acto
de
iniciativa
do
gabinete,
que
assume
a
responsabilidade
política
do
mesmo
através
de
referenda.
3. Eleição,
no
caso
de
se
tratar
de
um
regime
republicano,
do
presidente
da
república
pelo
parlamento,
um
chefe
de
estado
com
fracos
poderes
mas
com
um
estatuto
de
irresponsabilidade
política
perante
o
mesmo.
Este
esquema
é
aplicável
aos
regimes
parlamentares
monárquicos
e
republicanos,
com
a
diferença
de
nos
primeiros
não
haver
um
chefe
de
estado
eleito
pelo
parlamento.
Modernamente,
o
regime
parlamentar
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
passou
a
articular-‐se
com
a
lógica
maioritária
–
regime
parlamentar
maioritário
–,
falando-‐se
de
governo
de
legislatura
quando
um
partido
ou
uma
coligação
consegue
uma
maioria
absoluta.
3.3.
Presidencialismo(s)
Ora,
nos
Estados
Unidos,
tal
regime
era
inconcebível,
como
tal
os
Founding
Fathers
adoptaram,
após
a
Declaração
de
Independência,
uma
forma
de
governo
diferente
do
da
sua
potência
colonizadora.
Assim,
estes
conceberam
uma
forma
de
governo
presidencial,
cujos
traços
estruturantes
de
podem
sintetizar
nos
seguintes
termos:
-‐
Separação
de
poderes
O
poder
legislativo,
o
poder
executivo
e
o
poder
judiciário
são
constitucionalmente
consagrados
como
três
poderes
independentes,
uma
independência
que
é,
desde
logo,
uma
independência
orgânica
dos
três
poderes:
• Poder
executivo
–
Presidente
dos
Estados
Unidos,
eleito
por
um
colégio
de
eleitores
para
um
mandato
de
4
anos.
• Poder
legislativo
–
Congresso
dos
Estados
Unidos,
formado
por
um
Senado
e
por
uma
Câmara
dos
Representantes.
• Poder
judiciário
–
Tribunal
Supremo
e
tribunais
inferiores
criados
pelo
Congresso.
-‐
Legitimação
O
Presidente
da
República
goza
de
uma
legitimidade
quase
directa,
pois
é
eleito
por
um
colégio
formado
por
grandes
eleitores
em
número
igual
ao
de
senadores
e
representantes,
logo,
geralmente,
há
coincidência
entre
os
votos
dos
populares
e
os
votos
dos
eleitores
(por
este
motivo
se
afirma
que
o
Presidente
tem
legitimidade
directa).
-‐
Governo
O
Presidente
é,
simultaneamente,
o
chefe
do
estado
e
o
chefe
do
governo,
daí
a
ausência
de
gabinete
como
órgão
autónomo
e
a
existência
de
simples
secretários
de
Estado.
Assim,
as
funções
desempenhadas
pelo
rei
e
seus
ministros
na
monarquia
representativa
inglesa
são
concentradas
no
Presidente,
falando-‐se,
assim,
no
monopolismo
do
executivo.
-‐
Poder
judiciário
Como
Supremo
Tribunal
e
o
instituto
da
judicial
review,
o
poder
judiciário
adquire
grande
importância,
funcionando
como
um
contra-‐poder.
-‐
Controlos
Não
existem
controlos
primários
entre
o
Presidente
e
o
Congresso
–
o
Presidente
não
tem
poderes
de
dissolução
das
câmaras
e
estas
não
têm
a
possibilidade
de
aprovar
menções
de
censura
contra
aquele.
O
Governo
é
“irresponsável”
e
o
Parlamento
“indissolúvel”.
Assim,
não
existe
uma
relação
de
confiança
entre
os
poderes
como
no
parlamentarismo,
mas
sim
uma
separação
de
poderes
entre
dois
pólos,
o
Presidente
e
o
Congresso.
Contudo,
existem
três
casos
nos
quais
a
sua
relação
é
de
interdependência:
1. A
figura
do
impeachment
–
é
uma
figura
mista
de
responsabilidade
político-‐criminal,
que,
se
for
aprovada,
leva
à
queda
do
Presidente.
Contudo,
é
uma
figura
controversa
pois
nunca
saiu
do
papel.
2. Direito
de
veto
do
Presidente
de
actos
legislativos
do
Parlamento,
que
pode,
porém,
ser
superado
por
uma
maioria
de
2/3
de
cada
uma
das
câmaras.
3. O
Senado
tem
de
dar
o
seu
assentimento
à
nomeação
dos
secretários
de
estado
e
altos
funcionários
do
executivo.
Além
destes
esquemas
relacionais,
deve
ter-‐se
em
conta
o
federalismo,
considerado
um
elemento
central
do
esquema
constitucional
de
separação
de
poderes,
pois
determina
uma
separação
vertical
na
qual
cada
um
dos
estados
dispõe
de
um
governo
eleito,
de
um
órgão
político-‐legislativo
e
de
uma
constituição
estadual.
Com
efeito,
na
discussão
entre
os
“federalistas”
e
os
“anti-‐federalistas”,
aquando
da
elaboração
da
Constituição
americana
de
1787,
a
existência
de
estados
dotados
de
poderes
autónomos
(momento
anti-‐
federalista)
determinou
a
consagração
de
um
executivo
forte
(momento
federalista).
3.4.
Directório
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
O
directório
é
uma
forma
de
governo
muito
específica
cujo
modelo
paradigmático
é
o
modelo
da
Federação
Suíça.
Assenta
numa
lógica
de
anulação
do
poder
unipessoal,
atribuindo
as
funções
unipessoais
a
um
órgão
colegial,
o
directório.
Os
traços
estruturais
deste
modelo
podem
sintetizar-‐se
da
seguinte
forma:
1. Existência
de
um
directório,
ou
seja,
de
um
executivo
colegial
eleito
pelo
parlamento
por
um
período
de
quatro
anos.
2. Inexistência
de
um
chefe
de
estado
autónomo,
pois
as
funções
deste
são
exercidas
pelo
directório,
limitando-‐se
o
chamado
“Presidente
da
Confederação”
a
presidir
às
sessões
daquele
órgão.
3. O
Directório
é
irrevogável,
pois
não
pode
ser
demitido
através
de
votos
ou
moções
de
censura
do
parlamento
federal.
Por
sua
vez,
o
Directório
não
pode
dissolver
o
Parlamento
(bicameral).
3.5.
Regime
misto
parlamentar-‐presidencial
É
um
regime
de
base
parlamentar,
que
vai
buscar
algumas
características
do
regime
presidencial,
e
que
encontramos
em
Portugal.
Eis
os
traços
estruturais
das
formas
de
governo
parlamentares-‐presidenciais:
1. Existência
de
dois
órgãos
eleitos
por
sufrágio
directo,
o
presidente
da
república
e
o
parlamento.
2. Dupla
responsabilidade
do
governo,
perante
o
presidente
da
república
e
perante
o
governo.
3. Dissolução
do
parlamento
por
decisão
e
iniciativa
autónomas
do
presidente
da
república.
4. Configuração
do
gabinete
como
órgão
constitucional
autónomo.
5. Presidente
da
república
com
poderes
de
direcção
política
próprios.
A
fórmula
“semi-‐presidencialismo”,
utilizada
frequentemente
para
designar
o
regime
misto
parlamentar-‐
presidencial,
é,
porém,
na
sua
designação
pura,
um
modelo
francês.
Este
nasceu
com
a
Constituição
francesa
de
1958
e
foi
teorizado
por
Maurisse
Duverger.
Contudo,
a
sua
origem
remonta
à
Constituição
de
Weimar
e
à
proclamação
da
forma
republicana
na
Alemanha,
que
veio
consagrar
o
sufrágio
directo
do
Presidente.
Contudo,
como
este
regime
possibilitou
a
ascensão
de
Hitler
ao
poder,
alguns
autores
mostram-‐se
relutantes
em
afirmar
esta
origem
do
semi-‐presidencialismo.
CAPÍTULO
III
–
O
CASO
PORTUGUÊS:
REGIME
MISTO
PARLAMENTAR-PRESIDENCIAL
As
raízes
do
sistema
1.
Traços
de
memória
interna
A
forma
de
governo
da
CRP
obedece
a
duas
preocupações
essenciais
da
revolução
do
25
de
Abril
nesta
matéria,
a
de
(1)
restaurar
a
posição
preeminente
da
assembleia
representativa
e
a
dimensão
parlamentar
da
responsabilidade
do
governo
perante
a
assembleia,
sem
todavia
reeditar
a
versão
dogmática
de
1911,
e
(2)
restabelecer
a
eleição
directa
do
Presidente
da
República,
consagrada
na
Constituição
de
1933
e
eliminada
na
revisão
de
1959,
sem,
porém,
lhe
atribuir
os
poderes
exorbitantes
que
lhe
eram
conferidos
nessa
constituição.
Assim,
a
forma
de
governo
a
definir
haveria,
pois,
de
mover-‐se
entre
esses
dois
limites:
por
um
lado,
um
governo
politicamente
responsável
perante
a
assembleia,
sem
todavia
ficar
à
mercê
de
fáceis
derrotas
parlamentares;
e,
por
outro,
um
Presidente
da
República
eleito
por
sufrágio
directo,
dotado
de
poderes
próprios,
embora
sem
ser
chefe
do
executivo.
A
principal
alteração
estrutural
introduzida
pela
CRP
foi,
pois,
tornar
o
Governo
dependente
também
da
Assembleia,
devolvendo
ao
sistema
a
componente
parlamentar
que
tinha
sido
suprimida
em
1933.
2.
Traços
de
memória
externa
Estas
preocupações
iam
ao
encontro
de
ideias
e
experiências
de
outros
países
europeus,
que
se
cristalizaram
em
duas
versões
moderadas
distintas,
(1)
o
parlamentarismo
racionalizado
segundo
o
esquema
alemão
da
Constituição
de
Weimar
de
1919,
e
(2)
o
semipresidencialismo
da
Constituição
francesa
de
1959.
Verifica-‐se
a
presença
de
elementos
oriundos
do
parlamentarismo
racionalizado
no
esquema
das
relações
entre
o
Governo
e
a
Assembleia
nomeadamente
quanto
ao
regime
de
responsabilidade
daquele
perante
esta;
e
a
influência
do
semipresidencialismo,
consubstanciada
na
existência
de
um
Presidente
da
República
directamente
eleito,
perante
quem
o
Governo
é
igualmente
responsável,
e
que
tem
o
poder
de
dissolução
da
Assembleia.
3.
Racionalização
da
forma
de
governo
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
Os
traços
da
memória
converteram-‐se
em
parâmetros
de
racionalização,
que
incidiram
em
duas
áreas
distintas
–
no
campo
da
relação
de
dependência
do
Governo
face
à
Assembleia,
e
na
criação
de
um
segundo
pólo
autónomo
de
poder
ao
lado
do
Parlamento,
o
Presidente
da
República,
igualmente
eleito
por
sufrágio
directo
e
por
forma
a
contrabalançar
a
dependência
parlamentar
do
Governo.
Assim,
podemos
identificar
vários
momentos
de
racionalização
do
sistema
de
governo
parlamentar:
1. A
reformulação
da
posição
do
Governo
face
à
Assembleia,
através
de
instrumentos
práticos
que
reforcem
a
posição
daquele,
através
(1)
do
regime
de
formação
do
Governo,
(2)
do
seu
processo
de
formação
e
(3)
da
disciplina
do
voto
de
desconfiança.
2. A
autonomização
do
Presidente
da
República
como
órgão
constitucional
autónomo
de
poder,
eleito
por
sufrágio
directo
e
com
poderes
próprios
–
(1)
poder
de
dissolução
da
Assembleia
da
República,
(2)
direito
de
veto,
(3)
poder
de
nomeação
do
Governo
e
do
Primeiro-‐Ministro
e
(4)
poder
de
exoneração
do
Governo.
Elementos
caracterizadores
1.
Traços
do
regime
parlamentar
1.1.
Autonomia
do
Governo
Tal
como
no
regime
parlamentar,
e
ao
contrário
do
regime
presidencialista
puro,
em
que
os
secretários
de
Estado
não
formam
um
corpo
autónomo
e
são
meros
executantes
das
políticas
do
Presidente
da
República,
a
CRP
estabelece
a
existência
de
um
Governo
dirigido
por
um
Primeiro-‐Ministro
como
órgão
de
soberania
institucionalmente
autónomo.
1.2.
Responsabilidade
ministerial
A
responsabilidade
política
do
governo
perante
o
parlamento
é
outro
dos
elementos
caracterizadores
do
regime
parlamentar.
No
nosso
sistema,
esta
responsabilidade
não
se
afasta
do
modelo
clássico:
(1)
ou
se
trata
de
uma
iniciativa
da
AR
através
de
uma
moção
de
censura,
ou
(2)
se
verifica
uma
iniciativa
do
próprio
Governo
através
de
uma
moção
de
confiança.
1.3.
Referenda
ministerial
O
Presidente
da
República
e
o
Governo
partilham
certas
tarefas,
cabendo
a
este
último,
através
do
instituto
da
referenda,
comprometer-‐se
politicamente
quanto
a
certos
actos.
Ao
contrário,
porém,
do
regime
puro
de
gabinete,
o
Governo
não
possui,
entre
nós,
o
direito
de
iniciativa
de
dissolução
do
parlamento.
2.
Traços
do
regime
presidencial
2.1.
Instituição
de
um
Presidente
da
República
eleito
por
sufrágio
directo
Tal
como
acontece
nos
sistemas
presidenciais,
o
PR
é
eleito
através
de
sufrágio
directo,
não
se
estabelecendo,
pois,
uma
legitimidade
indirecta
do
PR
derivada
da
sua
eleição
pelas
câmaras
representativas
como
acontece
nos
regimes
parlamentares
republicanos.
2.2.
Direito
de
veto
político
e
legislativo
Embora
o
PR
não
disponha
de
iniciativa
legislativa,
pode
opor-‐se
através
do
veto
político,
como
acontece
nos
regimes
presidenciais,
às
leis
votadas
pela
AR.
2.3.
Existência
de
poderes
de
direcção
política
O
regime
presidencial
caracteriza-‐se
pela
existência
de
poderes
de
direcção
política
por
parte
do
presidente
da
república.
Em
Portugal,
os
poderes
mais
relevantes
do
PR
são
os
seguintes:
• Decisão
quanto
à
marcação
das
eleições;
• Poder
de
dissolução
da
AR;
• Poder
de
nomeação
do
PM;
• Submissão
de
certas
questões
a
referendo;
• Submissão
à
apreciação
do
TC
actos
legislativos.
3.
Traços
de
racionalização
parlamentar-‐presidencialista
3.1.
Dupla
responsabilidade
do
Governo
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
Este
traço
é
reminiscente
do
dualismo
monárquico
pois,
como
as
relações
entre
o
rei
e
o
parlamento
se
estabeleciam
através
do
gabinete
que
partilhava
com
o
rei
o
poder
executivo,
este
era
duplamente
responsável:
diante
do
parlamento
e
perante
o
chefe
do
Estado.
A
dupla
responsabilidade
caracteriza
também
o
nosso
regime
misto
parlamentar-‐presidencial.
3.2.
Direito
de
dissolução
da
AR
Outra
das
características
do
regime
parlamentar
dualista
reside
no
direito
de
dissolução
pertencente
ao
PR.
Trata-‐se
de
um
poder
na
linha
da
dissolution
royale
das
monarquias
dualistas
–
contudo,
diferentemente
do
que
acontecia
nesta
figura,
o
poder
de
dissolução
presidencial
consagrado
na
AR
não
é
totalmente
discricionário
e
comporta
limites
temporais
importantes.
Interdependência
institucional
1.
Presidente
da
República
e
Primeiro-‐Ministro
O
PR
detém
um
poder
executivo
inicial,
pois
é
a
ele
que
compete
nomear
o
PM;
e
um
poder
final,
dado
lhe
ser
reconhecida
a
faculdade
de
demitir
o
Governo.
Isto
implica
a
existência
de
uma
responsabilidade
política
do
Governo
e
do
PM
perante
o
PR.
Contudo,
é
o
PM,
e
não
o
PR,
o
chefe
do
Governo,
sendo
definidor
de
uma
política
governamental
autónoma.
Por
isso
se
fala
numa
interdependência
institucional
entre
PR
e
PM
com
autonomia
governamental.
2.
Presidente
da
República
e
Assembleia
da
República
A
interdependência
institucional
entre
o
PR
e
a
AR
manifesta-‐se
nos
seguintes
termos:
• A
dupla
responsabilidade
governamental
implica
que,
embora
pertença
ao
PR
escolher
o
PM,
ele
tem
de
ter
em
conta
os
resultados
eleitorais,
o
que
indica
que
o
PM
deve
ser
escolhido
de
acordo
com
o
partido
ou
partidos
capazes
de
obter
confiança
na
AR.
• O
PR
dispõe
do
direito
de
veto
que,
em
relação
a
algumas
matérias,
só
pode
ser
superado
pela
maioria
de
2/3
dos
deputados
presentes.
• O
PR
tem
o
direito
de
dissolução
da
AR.
3.
Assembleia
da
República
e
Governo
A
interdependência
institucional
entre
os
órgãos
de
soberania
é
claramente
visível
nas
relações
entre
o
Governo
e
a
AR:
• O
desencadeamento
da
responsabilidade
política
do
Governo
pode
ter
como
base
(1)
uma
questão
de
confiança,
traduzida
na
iniciativa
do
Governo
em
sujeitar
a
sua
permanência
em
funções
a
um
voto
da
AR,
ou
(2)
uma
iniciativa
dos
deputados,
através
de
moções
de
censura.
• Existe
colaboração
legislativa
do
Governo
e
da
AR,
não
obstante
a
manutenção
da
função
legislativa
como
uma
função
privilegiada
do
parlamento
para
certos
assuntos
e
o
instituto
do
controlo
dos
decretos-‐lei.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
PARTE
II
CONSTITUIÇÃO
E
NORMAÇÃO:
FONTES
DE
DIREITO
CAPÍTULO
I
–
CONSTITUIÇÃO
E
FONTES
DE
DIREITO:
INTRODUÇÃO
A
constituição
como
norma
primária
sobre
a
produção
jurídica
A
Constituição,
enquanto
norma
primária
sobre
a
produção
jurídica,
tem
três
importantes
funções,
a
de
(1)
identificar
as
fontes
de
direito,
(2)
estabelecer
os
critérios
de
validade
e
eficácia,
e
(3)
determinar
as
competências
das
entidades.
1.
Identificação
das
fontes
Esta
função
encontra
refracção
em
vários
momentos
da
CRP:
• Art
8.º
–
direito
internacional
e
direito
comunitário;
• Art.
56.º
–
convenções
colectivas
de
trabalho;
• Art.
112.º
–
actos
normativos;
• Arts.
161.º,
164.º
e
165.º
-‐
leis
da
AR;
• Art.
198.º
–
decretos-‐leis
do
Governo;
• Art.
226.º
–
estatutos
das
regiões
autónomas;
• Art.
227.º
–
actos
normativos
das
regiões
autónomas;
• Art.
241.º
–
regulamentos
das
autarquias
locais.
2.
Determinação
dos
critérios
de
validade,
eficácia
e
hierarquia
A
CRP
responde
também
aos
problemas
distintos
da
validade,
eficácia
e
hierarquia
das
normas
produzidas
pelas
fontes
de
direito:
• Igual
valor
entre
leis
e
decretos-‐leis;
• Valor
reforçado
de
certas
leis;
• Relações
entre
o
direito
geral
da
República
e
o
direito
autonómico;
• Relações
entre
actos
normativos
legislativos
e
actos
normativos
da
administração;
• Forma
e
valor
das
directivas
comunitárias
transpostas
para
a
ordem
jurídica
interna.
3.
Individualização
das
competências
normativas
Esta
função
está
associada
ao
importante
princípio
da
tipicidade
das
competências
normativas.
Do
monismo
ao
pluralismo
de
ordenamentos
1.
A
inadequação
relativa
da
representação
piramidal
Em
geral,
defendia-‐se
e
ensinava-‐se
que
a
Constituição
representava
o
vértice
de
um
sistema
de
normas
que,
na
sua
globalidade,
formava
a
ordem
jurídica.
Num
estrato
imediatamente
inferior
situar-‐se-‐iam
as
convenções
internacionais
e,
na
base
da
pirâmide,
a
lei.
Ora,
este
modelo
não
tem
hoje
virtualidades
suficientes
para
captar
o
relevo
jurídico
do
direito
internacional
e
do
direito
comunitário,
devido
à
existência
de
um
pluralismo
de
ordenamentos
superiores
–
o
ordenamento
constitucional,
internacional
e
comunitário.
Contudo,
esta
inadequação
é
relativa
porque,
apesar
de
não
reflectir
toda
a
realidade,
não
está
completamente
desadequada
–
tome-‐se
o
exemplo
da
superioridade
da
lei
em
relação
ao
regulamento.
Assim,
propõe-‐se
a
alternativa
de
uma
representação
de
uma
rede
inter-‐normativa,
determinada
por
uma
pluralidade
de
ordenamentos
superiores.
-‐
Relações
entre
normas
de
direito
interno
e
de
direito
internacional
• As
normas
de
direito
internacional
têm
valor
infraconstitucional
e
supralegal.
Contudo,
este
esquema
deverá
ser,
hoje,
temperado
pela
radicação
de
um
jus
cogens
internacional
cuja
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
observância
se
impõe
como
dever
imperativo
dos
Estados,
adquirindo,
por
isso,
um
valor
supraconstitucional
e
impondo-‐se
ao
poder
constituinte
originário.
• O
valor
do
direito
comunitário
perante
o
direito
interno
continua
um
problema
em
aberto.
Contudo,
o
princípio
de
integração
e
o
princípio
da
capacidade
funcional
da
Comunidade
apontam
para
a
preferência
da
aplicação
do
direito
europeu
em
relação
ao
direito
interno,
aplicação
esta
que
tem
limites
relacionados
com
o
respeito
do
núcleo
constitucional
dos
princípios
do
Estado
de
direito.
2.
Princípios
da
articulação
entre
fontes
de
direito
-‐
Princípio
da
hierarquia
O
princípio
da
hierarquia
articula-‐se
com
a
ideia
de
que
os
actos
normativos
não
têm
todos
a
mesma
hierarquia,
situando-‐se
num
plano
de
verticalidade,
à
semelhança
de
uma
pirâmide
jurídica.
Este
princípio
desdobra-‐se
em
vários
subprincípios:
• Princípio
da
superioridade
dos
actos
legislativos
relativamente
aos
actos
regulamentares;
• Princípio
da
tendencial
paridade
entre
as
leis
e
os
decretos-‐leis;
• Princípio
da
prevalência
dos
princípios
fundamentais
das
leis
gerais
da
República
sobre
os
actos
legislativos
regionais;
• Princípio
da
superioridade
das
leis
de
autorização
e
das
leis
de
base;
• Princípio
da
aplicação
preferente
das
normas
europeias
em
relação
às
normas
internas;
• Princípio
da
inderrogabilidade
de
norma
de
grau
superior
por
norma
hierarquicamente
inferior.
A
norma
hierárquica
superior
reúne,
geralmente,
duas
modalidades
de
preferência,
a
(1)
preferência
de
validade,
tornando
nulas
as
normas
anteriores
contrárias
e
servindo
de
limite
jurídico
às
normas
posteriores
também
em
contradição
com
elas,
e
(2)
preferência
de
aplicação,
porque
mesmo
não
aniquilando
a
validade
da
norma
contrária,
ela
deverá
ser
aplicada
preferentemente
nos
casos
concretos.
-‐
Princípio
da
competência
O
princípio
da
competência
assenta
numa
divisão
de
competências,
por
vezes
espacial,
pressupondo
uma
limitação
positiva,
incluindo-‐se
na
competência
de
certas
entidades
a
regulamentação
de
certas
matérias.
Também
é
este
princípio
que
justifica
a
regulamentação
de
certas
matérias
por
determinados
órgãos,
formando-‐se,
assim,
blocos
de
competências
reservadas
de
determinadas
matérias.
-‐
Princípio
básico
sobre
a
produção
jurídica
O
princípio
básico
sobre
a
produção
jurídica
está
expressamente
consagrado
na
CRP,
art.
112.º/5,
e
pode
formular-‐se
da
seguinte
forma:
(1)
nenhuma
fonte
pode
atribuir
a
outra
um
valor
de
que
ela
própria
não
dispõe,
(2)
nenhuma
fonte
pode
atribuir
a
outra
um
valor
inferior
ao
seu,
(3)
nenhuma
fonte
pode
dispor
do
seu
valor
jurídico,
acrescentando-‐o
ou
diminuindo-‐o,
e
(4)
nenhuma
fonte
pode
transferir
para
actos
de
outra
natureza
o
seu
próprio
valor
jurídico.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
II
–
CATEGORIAS
DE
LEIS
PREVISTAS
NA
CRP
1.
Leis
constitucionais
ou
leis
de
revisão
constitucional
A
CRP
faz
expressa
alusão
a
leis
constitucionais,
prescrevendo
esta
forma
para
as
alterações
à
Constituição.
Assim,
o
sentido
de
leis
constitucionais
deve
ser
interpretado
em
sentido
restrito,
como
leis
de
revisão.
A
reserva
de
lei
constitucional
pertence
ao
poder
constituinte
ou
poder
de
revisão.
2.
Leis
orgânicas
2.1.
Sentido
jurídico
e
político-‐constitucional
A
categoria
de
leis
orgânicas
foi
inserida
na
CRP
com
a
1ª
Revisão,
e
o
seu
sentido
jurídico
deduz-‐se
a
partir
dos
arts.
112.º/3
e
166.º/2,
o
primeiro
a
dotar
estas
leis
de
valor
reforçado
e
o
segundo
a
fazer
revestir
forma
de
lei
orgânica
alguns
dos
actos
de
reserva
absoluta
da
AR
e
a
lei
criadora
de
uma
região
administrativa.
Contudo,
não
é
claro
o
sentido
jurídico
e
político-‐constitucional
desta
nova
figura.
A
CRP
reservou
para
as
leis
orgânicas
as
seguintes
matérias:
• Regime
eleitoral
dos
órgãos
de
soberania;
• Regime
dos
referendos;
• Organização
do
Tribunal
Constitucional;
• Disciplina
de
situações
de
necessidade
constitucional;
• Aquisição,
perda
e
reaquisição
da
cidadania
portuguesa;
• Disciplina
das
associações
e
partidos
políticos;
• Regime
das
eleições
dos
deputados
às
assembleias
legislativas
regionais;
• Regime
do
sistema
de
informações
da
República
e
do
segredo
de
Estado;
• Regime
de
finanças
das
regiões
autónomas;
• Criação
das
regiões
administrativas.
Assim,
podemos
deduzir
o
sentido
político-‐constitucional
das
leis
orgânicas
a
partir
desta
reserva
de
competências,
atribuindo
a
esta
categoria
de
leis
as
seguintes
funções:
• Subtrair
as
regras
eleitorais
às
maiorias
parlamentares,
protegendo,
simultaneamente,
o
direito
das
minorias;
• Exigir
um
consenso
alargado
para
a
disciplina
do
direito
processual;
• Impor
uma
maioria
qualificada
na
definição
e
organização
da
defesa
nacional
e
disciplina
das
Forças
Armadas;
• Proteger
a
constituição
e
os
direitos
fundamentais
nos
casos
do
estado
de
sítio
e
de
emergência;
• Controlar
o
regime
do
sistema
de
informações
da
República
e
do
segredo
de
Estado;
• Assegurar
o
estatuto
constitucional
dos
partidos
e
associações
políticas;
• Dar
transparência
e
reforçar
a
legalidade
orçamental
do
regime
de
finanças
regionais
e
locais;
• Garantir
apoio
parlamentar
qualificado
à
criação
de
regiões
administrativas.
2.1.
Características
jurídico-‐constitucionais
São
vários
os
traços
jurídico-‐constitucionais
caracterizadores
das
leis
orgânicas:
1. São
leis
ordinárias
da
AR:
2. São
leis
dotadas
de
valor
reforçado;
3. Estão
vinculadas
ao
princípio
da
tipicidade,
pois
só
são
leis
orgânicas
aquelas
que
a
Constituição
considera
como
tais;
4. Observa-‐se
também
o
princípio
de
exclusividade
ratione
materiae,
consequentemente
serão
inconstitucionais
leis
orgânicas
de
autorização,
de
bases
ou
limitadas
ao
regime
geral
de
certas
matérias.
Também
se
verificam
os
princípios
da
competência
e
da
reserva
total
ou
absoluta
(com
a
excepção
do
art.
164.º/d,
lei
orgânica
sobre
as
bases
gerais).
Para
além
destes
traços,
as
leis
orgânicas
apresentam
dimensões
orgânico-‐procedimentais
específicas:
1. A
votação
em
especialidade
das
leis
orgânicas
é
feita,
na
maior
parte
dos
casos,
no
Plenário
e
não
em
comissões
(não
existe
coincidência
perfeita
entre
as
matérias
do
art.
168.º/4
e
166.º/2);
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
2. Exigência
de
maioria
absoluta
dos
deputados
em
efectividade
de
funções
para
a
sua
aprovação
(168.º/5);
3. Exigência
de
uma
maioria
de
dois
terços
dos
deputados
em
efectividade
de
funções
para
superação
do
veto
político,
uma
maioria
mais
exigente
do
que
sucede
nas
outras
leis
(136.º/3);
4. Regime
de
fiscalização
preventiva
específico,
visto
que
a
legitimidade
para
requerer
a
fiscalização
destas
leis
é
maior,
sendo
alargada,
para
além
do
PR,
ao
PM
e
a
1/5
dos
deputados
em
efectividade
de
funções
(278.º/4).
Assim,
o
valor
reforçado
destas
leis
resulta
de
uma
especificidade
procedimental,
que
revela
a
grande
importância
atribuída
a
estas
leis
pelo
legislador
constituinte.
3.
Leis
de
bases
3.1.
História
e
noção
As
leis
de
base
são
leis
que,
não
disciplinando
toda
a
matéria
jurídica
de
uma
dada
questão,
estabelecem
as
bases
da
mesma,
deixando
a
cargo
do
executivo
o
desenvolvimento
dessas
bases
através
de
um
decreto
de
desenvolvimento.
Têm
origem
nas
lois
cadre
francesas,
permitindo
ao
parlamento
manter-‐se
soberano
ao
traçar
a
moldura
dentro
da
qual
se
deve
exercitar
a
actividade
do
governo,
e
indiciavam
já
o
propósito
impulsionador
das
leis
de
plano
da
época
mais
recente.
3.2.
Leis
de
base
na
Constituição
de
1976
A
categoria
de
leis
de
base
foi
consagrada
na
CRP,
nomeadamente
no
art.
112.º/3,
no
qual
se
alude
a
decretos-‐leis
que
desenvolvem
“as
bases
gerais
dos
regimes
jurídicos”.
O
sentido
da
reserva
das
bases
gerais
dos
regimes
jurídicos
deverá
ser,
não
o
de
uma
autolimitação
ou
heterolimitação
da
AR,
mas
sim
o
de,
em
certos
assuntos
que
carecem
de
desenvolvimento,
limitar
a
competência
legislativa
do
Governo
ao
desenvolvimento
de
um
parâmetro
normativo
fixado
por
lei
da
AR.
Assim,
com
o
princípio
da
reserva
legislativa
de
bases
gerais
desejou-‐se,
por
um
lado,
assegurar
a
intervenção
legislativa
primária
da
AR
e,
por
outro,
permitir
ao
Governo,
mesmo
sem
autorização
legislativa,
legislar
sobre
a
mesma
matéria.
Sob
um
ponto
de
vista
material,
as
leis
de
bases
constituem
directivas
e
limites
dos
decretos-‐lei
de
desenvolvimento.
3.3.
Sentido
da
primariedade
material
das
leis
de
bases
relativamente
aos
decretos-‐leis
de
desenvolvimento
Embora
as
leis
e
os
decretos-‐leis
sejam
actos
legislativos
de
igual
dignidade
hierárquica,
as
leis
adquirem,
na
forma
de
leis
de
bases,
uma
primariedade
material
e
hierárquica,
com
a
correspondente
subordinação
dos
decretos-‐leis
de
desenvolvimento.
Surgem,
deste
modo,
dois
problemas,
o
de
(1)
saber
se
as
leis
de
bases
constituem
sempre
um
parâmetro
material
superior
vinculativo
para
os
decretos-‐leis,
ou
se
a
parametrecidade
das
leis
de
base
se
impõe
apenas
nos
casos
de
reserva
de
competência
legislativa,
e
o
de
(2)
qualificar
o
vício
resultante
da
desconformidade
dos
decretos-‐leis
de
desenvolvimento
com
o
parâmetro
superior
das
leis
de
base.
Relativamente
ao
primeiro
problema,
são
duas
as
teses
defendidas:
• Limitação
do
valor
paramétrico
e
superioridade
hierárquica
das
leis
de
bases
às
matérias
de
reserva
absoluta
ou
relativa
da
AR,
uma
tese
sustentada
por
(1)
o
princípio
da
tipicidade
das
competências
constitucionais
e
(2)
a
proibição
da
alteração
das
competências
constitucionais.
• Superioridade
geral
das
leis
de
bases
perante
os
decretos-‐leis,
cujos
argumentos
se
apoiam
na
redacção
do
art.
112.º/2,
que
não
estabelece
qualquer
distinção
entre
leis
de
bases
em
matérias
abertas
à
intervenção
legislativa
do
Governo
e
leis
de
bases
reservadas
à
AR;
e
entre
leis
de
bases
tipificadamente
indicadas
na
Constituição
e
leis
de
base
fora
dela.
Ora,
se
se
admitisse
a
primeira
teste,
tal
significaria
esvaziar
de
sentido
próprio
o
princípio
da
superioridade
das
leis
de
bases,
pois
esta
resultaria
antes
do
princípio
da
reserva
de
competência,
não
sendo,
pois,
necessário
acrescentar
um
princípio
de
hierarquia.
É
esta
parametrecidade
material
que
confere
às
leis
orgânicas
o
valor
reforçado.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
Relativamente
ao
problema
da
qualificação
do
vício,
impõe-‐se
um
maior
controlo
nos
casos
de
decretos-‐leis
que
versem
matérias
da
competência
reservada
da
AR.
Se
o
Governo
invadir
o
domínio
de
competência
da
AR,
legislando
sobre
as
matérias
reservadas,
o
diploma
legislativo
sofrerá
de
vício
de
incompetência,
dando
origem
à
inconstitucionalidade
orgânica
e
forma.
Isto
acresce
à
ilegalidade,
decorrente
da
desconformidade
dos
decretos-‐leis
de
desenvolvimento
com
o
parâmetro
material
fixado
na
lei
de
bases.
4.
Leis
de
autorização
4.1.
Noção
As
leis
de
autorização
são
leis
mediante
as
quais
o
órgão
legislativo
autoriza
o
órgão
executivo
a
emanar
actos
normativos
com
força
de
lei.
Estas
leis
começaram
por
ser
leis
formais
sobre
a
produção
jurídica,
contudo,
encontra-‐se
ultrapassada
a
velha
doutrina
germânica
segundo
a
qual
estas
leis
têm
uma
natureza
meramente
formal,
visto
considerar-‐se
que
estas
leis
não
têm
uma
natureza
diversa
das
outras,
possuindo
antes
um
carácter
normativo-‐material.
A
querela
mais
importante
suscitada
pelas
leis
de
autorização
reside
na
questão
de
se
saber
qual
a
natureza
jurídica
da
autorização.
A
doutrina
menos
recente
considerava
a
delegação
legislativa
como
transferência
temporária
do
poder
legislativo
e,
em
face
de
objecções
colocadas
a
esta
teoria,
tentou-‐se
caracterizar
a
delegação
como
uma
condição
de
substituição
no
exercício
de
determinado
poder.
No
entanto,
a
teoria
que
mais
se
coaduna
com
a
nossa
arquitectura
constitucional
é
a
teoria
da
autorização.
No
direito
civil,
a
autorização
é
a
manifestação
de
vontade
pelo
qual
uma
pessoa
permite
a
outra
a
realização,
em
nome
próprio,
de
um
acto
material
ou
de
um
negócio,
que,
sem
a
referida
autorização,
seria
ilícito
por
significar
uma
invasão
na
esfera
jurídica
alheia.
Também
na
delegação
legislativa
encontramos
notas
distintas
da
autorização,
pois
esta
delegação
é
uma
delegação
de
matérias.
4.2.
Objecto
As
concessão
de
leis
de
autorização
integra-‐se
na
competência
legislativa
da
AR,
e,
como
tal,
estas
leis
só
são
possíveis
ao
abrigo
do
art.
165.º.
Assim,
também
as
autorizações
legislativas
devem,
em
princípio,
coincidir
com
o
objecto
próprio
da
função
legislativa
do
Parlamente,
estando
dele
excluídas:
• Funções
de
fiscalização
ou
controlo
(art.
162.º
e
163.º);
• Matérias
de
competência
política
(art.
161.º);
• Matérias
não
reservadas;
• Leis
de
medida.
4.3.
Destinatário
O
destinatário
das
autorizações
legislativas
é
(1)
o
Governo.
Neste
sentido,
será
inconstitucional
qualquer
autorização
legislativa
a
favor
do
Primeiro-‐Ministro,
do
Conselho
de
Ministros
ou
de
qualquer
ministro
considerado
isoladamente.
Os
destinatários
das
autorizações
legislativas
podem
ser
ainda
as
(2)
assembleias
legislativas
regionais,
em
matérias
de
interesse
específico
para
as
regiões
que
não
estejam
reservadas
à
competência
própria
dos
órgãos
de
soberania.
São
constitucionalmente
ilegítimas
subdelegações
legislativas,
visto
estas
violarem
o
princípio
fundamental
da
indelegabilidade
de
poderes
delegados.
4.4.
Limites
das
autorizações
legislativas
-‐
Limites
materiais
Os
limites
materiais
impostos
às
leis
de
autorização
são
os
seguintes:
• Exigência
de
definição
do
objecto,
pois
estas
leis
devem
indicar
as
matérias
que
irão
ser
objecto
de
decretos-‐leis
autorizados
(princípio
da
especialidade
das
autorizações
legislativas);
• Exigência
de
definição
do
sentido,
ou
seja,
dos
princípios
orientadores
do
Governo
na
emanação
de
decretos-‐leis
autorizados;
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
• Proibição
de
incidência
sobre
matérias
necessariamente
reguladas
por
lei
formal,
ou
seja,
matérias
enquadradas
na
reserva
de
lei
de
Assembleia
(arts.
161.º
e
164.º).
-‐
Limites
temporais
A
extensão
e
duração
da
autorização
legislativa
deve
estar
determinada
na
lei
de
autorização.
Contudo,
é
questionável
se
os
limites
temporais
indicados
na
lei
de
autorização
implicam
(1)
a
publicação
do
decreto-‐
lei
no
Diário
da
República,
ou
se
basta
(2)
a
promulgação
pelo
PR
ou
até
a
simples
(3)
aprovação
pelo
Conselho
de
Ministros.
• A
tese
que
tem
sido
defendida
tem
sido
a
da
não
exigência
de
publicação
dentro
dos
limites
temporais,
pois
a
publicação
é
um
acto
sucessivo
estranho
ao
exercício
da
autorização
legislativa,
além
de
a
publicação
ser
hoje
uma
mera
condição
da
eficácia
da
lei
e
não
um
requisito
de
existência.
• O
Tribunal
Constitucional
tem
vindo,
pois,
a
considerar
que,
para
que
“se
considere
respeitado
o
prazo
de
autorização
legislativa
basta
que
ocorra
dentro
desse
prazo
a
aprovação
pelo
Conselho
de
Ministros”.
• Gomes
Canotilho
invoca,
a
favor
da
publicação
no
DR,
que
sem
ela
não
é
susceptível
de
controlo
público
a
data
do
diploma,
permitindo
fraudes
de
antedatar
diplomas.
Assim
defende
que
se
deveria
ter
em
conta,
pelo
menos,
o
momento
de
recepção
pelo
PR
para
efeitos
de
promulgação.
São
inadmissíveis,
porém,
os
decretos-‐leis
anteriores
à
publicação
da
lei
de
autorização
ou
posteriores
à
cessação
da
sua
vigência.
No
(1)
primeiro
caso,
são
inconstitucionais
porque
não
podem
reclamar-‐se
de
uma
lei
de
autorização
com
eficácia
externa,
e
no
(2)
segundo
caso,
existe
claramente
falta
de
autorização,
sendo
este
vício
insusceptível
de
sanação,
inclusive
por
lei
posterior.
4.5.
Cessação
da
autorização
A
lei
de
autorização
esgota
a
sua
relevância
jurídica
por:
• Decurso
dos
limites
temporais;
• Utilização
pelo
Governo
(165.º/3);
• Revogação
pela
AR;
• Caducidade
(165.º/4).
Relativamente
à
autorização,
vigora
o
princípio
da
irrepetibilidade
–
o
Governo
não
pode
utilizar
a
autorização
legislativa
mais
do
que
uma
vez,
estando-‐lhe
igualmente
vedada
a
revogação,
alteração
ou
substituição.
Contudo,
este
princípio
não
impede
(1)
que
o
Governo
edite
outro
decreto-‐lei
de
autorização
se
o
primeiro
não
tiver
chegado
a
entrar
em
vigor
(por
motivo
de
veto,
por
exempo),
e
(2)
a
autorização
parcelar
da
autorização.
Relativamente
à
revogação
da
autorização,
considera-‐se
que
o
órgão
parlamentar
pode
revogar
a
autorização
legislativa,
porém
esta
revogação
deverá
ser
expressa
e
mediante
um
acto
igual
ao
da
autorização
(lei).
Assim,
se
a
AR
editar
leis
durante
o
período
de
autorização,
regulando
directamente
as
matérias
objecto
de
autorização,
fica
o
Governo
impedido
de
fazer
uso
da
autorização.
Finalmente,
a
caducidade
da
autorização
deriva
da
verificação
de
qualquer
dos
eventos
enunciados
no
art.
165.º/4,
o
que
se
justifica
por
estas
leis
de
autorização
se
basearem
numa
relação
de
confiança
entre
a
AR
e
o
Governo.
4.6.
Relações
entre
as
leis
de
autorização
e
os
decretos-‐leis
autorizados
O
carácter
subordinado
dos
decretos-‐leis
autorizados
às
leis
de
autorização
é
hoje
constitucionalmente
indiscutível,
estando
consagrado
no
art.
112.º/2.
Para
além
desta
subordinação
hierárquica
e
paramétrica,
os
decretos-‐leis
autorizados
são
ainda
condicionados
noutro
sentido
–
estão
subtraídos
à
disposição
do
poder
legislativo
do
Governo,
que
não
os
pode
alterar
ou
revogar
sem
uma
nova
autorização
legislativa.
-‐
Excesso
de
autorização
O
excesso
de
autorização
ocorre
pela
não
observância
dos
limites
materiais
da
lei
de
autorização.
Levanta-‐
se
aqui
a
questão
de
saber
se
o
excesso
de
autorização
origina
a
ilegalidade
ou
inconstitucionalidade
do
diploma
do
Governo
–
embora
Gomes
Canotilho
defenda
a
primeira,
alguma
jurisprudência
recente
tem
apontado
para
o
segundo.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
Autónomas.
Quanto
à
primeira
tese,
a
AR
não
pode
ter
uma
completa
liberdade
de
conformação,
por
respeito
ao
princípio
da
autonomia
regional.
5.2.
Reserva
de
estatuto
Os
arts.
227.º
e
228.º
da
Constituição
contêm
um
extenso
leque
de
competências
cuja
definição
pertence
aos
estatutos
das
regiões
autónomas,
Estas
matérias
aproximam-‐nos,
de
forma
tendencial,
daquilo
a
que
podemos
chamar
reserva
de
estatuto
regional,
que
aponta
para
duas
dimensões:
1. Certas
matérias
devem
ser
exclusivamente
disciplinadas
por
lei
estatutária;
2. Estas
matérias
não
podem
deixar
de
estar
reguladas
no
estatuto
sob
pena
de
se
verificar
aquilo
que
a
doutrina
designa
por
“défice
de
estatuto”.
6.
Leis
reforçadas
As
leis
reforçadas,
ou
leis
com
valor
reforçado,
são
uma
categoria
com
carácter
heterogéneo,
estando,
no
entanto,
individualizadas
no
art.
112.º/3.
Neste
preceito,
faz-‐se
alusão
a
4
categorias
de
leis
reforçadas:
1. Leis
orgânicas;
2. Leis
que
carecem
de
aprovação
por
maioria
de
dois
terços;
3. Leis
que
sejam
pressuposto
normativo
necessário
de
outras
leis;
4. Leis
que
por
outras
devam
ser
respeitadas.
Mediante
a
leitura
deste
artigo,
pode-‐se
concluir
que
o
legislador
constituinte
articulou
critérios
de
identificação
bastante
heterogéneos:
1. Critério
da
forma
e
do
procedimento;
2. Critério
da
maioria
reforçada
para
a
sua
aprovação;
3. Critério
da
parametrecidade
específica;
4. Critério
da
parametrecidade
geral.
6.1.
Critério
da
parametrecidade
aferido
por
um
processo
judicial
de
fiscalização
Este
critério
é
um
critério
extensivo
a
todas
as
leis
reforçadas,
visto
que
todas
beneficiam
de
uma
fiscalização
judicial
tendente
a
assegurar
o
valor
paramétrico
ou
competencial
das
leis
reforçadas
e
possibilitar
a
desaplicação
ou
eliminação
de
outras
leis
em
desconformidade
com
elas.
Contudo,
este
critério
só
demonstra
que
as
leis
reforçadas
podem
gerar
relações
de
desvalor
jurídico-‐
constitucional,
não
nos
permitindo
determinar
a
individualização
dessas
leis.
6.2.
Critério
da
parametrecidade
específica
Uma
lei
é
reforçada
relativamente
a
outra
quando
apresenta
um
conteúdo
de
natureza
paramétrica
que
deve
servir
de
pressuposto
material
à
disciplina
normativa
estabelecida
por
esse
outro
acto
legislativo.
Assim:
1. As
leis
de
base
em
relação
aos
decretos-‐leis
de
desenvolvimento;
2. As
leis
de
autorização
em
relação
aos
decretos-‐leis
ou
decretos
legislativos
regionais
autorizados;
3. A
lei
de
enquadramento
do
orçamento
em
relação
à
lei
anual
dos
orçamentos
do
Estado
e
das
Regiões
Autónomas.
Do
valor
paramétrico
das
leis
reforçadas
conclui-‐se
o
seu
carácter
derrogatório,
ou
seja,
uma
lei
é
reforçada
relativamente
a
outra
quando
pode
derrogar
esta
sem
por
ela
ser
susceptível
de
ser
revogada.
6.3.
Critério
da
forma
e
especificidade
procedimentais
Este
critério
traduz
a
ideia
de
que
uma
lei
tem
valor
reforçado
porque
possui
uma
forma
e
procedimentos
especiais
constitucionalmente
estabelecidos.
É
o
caso
de:
1. As
leis
orgânicas,
que
são
leis
de
reserva
absoluta
num
duplo
sentido
–
constituem
reserva
absoluta
de
lei
formal
da
AR
e
devem
regular
toda
a
disciplina
ou
matéria
sobre
que
incidem.
6.4.
Critério
da
maioria
reforçada
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
Algumas
leis
são
reforçadas
porque
a
maioria
requerida
para
a
sua
aprovação
é,
também
ela,
reforçada
(dois
terços).
Em
certo
sentido,
são
também
leis
reforçadas
pelo
procedimento,
pois
a
maioria
é
uma
dimensão
procedimental.
É
o
caso
de
algumas
leis
individualizadas
no
art.
168.º/6.
6.5.
Critério
da
parametrecidade
geral
Na
parte
final
do
art.
112.º/3
são
consideradas
reforçadas
as
leis
que
devem
ser
respeitadas
por
outras
leis.
Este
é
o
critério
mais
vago
de
todos
e,
possivelmente,
foi
consagrado
como
um
critério
residual
para
salientar
a
exigência
de
conformidade
ou
de
compatibilidade
apontada
por
outras
leis
relativamente
a
um
conjunto
indeterminado
de
outros
actos
legislativos.
7.
Leis
de
enquadramento
A
última
categoria
de
leis
em
análise
é
a
das
leis
de
enquadramento
ou
leis
quadro,
com
preferência
para
a
primeira
designação,
pois
ser
a
utilizada
para
a
mais
conhecida
lei
nesta
categoria
–
a
lei
de
enquadramento
do
orçamento.
As
leis
de
enquadramento
não
se
confundem
com
as
leis
de
bases,
pois
fixam
mais
ou
menos
pormenorizadamente
um
regime
jurídico
estruturante
–
os
seus
princípios,
regras
e
procedimentos
–
que
deverá
ser
respeitado
por
actos
legislativos
concretizadores
desse
regime.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
III
-
O
DECRETO-LEI
1.
A
memória
constitucional
1.1
Constitucionalismo
monárquico
Nenhuma
das
constituições
políticas
que
vigoraram
durante
o
período
do
constitucionalismo
monárquico
admitiu
a
emanação,
pelo
executivo,
de
actos
normativos
com
forma
de
lei.
Contudo,
nas
frequentes
crises
do
parlamentarismo
monárquico,
o
Governo
legislava
através
de
decretos
ditatoriais,
uma
prática
contra
constitutio
scripta.
1.1.
Constitucionalismo
republicano
• Constituição
de
1911
–
consagrou
a
possibilidade
de
criação
legislativa
do
Governo,
desde
que
obtivesse
autorização
do
legislativo,
podendo
ser
invocada
a
inconstitucionalidade
formal
ou
orgânica
dos
diplomas
legislativos
emanados
do
Executivo
sem
autorização
do
Poder
Legislativo.
• Constituição
de
1933
–
continuou
a
prática
da
constituição
anterior,
contudo
consagrou
a
possibilidade
de
emanar
decretos-‐leis
sem
autorização
legislativa,
nos
casos
de
urgência
e
necessidade.
Assim,
o
Governo
aproveitou
o
expediente
do
decretos-‐leis
de
urgência
para
se
transformar
em
legislador
normal,
e
a
lei
de
revisão
de
1945
veio
consagrar
a
sua
competência
legislativa
normal.
2.
A
figura
do
decreto-lei
na
CRP
O
legislador
constituinte,
não
obstante
a
prática
abusiva
dos
decretos-‐leis
verificada
durante
o
regime
da
Constituição
de
1933,
parece
ter
considerado
os
decretos-‐leis
como
um
instrumento
ineliminável
do
Estado
democrático,
consagrando
esta
categoria
com
uma
grande
autonomia
e
amplitude
e
afastando-‐se
da
maioria
das
constituições
democráticas
pós-‐guerra.
2.1.
Competência
legislativa
do
Governo
e
tipos
de
decretos-‐leis
O
Governo
tem
três
tipos
de
competências
legislativas,
originando
figuras
diferentes
de
decretos-‐leis:
1. Competência
legislativa
originária
ou
independente
–
no
caso
de
se
tratar
de
matérias
não
reservadas
à
AR,
o
Governo
pode
editar
actos
legislativos
primários
reguladores
dessas
matérias,
decretos-leis
originários,
em
concorrência
com
a
AR.
2. Competência
legislativa
dependente
–
relativamente
a
(1)
matérias
do
art.
165.º
mediante
autorização
legislativa
ou
(2)
matérias
de
reserva
da
AR
em
que
esta
procedeu
à
fixação
das
bases
gerais,
o
Governo
pode
editar
decretos-leis
de
desenvolvimento.
3. Competência
exclusiva
do
Governo
–
fala-‐se
em
reserva
de
decreto-lei
em
relação
a
matérias
respeitantes
à
sua
própria
organização
e
funcionamento
(art.
198.º/2).
3.
O
Governo
como
titular
de
competência
legislativa
3.1.
Titularidade
Pertence
ao
Governo
a
competência
para
a
emanação
de
decretos-‐leis,
por
isso
não
são
admissíveis
decretos-‐leis
emanados
de
um
Primeiro-‐Ministro
ou
de
um
ministro.
Exige-‐se,
assim,
que
todos
os
decretos-‐
leis
sejam
aprovados
em
Conselhos
de
Ministros.
3.2.
Âmbito
material
Os
decretos-‐leis
podem
disciplinar
qualquer
matéria.
A
delimitação
extensional
deve
fazer-‐se,
de
forma
heterónoma,
a
partir
das
normas
constitucionais
que
estabelecem:
• Reserva
político-‐legislativa
do
Parlamento;
• Reserva
absoluta
e
relativa
de
competência
legislativa
da
AR.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
Nas
restantes
matérias
existe
uma
concorrência
legislativa
do
Governo
e
da
AR,
podendo
os
decretos-‐leis
revogar,
alterar,
suspender
e
interpretar
leis
da
AR
(exceptuando-‐se
leis
de
valor
reforçado)
e
vice-‐versa.
4.
Apreciação
parlamentar
dos
decretos-leis
4.1.
Objecto
de
apreciação
parlamentar
Todos
os
decretos-‐leis,
salvo
os
aprovados
na
competência
legislativa
exclusiva
do
Governo,
podem
ser
submetidos
à
apreciação
da
AR,
para
efeitos
de
cessação
e
vigência.
A
apreciação
parlamentar
é,
assim,
um
mecanismo
constitucional
de
controlo
da
AR
sobre
os
diplomas
legislativos
do
Governo.
4.2.
Suspensão
dos
decretos-‐leis
submetidos
a
apreciação
parlamentar
No
art.
169.º/2,
consagra-‐se
expressamente
a
possibilidade
de
suspensão
do
decreto-‐lei
submetido
a
apreciação
parlamentar.
• Objecto
–
só
os
decretos-‐leis
publicados
no
uso
da
autorização
legislativa
podem
ser
objecto
de
suspensão.
• Caducidade
da
suspensão
–
a
suspensão
caduca
se,
decorridas
10
reuniões
plenárias,
a
Ar
não
se
tiver
pronunciado
sobre
as
propostas
de
alteração
apresentadas.
• Forma
–
o
instrumento
para
a
suspensão
é
o
de
resolução
da
AR.
4.3.
Aprovação
da
cessação
da
vigência
Caso
se
verifique
a
aprovação
da
cessação
da
vigência
do
decreto-‐lei,
este
deixará
de
vigorar
desde
o
dia
em
que
a
resolução
da
aprovação
da
cessação
de
vigência
for
publicada
no
Diário
da
República.
Efeitos
da
aprovação:
• Efeitos
ex
nunc
–
devido
à
necessidade
de
evitar
situações
de
incerteza
e
sacrifício
de
direitos,
embora,
nos
casos
de
cessação
por
inconstitucionalidade,
esta
solução
se
possa
revelar
pouco
eficaz
no
combate
aos
abusos
do
Governo.
Por
isso,
a
AR
pode,
através
de
lei
autónoma,
depois
de
publicada
a
resolução,
neutralizar
retroactivamente
os
efeitos
do
decreto-‐lei.
• Efeitos
repristinatórios
–
é
discutível
se
a
resolução
tem
efeitos
repristinatórios,
ou
seja,
se
origina
a
reposição
em
vigor
das
leis
revogadas
pelo
decreto-‐lei.
A
resposta
é
tendencialmente
positiva,
com
base
na
ideia
da
não
primariedade
normativa
do
Governo
e
da
provisoriedade
dos
decretos-‐
leis
até
à
verificação
da
condição
resolutiva
de
aprovação
da
cessação
da
vigência.
4.4.
Aprovação
parlamentar
de
alterações
aos
decretos-‐leis
A
sujeição
de
um
decreto-‐lei
à
AR
para
efeitos
de
alteração,
uma
possibilidade
consagrada
no
art.
169.º/2,
pressupõe
um
procedimento
legislativo
específico,
iniciado
não
com
um
projecto
de
lei
mas
sim
com
as
propostas
de
alteração
do
decreto-‐lei.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
IV
–
OS
REGULAMENTOS
1.
Fundamento
constitucional
do
poder
regulamentar
1.1.
Poder
regulamentar
e
princípio
da
legalidade
da
administração
O
regulamento
é
uma
norma
emanada
pela
administração
no
exercício
da
sua
função
administrativa
e,
regra
geral,
com
carácter
executivo
e/ou
complementar
da
lei.
É
um
acto
normativo
e
não
administrativo,
embora
não
legislativo.
Devido
ao
seu
carácter
secundário,
o
regulamento,
está,
por
um
lado,
submetido
ao
princípio
da
legalidade
da
administração
e,
por
outro,
deve
ter
um
fundamento
jurídico-‐constitucional.
O
princípio
da
legalidade
significa
que
o
regulamento
está
vinculado
à
lei,
não
apenas
num
sentido
negativo,
mas
também
num
sentido
positivo,
pois
a
administração
só
pode
actuar
com
base
na
lei.
1.2.
Fundamento
jurídico
do
poder
regulamentar
O
poder
regulamentar
encontra
o
seu
fundamento
directo
e
imediato
na
própria
Constituição,
apresentando-‐se
como
um
poder
constitucionalmente
fundado
e
não
criado
por
lei.
Contudo,
este
fundamento
não
deve
ser
entendido
em
termos
análogos
ao
fundamento
constitucional
dos
actos
legislativos,
pois
este
apresenta-‐se
como
um
sistema
fechado,
em
virtude
do
princípio
da
tipicidade.
O
poder
regulamentar
é
antes
compatível
com
um
sistema
aberto,
em
que
o
legislador,
nos
quadros
da
Constituição,
tem
a
possibilidade
de
atribuir
e
modelas
os
poderes
regulamentares.
2.
Regime
constitucional
dos
regulamentos
2.1.
Princípio
da
preferência
ou
preeminência
da
lei
(art.
112.º/5)
Um
regulamento
não
pode
contrariar
um
acto
legislativo
ou
equiparado,
proibindo-‐se
expressamente
os
regulamentos
modificativos,
suspensivos
ou
revogatórios
das
leis.
Pode
questionar-‐se
se
este
princípio
abrange
também
a
preferência
de
decreto-‐lei.
Ora,
o
sentido
original
deste
princípio,
o
de
apenas
preferência
de
lei
do
Parlamento,
continua
a
ter
sentido
na
reserva
de
lei
da
AR
para
determinadas
matérias
–
porém,
fora
destes
casos,
este
princípio
também
se
aplica
quando
existe
um
decreto-‐lei
que,
em
virtude
da
sua
dignidade
legislativa,
não
pode
deixar
de
se
impor
aos
actos
da
administração.
2.2.
Princípio
da
precedência
da
lei
(art.
112.º/7)
A
preferência
ou
primazia
da
lei
tornar-‐se-‐ia
um
princípio
puramente
formal
se,
em
matérias
importantes
ainda
não
reguladas,
o
regulamento
pudesse
adiantar-‐se
na
respectiva
disciplina
jurídica.
Este
princípio
está
estabelecido
no
art.
112.º/7,
onde
se
estabelece:
• A
precedência
da
lei
relativamente
a
toda
a
actividade
regulamentar;
• A
exigência
de
citação
da
lei
habilitante
por
parte
dos
regulamentos.
2.3.
Princípio
da
complementaridade
ou
acessoriedade
dos
regulamentos
O
regulamento
é
um
acto
normativo
da
administração
sujeito
à
lei
e
complementar
desta.
O
sentido
da
complementaridade
dos
regulamentos
não
é
o
de
a
CRP
legitimar
apenas
os
regulamentos
de
execução,
abrangendo
também
os
regulamentos
complementares,
referidos
genericamente
a
uma
lei
cujos
fins
e
sistema
normativo
vão
desenvolver.
A
lei
constitucional
autoriza
ainda
a
emanação
de
regulamentos
independentes,
nos
quais
a
lei
se
limita
a
indicar
a
autoridade
que
poderá
ou
deverá
emanar
o
regulamento
e
a
matéria
sobre
que
versa.
2.4.
Princípio
do
congelamento
do
grau
hierárquico
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
V
–
O
PROCEDIMENTO
LEGISLATIVO
1.
Conceito
O
procedimento
legislativo
é
a
sucessão
de
uma
série
de
actos,
qualitativa
e
funcionalmente
heterogéneos
e
autónomos,
praticados
por
sujeitos
diversos
e
necessários
para
a
produção
um
acto
legislativo,
sendo
a
lei
o
acto
final
do
procedimento.
2.
Fases
e
actos
do
procedimento
legislativo
2.1.
Fase
de
iniciativa
Na
fase
de
iniciativa
englobam-‐se
os
actos
propulsivos
do
procedimento
legiferante.
O
direito
de
iniciativa
legislativa
manifesta-‐se
através
da
apresentação
à
AR
de:
• Propostas,
quando
a
iniciativa
parte
do
Governo
ou
das
assembleias
legislativas
regionais:
• Projectos,
quando
a
iniciativa
parte
da
AR
ou
de
um
grupo
de
cidadãos.
Assim,
o
sistema
de
iniciativa
legislativa
português
configura-‐se
como
um
sistema
de
iniciativa
pluralística,
dado
que
o
poder
de
iniciativa
pertence
a
(1)
vários
órgãos
e
(2)
a
grupos
de
cidadãos,
um
direito
de
participação
política
de
exercício
colectivo.
O
fundamento
para
o
exercício
deste
direito
é,
muitas
vezes
o
dever
concretamente
imposto
pela
Constituição
no
sentido
de
as
entidades
legiferantes
adoptarem
determinadas
medidas
legislativas
concretizadoras
das
normas
constitucionais.
A
iniciativa
legislativa
não
se
restringe
à
iniciativa
legislativa
primária
ou
originária.
Existe
também
a
iniciativa
legislativa
secundária
ou
derivada,
que
consiste
na
apresentação
de
propostas
de
alteração
a
projectos
ou
propostas
de
lei
ou
em
textos
de
substituição.
2.2
Fase
instrutória
A
fase
instrutória
é
um
fase
facultativa
que,
por
força
de
uma
maior
complexidade
da
legiferação
de
do
princípio
do
Estado
de
Direito,
se
costuma
realizar.
Tem
por
finalidade
recolher
e
elaborar
os
dados
e
elementos
que
permitam
analisar
a
oportunidade
do
procedimento
legislativo
bem
como
o
respectivo
conteúdo.
A
aquisição
de
dados
efectua-‐se
quer
aproveitando
os
materiais
fornecidos
pelas
entidades
que
tiveram
a
iniciativa
de
lei,
quer
através
de
recolha
autónoma
efectuada
pela
comissão
da
AR
competente.
Entre
nós,
esta
tarefa
cabe
geralmente
às
comissões
permanentes
especializadas,
competindo
a
elas
darem
o
seu
parecer
devidamente
fundamentado,
podendo
também
sugerir
a
substituição
do
texto.
A
elas
compete
a
votação
na
especialidade
e
a
votação
final
global
incide
sobre
o
texto
de
substituição
e
não
sobre
o
texto
original.
2.3.
Fase
constitutiva
A
fase
constitutiva
é
a
fase
em
que
se
produz
o
acto
principal
e
à
qual
se
reportam
os
efeitos
jurídicos
essenciais.
Inclui
vários
subprocedimentos:
1. Discussão
ou
debate
a. Discussão
na
generalidade
–
incide
sobre
os
princípios
e
o
sistema
de
cada
projecto
ou
proposta
de
lei.
b. Discussão
na
especialidade
–
versa
sobre
cada
artigo.
2. Votação
a. Votação
na
generalidade
–
realizada
no
Plenário,
incide
sobre
a
oportunidade
e
sentido
global
do
projecto.
b. Votação
na
especialidade
–
realizada
nas
comissões
especializadas,
incide
sobre
soluções
concretas
a
aprovar
no
texto
da
norma.
c. Votação
final
global
–
realizada
novamente
no
Plenário,
concentra-‐se
no
texto
apurado
na
especialidade
e
traduz-‐se
num
juízo
definitivo
e
global.
3. Redacção
–
geralmente
a
cabo
das
comissões
especializadas.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
A
inexistência
de
qualquer
das
votações,
nos
termos
constitucionalmente
exigidos,
implicará
um
vício
de
procedimento
conducente
à
nulidade
da
lei.
Além
do
processo
legislativo
normal,
há
ainda
o
processo
de
urgência
(art.
170.º).
2.4.
Fase
de
controlo
A
fase
de
controlo
destina-‐se
a
permitir
a
avaliação
do
mérito
e
da
conformidade
constitucional
do
acto
legislativo.
Os
projectos
ou
propostas
de
leis,
uma
vez
aprovados,
são
enviados
com
o
nome
de
decretos
da
AR
ao
Presidente
da
República,
que
poderá
agir
de
três
maneiras
distintas:
1. Promulgação;
2. Veto
político;
3. Fiscalização
preventiva
da
constitucionalidade.
A
promulgação
carece,
de
seguida,
de
referenda
ministerial,
um
controlo
certificatório
exercido
pelo
Governo.
Deve
mencionar-‐se
ainda
a
assinatura
dos
diplomas
pelo
PR.
2.5.
Fase
de
integração
de
eficácia
A
fase
de
integração
de
eficácia
abrange
os
actos
destinados
a
tornarem
eficaz
o
acto
legislativo,
designadamente
através
da
sua
publicidade.
Não
são
requisitos
de
perfeição
ou
validade,
visando
antes
levar
os
actos
ao
conhecimento
dos
cidadãos,
através
da
publicação
no
Diário
da
República.
-‐
Princípio
da
publicidade
O
princípio
da
publicidade
encontra
o
seu
fundamento
no
princípio
do
Estado
de
direito
democrático
e
exige
o
conhecimento,
por
parte
dos
cidadãos,
dos
actos
normativos,
proibindo
os
actos
normativos
secretos.
Este
princípio
está
consagrado
no
art.
119.º.
-‐
Princípio
da
publicação
Deve
distinguir-‐se
entre
publicidade
e
publicação
–
(1)
publicação
é
a
forma
de
publicidade
dos
actos
normativos
feita
através
do
jornal
oficial,
Diário
da
República,
enquanto
que
(2)
publicidade
é
qualquer
forma
de
comunicação
dos
actos
dos
poderes
públicos
dotados
de
eficácia
externa.
-‐
Caracterização
da
publicação
A
publicação
é
o
acto
mediante
o
qual
os
actos
normativos
são
levados
ao
conhecimento
dos
seus
destinatários,
constituindo
um
requisito
de
eficácia,
e
não
de
validade,
do
acto.
Ao
período
que
decorre
entre
a
publicação
e
a
data
da
entrada
em
vigor
chama-‐se
vacatio
legis.
De
acordo
com
o
art.
119.º/2,
a
falta
de
publicidade
implica
a
ineficácia
jurídica
do
acto,
apesar
de,
na
versão
originária
do
texto
constituinte,
se
determinar
a
inexistência
como
consequência
jurídica
da
falta
de
publicidade.
-‐
Rectificação
Designa-‐se
por
rectificação
o
acto
jurídico-‐público
materialmente
administrativo
destinado
a
corrigir
erros
de
execução
material
ocorridos
no
procedimento
de
publicação
de
uma
norma
jurídica.
Incluem-‐se
nos
erros
carecidos
de
posterior
rectificação
os
erros
materiais
–
faltas
ou
lapsos
na
impressão
gráfica
do
diploma
legislativo
–,
mas
não
os
erros
relacionados
com
o
procedimento
de
formação
do
próprio
acto,
que
só
podem
ser
sanados
através
de
outros
actos
com
igual
dignidade
normativa
e
segundo
o
iter
procedimental
prescrito
na
Constituição
ou
na
lei.
Fala-‐se
em
“declaração
de
rectificação”
para
actos
do
Governo
e
em
“rectificação”
para
actos
da
AR.
O
fundamento
constitucional
do
instituto
de
rectificação
não
é
isento
de
dificuldades,
apontando
alguma
doutrina
para
a
existência
de
um
costume
constitucional
e
outra
para
um
simples
título
da
legalidade.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
• Efeitos
constitutivos
do
controlo
–
o
acto
é
considerado
válido
até
à
decisão
do
tribunal,
portanto
a
sua
sentença
tem
efeitos
constitutivos.
• Efeitos
erga
omnes
e
ex
nunc
–
os
efeitos
da
decisão
da
constitucionalidade
têm
força
obrigatória
geral
e
são
prospectivos,
vinculando
para
o
futuro.
2.
O
sistema
de
controlo
na
constitucionalidade
na
Constituição
de
1976
2.1.
Memória
e
história
• Constituição
de
1911
–
o
sistema
de
controlo
constitucional
surgiu
apenas
com
a
Constituição
de
1911,
que
consagrou
formalmente
o
princípio
da
judicial
review
dos
actos
legislativos
desconformes
com
a
constituição,
por
influência
directa
da
Constituição
brasileira
de
1881,
influenciada
especialmente
pelo
jurista
Rui
Barbosa.
• Constituição
de
1933
–
o
sistema
de
fiscalização
difuso
transitou
para
a
Constituição
de
1933,
porém
mitigado,
pois
dele
era
excluído
o
controlo
de
inconstitucionalidades
formais
e
orgânicas
de
diplomas
carecidos
de
promulgação
do
Chefe
de
Estado.
A
Revisão
de
1971
abriu
a
possibilidade
da
fiscalização
abstracta
concentrada,
confiando-‐a
à
Assembleia
Nacional.
• Constituição
de
1976
–
o
texto
originário
da
Constituição
de
1976
manteve
o
sistema
misto
de
controlo
judicial
difuso
e
controlo
concentrado
delineado
na
Constituição
de
1933,
atribuindo
ao
Conselho
de
Estado
competências
para
declarar
com
força
obrigatória
geral
a
inconstitucionalidade
de
quaisquer
normas,
competência
que
depois
passou
para
o
Conselho
de
Revolução.
Para
além
desta
alteração,
o
texto
primitivo
desta
constituição
(1)
criou
dois
novos
tipos
de
fiscalização,
a
fiscalização
abstracta
preventiva
e
a
fiscalização
por
omissão,
e
(2)
criou
a
Comissão
Constitucional
como
órgão
de
controlo.
- Revisão
de
1982
–
com
esta
revisão
ficou
praticamente
definido
o
actual
sistema
de
fiscalização.
Em
substituição
da
Comissão
Constitucional,
criou-‐se
um
Tribunal
Constitucional,
um
(1)
órgão
de
controlo
a
título
principal
e
(2)
órgão
jurisdicional
para
via
de
recurso.
- Revisão
de
1989
–
as
principais
alterações
introduzidas
por
esta
revisão
foram
a
criação
de
um
sistema
específico
para
as
leis
orgânicas
e
para
os
referendos.
2.2.
Caracterização
global
O
sistema
português
vigente
é
caracterizado
por
Gomes
Canotilho
e
Vital
Moreira
como
sendo
um
sistema
misto
complexo.
• Sistema
de
controlo
integralmente
judicial
–
a
fiscalização
da
constitucionalidade
é
uma
tarefa
exclusivamente
jurisdicional,
não
havendo
controlo
político
da
inconstitucionalidade
das
normas.
• Controlo
difuso,
concreto
e
incidental
–
este
controlo
é
difuso,
pois
todos
os
tribunais
têm
competência
para
fiscalizar
a
constitucionalidade
das
normas
(art.
204.º);
e
concreto
e
incidental,
pois
a
questão
da
constitucionalidade
é
suscitada
como
uma
questão
paralela
ao
litígio
principal.
Contudo,
o
modelo
português
apresenta
duas
especificidades:
- Não
se
consagra
o
modelo
puro
de
judicial
review,
pois
existe,
entre
nós,
também
um
modelo
concentrado.
- Não
se
consagra
um
sistema
puro
de
mero
incidente,
porque
os
tribunais
têm
competência
plena
para
decidir.
• Controlo
abstracto
–
ao
lado
do
controlo
concreto,
também
vale
entre
nós
um
controlo
concentrado
e
abstracto
de
normas,
no
qual
o
TC
declara
ou
pronuncia-‐se,
com
força
obrigatória
geral
e
sem
ter
subjacente
um
qualquer
caso
concreto,
sobre
a
conformidade
de
certas
normas
com
o
parâmetro
jurídico-‐constitucional.
Este
controlo
pode
ser:
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
Preventivo
–
realiza-‐se
sobre
normas
imperfeitas,
ou
seja,
antes
das
normas
entrarem
em
-
vigor
e
segue
a
tradição
francesa
da
Constituição
de
1958.
- Sucessivo
–
realiza-‐se
sobre
normas
perfeitas
e
situa-‐se
na
linha
do
modelo
austríaco.
• Fiscalização
da
inconstitucionalidade
por
omissão
–
ao
lado
da
fiscalização
da
inconstitucionalidade
por
acção,
consagra-‐se
também
a
fiscalização
da
inconstitucionalidade
por
omissão,
não
muito
frequente
no
plano
comparativo-‐constitucional.
Revela-‐se,
neste
domínio,
uma
influência
dos
antigos
países
socialistas.
3.
O
parâmetro
de
controlo
Uma
norma
diz-‐se
inconstitucional
quando
viola
o
parâmetro
normativo-‐constitucional,
ou
seja,
o
padrão
ou
medida
de
controlo
da
constitucionalidade.
O
que
integra
o
bloco
de
constitucionalidade?
• Uma
primeira
questão
passa
por
saber
se
as
normas
de
referência
do
controlo
são
(1)
apenas
as
normas
e
princípio
constitucionais
escritos
ou
a
ordem
constitucional
global,
isto
é,
os
princípios
constitucionais
escritos
ou
(2)
a
ordem
constitucional
global,
isto
é,
os
princípios
e
normas
não
escritos
que,
não
tendo
materialização
expressa
no
texto
constitucional,
são
reclamados
pelo
constitucionalismo
global.
Gomes
Canotilho
adopta
uma
posição
intermédia,
integrando
no
padrão
de
controlo
princípios
e
valores
não
escritos,
porém
que
ainda
possam
reconduzir-‐se
a
densificações,
desenvolvimentos
ou
especificações
de
princípios
constitucionais
escritos.
• Fazem
parte
do
parâmetro
constitucional
também
as
normas
consagradoras
de
direitos
fundamentais,
bem
como
outras
normas
consagradoras
de
direitos
só
materialmente
fundamentais.
4.
Objecto
de
controlo
4.1.
O
que
se
controla?
• No
direito
constitucional
português,
o
objecto
de
controlo
não
são
apenas
os
chamados
actos
normativos
primários,
ou
seja,
as
leis
e
os
tratados
internacionais,
mas
também
os
actos
normativos
secundários
e
terciários.
Portanto,
o
objecto
de
controlo
são
todas
as
normas.
• O
conceito
de
norma
mobilizado
é
um
conceito
funcional
de
norma
para
efeitos
de
controlo.
Para
recortar
este
conceito,
são
avançados,
num
primeiro
plano,
dois
requisitos:
1. Requisito
material
–
este
requisito
ou
qualidade
jurídico-‐material
reconduz-‐se
à
ideia
de
norma
como
normação
geral
e
abstracta,
ou
seja,
como
(1)
padrão
de
comportamento
e
(2)
acto
criador
de
regras
jurídicas
para
a
decisão
de
conflitos.
2. Requisito
orgânico
–
a
norma
tem
de
ser
criada
por
um
poder
normativo
legitimado
para
tal,
estando
assim
excluída,
à
partida,
a
normação
privada.
Num
segundo
plano,
a
doutrina
avança
quatro
critérios
de
densificação:
1. Normatividade
–
são
actos
normativos
para
efeitos
de
controlo
os
actos
de
criação
normativa,
por
oposição
aos
actos
de
aplicação
normativa.
2. Imediação
-‐
são
actos
normativos
para
efeitos
de
controlo
os
actos
que
violam
directamente
a
constituição,
estando
excluídos
aqueles
que
só
violam
indirectamente
as
normas
constitucionais.
3. Heteronomia
normativa
-‐
são
actos
normativos
para
efeitos
de
controlo
os
actos
que
estabelecem
um
padrão
de
comportamento
não
dependente
da
vontade
dos
destinatários.
4. Reconhecimento
normativo
jurídico-‐político
-‐
são
actos
normativos
para
efeitos
de
controlo
os
actos
normativos
privados
com
efeitos
ultra
vires,
ou
seja,
aqueles
que
são
reconhecidos
pelos
poderes
públicos
como
heteronomamente
vinculantes.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
processo
e
que
seja
ratio
decidendi
da
sentença
impugnada.
Este
recurso
pretende
impedir
a
interposição
de
recursos
junto
do
TC
manifestamente
infundados.
3. Princípio
da
tempestividade
processual
–
este
requisito
implica
a
existência
de
um
tempo
e
modo
adequados
para
levantar
no
processo
base
a
questão
da
inconstitucionalidade.
A
doutrina
concorda
que
se
trata
de
uma
exigência
formal
de
carácter
essencial
para
que
o
TC
conheça
do
recurso,
visto
que
tal
exigência
impede
que
o
recorrente
convoque
o
instituto
do
recurso
da
inconstitucionalidade
para
atrasar
a
execução
do
julgado
ou
como
expediente
último
de
recurso.
4. Princípio
da
exaustão
de
recursos
–
inadmissibilidade
de
recorrer
para
o
TC
enquanto
couber
recurso
ordinário
da
decisão.
Este
princípio
visa
limitar
o
acesso
ao
TC
às
pretensões
que
já
tenham
sido
previamente
analisadas
pela
hierarquia
judicial
correspondente.
A
LTC
adopta
um
conceito
amplo
de
“recurso
ordinário”.
5. Princípio
da
individualização
das
normas
constitucionais
infringidas
e
das
normas
infraconstitucionais
infringentes
–
traduz-‐se
no
ónus
de
alegar
as
normas
jurídicas
violadas
e
as
normas
que
no
entender
do
recorrente
violam
as
normas
constitucionais.
Assim,
exige-‐se
a:
a. Indicação
da
alínea
do
nº1
do
art.
70.º
ao
abrigo
do
qual
se
recorre;
b. Indicação
da
norma
hipoteticamente
violadora;
c. Indicação
da
norma
ou
princípio
constitucional
que
se
considera
violado;
d. Indicação
da
peça
processual
em
que
o
recorrente
suscitou
a
inconstitucionalidade.
A
falta
de
qualquer
destes
elementos
determina
a
prolação
de
despacho
de
aperfeiçoamento,
através
do
qual
o
Tribunal
convida
o
recorrente
a
corrigir
o
requerimento
no
prazo
de
10
dias.
Recursos
de
decisões
aplicadoras
de
normas
já
anteriormente
julgadas
inconstitucionais
pelo
TC
Este
tipo
de
recurso
tem
lugar
quando
o
tribunal
a
quo
aplica
uma
norma
no
processo
já
anteriormente
julgada
inconstitucional
pelo
TC.
Visa
garantir,
sobretudo,
a
autoridade
do
TC,
a
harmonia
de
julgados
e
a
unidade
da
orientação
jurisprudencial,
assentando,
pois,
no
princípio
do
primado
da
competência
do
TC.
Pressupostos
processuais
1. Têm
legitimidade
para
recorrer:
a. As
partes,
mesmo
que
não
tenham
tempestivamente
suscitado
a
questão
de
constitucionalidade
no
processo,
assumindo
tal
recurso
natureza
facultativa.
b. O
MP,
para
o
qual
o
recurso
é
obrigatório,
algo
que
se
justifica
em
razão
do
princípio
do
primado
da
competência
do
TC,
da
uniformidade
ou
unidade
da
jurisprudência
e
ainda
para
efeitos
do
funcionamento
do
instituto
da
repetição
do
julgado
(art.
281.º/3).
2. Recurso
directo
para
o
TC
–
este
recurso
deve
ser
interposto
directamente
para
o
TC,
quando
a
legitimidade
processual
activa
pertença
ao
MP;
quanto
às
partes,
à
semelhança
do
que
sucede
nos
recursos
de
decisões
positivas
de
inconstitucionalidade,
podem
optar
por
esgotar
os
recursos
ordinários.
3. A
norma
cuja
inconstitucionalidade
ou
ilegalidade
se
invoca
deve
ter
sido
aplicada,
explícita
ou
implicitamente,
pelo
tribunal
a
quo
como
ratio
decidendi
num
determinado
processo.
O
TC
considera
que
está
igualmente
verificado
este
requisito
quando
tenha
proferido
anteriormente
uma
decisão
interpretativa
conforme
à
Constituição.
4. É
necessário
que
a
mesma
norma
–
e,
quando
seja
caso
disso,
a
mesma
interpretação
normativa
–
tenha
sido
anteriormente
“julgada
inconstitucional”
pelo
TC,
em
processo
de
fiscalização
concreta,
que
a
jurisprudência
alargou
para
os
casos
de
fiscalização
abstracta
sucessiva
e
fiscalização
abstracta
preventiva,
tendo
não
obstante
entrado
em
vigor
por
recurso
ao
instituto
de
confirmação.
Os
efeitos
da
decisão
do
TC
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
2. Decisões
que
recusem
a
aplicação
de
norma
constante
de
diploma
regional
(decreto
legislativo
regional
ou
regulamentos
administrativos),
com
fundamento
na
sua
ilegalidade
por
violação
o
estatuto
da
região
autónoma;
3. Decisões
que
recusem
a
aplicação
de
norma
emanada
de
um
órgão
de
soberania,
com
fundamento
na
sua
ilegalidade
por
violação
do
estatuto
de
uma
região
autónoma;
4. Decisões
que
apliquem
a
norma
cuja
ilegalidade
haja
sido
suscitada
durante
o
processo
com
qualquer
dos
fundamentos
anteriores.
Tramitação
processual
1. O
tribunal
recorrido
aprecia,
a
título
preliminar,
a
admissibilidade
do
recurso
(art.
76.º/1
LTC),
embora
esta
decisão
não
vincule
o
TC
(art.
76.º/3).
2. No
caso
do
requerimento
de
interposição
do
recurso
não
indicar
algum
dos
elementos
previstos
no
art.
75.º-‐A,
deve
o
juiz
emitir
um
despacho
de
aperfeiçoamento
para
suprir
irregularidades
e
deficiências
constantes
do
requerimento,
o
qual
deverá
ter
lugar
no
prazo
de
10
dias.
3. Em
caso
de
não
aperfeiçoamento
da
petição
de
recurso
quando
solicitado
ou
em
caso
de
não
preenchimento
dos
requisitos
processuais,
deve
o
juiz
relator
emitir
uma
decisão
sumária
(art.
78.º-‐A/1
e
2),
decidindo
o
não
conhecimento
do
objecto
do
recurso
com
fundamento
no
art.
76.º/2.
Da
decisão
sumária
cabe
reclamação
para
a
conferência
de
juízes
da
Secção
do
Tribunal
Constitucional
(78.º-‐A/3).
4. Quando
se
trate
de
uma
decisão
negativa
de
inconstitucionalidade,
pode
o
recurso
ser
indeferido
no
caso
de
manifestamente
infundado
(art.
76.º/2).
5. Quando
não
haja
decisão
sumária,
o
processo
segue
para
a
fase
das
alegações,
uma
peça
processual
onde
o
recorrente
expõe,
no
prazo
de
30
dias,
os
motivos
da
sua
impugnação,
explicitando
as
razões
por
que
a
decisão
recorrida
é
errada
ou
injusta
(art.
78.º-‐A/5).
6. Quando
a
questão
for
simples,
por
já
ter
sido
objecto
de
anterior
decisão
do
TC,
deve
o
juiz
relator
proferir
uma
decisão
sumária
de
julgamento.
Desta
decisão
cabe
recurso
para
a
conferência
de
juízes
da
secção.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
• O
pedido
de
fiscalização
abstracta
não
tem
prazo,
podendo
ser
requerida
“a
todo
o
tempo”
(art.
62.º/1
LTC).
3.
Efeitos
das
decisões
3.1.
Sentenças
de
rejeição
da
inconstitucionalidade
ou
sentenças
negativas
• Quanto
ao
conteúdo
–
numa
sentença
de
rejeição
da
inconstitucionalidade,
o
TC
julga
improcedente
o
pedido
do
requerente,
seja
(1)
porque
discorda
da
cauda
de
pedir,
ou
(2)
porque
considera
que
a
norma
pode
ainda
ser
válida
através
de
uma
interpretação
conforme
a
Constituição.
• Quanto
aos
efeitos
–
uma
sentença
de
rejeição
não
beneficia
de
força
obrigatória
geral
e
do
efeito
do
caso
julgado.
Se
uma
decisão
tivesse
força
de
caso
julgado,
significaria
que
se
estaria
a
consagrar,
entre
nós,
a
regra
da
vinculação
a
precedentes
judiciais.
O
mesmo
é
dizer
que
tal
sentença
não
tem
efeito
preclusivo,
não
impedindo
que
o
mesmo
ou
outro
requerente
venha
de
novo
solicitar
ao
TC
a
apreciação
da
norma.
No
entanto,
a
norma
não
declarada
inconstitucional
beneficia
de
uma
presunção
de
não
inconstitucionalidade.
3.2.
Sentenças
declarativas
de
inconstitucionalidade
ou
sentenças
de
provimento
Regime
geral
dos
efeitos
das
sentenças
declarativas
de
inconstitucionalidade
Vinculatividade
das
decisões
1. Força
de
caso
julgado
–
as
sentenças
do
TC
têm
força
de
caso
julgado
(1)
formal,
pois
são
decisões
finais,
insusceptíveis
de
recurso
ordinário
no
processo,
e
(2)
material,
isto
é,
a
decisão
vale
para
todos.
2. Força
obrigatória
geral
(art.
282.º/1
CRP
e
art.
66.º
LTC)
–
a
força
obrigatória
geral
está
ligado,
segundo
Gomes
Canotilho,
a
duas
notas
–
a
vinculação
geral
e
a
força
de
lei.
a. Vinculação
geral
–
traduz-‐se
na
vinculação
a
todos
os
órgãos
constitucionais,
todos
os
tribunais
e
todas
as
autoridades
administrativas.
b. Força
de
lei
–
as
sentenças
têm
valor
normativo
para
todas
as
pessoas
físicas
e
colectivas
juridicamente
afectadas
pela
decisão,
e
não
apenas
para
os
poderes
públicos.
Porém,
esta
alusão
ao
efeito
de
lei
não
pretende
equiparar
as
sentenças
declarativas
a
actos
formalmente
legislativos,
mas
apenas
realçar
a
produção,
por
parte
destas,
de
alguns
efeitos
ligados
aos
actos
legislativos
(por
exemplo,
a
publicação
em
jornal
oficial,
art.
119.º/1/g
CRP).
Em
termos
práticos,
a
força
de
lei
tem
várias
refracções:
1. Vinculação
do
legislador
–
a
declaração
de
inconstitucionalidade
implica
para
o
legislador:
a. Proibição
de
reprodução,
através
de
lei,
da
norma
declarada
inconstitucional.
Este
limite
negativo
justifica-‐se
pelos
princípios
da
constitucionalidade
e
da
confiança
entre
órgãos
constitucionais.
A
proibição
abrange
os
casos
de
recuperação
da
lei
declarada
ilegal
embora
com
uma
nova
reformulação.
Estes
limites
não
devem,
todavia,
ser
considerados
“eternos”,
devendo
ter
em
conta
alterações
substanciais
da
consciência
jurídica
da
comunidade.
b. Proibição
de
convalidação
retroactiva
de
actos
administrativos
praticados
com
base
numa
norma
declara
inconstitucional
sem
limitação
de
efeitos.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
1. Excepção
ao
efeito
retroactivo
ou
o
princípio
da
intangibilidade
do
caso
julgado
(art.
282.º/3)
–
a
declaração
de
inconstitucionalidade
não
afecta
os
casos
julgados,
ou
seja,
não
perturba
as
sentenças
já
transitadas
em
julgado
proferidas
ao
abrigo
da
norma
declarada
inconstitucional.
Portanto,
estas
sentenças
não
são
nulas
nem
revisáveis.
Este
princípio
encontra
o
seu
fundamento
em
dois
outros,
o
(1)
princípio
da
segurança
jurídica
e
(2)
princípio
da
protecção
da
confiança
dos
cidadãos.
A
doutrina
entende
que
este
preceito
se
estende
a
quaisquer
outras
situações
juridicamente
consolidadas,
por
cumprimento
de
obrigações,
transacção
ou
acto
de
natureza
análoga,
assim
como
decisões
administrativas
de
carácter
definitivo.
Alega-‐se,
para
este
efeito,
que
a
norma
declarada
inconstitucional
não
era
já
materialmente
reguladora
de
tais
situações.
2. Excepção
à
excepção
ou
excepção
ao
princípio
da
intangibilidade
do
caso
julgado
(art.
282.º/3)
–
a
declaração
de
inconstitucionalidade
estende-‐se
aos
casos
julgados
quando
se
verifiquem
simultaneamente
três
requisitos:
a. Decisão
expressa
do
TC,
embora
não
se
trate
de
uma
faculdade,
mas
sim
de
uma
obrigação;
b. A
norma
declarada
inconstitucional
respeitar
a
matéria
penal,
disciplinar
ou
ilícito
de
mera
ordenação
social;
c. A
norma
for
de
conteúdo
menos
favorável
ao
arguido.
Este
regime
justifica-‐se
pelo
princípio
do
tratamento
mais
favorável
do
arguido,
que
resulta
do
art.
29.º
CRP.
Limitação
dos
efeitos
de
declaração
de
inconstitucionalidade
(art.
282.º/4)
O
art.
282.º/4
consagra
a
possibilidade
de
o
TC
restringir
os
efeitos
da
declaração
de
inconstitucionalidade.
Os
efeitos
de
alcance
mais
restrito
podem
respeitar
a
três
domínios,
(1)
aos
efeitos
retroactivos,
(2)
aos
efeitos
repristinatórios
e
(3)
nulidade
parcial
em
vez
de
nulidade
total.
1. Efeitos
retroactivos
–
a
sentença
declarativa
da
inconstitucionalidade
pode,
por
decisão
do
Tribunal,
(1)
produzir
apenas
efeitos
ex
nunc,
começando
a
produzir
efeitos
a
partir
da
publicação
da
mesma
no
DR
ou
(2)
produzir
efeitos
apenas
até
certa
data
ou
até
à
ocorrência
de
um
dado
evento.
2. Efeitos
repristinatórios
–
o
TC
pode
determinar
a
não
produção
de
efeitos
repristinatórios,
uma
decisão
que
se
pode
fundamentar
em
vários
motivos,
(1)
a
norma
a
repristinar
pode
ser
inconstitucional,
(2)
a
norma
declarada
inconstitucional
pode
ter
caducado
ou
esgotado
o
seu
objecto,
ou
(3)
esta
pode
simplesmente
não
se
afigurar
uma
solução
razoável,
por
impor
sacrifícios
excessivos
aos
destinatários.
A
doutrina
admite
ainda
a
repristinação
parcial,
situação
que
se
justifica
quando
as
objecções
contra
a
repristinação
respeitarem
apenas
a
uma
parte
das
normas
revogadas.
3. Nulidade
parcial
–
a
regra
geral
é
a
de
que
a
declaração
de
inconstitucionalidade
de
uma
das
normas
de
um
diploma
se
comunica
às
demais.
Contudo,
consagra-‐se
a
hipótese
da
nulidade
parcial,
na
qual
vale
a
incomunicação
da
nulidade.
Há
casos
em
que
a
nulidade
parcial
dos
actos
normativos
origina
a
nulidade
total
–
(1)
quando
as
normas
restantes
deixarem
de
ter
qualquer
significado
autónomo
(critério
da
dependência)
e
(2)
quando
o
preceito
fizer
parte
de
uma
regulamentação
global
(critério
da
interdependência).
É
igualmente
possível
fazer
incidir
a
inconstitucionalidade
somente
sobre
um
segmente
de
uma
norma,
permitindo-‐nos
distinguir
entre
(1)
inconstitucionalidade
horizontal
ou
quantitativa
e
(2)
inconstitucionalidade
parcial
vertical
ou
qualitativa.
A
restrição
dos
efeitos
deve
ainda
ser
devidamente
fundamentada.
1. A
decisão
do
Tribunal
deve
sempre
ser
fundamentada,
podendo
fundar-‐se
em
razões
ligadas
à
segurança
jurídica,
equidade
ou
em
interesse
público
de
excepcional
relevo.
a. Segurança
jurídica
–
o
TC
pode
restringir
os
efeitos
de
declaração
de
inconstitucionalidade
quando
resulte
uma
destabilização
suficientemente
grave
das
expectativas
jurídicas
dos
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
lectivo
2011/2012
- Presidente
da
República;
- Provedor
de
Justiça;
- Presidentes
das
Assembleias
Legislativas
Regionais
(com
fundamento
na
violação
de
direitos
das
Regiões
Autónomas).
2. Destinatários:
apenas
o
legislador.
4.2.
Requisitos
objectivos
–
falta
de
medidas
legislativas.
5.
Efeitos
(art.
282.º/2
CRP,
art.
68.º
LTC)
• A
verificação
do
incumprimento
da
CRP
obriga
o
TC
a
dar
conhecimento
da
inconstitucionalidade
ao
órgão
competente.
Contudo,
em
caso
algum
o
TC
emite
a
norma
em
falta,
apenas
recomenda
ao
legislador
a
sua
emissão.