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Falha na execução, quer porque o agente executa o facto de modo deficiente, quer por qualquer outra razão
inesperada (intervenção de terceiro, circunstância aleatória ou deslocação do alvo). A aberratio coloca questões de
imputação objetiva (previsibilidade na causalidade adequada) e permite retirar conclusões sobre a imputação objetiva
do agente, pois tratando-se de circunstância inesperada não haverá, em princípio, elemento cognitivo do dolo,
podendo apenas realizar-se uma imputação negligente do resultado não previsto.
Se o agente pretende atingir uma pessoa e, falhando na execução, atinge um alvo/objetivo distinto (outra pessoa ou uma coisa alheia), não
havendo, sequer elemento cognitivo do dolo (o agente nem sequer prevê a possibilidade de atingir um alvo/objeto distinto), a punição é feita
pela tentativa (necessariamente dolosa) em concurso efetivo ideal (porque se trata de um comportamento único do agente) com o crime
negligente consumado.
Aberratio ictus e imputação subjetiva
Por vezes, o agente prevê a possibilidade de atingir um alvo/objeto distinto. Caso tenha havido esta previsão
(havendo, portanto, elemento cognitivo do dolo) torna-se necessário determinar se houve conformação (dolo
eventual)
O agente cria um risco doloso para o alvo (A), com dolo direto. O agente cria um risco doloso para o alvo (pessoa), com dolo
Mas também cria, e alternativa, um risco doloso para o alvo (B), direto. Mas também cria, e alternativa, um risco doloso para o
com dolo eventual, risco este que se vem a concretizar no alvo (animal), com dolo eventual, risco este que se vem a
resultado (morte de B). A punição pela tentativa de homicídio e concretizar no resultado (morte do animal). A punição pela
pelo homicídio doloso consumado seria contrária à proibição da tentativa de homicídio e pelo dano consumado seria contrária à
dupla valoração (ne bis in idem material). Assim, o agente é proibição da dupla valoração (ne bis in idem material). Assim, o
punido apenas por homicídio doloso consumado, sendo a agente é punido apenas pela tentativa de homicídio, sendo o
motivação (dolo direto da tentativa) valorada na medida da pena. resultado (morte do animal) valorado na medida da pena.
Dolo com objeto alternativo (2)
A punição destes casos pode estar dependente da identidade do objeto pois o ne bis in idem obsta a uma punição em
concurso efetivo
O agente cria um risco doloso para o alvo (A), com dolo direto. O agente cria um risco doloso para o alvo (animal), com dolo
Mas também cria, e alternativa, um risco doloso para o alvo (B), direto. Mas também cria, e alternativa, um risco doloso para o
com dolo eventual, risco este que se vem a concretizar no alvo (pessoa), com dolo eventual, risco este que se vem a
resultado (morte de B). A punição pela tentativa de homicídio e concretizar no resultado (morte da pessoa). A punição pela
pelo homicídio doloso consumado seria contrária à proibição da tentativa de dano e pelo homicídio doloso consumado seria
dupla valoração (ne bis in idem material). Assim, o agente é contrária à proibição da dupla valoração (ne bis in idem material).
punido apenas por homicídio doloso consumado, sendo a Assim, o agente é punido apenas pelo homicídio doloso
motivação (dolo direto da tentativa) valorada na medida da pena. consumado, sendo a motivação (tentativa de morte do animal)
valorada na medida da pena.
Dolo alternativo
A punição destes casos pode estar dependente da identidade do objeto pois o ne bis in idem obsta a uma punição em
concurso efetivo
O agente cria um risco doloso (com dolo direto) em O agente cria um risco doloso (com dolo direto) em alternativa quer para o alvo (A),
alternativa quer para o alvo (A), quer para o alvo (B), pois é quer para o alvo (B), pois é indiferente para o agente qual dos resultados irá alcançar,
indiferente para o agente qual dos resultados irá alcançar, sendo certo que apenas cria risco para um dos bens jurídicos, pretendendo apenas
sendo certo que apenas cria risco para um dos bens alcançar um dos resultados. A situação é a mesma do caso ao lado, mas a solução
jurídicos, pretendendo apenas alcançar um dos resultados. pode ser diversa de houver diversidade do objeto. O agente é punido pelo crime
Punir em concurso efetivo seria contrário ao ne bis in idem. executado mais gravoso, pois punir apenas pelo crime consumado (caso o agente
consumasse apenas o crime menos grave) seria contrário à gravidade real do facto. Se
O agente é punido pelo crime doloso consumado,
o agente forma dolo direto de homicídio e dolo direto de dano, em alternativa,
qualquer que seja o alvo atingido, desde que haja
executando um destes dolos (em alternativa, ambos), ainda que venha a consumar
identidade do objeto. apenas o crime de dano, pode ser punido pela tentativa de homicídio.
Aberratio ictus e erro
Quer na aberratio ictus (quando há negligência), quer no erro do tipo (art. 16.º, n.º 1, do CP), está em falta o
elemento do tipo. A grande diferença entre estas figuras (para além da concetual, pois a aberratio não corresponde
sempre a um verdadeiro erro) reside na presença de ambos os alvos ou objetos.
O agente pretende atingir o alvo (A), mas atinge o alvo (B), por estar em erro
sobre a identidade do objeto, já que sabe que é uma pessoa, mas
Neste caso, o agente pretende atingir o alvo (A) e nem sequer sabe
desconhece a real identidade do alvo. Este erro não é um erro do tipo, pois
que o alvo (B) também está presente. Há uma conjugação de o tipo de homicídio (art. 131.º do CP) não integra como elemento do tipo a
aberratio (falha na execução) e erro (má perceção da realidade). Se o identidade da pessoa. Não se tratando de um dos erros referidos no art.
agente atinge o alvo B , realiza uma tentativa possível de homicídio 16.º, nº 1, e porque o agente sabe que se trata de uma pessoa, existe doo
(A) e um homicídio negligente (face a B). de homicídio. Punir pela tentativa impossível em concurso com o homicídio
doloso consumado seria contrário ao ne bis in idem. O agente é punido
Aberratio ictus apenas pelo crime doloso consumado.
Erro
Aberratio ictus e erro (2)
Identidade do objeto
O agente pretende atingir o alvo (A), mas atinge o alvo (B), por estar em erro
Neste caso, o agente pretende atingir o alvo (A) e sabe que o alvo (B) sobre a identidade do objeto, já que sabe que é uma pessoa, mas
está presente e pode ser atingido, mas confia fundadamente na sua desconhece a real identidade do alvo. Este erro não é um erro do tipo, pois
capacidade de evitar o resultado (atuando com negligência o tipo de homicídio (art. 131.º do CP) não integra como elemento do tipo a
consciente). O agente realiza uma tentativa possível de homicídio (A) identidade da pessoa. Não se tratando de um dos erros referidos no art.
e um homicídio negligente (face a B). 16.º, nº 1, e porque o agente sabe que se trata de uma pessoa, existe doo
de homicídio. Punir pela tentativa impossível em concurso com o homicídio
doloso consumado seria contrário ao ne bis in idem. O agente é punido
Aberratio ictus apenas pelo crime doloso consumado.
Erro
Aberratio ictus e erro (3)
Diversidade do objeto
Neste caso, o agente pretende atingir o alvo (A) e nem sequer sabe O agente pretende atingir o alvo (A), mas atinge o alvo (B), por estar em erro
que o alvo (B) também está presente. Há uma conjugação de do tipo nos termos do n.º 1 do art. 16.º do CP. O agente desconhece a
aberratio (falha na execução) e erro (má perceção da realidade). Se o presença de uma pessoa, logo desconhece um dos elementos do tipo de
agente atinge o alvo B , realiza uma tentativa possível de homicídio dano (não há dolo de homicídio). O agente pode ser punido pela tentativa
(A) e um dano negligente (face a B). Só que o crime de dano não é impossível de dano e pelo crime de homicídio negligente (caso tenha sido
punido na forma negligente, logo, o agente é apenas punido pela negligente nos termos do 16.º, n.º 3).
tentativa de homicídio.
Aberratio ictus Erro
Aberratio ictus e erro (4)
Diversidade do objeto
Neste caso, o agente pretende atingir o alvo (A) e nem sequer sabe O agente pretende atingir o alvo (A), mas atinge o alvo (B), por estar
que o alvo (B) também está presente. Há uma conjugação de em erro do tipo nos termos do n.º 1 do art. 16.º do CP. O agente
aberratio (falha na execução) e erro (má perceção da realidade). Se o desconhece a presença de um animal, logo desconhece um dos
agente atinge o alvo B , realiza uma tentativa possível de dano (A) e elementos do tipo de dano (não há dolo de dano). O agente pode ser
um homicídio negligente (face a B). punido pela tentativa impossível de homicídio, mas já não pelo crime
de dano negligente, pois não há punibilidade do dano negligente.
Aberratio ictus
Erro
Aberratio ictus e erro (5)
Diversidade do objeto
Neste caso, o agente pretende atingir o alvo (A) e sabe que o alvo (B) O agente pretende atingir o alvo (A), mas atinge o alvo (B), por estar
está presente e pode ser atingido, mas confia fundadamente na sua em erro do tipo nos termos do n.º 1 do art. 16.º do CP. O agente
capacidade de evitar o resultado (atuando com negligência desconhece a presença de uma pessoa, logo desconhece um dos
consciente). O agente realiza uma tentativa possível de homicídio (A) elementos do tipo de dano (não há dolo de homicídio). O agente pode
e um crime de dano negligente (pelo qual não pode ser punido, pois ser punido pela tentativa impossível de dano e pelo crime de homicídio
não há punibilidade do dano negligente). negligente (caso tenha sido negligente nos termos do 16.º, n.º 3).
Aberratio ictus
Erro