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Educação Sexual em Meio Escolar

A Educação Sexual em meio escolar é uma oportunidade para a

Educação. Permite trabalhar, com os alunos, vectores fundamentais para o

seu percurso como pessoas: o respeito pelo outro; a igualdade de direitos

entre homens e mulheres; a recusa de todas as formas de violência,

sobretudo a rejeição da violência no campo da sexualidade; a importância

da comunicação e envolvimento afectivos; a promoção da saúde física e

mental. Possibilita, também, informar com credibilidade e aumentar o

conhecimento. Ao mesmo tempo, permite discutir sentimentos e atitudes,

bem como elevar as capacidades individuais e de grupo para tomar

decisões responsáveis. A Educação Sexual é, igualmente, um excelente

campo para que os alunos, apoiados nos seus pais e professores, possam

aumentar a sua capacidade para compreender as próprias emoções, o que

é crucial para a sua sexualidade e para todas as outras dimensões da vida.

Falar de sexualidade na escola é falar de uma força estruturante que

acompanha as nossas vidas desde que nascemos até que morremos. Uma

vida sexual que nos forneça bem-estar contribui para o nosso equilíbrio. Por

isso, a Escola não deve perder esta oportunidade de contribuir para uma

vivência mais gratificante da sexualidade por parte dos seus estudantes.

Devemos centrar as nossas acções na Escola numa perspectiva de

desenvolvimento dos nossos jovens, compreendendo as suas biografias, a

cultura das suas famílias e a heterogeneidade das adolescências actuais.

Por essa razão, para mim não faz sentido falar em “dar conteúdos”, como

algumas vezes se refere, porque as metodologias a privilegiar devem ser as

de projecto: a partir das questões dos alunos (diferentes de escola para

escola), é necessário construir uma aprendizagem partilhada, em que os


alunos deverão ser os protagonistas na pesquisa, cabendo ao professor,

apoiado nas parcerias com a saúde, o papel de dinamização e de

esclarecimento finais. A televisão e a internet devem ser trazidas para o

debate, dada a actualidade das notícias e o interesse dos jovens pelas

novas tecnologias.

Em certas escolas, a falta de associações de estudantes não pode ser

considerada um constrangimento. Há alunos que podem reunir-se enquanto

delegados de turma e outros que podem integrar comissões para a

Educação Sexual na sua escola, mesmo na ausência de associação de

estudantes. Os jovens têm um enorme interesse pelo tema e possuem

grande capacidade de construir novos materiais, havendo já escolas em que

foram usados, com êxito, folhetos, DVD, cartazes e outros produtos para

difundir mensagens sobre sexualidade e prevenção de comportamentos de

risco.

Nas parcerias com a Saúde, importa sublinhar que as escolas

deverão contactar a Unidade de Saúde Pública mais próxima, onde o

delegado de saúde terá um papel fundamental de coordenação e

encaminhamento, de acordo com a experiência e as características da

comunidade educativa em causa. A Saúde é fundamental nos Gabinetes de

Apoio ao aluno, já existentes em muitas escolas e que interessa generalizar,

razão por que o trabalho da Unidade de Saúde Pública se reveste da maior

importância. Sem prejuízo da oferta formativa que o Ministério da Educação

vai manter, é essencial que os professores continuem o trabalho que já está

a ser feito e possam contribuir para novos projectos: eu, que coordenei o

Grupo de Trabalho de Educação Sexual/Saúde (GTES, 2005-2007) e que

continuo a acompanhar o processo, verifico que tem havido muitos

progressos na forma como as escolas estão a tratar o tema da Educação


Sexual. É, pois, o momento de nos convencermos de que nada vai voltar

para trás. Uma última alusão às famílias. Creio que a esmagadora maioria

dos pais deseja a Educação Sexual em meio escolar. Seria bom que todas as

famílias estivessem em condições de dispensar esta tarefa da escola, mas

sabemos que não é assim. Mesmo em famílias organizadas, muitos filhos

não falam deste tema e muitos pais têm dificuldade em tratá-lo. À Escola

compete colaborar com as famílias, ouvindo-as “em todas as fases do

processo”, como diz a Portaria Regulamentadora da Lei. Se os pais têm

dificuldade em vir à escola, deverão ser os alunos, e não os professores, a

propor a sua vinda. Se os estudantes tiverem uma participação activa na

construção e na realização do Programa de Educação Sexual da sua escola

e, como tal, tiverem realizado iniciativas, é de esperar que os encarregados

de educação passem a estar mais presentes.

Deixo uma nota de esperança. Manifesto a minha convicção de que

os serviços dos ministérios da Educação e Saúde, em estreita articulação,

vão desenvolver a Educação Sexual em meio escolar.

Lisboa, Maio de 2010

Daniel Sampaio

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