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Direitos e Afetos: Análise Etnográfica da “Justiça Restaurativa” no Brasil1

Patrice Schuch (professora do


Departamento de Antropologia da
Universidade de Brasília, Brasil)

Este trabalho é parte de uma investigação etnográfica sobre os sentidos de


“justiça” e “direitos” construídos e negociados no âmbito dos recentes projetos de
implantação da chamada “justiça restaurativa” no Brasil, inovação judicial cujo
exercício envolve a participação comunitária, a mediação e práticas de sensibilização
afetiva. O que se deseja enfatizar, neste estudo, é a “justiça” em ação, o exercício dos
“direitos” em contextos sociais e históricos determinados. Trata-se de entender como as
pessoas que participam do exercício da justiça, no âmbito dos projetos da “justiça
restaurativa”, compreendem suas experiências, praticam suas ações, negociam e
confrontam seus interesses. Isto quer dizer que o enfoque que subsidia o trabalho não é
sobre como os “direitos” e a “justiça” são aplicados em casos concretos, mas
propriamente quais as concepções de “justiça” em jogo, como se elaboram os
significados sobre os “direitos” e quais são as suas associações com relações sociais e
com universos temáticos não necessariamente vinculados apenas ao campo judicial, mas
certamente relacionados a contextos sociais e políticos determinados2. Uma
configuração particular, nesse sentido, diz respeito ao fato de que o projeto da “justiça
restaurativa” se insere num processo de reformulação judicial que vem ocorrendo no
Brasil, no bojo de redemocratização política e difusão das normativas internacionais e
nacionais de promoção e proteção de direitos. Tais normativas e mecanismos judiciais
introduzem novos princípios, orientações e linguagens que aparecem no cenário
brasileiro num esforço de adequar legislações e estruturas judiciais ao contexto
democrático.
Como já referi em outras ocasiões, dirigindo-me ao processo de reformulação
legal no campo da infância e juventude no Brasil (Schuch, 2003, 2006 e 2008a), a
transformação das estruturas legais não diz respeito somente a uma tentativa de
transformação de instituições e discursos, mas de sensibilidades e afetos. O mesmo
pode ser dito quanto aos projetos de implementação da “justiça restaurativa”, na medida
em que sua constituição não se refere apenas aos processos, regras, procedimentos e
rituais judiciários, mas é informada por formas de pensamento ou maneiras de imaginar

1
Artigo publicado em: Revista Antropología y Derecho, CEDEAD , v. 7, p. 10-18, 2009.
2
Trata-se daquilo que Nader (2002) clamou como sendo uma “antropologia da lei mais holística”.
a realidade, que revestem de significado a multiplicidade de práticas, saberes e
dispositivos empregados para a sua prática3. Desta forma, sentimentos e afetos não são
elementos adicionais ou complementares à esfera legal, ou mesmo resquícios de formas
menos evoluídas de resolução de conflitos. São, ao contrário, partes constitutivas de seu
exercício. Se isso é verdade quando consideramos a constituição dos projetos
civilizadores europeus, como já apontou Norbert Elias (1994), onde o controle das
emoções foi fundamental para a própria elaboração do Estado moderno e da noção de
modernidade e seus valores correlatos – de indivíduo, privacidade, liberdade, autonomia
e democracia -, as práticas restaurativas renovam a discussão acerca do controle e
racionalização das emoções e seu papel na condução de projetos civilizadores no Brasil.
Isto porque a restauração dos laços entre as partes envolvidas nos processos judiciais e
desses com a comunidade mais abrangente é vista como propulsora de paz e harmonia
social, as quais são percebidas como provenientes de um estado subjetivo das partes.
Especificamente para este artigo, meu foco são os sentidos atribuídos às práticas
restaurativas a partir da visão de juízes, teóricos do direito e técnicos judiciários. Como
espero deixar claro ao longo do texto, tais agentes acionam mecanismos de diferenciação
importantes entre as propostas restaurativas e as práticas judiciais mais tradicionais do
sistema penal. Estudar o sentido constituído pelos agentes implicados na criação dessa nova
forma de fazer justiça no Brasil pode ser reveladora não apenas dos propósitos
restaurativos, mas também da visão que tais agentes têm do próprio sistema judicial ao qual
estão vinculados. Através da narrativa desses agentes, vemos uma crítica efetiva ao sistema
judicial tradicional no Brasil, visto como repressivo e conservador. No entanto, a análise
dos processos restaurativos faz perceber que as relações de poder ainda fazem parte dessa
nova prática judicial, embora não sejam características de um tipo de poder definido
exclusivamente pelo seu aspecto soberano, nos termos de Foucault (1988 e 2003). A
hipótese é que a justiça restaurativa associa, ao poder soberano legal, procedimentos
normalizadores, dando-lhes uma centralidade em suas práticas e ideário. Isto porque o foco,
na “justiça restaurativa”, é a transformação das estruturas internas dos sujeitos implicados e
nos seus relacionamentos. A idéia é que “conversando a gente se entende”, na medida em
que comunicação pressupõe troca e a criação de laços entre duas individualidades,
incluindo-se a expressão emotiva. Tais elementos vinculam-se a uma concepção de justiça
que valoriza a negociação, o consenso e a pacificação das relações sociais, centrando-se na
noção de indivíduo como um valor e instrumento de seu exercício.

3
Sobre a análise do Direito como forma de pensamento, ver Geertz (1997).
1. A “Justiça Restaurativa” e o Ideário da Modernização do Poder Judiciário

Sucintamente, no Brasil a “justiça restaurativa” é apresentada como uma “justiça


alternativa”, pois pretende ser uma ruptura com o sistema judicial tradicional do âmbito
penal, considerado como autoritário e altamente punitivo4. Enfatiza a negociação e a
mediação na solução das disputas, tendo como valores fundamentais a promoção da paz
e a influência das recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU) para que
os países desenvolvam sistemas alternativos à justiça estatal tradicional, bem como a
formulação de políticas de mediação e de justiça restaurativa5. A influência dessa
entidade multilateral é verificada na própria viabilidade do projeto, uma vez que no
Brasil o programa é desenvolvido oficialmente desde 2005 por meio de uma cooperação
técnica entre o Ministério da Justiça brasileiro, a Secretaria Especial dos Direitos
Humanos e o “Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento” (PNUD)6. A
associação entre democracia, justiça e desenvolvimento nacional é clara num relatório
avaliativo dos projetos de “justiça alternativa”, publicado recentemente: “Onde não há
amplo acesso a uma justiça efetiva e de qualidade, a democracia está em risco e o
desenvolvimento não é possível” (Ministério da Justiça, 2005:09). Seus propulsores,
entretanto, ao mesmo tempo em que enfatizam o apoio das normativas internacionais de
proteção de direitos e claramente associam as reformas judiciais com projetos políticos
de desenvolvimento nacional, também assinalam seu elemento eminentemente
“antropológico”, ao especificar que a “justiça restaurativa” foi pela primeira vez
implantada na Nova Zelândia, em 1989, inspirada pelos processos comunitários maori
de resolução de conflitos lá existentes.
Atualmente, a “justiça restaurativa” também é aplicada em países como Estados
Unidos, Canadá, Austrália, África do Sul, Reino Unido e Argentina (Ministério da

4
Por administração alternativa de conflitos entende-se a mediação de conflitos por via da negociação, da
restauração e da compensação – em contraposição aos modelos adjudicatórios e retributivos da justiça
tradicional brasileira (Ministério da Justiça, 2005).
5
Ver a resolução 1999/26, de 28 de julho de 1999, do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas.
6
Com objetivo de ajudar o governo brasileiro a modernizar a máquina do Estado e prevenir a
criminalidade, o PNUD investiu US$ 150 mil neste projeto de cooperação técnica. As ações do projeto
estão calcadas num diagnóstico sobre as melhores iniciativas do Judiciário brasileiro, realizado há três
anos, também possibilitado através de investimento internacional – desta vez com recursos do BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento). Consideramos tais informações significativas do argumento
de que as transformações judiciais brasileiras respondem a anseios nacionais, mas sem dúvida acontecem
em um contexto de pressões internacionais para reformulações judiciais motivados pelo novo contexto
neoliberal que, como disse Santos (2000), elege o Judiciário como salvaguarda de um Estado não-
intervencionista.
Justiça, 2005). No Brasil, o projeto piloto está implantado em três diferentes regiões
brasileiras: Porto Alegre (RS), onde o modelo de Justiça Restaurativa está sendo
aplicado na Vara de Execuções de Medidas Sócio-Educativas, na área de Infância e
Juventude; no Núcleo Bandeirante, do Distrito Federal, onde o alvo é o Juizado Especial
Criminal e o terceiro projeto-piloto é em São Caetano (SP), onde é implantado nas
escolas através das “câmaras” ou “círculos restaurativos”, no intuito de que os conflitos
não cheguem até o Judiciário7. Há ainda experiências sendo efetivadas em Santa
Catarina e Recife, mas que não compõem os projetos-piloto. O ideário das experiências
piloto centra-se na reparação ou amenização do dano provocado pelo crime, ao invés da
punição do criminoso. Uma justiça mais participativa também é um outro fundamento
da proposta e as práticas de mediação na comunidade são um dos principais dispositivos
inovadores do projeto, que tem como princípio a resolução consensual e pacífica dos
conflitos.
Valorizando a participação comunitária, a “justiça restaurativa” propõe a
informalização dos procedimentos judiciais: as reuniões de restauração devem acontecer
em espaços comunitários, tais como escolas, centros comunitários, etc. A própria
orientação para disposição das pessoas no ambiente das reuniões – circular – já se
propõe a quebrar as hierarquias tradicionais entre agentes judiciais, vítima e infrator. Os
“círculos” ou “comunidades restaurativas” necessitam de um mediador que, no entanto,
deve ser treinado especialmente para esse fim, sendo as Organizações Não-
Governamentais tomadas como importantes parceiros nessa tarefa. A previsão do
projeto é de que os mediadores sejam capacitados por agentes estatais. Aliás, o projeto
também prevê que a decisão de encaminhamento dos casos para os procedimentos da
“justiça restaurativa” seja feita eminentemente pelo juiz da Vara de execução do projeto
– o que revela a não dissociação completa dos procedimentos restaurativos com o
sistema de justiça tradicional.
A proposta restaurativa deseja, porém, ir além da mera resolução processual dos
conflitos, tal qual existente nos modos clássicos de resolução judicial: a restauração dos
laços comunitários e dos laços entre vítima e infrator é vista como propulsora de paz e
harmonia social – percebidas como provenientes de um estado subjetivo das partes. Aí é
que se evidencia uma importância da emoção, do diálogo entre as partes, da evocação

7
No Juizado Especial Criminal são julgadas causas criminais em que a pena máxima é de um ano
(geralmente lesões corporais, brigas familiares, ameaças e desavenças entre vizinhos). Na Vara de
Execução das Medidas Sócio-Educativas do Juizado da Infância e da Juventude são executadas as
medidas sócio-educativas, destinadas a adolescentes infratores de idade entre 12 e 21 anos.
da sensibilidade e dos relacionamentos interindividuais: da “acusação” e da “culpa”
para o “perdão” e as “desculpas”; da “punição” para a “cura”, “cicatrização das feridas”
e “reparação” (Maxwell, 2005). Valoriza-se a troca emocional, no intuito de restaurar
sentimentos e relacionamentos positivos. A “reunião restaurativa” é tomada como uma
oportunidade que os envolvidos num ato criminal têm para expressar seus sentimentos,
descrever como foram afetados pelo acontecimento e, daí, promover práticas de
reconciliação e pacificação interpessoal e comunitária. Um elemento interessante,
contudo, é que as experiências restaurativas não visam substituir o modo tradicional de
resolução de disputas, mas introduzir-se como alternativas aos modos já existentes.
Assim também acontece com outros projetos de “justiça alternativa”, como os Juizados
Especiais Criminais, por exemplo, os quais não pretendem substituir os serviços
existentes, mas introduzir a possibilidade de uma resolução conciliatória do processo
criminal. Mas, então, para quem os projetos da “justiça alternativa” fazem sentido? Que
casos são encaminhados para a justiça informal? Qual o público que recorre a tais
serviços? Para quais demandas tais projetos estão se dirigindo?
A não existência de registros sistemáticos acerca da posição social das pessoas
implicadas nas práticas restaurativas impede uma resposta consolidada sobre essa
questão. Tais questões são pertinentes, entretanto, quando analisamos os dados
recentemente registrados em um relatório sobre as experiências de outros projetos de
“justiça alternativa” no Brasil (Balcões de Direitos, Assessoria Comunitária, Justiça
Cidadã, Mediação Familiar, Ouvidoria Agrária, Projeto Justiça Comunitária, etc).
Informações da pesquisa intitulada: “Acesso à Justiça por Sistemas Alternativos de
Administração de Conflitos”, publicada pelo Ministério da Justiça brasileiro em 2005,
revelam que as classes populares têm participação majoritária em 79,1% dos programas
de “justiça alternativa”, enquanto as classes média e alta respondem por apenas 3%. Em
56,7% das iniciativas também prevalecem pessoas com baixa ou sem nenhuma
escolaridade, em 16,4% quem concluiu o ensino médio e em apenas 1,5% quem cursou
o ensino superior (Ministério da Justiça, 2005). Isto é, a população atingida pelos
projetos da chamada “justiça alternativa” é majoritariamente proveniente das classes
populares brasileiras. Esses dados renovam questões já colocadas aos projetos de
informalização da justiça por Boaventura de Souza Santos (1985): a organização da
justiça comunitária tutelada pelo Estado, não seria uma forma desse último expandir-se
sobre a sociedade civil? O controle social não estaria sendo executado sob a forma de
consenso, negociação e ação comunitária? A mesma suspeita é evidenciada por Nader
(1994 e 2002) no caso da resolução alternativa das disputas nos Estados Unidos: para a
autora, tais maneiras de resolução de conflitos são verdadeiros instrumentos de
pacificação social, ligadas a um modelo de justiça terapêutica, que transforma fatos
legais em “sentimentos” e “relacionamentos”.
É preciso colocar, contudo, tais observações em contexto. Isto é, mais uma vez
assinalamos a necessidade de um trabalho empírico, etnográfico, a respeito dos modos
específicos e significados particulares que determinados valores representativos de
hegemonias legais são vivenciados no contexto brasileiro. Na análise de Azevedo
(2001), sobre a implantação dos Juizados Especiais Criminais no Brasil, por exemplo,
vemos que a informalização da justiça penal não ampliou o controle social do Estado
sobre novas condutas, já que esse controle já se exercia pelas delegacias de Polícia; na
verdade, os novos dispositivos judiciais apenas substituíram o delegado pelo juiz, no
exercício da função de mediação. Entretanto, o autor também salienta de que é preciso
destacar a forte influência dos agentes judiciais na implantação dos Juizados Especiais
Criminais brasileiros: embora a lei de criação desses dispositivos tenha previsto a
utilização de conciliadores escolhidos fora dos quadros da justiça criminal, essa
disposição não foi efetivada na prática da implementação dos Juizados Especiais
Criminais. Assim, os mesmos juízes que atuavam nas Varas Criminais passaram a atuar
nos Juizados Especiais Criminais, reproduzindo a relação hierárquica característica do
processo penal tradicional, problematizando o próprio estatuto da “conciliação”
desejada. Os trabalhos de Cardoso de Oliveira, L.R. (2002 e 2005) também corroboram
tais impressões, assinalando que esses organismos judiciais tendem a “(...) impor às
causas que lhe são encaminhadas um forte processo de filtragem, o qual tende a excluir
aspectos significativos do conflito vivido pelas partes, reduzindo substancialmente a
perspectiva de um equacionamento adequado para suas demandas e preocupações”
(Cardoso de Oliveira, L. R., 2005:05). Esses dados revelam a necessidade de analisar
com precisão a própria efetivação dos projetos na prática e, de outro lado, investigar as
próprias tradições e culturas jurídicas em que as práticas de mediação e negociação
judicial acontecem.
Caso comparemos Brasil e Estados Unidos, por exemplo, chegamos a conclusão
de que efetivamente existe uma cultura jurídica diversificada que importa considerar no
momento da análise sobre a implantação de projetos e do estudo de sua significação os
agentes envolvidos na sua efetivação. De acordo com Kant de Lima (1989 e 1995),
existiria uma série de distinções entre a cultura jurídica americana e a brasileira:
diferentemente do Brasil, o sistema de controle social nos Estados Unidos se
apresentaria como tendo uma origem “popular” e “democrática”, haveria uma noção de
igualdade formal em que todos teriam direito à igualdade na diferença e a noção do
espaço público seria a de um espaço coletivo. O Brasil, ao contrário, caracterizar-se-ia
por uma origem elitista do sistema jurídico, o domínio do público seria controlado pelo
Estado e a idéia de igualdade estaria associada à semelhança, não à diferença. Em
conseqüência, enquanto nos Estados Unidos a ordem social se construiria a partir da
explicitação dos conflitos de interesse individualizado, no Brasil haveria a conciliação
forçada de conflitos, visando a imposição da harmonia e do status quo, para manter a
hierarquia e a complementaridade entre elementos diferenciados do sistema (Kant de
Lima, 1989 e 1995).
Desta forma, no Brasil o conflito seria visto como exterior à sociedade, na
medida em que ameaçaria a legitimidade da ordem. O processo de construção de
verdade que poria fim ao conflito seria vivido como um processo de pacificação e
harmonização das desigualdades. Isto porque os desiguais não devem se opor, mas se
complementar harmonicamente. Caso aceitemos as observações de Kant de Lima, o
modelo de uma “justiça restaurativa” baseada nos princípios da negociação e harmonia
poderia, por hipótese, até mesmo vir a corroborar elementos relacionais e hierárquicos
de nossa cultura jurídica e não ser um rompimento significativo com esses valores. Tal
hipótese, contudo, somente deve ser analisada à luz das experiências concretas de
implantação do projeto, da pesquisa da heterogeneidade das práticas judiciais existentes
e do entendimento dos significados desses novos dispositivos judiciais para os próprios
agentes envolvidos na sua implantação. Se, como assinala Nader (2002), a defesa da
implantação das resoluções alternativas de disputas nos Estados Unidos tem sido feita
através do argumento de que a sociedade americana é muito conflitiva, qual o idioma
específico da argumentação veiculada pelos defensores da justiça restaurativa no Brasil?
Para tentar responder tal questão volto-me agora para a descrição de alguns
argumentos de justificação das práticas restaurativas trazidos pelos seus agentes
implementadores no Brasil. Apesar dos projetos pilotos estarem sendo executados em
três distintas regiões do país, neste artigo focalizarei principalmente nos dados que vem
sendo recolhidos desde março de 2006 em Porto Alegre/RS. A pesquisa envolve análise
documental, observações de práticas e entrevistas com agentes diversos participantes
das atividades.
2. “Projetos são Utopias”: a justiça restaurativa em Porto Alegre/RS

No material de divulgação da proposta restaurativa apresentado pelo juiz


responsável pela coordenação dos projetos restaurativos em Porto Alegre, Dr. Luis, a
menção de que “projetos são utopias” revela muito do ideário envolvido nas práticas
restaurativas. Dr. Luis iniciou os estudos sobre justiça restaurativa através das suas
relações com um sociólogo especialista em sociologia jurídica, Scuro Neto, o qual já
escreveu sobre a tarefa de divulgar a “justiça restaurativa” no Brasil como um
“apostolado”8. Scuro Neto teve a sua formação de pós-graduação em Praga e na Leeds
University, na Inglaterra, à semelhança de outro divulgador das idéias restaurativas no
Rio Grande do Sul, o jornalista e consultor em direitos humanos e ex-deputado pelo
Partido dos Trabalhadores, Marcos Rolim, o qual conheceu o ideário das práticas
restaurativas durante uma especialização em segurança pública realizada na Oxford
University. Apesar de não associar tão fortemente um sentido religioso ao seu trabalho
de explicitação das concepções da “justiça restaurativa”, tal como Scuro Neto, Rolim
descreve sua experiência inicial com as noções restaurativas como um “encantamento”,
assemelhando-se com as descrições de Dr. Luís, que se apaixonou pelas propostas
restaurativas em função de seus paradigmas humanizadores. O juiz destaca as
possibilidades de uma troca de paradigmas, isto é, uma mudança das “lentes” com as
quais entendemos os processos de resolução dos conflitos na sociedade. Nesse sentido,
empenha-se na construção de uma justiça mais próxima à população e trabalha com
noções de engajamento pessoal na modificação das estruturas jurídicas que faz com que
tenha uma reputação no campo da infância e juventude – onde exerce a magistratura
desde 1994 -, quando foi nomeado juiz titular de uma vara dessa especialidade, em
razão de ter sido um dos principais implementadores de mudanças na era pós Estatuto
da Criança e do Adolescente, promulgado em 1990.
Nesse campo do direito, Dr. Luís é considerado um “idealizador” e a menção
específica às utopias são sinalizadores de um empenho pessoal de uma passagem do
ideário da neutralidade dos agentes judiciários para outro em que tais profissionais
encontrem-se associados com os interesses da comunidade e, por vezes, falando em seu
nome. Trata-se de investir num tipo de “capital jurídico militante” (Schuch, 2008b e
2009) que, no caso de Dr. Luís, vem lhe garantindo uma posição de destaque nas

8
Ver o texto intitulado: “Justiça Restaurativa e a cultura da paz: do conceito ao contexto” (s/d).
práticas da gestão da juventude no Rio Grande do Sul. Agora, sendo o pioneiro na
implementação das práticas restaurativas no Brasil, Dr. Luís também vem adquirindo
uma posição de destaque nacional e até mesmo internacional. A referência ao fato de
que “projetos são utopias” – entendidos como um plano de quimera, da fantasia, do
irrealizado – é significativo porque revela a percepção de uma lacuna entre o que existe
e o que é imaginado e idealizado, espaço que legitima a intervenção dos agentes
jurídicos e lhes atribui um sentido específico de não apenas trabalhar com fatos já
constituídos – mas na realização de um futuro, de algo que existe ainda apenas enquanto
uma virtualidade. O que se propõe é a difusão de um projeto de sociedade,
particularmente caracterizada pela harmonia e paz, que pode ser realizada através de
uma modificação nas formas de conceber o conflito entre as pessoas e de seus valores
fundamentais.
É nesse intuito que Dr. Luís foi um agente difusor das propostas restaurativas,
promovendo seminários e encontros sobre o tema, como o primeiro grande seminário
ocorrido em Porto Alegre, em outubro de 2004, em parceria entre as ONGs Instituto de
Acesso a Justiça – IAJ e a congênere inglesa Justice, evento apoiado pela AJURIS
(Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul). Mesmo que as referências ao estudo das
práticas restaurativas e no interesse de sua discussão sejam datadas de 2001, a “justiça
restaurativa” aparece como objeto de mobilização de diversas entidades, no Rio Grande
do Sul, apenas a partir desse seminário. Além da promoção de seminários e grupos de
estudo sobre o tema, Dr. Luís foi um importante mobilizador de políticos e
institucionais, como a AJURIS (órgão de classe da magistratura), a FASE e a FASC
(entidades estaduais e municipais, respectivamente, de execução de medidas sócio-
educativas), a Secretaria Municipal e Estadual de Educação e a Guarda Municipal, todas
parceiras atuais da “justiça restaurativa” no Rio Grande do Sul. O desafio de reunir
todos esses órgãos em torno das práticas restaurativas seria, segundo as palavras de Dr.
Luís, “instituir um pensamento único”. Mas, como disse em um seminário de
“repactuação” entre os parceiros do projeto, realizado em junho de 2006, a instituição
de um pensamento homogêneo estaria acontecendo porque, conforme Dr. Luís, tais
agentes estão recebendo “ajuda do alto” – palavras que se associam a um sentido
religioso mas que, na verdade, estavam se referindo ao investimento financeiro
realizado pelo PNUD, UNESCO e ONU, especialmente para o desenvolvimento da
capacitação dos agentes para a “comunicação não-violenta”, metodologia específica que
guia o projeto restaurativo no Rio Grande do Sul.
2.1. O diagnóstico da violência e o método da “Comunicação Não Violenta”

A justificação da justiça restaurativa no Brasil, diferentemente do idioma


justificador das resoluções alternativas de disputas nos Estados Unidos, onde a
harmonização dos conflitos justifica-se pela existência de uma sociedade muito
conflitiva e legalista, é centrada no fato de que a sociedade brasileira está muito
violenta. A violência social é tomada como um sintoma e expressão de relações não
harmônicas e, sobretudo, desintegradoras. O perigo da anomia, da não existência de
valores que fundamentem uma existência social comum, é chave para instaurar a
procura de novas práticas que substituam o modelo conflitivo. A percepção é a da não
existência de trocas entre as pessoas. O fundamento da própria existência social estaria
em risco. Do risco, ou seja, do diagnóstico de uma violência constante e difusa, viria a
necessidade de uma restauração de laços, de relacionamentos. O método dessa
restauração implica uma transformação individual rumo a uma transformação das
relações interpessoais e, daí, à transformação da sociedade. A restauração social é,
portanto, subsidiária de uma transformação individual. A ênfase é colocada no valor do
indivíduo, o que se coaduna com os valores que definem a sociedade americana, de
onde o psicólogo construtor do modelo metodológico que vem capacitando as práticas
restaurativas no Rio Grande do Sul – o “método da comunicação não violenta” -
provém.
Segundo publicações de divulgação de sua metodologia, a “Comunicação Não-
Violenta” (CNV) foi desenvolvida por Marshall B. Rosenberg, doutor em psicologia
clínica e fundador do Centro internacional de Comunicação Não-Violenta. A CNV parte
da observação de que a crescente violência é reflexo de uma lógica de ação e de uma
relação divorciada com nossos “verdadeiros valores”, iniciando ciclos de “emoções
dolorosas”. Através de práticas de mediação, o método da CNV é apresentado como
possibilitando mudanças estruturais no modo de encarar e organizar as relações
humanas, podendo ser aplicado, então, na gestão de grupos e organizações. Pelo
material de divulgação desse método, a CNV teria sido usada primeiramente em
projetos federais do governo americano a fim de integrá-la de forma pacífica escolas e
instituições públicas durante os anos sessenta. Com o crescimento das demandas de
mediação na sociedade americana, Rosenberg contratou profissionais e criou o Centro
de Comunicação Não-Violenta na Califórnia, em 1984, organização que treina pessoas
para a mediação em diversos países, entre os quais a Inglaterra – país de formação de
diversos teóricos brasileiros da “justiça restaurativa”.
Na Inglaterra, em 2003 foi publicado um artigo no “Times Educational
Supplement”, divulgando a metodologia do CNV, apresentada como uma técnica para
“resolver conflitos em zonas de guerra”. No artigo, o jornalista Matthew Brown
explicita alguns dos valores fundamentais para esse tipo de prática, legitimada pelas
propostas restaurativas gaúchas. A reprodução de algumas partes da reportagem é
significativa para os propósitos desse texto:

Você é um Lobo ou Uma Girafa?


Em uma pequena sala de aula moderna e clara, Pat Dickinson está sentada falando
para uma roda de adolescentes atentas. “Às vezes, quando eu entro numa discussão com
alguém, eu uso isso” - diz ela, mostrando as mãos, cada uma delas enterrada no que parece um
brinquedo de pano. “Esta é a minha girafa” - mostra ela, arremessando a mão direita vestida
num fantoche até o cotovelo. “E este é o lobo” - ela continua, levantando a esquerda. As
meninas dão risada, descruzam as pernas com meias soquete e arrastam os sapatos. “Estamos
aprendendo a chamada linguagem de girafa; esse é o nosso objetivo” - diz a Sra. Dickinson.
“Quando fazemos julgamentos, usamos conversa de lobo”.
Pat Dickinson é uma professora de biologia e orientadora educacional na escola
feminina de Burgess Hill em West Sussex, uma escola independente. As quinze meninas ao seu
redor e de sua colega Rachel Williamson estão sendo treinadas para ouvirem as colegas. @as
paredes em volta, cartazes com frases escritos à mão: “Construir auto estima” e “Punir nunca
funciona”. Em um deles, lê-se: “A mais elevada forma de inteligência humana é a habilidade
de observar sem julgar”. @o outro: “Sou responsável por minha intenção e pelo que eu falo.
Você é responsável pela maneira que ouve”. Escritas no quadro negro em letras maiúsculas
estão as palavras “Observações”, “Sentimentos”, “@ecessidades” e “Pedidos” – os quatro
ingredientes principais da “linguagem de girafa”, também conhecida como Comunicação @ão-
Violenta (C@V), “um modelo claro e eficaz de se comunicar de uma maneira cooperativa,
consciente e com compaixão”.
Foi desenvolvida nos Estados Unidos nos anos 60 e agora está sendo usada em escolas
em Israel, Itália, Iugoslávia, Suécia e Inglaterra. A C@V foi desenvolvida pelo psicólogo clínico
Marshall Rosenberg. “@ão há nada que os seres humanos apreciem mais do que contribuir de
boa vontade para o bem estar do outro. A C@V aponta o tipo de comunicação necessária para
que isso aconteça. E identifica o tipo de aprendizado cultural com que estamos comprometidos
e que nos distancia disso”. Dr. Rosenberg cresceu na Detroit dos anos 40 e aprendeu cedo
sobre o lado mais sombrio das relações humanas. “Mais de 30 pessoas foram assassinadas no
nosso bairro. E quando eu ia à escola, até meu sobrenome poderia servir de estímulo para a
violência. Então eu me interessei pelos motivos que levam os indivíduos a ter esse tipo de
comportamento com quem é diferente”. C@V, uma forma de usar linguagem não judicativa,
baseia-se em quatro “ingredientes”. Aprende-se a expor os fatos de uma situação sem
interpretação ou opinião; reconhece-se os sentimentos implícitos; identifica-se quais
necessidades humanas estão ou não estão sendo atendidas; e aponta-se quais ações se gostaria
de ver executada para satisfazê-las. Apesar de seu próprio pessimismo inicial, nos Estados
Unidos a C@V demonstrou-se útil no preparo de comunidades para a não segregação durante
os anos 60, no trabalho com jovens e gangues de rua e em escolas especiais.

Esse modelo metodológico põe ênfase na expressão emocional para diagnóstico


de necessidades e sua resolução. Para isso, trata-se da necessidade de suspender o
julgamento e crescer no potencial da experiência da compaixão, da cooperação,
entendidas como opostos à intolerância, geradora de violências. Um dos princípios mais
valorizados é a idéia de que “conversando a gente se entende”. A importância da noção
de diálogo – entre pessoas abertas a negociar seus interesses – estaria na própria
possibilidade de restauração das relações interpessoais e, daí, para a pacificação das
relações sociais. O funcionamento das relações conflituosas é, portanto, função de
comunicações mal feitas.
Tal linguagem que afirma dissolver conflitos motivados por ou contextualizados
em situações de conflitos extremos encontrou eco no Brasil, em que a “fala do crime”
tornou-se banalizada e geradora de uma indústria do medo e de sua dissolução.
Crescimento de políticas punitivas, aumento nas formas de segurança pública e privada,
um espaço público marcado pela intolerância ao diferente – veja-se o pensamento de
Caldeira (2000) sobre o crescimento de muros na cidade de São Paulo – estariam
colocando em risco a própria idéia de democracia. De outro lado, tais elementos podem
evidenciar uma concepção de espaço público como um espaço do risco, do conflito, do
medo, o que dá um sentido específico para as propostas de sua transformação rumo a
uma maior integração social e convivência harmônica, com supostamente teríamos no
passado.
Os agentes envolvidos nas práticas restaurativas trabalham com essa idéia de
uma crescente anomia social e com um tipo de evolucionismo às avessas, em que
atualmente as sociedades seriam mais desunidas e conflituosas e, em tempos remotos, a
sociedade teria sido integrada e pacificada. A insistência dos seus fundamentos
“antropológicos”, embasados nas formas maori de resolução de conflitos, implica
justamente nessa associação entre o desenvolvimento da “civilização” e do progresso –
da ciência, do mercado, do direito – e o crescimento de conflitos, pois tais elementos
trabalhariam com uma lógica desumanizante que é prioritariamente racional, em
detrimento dos processos emocionais e sentimentais, vistos como próprios da essência
do “humano”. Com a crescente violência social – diagnóstico que é recorrente entre os
participantes do projeto restaurativo – acrescida de um diagnóstico de ineficácia do
sistema de justiça criminal, visto como incapaz de oferecer respostas adequadas a esses
problemas crescentes da violência, haveria a necessidade de implantação de dinâmicas
de pacificação social e de mitificação dos conflitos. A “justiça restaurativa” daria
oportunidade para essa efetivação, uma vez que trabalharia com valores, ao invés de
apenas normas e leis. Os principais valores das práticas restaurativas referem-se à
harmonia, ao perdão e ao arrependimento. No centro das propostas restaurativas estaria
a mútua compreensão – tanto das vítimas quanto dos infratores – de efetivamente
conhecer as motivações e impressões do “outro” que é parte da relação. Trata-se de se
"colocar no lugar do outro". Essas relações de transferência entre o réu e a vítima seria
constitutivo das propostas restaurativas, o que se coaduna com uma sugestão importante
do projeto restaurativo de substituir tais termos - próprios de um processo jurídico
tradicional - pela denominação de “partes”, tal como também já foi descrito em outros
projetos que trabalham com a mediação de conflitos, como as Delegacias Especiais da
Mulher estudadas por Muniz (1996).

2.2. A restauração: processos de internalização e exteriorização

A empolgação de Dr. Luís com o ideário da “justiça restaurativa” é


compreensível: admirador da psicanálise, o juiz investe o seu trabalho de um sentido de
transformação das relações sociais através de uma modificação eminentemente interna,
emocional. Em seu papel como juiz da vara de execução das medidas sócio-educativas
da infância e juventude já referia como fundamental para o aproveitamento da medida
judicial o que denominava de “expiação da culpa” (Schuch, 2003). Nesse tipo de
atuação profissional, o papel do juiz é percebido como de condução do processo
expiatório, junto com os demais profissionais envolvidos, sendo que a função de julgar
permanece uma prerrogativa do juiz. Ao se deparar com as características da “justiça
restaurativa”, Dr. Luis viu nos círculos restaurativos, segundo seu relato, a oportunidade
de que o próprio ato de julgar seja compartilhado pelos participantes e, de um modo
mais abrangente, pela própria comunidade. Na medida em que os mediadores ou
facilitadores da “justiça restaurativa” não têm de ser juízes, mas leigos capacitados para
o processo da facilitação, seria possível uma ampliação do que chama de uma “função
social do julgar”. Nesse processo, o próprio ato de julgar teoricamente se re-significaria,
adquirindo novos significados com a participação de outros agentes.
Sem dúvida estamos aqui em presença de uma noção de justiça que não trabalha
mais com o julgamento de um ato, o crime – ao qual se adequaria uma lei de acordo
com as prerrogativas legais. Trata-se, contrariamente, de uma negociação de
relacionamentos e formação de pactos de restauração das relações sociais rompidas com
o acontecimento criminal. Mas como se estabelecem tais relacionamentos nas práticas
restaurativas? Quais os seus elementos e dinâmicas constitutivas?
Se a emoção está no centro das práticas restaurativas, sua expressão pública e
incorporação ao longo do processo restaurativo diferem segundo as posições específicas
dos agentes em interação. Ao analisarmos as maneiras que os círculos de restauração
são descritos e entendidos, é possível problematizar a diluição das posições de réu e
vítima, na medida em que essas empregam diferentes procedimentos – complementares
e simétricos – para o estabelecimento da aclamada pacificação das relações sociais.
Embora os encontros restaurativos trabalhem com procedimentos de consenso,
incentivados fundamentalmente através da ferramenta metodológica do diálogo e do
incentivo à produção de narrativas sobre o ocorrido, tais narrativas são basicamente
distintas quanto ao tema: se a narrativa do réu deve enfatizar as origens do conflito, a
explanação da vítima deverá concentrar-se nas conseqüências do ato criminoso. É
possível tocar em outros assuntos e temas, assim como não há uma concepção rígida
sobre quem deve iniciar as falas, mas o importante, sobretudo, é falar.
A fala é, tal como na concepção psicanalítica, terapêutica, e, mais do que isso,
produtora de um elemento fundamental do rito restaurativo: a elaboração e vivência do
mal recebido e causado. Para o infrator, os círculos restaurativos são rituais de
constituição do próprio trauma, pois esse agente, através da escuta da narrativa da
vítima, terá que vivenciar o mal causado. Trata-se, de certa forma, de um processo de
retribuição, elemento fundamental das práticas jurídicas tradicionais e que, no entanto,
difere-se dessas porque a retribuição não é o objetivo do processo restaurativo, mas
apenas uma de suas fases: a retribuição do mal, que é considerada também pedagógica
para a restauração emotiva da própria vítima, deve ter por efeito a internalização da
culpa, pelo criminoso. Trata-se, para ele, de construir o trauma – processo conduzido
pela narrativa da vítima, que trabalha com a exteriorização do trauma pela narrativa de
sua elaboração. Através da exteriorização do mal pela vítima e sua internalização pelo
infrator, fundamenta-se uma relação estrutural entre os membros do círculo ou câmara
restaurativa que se inverterá simetricamente no próximo processo implicado na
restauração dos seus laços e constituição de seus relacionamentos. Nesse segundo
processo, se trata de inverter as posições de forma simétrica: o criminoso deve
exteriorizar sua culpa, isto é, “expiar a culpa”, conforme a descrição de Dr. Luís –
através do pedido de perdão e manifestação de arrependimento – para que a própria
vítima internalize, de outro lado, o sofrimento do infrator, constituindo um elo entre
suas motivações ao crime e a leitura social de seu arrependimento. Constitutivo desses
processos de exteriorização e internalização do mal está a construção de narrativas
emotivas e todos os agentes implicados nas práticas dizem que o choro é extremamente
comum, sendo considerado catártico.
Assim, a oportunidade de expiar sua culpa, para o criminoso, levaria a um
processo de transformação individual, iniciado pela própria escuta da narrativa da
vítima, prevista nos círculos restaurativos. Essa transformação requer uma modificação
da própria vítima também, implicada nas práticas restaurativas. Segundo Dr. Luis, é
extremamente importante que a vítima tenha um espaço de fala, para romper com a
passividade que lhe é atribuída pelo sistema judicial oficial. De outro lado, o papel da
vítima é essencial para elaborar a narrativa do trauma vivenciado e, de fato, construir o
trauma para o infrator. Ao inverso da teoria psicanalítica em que a fala visa elaborar os
traumas psíquicos a partir da construção de uma narrativa, aqui é a narrativa que irá
produzir o trauma para o criminoso. Na teoria psicanalítica, a exteriorização promove a
cura. No caso dos círculos restaurativos, a narrativa trabalha com dois processos
associados, contrários, mas simétricos: exteriorização e internalização, por parte da
vítima, e interiorização e exteriorização por parte do infrator. O par vítima-infrator, no
entanto, não se dilui nos procedimentos restaurativos, mas é sua parte constitutiva.

2.3. A “justiça restaurativa” e os espaços de restauração: “de dentro para fora”

De outro lado, é importante frisar que o julgamento tradicional, aquele realizado


pelo juiz, não desaparece na forma que a justiça restaurativa está sendo implementada
no Rio Grande do Sul: ao contrário, é dele que os projetos retiram sua força, pois a
justiça restaurativa é uma proposta que vem trabalhando, como Dr. Luís assinala, de
“dentro para fora”. Além de tal princípio metaforizar os próprios princípios
metodológicos com que o método da “comunicação não violenta” trabalha – da emoção
do indivíduo (“de dentro”) para o estabelecimento de relações interpessoais positivas e,
daí para a restauração das relações sociais (para “fora”) também diz respeito a dois
outros elementos: refere-se ao fato de que as práticas partiram de uma proposição do
próprio Juizado da Infância e da Juventude, e de outro lado, porque estão sendo
realizadas eminentemente por mediadores ou facilitadores que não são leigos ou pessoas
da comunidade, mas sim agentes judiciários – técnicos ligados ao sistema de justiça e
técnicos das instituições das medidas sócio-educativas de internação, semiliberdade,
liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade. Há também uma parceria do
projeto com algumas escolas estaduais e municipais, assim como uma ONG de apoio a
educação de crianças e um órgão municipal de atendimento de crianças e adolescentes
em situação de vulnerabilidade social, mas esses órgãos, embora sejam parceiros
institucionais do projeto, não vêm realizando um número significativo de círculos. A
maior parte dessas práticas ocorre mesmo no âmbito judicial, seja nas dependências do
Juizado da Infância e Juventude, seja no espaço da instituição de internação de
adolescentes no Rio Grande do Sul, a FASE (Fundação de Atendimento Sócio-
Educativo).
Nesse sentido, chama atenção que, no que diz respeito efetivamente à realização
de círculos restaurativos, pode-se perceber um colamento das práticas restaurativas com
as instâncias judiciárias – uma especificidade importante num projeto em que o ideário
privilegia a participação comunitária. Isso tem a ver com o próprio histórico de
implantação, que privilegiou nos seus dois primeiros anos a efetivação judicial,
envolvendo jovens em execução de medidas sócio-educativas. Em prática, isso se
traduziu por uma espécie de profissionalização dos coordenadores dos círculos, a qual,
paradoxalmente, é uma tendência contrária à expansão comunitária do projeto,
particularmente realizada ao longo do ano de 2007. No final de 2006 havia 12
profissionais capacitados para coordenar círculos, os quais haviam passado por uma
capacitação específica para esse fim, através de encontros mensais denominados de
Workshops de Coordenação de Círculos. Até maio de 2007, já haviam se realizado 4
turmas no Curso de Iniciação em Práticas Restaurativas, com cerca de 140 inscritos:
técnicos de instituições de atendimento ao adolescente infrator, professores de diversos
níveis de ensino, líderes comunitários de bairros populares de Porto Alegre. No entanto,
apenas 2 agentes judiciais – técnicas do judiciário -, efetivamente estavam coordenando
círculos restaurativos, no âmbito do Juizado da Infância e Juventude, até o final de
2007.
Um dos técnicos judiciais que participou da coordenação dos primeiros círculos
restaurativos é Heleno, um pedagogo de cerca de 45 anos que há décadas trabalha com
crianças e adolescentes. Heleno contou-me que, por vezes, chegava a perder o horário
de almoço para ficar contando as dinâmicas dos círculos para os colegas do Juizado da
Infância e Juventude, de tão empolgado com os encontros restaurativos. Heleno se
explicou: “A justiça restaurativa é apaixonante: porque a gente vê as coisas se
restaurando, se ajeitando... não apenas naquela coisa punitiva, mas os laços se
reconstruindo”. Observou, porém, que ele não era nenhum especialista no assunto e que
apenas estava aprendendo também - e aprendendo com a prática. A idéia de
“experimentação”, do “aprendizado” não é, desta forma, apenas um atributo a ser
introduzido para as partes envolvidas nas propostas restaurativas, mas elementos a
serem valorizados também para os profissionais envolvidos na mediação.
Nas conversas com Heleno também ficou evidente um aspecto muito
significativo: ao construir um discurso de diferenciação entre as práticas restaurativas e
as práticas judiciárias oficiais, Heleno não se percebe como tendo algum papel
significativo no desenvolvimento da mediação entre as partes, trabalhando com uma
noção de uma interferência de poderes e autoridades externas às partes que são vistas
como mínimas. É por isso que, ao invés de denominarem-se “mediadores”, o que
constitui um sentido mais interventor às práticas realizadas, os profissionais com esse
papel, no Rio Grande do Sul, preferem se autodenominar “facilitadores”. Heleno, por
exemplo, disse-me que, na verdade, não faz quase nada a não ser “ouvir” e dar uns
“chutes” aqui e ali, durante os círculos restaurativos. Provocado por mim, que disse que
os seus “chutes” não são ao léu, que ele sabe onde chutar, Heleno apenas riu e
acrescentou que: “É preciso saber ouvir... as pessoas precisam ser ouvidas”. Tal aspecto
– a escuta - seria, para Heleno, a melhor contribuição da justiça restaurativa, que não
teria o aspecto da justiça formal de ficar julgando a culpa do infrator e onde as pessoas
não conseguiriam ser ouvidas.
Outros fatores positivos foram ressaltados pelo diretor de uma instituição da
FASE, chamado Paulo, que iniciou a aplicação dos círculos em instituições de
internação de jovens. Um detalhe importante no modo de implantação do projeto nas
unidades de privação de liberdade é que, ao invés de “círculo restaurativo”, os
profissionais chamam a intervenção de “encontro restaurativo”. Isto porque não há a
presença da vítima, sendo apenas uma conversa ritualizada entre adolescente, o
facilitador e alguns familiares do adolescente. Para o diretor da referida unidade de
internação, atualmente os adolescentes já passaram a associar a “justiça restaurativa”
com progressão de medida, o que facilita a aceitação na participação. De outro lado,
como não querem que suas famílias sejam chamadas para participar das práticas
restaurativas - por exemplo, nos casos de uso de drogas dentro da instituição - os
adolescentes “pensam duas vezes antes de usá-las”. Segundo Paulo, o saldo de
implantação é extremamente positivo, mesmo que haja esse “interesse” inicial da
progressão de medida ou um receio de que se vá chamar as famílias para os encontros.
Para ele, a partir de um interesse inicial bem particular, dirigido a um uso instrumental
dos encontros – conseguir a progressão de medida -, atinge-se resultados significativos
na mudança de comportamento dos adolescentes.
O diretor também ressaltou que, nos casos em que há os “encontros
restaurativos” e há uma indicação, por parte da equipe técnica, da progressão de medida,
o juiz aceita mais facilmente a indicação dos técnicos, quando do momento da
audiência, se anteriormente o caso foi trabalhado nos “encontros restaurativos”. Essa
visão contrasta com a que ouvi de Davi, um adolescente que aos 18 anos praticou um
roubo à mão armada e permaneceu 9 meses em uma instituição de privação de
liberdade. Davi contou-me que aceitou participar das práticas restaurativas porque
pensou que sairia mais rapidamente da medida de internação; ele realizou o círculo
restaurativo aos 6 meses de medida sócio-educativa, mas frustrou-se porque teve que
permanecer mais 3 meses internado. Entretanto, avalia como fundamental a participação
no círculo, não porque tenha se arrependido do que fez apenas no momento do círculo,
o que salientou já ter ocorrido anteriormente ao encontro, mas porque percebeu o quanto
sua mãe e amigos o amavam e estavam preocupados com seu futuro.
O caso de Davi é muito significativo, uma vez que quando saiu da FASE
percebeu que os acordos feitos no seu encontro restaurativo, tais como o apoio para que
conseguisse um emprego e a inserção em uma escola, não estavam sendo cumpridos.
Sem pestanejar, voltou ao Juizado da Infância e Juventude reclamando seus direitos.
Contou-me que a solução encontrada foi colocá-lo como auxiliar administrativo no
projeto Justiça Restaurativa, onde permaneceu por 1 ano. Acabou por ser capacitado nas
práticas restaurativas – e de usuário passou a futuro mediador de práticas - embora até
hoje não tenha realizado nenhum círculo restaurativo na posição de coordenador. Tais
observações são significativas porque salientam a existência de múltiplas possibilidades
de utilização e estabelecimento de sentidos para as práticas restaurativas, de acordo com
os interesses e posições dos diferentes agentes: adolescentes, técnicos, diretor da
unidade.

3. Considerações Finais

O estudo da maneira de percepção, por parte dos agentes judiciais, da “justiça


restaurativa”, traz algumas questões interessantes para pensar esse fenômeno. Em
primeiro lugar, contribui para explicitar o papel das emoções no sistema judicial e sua
renovada aclamação por setores do Judiciário que desejam a volta de uma justiça
humanizada e humanizadora. Assim como outros projetos inovadores em execução,
como o Balcão de Direitos e os Juizados Especiais, por exemplo, a “justiça restaurativa”
surge no âmago de processos de transformações do campo judicial brasileiro, as quais
formalmente encontram-se associadas a projetos descritos como de “modernização” do
Poder Judiciário e também de criação de uma “justiça alternativa”. Tais processos, no
entanto, não resultam apenas de consensos nacionais, mas são frutos de um contexto
internacional propício às reformas judiciais (Santos, 2000). O Judiciário ganha
visibilidade e começa a relativizar, mesmo nos países da civil law tradition, o modelo
ideal da “justiça cega”, imparcial e neutra. A hipótese que nosso trabalho também
confirma, é a de um privilégio de uma justiça “militante”, engajada nos processos
sociais e relações comunitárias – uma justiça “sem vendas”, comprometida com os
ideais de transformação social. Como assinalou Garapon (1999), há uma tendência à
mudança no próprio significado atribuído à ação dos agentes judiciários: de uma ênfase
no modelo do “juiz burocrata” para o ideal do “juiz herói”, aquele agente ativo,
politicamente comprometido e, desta forma, parcial no momento da tomada de posição.
Tal modificação estaria informada por uma influência internacional maior do
modelo da common law (próprio da tradição anglo-saxônica), em detrimento dos
modelos judiciais da civil law (característico da tradição européia). Como a
característica principal do modelo da common law é a negociação da verdade ao longo
do processo judicial e a do modelo da civil law é o fato de que a verdade deve ser
descoberta e apurada ao longo do processo judicial (Kant de Lima, 1989 e 1995),
teríamos uma ênfase nos ideais da negociação da verdade, um privilégio da oralidade e
uma relevância da participação popular no sistema judicial, em acordo com a tradição
individualista anglo-saxônica de resolução de conflitos. Haveria um deslocamento de
uma influência do modelo hegemônico europeu em direção ao modelo encontrado nos
Estados Unidos, fenômeno que já foi, inclusive, considerado por Nader (2002) como um
processo de “americanização da lei”. Tal fenômeno, conjugado à ênfase nos processos
de resolução alternativa de disputas - Alternative Dispute Resolution (ADR) - nos
Estados Unidos, estaria configurando uma modificação na própria maneira de resolução
de conflitos judiciais em escala mundial: do modelo adversatorial para o modelo da
negociação e harmonia judicial9. Isto é: ao valor da negociação no processo de

9
Como grandes tendências no campo da lei após a II Guerra Mundial, Nader (2002) cita o
desenvolvimento e expansão dos movimentos pelos direitos humanos, o crescimento das resoluções
alternativas de disputas e a expansão de uma combinação entre o secular e o sagrado, no qual a
resolução de disputas agregaríamos a ênfase nos ideais da harmonia, consenso e
pacificação social.
Certamente, podemos levar em conta as observações de Nader (1994 e 2002)
sobre a crescente hegemonia dos modelos harmônicos e da resolução alternativas de
disputas – e a própria existência da chamada “justiça restaurativa” é um indicativo
interessante, ao enfatizar a negociação emotiva como fonte de resolução de conflitos.
No entanto, cabe lembrar que devemos também compreender como sensibilidades
jurídicas particulares (Geertz,1997) incorporam, gerenciam e efetivam localmente tais
influências hegemônicas, uma vez que existem contextos sociais diferentes que
circunscrevem e garantem uma singularidade das experiências realizadas10. E isto é tão
ou mais verdade levando-se em conta também as tradições jurídicas particulares de cada
contexto especifico.
No caso brasileiro, a incorporação na análise da especificidade da tradição
jurídica – marcada por uma origem não popular e de caráter inquisitorial (Kant de Lima,
1989 e 1995) – com o estudo da constituição de sentidos pelos agentes participantes dos
procedimentos estudados fez ver que a “justiça restaurativa” não pode ser entendida
simplesmente como uma transposição de um projeto gerido exteriormente ao Brasil,
como se houvesse uma espécie de “transplante legal” bem sucedido. Tal como vem
sendo implementada no Rio Grande do Sul, a “justiça restaurativa”parece trabalhar com
uma dupla dinâmica: de um lado, a lógica da descoberta da verdade – na medida em
que as práticas restaurativas se adicionam às práticas tradicionais e não vêm substituí-
las - e, de outro lado, funcionam através da negociação como um tipo de pedagogia
transformativa, essencialmente normalizadora. A análise etnográfica mostrou que as
suas ferramentas de ação são o falar e a escuta, tal como nos procedimentos
psicanalíticos. Distinguem-se desses, todavia, tanto pelo fato de que tal procedimento se
coaduna aos processos jurídicos, quanto pelo fato de que os processos de transferência,
que na psicanálise se dá entre paciente e psicanalista, na “justiça restaurativa” são
realizados entre vítima e infrator, os dois sendo alvo do processo terapêutico da
restauração de laços, de seus relacionamentos. A vítima também se torna alvo desse

moralidade dos processos de resolução de disputas estaria sendo altamente influenciada por ideologias
religiosas.
10
Como disse Geertz (1989), em um texto sobre as tentativas de modernização da Indonésia e a possível
contribuição antropológica para a compreensão do mundo da política: “As interpretações antropológicas
da política são poderosas na medida em que podem sobreviver, num sentido intelectual, aos
acontecimentos da política” (Geertz, 1989:221).
processo, pois está implicada nas práticas terapêuticas e também é avaliada –
moralmente – quanto à sua capacidade de perdoar, valor máximo da justiça restaurativa.
A importância do perdão explicita a dimensão de religiosidade que é presente no ideário
da "justiça restaurativa" e se evidencia na importância que o perdão e o arrependimento
têm – o que também contribui para a impossibilidade de transpor o modelo psicanalítico
de forma automática para os procedimentos restaurativos.
O que permanece como uma constante em termos de valor é a noção de
indivíduo, pois é através dele – de sua sensibilização emocional – é que irão se restaurar
as relações interpessoais e, daí, se produzirão relações sociais pacificadas e harmônicas,
vistas como existentes num tempo remoto e atualmente destruídas pela racionalidade
econômica, legal e desumanizada. O controle das emoções teria provocado uma
sociedade racional, porém violenta e desestruturada. O processo civilizatório, rumo à
modernização da sociedade brasileira, inversa e simetricamente oposto à proposta de
Norbert Elias, seria efetivado com uma maior vivência emotiva e sua expressão nas
relações entre indivíduos. Talvez seja possível, embora ousado para os limites desse
texto, realizar uma conexão entre essa concepção de extrema individualização do
conflito e de suas formas de resolução e a difusão de ideologias neoliberais. Estabelecer
relações entre aspectos aparentemente distintos pode ser revelador de formas
específicas de ordenação social, assim como de seus dilemas e paradoxos.

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