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interpretativo
Resumo: Esta pesquisa reflete a respeito do papel da análise narrativa e sua contribuição para
o processo criativo da interpretação musical. Assim como problematiza a tensão existente
entre o pensamento analítico/hermenêutico, do qual a narratividade faz parte, e o pensamento
performático, que vê a performance não como um ato de reprodução (de um texto/partitura),
mas como um ato criativo (criação de significado/sentido).O principal referencial teórico, no
campo da Análise Narrativa, para esta investigação, é o livro “A Theory of Musical
Narrative” de Byron Almén. Conceitos da teoria de Almén como markedness e rank foram
aplicados às gravações. Estes se concentram em diferenças de dinâmica e ritmo (markedness)
entre as duas gravações, aspectos manipulados pelos performers, que posteriormente foram
submetidos a uma relação de classificação: a importância que assumiram na interpretação do
conjunto da obra (rank). A teoria de Almém serviu como uma importante ferramenta para
conectar valores sociais e culturais com a música ao entender o arquétipo (que define a
trajetória narrativa) como resultado do conflito entre ordem hierárquica e sua transgressão. A
diferenciação de elementos e sua classificação foram úteis para o estudo e para estabelecer as
metas a serem atingidas, bem como direcionar aspectos da técnica (o uso da articulação legato
ou staccato para salientar o arquétipo ou criar uma fase dentro da narrativa musical), ou seja,
como conectar aspectos técnicos com as intensões expressivas. Utiliza-se como suporte
teórico no campo da semiótica e hermenêutica o autor Umberto Eco. A restrição ao texto é
colocada em crise pela defesa da complexidade do fenômeno musical, que vai muito além da
partitura. Todavia, caso usada como ferramenta auxiliar, e não como um fim e si mesma, na
criação de uma performance musical, a análise narrativa pode ser de grande utilidade para o
músico.
Palavras-chave: Música; Análise; Narratividade; Performance; Interpretação.
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Orientador: Prof. Dr. Lucas Robatto.
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Abstract: This research reflects on the role of narrative analysis and its contribution to the
creative process of musical interpretation. As well as discuss the tension between the
analytical / hermeneutic thought, which narrative is part, and performative thinking that sees
performance not as an act of reproduction (of a text/score), but as a creative act (creation of
significance/meaning). The main theoretical framework in the field of Narrative Analysis, for
this investigation, is the book “A Theory of Musical Narrative” by Byron Almén. Concepts
such as markedness and rank were applied to recordings. These focus on differences in
dynamics and tempo (markedness) between the two recordings, aspects manipulated by the
performers, which were later submitted to a classification relation: the importance they
assumed in the interpretation of the whole of the work (rank). Almém's theory served as an
important tool for connecting social and cultural values to music by understanding the
archetype (which defines the narrative trajectory) as a result of the conflict between
hierarchical order and its transgression. The differentiation of elements and their classification
were useful for the study and to establish the goals to be achieved, as well as to direct aspects
of the technique (the use of legato or staccato articulation to emphasize the archetype or create
a phase within the musical narrative), or how to connect technical aspects with expressive
intentions. In the field of semiotics and hermeneutics the main theoretical support is Umberto
Eco. Defending the complexity of the musical phenomenon that goes far beyond the score the
study put in crisis the restriction of the text. However, if used as an auxiliary tool, and not as
an end itself, in creating a musical performance, the narrative analysis could be very useful for
the musician.
Keywords: Music; Analysis; Narrativity; Performance; Interpretation.
1. Introdução
Das distintas linhas de pesquisa nos estudos da interpretação musical, se destaca o
campo da análise2 que busca compreender a música, em duas de suas vertentes mais
recorrentes, a partir do texto (partitura) ou gravação de uma performance (áudio). Ambas
abordagens são redutoras, a primeira, porque a música não é a partitura em si, mas o
fenômeno musical só se completa na performance; a segunda também, pois, embora analise
uma performance, o faz com apenas uma parte desta, o registro sonoro, e a interpretação de
uma música é um fenômeno muito mais complexo do que o seu registro sonoro. Como
podemos ver na descrição de Zumthor de sua percepção da performance de um cantor de rua
em Paris:
menos tudo isto fazia parte da canção. Era a canção. Ocorreu-me comprar o
texto. Lê-lo não ressuscitava nada. Aconteceu-me cantar de memória a
melodia. A ilusão era um pouco mais forte mas não bastava,
verdadeiramente. O que eu tinha então percebido, sem ter a possibilidade
intelectual de analisar era, no sentido pleno da palavra, uma "forma": não
fixa nem estável, uma forma-força, um dinamismo formalizado; uma forma
finalizadora, se assim eu puder traduzir a expressão alemã de Max Luthi,
quando ele fala, a propósito de contos, de Zielform: não um esquema que se
dobrasse a um assunto, porque a forma não é regida pela regra, ela é a regra.
Uma regra a todo instante recriada, existindo apenas na paixão do homem
que, a todo instante, adere a ela, num encontro luminoso. (ZUMTHOR,
2007, p. 28-29).
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Ver Cook (2006) e Levinson (1993).
Antes de expor uma definição mais rigorosa de narrativa musical e seus princípios
gerais, o autor procura refutar as principais críticas feitas à narratividade musical,
historicamente, por acadêmicos. De modo geral, o que o autor torna evidente é que mesmo na
literatura os argumentos encontram certa flexibilidade e ambiguidade. Também ressalta que a
narratividade em música pode ser percebida através de processos dialéticos advindos do
contraste entre elementos musicais, como o conflito entre diferentes texturas, dinâmicas,
tonalidades ou temas. As estratégias do ouvinte, a maneira como este constrói uma
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Liszka, James Jakob. The Semiotic of Myth: A Critical Study of the Symbol. Bloomington: Indiana
University Press, 1989.
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“In the history of performance practice, work-specific traditions stand between period style and individual
innovation. In the history of hermeneutics they mediate between the reception of the work and its interpretation.
In otter words, the performance practice history intersects with the hermeneutic history.”
4. Análise Narrativa
Para desenvolver uma análise narrativa, Almén se utiliza dos conceitos de
markedness e rank, advindos da teoria semiótica de Peirce e presentes nos trabalhos do
semiólogo Liszka. Um gesto musical se torna significativo na medida em que é distinto de
outros gestos possíveis ou reais (diferenciação) e na medida em que tem um valor semântico
maior ou menor do que outros gestos possíveis ou reais (classificação). De acordo com o que
o autor compreende da teoria de Liszka, são expressas relações hierárquicas entre os gestos
musicais tanto de diferenciação (markedness) - valorações assimétricas de elementos opostos
em um sistema - e relações de classificação (rank) - valorações de importância relativa ou
subordinação em um sistema (entende-se por sistema uma estrutura regida por uma coerência
interna). Estes aspectos, diferenciação e classificação, podem ser observados não apenas na
partitura, mas também em gravações de obras musicais. A diferenciação, em música, ocorre
entre forte e piano, agudo e grave, lento e rápido etc. A classificação observa como estas
oposições se comportam ao longo da música, por exemplo um tema no registro grave que é
repetido consistentemente ao longo da peça adquire, a cada repetição, maior importância
dentro da mesma. Estes aspectos não se detêm a uma análise da partitura, pois podem ser
manipulados pelo intérprete.
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Uma visão mais ampla da “performance historicamente informada” pode ser encontrada em Kivy (1995) e
Harnoncourt (1988).
Outro fator que influenciou a interpretação narrativa foi a condição acústica das salas onde
foram gravadas as performances. Na primeira gravação a sala apresentava pouca ou nenhuma
reverberação, enquanto a segunda gravação ocorreu numa sala com ampla reverberação
sonora. Estes fatores não são sequer considerados em uma análise da partitura e foram
determinantes na análise narrativa da peça, que influenciou o processo criativo do performer
(minha performance realizada na defesa da tese).
representam a vanguarda. Estas oposições podem se conectar com outras oposições presentes
na sociedade como países ou regiões hegemônicos e periféricos, norte/sul. As relações
estabelecidas pelo músico auxiliam a conexão da técnica do instrumento com ideias musicais.
Conclusões
A restrição ao texto é colocada em crise pela defesa da complexidade do
fenômeno musical, que vai muito além da partitura. É preciso salientar que esse artigo não
pretende assumir a narratividade musical como um fim em si mesma, mas como ferramenta
na criação de uma performance musical, que pode ser de grande utilidade para o músico.
Referências
ALMÉN, Byron. A Theory of Musical Narrative. Bloomington: Indiana University Press,
2008.
BENT, Ian D. e Pople, Anthony. Analysis. In: Grove Music Online. Oxford Music Online.